Ontem, ouvi um parvo desqualificando uma pessoa por não se levar à sério. “Ora, uma pessoa que faz isso não se leva a sério”, dizia o beócio. Cada vez que alguém é desqualificado por não ser sério, desconfio imediatamente do acusador. É inequívoco que uma acusação do gênero só pode partir de quem está incomodado e é muito mais interessante descobrir exatamente onde este foi tocado. Pois assim como uma ofensa diz bem mais sobre quem ofende do que sobre o ofendido, a denúncia de não ser sério faz com que o detrator se desnude muito mais do que o “inconsequente” autor de alguma gracinha. Digo “gracinha” com extremo amor aos bem humorados. Penso que o bom humor seja uma manifestação de inteligência do ser humano e um dos fatores mais importantes na aproximação entre os indivíduos. Obviamente, existe a figura do bobo feliz, porém mesmo este é melhor do que o bobo mal humorado. Também não há grande relação nenhuma entre bom humor e imaturidade e meu teórico literário preferido, Mikhail Bakhtin, mata a pau neste ponto.
“Somente o riso pode ter acesso a certos aspectos extremamente importantes do mundo”. Como diz este texto, “o humor é capaz de relativizar a força dos valores ligados à ordem, à produtividade, à intemporalidade, à razão. De modo semelhante, Jankélévitch sustenta que a consciência irônica, ao substituir o absoluto pelo relativo, produz o apagamento das fronteiras entre o certo e o errado, o positivo e o negativo, o grave e o irrisório, o fundamental e o acessório, provocando assim um movimento de recuo da consciência. Esse deslocamento de perspectiva abre caminho para a auto-reflexão e para se repensarem os próprios limites”.
E segue: “O humor não é um fenômeno menor. Relegá-lo ao segundo plano é um sintoma do levar-se a sério demais, da pretensão. O próprio fato de se construir pelo avesso, por meio de desvios e transgressões, lhe fornece uma dimensão privilegiada, reveladora de formas de organização do tecido social e de modos de funcionamento das instituições. Por outro lado, além de revelar um profundo enraizamento no terreno social que o produz, tornando-se assim um de seus mais espontâneos reflexos, o propósito humorístico nos toca igualmente pelo caráter econômico e sintético de sua articulação”.
Bakhtin sustentava que “o humor é uma das formas capitais pelas quais se exprime a verdade sobre o mundo na sua totalidade”. E digo eu que o humor é responsável por criticar, de sua forma irreverente, a estrutura de poder da sociedade. O humor é de oposição. Quando ao lado do poder, ou tem de ser muito bem feito ou dará lugar à ridicularização ofensiva e banal de fatos e pessoas.
Sempre tive para mim que somente os inteligentes não levam tudo a sério e sabem se divertir mesmo com as intermináveis chatices cotidianas. Sempre tive para mim que somente pessoas problemáticas e neuróticas podem realmente entediar-se em nosso século.
Ontem, foi publicada uma entrevista comigo lá no Substantivo Plural. Não sei bem quem conheceu primeiro quem, pensando melhor acho que o site me foi apresentado pelo Fernando Monteiro, o que sei é que o SPlural está no meu Reader e o acompanho há muito tempo. Cliquem aqui para conferir. Ele tem estrutura de um blog, mas não é um blog. É um repositório selecionado daquilo que sai de bom por aí em termos de Cultura e Ideias. As matérias copiadas vêm com educados links e tudo aquilo que se espera em nosso mundo copyleft. O SPlural tem editor — Tácito Costa — e colaboradores. E volta e meia eles fazem posts pegando coisas deste blog e do Sul21. Gosto muito quando fazem isso e gostei ainda mais quando o Lívio Oliveira, que não conhecia, me propôs uma entrevista mais ou menos baseada em meu Curriculum Vitae. A entrevista é decididamente amalucada, mas muito franca e o resultado… É comigo mas achei legal, tá? Abaixo, o texto completo:
Milton Ribeiro é um jornalista do Sul do país, crítico literário e de artes, escritor bissexto e editor de um blog maravilhoso (AQUI) muito bem acessado e que muitos aqui certamente já o conhecem. Tácito vem republicando, vez ou outra, alguns textos seus. O seu link também se encontra no canto direito deste SPlural (Aproveitem e vejam todos os endereços eletrônicos de Milton abaixo do presente post).
