Eduardo Leite está atacando de apresentador do Show da Vacinação no RS. Vacinou cinco. Não tem talento pra coisa, mas está do lado certo e quer seu ganho político, claro.
Fico imaginando se o governador fosse o peemedebista Sartonaro. Acho que estaríamos chafurdando na mesma cloroquina do prefeito peemedebista Melo.
Ou seja, por mais estranho que pareça, o PSDB é muito melhor do que qualquer bolsomínion.
Simplesmente porque o bolsomínion está abaixo da linha mínima de humanidade.
Aliás, Bolsonaro é tão burro que chama a Coronavac de “Vacina do Dória”, fazendo campanha para seu adversário.
Charles Spencer Chaplin ou simplesmente Charlie Chaplin estreou como ator de cinema com Making a living, de Henry Lehrman, filme de quase 9 minutos finalizado em 30 de novembro de 1913 – há exatos 100 anos – e lançado em 2 de fevereiro do ano seguinte. Tinha 24 anos. Como costumava acontecer na época, Making a living – traduzido para Carlitos Repórter no Brasil – se caracteriza por muita correria e desentendimentos.
Nesta primeira produção, Chaplin ainda não tinha o visual que o imortalizou. De casaco claro e com um bigode que contorna a boca, seu personagem parece decadente, mas de modo algum um mendigo. A produção é modesta, assim como todos as outras feitas – e são muitas, muitíssimas – durante o tempo em que Chaplin trabalhou para a Keystone Film Company.
No filme, Chaplin faz um vigarista que aceita um emprego como repórter. Ao presenciar um acidente, ele pega a câmera de outro repórter e corre para o jornal a fim de entregar as fotos como suas. Carlitos Repórter deve ter servido para que ele chegasse a seu famoso personagem, O Vagabundo (The Tramp), …
… pois sua primeira aparição ocorreu logo no segundo filme, Kid Auto Races in Venice, também lançado apenas 5 dias depois:
A produção dos filmes curtos e mudos da época era realmente industrial. Só em 1914, Chaplin participou de 35 filmes, tendo sido roteirista e diretor de 21 deles. Em vários deles, foi O Vagabundo, em outros, fez diversos personagens, quase sempre cômicos.
The Tramp ficou conhecido como Charlot na Europa e como Carlitos no Brasil e na Argentina, apelido que tem perdido terreno para O Vagabundo. Como quase todos sabem, ele é um sem-teto pobretão que possui as maneiras refinadas e a dignidade de um cavalheiro. Além disso, é muito sensível do ponto de vista humano e à beleza feminina. Usa um fraque preto e gasto, calças largas surradas e sapatos em petição de miséria. Estes são bem maiores que seu número e as pontas dobram-se para cima. Na cabeça, um chapéu-coco e, para completar, uma bengala e um pequeno bigode semelhante ao de Hitler, mas um pouco maior.
Chaplin nasceu em 1889 em Londres. Sempre sentiu-se atraído pelo music hall e atuava atuando como ator numa excursão pelos EUA com a trupe de Fred Karno quando, no final de 1913, foi notado por Mack Sennett, que o contratou para seu estúdio, a citada Keystone. Inicialmente, ele teve dificuldades para se adaptar ao cinema. Quando viu Carlitos Repórter, Sennett pensou que cometera um erro ao contratá-lo. Foi Mabel Normand — atriz e comediante da Keystone — que o convenceu a dar a Chaplin uma segunda chance. Ela, aliás, escreveu e dirigiu vários de seus primeiros filmes. Só que Chaplin detestava ser dirigido por mulheres e os dois discutiam frequentemente. Por outro lado, os filmes faziam tanto sucesso que ele se tornara uma das maiores estrelas do estúdio. O esquema das produções era sempre o mesmo: ou seja, o mais desbragado pastelão.
Porém, em 1915, Chaplin assinou um contrato mais vantajoso com a Essanay Studios. Seus filmes ficaram mais autorais, já com a pitada de sentimentalismo que o caracterizaria. A Essanay era mais ambiciosa, seus filmes duravam duas vezes mais do que os curtas da Keystone. Ali, Chaplin também passou a manter um elenco fixo, no qual estavam a heroína Edna Purviance e os vilões cômicos Leo White e Bud Jamison.
Como os EUA dos anos 10 eram uma Torre de Babel, com imigrantes chegando de todas as partes do planeta, os filmes mudos de Chaplin atravessavam as barreiras de linguagem, sendo compreendidos por todos. Nesse contexto, ele se tornou uma celebridade, passando a almejar o controle total sobre sua produção. Em 1916, a Mutual Film Corporation pagou a ele 670 mil dólares para produzir uma dúzia de comédias durante o período de dezoito meses. Um exemplo da nova fase é o clássico Easy Street:
Em 1917, Chaplin migrou novamente, assinando um contrato com a First National para produzir oito filmes. Além de manter a autonomia conquistada, a empresa financiaria e distribuiria os filmes, além de lhe dar mais tempo para trabalhar. Concentrando-se na qualidade, ele construiu seu próprio estúdio em Hollywood e expandiu alguns de seus projetos para longa-metragens, como Shoulder Arms (1918), The Pilgrim (1923) e sua primeira comédia dramática, a célebre O Garoto (1921), o qual elevou ao estrelato o menino Jackie Coogan:
Em 1919, o inquieto Charlie Chaplin não queria mais depender do financiamento e da distribuição de empresas externas e fundou a United Artists com Mary Pickford, Douglas Fairbanks e D. W. Griffith. E por lá ficou até o início da década de 1950. Todos os filmes de Chaplin distribuídos pela United Artists foram longas. As obras -primas vinham em série, como O Circo (1928) e Em Busca do Ouro (1925):
Apesar do cinema falado ter se tornado o modelo dominante no final da década de 20, Chaplin ainda resistiu até 1940. Durante o avanço dos filmes sonoros, produziu Luzes da Cidade (1931) e Tempos Modernos (1936). Esses filmes eram mudos, talvez falsamente mudos, pois possuíam música sincronizada e efeitos sonoros.
Tempos Modernos contém falas geralmente provenientes de objetos inanimados, como rádios ou monitores de TV. Isto foi feito para agradar o público da década de 1930, que já estava pouco habituado a assistir a filmes mudos. Além disso, Tempos Modernos foi o primeiro filme em que a voz de Chaplin é ouvida (no final do filme, na canção Smile, composta e cantada pelo próprio em dueto com Paulette Goddard). No entanto, a maioria dos espectadores considerou a obra como um filme mudo — e o fim de uma era.
O primeiro filme falado de Chaplin, O Grande Ditador (1940), foi um libelo contra o ditador alemão Adolf Hitler e o nazismo. Seu lançamento ocorreu um ano antes dos Estados Unidos abandonarem sua política de neutralidade para entrar na Segunda Guerra Mundial. Chaplin interpretou o papel de Adenoid Hynkel, ditador da “Tomânia”. O personagem era claramente baseado em Hitler e Chaplin, atuando em um papel duplo, também fazia o papel de um barbeiro judeu perseguido por nazistas. O filme também contou com a participação de Jack Oakie no papel de Benzino Napaloni, ditador de “Bactéria”, uma sátira ao ditador italiano Benito Mussolini e do fascismo; e de Paulette Goddard, no papel de uma mulher judia do gueto.
Dentro do ambiente político da época, o filme foi visto como um ato de coragem, tanto por seu ataque ao nazismo quanto pela clara representação de personagens judeus perseguidos de forma violenta. O Grande Ditador foi indicado ao Oscar de Melhor Filme, Melhor Ator (Chaplin), Melhor Ator Coadjuvante (Oakie), Melhor Trilha Sonora (Meredith Willson) e Melhor Roteiro Original (Chaplin).
O homem político
Chaplin fez parte do glorioso grupo de humanistas democratas da primeira metade do século XX, gente cujas opiniões eram ouvidas e consideradas como se fossem reservas morais da sociedade. Apesar de ser batizado pela Igreja da Inglaterra, Chaplin sempre se declarou ateu. Durante o período nazista, houve grande controvérsia a respeito de sua suposta ascendência judaica. Propagandas nazistas da década de 40 o retratavam como judeu. Investigações do FBI no final da década de 1940 também se concentraram nas origens étnicas de Chaplin. Mas não há documentos comprobatórios e, durante toda sua vida pública, ele se recusou a falar no assunto.
