Feliz ano novo, Renato! (com os melhores lances de Independiente 1 x 1 Grêmio)

Feliz ano novo, Renato! (com os melhores lances de Independiente 1 x 1 Grêmio)

Por Samuel Sganzerla

Sim, Renato, “Feliz Ano Novo”. Não porque ontem era Quarta-Feira de Cinzas, aquela coisa de “no Brasil, o ano só começa depois do Carnaval”, etc., mas porque 2018 começou para o Grêmio no dia de ontem. Não, eu também não estou levando em conta o Gauchão. Por mim, nem jogaria mais o estadual – mas falamos sobre isso outra hora.

Foto: http://www.gremio.net/
Foto: http://www.gremio.net/

Ontem fomos à Avellaneda, província de Buenos Aires, enfrentar o Independiente no primeiro confronto pela Recopa Sul-Americana. Reeditamos com os hermanos a final de 1996 – naquela época, em jogo único disputado lá em Kobe, no Japão, uma vitória esmagadora por 4 a 1 nos trouxe o caneco. Agora, no formato de ida e volta consolidado há 15 anos, voltamos ao solo argentino.

Só que olha, Renato, a verdade é que parecia, pelo menos para o Grêmio, um amistoso de pré-temporada. Não por termos encontrado facilidade, bem pelo contrário (como ficou bastante evidente). Depois do final da partida, tu disseste na coletiva que a opção por Alysson no banco se deu porque ele ainda não está 100%. E só isso explicou Lima na titularidade, porque este mal apareceu em campo depois da execução dos hinos.

Por ser um jogo de início de temporada, visivelmente os atletas ainda estão sem ritmo de jogo. A distribuição dos jogadores no esquema tático inicial também não deu certo – por isso falei antes que parecia amistoso preparatório, mas convenhamos, Renato: decisão não é hora para testes. Enfim, relevemos isso tudo.

O fato é que parecíamos estar com um homem a menos no início do jogo. Tomamos pressão, bola na trave, o Independiente perdeu gol na pequena área. Com os argentinos com um a menos em campo, a situação parecia de maior igualdade, mas ainda com superioridade dos rojos na contenda. Até que, num erro de saída dos argentinos, Luan se aproveitou da única oportunidade que apareceu e lembrou porque foi o melhor da América ano passado. Um a zero para nós.

Se parecíamos estar com inferioridade numérica, o gol foi um alívio. E aí Gigliotti, o centrovante adversário, simplesmente agrediu Kannemann logo depois, em nosso campo de defesa. Levou amarelo primeiro, sendo depois expulso, por correção do árbitro graças ao auxílio do VAR (o bom e velho VIDEOTAPE). E aqui merece o registro, superando o grenalismo que a tudo contamina por estas bandas: parabéns a Inter e Grêmio por terem votado a favor da utilização do recurso no campeonato nacional. Uma pena que foram minoria. Mas divago.

Com a vantagem no placar e com um a mais, o cenário pareceu se tornar favorável no primeiro tempo. Mas só pareceu mesmo. Se os gringos aparentavam ter um homem a mais em campo no 11 contra 11, com um a menos parecia tudo igual, mas com eles melhor distribuídos em campo e imprimindo mais velocidade.

Uma falta na entrada da área e um forte cruzamento decretaram a igualdade no placar, depois de um infeliz desvio de Cortez, que tirou as chances de defesa de Marcelo Grohe. 1 a 1, e os argentinos ainda vieram para cima na primeira etapa. Que teve, como jamais poderia faltar, muita catimba, pontapés, provocações, faltas não marcadas e outras inexistentes apitadas. Vai entender. O término do primeiro tempo foi bom para nós.

Pelo menos, já no segundo tempo, quando Alysson entrou, o jogo mudou. O Independiente cansou e pudemos ver não apenas o que era esperado por ter um a mais, mas também o que nos acostumamos a ver no ano passado: o Grêmio com a bola, girando a área do adversário, trocando passes rapidamente e determinando o ritmo do jogo. Não conseguiu criar grande coisa, é verdade, e perdeu a chance de sair da Argentina com uma vitória.

O lado positivo é que a equipe mostrou, na segunda etapa, que a base do futebol que nos levou a erguer troféus nos últimos dois anos segue presente. Arthur e Ramiro, respectivamente lesionado e suspenso, fizeram falta. Há outras boas opções para se testar também. Hernane Brocador em breve desembarcará no Aeroporto Salgado Filho, e saberemos se ele irá se encaixar no time.

