Nem se falava em quarentena,
era o dia 18 de fevereiro de 2020,
em Barcelona, no belíssimo Palau de la Música Catalana. Grigory Sokolov, piano.
Recital com obras de Mozart e Schumann (e mais 6 bis…).
Traduzido rapidamente daqui, com pequenas alterações
Autor: Rafael Ortega Basagoiti
O público, com razão, sempre espera viver uma nova experiência musical daqueles que coloca em uma altíssima categoria separada. Categoria em que o pianista de São Petersburgo está, sem dúvida, colocado há muito tempo. Ele está naquele lugar onde não há chance para confusão, acessório ou banalidade. Sokolov entra no palco hierático e imperturbável, reverencia um lado e outro do palco, senta e ataca a primeira peça, depois a outra, sem interrupção. No final, várias saídas e bises em meio a uma crescente apoteose. E os bises vem aos montes. Em Barcelona foram seis, nem mais, nem menos.
Nem uma salva de palmas, nem, provavelmente, um terremoto, conseguiria deter o russo naquela caminhada determinada e solene, na reverência mecânica e, após, naquela mutação de indivíduo imperturbável para o artista capaz de elaborar momentos de uma mágica que está ao alcance de muito poucos. Em 18 de fevereiro, Sokolov desenvolveu um programa com trabalhos relativamente pouco frequentes. A primeira parte foi dedicada a Mozart, mas, com a exceção da Sonata K 331 , que é frequente, duas outas belas páginas não especialmente viajadas foram incluídas no Salzburgo, os K. 394 e 511.
Quem assina isso não se lembra da última vez que ouviu o Prelúdio e Fuga K. 394 em um recital, O Prelúdio foi legendado pelos editores como “Fantasia” e não sem razão. Seu caráter é caráter muito livre, às vezes quase improvisado. Na “fantasia do prelúdio” Mozart deixa voar uma imaginação transbordante. Já a fuga, impecavelmente construída por Sokolov, é de uma gravidade bachiana que não associamos a Mozart. Aqui, Sokolov já usava aquele controle mágico da pulsação, aquela e beleza no som que a gente fica se perguntando como é possível.
O Rondó K 511, algo mais frequente em recitais do que o prelúdio comentado, não é das partituras de teclado mais talentosas do gênio de Salzburgo. Obra dos últimos anos da vida de Mozart (1787), que contém grandes doses de tristeza, a peça é salpicada de grande intensidade dramática e culmina com um final que apresenta uma escuridão ameaçadora. O canto requintado de Sokolov, o desenho rasgado daquele drama intermediário e o final misterioso e chocante emolduravam uma interpretação de grande emoção, não importando a tentativa criminosa do telefone celular que tocou na plateia visando o assassinato do Rondó.
No meio desses dois trabalhos, apareceu a peça mais conhecida que citamos anteriormente, a Sonata K. 331 . Era evidente desde o início que Sokolov mais uma vez favoreceu o canto elegante (início do primeiro movimento), o som requintado (variação V), as nuances cuidadosas, o legato extraordinário (variação III) e a articulação cristalina (mão esquerda do variação II) antes de qualquer tentativa de fazer as coisas diferentes. O movimento final teve um ritmo que genuinamente respondia à indicação allegretto. Mais uma vez admirável o controle impossível da pulsação por Sokolov, com um pedal justo que também lhe permite executar os arpejos “turcos” apenas com a redondeza e a rusticidade, mas sem cobrir ou embaçar o que está acima deles. Eu raramente ouvi aquelas passagens feitas de maneira mais requintada.
Novos elogios à escolha do Bunte Blätter de Schumann, uma coleção que quase nunca está agendada, embora Sviatoslav Richter um defensor da obra. Há tudo nessa série: fantasia, lirismo, poesia, vitalidade energética, melancolia, agitação tempestuosa, animação … Há até uma marcha — o trabalho mais extenso da série — , que poderia muito bem ser considerado uma marcha fúnebre. Todo esse caleidoscópio de atmosferas expressivas foi dissecado por Sokolov. Como não admirar a bela poesia do número inicial, a canção nostálgica do terceiro, a tristeza sombria da quarta, a vibrante e leve Novelette, a tremenda tempestade do Präludium ou a tristeza devastadora da marcha mencionada acima?