Milton, uma figura com a qual muito me identifico pelos gostos e escolhas (tomo a ousadia de dizer isso pelo que conheço do seu blog), concedeu-me, generosa e pacientemente, essa entrevista que fiz me baseando num inusitado “curriculum vitae” que está divulgado no seu blog. Procurem ler, antes, o tal “curriculum” e depois leiam a entrevista bem humorada e ao mesmo tempo instrutiva e produtora de reflexões, principalmente de ordem estética.
Aí vai:
L. O. E para começar, assim, já pergunto: por que fazer e manter um blog? O que o move nesse desiderato? É um instrumento essencial para um jornalista independente?
M.R. Tenho blog desde maio de 2003. Antes, ele era bem mais pessoal e eu o utilizava para me colecionar. Tinha de tudo ali, desde contos e capítulos de romances até meras anotações pessoais. Fui adquirindo uma pequena celebridade na chamada blogosfera, também fui processado duas vezes, tal a liberdade que sentia – a propósito, o último processo foi claramente absurdo e intimidatório e recebeu um julgamento muito injusto. Como resultado, deixei que um pouco de autocensura e pudor tomassem conta de mim. Talvez tenha sido um erro, pois sendo mais sério e utilizando menos a primeira pessoa do singular, perdi leitores. Também os blogues se modificaram, saíram da moda, perdendo espaço para o Facebook e Twitter. Por que o mantenho? Ora, porque sou lido por pessoas interessantes e ainda conheço outras. Mas não creio que seja um instrumento essencial.
L. O. Em que medida o daltonismo ajuda na fruição artística? Ou só atrapalha, mesmo?
M.R. Esta é uma pergunta curiosa. Depois de ler alguns livros de Oliver Sacks, tenho a fantasia de que meu profundo amor pela música seja uma boa filha de meu daltonismo, também chamado nos EUA de color blindness. É como se a falta de parte de um sentido tivesse tornado outro hipertrofiado, mas deve ser tudo imaginação. Para a fruição das artes plásticas, o defeito atrapalha de forma considerável, mas ele é decisivo na escolha de roupas. Minha mulher quase enlouquece quando chego num lugar com uma combinação de cores que só faz sentido para mim.
L.O. Mesmo assim, confia em suas escolhas estéticas?
M.R. Em artes plásticas, não. Nas literárias, cinematográficas e musicais, sim.
L.O. Essa mania de contar/catalogar filmes e livros…de onde vem? Qual o sabor disso?
M.R. Outra pergunta complicada. Nasci com mania de catalogador, as pessoas sabem disso e me fazem consultas. Há pessoas que me chama de guru… É como aquela piada do Groucho Marx citada pelo Woody Allen. “Meu irmão pensa que é uma galinha, mas não o trato porque preciso dos ovos”. Muita gente me pede os ovos – bem, a frase ficou esquisita, mas deixa assim. Também tenho muito boa memória, mas não prescindo da bengala de longas listas. Gosto de passar os olhos por uma relação de livros antiga para lembrar que, por exemplo, Uma Confraria de Tolos era uma obra-prima e nunca mais foi reeditada. Há um sabor interessante nisso. Assim como me sinto tranquilo vivendo sob uma rotina, sinto-me ainda melhor se anoto o que faço e vi. Enfim, é uma neurose como qualquer outra.
L.O. E essa outra mania, a de roubar livros? Por sinal, já acabou? E você empresta livros?
