Inacreditável (e bom) arranjo da Suíte Gogol, de Alfred Schnittke

Não há mais dúvidas que Alfred Schnittke foi um gênio e aqui temos o Scherzo Quartet (“scherzo” significa “brincadeira”, em italiano) interpretando um resumo da engraçadíssima Suíte, a maior das homenagens que poderia receber o mais cômico dos escritores ao lado de Jonathan Swift: Nikolai Gogol. Sendo um emaranhado sensacional de citações, o original para orquestra prevê inclusive que parte dos músicos bebam vodka escondidos do regente, durante a execução. Irreverência pouca é bobagem.

Para não deixá-los só no blá-blá-blá, aqui está o trecho em que os músicos se embebedam. Há uma indicação na partitura para que os músicos tomem vodka e não outra bebida qualquer (a fim de que conseguirem uma interpretação dentro do espírito da música…). O concerto mostrado aconteceu no Conservatório de Kazan.

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Drops do esporte bretão

Jorge Fossatti, técnico do Inter parece ser um sujeito esperto. Se há algo que não funciona no Inter é a bola aérea defensiva. Ora, a insistência em contar com Renan revelava uma obviedade. Renan, apesar de ser mais baixo do que Lauro, costuma sair do gol a fim de interceptar cruzamentos e o faz muito bem. Os colorados devem lembrar: bola alta entre o gol e a marca do pênalti era dele. Éramos sempre felizes quando ele não caía sobre o Rodrigo Mendes. Já Lauro não gosta de sair do gol e, quando o faz, dá uns tapinhas constrangedores a um pai de família heterossexual de 1,93m. Já a zaga colorada se liga em olhar as estrelas. Nenhum zagueiro é especialmente alto, a impulsão de Índio só é vista no YouTube e Sandro – incrível – não gosta de cabecear, preferindo figurar nas fotos dos gols que o Inter toma, sempre ao lado de quem saíra comemorando o gol de cabeça.

Então, já que Sorondo e Danny Morais, bons cabeceadores, estão mal, Fossatti tenta resolver a questão enchendo a grande área de zagueiros.

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— provocation mode on — Em Grêmio x Veranópolis, houve quatrocentas faltas e Souza chutou-as de forma, de forma, de forma… a deixar saudades de Tcheco. Talvez Douglas diminua o SUPLÍCIO DE UMA SAUDADE. Souza e Hugo elevarão Tcheco ao céu dos grandes craques do passado… — provocation mode off —

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Todos dizem que o Corinthians é um time geriátrico. Nem tanto. Ou se é, outros também são. Vejam só:

Felipe (25);
Alessandro (31), Chicão (28), William (33) e Roberto Carlos (36);
Edu (31); Elias (24); Tcheco (33); Danilo (30) e Defederico (21);
Dentinho (21), Jorge Henrique (27), Iarley (35) e Ronaldo (33).

Média dos 14: 29,14

OK, escalei 14 jogadores. Retirando Defederico, Dentinho e Jorge Henrique a média sobe para 30,82. E, retirando Defederico, Dentinho e Iarley, fica em 30,09. Números altos? Sim, mas não muito diferentes dos do Inter.

Lauro (29);
Índio (35), Bolívar (29) e Eller (32);
Nei (24), Sandro (21), Guiñazu (31), Giuliano (20), D`Alessandro (29) e Kléber (30);
Alecsandro (29)

Média: 28,09

Colocando o Kléber Pereira (34) no lugar da Capivara, a média sobe para 28,55. Quase a mesma coisa, não?

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Ah, o Campeonato Gaúcho. Eu detesto os formulismos e acho muito divertido o fato do Grupo A ter conquistado 30 pontos jogando contra os times do Grupo B, enquanto o B conseguiu 57 pontos sobre o A; ou, dizendo de outra maneira, Inter-POA, o favorito São Luís e o São José, que têm 10 pontos cada, fizeram o mesmo número de pontos de todos os oito times do Grupo A. Falta apenas um jogo para o finalizar a 4ª rodada: Pelotas x Ypiranga. Aliás, foi ontem à noite. Eu me divirto com o “equilíbrio”.

(*) Com a vitória de ontem do Pelotas sobre o Ypiranga, a pontuação das chaves ficou em 60 x 30.