Ao final, o Palau de la Música Catalana veio abaixo sob aplausos e urros. E na “terceira parte”, no enorme bis, a magia foi expandida. Os dois Intermezzi Op. 118 ( n. 2 e 3 ) de Brahms dificilmente podem ser melhores. Íntimo, delicado, sussurrando o primeiro; retumbante e enérgico, mas sempre cantado com requinte, o segundo. Sensacional, refinado e elegante naquela ambiguidade que Chopin lidou tão bem, a Mazurca Op. 30 nº 2. Não faltaria a dose de Rameau e, embora eu não seja um defensor especial dessa música no piano moderno, se houver alguém na terra capaz de reproduzir com essa improvável leveza e clareza a chuva impossível de ornamentos do francês, é precisamente Sokolov, portanto, resta apenas permanecer sem palavras antes da realização espetacular de Le rappel des oiseaux. Novo salto para uma tradução elegante, refinada e poética do Rachmaninov Prelude Op. 32 No. 12, e majestosa conclusão com uma leitura severa e coletiva do coral de Bach Ich ruf zu dir, Herr Jesu Christ BWV 639 no arranjo de Busoni.
O público teria gostado mais, mas a iluminação completa deixou claro que essa “terceira parte” já havia sido concluída. Enquanto isso, continuaremos nos perguntando como é possível para esse homem obter aquele som, essa nuance, essa articulação, esse equilíbrio de vozes. E continuaremos olhando boquiabertos para suas demonstrações contínuas, embora hieráticas, de uma estatura artística tão grande e vigorosa.
Porto Alegre é uma cidade curiosa. Parece oferecer pouco, pois as vias de informação em jornal e mesmo na internet passam por uma já longa crise, só que há coisas bem legais para se fazer e que não são descobertas.
O Caderno de Cultura de ZH quase não é lido — tem que ser assinante e muita gente fugiu do jornal por ser de direita e gremista. Na internet, não há um veículo confiável que reúna tudo. A Agenda Lírica ainda está se organizando. Então, os eventos têm de ser meio catados por aí.
Ontem, minha querida Elena avisou: o georgiano Guigla Katsarava vai tocar hoje no Instituto de Artes da Ufrgs, no Auditório Tasso Correa. Sim, sabemos que a Ufrgs não é uma casa de espetáculos. Sabemos também que o organizador do concerto, Ney Fialkow, não trabalha com publicidade. Divulgar algo desse quilate para a cidade seria função para jornalistas, só que… Bem, deixa assim. O que interessa é que fomos.
E vimos o melhor recital do ano na cidade. Katsarava tinha tocado em um concerto com a Ospa em junho do ano passado. Dias depois, apresentou-se na Casa da Música. Ou seja, sabíamos que se tratava de um pianista de impressionante técnica e sonoridade. Presentes na plateia, apenas os especialistas: pianistas, professores e alunos. Imaginem que a pianista Catarina Domenici chegou direto do aeroporto, sabendo que valeria a pena o esforço.
O programa começou com Grieg (Peças Líricas) e seguiu com duas peças de Scriabin. Depois, tivemos a Suíte Nº 2 para dois pianos de Rachmaninov — a partir daqui o excelente Ney Fialkow entrou em cena — e a surpreendente The Garden of Eden: Four Rags for Two Pianos, de William Bolcom. O bis foi talvez a melhor peça da noite: La Valse, de Ravel, em versão para dois pianos.
O nível esteve sempre lá em cima, foram interpretações de rara sensibilidade, mas gostei menos das obras dos russos Scriabin e Rach do que das outras.
