Há 57 anos, os Beatles chegavam aos EUA deixando 73 milhões grudados na TV

Há 57 anos, os Beatles chegavam aos EUA deixando 73 milhões grudados na TV
A chegada ao aeroporto de Nova York, em 7 de fevereiro de 1964

Nos momentos em que os Beatles estiveram pela primeira vez na TV americana, dentro do Ed Sullivan Show, não houve crimes nos Estados Unidos. O guitarrista George Harrison brincou dizendo que os criminosos eram seus maiores fãs. No início da noite de 9 de fevereiro de 1964, 73 milhões norte-americanos estavam na frente da telinha, de uma população de 192 milhões de habitantes. O Ed Sullivan Show era tão popular quanto o Fantástico era no Brasil no tempo em que não havia TV a cabo. Tudo o que fora pensado em termos de marketing dera certo. Os Beatles demoraram a ir aos EUA, demoraram mais de um ano depois da explosão da beatlemania europeia e só foram após ter emplacado o primeiro lugar nas paradas. Mas já eram conhecidíssimos e desejadíssimos no país. A CBS, a gravadora Capitol e o empresário Brian Epstein prepararam tudo com cuidado e, no momento em que Paul McCartney começou a cantar Close your eyes and I kiss you, início de All my loving, no teatro da Broadway onde acontecia o Ed Sullivan Show, a beatlemania tornava-se uma espécie de histeria coletiva.

73 milhões do outro lado

Para que os EUA sucumbissem, foram apenas cinco canções: All My Loving, Till There Was You, She Loves You, I Saw Her Standing There e I Want To Hold Your Hand. Mas, antes, houve tensão. George só conseguiu subir ao palco depois de um tratamento intensivo para uma gripe que contraíra logo na chegada ao país. Ele não participou da passagem de som e nem do teste de palco com as câmeras, que aconteceram no dia anterior. Além disso, Sullivan desconfiava daqueles quatro caras vestidos estranhamente, de ternos apertados e cabelos fora do padrão da época. Para que as fãs ficassem ainda mais agitadas em casa, a câmera enquadrou John Lennon durante Till There Was You, com a seguinte legenda: Sorry girls – he’s married (“Desculpem, garotas – ele é casado”). O teatro estava lotado, claro. Eram 728 pessoas, invejadas por milhões.

O programa de Ed era transmitido ao vivo para o país todos os domingos, às 20h. O apresentador recebia todos os grandes nomes da música norte-americana e quem quisesse chegar lá. O cachê dos Beatles foi ínfimo e eles se apresentaram entre um comediante e um show de mágica, mas nada disso interessava. A estratégia de se apresentar nos EUA dias depois de o compacto que continha I Want To Hold Your Hand e I Saw Her Standing There alcançar o primeiro lugar, fazia muito mais parte dos ambiciosos planos de Brian Epstein, empresário dos Beatles, do que da CBS, que bateria recorde de audiência.

A estratégia. O empresário Brian Epstein tinha o plano de levar o grupo à América do Norte, mas o grupo decidira que não embarcaria sem o primeiro lugar na Billboard. Era uma decisão surpreendente. Afinal, eles eram celebridades na Inglaterra mas desconhecidos nos EUA. E queriam primeiro conquistar o prêmio do primeiro lugar para depois conceder o ar de suas graças nos EUA. Talvez a atitude fizesse parte da empáfia britânica, ou quem sabe era apenas atrevimento ou falta de vontade. Porém, após aquela curta apresentação, não havia mais dúvida, todos sentiram a força dos Beatles. Eles vieram da Inglaterra para reinar.

Ed Sullivan e os Beatles

O quinteto de canções do show não podia ser mais simples. As letras eram coloquiais e fofas: “Quero segurar tua mão”, “Ela te ama”, “Bem, meu coração fez bum! / quando eu atravessei a sala / e peguei sua mão na minha” (para dançar, claro). A simpatia dos rapazes ao cantar aquelas canções bobas e de melodias grudentas era contagiante.