O posicionamento político de Chaplin sempre foi de esquerda, ao menos na noção norte-americana do termo. Durante a era macarthista, foi acusado de “atividades anti-americanas” e de ser comunista. J. Edgar Hoover instruíra o FBI a mantê-lo sob observação. A pressão do FBI para que Chaplin saísse dos EUA alcançou nível crítico no final da década de 1940, após o lançamento de Monsieur Verdoux (1947), considerado uma crítica ao capitalismo. O filme foi mal recebido e boicotado em várias cidades dos EUA, obtendo maior êxito na Europa, especialmente na França. Naquela época, o Congresso ameaçou chamá-lo para um interrogatório público. Isso nunca foi feito, provavelmente devido à possibilidade de Chaplin satirizar os investigadores.
O fim
Em seus últimos anos, juntamente com James Eric, Chaplin compôs músicas originais para seus filmes mudos e depois os relançou. Compôs a música de seus outros curta-metragens da First National: The Idle Class em 1971, Pay Day em 1972, A Day’s Pleasure em 1973, Sunnyside em 1974, e dos longa-metragens The Circus em 1969 e The Kid em 1971. O último trabalho de Chaplin foi a trilha sonora para o filme A Woman of Paris (1923), concluída em 1976, época em que Chaplin estava extremamente frágil, encontrando até mesmo dificuldades de comunicação.
A produção de E o vento levou foi absolutamente conturbada. Os direitos de filmagem do livro de Margaret Mitchell foram comprados por 50 mil dólares pelo produtor David O. Selznick um mês após seu lançamento. O romance, lançado em 10 de junho de 1936, tornou-se rapidamente um grande sucesso. Três meses depois, já vendera um milhão de exemplares e, no ano seguinte, Gone with de Wind, um livro cheio de personagens odiosos ou meramente interesseiros, foi premiado com o Pulitzer. Foi o único romance da autora. Os direitos autorais recebidos pela obra e pela adaptação cinematográfica tornaram-na uma mulher rica, e ela, envolvida em atividades de filantropia, decidiu encerrar sua carreira literária. Morreu atropelada por um táxi poucos anos depois. O roteiro do filme não contou com a participação de Mitchell, que é de autoria de Sidney Howard. Porém, dentre os colaboradores havia os nomes grandiosos de F. Scott Fitzgerald e William Faulkner.
As confusões e desentendimentos durante a produção foram incríveis. Talvez baste dizer que, apesar de nos créditos figurar apenas o nome do diretor Victor Fleming, este só tenha dirigido 45% do filme. Mas vamos a um resumo.
As filmagens começaram em 26 de janeiro de 1939. George Cukor estava escalado para dirigi-las. A primeira a desembarcar do projeto foi Bette Davis. Ela soube que Errol Flynn estava cotado para um dos papéis e pediu para sair de forma preventiva. Afinal, eles já tinha discutido violentamente no passado e não se suportavam. Mas sua decisão foi precipitada, pois Flynn nunca chegou a fazer parte do elenco.
Selznick escolheu — entre 1400 candidatas — Vivien Leigh para viver a heroína sulista Scarlett O’Hara. Ela era casada com Laurence Olivier, o que certamente influenciou na escolha. Cukor ficou indignado com o resultado do certame e abandonou a produção com apenas 4% do trabalho concluído. Aproveitando o, digamos, vácuo de poder, Selznick tomou conta de tudo, chamando Clark Gable para o papel de Rhett Butler e Fleming para a direção.
Mas o conflito de egos entre os atores só poderiam ser medidos por sismógrafos. Vivien Leigh trabalhou nos sets de filmagem por 125 dias, recebendo a quantia de 25 mil dólares; já Clark Gable trabalhou por 71 dias e ganhou 120 mil dólares. Mesmo ganhando muito mais, Gable opinava ser um absurdo oferecer um papel essencialmente norte-americano a uma atriz inglesa. Paradoxalmente, nos corredores, durante as filmagens, todos achavam que Gable conquistaria Leigh também fora de cena, mas ela não o suportava e mais: considerava pouco profissional que ele deixasse o estúdio sempre às seis da tarde, pontualmente, todos os dias. Como vingança, ele comia cebolas e bebia licor poucas horas antes de gravar. Ela, é claro, não suportava seu hálito. Para completar, Gable dizia a todos que, quando a beijava, pensava num bife.
Se o desentendimento entre a dupla romântica não provocava baixas, o mesmo não se pode dizer dos restantes. Em meio às gravações, Fleming brigou com Vivien Leigh e Olivia de Havilland – que eram amigas e desejavam o retorno de George Cukor à direção –, e pediu demissão. Mas Gable adorava Fleming. Estranhamente, o demissionário alegou outro motivo para sair: disse que tivera um colapso nervoso e acusou Selznick. Para tentar finalizar a superprodução de quase quatro horas, foi chamada uma fila de diretores que trabalharam mas que foram sistematicamente demitidos após poucos dias: Sam Wood, William Cameron Menzies, Sidney Franklin… Ao final, Fleming recuperou-se e finalizou o trabalho.
Finalizou? Nem tanto. Foi Selznick e o montador Hal C. Kern que deram acabamento ao filme. Eles ficaram quase um mês cortando e cortando. A lenda diz que eles se fecharam no estúdio com 60 mil metros de película gravada ou, em outras palavras, 28 horas de material.
O filme foi lançado em 15 de dezembro de 1939. O resultado foi estrondoso sucesso. Considerando-se a inflação, é o filme com maior faturamento da história, além de o mais visto de todos os tempos. Foram 400 milhões de pessoas em todo o mundo. Atualmente, seu resultado financeiro seria de mais de 3 bilhões de dólares, ou seja, deixaria qualquer blockbuster na poeira. E custou para a MGM apenas cinco milhões.
O argumento da película de Selznick e Fleming, assim como o romance, estão inteiramente fora de moda, mas o filme é surpreendente por vários motivos. Em primeiro lugar pela proeza técnica em todos os campos. Apesar de nada naturalista, apesar de ser teatral, a narrativa é poderosa, a reconstituição de época é impressionante, a trilha sonora está no contexto e a fotografia é arrebatadora. Difícil acreditar que estivéssemos em 1939. Além disso, o desempenho de Vivien Leigh como Scarlett O`Hara é esplêndido. O filme ganhou 8 Oscar e saudado como obra-prima. Visto hoje, é excessivamente acadêmico e discursivo, além de ser um filme com um número altíssimo de maldades e casamentos por metro quadrado.
E o vento levou é uma grande história, literalmente. Em livro, são quase mil páginas de reviravoltas; em filme, são 241 minutos. Mas Mitchell e Fleming sabiam contá-la com brilhantismo.
O filme, na sua primeira parte, mostra uma visão idealizada da sociedade branca do velho sul dos EUA. Os senhores de escravos são mostrados como protetores benevolentes, e a causa confederada como nobre defesa da terra natal e de um modo de vida. Essa civilização que o vento levou é definida assim na abertura do filme:
Existia uma terra de cavalheiros e campos de algodão chamada “O Velho Sul”. Neste mundo bonito, galanteria era a última palavra. Foi o último lugar que se viu cavalheiros e damas refinadas, senhores e escravos. Procure-a apenas em livros, pois hoje não é mais que um sonho. Uma civilização que o vento levou!
Deste modo pouco realista, o filme apresenta uma visão simpática da sociedade sulista. Mas alguém se interessa por isso ou diz como Butler: Frankly, my dear, I don´t give a damn?
Voltemos ao filme. O trio central de personagens é estupendo e atípico.
Frustrada por não conseguir se casar com Ashley Wilkes, Scarlett acaba se envolvendo com o charmoso aventureiro Rhett Butler. Scarlett é a bela mulher com o demônio no corpo. Orgulhosa, egoísta, geniosa, cabeça dura, é capaz de absolutamente tudo para conquistar o que quer. Tudo entremeado de rios de lágrimas, claro. Porém, antes de ordinária, Scarlett impressionava os leitores e espectadores por ser empreendedora, decidida e forte.