A peça de Grieg é finalizada com a linda Bodas em Troldhaugen. A de Bolcom é puríssimo e fino fun, se posso me expressar assim. E La Valse é a vertiginosa apoteose da valsa vienense. Parece que nunca vai se realizar, mas depois acontece da forma surpreendente e nervosa. Dá a impressão do final de uma época. Ravel aparenta dizer: agora a alegria da valsa tem de lutar para chegar a nossos ouvidos.
Ele mesmo escreveu:
Através de nuvens, são vistos aqui e ali pares que valsam. A névoa se dissipa gradualmente, distinguindo-se um imenso salão povoado por uma multidão que baila. A cena se torna cada vez mais iluminada. As luzes dos candelabros se acendem. Situo este valsa num palácio imperial.
A dupla Katsarava e Fialkow vai se apresentar na Sala Cecília Meirelles amanhã, quinta-feira, no Rio de Janeiro, às 20h. Atenção, cariocas! Eu não perderia por nada. Ah, lá vai ter Bolcom e Ravel!
É claro que se trata de gosto pessoal. Por exemplo, jamais colocaria Debussy no mesmo ofurô de vulgaridade onde sufoca Rachmaninov. Reconheço os méritos do francês apesar de seus efeitos sobre mim, pois, se há trabalho e suor para criar aquelas coisas, elas têm igualmente o condão de me fazer viajar. Pode acontecer de eu pensar em coisas que podem ser boas como os planos para escrever uma resenha leve, informativa e agradável sobre a Sagração da Primavera. Mas pode me ocorrer fazer uma prosaica revisão dos compromissos de amanhã. Debbie, you see, convida ao sonho, convida a divagações bem longe dele. O concerto da última terça-feira da Ospa, continha um bonito concerto de Mozart (Concerto para Flauta, Harpa e Orquestra, K. 299), um Ravel (Le Tombeau de Couperin), porém dois dramins debussyanos: os Noturnos, para orquestra e coro feminino, e as Danças Sacra e Profana, para harpa e orquestra.Read More
A Sinfonia Nº 4 de Brahms é estranha. Quando começa, temos a impressão de termos sido jogados direto na recapitulação de um tema. A coisa vem sem maiores apresentações, parece que entramos numa conversa ou numa reunião que já vai pela metade e em que as pessoas apresentam uma segunda pauta e desenvolvem-na em forma-sonata. É como se ele entrasse subitamente em meio a uma DR (Discussão de Relacionamento) entre Clara e Robert declarando tranquilamente: “OK, confesso, eu como a Clara e isto deve gerar tensões que deixam qualquer um louco”. Então descobrimos que a recapitulação era na verdade uma exposição. Coisa mais linda este movimento, fico louco de felicidade com ele. O nada otimista segundo movimento é seguido pela galinhagem do terceiro — o que é mais uma coisa estranha: um raro momento humorístico de alguém que se caracterizava pela densidade e seriedade. O último movimento abre uma janela para o barroco — outro fato inusual para uma sinfonia tão romântica — , baseando-se numa passacaglia.
Longe vão os dias em que temíamos a gataria dos sopros da Ospa. Com a graça do bom deus (que não existe), os últimos concursos da orquestra serviram para botar os gatos num saco a fim de matá-los, como manda o bom senso reinante nas colônias alemãs de nosso estado. Pois bem, a quarta de Brahms, assim como a abertura-fantasia Romeu e Julieta, de Tchaikovsky, executada na primeira parte do concerto, exigiam muito das madeiras e metais. A resposta deles foi estupenda, tarefa facilitada pelo excelente maestro lituano Robertas Servenikas. Como diz PQP Bach, há algo na água do Báltico que torna as pessoas daquele mar bons músicos.
Eu costumo não gostar de Tchai, mas há exceções como o Concerto para Violino, Romeu e Julieta e outras poucas peças. Romeu e Julieta me remete imediatamente a meu amado Shostakovich. As sombras que ameaçavam o pobre casal veronês são um prenúncio do que depois faria Dmitri. Certamente, ele estudou a fundo esta peça, pois ontem, no auditório da Assembleia Legislativa, havia certa fragrância de Shosta no ar. Bem… deixa eu tentar explicar melhor. Sendo mais lógico, há tal presença de Tchai em Shosta que, como explorei mais Shostas, sinto como se este tivesse influenciado aquele, se me entendem. Romeu e Julieta é das obras mais suadas de Tchai. Ele a escreveu em 1870, aos 30 anos, mas houve duas revisões bastante profundas, a última em 1880.