M.R. Roubei muitos livros durante a adolescência, roubava para mim e para os amigos. Me dava pena que fossem tão sedentos de cultura e pusilânimes. Durante uma época da vida, roubar livros é o único caminho para leitores apaixonados e sem dinheiro, como eu era. Tudo o que escrevi naquele post é verdadeiro. Hoje não roubo mais, nem saberia fazê-lo. Tenho medo, apesar de que o adolescente Milton nunca foi flagrado em ação. Bolaño foi outro grande ladrão de livros, muito maior do que eu. Eu roubei algo entre 300 e 500 livros. É claro que os livros devem ser emprestados e devolvidos. Tenho também uma lista de livros emprestados e costumo cobrar se não devolvem, claro. Há que ser moral!
L.O. Que ligações existem entre Literatura, Cinema, Música e Futebol?
M.R. Inúmeras. As artes, assim como o futebol, são representações da vida. O futebol nunca chegará ao nível e à abrangência de uma peça de Shakespeare ou de uma música de Bach, mas tem uma riqueza toda particular. É diferente. Há algum lugar onde você vai com a finalidade de desejar uma coisa com todas as suas forças, mas que possa subitamente mudar de partido dependendo do que ocorrer? Além disso, o futebol é muito plástico e emocional. Talvez sua ligação mais difícil seja com a música. Não venham dizer que o drible é uma dança… Não, drible é drible.
L.O. Quem são seus craques preferidos na Literatura, Cinema e Música? E os seus artistas no Futebol?
M.R. Olha, são mais de cem ídolos em cada área. Se você me ameaçar fisicamente para que eu escolha cinco em cada área sairá algo como que segue. (Vou responder rápido antes que me arrependa). Literatura: Tchékhov, Machado, Dostô, Joyce, Melville. Cinema: Bergman, Welles, Kubrick, Kusturica, Antonioni. Música: Bach, Beethoven, Bartók, Brahms e Bahler ou Mahler.
L.O. Por que não publicar os livros que tem em mente? E por que razões os publicaria?
M.R. Bela pergunta. Minha ex-mulher era muito competitiva e, para manter o casamento, era necessário ser humilde, aparecendo menos do que ela. Como ela tinha altas aspirações intelectuais e existe o mito de que o livro é um ápice da vida de alguém, fui treinado a evitar os livros. Hoje tenho a mulher perfeita, mas mantive a mania de escrever para mim mesmo. Há outro motivo também: é divertido apresentar personagens, estabelecer conflitos e até finalizar os romances, mas é muito chato revisar. Também vejo muitos colegas publicando livros sem conseguir vendê-los ou sendo obrigados a se tornarem vendedores em feiras, eventos, etc. Não sei se tenho este talento. Teria se fosse vendê-los em Londres, Roma ou Paris. Porém, você sabe como é: acordo todo o dia às 6h para escrever um romance que está na metade. Mas, olha, não tenho nenhum plano de ir além da finalização do mesmo. Sei que está tão fácil de publicar quanto de ficar encalhado e que ficaria louco se encalhasse.
L.O. Por que razões as mulheres ficam mais belas aos sábados? Vinícius de Moraes tem algo a ver com isso? (falo para Milton de uma das famosas seções de seu blog e que é publicada somente aos sábados, com a publicação de fotos e de comentários irreverentes sobre belíssimas e famosas mulheres).
M.R. O “Porque Hoje é Sábado” nasceu de uma aposta com o ex-Ao Mirante Nelson, atual Tom O`Bedlam. Conversávamos pelo MSN sobre nossos blogs e ele me desafiou a manter, no final de semana, a mesma visitação dos chamados dias úteis. Fui à luta e consegui. Ele disse que aquilo não valia, que foi um golpe abaixo da cintura. Ora, tal fato é visível. Mas a verdade é que não costumo mostrar pelos pubianos. É uma seção família do blog, destinada às grandes atrizes, seus rostos e seios. Adoro seios. E atrizes. Mulheres também.
L.O. Por que mudou para o Sul21? Sei que a resposta parece óbvia, mas…
M.R. Bem, eu sou um dos editores do Sul21. Era natural que colocasse meu blog no condomínio de blogs do site, não?