Já Rhett Butler é o canalha incorreto, uma estranha mistura de extrema sinceridade, sedução e esperteza. Talvez por isso seja perfeito para Scarlett. Se ela tem interesses, ele é debochado. Ela entorna bastante açúcar em uma relação entre duas personagens nada simpáticas. OK, ele lhe dá uns beijos, mas mantém-se na incorreção. O notável é que a química entre eles – com a Guerra ao fundo – funciona como poucas vezes se viu.
Como o lucro de todos os envolvidos demonstra.
Mas trata-se de um filme que morreu no início do século XXI. Ou foi cancelado. Após protestos contra o racismo da produção, a HBO retirou-a de cartaz. Gravado nos EUA antes de qualquer movimento contra a segregação, E o vento levou é racista como Monteiro Lobato e o hino do Rio Grande do Sul. Imaginem que, pelo filme, a atriz Hattie McDaniel ganhou o primeiro Oscar de artista negra na categoria de atriz coadjuvante. Porém, na festa, Hattie não pôde sentar-se na mesma mesa que seus colegas de elenco. Se era assim nos anos 30, não seria diferente nos anos que o filme retrata.
E, se antes a beleza plástica tirava o foco de questões mais sérias — que a própria autora escolheu como pano de fundo –, tudo finalmente mudou. Sim, Scarlett O’Hara sempre foi uma personagem antipática, confusa e sem escrúpulos. Ela contestava a passividade feminina e tomava as rédeas de sua vida, mas foi amoral do início ao fim. A personagem eternizou a postergação de decisões difíceis com seu frequente I’ll think about that tomorrow. Tomorrow is another day.
Só que, mais de 80 anos depois, Scarlett não terá o dia seguinte para encontrar uma alternativa. E O Vento Levou é sim reprodução de uma estrutura racista e só voltará ao cartaz quando o racismo diminuir muito, deixando de ser uma questão urgente.
O Santos elimina o Boca Juniors da #Libertadores2020. Ao final da partida, seus jogadores cercam o diretor de futebol e, felizes, comemorando a vitória, pedem um pix. Eles se esforçaram muito no jogo, foram brilhantes. Os salários estão atrasados há dois meses.
Corta.
Após perderem para o último colocado Oeste, os jogadores do Cruzeiro saem irritados de campo. Jogaram mal, alguns foram displicentes. Vão ficar na Série B. E deram entrevistas falando mal do clube e dizendo que ninguém imagina o que é o ambiente onde têm que viver. Os salários estão atrasados há dois meses.
O prefeito Sebastião Melo compra 25 mil doses preventivas de cloroquina do governo federal. É o PMDB. Deve ser pagamento de um favor, algo assim.
Falta oxigênio em Manaus. Pacientes com Covid são mandados para outras cidades, que não querem recebê -los. Belém está agitada com a provável chegada de manauaras doentes.
E Bolsonaro, o palhaço idiota, o grosseiro e nojento pilantra cretino eleito democraticamente por milhões de ignaros? É tanta coisa que teria a dizer do genocida que nem sei por onde começar. Gerenciamento de crise…
Talvez alguns de vocês lembrem daquele post sobre o rádio Spica, meu amuleto futebolístico. Bem, eu colocarei o link como primeiro comentário. Ninguém é obrigado a ler todas as minhas bobagens, é óbvio.
Pois hoje fui entrevistado pelo SBT a respeito do rádio e das histórias que cercam o pequeno aparelho de 56 anos. Passamos desde a Samritzu, a fabricante japonesa que vendeu um milhão destes radinhos nos anos 60, pelas superstições de minha mãe — são incríveis –, pelos motivos que levaram minha família a ser toda colorada, pela final de 75 contra o Cruzeiro, pelas Libertadores e o Mundial e o conserto do rádio e seu “retorno triunfal” contra o Boca. Ufa!
Eu achei uma boa e divertida entrevista sobre um assunto bobinho. Vai ao ar num “Bom dia, Rio Grande” da semana que vem. Claro que a maior parte será cortada, mas foi um bom momento em que pude me distrair do mundo real.
Agradeço ao repórter Jeremias Wernek por ser tão leve e por ter feito voltar à tona partes boas de minha modesta biografia.
O famoso rádio Spica é o brontossauro dos dispositivos de áudio portáteis de hoje e foi a ponta de lança da revolução dos transistores. O primeiro rádio portátil comercial foi o Regency TR-1 (1954), desenvolvido pela Texas Instruments. Este foi o primeiro dispositivo para o consumidor a usar transistores em vez das válvulas. Ao se tornar portátil, o rádio foi democratizado, causando uma virada na história das comunicações. Foi um grande avanço.
Originalmente, a fábrica que criou o Spica este rádio foi fundada em 1939, com o nome de JAPAN TRANSFORMER WORKS Co. Ltd., dedicada, como o próprio nome sugere, à fabricação de transformadores elétricos. Somente em 1945 mudou seu nome para SANRITSU ELECTRIC Co. Ltd.
A fabricação em série de rádios transistores da Sanritsu começou em 1955. A partir de dezembro de 1964, a fábrica produziu mais de um milhão desses receptores, sendo que o maior percentual de produção correspondeu ao modelo ST600 (fotos), que era exportado para todo o mundo.
O significado de seu logotipo, dois triângulos em vermelho estampados no mostrador cromado, correspondem às frequências de 640 Khz e 1.240 Khz, frequências atribuídas pelo governo norte-americano na década de 50 para transmissões especiais (ativação de alarme) em caso de guerra nuclear ou radiação perigosa neste campo. Em outras palavras, essas frequências não poderiam ser utilizadas ou interferidas por nenhuma estação e seriam utilizadas apenas em caso de ameaça nuclear para informar a população da eventualidade de uma ameaça atômica, tão preocupante e comum na época.
Esse sistema recebeu o nome de CONELRAD Controle de Radiação Eletromagnética -ou Eletrônica, (Controle Eletromagnético ou Eletrônico de Radiação) e foi instituído em 26 de março de 1951 pelo então presidente dos Estados Unidos, Harry Truman. Ficaria sem efeito em 5 de agosto de 1963, sendo substituído por outros sistemas mais sofisticados até o final de 1994.
Este rádio foi originalmente projetado e fabricado pela Sanritsu Electronic Co do Japão. Recebia estações AM (moduladas em amplitude), ou o que na época se chamava de onda longa.
Por ser portátil, era muito utilizado, podia ser carregado para qualquer lugar e era muito comum ver torcedores nos campos de futebol com um “ouvidinho” (o antecessor dos fones de ouvido) preso na orelha.
Utilizava 4 pilhas AA e cobria a faixa de 535 a 1605 Khz. O equipamento era um produto de excelente qualidade, a recepção era muito boa e o som nítido. À noite, você podia ouvir emissoras do interior, além de várias do Uruguai e da Argentina.
Sabem por que o Inter ganha? Por causa do Spica. Sim, eu mandei arrumar o velho rádio de pilha de meu pai — fabricado lá em 1965. Esse rádio sempre deu sorte e vocês imaginam a data na qual o Daniel Morales da Silveira me devolveu o rádio em perfeito funcionamento?
Pois é, no dia do jogo contra o Boca. Depois daquele dia, foram 6 jogos e 6 vitórias. Todas ouvidas no Spica.
Pep Guardiola diz que um campeonato como o Brasileiro, em 38 rodadas, perde-se nas oito primeiras e ganha-se nas oito últimas.
(E o Milton diz: Quem larga mal tem que parir uma bigorna depois para subir. Empiricamente, mas de forma convicta, sempre ri daqueles técnicos que dizem “ah, o campeonato está muito no início, vamos recuperar”. É muito raro alguém recuperar. Não recuperam. Ou estão no bolo desde o início ou não entram nele).
1. E fomos ser gauche na vida, de Lelei Teixeira.
2. Os Supridores, de José Falero.
3. Torto Arado, de Itamar Vieira Junior.
4. Mulheres de Minha Alma, de Isabel Allende.
5. E foi assim que eu e a escuridão ficamos amigas, de Emicida.
6. O Avesso da Pele, de Jeferson Tenório.
7. Nós, mulheres, de Rosa Montero.
8. A Vida Mentirosa dos Adultos, de Elena Ferrante.
9. Máscaras da Tricolina (ok, não é livro, mas olha só, Cássia Zanon!).
10. O Beijo na Parede, de Jéferson Tenório.
11. 1935, de Rafael Guimaraens.