A estratégia promocional foi cuidadosa. Primeiro, a gravadora Capitol e Brian Epstein esperaram pacientemente pelo primeiro lugar. O citado compacto que alcançou o feito foi lançado em 26 de dezembro. Uma semana depois, apareceu na 83º posição; na seguinte foi para o 42º e na terceira estava em 1º lugar. Houve festa em Paris, onde o grupo se encontrava. Nada disso foi casual. Houve um grande esquema de divulgação e publicidade. E, quando todos estivessem querendo saber quem eram aqueles caras que estavam nas rádios, seria a vez de ir ao Ed Sullivan.

Sullivan deve estar dizendo: “Nem eu esperava por isso”

Sullivan tinha um programa desde 1947 e não recebia qualquer um. Ex-radialista vindo do colunismo social, o apresentador não via muita graça no rock. Mas sabia reconhecer o inevitável. A conquista dos EUA começou dois dias antes, no dia 7, quando chegaram a Nova Iorque pelo voo 101 da Pan Am. Havia 10 mil pessoas para recebê-los… Era algo nunca visto no país de Elvis Presley. Houve uma coletiva no aeroporto em que os garotos mostraram seu estilo e nova irreverência.

— O que vocês acham de Beethoven?
Ringo Starr: — Muito bom. Especialmente seus poemas.

— Existem dúvidas se vocês são mesmo capazes de cantar.
John Lennon: — Somos sim, mas queremos primeiro o dinheiro de vocês.

— O que vocês acham que a música de vocês causa nestas pessoas? (Referindo-se às fãs enlouquecidas no hall do aeroporto)
Ringo Starr: — Eu não sei. Acho que ela as deixa alegres. Bom, deve ser isso mesmo, afinal elas estão comprando nossos discos.

— Por que ficam tão excitadas?
Paul McCartney: — Não sabemos. De verdade.

A loucura nas ruas de Nova Iorque naquele 1964

Na verdade, a imprensa queria arrancar alguma tolice deles, mas eles respondiam com outro gênero de tolices. Estavam se divertindo em vez de responderem. Por exemplo, quando um repórter perguntou sobre um movimento em Detroit para acabar com os Beatles, Paul respondeu: “Nós também temos planos para acabar com Detroit”. Quando o ambiente estava ficando muito barulhento e cheio de risadas, John berrou para todos calarem a boca. A impressão era a de que eles tinham um toque irresistível de simpatia. E de Midas.

Porém, foram hostilizados na imprensa “adulta”. As letras eram um punhado de lugares-comuns amorosos. Os cabelos, ridículos. O som das guitarras, estridente. As harmonias, de simplicidade constrangedora. As previsões eram a de que eles desapareceriam depois de um mês e que logo todos voltariam a se preocupar com Krushev e o terrível Fidel Castro.

Mais uma no Ed Sullivan Show. Apresentação dos Beatles foi entre um comediante e um show de mágica

Depois do dia 9 de fevereiro de 1964, os Beatles tornaram-se os maiores. Se ficassem apenas naquelas canções bobas, talvez não sobrevivessem até hoje como referência mundial em música popular. Mas eles tiveram uma evolução espetacular, primeiro com o trio de LPs Revolver, Rubber Soul e Magical Mystery Tour, depois radicalizando com Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, The White Album e Abbey Road. Como conseguiram isso é um milagre, pois, após o show de Ed Sullivan, todos os holofotes passaram a apontá-los. A visita aos EUA tornou impiedoso o assédio a que foram submetidos. Há tantas fotos deles quanto de Marilyn Monroe, a diferença é que eles tiveram a inteligência de deixar os shows para priorizar a produção artística.

Sobreviveram muito bem, mas esta já é outra história. O mês de sucesso já completou 50 anos sem dar sinais de acabar.

‘It was fifty years ago today’ — Sgt. Pepper`s completa 50 anos hoje

‘It was fifty years ago today’ — Sgt. Pepper`s completa 50 anos hoje

It was twenty years ago today
Sgt. Pepper taught the band to play
Início da letra da canção “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”

Lembro da virada dos anos 60 para os 70. Eu tinha 12 anos e lia uma monte de revistas sobre música. E elas diziam que os melhores discos da década que findava eram Sgt. Pepper’s, dos Beatles, Tommy, do The Who e Days of Future Passed, dos Moody Blues. The Who fez Quadrophenia em 1973, limpando Tommy da memória. Os Moody Blues sumiram no esquecimento e há muita gente boa que prefere os álbuns do Pink Floyd da época de Syd Barrett, ou Ummagumma ou mesmo o White Album, Revolver, Rubber Soul ou Abbey Road, dos Beatles, como os melhores daquela década.