Olha, foi um tremendo concerto. Curto, coerente e todo bom. Só não gostei daqueles insistentes (e poucos) aplausos em meio aos movimentos de Brahms. O pessoal não se flagra mesmo.
Agora, não sei se reunirei forças para ir ao concerto da próxima terça-feira. A programação indica uma dose letal do pianismo meloso de Rachmaninov. Estou muito velho para nadar em algodão.
Na última sexta-feira, publiquei um post bastante curto, quase uma anotação, onde reclamava da programação da OSPA para 2012. Quem acompanha este blog sabe que meus reparos ao repertório vêm de anos e que vou aos concertos da OSPA por amor à música — mesmo que repetida ad nauseaum — e à própria orquestra, a qual assisto desde a memorável noite em que, acompanhado de meu pai, ouvi o maestro Komlós reger a Sétima Sinfonia de Beethoven. Tinha por volta de sete anos de idade e pensei que não poderia haver música mais bela do que aquele segundo movimento. Lembro de ter ficado tão excitado que não conseguia parar quieto nos dançáveis terceiro e quarto movimentos. Naquela noite, algum circuito de meu cérebro foi ligado e eu me tornei um melômano, sim, um melômano fanático capaz de ouvir mais de oito horas de música por dia, de administrar um blog que tem mais de 3000 CDs comentados de forma sucinta, de entrevistar o Secretário de Cultura em seus primeiros dias a fim de lembrá-lo de seu passado como ex-ospista numa tentativa patética de auxiliar com meus pobres argumentos a construção da sede da orquestra e de dar palpites sobre muita coisa, sobretudo a respeito de andamentos de sinfonias…
Meu pequeno texto, se pode ser assim chamado, era uma crítica ao repertório, jamais aos músicos, apesar de que vários deles o tomaram como uma crítica pessoal. Crasso engano. Conheço quase tudo a respeito da orquestra e sei que eles são heróis ensaiando nas piores condições. Visitei a sala de ensaios e torturas da orquestra. Fui apresentado aos anteparos de acrílico que separam os músicos da surdez. Mesmo assim, mesmo sob tais condições e mesmo com o local de concertos estando longe do ideal, o resultado artístico insiste em ser consistente e bom, prova de que as falhas devem ser procuradas em outros fatores.
Dizer que o repertório é monótono é espelhar a realidade. É muita música do período clássico e principalmente dos ROMÂNTICOS do século XIX. Há fixações irritantes e incompreensíveis sobre determinados compositores. Mahler é raro, Bruckner nem se fala, o século XX participa mui discretamente em seus anos iniciais. Este ano, a Ospa mais parece um museu dedicado aos russos da metade do século XX e a Rachmaninov, que viveu depois mas que parece ser de 80 anos antes. Sim, há exceções, mas estas são poucas, muito poucas. Como se não bastassem não há grande disposição em divulgar compositores vivos ou a música brasileira. O desconhecimento e desrespeito à música nacional é tanto que, no dia 17 de novembro de 2009, quando se comemorava (ou se lamentava) o cinquentenário de morte de Villa-Lobos, o programa da OSPA foi:
Novembro, 17, 2009 — 20:30 — 15º Concerto Série Oficial Festival Mendelssohn – 200 anos de nascimento Obras: Trumpet Ouverture em Dó Maior op.101 Concerto nº 2,em ré menor,op.40,para Violino e Cordas Sinfonia nº3, op. 56, em lá menor _ “Escocesa”
Solista:Marcio Cecconello Regente: Karl Martin Local:Salão de Atos da UFRGS
Detalhe: Mendelssohn nasceu em 3 de fevereiro de 1809, não em 17 de novembro, data de Villa-Lobos. Este gênero de descuido ocorreu em 2009, mas poderia repetir-se hoje, tal é o equívoco de orientação de uma orquestra cuja curadoria parece estar sob descuido da restrita Fundação Cultural Pablo Komlós. A orquestra parece não dar importância a seu publico. Vejamos, por exemplo, a OSESP: ela conta não apenas com o apoio do Governo do Estado, através da Secretaria de Estado da Cultura, e de patrocinadores privados — até aqui está tudo igual à OSPA — , mas também de um público fiel de 11.353 assinantes para sustentar um projeto que engloba orquestra (109 músicos), coro (60 cantores), coros juvenil e infantil, uma editora de partituras de autores brasileiros, projetos educativos (que atenderam 77 mil crianças e adolescentes em 2010), mediateca (aberta para consulta pública), ciclos de aulas e palestras, e website com podcasts gratuitos, sem falar em mais de 30 CDs lançados. Eles estão em São Paulo, um centro muito maior, porém que deveria nos servir como exemplo. Ah, tenho certeza de que os assinantes são ouvidos. Daqui, eles foram corridos.