12. Pequeno Manual Antirracista, de Djamila Ribeiro.
Liga uma senhora bem velhinha. Pela voz, é beeeem velhinha.
Eu faço minha impostação mais educada.
— O que a senhora deseja?
— Moço, eu estou sempre perdida no meio dos meus papéis. Graças aos céus hoje eu vi que tinha o IPTU com desconto para pagar. Último dia!
— Boa lembrança, a senhora me salvou. Tenho que pagar o meu também. Estou com o boleto, mas já ia me esquecendo dele — minto, pois já tinha pago o meu.
— O seguinte: o que me leva a lhe incomodar com este telefonema é que vi que tenho um cheque presente da Bamboletras. Ele deve ter uns 4 anos.
— 4 anos, Dona X ?
— Sim. E a minha pergunta é: o cheque presente de vocês CADUCA? — ela pergunta, colocando ênfase na último verbo.
— Não senhora, não caduca.
— Ai que alívio, moço! Quem terá me dado isto de presente?
Risadas.
— Escuta, vocês fazem entregas?
— Sim.
— Então me traz uma coisa boa como…
— Como quem?
— Como Philip Roth — ela me diz baixinho, como se fosse um segredo.
A Marca Humana já deve estar com ela neste momento.
O Inter fez um primeiro tempo simplesmente podre, com Marcelo Lomba e Rodinei comprometendo inteiramente e o resto do time parecendo perdido em campo. Não chutamos a gol, só o Ceará jogava. o Vozão perdeu 4 gols feitos…
Abel, tu tiveste sorte. Lomba também. Imaginei que nosso goleiro perdeu uma bola ao tentar driblar o centroavante do Ceará… Olha, Lomba está com o prazo de validade estourado. Nunca foi um grande goleiro e agora está mal. Enquanto isso, Rodinei era envolvido sistematicamente pelo lado esquerdo do ataque adversário.
Depois, no segundo tempo, o time voltou mais organizado e acabou por obter uma importante vitória. Vitória dos meninos do time, não dos medalhões (aqui façamos justiça e Edenílson, que esteve bem durante toda a partida).
Agora temos Goiás e Fortaleza no Beira Rio, depois pegamos o São Paulo fora de casa. Temos tudo para encostar antes de chegarmos à capital paulista. Claro temos que combinar com os russos. Pelas lesões dos dois goleiros, Daniel deverá será o titular contra o Goiás. Pois é, parece que os deuses estão ajudando. Mas temos que ganhar em casa da turma de baixo.
O São Paulo é o líder com 56 pontos em 28 jogos (próximos 3 jogos: Santos (c), Athlético (f) e Inter (c)).
O Inter é o vice-líder com 50 pontos em 28 jogos (próximos jogos: Goiás (c), Fortaleza (c) e São Paulo (f)).
Mas…
Os seguidores tem um jogo a menos e estão bem perto. São eles:
O Atlético-MG com 49 pontos em 27 jogos (próximos jogos: Bragantino (f), Atlético-GO (c) e Grêmio (f)),
o Flamengo com 49 pontos em 27 jogos (próximos jogos: Ceará (c), Goiás (f) e Palmeiras (c)) e
o Grêmio com 48 pontos em 27 jogos (próximos jogos: Fortaleza (f), Palmeiras (f) e Atlético-MG (c)).
O jogo atrasado de Grêmio e Flamengo é justamente um Grêmio x Flamengo em Porto Alegre e o do Atlético-MG eu não sei qual é…
Sim, para a Elena que, como eu, ama Londres. A Embankment Station, Elena, é aquela para onde a gente ia a fim de chegar ao Southbank Center do outro lado da ponte, à National Gallery, à St. Martin-in-the-fields, à Trafalgar, ao Covent Garden, etc.
pouco antes do Natal de 2012, os funcionários da estação de metrô Embankment, em Londres, viram uma mulher visivelmente perturbada na plataforma. ela ficava perguntando para onde a voz tinha ido. eles não entendiam o que ela queria dizer. “a voz?” sim, a voz, ela respondeu. o homem que diz “cuidado com o vão”. ah, é isso? não se preocupe, disse a equipe do Embankment. o aviso ainda existe, apenas o atualizaram. novos sistemas digitais, vozes eletrônicas. diante de sua feição de tristeza, a equipe perguntou se ela estava bem.
“aquela voz”, explicou ela, “era meu marido.”
a mulher, uma médica de família chamada Margaret McCollum, explicou que seu marido era um ator chamado Oswald Laurence. Oswald nunca foi famoso, mas ele se tornou o cara que gravou todos os anúncios da Northern Line nos anos 1970.
e Oswald morreu em 2007. a morte de Oswald deixou um vazio imenso na vida de Margaret, mas uma coisa a confortou mais do que qualquer outra: todos os dias, a caminho do trabalho, ela ainda ouvia sua voz.
por cinco anos, isso se tornou sua existência. ela sabia que ele não estava realmente lá, mas sua voz, sua memória, sim. para todos os outros, era apenas mais um anúncio como tantos outros sem importância no sistema de som da estação. mas para ela, era o fantasma do homem que ela ainda amava. e que agora a havia deixado para sempre.
a equipe do Embankment se desculpou e prometeu, no entanto, que se a gravação antiga ainda existisse, eles tentariam encontrar uma cópia para lhe dar. Margaret sabia que isso era improvável, mas agradeceu a todos e se despediu.
no dia de ano novo de 2013, Margaret McCollum sentou-se na plataforma da Embankment Station, indo trabalhar como sempre. quando, dos locutores, uma voz que era familiar para ela soou. a voz de um homem que a amou tanto. e que ela nunca pensaria que ouviria novamente. “mind the gap”, disse Oswald Laurence.
uma força tarefa foi voluntariamente formada. arquivos foram escaneados e fitas antigas foram encontradas e reformadas. várias pessoas tiveram que trabalhar para localizá-los, recuperá-los e digitalizá-los. outros tiveram que mudar o código do sistema de anúncio, e ainda outros tiveram que preencher papéis e correspondência para autorizar a exceção. mas juntos, eles deram voz a Oswald novamente.
e é por isso que ainda hoje, em 2021, quem quer que desça para a estação Embankment em Londres e pare na plataforma da Northern Line, ouvirá uma voz completamente diferente dizendo ‘mind the gap’, uma voz que já não existe mais em qualquer outro lugar do metrô de Londres.
é o Oswald. falando para a Margaret.
(eu hoje conheci essa história linda e quis contar para vocês.)
No dia 28 de dezembro de 1895, dentro da primeira sala de cinema – que ainda existe –, chamada Eden, foi exibido o primeiro filme de todos os tempos, Arrivée d’un train em gare à La Ciotat (Chegada de um trem à estação da Ciotat). Em pouco menos de 60 segundos, a primeira plateia acompanhou a chegada de um trem à estação e viu alguns passageiros desembarcarem. Eles tinham tanta noção do que estava ocorrendo que várias pessoas simplesmente fugiram desesperadas para o fundo da sala com medo de serem atropeladas. Mais: as pessoas que foram filmadas não perderam tempo acenando para a câmera e nem desviaram o rosto a fim de manterem a privacidade. Ninguém sabia o que era aquilo e a imortal cena é perfeitamente natural. Em menos de sessenta segundos estava vista e encaminhada a revolução que criaria a sétima arte.
A primeira sala de cinema do mundo ainda funciona e alguns dos primeiros cinematógrafos podem ser vistos no Instituto Lumière, localizado na cidade francesa de Lyon.
Louis e Auguste eram filhos e empregados do fotógrafo e fabricante de películas Antoine Lumière, dono da Fábrica Lumière (Usine Lumière), na cidade francesa de Lyon. Antoine aposentou-se em 1892, deixando a fábrica entregue aos filhos. Seu cinematógrafo era uma máquina de filmar e projetor de cinema, invento que lhes foi sido atribuído mas que na verdade foi inventado por Léon Bouly, em 1892. Só que este perdeu a patente, de novo registrada pelos irmãos Lumière a 13 de Fevereiro de 1895. Deste modo, se a dupla de irmãos não foi a inventora de fato, foi de direito.