L.O. Aí não vale…mas, acredito que a sua maior satisfação com as artes é mesmo na condição de alguém que contempla, na condição de um apreciador, de um fruidor. Nesse contexto, acredita que existem regras para o “gosto”, o “fruir” estético? Há parâmetros exigíveis e/ou necessários para isso?
M.R. Não. Mas o há o bom e o mau gosto. O bom gosto se forma com a vivência. Há que dar acesso às pessoas. Por exemplo, duas semanas de tratamento intensivo de PQP Bach impedem Michel Teló na terceira semana. O problema é que recebemos uma enchente de “Vingadores” e pingos de “A Separação”. Mas é claro que sou um fruidor de arte. E feliz.
L.O. Existe uma hierarquização das artes? Ao menos, existe uma hierarquia na sua cabeça? Percebo que se emociona mais com a música erudita…é verdade? Por quê?
M.R. Creio que exista uma hierarquia diferente para cada pessoa. Há algumas emoções só alcançáveis pelo cinema, outras pela literatura, mas a mais completa das artes é a música. Como Shostakovich comprovou, ela exprime tudo – até a situação política – em linguagem universal, sem palavras.
O que posso fazer? Sempre achei o cara um saco, chato mesmo, o rei do humor rasteiro. Quando era criança e ainda via a Globo, gostava mais de Jô Soares. Chico Anysio era… cansativo, extremamente cansativo naquela eterna criação de tipos que logo se esgotavam e que acabavam repetidos ad nauseam. Criou 200 personagens, cada um com uma piada.
Lembro de algumas coisas, mas principalmente de minha opinião sobre a personagem Salomé, a velhinha que falava ao telefone com o presidente Figueiredo, tratando-o por João Batista e deixando o equino mandatário mais deglutível à população. Lembro como ele parecia bem acomodado durante o regime militar na Globo, mas não sei de maiores detalhes. Lembro também de seu ressentimento contra os novos humoristas como a turma do Casseta & Planeta. OK, eles não eram grande coisa, mas Chico ficou muito puto quando foi encostado pela Globo em favor dos meninos liderados por Bussunda. Mais cômico e estranho foi seu casamento com a ex-ministra de Collor Zélia Cardoso de Mello.
Aliás, há um episódio muito repugnante, ocorrido durante a campanha Collor X Lula. Ele tinha um espaço de stand-up no Fantástico. Então, em pleno calor da campanha, lá foi ele ajudar Collor: contou que D Marisa não poderia ser primeira dama porque o Planalto tinha muitas janelas de vidro e ela não resistiria a limpá-las todas. A Globo o adorava, claro. Era o retrógrado engraçado, o conservador popular. Como os textos que aprovava não eram suficientemente cômicos — pois humor à favor é complicado de aguentar — , Anysio passou superfetar novos personagens sob o filtro de seu talento de ator e, principalmente vocal. A propósito, Chico tinha excelente voz e sabia como usá-la. Era o que tinha de melhor.
Acho estranho que toda essa gurizada o esteja chamando de grande mestre do humor, etc. Na verdade, tiveram a sorte de vê-lo quando eram crianças. Todo mundo tem saudades da infância. Na minha opinião, Chico Anysio é um subproduto do monopólio da Globo. Ela era o humor que havia disponível. O ídolo poderia ser outro, mas ele teve sorte de estar lá no momento certo.
Infelizmente, não descansará em paz. Quem vê TV deverá ser invadido por homenagens ao grande homem. Estou fora dessa, ainda bem.
Há quase um ano, publiquei um post chamado Mês 80. Ali, descrevia minha luta para descer dos 84 para os 80 quilos. Tenho 1,71m, acho que deveria chegar aos 73, 72, 71, mais ou menos. O primeiro ato do drama ocorreu entre novembro de 2010 e o início de março do ano passado. A técnica, descrita no post acima (com link), seria a de perder um quilo por mês, com calma. Os primeiros 4 foram bem tranquilos de perder mensalmente, mas os três que perdi no último ano foram duríssimos. Algumas lições:
1. Uma grande almoço ou jantar no fim de semana, por exemplo, gera cuidados extras que nos obrigam a cuidar de cada item ingerido até quarta ou quinta-feira. É uma punição atroz. Melhor bater bapo, provar de tudo e esnobar a gastronomia.
