Onze partidos declararam “neutralidade” no segundo turno. Preciso dessa lista para nunca mais votar em nenhum deles. Não existe neutralidade em política. Não dá pra aceitar “neutralidade”, quando um lado da disputa faz apologia à tortura, tem como referência teórica um dos maiores torturadores do regime, afirma que o erro da ditadura foi ter torturado e não matado, pretende condecorar a PM e o Exército pelo extermínio de parte da população. Não dá. Paradoxalmente, para fazer oposição ao PT, será preciso votar nele, buscando garantir a permanência da democracia que, mesmo fragilizada, é melhor do que um regime totalitário. Nem se trata do PT, mas da sobrevivência do país. Essa não é uma eleição Aécio x Dilma.
Bolsonaro ainda não foi eleito (e oxalá não será), mas apenas neste mês (ou dez dias) seus bolsominions já se assanharam com a possibilidade de sua vitória promovendo agressões e assassinatos.
Vocês tem ideia do que será um governo com esse fascista no poder? O sentimento de poder que dará aos seus seguidores violentos, a grupos como Carecas, neonazis e afins?
Enquanto isso, Bolsonaro, o homem que diz que vai ter pulso firme contra a bandidagem, afirma que não tem como controlar seus eleitores criminosos.
Alguns episódios:
— Mestre de capoeira é morto com 12 facadas após dizer que votou no PT, em Salvador (https://is.gd/9exhZK)
— Médica do RN rasga receita após paciente idoso dizer que votou em Haddad para presidente (https://is.gd/g2moGL)
— Ex-Furacão 2000, mulher trans é atacada com barra de ferro por apoiadores de Bolsonaro (https://is.gd/CynY4x)
— Jornalista é agredida e ameaçada de estupro ao sair de zona eleitoral (https://is.gd/3LgjDX)
— Menina de 19 anos é agredida e teve marcada à faca sua barriga com uma suástica por usar camiseta com a expressão #EleNão (https://is.gd/hivG9t)
— Estudante da UFPR acaba de ser brutalmente violentado em frente à Universidade por membros de uma torcida organizada aos gritos de “Aqui é Bolsonaro!”. (https://is.gd/HUIdkz)
— Um gay morto no armário por um assassino obcecado por Bolsonaro (https://is.gd/AUnAnt)
O MBL declarou apoio ao Bolsonaro, e seus métodos de intimidação não envergonham o mestre:
–Aluno da UFBA é levado por PMs após convidar pessoas para discussão sobre as eleições (https://is.gd/xOMFqI)
Isso sem falar na intimidação contra a irmã de Marielle Franco (https://is.gd/jnaTEb);
— a ameaça nada velada do deputado eleito Rodrigo Amorim ao destruir placa com nome de Marielle ao lado do candidato ao governo do Rio, Witzel (https://is.gd/KupKKC)…
Bolsonaro é um perigo para o país. É um fascista que precisa ser parado antes que seus seguidores cometam mais crimes. Em apenas duas semanas bolsominions assassinaram pelo menos 2 pessoas e agrediram ou ameaçaram outras tantas, imaginem apenas o que acontecerá se ele for eleito.
Estava eu no Fronteiras do Pensamento — palestra de Ai Weiwei — ao lado de uma finíssima senhora, quando recebo um Whats da Elena. Tudo bem, as mensagens dela são sempre tranquilas, poderia estar me pedindo para dar uma passadinha no super, por exemplo. Só que aquela era muito diferente, trazia uma foto de Alexandre Frota nu com uma espiga de milho na mão, acompanhado da legenda ELEITO. Me senti como o menininho que é descoberto olhando nudes na Internet. Virei o telefone para o outro lado, onde vi uma outra pessoa chegando. Uma amiga, baita leitora, cliente da Bamboletras… Pô, Elena.
Trabalhar com livros já é um ato político nesse país, seja você autor, editor, tradutor, revisor, da equipe da editora, livreiro. Seja você leitor. Como tal, a Livraria Bamboletras não poderia deixar de pedir para votarmos domingo pensando em diálogo e liberdade, jamais em censura e cerceamento.
Afinal, somos a livraria de todos os gêneros. E esta é uma frase de sério duplo sentido.