Agora, aguardamos o jogo de volta na próxima quarta-feira. Será em casa, com expectativa de termos a Arena lotada, em busca de mais um título. Não será fácil, com certeza. Só a vitória interessa. O gol fora não vale como saldo qualificado (sem pênaltis, pelo amor dos deuses da bola). Precisamos ajustar o time, Renato, para que ele entre decisivo e mortal, como foi quando precisou ano passado. A torcida entrará em campo contigo, tenha certeza.

E não é nada fácil também porque do outro lado, claro, tem o maior vencedor deste continente. Uma equipe que só perdeu uma decisão continental em duas oportunidades em toda sua história: para nós, em 96, e para o coirmão, em 2011 (e deu de apaziguamento da corneta por hoje). Vamos para cima deles, em busca do bi da Recopa. Dá-lhe Grêmio!

Segue o baile…

https://youtu.be/CqIZKGDuVIg

Luis Artime e seus erros

Luis Artime e seus erros

Este ano, Artime completará 77 anos. Dizem que este centroavante argentino, famoso nas décadas de 60 e, principalmente, no início dos anos 70, fez mais de mil gols em sua carreira. Talvez este cálculo não seja lá muito verdadeiro, pois ele marcou por volta de 400 em jogos oficiais e os outros 600 seriam em jogos amistosos… Sei lá. Mas não interessa. Seu currículo de títulos e gols importantes já deixaria a esmagadora maioria dos outros artilheiros invejosos: em 25 partidas pela seleção argentina marcou 24 gols, foi 4 vezes goleador do Campeonato Argentino, 3 vezes do Uruguaio, 1 vez da Copa América, 1 vez da Libertadores e, no Mundial de 1971, fez os três gols do Nacional de Montevideo nas duas partidas contra o Panathinaikos (empate em 1 x 1 na Grécia e vitória por 2 x 1 no Uruguai). Também é importante saber que ele atuou 16 vezes em clássicos contra o Peñarol, tendo vencido 10 jogos e empatado 6. Em 12 destas partidas deixou sua marca. Ah, e ainda é o oitavo maior goleador da Libertadores em todos os tempos.

Apresentado Artime, seguimos nossa história dizendo que ele foi do River Plate e do Independiente antes de chegar ao Palmeiras em 1968, conforme a foto abaixo.

artime-1968

Esta manchete do Diário Popular de 27 de maio de 1968 contém verdades e mentiras. Sim, o nome do sujeito é Artime, apesar daquele equivocado o “z” em seu Luis; ele efetivamente marcara 48 gols em seus últimos 57 jogos pelo Independiente; porém ele não nasceu em Mendoza e, muito mais importante, apareceu aliviado de 3 anos em São Paulo. Em vez de ter nascido em 02/12/1938, rejuvenescera para 25/11/1941, ou seja, em vez de estar beirando os 30, ele chegou ao alvi-verde com 26 anos. Normalíssimo para a época (lembro que Mário Sérgio fez 31 anos umas quatro ou cinco vezes…). A estreia – contra seu ex-clube – foi um sucesso, Artime já saiu de cara guardando dois:

gazeta-artime-1968

No Palmeiras, Artime seguiu marcando gols em profusão, tornou-se um grande ídolo, mas ficou apenas alguns meses, pois o Nacional de Montevidéu fez algo impossível nos dias de hoje. Foi a São Paulo com uma mala cheia de dólares e comprou a peso de ouro o grande atacante. Valeu a pena.

Em três anos, ele marcou 155 gols pelo Nacional. É o maior goleador do clube nos últimos 40 anos. Foi artilheiro do Campeonato Uruguaio de 1969, com 24 gols, de 70, com 21, e de 71, com 16. Foi tricampeão do país, campeão da Libertadores da América de 1971 em três sensacionais jogos contra o Estudiantes – o jogo de desempate foi em Lima e Artime, bem, vocês já imaginam: ele deixou o seu (Espárrago, outro craque de bola, fez o outro). E, como já disse, ainda foi Campeão Interclubes contra o Panathinaikos…

Agora, que vocês já conhecem os números do cara, preciso explicar que ele não era muito alto, mas era o mais mortal dos cabeceadores; não era também muito hábil, mas se um saco de arroz passasse na sua frente acabaria dentro do gol; o que tinha de especial era uma arrancada realmente estúpida. Vi-o jogar uma vez contra o Grêmio em 1968, só que não lembro do resultado.

Quando Artime deixou o Nacional, foi jogar no Fluminense, que estava montando um supertime. Gérson descreveu o novo esquema de jogo com singeleza:

— Eu recebo a bola do Denílson, lanço o Lula e corro para abraçar o Artime.