Como inventores do cinema, os irmãos Lumière juntam-se a Georges Méliès, que é considerado o pai do cinema de ficção e dos efeitos especiais. O perfil artístico de Méliès não encontrava correspondência em Louis e Auguste Lumière, que eram engenheiros que passaram a se dedicar à atividade cinematográfica produzindo pequenos documentários destinados à promoção e vendas do cinematógrafo. Pensavam que se tratava de uma ferramenta científica sem muito futuro comercial. Tinham uma vida pacata, casaram-se com duas irmãs e moravam todos na mesma mansão. Depois, antes e durante a 2ª Guerra Mundial, admiraram e apoiaram Benito Mussolini e o Marechal Pétain.
A palavra cinematógrafo vem do grego κίνημα – kinema (movimento) e γράφειν (descrição). Ele é uma evolução do cinetógrafo de 1888, obra do maior inventor de todos os tempos, Thomas Edison, que a considerou uma curiosidade e uma grande perda de tempo. Capaz de filmar e projetar películas, o aparelho dos Lumière foi tecnicamente superior a seus antecessores. Porém, os primeiro diretores de cinema não eram lá muito exigentes e experimentaram o novo aparelho filmando o que tinham por perto. La sortie des usines Lumière (A saída das indústrias Lumière) foi, assim, sua primeira obra. É, aliás, possível visitar o lugar exato em que ela foi filmada, um lugar ainda dedicado ao cinema: a Cinemateca de Lyon.
Uma dúzia de filmes foram produzidos em seguida pela dupla, dentre os quais L’arroseur arrosé (O regador regado), breve cena em que um rapaz se diverte às custas de um jardineiro, e o famoso e já citado L’arrivée d’un train en gare de La Ciotat (A chegada de um trem à estação de La Ciotat), que apavorou os espectadores, levando-os a crer que uma locomotiva de verdade se aproximasse deles.
Desta forma, desde o primeiro dia, o cinema documenta, distrai e assusta. Quando os irmãos Lumière enviaram operadores para os outros lugares do mundo, pedindo-lhes que lhes mandassem imagens, constataram que o cinema também poderia informar.
Assim como as palavras foram armazenadas em palimpsestos, depois em papel e livros, as imagens começaram pelas câmeras fotográficas. A primeira fotografia foi também tirada por um francês, Nicéphore Niépce, em 1826. O cinematógrafo nada mais é do que uma câmera fotográfica com a capacidade de gravar várias imagens em sequência sobre uma película, as quais, vistas no cinematógrafo, dão ideia de movimento.
Na verdade, a primeira projeção pública do invento, aquela de 28 de dezembro de 1895 no cinema Eden, ainda hoje situado em La Ciotat, no sudeste da França, foi bem simples, limitando-se ao filme que mostramos acima. A verdadeira divulgação do cinematógrafo, com publicidade e – vejam bem – já com entradas pagas, teve lugar em Paris, no Grand Café, situado no Boulevard des Capucines. O programa incluía dez filmes. A sessão foi inaugurada com a apresentação de La Sortie de l’usine Lumière à Lyon (A Saída da Fábrica Lumière em Lyon). No início da sessão, os irmãos Lumière explicaram o funcionamento do cinematógrafo. Depois o mostraram. As imagens em movimento tiveram uma enorme repercussão: L’Arrivée d’un train en gare de la Ciotat (Chegada de um Comboio à Estação da Ciotat), Le Déjeuner de Bébé (O Almoço do Bebé) e outros foram apresentados, incluindo os primeiros esboços cômicos, como o já citado L’Arroseur arrosé (O “Regador” Regado).
Ali começava o cinema, meio de expressão de alta influência em nossa cultura ao combinar várias artes mais antigas: o teatro, a encenação, a música, a fotografia e a literatura. Além disso, ele gerou as figuras de diretores, roteiristas, produtores e outras várias profissões técnicas. É todo um mundo que pode resultar em estilos artísticos muito diferentes, mas sempre muito representativos. Além disso, é um fenômeno econômico, fonte de entretenimento popular. As imagens animadas conferem aos filmes seu poder de comunicação universal. As dublagens ou as legendas, fizeram com que se tornasse mundialmente popular.
O uso da película dos Lumière na produção de filmes encontra-se em queda. Há aproximadamente dez anos, o cinema digital está em franco crescimento, tanto na tomada de imagens como na projeção. O digital permite, além disso, que os filmes circulem fora dos circuitos tradicionais de distribuição. Mas achamos que seus rebentos sempre serão chamados de cinema, como os dos irmãos Lumière.
Estou lendo O Fim, de Karl Ove Knausgård. É um romanção de 1056 páginas. Estou lá pela 430. Faz umas 50 páginas que ele iniciou uma furiosa incursão ensaística. Parece que a coisa tem mais 300 páginas. Não gosto.
Se os livros de ficção trazem teses, prefiro que estas sejam demonstradas por situações e impasses. As situações podem falar e creio que são elas que mais arranham a realidade. Além disso, filosofia em excesso me chateia, não tenho muita inteligência para ela e preferiria até voltar a estudar matemática. Falo sério.
Neste momento, Knausgård afasta- se tanto da história que conta quanto Musil faz em seu calhamaço-mor O Homem Sem Qualidades. Acho que é roubar no jogo ficcional, ainda mais após Thomas Mann demonstrar como ficção, personagens e filosofia podem se entrelaçar, como os personagens podem representar ideias, como Dostô também fazia em O Idiota e Os Irmãos. Saudades de Settembrini, Naphta e Míchkin.
Mas sou um cara dedicado e vou tentar atravessar as 300 páginas sem pensar em outra coisa.
Importante: eu ADOREI os 5 primeiros volumes da hexalogia. Resolvi encrencar no último…
Cora e Julia foram mais do que simples amigas durante a faculdade. A relação foi subitamente interrompida pela partida de Julia para Montreal. Tempos depois, Cora também foi ao exterior a fim de estudar moda em Paris. Certo dia, Cora liga seu computador e lá está um “Oi, tudo bem?, há quanto tempo” de Julia. Cora responde e logo está passeando pelo quarto de Julia através do Skype. Numa das cenas mais belas de Todos nós adorávamos caubóis, Julia caminha pelo apartamento, mostrando à Cora suas coisas e a neve de Montreal. Entre outras coisas, ela mostra, através da janela, o semáforo da esquina, que passa do vermelho para o verde, permitindo aos carros se moverem entre as árvores secas da cidade.
Elas combinam o reencontro. Pretendem fazer a viagem sempre adiada pelo interior do Rio Grande do Sul. A viagem seria feita sem planejamento, apenas com um mapa levando-as de uma cidade a outra. As duas trazem bagagens e expectativas distintas. Cora viera para assistir o nascimento do irmão — seu pai recém casara com uma jovem de sua idade, algo que Cora parece aprovar com reservas –, enquanto Julia parece estar ambivalente em relação ao namorado estrangeiro. O que uma espera da outra?
Enquanto isso, vagam sem objetivos pelo interior gaúcho. Um interior que não aparece da forma gaudéria, alegre e hospitaleira das histórias do 20 de setembro. Não que apareça hostil, apenas mostra-se estranho, sem pontos de contato com a urbanidade das moças. Mesmo que Julia tenha nascido em Soledade, elas são e estão de fora.
Após Pó de Parede e Sinuca embaixo d`água, o excelente Todos nós amávamos caubóis é o terceiro livro publicado pela porto-alegrense Carol Bensimon. Ela falou ao Sul21 no bar Tuim, tradicional local da Gen. Câmara. Por algum motivo, o formalismo habitual das entrevistas foi logo abandonado, tanto que a primeira interrogação foi desferida por Carol e não pelo entrevistador, o que transformou tudo numa agradável conversa.
Sul21: A ideia de falar contigo surgiu quando Todos nós adorávamos caubóis chega a Antônio Prado. Mais exatamente quando Cora e Julia saem da cidade e vão até aquela estátua, a dos caras que introduziram a bateria na música gauchesca.