Há um trecho de “Um Outro Amor (Minha Luta 2)”, de Karl Ove Knausgård, que só é bem entendido pelos amantes de futebol. O autor estava jogando uma pelada quando caiu violentamente sobre o próprio ombro.
Como as dores eram lancinantes, seus colegas levaram-no a um hospital. Ele ficou aguardando por uma hora numa sala de espera — sim, em Estocolmo, Suécia — sentindo dores horríveis e sem conseguir uma posição confortável. Um inferno.
Chega então a médica e diz que provavelmente ele quebrara a clavícula, mas que ela teria que examiná-lo melhor. Sai da sala e retorna com uma tesoura na mão.
— O que a Sra. vai fazer?
— Vou cortar sua camiseta porque com essas dores que Sr. sente não é adequado mexer os braços.
— Cortar a minha camiseta da Seleção da Argentina?
— Vc era o mais velho hoje em campo.
— Não, acho que o juiz era mais velho.
— Ele tem 33 e vc 37.
— Porra, vcs querem me matar! Mas os treinadores eram mais velhos. O Carpeggiani e o Papito (Odair) têm mais que 37!
Ele falou também sobre a nova fase de sua vida. Como encara a reserva.
— Olha, fico no banco sem poder falar com o juiz, é difícil! Tava com saudade. Hoje falei bastante.
Dale foi perfeito na sua entrevista. Disse que o que se fala dentro de campo morre dentro de campo senão os torcedores se matariam.
Ah, sobre a partida, Odair: na última segunda-feira, Pai Milton da Bambô já tinha dito:
Não sou apocalíptico, sei que ainda estamos bem, mas acho que temos que melhorar. As últimas atuações não apontam para um futuro brilhante. São muitos passes errados, jogo atabalhoado e uma notável dificuldade na criação de jogadas de ataque. Teremos muito trabalho nos jogos no Beira-Rio contra os pequenos times retrancados. Aí vem o Vitória, Odair!
Agora, imaginem a dificuldade do Inter após fazer um ridículo gol contra aos dois minutos de jogo?
Quem, neste momento, não lembrou do pênalti mal batido contra a Chapecoense? Poderíamos ser líderes isolados, Odair… | Foto: Ricardo Duarte / SC Internacional
Foi um parto ganhar do Vitória, ainda mais com um árbitro fraco que anulou um gol legal e depois inventou um pênalti que nos salvou. Eu achei que “os boi já tinham ido embora com a corda toda” e que não viriam os três pontos. No início do segundo tempo, com o Vitória ainda na frente, já estava puto com todo mundo. Depois empatamos — linda cabeçada de Damião! –, mas voltei a me enfurecer com a anulação do gol de Nico López, uma pintura. Mas a sorte tem-nos sorrido mais do que merece nosso rostinho comum e desajeitado. Aquele pênalti… Nem vou falar nele.
Odair, acertaste ao preencher a ausência de Patrick por um D`Alessandro esforçado e um pouco fora de embocadura, mas que permaneceu em campo para bater o pênalti da virada. Acho que, como Edenílson receber o terceiro cartão amarelo, nosso jovem de 37 anos merece mais uma chance contra o Sport fora de casa, não?
Depois quando todos estiverem aptos, Dale poderia entrar no lugar de Pottker, né Odair? Pottker não está jogando nada assim como Zeca não jogava. Zeca saiu e olha que bela partida fez Fabiano na lateral direita! Quem não produz merece banco, não achas?
Agora temos 53 pontos em 27 jogos. Somos líderes ao lado do Palmeiras, que nos vence no saldo por 23 a 18. Logo atrás vêm São Paulo (52), Grêmio (50) e Flamengo (49).
Nosso próximo jogo é contra o Sport, sexta-feira, às 19h, fora de casa, sem Cuesta e Edenílson, ambos suspensos por um jogo. No dia seguinte, em São Paulo, no Morumbi, jogam São Paulo e Palmeiras, o que torna importantíssima nossa partida em Recife.
Existe um grupo nada pequeno ou desconsiderável de pessoas que é anti-bolsô e anti-PT. Eles dizem uma verdade matemática: quem votar em Bolsô, estará elegendo Haddad. E eu completo com o axioma matemático mais elegante e geral:
“Quem votar em Bolsô estará elegendo o candidato que for com ele para o segundo turno”.
