Não, como essa não há, é o mais puro rock and roll. Plínio bateu a todos em alguns pontos e agora bate também no quesito foto.
Publicada no blog de Juca Kfouri e apresentada a mim por Igor Natusch.
Não, como essa não há, é o mais puro rock and roll. Plínio bateu a todos em alguns pontos e agora bate também no quesito foto.
Publicada no blog de Juca Kfouri e apresentada a mim por Igor Natusch.
Uma candidata a Presidência da República não pode ignorar um convite tão “notório” quanto o de Lily Marinho, viúva de Roberto Marinho. Usando como manto protetor do fato de seu ex-marido ter recebido Fidel Castro, Lily convidou a petista para um almoço com mulheres da sociedade carioca, no último sexta-feira.
– Se ele recebeu o Fidel em nossa casa, por que eu não receberia Dilma?
Champanhe Dom Perignon, garçons de luvas brancas e um discreto e elegante pianista completando o ambiente. D. Lily numa cadeira de rodas, pois, aos 90 anos, recupera-se de uma fratura.
– Que tipo de música você gosta? – , pergunta a anfitriã.
– Clássica. Gosto de Bach – responde a candidata.
– Ela toca piano e fala francês – , revela uma amiga a Lily.
– Eu tinha curiosidade de conhecê-la — explica Lily.
Um pequeno discurso de D. Lily. Diz ter marcado o almoço a fim de homenagear a senhora D., a Democracia. Completa dizendo que seria um privilégio ouvir “a outra senhora D, Dilma Rousseff, que se propõe a ser a primeira mulher presidente do Brasil”. À mesa, a economista Maria da Conceição Tavares, a escritora Nélida Piñon, a colunista Hildegard Angel, a produtora Lucy Barreto e a cantora Alcione. O repasto foi tartare de salmão com maçã e funcho, filé de cherne com banana caramelada, passas e urucum do chef Claude Troisgros.
Em seu discurso, Dilma falou de educação, família, cultura e da “luta de milhares de brasileiras anônimas”.
– Acho que chegou a nossa hora!
Na despedida, disse à D. Lily:
– Te espero na minha posse.
Dona Lily gostou.
– Vou fazer 90 anos. Sou velha para votar. Mas acho que, se votasse, seria na Dilma.
Ao final, D. Lily voltou a elogiar a petista e afirmou que não convidará mais nenhum candidato.
– Eles que fiquem com ciúmes.
Restaria saber o que a alta direção das Organizações Globo pensa das aventuras da matriarca.
Há períodos em que as notícias enlouquecem de vez. Essas aqui me chamaram a atenção ultimamente por sua loucura:
1. Dom Dadeus Grings, na abertura de assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), afirmou que a “sociedade atual é pedófila”.
OK, Dom Dadeus, concordo com o Sr. Infelizmente, milhares de crianças têm seus futuros irremediavelmente prejudicados por causa da pedofilia. Este existe em toda a sociedade — independente de classes sociais — e temos de lutar contra ela. O que se deseja, sua besta, é que haja informação e que todos os pedófilos sejam punidos. Todos. E saiba que a pedofilia é o que ato mais próximo ao assassinato que conheço. Meça suas palavras, padreco.
2. Mano Menezes diz que uma nova eliminação do Corinthians na Libertadores não seria motivo para desespero no clube.
Absurdo autoexplicativo.
3. Promotores querem investigar peça em que garota de 16 anos mostra seio.
O musical O Despertar da Primavera está há um ano em cartaz e a menina tem carreira artística e autorização paterna para mostrar o que quiser. O Ministério Público suspeita que foi infringido o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). No espetáculo, a protagonista, a adolescente Malu Rodrigues (ao lado), exibe um dos seios e simula uma relação sexual. O pai da atriz, o auditor fiscal Sérgio Rodrigues tem autorização judicial para a filha atuar no palco e é obrigado pelo Conselho Tutelar do Rio a assistir a todas as exibições.
Quem sabe o Ministério Público não se preocupa com os padres ou a corrupção?
4 e 5 e 6. Por cinco votos a um, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que a patente do princípio ativo do Viagra vai valer apenas até o próximo dia 20 de junho.