A caixa-preta da Ospa merece ser aberta. A direção artística deve CONSIDERAR o público cada vez mais diminuto em vez de ficar apenas ouvindo e desconsiderando sugestões. Sei que há músicos na orquestra que desconsideram o público como leigo, pensando que apenas músicos possam opinar, mas eu, por exemplo, um mero melômano, tenho sugestões até para os concertos populares.
E muito, muito mais para os chamados “Oficiais”. Vocês, músicos, nem imaginam quanta coisa eu e o público conhecemos. Agora, vamos à conversa que tive hoje à tarde no Facebook. Vejam a vontade que algumas pessoas demonstram de discutir todas as questões de forma civilizada. Elena Romanov, violinista da Ospa, iniciou a conversa sem maiores intenções e a coisa explodiu..
Elena Romanov ao meu amigo Milton Ribeiro.
Estou tentando fantasiar que um jornalista criticou, por exemplo, um filme em seu blog e veio uma longa discussão virtual entre ele e o elenco com desculpas, explicações, ameaças e xingamentos. Ou que criticou um livro e o escritor veio para brigar e “se defender ”online”. Que falta de classe! Gente, isso é simplesmente surreal… cada um tem o direito de criticar as coisas e ter uma opinião. Relaxem!
Claudia De Ávila Antonini Cara Elena Romanov, é que no Brasil não existe crítica, este é que é o problema. Não sei se ainda é um reflexo da ditadura, mas o costume é só elogiar ou ficar quieto, discordar jamais.
Elena Romanov Pior que já percebi isso. Continuo não entendendo porque no caso da programação da orquestra sinfônica não pode haver crítica e no caso do livro/filme pode.
Claudia De Ávila Antonini Mas Elena, na minha opinião há pouquíssima crítica também a livros/filmes. A maioria das críticas que temos, na verdade, fala só do que já está demonstrado ser inevitável criticar, ou seja, algo que já está muito exposto e comentado pela opinião coletiva e que o “não criticar” seria em si uma “omissão vergonhosa” para o crítico.
Francisco Marshall Quem quiser brigar tem que apanhar pra aprender a se comportar! Ora…
Claudia De Ávila Antonini O que temos com isso é a ausência de um pensamento crítico em geral. Todos os que escrevem, atuam, tocam são elogiados. Não vês que há sempre aplausos de pé no final dos concertos? Eu adoro a orquestra, sou a maior fã mas esta unanimidade me soa muito mal. Não seria esta uma atitude reservada para os dias “especiais”?
Claudia De Ávila Antonini Mas meu caro Francisco Marshall, o Milton adora a possibilidade de discutir o assunto, não está nem um pouco triste com os ânimos quentes.
Ricardo Branco Nos falta um pouco a Kritik , no sentido alemão do termo. Emitimos a opinião pessoal e ela pode ser questionada mas não discutida. Neste caso, criticar é uma adesão e não um desabono ao autor.