Estará elegendo qualquer um deles, dada a JUSTA REJEIÇÃO a Bolsô, um escroto inaceitável. Na circunstância atual, Haddad. Em um mundo ideal, eu gostaria de sair desta polarização, fazendo com que o Coisa Ruim não fosse nem para o segundo turno e que pudéssemos discutir finalmente política.
E a culpa do que está ocorrendo nem é de Bolsonaro. Ele deveria ser tão folclórico e irrelevante quanto Cabo Daciolo, mas milhões de anencéfalos políticos o alçaram ao posto de mito e devolverão o poder ao PT. E vão espernear como fazem os bebês quando lhes escapa a chupeta.
Meu voto será para garantir o segundo turno. Provavelmente, votarei como um ladrão que digita a senha de outrem.
Em comemoração ao Mês das Crianças, no próximo dia 6 e depois, incluindo o Dia da Criança, é claro, a Bamboletras e a artista porto-alegrense Cláu Paranhos apresentam ao público as
~ BONECAS FEIAS ~ DIFERENTES COMO AS PESSOAS DE VERDADE
Numa realidade inundada de “Barbies”, Princesas e Super Heróis estereotipados, haverá espaço para as crianças serem quem elas realmente são? Sem moldes, as Bonecas Feias nascem individuais como as crianças, exclusivas e desprovidas de exigências estéticas padronizadas. São desenhos que deixam de acontecer no papel para ganhar a terceira dimensão, em tecido, como antigamente, pelas mãos da artista. A partir de suas pesquisas em ilustração e paixão por Toy Art, ela convida o público a refletir: afinal, o que é belo?
Cláu Paranhos e a mala feia…
Cláu Paranhos é apaixonada por livros e brinquedos. Acredita que a arte, o brincar e a poesia são os melhores caminhos para chegar ao coração (ou a qualquer lugar). É artista visual, Mestre, Bacharel e Licenciada em Artes Visuais, Vice-presidente da Associação Riograndense de Artes Plásticas Francisco Lisboa, Presidente da Associação de Amigos do Museu Júlio de Castilhos, Conselheira Municipal de Cultura (Pelotas/RS).
Maravilhoso livrinho agridoce do chinês Mo Yan. Mudança só é passível de ser encontrado em sebos porque se trata de uma edição da pranteada Cosac Naify. Uma pena.
Bem, Mo Yan é um mestre. Mudança é um livro de memórias. Porém, além de lançar flashes biográficos com muito humor, o autor se propõe a mostrar algumas mudanças ocorridas na China durante a segunda metade do século XX. Digamos que ele vai da revolução à corrupção (última linha do livro).
Alternando com histórias de dois colegas de escola, Mo Yan cria um retrato singular e simpático da vida na China. Retrato singular e simpático da DIFÍCIL vida na China. É curiosa a participação que dois caminhões soviéticos Gaz 51 têm na narrativa. Delicadamente, em tom menor, Yan conta sem ênfases ou dramas como saiu do campo para o quartel e depois para a literatura.
Em 2012, Mo Yan (1955) se tornou o primeiro cidadão chinês a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura. Ele nasceu na província de Shandong, numa família de trabalhadores rurais. Deixou a escola durante a Revolução Cultural e, com 20 anos, alistou-se no Exército Popular de Libertação, as forças armadas do país. Nessa época começou a escrever. Seu pseudônimo foi escolhido logo no início da carreira e significa “não fale”. Numa entrevista recente explicou que o nome se refere ao período revolucionário da década de 1950, quando seus pais o instruíam a não falar tudo o que pensa quando em público.
A Cia. das Letras publicou faz poucos anos o também elogiadíssimo As Rãs.
Neste segundo volume, lá perdido no texto, Knausgård diz que “apenas está tentando ser uma pessoa decente”. E céus, como é complicado! É óbvio que a tentativa dele me atinge profundamente, página a página, linha a linha. Difícil largar o livro. E aí a gente entende porque o título geral da obra é “Minha Luta”. 5 livros já foram traduzidos. Falta o sexto.