Os velhinhos do STJ devem ter legislado em causa própria. A Pfizer recorrerá ao Supremo, outro tribunal cheio de velhinhos… Mas não é bem este o absurdo. O absurdo foi o STF ter ratificado a Lei da Anistia, não a revisando.
Mas o pior MESMO foi Dilma Rousseff ter afirmado que revisar a Lei seria uma atitude de revanchismo. Desde quando Justiça é igual à Revanchismo? Como escreveu Rodrigo Cardia, revanchismo seria torturar o torturador. Prender quem mandou torturar é Justiça. Não é possível alguém com seu passado dizer isso, candidata.
Os grandes jornais brasileiros têm venda notavelmente decrescente — perdi o site que demonstrava cabalmente o fato, mas há comprovações medianamente aceitáveis aqui. Enquanto isso, prosperam os jornais destinados às classes C e D. Acho que podemos considerar que a internet começa a fazer baixas. Eu sou um consumidor médio de notícias e acho que sou exemplo claro disso. Exceção feita ao jornal de literatura Rascunho, não vejo outra publicação à qual cobiçasse receber em casa ou comprar. E sou um leitor compulsivo. Não obstante os fatos estatísticos, a maioria das pessoas continuam pensando na Folha, no Estadão e no Globo, por exemplo, como jornais muito influentes. OK, talvez eles influenciem aos leitores das classes A e B das zonas urbanas de Rio e São Paulo, mas e o resto? Eles simplesmente não existem fora das regiões-sedes. Sua presença no interior do país é rarefeita e sua capacidade de mudar uma eleição nacional é risível. Porém, a gente fala muito neles. Muito! Talvez nosso silêncio fosse mais adequado.
(O mesmo vale para o RS a “nossa” Zero Hora.)
É claro que todos estes órgãos têm seu equivalente na rede, mas — e volto a tirar os outros por mim — prefiro a página de esportes do Terra, as tabelas do Infobola, o Impedimento, o Todoprosa e leio sobre política num, modéstia à parte, bem-montado mix de blogs e sites constantes no meu Google Reader. Este sim, o Google Reader, é meu jornal. E não pensem que só inscrevo publicações e colunistas de mesma coloração política.
Em faixa contrária, o Instituto Millenium reuniu em São Paulo os representantes da mídia jornalão-style e a conclusão foi… bem, sou obrigado a rir novamente. Ignorando a ameaça da rede e sem conseguir refletir sobre o fato de todos serem exatamente iguais, tais órgãos realizaram uma reunião pública, chegando à patética conclusão de que Dilma Rousseff, o PT e Lula são stalinistas e contrários à liberdade de expressão. Pior: se Dilma ganhar a eleição, vamos retornar às brumas da ditadura. É notável e vale a pena dar risadas aqui.
O absolutamente lastimável Arnaldo Jabor — ex-cineasta que escolheu vagar e ser influente na Rede Globo — , que costuma ser tão admirado pela classe média spammer, fez uma das declarações mais paranóicas:
“O que está na cabeça de quem pode assumir em definitivo o poder no país é um patrimonialismo de Estado. Lula, com seu temperamento conciliador, teve o mérito real de manter os bolcheviques e jacobinos fora do poder. Mas conheço a cabeça de comunistas, fui do PC, e isso não muda, é feito pedra. O perigo é que a cabeça deste novo patrimonialismo de estado acha que a sociedade não merece confiança. Se sentem realmente superiores a nós, donos de uma linha justa, com direito de dominar e corrigir a sociedade segundo seus direitos ideológicos”, afirma o cineasta e comentarista da Rede Globo, Arnaldo Jabor. “Minha preocupação é que se o próximo governo for da Dilma, será uma infiltração infinitas de formigas neste país. Quem vai mandar no país é o Zé Dirceu e o Vaccarezza. A questão é como impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo”, alerta Jabor.
