O quadragésimo Gauchão

Todo o mérito da vitória colorada está limitado ao fato do Campeonato Gaúcho ter acabado de forma diferente daquela dos últimos anos: acabou num um Gre-Nal com os dois clubes interessados em vencer ou, sendo mais claro, com a dupla disputando uma final sem outras prioridades como as Libertadores da América dos últimos anos e sem a presença de times do interior, que apenas chegam à final ou ao campeonato em caso de crise ou desinteresse da dupla. Foi, então, uma importante vitória direta sobre nosso maior adversário e ficamos por aí.

O Gauchão parece cada vez pior e mais longo. É um torneio anacrônico e inútil, uma excrescência como, aliás, todos os estaduais. Inúteis por não levarem a nada — não contam pontos nem para a IFFHS — e anacrônicos por terem sido mantidos por motivos políticos mesmo na época do nascimento do Campeonato Brasileiro, em plena ditadura. Sem o apoio das Federações estaduais, ficaria mais complicado para os Ricardos Teixeiras de ontem e de hoje permanecerem em seus cargos. E os estaduais, foram ficando, ficando e ficaram por motivos políticos. E o pior é que estão cada vez maiores como escreveu o Carta na Manga antes do Gre-Nal decisivo.

Se o Gauchão está sendo disputado num domingo frio e chuvoso é porque os estaduais estão cada vez mais longos. Desde 2003, quando foi adotado o novo calendário dos pontos corridos no país, nunca o Brasileirão começou tão tarde: será sábado que vem, 21 de maio. Em 2003, foi 29 de março; entre 2004 e 2006, da metade para o final de abril – talvez o ideal; entre 2007 e 2010, no segundo sábado de maio. Este ano, será no fim de maio. Em 2011, foram 23 datas para os regionais, 60% do total de datas de um Brasileirão. Copa do Brasil e Libertadores ficaram novamente apertadas. E o maior torneio nacional ficará espremido em seis meses e meio, quando deveria ter oito, no mínimo, de duração. Será que há necessidade, por exemplo, que o Grêmio jogue quatro vezes contra o Inter, três contra Cruzeiro e Ypiranga e duas contra o Caxias (12 jogos só contra estes quatro times) para ser declarado campeão gaúcho?

Acho que o Carta apenas erra ao dizer que o Brasileiro deveria ter 8 meses. Deveria ter 10, concedendo espaços para que TODOS OS CLUBES pudessem disputar a Copa do Brasil — TODOS os outros países mantêm uma Copa eliminatória da qual participam clubes de sua 3 primeiras divisões, apenas no Brasil os times que vão à Libertadores não podem participar da Copa de seu país… Mas a existência dos estaduais gera ainda outros problemas graves: o calendário fica tão apertado que impede que o país respeite as datas FIFA, ou seja, quando um jogador que atua no Brasil é convocado, seu time seguirá jogando o Brasileiro sem ele, como se sua convocação não fosse um prêmio e sim uma INJUSTA PUNIÇÃO. Tal fato faz com que o craque acabe vendido mais facilmente, porque, afinal, ausenta-se sistematicamente para jogar na Seleção — coisa que é outra exclusividade brasileira.

Mas, meus caros gremistas, o que hoje interessa é que vencemos o imortal em pleno Olímpico Monumental. Tudo foi meio casual. Nosso técnico entrou em campo com uma escalação equivocada da qual fomos salvos pelo gol de Lúcio. Se o Grêmio soubesse, teria pedido para seu ex-lateral chutar para fora. Pois este gol prematuro fez com que Falcão fosse obrigado a mexer em seu time a fim de dar uma companhia ofensiva ao pobre Leandro Damião. O estranho é que nem me passou pela cabeça a colocação de Oscar naquele momento, como pensou o Farinatti. Eu estava lamentando a ausência de Cavenaghi no banco. Tinha como certo que as opções possíveis eram Ricardo Goulart e Zé Roberto — ambas inaceitáveis para mim.

E… Nossa, Zé Roberto entrou e teve uma atuação assombrosa! (1) Fez a jogada para Leandro Damião empatar o jogo; (2) criou a jogada e depois bateu o escanteio que resultou no 2 x 1 por Andrezinho; (3) invadiu a área e sofreu pênalti no 3 x 1 de D`Alessandro; (4) fez uma jogada individual espetacular que acabou num tiro de fora da área e que teve grande defesa de Victor (seria o 4 x 2) e, como se não bastasse, (5) ele ainda bateu o pênalti decisivo, DESLOCANDO Victor..

Uma coisa que parece que apenas pode ser escrita em blogs ou sites desmistificadores: dizem que Victor defende mais pênaltis do que os outros goleiros porque parte depois do chute. Engano, erro, mistificação. Ele vai certo na bola por ser um baita goleiro e em razão de que muitos batedores — o impecável D`Alessandro está entre eles — confiam num chute perfeito e não se preocupam em iludir o goleiro. Só que, quando Victor encarou Oscar e Zé Roberto, que correram cheios de malícias, malemolências e sinuosidades para a bola, foi comicamente enganado. Nos dois casos, o goleiro acabou do outro lado da goleira, fora da foto. Então, menos, gente, o cara é humano, a física é uma ciência e, quando o batedor chuta com exatidão, o goleiro não tem tempo para defender.

Mas que jogaço, hein? Que jogaço!

Uma coisinha para pensar: Zé Roberto estava treinando bem? Se estava, por que não entrou contra o Peñarol em vez de Ricardo Goulart?

Agora vamos para o Brasileiro. 38 jogos em 6,5 meses.

Zé Roberto corre comemorando o título enquanto Victor fica por ali mesmo (Foto: Jefferson Bernardes - VIPCOMM.jpg)