2. Como almoço na rua, próximo a meu local de trabalho, sei que é melhor comer sozinho. Sei lá, quando há companhia se come mais, pois há a conversa demora mais, a gente se serve mais uma vez de alguma coisa da qual gostou especialmente ou pega uma sobremesa. A amizade avaliza a esbórnia.
3. Mas o almoço é um poema perto do jantar. A gente chega em casa cansado e faminto, abre a geladeira e realiza o crime como uma vingança contra todas as iniquidades nos infligidas durante o dia. Na verdade, o corpo é uma merda, a memória de peso contida em nosso cérebro nos faz comer e comer sem se sentir muito lotado. É estranho. Consultem um especialista.
4. Mas tudo pode piorar. Quando se faz atividade física, a fome triplica e daí não adianta nada para efeito de peso, a menos que tivéssemos erguido bigornas na academia. Pois acabamos comendo mais calorias do que as gastas. É um dia para se ter cuidados especiais, certamente.
5. Acompanhar o peso diariamente na mesma hora do dia e sem roupas. Comemorar a cada 100g. É preciso extrair prazer dos números, se me entendem… Quando a coisa não anda, como nos parcos três quilos que perdi no último ano, há que pensar: “Mas quando comprei a porra dessa balança, ela marcava 84 e agora não chega nunca a oitenta”. Esse trabalho de auto-ajuda, tão criativo quanto as últimas colunas da Lya Luft, é fundamental. A gente tem que se considerar um vitorioso, entende?
O fotógrafo Nicholas Nixon iniciou em 1975 seu projeto, ainda em andamento, As Irmãs Brown, uma compilação de fotos bastante singular. A série é composta de retratos em preto e branco de quatro irmãs sempre na mesma ordem da esquerda para a direita.
Aclamada pela crítica, a série foi exposta em diversos museus de arte.
A intenção de Nixon foi mostrar como o tempo age sobre nosso corpo. No início as irmãs tinham idade variando de 15 a 25 anos e a mais velha delas, Bebe, é esposa do fotógrafo.
Morre um ateu. Seu #GodIsNotGreat vai para os Trending Topics do Twitter. Cristãos fazem ameaças de morte. Twitter retira a tag. Prova-se a tese do livro.
Certa vez um evangélico perguntou a Christopher Hitchens: “numa cidade estrangeira, um grupo de homens vem na sua direção. Você se sentiria mais ou menos seguro se soubesse que eles vêm de um encontro religioso?”. A resposta é puro Hitch: “posso lhe GARANTIR que me sinto MAIS ameaçado, porque já passei por isso. Quer que eu fique só na letra B? Belfast, Belgrado, Belém, Bagdá, Bombaim e Beirute”. Nocaute.
Retirado do facebook de Idelber Avelar
Eu não sou ateista nem anti-ateista. Eu apenas afirmo que todas as religiões são versões das mesmas inverdades e que a influência das igrejas e o efeito das crenças religiosas é altamente nefasto.
… mas hoje fui trabalhar com a camiseta abaixo. A foto é de Bárbara Ribeiro, a qual gostaria de ter ido a escola hoje com a mesma. Chupa Babi! Quem manda acordar tarde?
Festim Diabólico foi a forma que o tradutor brasileiro encontrou para deixar Rope (Corda), de Alfred Hitchcock, com um título mais sedutor ao público nacional. O novo nome ficou ridículo, em minha opinião, mas sempre que me convidam para uma festa me vem o termo à cabeça: “Um festim diabólico!”. O filme foi feito em 1948 e é uma proeza técnica do diretor inglês, enquanto a única proeza técnica de nossas festas é o (chato, chato, chato e que atrapalha nossa vida nos dias seguintes) deslocamento de um baú. A vantagem é que ele nunca passou por cima do pé de ninguém, como fez a pesadíssima câmara durante as filmagens de Rope, que destruiu o pé de um operador. Mas não é este meu assunto. Apesar de possuirmos um baú onde caberiam vários corpos, meu assunto são os festins lá de casa.