Carol Bensimon: Não é que outro dia um cara no Facebook me compartilha uma foto com o monumento, botando: “Ah, a Carol fez uma bela homenagem” e daí os caras da música gaudéria começaram a comentar. Mas a ideia da entrevista veio dali por quê?
Sul21: Porque a literatura e o jornalismo gaúcho não costuma ser irônico. A tua referência não é especialmente ácida, mas também não é nada laudatória. Naquela cena tu achas graça da estátua, isso está na cara. Mas comecei a entrevista respondendo uma pergunta tua…
Carol Bensimon: Sim, a personagem faz gracinha com a história da bateria na música gaudéria. Meus personagens têm claramente uma visão urbana que estranha o interior, disso eu não tenho dúvida. Um jornal do Recife escreveu algo sobre “uma visão muito elitizada, uma visão muito burguesa”, me acusou de estar tripudiando sobre aquelas pessoas. Não é nada disso, mas é óbvio que minhas personagens são essencialmente urbanas, sentem-se mais ligadas e melhor numa grande capital do mundo do que propriamente no interior do seu estado. Trabalhei esses estranhamentos. Acho que, excetuando-se o romance histórico, a literatura das últimas décadas não está olhando muito pro interior.
Sul21: Na verdade, eu andei lendo Assim na Terra, do Metz. Ele fala de forma muito poética do homem do campo, é uma viagem de toda a vida sobre um cavalo, por assim dizer. O teu livro contrasta muito neste aspecto. Há a estátua, depois tu falas de toda a energia posta na customização de carros, da baixa qualidade dos vinhos brasileiros, de Cambará — “onde as pessoas caminham entorpecidas” –, do deserto de Minas de Camaquã, há a briga entre a Julia e o irmão fazendeiro.
Carol Bensimon: Uma coisa que descobri, quando me dispus a fazer essas viagens é que, na verdade, as pessoas destas cidades do interior não estão muito interessadas em “serem do interior”. Seu ideal é o de se afastar da aura de bucolismo. Para elas, quanto mais urbanas elas parecerem, melhor. Por exemplo, as casas históricas de Antônio Prado… Lá, houve uma grande polêmica que não está no livro. Nos anos 90, aquelas casas foram tombadas. São casas de madeiras enormes, bem típicas. As pessoas não queriam mantê-las. Teve gente que botou fogo na própria casa. O mesmo não aconteceu há pouco em Santo Ângelo? Queriam tombar várias casas e as pessoas estavam revoltadíssimas. O pessoal não tem muita consciência histórica. Querem derrubar e “modernizar” tudo.
Sul21: Acabam destruindo também uma possibilidade de turismo.
Carol Bensimon: Sim, a maioria das cidades é feia. São piores que Porto Alegre. Porto Alegre pelo menos é em parte arborizada. Essas cidades médias, como Santa Maria, não tem uma grande identidade visual.
Sul21: Qual é teu grau de interesse em urbanismo? Tu me escreveste no Facebook que estava lendo apenas livros de urbanismo.
Carol Bensimon: É uma coisa pessoal. Tanto que apareceu no meu primeiro livro (Pó de parede, 2008). Não urbanismo, mas arquitetura. Todos os contos eram centrados em coisas arquitetônicas. Meu interesse mais em cidades deve ter vindo da minha experiência em Paris. Lá há um pensamento, um planejamento que está ausente no Brasil.
Sul21: Vamos voltar ao livro. A questão da estrutura.
Carol Bensimon: A estrutura é mais ou menos linear. É a viagem, mas dentro disso tem rememorações o tempo todo. Acho que é um pouco do meu estilo. Eu queria que ficasse essa coisa para a frente e para trás. Não estou inventando nada de novo. É mais ou menos como funciona a memória, apesar de não ser como um fluxo de consciência. Vou montando.
Sul21: Como um mosaico?
Carol Bensimon: Tu achas que funcionou como um mosaico? Onde tudo fecha?
Sul21: Não é que feche. É um livro construído com cuidado. Eu queria saber se tu organizas a colocação dos mosaicos ou se tu os joga por livre-associação.
Carol Bensimon: Via de regra, as memórias de cada capítulo estão relacionadas com os acontecimentos presentes. Mas algumas coisas foram por tentativa e erro. Por exemplo, onde colocar a parte do pensionato? A festa à fantasia também foi uma cena que eu não sabia muito bem em que ponto ela deveria ser revelada.
Sul21: E Thelma e Louise?
Carol Bensimon: Quando eu estava escrevendo o livro, li uma obra teórica sobre road movies. O livro é Driving Visions, de David Laderman. Ele fala que essas narrativas de estrada foram inauguradas com On the road, de Kerouac. Mas aí o cinema se apropriou do gênero. São analisados vários filmes divididos por décadas e vai mostrando como o gênero muda. O fato é que raramente as mulheres protagonizam esse tipo de narrativa. Thelma e Louise é quase inaugural nesse sentido. Mas fico muito intrigada com o final do filme. Dá pra fazer uma leitura feminista e também o contrário. E vários desses filmes acabam em morte. Eu tinha preocupação em não fazer um final assim.
Sul21: Mas não é um livro alegre, na minha opinião.
Carol Bensimon: Não sei. Acho que ele tem um quê de esperança. Tem a coisa da viagem, do movimento e da ideia de liberdade. Acho luminoso. Mas, também concordo, lá tem uma coisa melancólica: a questão de que a viagem acontece com anos de atraso.
Sul21: Sim, há muita coisa fora do lugar. A hora escolhida para a viagem não é adequada, segundo a família. Quando Julia encontra sua família é um horror completo. Mas me fala sobre isso aqui na página 19. “Era como se você passasse meses cogitando pintar o cabelo de azul, e de repente percebesse que tanto tempo cogitando, analisando, imaginando, tinha acabado por satisfazer por completo seu desejo de rebeldia”. Tu já tinhas visto Azul é a cor mais quente quando escrevesses isso?
Carol Bensimon: (risadas) Hoje eu pensei nisso. Quando escrevi, não existia o Azul cor mais quente. O filme apareceu em maio em Cannes. Ele ganhou o festival, li a história e fiquei muito empolgada para ver o filme. Mas nessa época eu já tinha terminado o livro. Então é casual. Pura coincidência. Mas mesmo se não tivesse isso do Azul, já daria pra fazer uma certa conexão com o filme. Eu achei muito universal, me identifiquei. Se tu não tiveres preconceito, é uma história de amor. Por exemplo, aquela cena das duas no café, a tentativa de reconciliação. Aquilo é foda. E quem nunca vivenciou uma cena daquelas? Tu vais lá com a pessoa e suplicas mesmo.
Sul21: Onde entra, na tua opinião, a questão da militância gay?
Carol Bensimon: Não sei se ele entra na militância gay. Eu acho que ele entra mais na experiência particular de quem vai pegar o livro e se identificar com aquilo em termos de sexualidade feminina ambígua. Acho que a gente está num momento posterior a isso, desse rótulo de literatura “gay”. Talvez fosse um escândalo lançar o livro há 10, 15 anos. Eu tenho uma pequena lista de filmes onde duas gurias se envolvem. Pequena lista de três. (risadas). Tem um filme argentino chamado El niño pez, de Lucia Puenzo. Ela também fez aquele filme que se chama XXY. Nos dois filmes, ela trabalha essa questão da sexualidade, de gênero. Depois tem um filme ótimo, francês, chamado Lírios d’água, de Céline Sciamma. É um universo curioso porque são duas meninas que fazem nado sincronizado e uma delas está meio em negação e a outra sofre.
Sul21: Queria que tu comentasses a frase: “Minha atração pelo sexo feminino era uma doce aventura e ao mesmo tempo uma condenação ao mais claustrofóbico dos universos”.
Carol Bensimon: Vamos lá. Acho que a personagem vê o exercício de seu lado gay como uma certa transgressão. Ao mesmo tempo há uma limitação, prisão, sei lá como diz, um universo claustrofóbico. Ela fala num determinado momento que talvez se sinta mais atraída por meninas supostamente heterossexuais do que por lésbicas, e isso cria um certo problema. Ela fala nisso. Ela queria ter uma chance com qualquer pessoa que encontrasse na rua. Com a frase, ela também se refere à questão familiar. Não chega a ser o drama do livro, mas a família não encara os fatos. O livro fala mais das questões mal resolvidas entre Cora e Julia. Em nenhum momento a Cora chega a confrontar a Julia. Nem no passado, nem na viagem. Não há do tipo ”Tá! O que é isso que a gente tá tendo?”. Mantém-se uma ambiguidade que tem o seu lado aventureiro e seu lado angustiante.