Impressiona a enorme capacidade do autor em transformar a vida comum em grande literatura. Além disso, a semelhança que vejo entre os pensamentos, modos, atitudes da criança, adolescente e adulto lá na fria Noruega e eu e as pessoas que conheço aqui no Brasil me deixam muito pensativo.
Depois de A Morte do Pai, neste segundo livro de sua autobiografia precoce, Karl Ove Knausgård está vivendo o início de seu segundo casamento e terá três filhos com Linda, uma poetisa sueca com aspirações à atriz pela qual teve súbita paixão. No volume, ele dá novo salto no tempo, indo direto para o período posterior ao final do primeiro casamento, quando decide sair da Noruega e ir morar na Suécia, praticamente de um dia para o outro.
Mas nada é tão fácil quanto parece. O casal discute e se irrita muito, a existência dos filhos muda suas vidas e os pressiona de todos os modos. Todos os problemas conjugais são descritos com a habitual franqueza do autor, que se irrita com a mulher e as crianças, que quer muitas vezes se isolar, que sofre humilhações que só ele nota…
Há também problemas de adaptação ao novo país. O autor chama os suecos de estúpidos, pensa que o politicamente correto adotado pelo país, com suas regras e posturas sociais, sufocam a individualidade. Knausgård é muitas vezes visto como um selvagem, tão notáveis são as diferenças entre as posturas norueguesas e suecas.
Este volume consegue o milagre de ser ainda mais fluido que o primeiro. Há muitos e bons diálogos, tanto entre o casal como entre seu melhor amigo Geir e grupos de amigos. Aliás, a arte de Knausgård torna bons quaisquer diálogos.
Também permanecem as digressões e saltos no tempo. Como “Em busca do tempo perdido” é impossível prever como será o próximo capítulo. O que novamente surpreende é a narrativa sem reservas — sem a menor intenção de esconder eventuais pontos escuros, egoístas e violentos — e a onipresença de fatos onde o autor decididamente não brilha.
O motivo do sucesso internacional? Ora, os temas são universais e humanos, narrados com notável franqueza, expondo a si, a mulher, os filhos e os amigos de uma forma pouco usual. Quem não morre de amor por seus filhos, ao mesmo tempo que se vê sufocado por eles, quem não se desespera? Knausgård descreve tudo isso com ritmo, fazendo-nos mergulhar em vidas completas, profissionais e íntimas. Dele e dos amigos.
O título sugere algum enredo romântico e ele existe. Ele, a dor, as hesitações, as idas e vindas preenchem cada espaço.
Recomendo fortemente.
Karl Ove Knausgard e sua esposa Linda | Fotos: Divulgação
Vamos começar pela matemática. Jogamos 12 jogos em casa (faltam 7) e 14 fora (faltam 5). Se tivéssemos ganho TODAS as partidas em casa, faríamos 36 pontos. E se tivéssemos empatado TODAS as fora de casa, faríamos mais 14. Total: 50 pontos. Quantos pontos temos hoje? 50 (terceiro lugar no campeonato, o líder São Paulo tem 51).
Ou seja, uma campanha de quem vence em casa e em empata fora não é uma campanha de campeão, porém é excelente e nos levará certamente a Libertadores, se a mantivermos.
Bem, não fazemos um Brasileirão triunfante, mas estamos muito bem. O que me preocupa é a queda de rendimento de alguns atletas.
Zeca está num buraco, ataca mal e defende pessimamente. É uma substituição certa. Fabiano sempre entra melhor. É bom pensar nisso, Odair. Iago errou todos os cruzamentos ontem.
Ambos são laterais e bons laterais são importantíssimos para levar a bola ao ataque, principalmente quando não há bons armadores.
Também Patrick piorou muito e, como já disse, o setor de armação só funciona com o velho Dale, que só entra nos finais dos jogos a fim de ser marcado furiosamente pelos adversários. Por que não entra mais cedo, Odair?
E Pottker? Não arma, não marca gols, não marca laterais, o que faz?
Não sou apocalíptico, sei que ainda estamos bem, mas acho que temos que melhorar. As últimas atuações não apontam para um futuro brilhante. São muitos passes errados, jogo atabalhoado e uma notável dificuldade na criação de jogadas de ataque. Teremos muito trabalho nos jogos no Beira-Rio contra os pequenos times retrancados. Aí vem o Vitória, Odair!