Elena Romanov Eu, assim como Augusto Maurer, achei as observações do Milton bastante amigáveis, não sei se é porque tenho outra mentalidade…
Claudia De Ávila Antonini É óbvio que foram amigáveis! Ele ama a OSPA, e eu também.
Claudia De Ávila Antonini Aliás, completando, a gente se preocupa, discute, se informa. Até quando das audiências públicas para a sede no Shopping Total estavamos em todas.
Milton Ribeiro Vi só agora teu post Elena Romanov. É verdade. Eu ia responder hoje ao Tiago Flores e a outras pessoas, mas vieram outros assuntos. É claro que nada tenho contra a instituição, critico apenas o repertório repetitivo e conservador. Agora, eu falo disto aqui e recebo um contra-ataque lá longe, em outro assunto. Isto me coloca numa falsa posição de ataque à OSPA. Ridículo.
Philip Gastal Mayer Opiniões são opiniões, não há o certo e o errado, há a minha impressão e a sua impressão. A coisa começa a ficar perigosa quando a impressão de uma maioria toma ares de “certo”. Sempre defenderei a crítica, ela é a “oposição” necessária para polir e tornar o objeto ainda mais virtuoso.
Francisco Marshall Não podemos viver sem a OSPA, nem ela sem nós, o público, especialmente o público apreciador e culto. Muitos músicos e dirigentes acham, equivocadamente, que a OSPA existe para eles. Errado. Ela existe para a música, para a história da música (passado, presente e futuro) e para as comunidades de profissionais e de ouvintes que podem e querem preservar e se nutrir do patrimônio musical, viciados em arte como nós dessa lista.
Francisco Marshall Os músicos que amam a música, como Elena Romanov e Augusto Maurer, leem as opiniões com o merecido desprendimento não porque são nossos amigos, mas porque amam a música como nós, ou mais.
Francisco Marshall Acho que o Tiago Flores respondeu educadamente, e tentou esclarecer.
Milton Ribeiro Sem dúvida. Mas os músicos me mandam cópias de e-mails trocados e tem gente que me encara como um hooligan.
Francisco Marshall Mas lembro que deixei de pagar o carnê de sócio da OSPA, com pesar, cansado das numerosas repetições de Sherezade, que é uma linda música, mas conservadora pra caramba. Aliás, ainda existe carnê da OSPA?
Francisco Marshall Há que se buscar um equilíbrio entre tradição e vanguarda, o universal e o local. Se tudo for feito com altíssima qualidade, o valor será indisputável sempre.
Milton Ribeiro Como disse alguém, é uma orquestra sem amigos… E que conversa pouco com seu público.
Elena Romanov Francisco Marshall, a minha lógica é a seguinte: o Milton tem muitos seguidores. Talvez alguns deles consideram que a música clássica foi para extinção antes dos dinossauros. “Mas este cara é legal, valoriza as coisas bonitas, tem um humor brilhante… quem sabe, se ele GOSTOU de alguns programas, eu vou também?”
Eu pagaria por uma propaganda dessas =)
Francisco Marshall Eu e Marcos Abreu sempre deploramos esta perda do sentido comunitário da OSPA, que foi um erro de gestão catastróffco.
Philip Gastal Mayer Perfeito Elena Romanov!
Francisco Marshall Eu acho que os seguidores do Milton Ribeiro, eu incluso. acreditamos apenas que os dinossauros foram extintos, talvez até mesmo por não terem música clássica!
Marcos Abreu Acho que o Francisco Marshall se refere aos “amigos”. Sempre falo e volto a repetir, acho que a OSPA precisa de uma Associação de amigos reais, participantes, atuantes, contribuintes. Todas as orquestras são assim. Afinal, fidelização de clientes é o “trend” do momento. Vejamos que ela tem 1418 curtindo a página, mais 5000 no perfil, 6418 pessoas que curtiram, marcaram, sei lá qual a idéia, mas aposto que menos de 5% sabem do que se trata ou frequentam os concertos. Além do que, nada contribuem além de um click no facebook.
