Por Samuel Sganzerla
Ontem foi o dia de nossa estreia na Copa Libertadores da América de 2018. Sob as bênçãos do pôr-do-sol no Rio da Prata, adentramos o campo do simpático estádio Luis Franzini em busca pela glória continental – pela quarta vez. Mais do que um candidato, somos os defensores do título. E foi contra o Defensor o nosso primeiro desafio, Renato – com o perdão do trocadilho besta.
Como tu sabes melhor do que eu, Renato, na partida inicial da Copa sempre rola aquele misto de despretensão com a ansiedade da expectativa. Geralmente, o time chega em meio a um período de formação e testes, visto que o calendário da temporada recém começa a ser percorrido.
Confesso, Renato, que acabei dividindo a atenção do jogo com minha família. Como tinha um compromisso profissional em Caxias do Sul, aproveitei a viagem para visitar meu povo e jantar com eles, enquanto a bola rolava no atraente Parque Rodó, Montevideo, na imagem projetada na televisão da sala. Mas isso não impediu que meu PARCO conhecimento sobre o LUDOPÉDIO pudesse analisar (ou sentir) um pouco o time.
De pontos positivos, pudemos ver um Grêmio que busca manter o trabalho de bola conquistado nos últimos anos, que tanta alegria nos deu. Sem dúvidas o time entrou com muita vontade de vencer, não pensando em se contentar com um empate fora de casa. Claro que a aparente limitação dos uruguaios não é parâmetro para medir forças, mas ver Everton Cebolinha ENDIABRADO e ávido por penetrar a retranca adversária foi um belo símbolo da postura Tricolor.
Por outro lado, parece que ainda não encontramos o esquema ideal, denotando certa bagunça no time. Como eu não assisto os treinos (somente por falta de tempo, juro!), o futebol jogado nas partidas ainda não me permitiu entender a insistência de Ciro como titular – inicialmente como falso-nove, para depois ser recuado na armação. Edilson faz muita falta na lateral direita, porque Madson ainda não provou ser o jogador que precisamos e queremos para disputar títulos. Mas demos-lhe tempo para provar que estamos errados.
O fato é que não foi uma atuação ruim, embora também não tenha chegado a empolgar. O que é sempre bom, né, Renato?! Digo desde que pintei por essas bandas que a euforia não combina conosco. Mesmo assim, somos gremistas de corpo e alma, queremos vencer sempre. E parece que os bons ventos nos brindariam com uma boa vitória logo na estreia da Libertadores, construída do jeito que gostamos – na base da persistência, do bom e velho ABAFA, uma boa jogada construída lá pelo final da segunda etapa.
Luan e Maicon, de boas atuações, apareceram bem no lance que seria fundamental, coordenando a orquestrada troca de passes do Tricolor. No lançamento de nosso capitão para Jael, nosso centroavante com mais títulos do que gols meio que foi empurrado, meio que tentou cavar um pênalti. A bola sobrou para o faminto Cebolinha, que faria um belo e inteligente gol, não fosse a precisão do zagueiro para tirar quase em cima da linha. Foi quando o próprio Maicon, que havia começado a jogada, chegou para concluir bem, pelo alto, e marcar o tento que parecia definir o nosso triunfo. Parecia.
Eis que os uruguaios, que haviam passado aqueles 80 minutos amarrando o jogo, numa aula da boa e velha CATIMBA SUDACA, passaram a correr atrás do prejuízo. A pressão que tentaram nos impor até estava bem controlada. Mas, quatro minutos depois de abrirmos o placar, numa cobrança de escanteio pelo lado direito, os uruguaios chegaram ao empate.
A nossa marcação falhou, deixando Matías Maulella SOLITO para cabecear sem tirar os pés do chão, numa bola que pareceu ter tanto veneno que desviou em 18 jogadores antes de entrar. Renato, a bola aérea é algo que precisa ser corrigido, pois já apresentou falhas nesses primeiros jogos do ano. Um jogador não pode cabecear uma bola completamente sozinho aos 40 do segundo tempo e ponto.
O setor defensivo é justamente nosso ponto mais forte, o que tem dado solidez ao time, não podendo ter esse tipo de brecha. Ainda que nenhum dos dois zagueiros tenha falhado, claro, vale sempre esse registro – mesmo que o Grêmio venha a levar uns 9 gols nos próximos cinco jogos por culpa exclusiva de Kannemann e Geromel, ainda assim não teremos direito de reclamar deles, e a ovação é OBRIGATÓRIA.
De toda maneira, voltamos a buscar a vitória no pouco tempo que nos restava. Mesmo sendo visível a necessidade de ajustes, é muito ver uma equipe que quer vencer e se impor sempre, visto que um ponto trazido do Uruguai sempre seria visto como bom resultado (não que tenha sido ruim também). Infelizmente, não conseguimos furar novamente a meta montevideana, terminando a partida em 1 a 1.
A vitória era para ter sido azul, preta e branca. Dois dos três pontos escaparam entre os dedos exclusivamente por nossa culpa. Mesmo assim, também não é motivo para lamentos. É até bom para o time ficar ligado, para não entrar de salto-alto – como eu já disse, não combina conosco. Ao final, foi o primeiro de seis confrontos da fase de grupos. Agora voltaremos a campo pela Copa somente no início de abril, quando espero que o time já esteja num ritmo mais competitivo.
Enfim, caiu a noite sobre a hermosa Playa Ramirez. O pequeno toque de decepção que pairou sobre nós certamente não foi maior do que a motivação que bateu nos jogadores para encarar os próximos confrontos. E menos ainda do que os românticos ares da noite montevideana, onde as parrillas de Punta Carretas e o Casino Parque Hotel aguardam para que lá nossos jogadores degustem um suculento entrecot, acompanhado de um bom Tannat, umas fichas na roleta e algumas companhias agradáveis.
Tu sabes melhor do que ninguém, Renato, do que os nossos atletas precisam para seguir na trilha das glórias. Eles merecem! Como merecem um bom vinho. Porque é importante que, mesmo após um insólito empate copeiro, ergam algumas taças. Como bons campeões que são!
Saudações Tricolores!
E segue o baile…
https://youtu.be/y4hcuSNHDLM