Sul21: Tu falaste numa sexualidade mais fluida que seria uma característica de nosso tempo. Tu achas que esse tipo de sexualidade fluída pode ocorrer entre homens, assim como ocorre entre mulheres?
Carol Bensimon: Não, é mais difícil. Porque o papel está mais delimitado no gênero masculino. É uma coisa cultural. As gurias experimentam. Namorar uma guria e daqui dois ou três anos ela estar casada, com filhos… Ninguém vai achar isso tão estranho assim. Com caras não acontece isso. É uma coisa cultural, simplesmente. Dia desses, assisti a um documentário francês sobre bissexualidade. A maioria das entrevistas eram feitas na França, e aí já temos uma dimensão totalmente diferente, por exemplo, da bissexualidade masculina, até porque vários caras que participavam eram pessoas do ramo das artes e se declaravam bissexuais. Eram figuras públicas e tal. Certamente isso ainda não chegou ao Brasil. A noção de masculinidade varia de país para país. O francês pode parecer efeminado e ser hétero.
Sul21: Há preconceito das lésbicas contra as bi?
Carol Bensimon: Sim, bá, total. A gente tem essa sigla LGBT e, nos anos 90, lembra que era só GLS? O B está ali só como uma letra. Acho que há um preconceito forte dentro da comunidade, em vários sentidos. Primeiro, parece que os bissexuais são meio que “traidores” do ponto de vista das feministas. Então podem ser mais ainda entre as lésbicas feministas. Que mais posso dizer sobre isso? Há também este rótulo de promiscuidade… Vários gays e lésbicas acham que bissexuais são gays enrustidos que não saíram do armário.
Sul21: Há meninas que ficam com gurias em festas, mas se dizem hétero…
Carol Bensimon: Aí acho que entra outro fator que é muito contemporâneo, que é a coisa das gurias ficarem para chamar atenção dos homens. Aí é muito confuso. Há diferenças sobre como são vistas as mulheres bi e os homens bi. O senso comum acha legais mulheres bi – tem a ver com a pornografia. Parece que as mulheres estão fazendo um espetáculo pros caras. São como nos filmes pornô. As mulheres ficam se pegando, mas só enquanto o cara não chega pra comer. É sempre uma questão de preliminares. A meninas a que tu te referiste são chamadas pelo termo heteroflexíveis. A pessoa se considera hétero mas as vezes ela fica com o mesmo gênero. Então, várias dessas meninas das festas podem ser heteroflexíveis, mas não se consideram assim.
Sul21: Evidentemente, o nome da narradora, Cora, é uma brincadeira com teu nome, né? Coloca o L e muda o lugar da vogal e chegamos à Carol.
Carol Bensimon: Não, não foi de propósito. É sério.
Sul21: Tu vais querer me vender essa??
Carol Bensimon: É que se eu contar a história de verdade vai ser pior ainda.
Sul21: Vai ter que contar!!!
Carol Bensimon: Em off só, realmente não tem nada a ver.
(…)
Sul21: Tu me falaste, também em off, que tinha algum plano pro livro de virar mini-série ou filme.
Carol Bensimon: Eu vendi os direitos. Eu vendi para a RT Features do Rodrigo Teixeira. Ele compra bastante coisas contemporâneas. Ele comprou o Sinuca embaixo d`água.
Sul21: Não o Caubóis?
Carol Bensimon: O Caubóis também. Mas primeiro ele comprou o Sinuca. Ele comprou Caubóis antes do livro ser escrito.
Sul21: Isso tem tempo de validade?
Carol Bensimon: Se não me engano é um contrato de dez anos. É um pouco angustiante, porque não sei se virar mesmo filme. As pessoas dizem que daria um puta filme. É difícil saber quando vai sair. O Sinuca ainda não saiu. Mas tu viu o book trailer?
Sul21: Não.
Carol Bensimon: Sério?
Sul21: Eu vi só o book trailer do livro do Marcelo Backes, O último minuto, muito bom.
Carol Bensimon: Tu tens que ver. É incomparável, é uma coisa muito foda que a Liliana Sulzbach fez. É um filme. É um trailer de filme. E vê-lo deu ainda mais vontade de ver em filme. Até porque não sei até quando aqueles lugares vão durar.
Sul21: Como é que é Minas de Camaquã? O que é aquilo? É abandonado? Tipo a Paraty de antes dos anos 70?
Carol Bensimon: A comparação não é muito válida. Era uma cidade de mineração que tinha vivia da exploração de cobre desde o século 19, com os belgas.
Sul21: Onde fica isso?
Carol Bensimon: Entre Bagé e Caçapava. O Baby Pignatari era o dono das minas da Companhia Brasileira do Cobre (CBC). Eles construíram essa cidade pros mineiros e pras pessoas que trabalhavam. Então foi uma cidade planejada. Toda ela é circular, as ruas são circulares. Então num primeiro raio tu tens as casas dos engenheiros, depois as dos mineiros, etc. As casas vão ficando mais simples. Acho que a população era maior do que a de Caçapava. Lá tinha cinema, Caçapava não. E então acabou o cobre. Quebrou a Companhia. Daí, nos anos 2000, houve um leilão e eles venderam aquelas casas por um preço ridículo, 500 reais cada uma. Então essas casas voltaram a ser ocupadas como casas de fim de semana das pessoas que moram em Caçapava ou Bagé.
Sul21: Mas tem alguma coisa de atrativo lá?
Carol Bensimon: Sim. São aproximadamente 500 habitantes. A impressão que eu tenho é que todas as cidades do interior seriam daquele jeito se elas não tivessem se descontrolado completamente em termos de planejamento urbano, sabe? O local tem uma aura, uma personalidade. Irei novamente para Minas de Camaquã agora no final de janeiro.
Sul21: Como é que tu descobriste?
Carol Bensimon: Uns amigos me falaram. Porque ali perto tem umas formações rochosas que chamam de guaritas. Eles começaram a falar desse lugar. E daí eu conheci uma leitora de Caçapava que entrou em contato comigo e quando eu falei das Minas ela disse que a família dela tinha casa lá e que poderíamos fazer uma visita. Foi a primeira vez. No book trailer, fomos pra lá. Tu me perguntaste sobre os atrativos. O atrativo é a paisagem que é muito massa, tem lugares pra subir. Há o rio Camaquã que passa ali e tem toda essa estrutura abandonada. As casas têm certa manutenção, mas os prédios da mineração estão bem detonados.
Sul21: E os OVNIs de lá…?
Carol Bensimon: Ah, sim, tem a sede do projeto Portal lá.
Sul21: Tem mesmo?
Carol Bensimon: Sim. É enorme. Pavilhões.
Sul21: Tu conversaste com os caras?
Carol Bensimon: Não. Nunca vi ninguém lá.
Sul21: Mudando utra vez de assunto, me diz uma coisa, o que tu achas das oficinas literárias? Tu participaste da oficina literária do Assis Brasil, tu achas que ela acrescentou algo pra ti?
Carol Bensimon: É sempre meio que clichê essa resposta, sabe? Porque encurtou caminhos talvez. Indicou leituras, apresentou teorias. Eu poderia ter intuído tudo, mas talvez demorasse mais tempo assim. E, depois, talvez o mais importante seja a troca com o Assis e com os colegas, porque chega um momento em que uma pessoa escreve um conto e todos têm que analisar aquele conto. A aula inteira debatendo. Antes disso tu mostrava pra mãe, pro namorado, pro irmão. Nesse sentido é importante.
Sul21: Como tem sido a repercussão do livro?
Carol Bensimon: Não sei se tu conheces o Skoob, aquela rede social? Às vezes entro pra olhar. Primeiro tem uma discrepância absurda entre o número de homens e mulheres que estão lendo o livro. Mulheres são mais de 80%. Se pegar meus outros livros, é mais equilibrado. E tem esses blogs com resenhas. Blogs sobre livros, muitos de fantasia. Eles leem o livro e gostam, é curioso. Mas um cara me detonou da Folha de São Paulo. Falou que era previsível. Tudo bem.
