Dia 14: London Tower, Museu Charles Dickens e Memorial to Heroic Self Sacrifice

Hoje foi um dia tão perfeito que já sei que vou sentir saudades desta viagem com minha filha, muitas saudades. Começamos o dia com o nosso tradicional English breakfast reduzido, sem algumas daquelas coisas de que não gostamos. Depois, fomos para a London Tower.

A Torre de Londres é o forte em torno qual a cidade nasceu. Está na margem norte do Tamisa, no centro da cidade. Sua construção foi iniciada em 1078 por Guilherme, o Conquistador. Ela era inicialmente uma fortificação nos limites da cidade romana rodeando a Torre Branca, primeiro edifício dos 7 hectares que completam a Torre de Londres. O estado de conservação de todos os conjuntos que fazem parte da Torre de Londres é miraculoso. Destaques? As armaduras de Henrique VIII, desde quando era magro até a obesidade; as joias da coroa; os corvos que moram lá literalmente há séculos; a Torre Branca e as caminhadas pela zona medieval. Uma aula de história com pitadas de discreto marketing.

O Museu Charles Dickens fará a alegria de Nikelen Witter quando ela vier para cá. O Museu é a casa de Dickens, com seus objetos, camas, cozinha, sala, etc. O escritor não é apenas o autor de histórias piegas, é um autor fundamental por ter introduzido as classes menos favorecidas em suas histórias, assim como denúncias sobre o trabalho infantil, a prisão por dívidas e o dia-a-dia da vida daquelas pessoas que muitas vezes não sabiam se comeriam nas próximas horas. Nunca subestimem Dickens, um homem cujas leituras públicas levaram muitos de seus contemporâneos a educarem melhor seus filhos. Os méritos pessoais e a influência de Charles Dickens ultrapassam seus romances, mesmo que tenha escrito no mínimo duas obras-primas: Pickwick Papers e Grandes Esperanças.

E, após Dickens, como não se sentir sentimental? Então, fomos aos mais original memorial que conheço, o Memorial to Heroic Self Sacrifice. Talvez você saiba do que estou falando se você viu o filme Closer. A explicação para a existência do memorial está abaixo:

Sim, são placas pintadas em azulejos que lembram pessoas que morreram tentando salvar outras. Uma ideia belíssima.

E a placa de Alice Ayres, morta aos 25 anos e que é “codinome” utilizado pela personagem de Natalie Portman é esta:

Então vamos às fotos de hoje?

Foto de dentro da Torre de Londres com detalhes da London Bridge. Não sei porque selecionei a merda desta foto…
Escolares ingleses fazendo uma pausa para se alimentar na London Tower.
Armadura para um já obeso Henrique VIII.
O homem fazia questão de mostrar-se avantajado não apenas na barriga.
Agora sim, uma foto mais decente da London Bridge.
Morto para salvar uma lunática…
O Memorial. Mais simples impossível.
Vista de dentro do Memorial.
E a vista lá da porta, quando de nossa despedida.
O prato onde Dickens se alimentava em sua sala de jantar.
A baleadíssima escrivaninha onde escrevia seus livros.
Sim, quando jovem ele fazia a barba. Depois, abandonou esta atividade inútil.
Uma das citações pelas paredes. Viste, Nikelen?
Baba, Nikelen.
A porta da casa de Dickens que hoje abriga o Museu.
Baba, Nikelen (2).
Numa curva da Strand.
Ao final da tarde, passeando ao longo do Tâmisa.
E a chegada ao Parlamento. Fim do dia.

As canonizações seculares

No centro de uma quadra de Londres, há uma das coisas mais simples e bonitas que vi até hoje: o Memorial to Heroic Self Sacrifice. Trata-se de uma grande ideia: ele serve para lembrar pessoas comuns que, em atos heroicos, morreram para salvar vidas. O objetivo é o de não serem esquecidas. O Memorial aparece com destaque no filme Closer, pois a personagem de Natalie Portman assume o nome fictício de Alice Ayres, uma das pessoas lembradas no Memorial.

Foto: Milton Ribeiro

É um local pequeno e aprazível, não chega a ser uma atração turística para a maioria das pessoas, mas revelou-se muito sedutor.

O memorial foi inaugurado em 1900 e abriga 120 placas de cerâmica. Quando da inauguração, havia apenas 4. Hoje, há um espaço auxilar ao telhadinho original.

A ideia foi de um religioso, o vigário George Frederic Watts. O governo britânico dava tradicionalmente pouca atenção aos pobres, mas na esteira da Revolução Industrial, as atenção para com as classes mais baixas foram mudando. Estranhamente a nossos olhos do século XXI, Watts via o propósito de seu Memorial como exemplos para a educação das classes mais baixas.

É uma espécie de canonização de pessoas que não fizeram milagres ou que os realizaram dentro dos limites permitidos a nós, seres humanos. Um monumento humano e — por que não pensar assim? — ateu. Gosto muito.

As pessoas vão ali e deixam flores para seres humanos reais e vão embora. Permanecemos por uma hora no local e não vimos ninguém rezar. Um monumento de incrível bom gosto, pois.