Damião mostrou toda a sua inabilidade ontem, mas guardou o seu | Foto: Ricardo Duarte
O Brasileiro tem 5 postulantes ao título. Os 5 primeiros terão mais de um confronto direto, mas o Inter enfrentará apenas o São Paulo no Beira-Rio. O São Paulo vai enfrentar os 4 concorrentes diretos, o Palmeiras 3, o Grêmio 3 e o Flamengo 3. Eles vão trocar pontos, a menos que o Palmeiras — melhor time do campeonato — ganhei de todos, o que acho improvável. Com 74 pontos o Inter poderá ser campeão, mas tem que ganhar as 7 em casa e uma fora. Domingo, contra a touca Vitória, é jogo para vencer.
Vejam o levantamento a seguir com os jogos que virão:
São Paulo: 51 Pontos
Botafogo (F)
Palmeiras (C)
INTER (F)
CAP (C)
Vitória (F)
Flamengo (C)
Corinthians (F)
Grêmio (C)
Cruzeiro (C)
Vasco (F)
Sport (C)
Chape (F)
Palmeiras: 50 pontos
Cruzeiro (C)
São Paulo (F)
Grêmio (C)
Ceará (C)
Flamengo (F)
Santos (C)
CAM (F)
Fluminense (C)
Paraná (F)
América (C)
Vasco (F)
Vitória (C)
Inter: 50 pontos
Vitória (C)
Sport (F)
SP (C)
Santos (C)
Vasco (F)
CAP (C)
Ceará (F)
América (C)
Botafogo (F)
CAM (C)
Fluminense (C)
Paraná (F)
Tchékhov na ilha de Sacalina, em 1890: o escritor deixou a família e os amigos estupefactos ao anunciar uma viagem à temível colónia penitenciária do regime czarista
A perigosa viagem de Tchékhov ao lugar maldito do Império do Czar, para estudar a vida dos condenados a trabalhos forçados, mantém-se episódio mais estranho da vida do grande autor russo. “A Ilha de Sacalina” acaba de ser publicado (também no Brasil).
Em 1889, com o agravamento dos seus sintomas de tuberculose, o ainda jovem médico Tchékhov (1860-1904) – então já um conhecido autor nos meios literários russos – torna-se pessimista em relação ao seu estado de saúde. Nesse ano, morre-lhe um irmão vitimado pela mesma doença. Após assistir ao enterro, Tchékhov decide iniciar uma série de viagens aparentemente sem rumo (segundo disse mais tarde, essa constante mudança de ares salvou-lhe a vida). Mas é em Janeiro do ano seguinte que deixa a família e os amigos estupefactos, ao anunciar uma viagem ao longínquo Leste da Rússia, à temível colónia penitenciária dos desterrados do Império Czarista, no oceano diante da costa siberiana, a ilha de Sacalina. “Em redor o mar, no meio o inferno.”
Tchékhov prepara a viagem durante meses. Procura toda a informação disponível e lê o que encontra escrito pelos exploradores, quer sejam geógrafos, agrónomos, cartógrafos ou navegadores. O amigo e editor Suvórin empresta-lhe os rublos necessários para essa viagem arriscada e perigosa. Por essa época, ainda não existia o comboio transiberiano, e a viagem teria de ser feita de carruagem puxada por cavalos através da taiga e das estepes; o barco até à ilha seria a parte mais fácil. Contava demorar 30 dias de carruagem e o resto na “coberta de um navio”. Mas as coisas não correram assim: entre inesperadas paragens e incidentes, demorou 11 semanas a chegar ao porto onde subiria a bordo do barco que o levaria à ilha. É nessa cidade de Nikolaievsk, onde os habitantes vivem na “indolência e na bebedeira”, que ele inicia a narrativa, a 5 de Julho de 1890. Espera três dias até que o barco levante ferro: durante um almoço, ouve falar de um prestidigitador que chegou à cidade e de “um japonês que arranca os dentes com os dedos”. Mas as primeiras impressões a bordo parecem anunciar bons presságios: “Farto de leituras que só me falavam das tempestades e dos gelos, esperava encontrar a bordo caçadores de baleias com vozes roucas e a cuspirem tabaco de mascar; no entanto, só encontrei pessoas de estatuto social bem elevado.”