Sul21: Eu fico surpreso de alguém achar previsível, porque o previsível é quando tu provocas um conflito e dá um final esperado. Não é o caso do teu livro. E esse negócio da música no livro? Tu usas como recurso expressivo ou o quê? A Cora num momento diz “que as músicas gaudérias estão tão longe dela quanto a música celta, batuques aborígenes “.
Carol Bensimon: Eu acho que eu uso a música um pouco como frustração, porque eu queria que o livro tivesse trilha sonora. Então cito uma série de músicas. Inclusive dou opiniões do tipo: “essa música abre o melhor disco do Led Zeppelin”. Tem um pouco a ver com o processo criativo. Eu postei uma playlist no Facebook e fez um tremendo sucesso, não sei por quê.
Há algumas separações que estão destinadas à confusão na hora da partilha. Os próprios advogados entendem que o melhor é não ir à Justiça, local pantanoso e cheio de impostos, mas, enfim, às vezes é difícil evitar. A lei diz que tudo o que foi amealhado pelo casal deve ser dividido, é 50% para cá, 50% para lá. E, como apreciam dizer os advogados, a legislação é sábia.
É natural que haja uma desproporção entre a contribuição de um ou outro membro do casal. Há sempre um que ganha mais. Para a lei, pouco importa: ela está se lixando para a contribuição de um ou outro.
Quando a coisa está difícil de explicar, a gente chama os gregos. Afinal, eles inventaram um monte de coisas, inclusive a hipérbole, que é intensificação de tudo até o inconcebível. Ah, o exagero, figura tão conhecida dos lógicos! A gente usa a hipérbole, as coisas exageradas e inusitadas, para testar uma função (ou lei) matemática, um programa de computador e as leis dos homens, claro. Então, imaginem um casal cuja mulher não trabalhe. Se a contribuição dela para o orçamento familiar é zero, ela deve ficar com zero? Outro exemplo, se a mulher entra no casamento já com uma filha e paga as contas de colégio, alimentação, entretenimento e vestuário da menina, deixando assim de pagar parte das contas da casa que ficam à cargo do marido sem filhos, como deve ser a divisão quando do divórcio? Ela fica com a filha e ele com a casa que pagou majoritariamente? Claro que não!
Espero que este não seja meu melhor post, mas certamente é o mais lido. Os homens me escrevem na fantasia desesperada de que eu tenha respostas. As respostas. Muitos procuram meu e-mail. Então, em particular, costumam contar longamente seus casos. São todos de gênese muito diferente e muito iguais nos sintomas. Quase sempre respondo. Na semana passada, tive uma interessante conversa com um psiquiatra desesperado com seu próprio caso e, pior, tendo que tratar diariamente pacientes com o mesmo gênero de problemas. Ele seguia mal pessoalmente e trabalhando mal, não dormia, perdia peso e às vezes esquecia-se de tomar banho. Passei por tudo isso. Então, este texto é dedicado aos homens porque sou um deles e tudo o que explico aqui saiu de minha experiência.
A maioria dos casais é normal e se separa. Não sei o que acontece de errado com os que não se separam mas isto não interessa agora e, como a vida é mesmo repetitiva, cunhei um e-mail padrão avisando meus amigos que se encontram nesta situação. Trata-se de um texto quase impessoal, entre o sério e o cômico, que já enviei para uns quinze amigos COM FILHO(S) nos últimos anos e os comentários sempre foram… Interessantes e bem diferentes um do outro. Mas é um e-mail para homens, mas grande coisa se for lido por mulheres, né?
Então, o e-mail que envio tem mais ou menos o texto a seguir:
Ora, ora, mas aí tu me disseste que estás te separando…
Odeio — mesmo — as pessoas que vendem suas experiências bem ou mal sucedidas e complementam: “é assim que as coisas são, prepare-se!”. Parece que, se o vendedor de experiências se ralou, o mundo todo deverá inevitavelmente ir pelo mesmo caminho ou, se o vendedor se deu bem, todos os espertos que seguirem os itens vendidos chegarão à felicidade perene. Então, meus tópicos são gerais e quase impessoais. Se couberem, couberam.
1. As pessoas não se separam por pequenas diferenças. Pequenas diferenças são administráveis. As pessoas se separam por causa de abismos cavados ao longo dos anos. Ele, o abismo, abre-se mui silenciosamente, mas, uma vez que começa a aparecer, é difícil preenchê-lo. Solução: nenhuma, claro. Meu amigo, isto aqui não é autoajuda. É mesmo dificílimo preenchê-lo. É muita terra.
2. Já formalizaste a separação na Justiça? Se não o fizeste, estás negociando tudo direto com a X? Cagada, na minha humilíssima opinião. Não faça nada sem uma mediação esclarecida. Formalize as coisas com um advogado do teu lado. Se o terapeuta familiar não trouxer a terra que falta em muitos caminhões e estiver apenas “organizando uma separação consensual e amigável”, dispense-o imediatamente ou falte às consultas, pois… Sabe o que vai acontecer? Eu sou a Verdade e explico-A em detalhes: tu provavelmente vais dar tudo o que puder e o que não puder para a ex. Fiz isso; falo, pois, com experiência própria.
3. Por quê? Simples. Uma separação não é um domingo no parque, tu ficarás deprimidíssimo se já não estás, olhando apaixonadamente as rodas dos trens do metrô, fazendo planos suicidas. É normal. Tu vais querer morrer por deixar teus filhos, vais fazer tudo errado com toda a convicção, sairás despojado da relação, dizendo, heroico: “Não quero prejudicar meus filhos!”. Puro romantismo.
4. Os filhos normalmente ficam com a mãe, a não ser que eles optem, mas isso só depois dos 12 anos. Antes, só terás a guarda do teu filho se X morder a panturrilha do juiz na sessão. Se ela se apresentar normalmente, respondendo às perguntas com coerência, levará os garotos. Ou seja, os filhos ficarem com a mãe é meramente cultural e nada tem a ver com tua culpa.
5. Vocês tinham uma casa e agora têm duas. Financeiramente, uma separação é um péssimo negócio. Se ela ficar melhor do que estava antes, há algo de errado. Este “algo” crescerá, como veremos a seguir.
6. Tudo bem, no início tu dás tudo para X. Isto é somente uma forma rápida de te livrares do insuportável estresse pelo qual estás passando. Eu te compreendo. Só que, depois de um tempo, a depressão passa.
7. Depois de um ano, por exemplo, tu notas que a casa onde recebes teus filhos é uma bosta e fica mais bosta ainda se a comparares com a dela. Depois de um ano, tu não olhas mais para as rodas de ferro dos trens e passas a te interessar pelos peitos da vizinha, pelos quadris da colega e expandirás a observação que fizeste sobre tua casa para toda tua vida.
8. Ou seja, se não fizeres as coisas direitinho agora, mas agora mesmo, vocês vão brigar feio e vão para a Justiça no futuro, com provável derrota tua. Tô dizendo. Depois da separação feita, tu não vais reverter o lado financeiro a teu favor.
9. Muitos contatos com a ex fazem mal. Se tiveres que voltar com a X, haverá de acontecer com ou sem a tua presença ostensiva. Separação é separação, não é meia separação. Esqueça aquela bimbadinha. É um completo equívoco. Lembres que, quando entrar um terceiro ou terceira na história, vai dar merda. Ou tu achas que todos vão se amar? Acontece, mas não é provável.
10. Mas, sabes de uma coisa? Acho que deverias ler, bem lidinho, tudo o que puderes. E deverias falar com teu advogado. E ainda visitar este interessante site, cheio de artigos úteis: Pai Legal. Se o conhecesse antes, minha vida seria ainda melhor.
Chegaste até aqui ou te irritaste achando teu caso muito diverso? Bem, se estás ainda lendo, obrigado pela paciência; se estiveres contrariado com minha intromissão, peço desculpas; se estiveres me odiando, vai tomar no cu. No último caso, ou seja, se explodires de raiva contra mim, avise-me antes — através de um torpedo, por favor (torpedo de celular, bem entendido) — , pois comprei um sismógrafo e tenho poucas chances de testá-lo.