O fato é que Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band não foi simplesmente o oitavo disco de uma das principais bandas de todos os tempos, foi aquele que se cristalizou em nossa memória com aquela coloridíssima e maravilhosa capa — uma das mais fortes marcas iconográficas da banda. Foi o disco que deu respeitabilidade ao rock em 1967, ano dos discos de estreia dos The Doors, dos Velvet Underground, de Jimi Hendrix e do Pink Floyd. Um grande ano.

A famosa capa. Que não conhece?
A famosa capa. Que não conhece?

Paul McCartney disse que Sgt. Pepper`s foi um álbum tão importante que, por vezes, as pessoas conhecem mais sua reputação do que a própria música que ele contém.

Como é comercialmente inevitável, 50 anos depois Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band ressurge em nova edição remasterizada, trabalho de Giles Martin, filho do produtor dos Beatles, George Martin, falecido em 2016, aos 90 anos. Como é habitual nestas ocasiões, será redistribuído em vários formatos: em disco único (vinil ou CD), em álbum duplo cheio de extras e em seis CDs — com mais extras ainda — mais um DVD chamado The Making of Sgt. Pepper.

Tudo era mono quando Sgt. Pepper foi lançado. O estéreo era uma novidade. Em 1967, foram dedicados três meses para encontrar o equilíbrio sonoro perfeito do álbum – em mono. Mas o disco foi lançado em estéreo após um trabalho de apenas três dias. Não ficou muito bom, mas o trabalho foi refeito só agora.

A foto interna do vinil original
A foto interna do vinil original

Em abril de 1967, finalizadas as 700 horas de produção do álbum (quatro anos antes, Please, Please Me, o primeiro álbum, demorara somente treze horas para ser gravado), pouco restava do conceito original. Da ideia inicial ficara somente Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, a canção de abertura em cujo final era apresentado o único personagem, Billy Shears (e Ringo entra cantando With a little help from my friends) e a famosa capa, criada por Peter Blake.

O álbum foi lançado em 1º de junho de 1967 e o incrível foi que, no dia 4 de junho, no teatro Saville em Londres, Jimi Hendrix abriu seu show cantando Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. O próprio Paul McCartney dera-lhe uma cópia do disco no dia anterior… Hendrix enlouquecera ouvindo o álbum.

Sgt. Pepper`s foi o primeiro disco em que os artistas tiveram tempo ilimitado de estúdio. Sem shows, livres dos constrangimentos impostos pela vida ultra pública e por serem “mais famosos do que Jesus Cristo”, eles tiveram calma para explorar o orientalismo em Within you and without you, o psicodelismo em Fixing a hole, o LSD em Lucy in the sky with diamonds. Voltaram-se para a Inglaterra de ontem e transformaram um velho cartaz de circo do século XIX no carnaval surrealista da admirável Being for the benefit of Mr. Kyte. Viraram-se para a Inglaterra do seu tempo e nasceu o rock fundado em tédio urbano de Good morning (“I’ve got nothing to say, but it’s ok”, canta Lennon). E nasceram as obras-primas With a little help from my friends e She`s leaving home, além de um esplêndido foxtrot nostálgico, When I`m sixty-four. E esse portento, ainda hoje inacreditável pelo gênio da produção e composição, que é A day in the life (versos inspirados na leitura do Daily Mail).

Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band foi elogiado e reverenciado pelas engenhosas técnicas de estúdio e pela forma como conjugava diferentes expressões musicais – rock’n’roll, pop music-hall, psicodelismo, música concreta, música indiana, pop. Impôs o álbum como unidade, não como conjunto de canções sem ligações entre si, e deu respeitabilidade às palavras cantadas – as letras surgiram impressas na contra-capa pela primeira vez.

A não menos famosa contracapa
A não menos famosa contracapa

Enquanto marco musical e cultural, manteve-se incontestado durante longos anos, surgindo uma vez após outra no topo das listas de melhores discos de sempre. Com o tempo, porém, começaram a surgir as fissuras. Revolver, Rubber Soul e Abbey Road, ainda no século passado, ganhavam vantagem como álbuns superiores.