Mas não sabia o que o esperaria, apesar das muitas leituras. O seu espírito mantinha-se alerta e receptivo ao que os ventos e as ondas lhe trouxessem. O motivo da viagem era estudar o sistema prisional de modo científico, pagando assim, acreditava, o tributo que devia à medicina, outra das suas paixões para além da literatura. No entanto, receia ter cometido uma frivolidade, pois não leva cartas de recomendação, ou de autorização, apenas um documento que o apresenta como jornalista, mas do qual ele nunca fará uso pois não é sua intenção escrever alguma coisa do que vir em jornais. Passados três dias de mar, aproxima-se da ilha. Aquilo é “terra incógnita”. “O sentimento que se apossa de nós é sem dúvida semelhante ao de Ulisses, ao navegar num mar desconhecido e pressentindo vagamente que ia encontrar seres fabulosos.”
Um rebanho numa cloaca
Desembarca no Norte da ilha, sabe que “Sacalina não tem clima, só mau tempo”. Mais tarde consultará os registos meteorológicos para ficar a saber que a temperatura média anual da região é de 0,1º centígrados. Nos primeiros tempos fica hospedado em casa de um médico “parecido com Ibsen” que não gosta das autoridades da ilha.
Tchékhov consegue então obter autorização do governador para visitar todos os presídios e falar com os prisioneiros e os condenados a trabalhos forçados, à excepção dos presos políticos. Manda então imprimir dez mil exemplares de um questionário que ele próprio idealizou e mete mãos (e pés) ao trabalho. Percorre as partes Norte e Sul da ilha durante cerca de três meses. Não se limita aos inquéritos que faz aos presos e às suas condições. O livro, que são as suas notas de viagem, apresenta descrições da flora, da fauna, dos tipos de solos, das vias de comunicação, das paisagens, do quotidiano das populações (incluindo as nativas), da hipocrisia e da incúria dos funcionários, do sistema de servidão aproveitado pelos colonos, etc. E conclui que tudo é deplorável e pouco melhor do que o tratamento que é dado aos condenados. “(…) numa cela exígua onde se encontram uns vinte evadidos recentemente recapturados: esfarrapados, sujos e acorrentados, trazem nos pés sapatos disformes atados com trapos ou cordas; de um lado do crânio têm cabelos desgrenhados; do outro, os cabelos rapados há alguns dias já começam a crescer. Estão todos muito magros – parecem animais na muda da pele.”
Mas o “investigador” é também já o escritor; as histórias narradas, no seu estilo conciso, interrompido de vez em quando para introduzir descrições e reflexões, trazem agarradas as personagens tchekhovianas – alguns dos casos descritos são autênticos contos. Nos retratos que faz, quer de carcereiros, funcionários ou prisioneiros – os que vivem “esta vida de rebanho encerrado numa cloaca” – está já o Tchékhov da crítica social, o denunciador de injustiças, o que se insurge contra a “desproporção das penas em relação aos crimes”, como notam os tradutores (trabalho exímio) no interessante e informado prefácio que escreveram.
A Deutsche Grammophon e a Decca estão prestes a lançar “o maior box de um único compositor em todos os tempos” no dia 26 de outubro. Os trabalhos completos do Johann Sebastian Bach estão gravados em 222 CDs. A caixa contém 280 horas de música e pesa 13,5 quilos.
Johann Sebastian Bach
J.S. Bach – The New Complete Edition é o resultado de dois anos de curadoria, desenvolvidos com a cooperação de 32 gravadoras e uma equipe de acadêmicos do Leipzig Bach Archive.
Aqui está o vídeo promocional. Já estou com baba à altura do umbigo:
Prezado Odair, foram muitos erros para um jogo só. Muitos. Mas o que nos matou ontem foi o erro final — o do pênalti batido por quem não treina cobranças. O Inter não aprende. Já caímos fora de uma Libertadores, com Dátolo, por esse negócio de alguém decidir que vai bater o pênalti e fim, bate mesmo e erra. Já caímos para a segunda divisão pelo mesmo motivo (Paulão e Valdívia). Já perdemos pênalti porque o filho do Christian estava de aniversário e ele queria “dar-lhe um presente”. O presente nunca chegou. E hoje Damião decidiu bater quando quem treina cobranças são Dale e Camilo.