Tudo isso é dito desconhecendo a liberdade que a Veja teve e tem, que a Folha Ditabranda teve e tem, a liberdade do Estadão para ofender os blogs e toda a mídia eletrônica, etc. Jabor quer assumir o papel de Regina “eu tenho medo” Duarte 2002, porém, olha, com aquela cara de louco vai ser difícil que o levem à sério. Em textos efetivamente brilhantes, Tchékhov e Thomas Mann demonstraram que a forma clássica de decadência é fazer de conta que nada está acontecendo, que o mundo não gira e que há, ainda, hordas de guerrilheiros prontos para voltarem ao Araguaia.
… o óbvio. Serra, por absoluta carência de condições e carisma, não teria a menor chance. Vai fazer forfait. Nada mal para este viajante que mal se informa sobre política. Só falta acertarmos! Se bem que o problema talvez sejam os apoiadores: Veja, Folha, Estadão, ZH, etc.
Pior para Dilma. Vai enfrentar a “cara nova”, ao menos em âmbito nacional, de Aécio.
E o Cloaca joga mais terra em cima:
Por Francisco Viana
Em meio à chamada intelectualidade, três teses ganham corpo na medida em que se aproximam as eleições. A primeira diz respeito ao presidente Lula, com frequência acusado de tramar a implantação de um regime autoritário no país. A segunda, relacionadas à primeira, coloca em foco a ministra Dilma Rousseff, apresentada como ex-terrorista ou guerrilheira. E a terceira, que se transformou num lugar comum, está relacionada com a liberdade de imprensa que estaria sendo ameaçada. As três teses são falsas.
Vamos ao teste da realidade. Primeiro, não há sequer um átimo de autoritarismo no governo Lula. Pelo contrário, está criando condições para que o país se transforme numa grande democracia de massas, a exemplo do que aconteceu na América dos anos 20 e 30. É a participação popular que constrói a democracia, não os desígnios de um grupo de supostos iluminados. Mesmo Platão, que advogava uma república aristocrática, jamais imaginou tal contra-senso. Na sua República, os sábios se dedicavam ao bem comum. Mas quem melhor retratou a imagem de uma república mista foi o historiador Políbios ao descrever na História a explicitação dos conflitos de Roma antes da era cristã com a participação dos aristocratas, da burocracia e do povo. A Revolução Americana reeditou o modelo polibiano, fazendo da participação popular o verdadeiro espírito revolucionário. Estamos chegando atrasado em cena, mas o processo é irreversível.
A segunda tese, a Dilma guerrilheira-terrorista, é oca como um anel. A ministra Dilma não foi uma vilã, mas um dos símbolos de uma geração corajosa e generosa que dedicou os seus melhores anos a mudar o país. Foi o oxigênio que nutriu a liberdade que hoje usufruímos. Foi presa, torturada, em nome de um ideal libertário. Como o tema é tratado fora do contexto pela intelectualidade crassa, passa a impressão de que aconteceu justamente o contrário. A verdade, porém, é outra e a história está aí para demonstrar. Há por fim a questão da liberdade de imprensa. Em lugar de sufocada, está sendo cada vez mais ampliada. Por uma questão simples: a sociedade é cada vez mais livre. E se a sociedade é livre, a imprensa é livre. Não o contrário. Não existe liberdade de imprensa: a liberdade é da sociedade. Não existe um único exemplo de país onde o povo seja amordaçado e a imprensa seja livre.
Na realidade a ofensiva ultraconservadora tem uma razão de existir. Se a história da humanidade é a história da luta de classes, como diagnosticou Marx, a história brasileira é a história da luta contra os privilégios. E pode ser sintetizada, desde o alvorecer da República, nesse conflito entre uma democracia com povo participante e uma democracia com povo como mero espectador. Os países que prosperaram ao longo da história seguiram o caminho inverso do Brasil. Roma foi um exemplo florescente de República participativa. Era fruto daquilo que Políbios definou como virtù – um termo filosófico que significa a capacidade de mudar a vida. A América sempre teve esse valor maior, a participação, como alicerce. Atenas encarna a sua grandeza também na democracia, mas esta iluminou apenas um pequeno período da história e era uma democracia com escravos. No Brasil seguimos por muito tempo na contra-mão. Agora que estamos tomando o caminho certo vem o grande problema dos interesses prejudicados.
