Paralelepípedo Cultural I

Paralelepípedo Cultural I

Boa tarde, amigos da Rádio Web e/ou — a primeira rádia web do Brasil.

Este é o Paralelepípedo Cultural, programa apresentado por este que vos fala, Milton Ribeiro, num oferecimento da Livraria  Bamboletras — livraria de todos os gêneros — localizada no Shopping Nova Olaria, 776, loja 3.

Hoje, vamos mostrar alguma coisa da produção musical erudita da Europa da segunda metade do século XX.

Arvo Pärt

Sabemos que o elitismo fazia parte da ideologia da Segunda Escola de Viena.

A Segunda Escola de Viena foi um grupo de compositores modernos de Viena, formada por Arnold Schoenberg e seus discípulos Alban Berg e Anton Webern.

Sua música é caracterizada pela atonalidade, pelo dodecafonismo e por, simplesmente, virar as costas ao público.

Se a música dava para assobiar, não era música.

Esse elitismo na linguagem da música europeia que Schönberg radicalizava teve muitos discípulos e a música erudita foi se tornando cada vez mais complicada e impenetrável.

É claro que se tornou também irrelevante.

Em resposta, ocorreu uma onda trazida pelos negros das Américas, que trouxe de volta o elemento dionisíaco da música, de que a Europa havia aberto mão.

Achamos mesmo que a maior parte da música relevante do século XX tem uma dívida para com a corrente negra.

Mas houve uma pequena e resistente aldeia gaulesa que salvou a segunda metade do século europeu.

Ela estava nos países do Báltico.

A Rússia, a Finlândia, a Lituânia, a Estônia, a Polônia, etc. permaneceram fazendo música compreensível.

Hoje, vamos apresentar 4 obras de compositores da região.

Comecemos pelo russo Shostakovich com seu Trio para Piano N° 1, composto quando o compositor tinha apenas 16 anos.

O trio foi escrito em apenas um movimento e foi…

Bem, foi apenas um trabalho de aula de Shostakovich.

Este foi o Trio Nº 1 de Shostakovich com o DSCH-Shostakovich Ensemble.

(Acima, outra gravação. Na gravação que será apresentada o Trio #1 tem 10min41 de duração).

Agora vamos partir para o divertido Tango Polifônico, do russo Alfred Schnittke.

Parece que um dos objetivos principais de Schnittke na sua carreira foi o de conseguir a unificação da música clássica com a ligeira, como faz nesta obra de 1979. Sua técnica era chamada de poliestilística, o que consiste no uso de múltiplos estilos e/ou técnicas de composição musical, e é visto como uma característica pós-moderna.

Este foi o Tango Polifônico de Alfred Schnittke, com a Orquestra Sinfônica da Rádio do Norte da Alemanha, sob a direção de Eiji Oue.

Finalizando, vamos a duas peças do estoniano Arvo Pärt.

Pärt nasceu em 1935 e é o compositor erudito vivo que é mais tocado no mundo. A musica de Pärt é muito inspirada pelo Canto Gregoriano.

Suas obras geralmente têm um ritmo lento e meditativo.

A abordagem composicional de Pärt expandiu-se com o tempo, mas o efeito geral permanece basicamente o mesmo.

“Spiegel im Spiegel” ou “Espelho no Espelho” é uma famosa peça de Arvo Pärt escrita em 1978. A peça tem uma voz melódica, a do violino, acompanhada pelo piano.

Esta peça é popularíssima, tendo sido utilizada em 26 filmes de diretores como Godard, Sorrentino, Guy Ritchie e François Ozon, dentre outros.

Este foi Spiegel im Spiegel, com a violinista Lisa Batiashvili e a pianista Hélène Grimaud.

Então, para terminar de vez, vamos a mais uma célebre peça de Pärt, Fratres. Fratres significa Irmãos. Imaginem que esta obra, composta em 1977, foi trilha sonora de 13 filmes.

Então, vamos ouvir Fratres com Viktoria Mullova, violino, e a Orquestra Nacional da Estônia, sob a  direção de Paavo Jarvi.

Roda Gigante, de Woody Allen / Uma Nova Amiga, de François Ozon / A Ovelha Negra, de Grímur Hákonarson

Roda Gigante, de Woody Allen / Uma Nova Amiga, de François Ozon / A Ovelha Negra, de Grímur Hákonarson

26113815_10210763220932742_1278277484641029906_nDepois de vários filmes sem me agradar, acabei gostando bastante de Roda Gigante, de Woody Allen. Um filme bem ao estilo das peças de O’Neill dos anos 50 — , época em que produção é ambientada –, cheio de personagens sem rumo, decadentes e trágicos. Aliás, o filme bem que poderia passar no Telecine Cult em preto e branco. Não fosse pela presença de atores atuais, enganaria bem. Impressionante trabalho de Kate Winslet e do fotógrafo Vittorio Storaro. O filme tem fotografia deslumbrante. Ah, não há nenhuma piada do filme. 100% joke free. É claro que Allen não é Tennessee Williams, nem Eugene O’Neill ou Elia Kazan. Se fosse, teria mais cuidado na construção dos personagens, mas mesmo assim o filme permanece em pé. Explico: algumas coisas são meio gratuitas, mas só notei na saída.

02UmaNovaAmigaVimos na TV um filme de François Ozon que, creio, não foi para os cinemas, mas deveria. Uma Nova Amiga não é tão bom quanto Dentro de Casa ou Frantz, mas é uma joia. David é um cara que perde a mulher. Após a morte, uma amiga do casal desfeito vai visitá-lo, encontra a porta aberta e dá de cara com o sujeito vestido de mulher com a filhinha ainda bebê. A ex saberia e aprovaria. O roteiro de Ozon complica tudo: a gente sabe que não tem nada a ver, mas associa o ato ao luto — o marido deprimido que usa as roupas da mulher para se sentir mais próximo dela, para transmitir à filha pequena a sensação de ainda ter uma mãe, blá, blá, blá. O travestimento seria prova de amor. Só que, é claro… Vejam o filme porque vale a pena. Estava gratuito no Now até 31/12…

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Tragédia é pouco para caracterizar o bom filme islandês A Ovelha Negra, de Grímur Hákonarson. Na Islândia tem mais ovelhas do que seres humanos. Muito mais. O animal é fundamental para o país. Um dia, após ser derrotado pelo irmão no concurso anual do melhor ovelha de sua região e por pura vingança, Gummi decide investigar o animal vencedor. Detalhe: os irmãos são inimigos mortais que não se falam há 40 anos. Ele desconfia que o bicho tenha uma doença contagiosa. Quando a suposição se confirma e todas as fazendas das redondezas são obrigadas a matar suas ovelhas, coisas que não devo contar acontecem. Vale a pena ver. A Elena viu muitas coisas bíblicas no filme, porém, como eu sou ignorante… Bem, está no Now, lá nos ‘Cults independentes’.