Ana Amélia e seu Homem de Seis Milhões de Dólares

Ana Amélia e seu Homem de Seis Milhões de Dólares
Ana e o biônico | Foto: redesul.am.br
Ana e o biônico | Foto: redesul.am.br

Rapidamente, quase um bilhete.

O gaúcho é mesmo o povo mais politizado do Rio Grande do Sul. Só isso explica a pesquisa do Ibope realizada na semana passada e que coloca Ana Amélia Lemos na primeira colocação para o Governo do Estado. A pesquisa indica uma polarização entre os nomes de do atual governador Tarso Genro e de Ana Amélia. O que vemos é que, em plena semana de descomemoração dos 50 anos do Golpe, a ex-esposa de um senador biônico da ARENA é alçada como a mais provável governante de nosso estado para o quadriênio de 2015-2018. É pra matar.

O termo biônico. No seriado Cyborg — O Homem de Seis Milhões de Dólareso Coronel Steve Austin (vivido por Lee Majors) recebeu implantes eletrônicos que lhe salvaram a vida após grave acidente. O tais implantes custaram seis milhões de dólares. Então, dotado capacidades ultra-ampliadas, ele passou a trabalhar como agente especial do governo americano. Tornou-se melhor e mais forte do que todo mundo. Era o “homem biônico”, que podia tudo. Transposta para nosso mundo político dos anos 60 e 70, tal designação serviu para apontar quem ascendeu ao poder sem o desgaste de uma campanha eleitoral. Ou seja, que foi indicado pelo governo militar. Os biônicos são aqueles que foram investidos de cargos normalmente obtidos por sufrágio.

Como surgiu esta excrescência? Ora, quando a ditadura viu que o MDB, partido único de oposição, estava ficando grandinho demais, resolveu indicar pessoas que a apoiavam para cargos chave. Sem eleição. Foi a forma de se manterem no poder sem dissolver o Congresso novamente. Tais indicações garantiram a continuidade do regime e impediu que os objetivos traçados pelos militares fossem atrapalhados pelo povo.

Um destes biônicos foi Octávio Omar Cardoso, falecido marido de Ana Amélia Lemos. Ele foi senador biônico pelo estado do Rio Grande do Sul entre os anos de 1983 e 1987. Era suplente de Tarso Dutra e assumiu após a morte do titular, quando, ex-arenista, já era do PDS. Dizer que ela não tem nada a ver com isso é quase análogo a dizer que o PP não tem nada a ver com a ARENA. Para que não sabe, a Arena tornou-se PDS, depois PPB e depois PP, o partido da senadora. Então Ana Amélia era casada com o senador que ninguém elegeu, escolhido a dedo pelos militares da ditadura.

É claro que a senadora não forma gêmeos siameses com seu ex-marido — talvez ela esteja grudada apenas à RBS –, porém o amor ao mesmo partido e ao latifúndio, agora agronegócio, permanecem. Ana Amélia é hoje uma bonita senhora de 69 anos que enfrenta um governador que teve bom desempenho econômico, com um PIB que teve crescimento maior que o dobro do nacional, mas que é malvisto pelos professores e pelo Bloco de Luta, que sistematicamente apanha da Brigada Militar estadual. Tarso também perdeu oportunidades de ouro na área da Cultura, deixando a inauguração da Sala Sinfônica da Ospa para o próximo governo e a Biblioteca Pública em obras eternas. Desta forma, decepcionou setores habitualmente amigos das esquerdas. Será uma disputa complicada, mas votar num filhote da ditadura como Ana Amélia? Pelamor.

E, se pensarmos que o líder das pesquisas para o senado deverá ser Lasier Martins, melhor mudar logo nossa sigla estadual de RS para RBS.