Pois há uma frequência quase mensal deles. O número de pessoas varia entre quinze e quarenta. As festas lá de casa não costumam ter pretextos aparentes, servem apenas para que a gente se divirta. Porém… Deixem eu dizer uma coisa: acho que as festas valem principalmente por seu efeito posterior, pois elas se fazem sentir nas horas e nos dias seguintes. As festas seguem na minha cabeça e na dos outros, tenho certeza. Cumprimentos, lembranças, esquecimentos de celulares, piadas repetidas, telefonemas de agradecimento, ecos de diálogos, casais que se convidam para voltar lá a fim de terminar com a comida do dia anterior, mas nada, nada mesmo que não sejam efusões. O melhor são as horas logo após os festins diabólicos.
Porque as festas — penso eu — são a celebração da pouca e insuficiente alegria que a vida nos dá, é uma forma de amplificá-la através de outras pessoas que valorizam nossa existência. Funcionam como a arte, quem sabe, e a qualidade da comida e da bebida — estas têm de ser excelentes — não faz somente parte do afeto distribuído por quem a faz, nem também servem só para assuntar antes, para nos alegrar durante e para planejar depois. Eu não saberia dizer da forma mais brilhante, mas me parece que a qualidade dela deve combinar com a qualidade das pessoas e das conversas. Se fosse ruim, a troca seria menor, tudo seria pior. Como na Festa de Babette de Karen Blixen, a comida e a bebida — e julgo de forma polêmica que a primeira é mais importante — não funcionam só no sentido de doação de quem a faz, mas em todas as trocas que depois acontecem.
Mas vou pensar mais no assunto.
(A gente conhece muita gente, né? Dava para fazer três festas para 40 pessoas sem repetir ninguém…)
Muita correria, muita loucura. Estou atrasado com minhas coisas e está complicado de postar aqui. Bem, nem imagino de onde tirei esta foto, mas é bastante representativa do dia de hoje. Semana com feriado no meio é legal, mas depois tem o rebote.
Cada vez mais me convenço de que sou movido a culpa. Ela manda em mim diariamente, inclusos os feriados, manda em mim todas as horas todos os dias e, assim como me ordena coisas, me impede de fazer outras, normalmente o que desejo realmente fazer.
Estou em culpa financeira, familiar, profissional, afetiva, íntima e não acharia nada estranho se um estranho me acusasse de algum delito que ainda não conhecesse, mas que poderia facilmente agregar-se à Grande Culpa Existencial que me cerca. A impressão que tenho é de não faria muita diferença.
Por exemplo, sou culpado por gastar mensalmente até o último centavo que ganho sem vislumbrar saída. É claro que isto é, em parte, causado por outras culpas: afinal, minha filha está num dos melhores colégios da cidade. Já imaginaram a culpa que sentiria se não fosse assim? Mas é óbvio que há vários gastos menos essenciais causados pela culpa. Até o pequeno óbolo pago mensalmente ao SC Internacional carrega alguma culpa em função dos dependentes. E há a culpa de dez anos atrás, quando deixei, aos 44 anos, minha ex ficar com absolutamente tudo para me livrar da culpa de estar “abandonando” as crianças. Ou seja, é uma culpa especial. É do gênero que, associada às sacanagens de outrem, gera mais culpa.
