O Anjo do Avesso, de Marcos Vasconcelos

O anjo do avesso (120 páginas) é um bom livro de estreia do carioca Marcos Vasconcelos. O volume alterna contos e crônicas, apresentando rara coerência temática. É uma delícia de livro, daqueles para ser devorado em uma sentada (ou deitada), apesar dos temas. Minha preferência foram para os contos Chinoca, Uma dose de gim e O açougueiro. Sim, todos tratam da morte de diferentes modos. Chinoca é uma engraçadíssima história gauchesca — o autor tem alguma admiração por esta nossa unidade federativa periférica e defunta –, Uma dose trata da emigração e é efetivamente triste e bem contado, enquanto O açougueiro tem original e sanguinolenta poesia. Apenas um dos contos foi absolutamente incompreensível para mim, um desconhecedor de Harry Potter que boiou feio para depois imergir definitivamente em A morte de Lord Voldemort.

Se os três temas fundamentais da boa ficção são o amor, o silêncio de Deus e a morte, Marcos dedica-se aqui à morte. A própria epígrafe do livro já dá a letra:

Começando do fim
ao invés do começo
a Morte é um anjo
do avesso

Mas não pensem em uma atmosfera bergmaniana ou sufocante, e sim numa abordagem mais leve daquilo que seria a Indesejada das gentes.

Recomendo.

Marcos Vasconcelos em foto do Marquinhos, garçom do Tuim.

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