Ainda assim, em 2017, seu simbolismo mantém-se incontestável. Tentemos ouvi-lo simplesmente. Teremos perante nós o álbum de uma banda que conjugou de forma admirável o pulsar do presente com uma profunda nostalgia. Numa época em que se utilizava como slogan contracultural o “não confie em ninguém com mais de 30 anos”, os Beatles gravavam She’s leaving home, desarmante de tão comovente, com tanta empatia pela filha que foge quanto pelos pais destroçados que ficam para trás.

Vamos ouvi-lo 50 anos depois. Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, esse “momento decisivo na história da cultura ocidental”, pode ser simplesmente um disco, como diz Paul McCartney. Um magnífico disco.

Foto não utilizada no disco
Foto não utilizada no disco

Escrito with a little help from Publico.pt

Baseada na crise brasileira e em Sgt. Peppers, capa do Estado de Minas viraliza

Baseada na crise brasileira e em Sgt. Peppers, capa do Estado de Minas viraliza

No dia 1º de junho, o imortal disco dos Beatles Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band completa 50 anos. Ontem, o Estado de Minas realizou uma montagem inspirada na capa do disco que viralizou nas redes. Não apenas há a colocação de personagens da política brasileira como as manchetas são baseadas nas canções With a Little Help from My Friends, Getting Better, Fixing a Hole, She’s Leaving Home, Within You Without You e When I’m Sixty-Four.

Quem está na montagem? Eike Batista, Guido Mantega, Gleisi Hoffmann, Eunício Oliveira, Marcelo Odebrecht, Emílio Odebrecht, Agnelo Queiroz, José Serra, Léo Pinheiro, José Roberto Arruda, Geraldo Alckmin, Marta Suplicy, Alberto Youssef, João Plenário (personagem de Saulo Laranjeira), Justo Veríssimo (personagem de Chico Anysio), Delcídio Amaral, Sérgio Cabral, Edson Lobão, João Santana, Mônica Moura, João Vaccari, Fernando Pimentel, Antonio Palocci, Zezé Perrella, Renan Calheiros, Renato Duque, Paulo Roberto Costa, Marco Aurélio Mello, Celso de Mello, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, José Dirceu, Fernando Collor, Lindbergh Farias, Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva, Eliseu Padilha, Eduardo Cunha, Rodrigo Loures, Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Rodrigo Janot, Marcelo Brettas, Carlos Fernando dos Santos, Sérgio Moro, Deltan Dallagnol, Aécio Neves, Romero Jucá, Rodrigo Maia, Michel Temer, Henrique Meirelles, Cármen Lúcia, Joesley Batista, Moreira Franco e Nestor Cerveró.

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A capa original do disco:

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Fotos do “making of” da capa de Sgt. Pepper´s, dos Beatles

Fotos do “making of” da capa de Sgt. Pepper´s, dos Beatles

Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band foi o oitavo álbum de estúdio dos Beatles. Lançado em 1º de junho de 1967, tornou-se um imediato sucesso comercial e de crítica, passando 22 semanas no topo da parada de álbuns no Reino Unido e 15 semanas nos Estados Unidos. Alguns pensam que foi o melhor álbum de rock de todos os tempos.

A capa recebeu todos os prêmios possíveis a este item. Ela foi projetada pelos artistas pop Peter Blake e Jann Haworth a partir de um desenho de Paul McCartney. O diretor artístico foi Robert Fraser e o fotógrafo, Michael Cooper. Os Beatles aparecem em ridículos trajes militares com um grupo de recortes de papelão de pessoas famosas em tamanho natural. O quarteto fica no centro, em pé, atrás de um tambor, no qual o artista Joe Ephgrave pintou as palavras do título do álbum. Na frente, há um arranjo de flores com o nome do grupo. Os uniformes de cetim de estilo militar foram fabricados por M. Berman Ltd, de Londres. As letras do álbum estão integralmente na contracapa. Na parte interna (última imagem deste post), há uma foto grande com um close dos meninos.

diana dors

beatlesclose

Making The Cover for Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band (3)

inkpots

george

Making The Cover for Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band (6)

hitler

ringo and john

Making The Cover for Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band (9)

Making The Cover for Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band (10)

Making The Cover for Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band (11)

Making The Cover for Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band (12)