A culpa familiar é notável, pesadíssima. Minha mãe passou a maior parte de 2011 no hospital e não tenho tempo para apoiá-la e para visitá-la adequadamente. Não tenho muita culpa diretamente em relação a ela — faz alguns anos que está no nevoeiro do Alzheimer (ou, mais exatamente, no dos Corpos de Levy) — , mas tenho uma dívida abissal e culpada em relação a minha irmã, que vai ao hospital todos os dias e que deixa tudo acertado entre cuidadoras, médicos, etc. Quando visito minha mãe durante a semana — o que faço dois ou três dias — e fico um pouco mais de tempo por lá, há um outro abismo, a culpa profissional. Mas, ainda na família, há meu filho que mora com a mãe e que mal acompanho. Antes, tal postura era quase uma opção, pois não desejava massacrá-lo com perguntas quando me visitasse, porém hoje noto que o outro lado não está muito preocupado com o que ele faz ou deixa de fazer. Então, quando quero saber coisas e tento cobrar, é como se estivesse invadindo sua vida o que gera mais… Vocês já adivinharam. Ontem, discuti com miha filha. Ela diz que eu mal lhe ouço e tentei provar que o mesmo vale para ela. O que digo e aquilo com o qual ela (diz) concorda(r) não é cumprido, mas sinto-me um carrasco ao insistir. Não tenho o perfil do algoz, não adianta.
Devo trabalhar entre 9 e 12 horas por dia, somado o horário na empresa e o que faço em casa. É insuficiente. Sim, não eu sou que digo, são os resultados. Somos uma equipe pequena e unida. Temos o estresse controlado. Mas a falta ou omissão de qualquer um de nós é sentida imediatamente. Então, se passo a dar muito tempo aos problemas pessoais, estoura no trabalho. Não é divertido.
Com todo o tempo que me sobra, nem sei como resolvo ou não minha vida afetiva e íntima. É administrada em ponto morto, por inércia. Acho que um breve período de férias faria um imenso bem para nós porque o estresse está pegando.
Ontem foi feriado. Meus filhos estavam com a mãe, eu já tinha ido ao hospital, chovia e o cinema estava fraco. Eu não estava com vontade de ler, o que é raro. O resultado é que não sabia o que fazer e fui trabalhar. Pareço esvaziado. Será que é só cansaço o que me impediu de fazer alguma coisa de interessante que resultasse em prazer pessoal? Ou a ausência de culpa me surpreendeu e paralisou?
Reunir um grupo de amigos como o que reunimos lá em casa no último sábado é motivo de orgulho para este que vos escreve. O pretexto, meu aniversário, era francamente secundário; os amigos que foram à festa, não. Foi uma bela noite com boa comida e pessoas que se conheciam ou que se conheceram e se entrosaram. Éramos quase 40 e fiquei com vontade de convidar mais outro tanto. Selecionei algumas fotos abaixo, mas há gente que some delas. fazer o quê? Muito obrigado pela presença de todos! Foi uma baita festa.
Burra. Pois não há como sair bem dela. Se a rádio ficar assim, é apenas o fim da emissora; se for autopromoção, ninguém vai perdoar. Então, se essa caricatura que todos estão ouvindo for mesmo uma decisão de marketing, já estou curioso para saber o nome da agência e a identidade do gênio. Tudo porque a irritação maior será dos possivelmente ex-“fiéis ouvintes”.
Hum…
Com quantos anos morrem os roqueiros? 27 anos.
Quantos anos está fazendo a Ipanema? 27
Tá explicado, amanhã volta tudo ao normal.
A luta pelo estado laico é algo que me afeta como cidadão ateu. A união entre igreja e estado já me prejudicou bastante pessoalmente. A opiniões de um ateu não podem ser assim expostas em qualquer local, mesmo público. Poderia fazer o recorte disso em outra oportunidade. Afinal, falar em Freud fora de hora ou para um juiz de direito é algo verdadeiramente cômico, mas atrapalha a vida da gente. (Sim, tenho que contar ao menos o final do caso, quando, após ter sido expulso de uma instituição, o juiz me disse “acho que tu tinhas razão na tua atitude, mas precisamos proteger esses caras que nos ajudam”… O juiz disse isso à meia voz, referindo-se a uma instituição religiosa, enquanto era providenciada a impressão da folha que me expulsava).