Augusto Maurer Fico feliz por ter ateado fogo a esta auspiciosa e bem frequentada discussão. A parte sobre a burrice de toda unanimidade logo me fez lembrar de
Augusto Maurer Milton Ribeiro: o que esperas para promover isto a post? (o face ainda acarretará a extinção dos blogs) / Francisco Marshall: onde posso ler os esclarecimentos prestados pelo Tiago.
Claudia De Ávila Antonini Apoio totalmente o Marcos Abreu, me deu até vontade de criar uma página “Eu quero ser amiga(a) da OSPA” para reunir interessados e peticionar ao governador, secretário de cultura, presidente e direitores da OSPA para que volte a haver este instrumento democrático de participação do público.
Francisco Marshall Lembro que no debate sobre o horrendo projeto arquitetônico da nova sala, no Caderno de Cultura ZH, respondendo a Maturino Luz, o presidente da FOSPA, Ivo Nesralla, afirmou, entre outras coisas, que a FOSPA é uma autarquia que não devia satisfações à opinião pública. Sintoma claro do que aqui comentamos. Quando e como foi sucateada a Associação de Amigos da OSPA?
Milton Ribeiro Penso que a OSPA mereça melhores cuidados de seus gestores. A criação de uma Associação de Amigos é fundamental por dois motivos: (1) a fidelização e (2) o feedback. Não entendo uma instituição que não dialogue e sei que a OSPA tem entre seus membros verdadeiros apologistas do não-diálogo. Conheço muita gente que teria contribuições a dar. E, sobre o mau repertório, estou cada vez mais tranquilo. Tenho recebido vários e-mails de músicos da OSPA me apoiando. Recebi inclusive um pequeno estudo de repetições de programação, inclusive lembrando o grande dia em que Villa-Lobos completava uma data redonda e foi programado um Festival Mendelssohn. O problema é que eles não querem se identificar. Vá entender!
Francisco Marshall Hehehehe, está em um texto postado em um link do Milton Ribeiro que conta com o teu “curtir”, caro Augusto Maurer:
Francisco Marshall Quantas vezes a OSPA executou a linda fantasia coral de Beethoven com Ney Fialkow?
Francisco Marshall Augusto Maurer, isso foi o que defendi naquele artigo, lembras?
Milton Ribeiro Outra coisa que todas a maioria das orquestras do mundo fazem é música de câmara, normalmente programadas para logo após o intervalo com, obviamente, um efetivo menor de músicos. No caso da OSPA, haveria um ganho secundário: aliviaria um pouco os os músicos dos ensurdecedores ensaios no cais do porto, além de abrir caminho para um repertório imenso e de qualidade. E nem vou falar na valorização dos músicos envolvidos.
Francisco Marshall Eu ofereci o StudioClio ao Dr. Nesralla para agendas de música de câmara, ele gostou da ideia, mas nunca fomos em frente. Independentemente disso, músicos da OSPA formam a elite concertante na agenda de música de câmara do StudioClio. Nós poderíamos realizar também notas de concerto, previamente, ampliando a divulgação, a compreensão e a mobilização para cada concerto. Uma AAOSPA cuidaria disso com uma mão nas costas.
Milton Ribeiro Augusto Maurer, mostra esses argumentos todos para o Tiago Flores. Até para tirar meu estigma de INIMIGO DA INSTITUIÇÃO.
Francisco Marshall Não há esse estigma, Milton Ribeiro, tenho certeza. Aliás, no teu post no Sul21 foi só uma musicista que se manifestou exasperada, estatisticamente irrelevante.
Francisco Marshall Bueno, fratres, com tudo isso, acho que a revolução se aproxima! Tomada pelas letras e ideias!
Milton Ribeiro Vou transformar em post hoje à noite, se tiver tempo. Não vou querer perder esta discussão
Augusto Maurer Ansioso por compartilhar, Milton Ribeiro, com a ressalva de que NÃO FUI EU ! Pois adoro riscar fósforos em tanques de gasolina.