“É para mim”, como disse o personagem principal de ‘A Vida dos Outros’

“É para mim”, como disse o personagem principal de ‘A Vida dos Outros’

Ego, sim. entusiasmo, não. O que não seria um problema — assim, não ia ser nada necessariamente estranho — mas ele fica dando umas indiretas imbecis de que ele é um Homem Realizado e que a gente devia ficar era bem contente de ter ele aqui no país.

J. D. Salinger — Franny & Zooey

Era uma festa em homenagem a outras pessoas, mas o discurso laudatório aos homenageados fora, na verdade, dedicado a mim, a me agredir. Enquanto ela falava, eu olhava para os lados para ver se alguém estava notando. Mas ninguém me olhava. Ninguém sequer parecia estar percebendo que o discurso não tinha a boa expressão usual. Era truncado, era uma porcaria de um discurso. Havia raiva nele. Tinha trechos que chegavam a um paroxismo solipsístico, negando a minha vida pela excelência da própria carreira. Pensei em pedir a palavra para responder que eu não tinha uma carreira, mas uma vida. Mas, pô, a festa era para terceiros, não ia ficar brigando. Ao sairmos, minha mulher disse que o discurso tinha sido muito despeitado e, na verdade, dirigido a mim. Eu neguei, imagina! Era uma festa dedicada a outros! No dia seguinte, me ligaram querendo saber porque eu fora alvo de diretas e indiretas. Nem notei, é mesmo, por quê?, respondi, já admitindo de leve as observações. Depois, claro, a vida seguiu como sempre faz e veio o silêncio, até que hoje eu li um texto sobre um caso igualzinho e lembrei do estranho episódio. Sem consequências, ainda bem.

Não, nada de nomes, amiguinhos.

As incríveis legendas chinesas para "A Vida dos Outros"

Muito legal a forma de integração das legendas em chinês ao filme A Vida dos Outros (Das Leben der Anderen), tremendo filme de Florian Henckel von Donnersmarck. Em vez de deixar a tradução fora da imagem, no local onde ficam escritos os diálogos, o chineses escolheram integrar a tradução daquilo que aparece escrito na imagem a ela própria. Num primeiro momento, eu não notei a alteração; a coisa só ficou clara com a imagem do livro. É uma cena inesquecível do livro que precede a leitura da dedicatória e a afirmação “Não, é para mim mesmo”. Vontade de rever tudo… Baita filme.

Fonte: ChinaSMACK.