Bem, as Marchas pelo Estado Laico estão programadas e seus apoiadores dão a pinta de que serão uma reedição menos alegre das Marchas de Orgulho Gay. É claro que sei o quanto a união entre estado e religião prejudica os gays, mas, puxa, estamos nessa, não? Temos que dar apoio aos caras que tomaram a iniciativa e que, hoje, são a ponta de lança moral deste país.
Relativamente ao post Mudança, o Ivo Moreno Neto completa (estou a 50 metros da esquina com a Riachuelo):
Entra à esquerda na Riachuelo tem o café do Cultural, outro Beco, Livraria Isasul, Livraria Mosaico, Martins Livreiro, Livraria Solaris, Livraria Vozes, Instituto Histórico Geografico, duas livrarias jurídicas, Kantô – comida japonesa – , Casa do Estudante, 2 butecos, uma lotérica, e deve ter uns dois puteiros discretos, familiares, nos andares de cima.
O estranho em tudo isso é que nunca dei muita importância à localização de meu trabalho, sempre pegava minhas coisas, ia e fim. Mas agora é impossível ignorar. O Sul21 mudou-se para a Rua da Ladeira, também conhecida por seu nome oficial, Rua Gen. Câmara. Ficamos entre a Rua da Praia, de nome oficial Rua dos Andradas, e a Riachuelo.
Neste trajeto em subida, encontramos muitas atrações:
1. À direita, o Bar e Choperia Tuim (desde 1941).
2. Depois, ainda à direita, o sebo Ladeira Livros.
3. Atravessando a rua, o sebo Nova Roma.
4. Voltando ao lado direito da rua, um pequeno restaurante chamado Gramado Gold. Serve almoço ao custo de R$ 8,90 e, ao menos ontem, um café espresso aguado. Vão melhorar, espero.
5. No mesmo lado, o sebo Beco dos Livros.
6. Bem na frente, do outro lado da rua, claro, o prédio do Sul21.
7. Adiante, ao lado, o Cine Bancários.
8. Ainda à esquerda, o sebo Dante, que ou está em reformas ou está fechando.
9. Voltando ao lado direito, O sebo Estação Cultura e,
10. do outro lado, a Biblioteca Pública do Estado.
Ontem à tarde. Toca meu telefone celular. Número desconhecido. Atendo.
— Amor, é a Marina. Me liga.
Ela não dá tempo para eu responder. Não ligo de volta, é claro. Afinal, até onde sei, não conheço nenhuma Marina para chamar de minha, também não lembro de alguém que me chame de Amor. Acho de mau gosto esses substitutos do nome da pessoa.
Passa uns 10 minutos. Ela liga novamente.
— Eduardo, por que tu não me ligaste?
— Ora, Marina, não te liguei porque sou o Milton, não o Eduardo.
— Para de brincadeira, cara, tô reconhecendo tua voz. Tu é o Eduardo.
— Não, não sou, sou o Milton.
Naquele momento, já me perturbava o ambiente do Sul21. Todos propondo que eu admitisse ser o Edu e que marcasse um encontro com a moça. Tinha gente já se propondo a ir.
— Amor, não faz isso comigo. Isso é baixaria. Olha que eu te procurar onde tu estás.
— Pode vir, Marina. Tu não sabes onde eu, o Milton, trabalha. Venha AGORA.
— Que brincadeira de mau gosto, cara, tchau.
Passam mais uns 10 minutos e estou num daqueles curtos interregnos que fazemos no trabalho para tomar um café, conversar ou ir ao banheiro. No caso eu estava cagando. Nova ligação, mas agora de um fixo. Atendo e já logo dizendo
— Milton Ribeiro.
Voz compreensiva, carinhosa, carente.
— Amor, Edu, por que tu estás fazendo isso comigo?
(Começo a rir).
Voz subitamente possessa.
— Olha, eu não vou mais ligar, tá? Essa é a última vez. Não vou mais te procurar.
E desliga.
Ô, Edu, Amor, seu filha-da-puta olho-do-cu, tu é um puto de dar o meu número pra Marina, hein? Por que não escolheste outro pra fugir dela, caralho?