Simples, não? O único problema é que argentino chegou muito velho ao tricolor das Laranjeiras e não repetiu os sucessos anteriores. Quando chegou ao Rio, João Saldanha foi entrevistá-lo num programa de rádio e, conversa vai, conversa vem, Artime deixou João embasbacado com uma declaração:

— Quase a metade de meus gols acontecem porque erro a conclusão.

João pensou que Artime fosse meio louco, mas ouviu a explicação:

— Por exemplo, eu tenho um método para cabecear: se o cruzamento vem da esquerda, eu enquadro o corpo de tal forma que meu ombro direito aponte para o poste esquerdo da goleira. Então, escolho um canto, mas como acho fundamental que minha testa bata em cheio na bola, com força, raramente acerto o canto escolhido. (O principal é cabecear forte, por supuesto). Só que como estou com o corpo bem enquadrado, mesmo que erre um pouco a bola acaba indo com força no gol e os goleiros não conseguem pegar.

— E os gols com o pé?

— São mais ou menos a mesma coisa. No entrevero da grande área, eu tento ser rápido e chutar forte, mas nem sempre consigo olhar para onde. Muitas vezes pego mal na bola, mas ela entra assim mesmo. É até melhor quando erro um pouquinho, porque acabo enganando os goleiros…

— E os toques na saída do goleiro?

— Como sou veloz, tento chegar logo na bola e não dou tempo para eles saírem. Então, dou uma bomba sem olhar, na direção do gol. Eles não têm tempo para reagir.

Por uma questão de gentileza, o gaúcho João Saldanha — que possuía orientação política soviética e no futebol era radicalmente carioca — não chamou o argentino de grosso, mas fez a tola pergunta-padrão:

— Você acha que vai se adaptar a um futebol requintado como o do novo Fluminense?

Sim, o brilhante João Sem Medo deve ter ficado perturbado com as respostas de Artime para fazer uma pergunta tola como essa.

Porque sou Goiás hoje

Sou Goiás porque sou colorado e colorados torcem sempre contra os interesses do Grêmio e vice-versa.

Sou Goiás porque sou um baita de um filha-da-puta que gosta de tirar sarro de gremistas.

Sou Goiás porque será cada vez mais comum times brasileiros vencerem a Libertadores — temos o melhor futebol de clubes do continente, o mesmo não digo sobre seleções — e é bom que o Grêmio fique afastado destes festins.

Sou Goiás porque o Goiás não irá muito longe na Libertadores 2011.

Sou Goiás porque defendo os fracos. (Puff!)

Sou Goiás porque me divirto com as grandes decepções e a torcida do Independiente sofrerá enorme uma frustração in loquo.

Sou Goiás porque adoro quando tudo está preparado para a vitória e sai tudo errado.

Sou Goiás porque Marcão joga lá.

Sou Goiás porque Fernandão é.

Sou Goiás porque me agrada o anticlímax da classificação domingo X a desclassificação de hoje.

Sou Goiás porque é o Brasil na Sul-Americana. [Grupo Arquibancada Colorada do Google]

Sou Goiás porque quero ver o Grêmio fodido. [Grupo Arquibancada Colorada do Google]

Sou Goiás porque lugar de gazela é assistindo a Libertadores sentadinho no sofá. [Grupo Arquibancada Colorada do Google]

Sou Goiás porque nosso caminho ao Bi da Recopa será facilitado contra o time brasileiro, fugindo do Independiente. [Grupo Arquibancada Colorada do Google]

Sou Goiás, porque prefiro que esse título venha para o Brasil, mais uma vez. [Grupo Arquibancada Colorada do Google]

Sou Goiás porque eliminaram o gazeledo no xiqueróvsky na estréia de Renato Guadalupe, um dia após nosso Bi da América, e na ocasião ouvi as bibas dizendo: — Campeonato de segunda linha, o Grêmio precisa é sair dessa situação (no zonão na época). [Grupo Arquibancada Colorada do Google]

Agora pergunto, será que eles não preferiam estar na situação do Goiás hoje? Rebaixado pra segunda divisão (nenhuma novidade pra eles) e disputando um título continental inédito que daria a vaga pra Libertas do ano que vem. [Grupo Arquibancada Colorada do Google]

Sou Goiás desde pequeno porque hoje quero ligar para um amigo gazélico e perguntar : — E aí, ´tomô´? [Grupo Arquibancada Colorada do Google]