Falta uma coisa simples no Inter: profissionalismo. Talvez falte comando da tua parte, meu amigo. E também respeito ao clube por parte dos jogadores.
Jogamos muito mal. É impossível vencer quando apenas dois atletas atuam bem (Nico López e Edenílson) e depois entram mais dois jogando decentemente (D`Alessandro e Damião), sendo que Dale entrou no lugar de Nico, lesionado.
Jonatan Álvez é realmente uma piada. Qualquer outra alternativa é melhor do que esta ferida uruguaia. Mantê-lo no time é jogar com um cara sem as mínimas condições técnicas, que não domina uma bola, que não ganha disputas com os marcadores e que erra passes. Jogar com ele é saber que haverá uma substituição. É planejar mal.
Jonatan Álvez: melhor emprestá-lo para o Grêmio | Foto: Ricardo Duarte
Rodrigo Dourado fez uma falta tremenda e Patrick andou desaparecido do jogo. Seu futebol está claramente encolhendo. Iago esteve em campo?
Desta forma, perdemos por 2 x 1, com direito a pênalti batido ridiculamente nos descontos do segundo tempo e com incríveis gols perdidos.
Permanecemos com 49 pontos após 25 rodadas. No próximo domingo, às 16h, teremos o confronto contra o Corinthians, em São Paulo. Faltam 13 jogos, dos quais sete (21 pontos) serão no Beira-Rio. Ainda dá pra ser campeão, mas eu não acredito neste time.
Espero que a atuação de ontem à noite seja esquecida, pois se passarmos a repetir o que fizemos ontem, nem Libertadores.
Como vocês sabem, o futebol e o tênis são esportes onde a tática é FUNDAMENTAL. Djokovic, por exemplo, tomou pau num monte de jogos em Cincinnati e o US Open e ganhou ambos os torneios. Acontece que ele conseguia quase sempre e a duras penas manter seu saque e vencer os pontos decisivos. E seguia aos trancos, em jogos longuíssimos contra adversários que jogavam mais e que perdiam. O Inter anda assim. Tem uma defesa sensacional, mesmo quando erra passes e mais passes quando está com a bola. E é um time que nunca, mas nunca mesmo, ENCANTA. Apenas GANHA. Isto, nossa tática, nosso jeito de bem explorar o que temos de bom, tem deixado muita gente nervosa e de olhos esbugalhados aqui no sul. Até em entrevistas coletivas.
Pois eu estava saindo da Livraria Bamboletras com a Maria de Abreu (na verdade era o Luiz Hall, um dia eu explico) tentando descrever para ele quem foi Anton Bruckner. E dizia que ele era considerado por seus contemporâneos uma quase criança, um ser meio imbecilizado, devoto e temente a deus e a Wagner. Um cara que era tão inseguro que cada uma de suas sinfonias têm quatro ou cinco revisões. Ele jamais parava de mexer nelas, deixava os editores malucos. Mas que essa impressão de pessoa simplória morria logo aos primeiros minutos da audição de qualquer de suas obras. Nossa, o cara era muito complexo. Suas sinfonias são grandiosas, espetaculares, suntuosas. São geniais, uma alegria para os metais e um suplício para as cordas. E a Ospa vai tocar a Nº 3 neste sábado às 17h. Vai ter musculação dos violinistas — que vão sair do concerto bufando, suados e aliviados –, os caras dos metais vão sair com os olhos brilhando de alegria depois de tanta trombeteada, mas todos eles sairão mentalmente exaustos. O público? Ora, o público que gosta de música boa, complicada e bem escrita sairá bem feliz. Serão 60 minutos gloriosos.
E, na saída, eu vou abraçar a minha violinista, a Elena, que vai vir toda sorridente, dizendo “Acabou”. Já o Augusto vai dizer “Preciso beber e comer logo alguma coisa, aonde vamos? Resolvam logo, por favor”.