É em defesa dos privilégios do Brasil fossilizado que se que erguem as vozes roucas e os rostos ensombrecidos dos conservadores, Iagos de província. Na falta de bandeiras tentam semear o medo, pois se sentem ameaçados. Como são individualistas, antissociais, perdem acesso fácil às verbas públicas, que dilapidam, se sentem intimidados pela ascensão dos movimentos populares, temem o embate vivo e transparente pelo direito à igualdade. Estão historicamente condenados a desaparecer. Pregam no deserto. Contra a voz dos Iagos de província, há o coro polifônico da sociedade que aprova as mudanças, com índices de 8 para cada dez brasileiros. O tempo da caça as bruxas passou. Restaram apenas as suas tristes viúvas envoltas no mando opaco das trevas.
Ontem à noite liguei a TV e estava passando Fale com ela de Pedro Almodóvar. Não lembrava que o filme mostrava bem no seu início o Café Müller de Pina Bausch. É uma coisa estranha, nunca dei muita bola para dança, mas um dia fui assistir em Porto Alegre ao Teatro de Dança de Wuppertal, certamente por culpa da Helen. Sim, eu vi Pina Bausch. Vimos duas coreografias que tornaram-se clássicas; afinal, tanto Café Müller como A Sagração da Primavera são sempre citadas. Lembro de ter ficado hipnotizado vendo tudo aquilo, de que não tinha a mínima ideia prévia, acontecer bem na minha frente. Obviamente, a Sagração causou maior impacto — há muito mais som nela e amo Stravinsky — mas a memória parece ter valorizado muito mais o Café Müller.
Com uma trilha sonora que me pareceu à princípio livre-associação, pois toda centrada em árias desencontradas de Henry Purcel ou no silêncio, e que ganhou sentido quando chegou ao Lamento de Dido, da ópera Dido e Eneas, o Café expressa de forma fria e obsessiva nossa tristeza pela impossibilidade de maior contato humano. O palco é cheio de mesas e cadeiras vazias (mais parece a cantina de um hospício) que têm de ser insistentemente afastadas enquanto quem realmente dança erra às cegas pelo palco, inteiramente dentro do desespero da perda do amor. É algo que parece simples, com muitas repetições — um Thomas Bernhard dançado? — porém toda a movimentação de um verdadeiro Teatro de Dança em que muitas coisas aconteciam em diferentes pontos do palco, resultava em congelante emoção e medo. As repetições, lógicas em seus inícios, dissolviam-se em frenesis em sentido. O comportamento dos bailarinos é ora agressivo, ora apático. Lá em 1980, nunca imaginaria a existência de tal arte.
Pois eu e a Claudia estávamos vendo Pina quando um de nós inadvertidamente se virou na cama e pressionou um botão qualquer do controle remoto. E então o canal muda e damos de cara com Luciana Gimenez entrevistando Dilma Rousseff. Sim, claro, na RedeTV. Abaixo da imagem de ambas havia o anúncio de que Dilma ia cozinhar a seguir. Oh, God, precisávamos ver aquilo. Afinal, talvez fosse o ensaio para ela preparar uma refeição na Ana Maria Braga. Adeus Almodóvar, Pina Bausch e o Caetano (Cucurrucucu, Paloma) que apareceria depois.
E ela fez um omelete, reclamou da falta de uma Tefal, falou sem parar, disse que tinha grudado e que então agora eram ovos mexidos, provaram, estava sem sal (culpa de Luciana que mandou a ministra pôr menos), depois as duas comeram tudo até o fim, rasparam vergonhamente seus pratos — o troço ficou com ótima cara — , sem deixar nada para os famintos do auditório, que aplaudiu, Dilma disse que voltaria para fazer um bacalhau e mais aplausos. Avisou que virá com uma Tefal e com colher de pau, pois a produção do programa deixou-a com uma espátula que mais parecia uma pá de pedreiro para desgrudar a merda. (Prova de que o PT não está preparado para uma candidata mulher…) Bem, e aí o clima inicial Bausch-style já tinha ido pro saco e vim escrever este post.
Abaixo, para lembrar, um fragmento de Café Müller — muita atenção a partir dos 2min25 — e o fragmento final da Sagração de Pina Bausch.