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Morre J. D. Salinger aos 91 anos

O escritor J.D. Salinger morreu aos 91 anos em sua casa em New Hampshire, nos EUA. Recluso há muitos anos, o escritor não dava entrevistas desde 1980 nem se deixava fotografar. O seu livro mais conhecido é O Apanhador no Campo de Centeio (1951). Salinger tinha 32 anos quando da publicação. O personagem principal do livro, o adolescente Holden Caulfield se tornou símbolo da geração de jovens do pós-guerra. A obra foi um sucesso mundial, mas não só este romance é conhecido. Meus filhos leram toda a sua obra para o colégio (Leonardo da Vinci, Porto Alegre).

O anúncio da morte foi feito pelo filho do autor, a partir de um comunicado emitido pelo representante literário de Salinger, nesta quinta-feira. Salinger completou 91 anos no último dia 1º. Ele estava sem publicar um trabalho havia mais de 40 anos. Paradoxalmente, ele declarou em 1974, numa de suas poucas entrevistas:

Amo escrever, mas só escrevo para mim mesmo e para meu prazer.

Na minha opinião, Salinger foi um gênio e foi uma alegria revisitar toda sua curta obra com meus filhos. Dia desses, estávamos discutindo o conto Um dia perfeito para os peixes-banana. Fico triste com sua morte, mesmo sendo ele uma vítima da Síndrome de Bartleby. Muitíssimos escritores sucumbiram na tentativa de imitá-lo. Normal.

R.I.P., Jerome and See More Glass.

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Saramago relança livro com renda revertida para o Haiti

Gisele Bündchen doou US$ 1,5 milhão ao Haiti; Madonna, US$ 250 mil; este menino conseguiu quase U$ 300 mil; vários países, inclusive o Brasil, fizeram vultosas doações. Ontem, José Saramago, anunciou que a editora com a qual trabalha em Portugal e na Espanha, a Alfaguara, relançará A Jangada de Pedra em edição cuja renda irá 100% para o país caribenho. Em nota, Saramago explicou que a iniciativa é da sua fundação e só foi possível graças à “pronta generosidade das entidades envolvidas na edição do livro”. As entidades são a editora, distribuidoras e livrarias ibéricas. Uma bonita atitude, uma atitude esperada. Saramago completa: “Se chegássemos a 1 milhão de exemplares vendidos, seriam 15 milhões de euros de ajuda. Diante da calamidade que atingiu o Haiti, a soma não seria mais que uma gota d’água”. O livro terá relançamento no dia 28 de fevereiro a partir da campanha “Uma jangada de pedra a caminho do Haiti”.

Uma vez, durante uma entrevista a que estava presente, ouvi Saramago dizer que A Jangada de Pedra era uma decepção. A plateia protestou com razão. Ocorre que o  romance começa quando uma falha separa a Península Ibérica do resto da Europa e a transforma em uma enorme balsa de pedra à deriva no Atlântico. Saramago disse que um romance não pode começar por um fato tão extraordinário que jamais poderá ser superado depois. Bobagem, Saramago leva o livro brilhantemente até seu final. Não contarei o final. É muito significativo e, sim, meu caro Saramago, tão extraordinário quanto o início da Jangada. Acho o livro muitíssimo consistente e bom.

Achei a ideia maravilhosa e tentarei comprar um exemplar.

Estou esperando. Esperando o livro? Sim, também. Mas antes espero que Lasier Martins reclame do comunista Saramago, assim como criticou o meia-esquerda Lula por sua ajuda humanitária. Para quem não é do Rio Grande do Sul e não conhece a estupidez que nos impinge a “Globo daqui”, indico este post.

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El Roto, novamente

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El Roto, do El Pais

Saudades de um tempo em que os cartunistas brasileiros não eram borra-bostas de donos de jornais. Sim, os cartuns abaixo poderiam sair na grande imprensa brasileira, mas a fama de El Roto (Andrés Rábago) fez-se com humor “incorreto”, politizado, negro e agressivo. Suas séries sobre o campo de concentração de Gaza merecem sair em livro, se é que já não saíram.

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Pô, Celina, de novo?

A falta de tempo me faz resgatar uma velharia (e uma grande lição de vida…) de 11 de março de 2005.

O caso é que Celina Sjösted (35 anos), casada com o músico Ricardo Duna, autor da frase que dá título a este post, com dois filhos deste casamento e usando aliança — as revistas adoram deste detalhe — , é uma das poucas mulheres que garantidamente privaram com o mito, que teve músicas dedicadas a si, que trocou beijos e saiu vitoriosa do mar do Leblon de mãos dadas com o homem. Virou assunto nacional. A frase explica-se pelo fato de que é segunda vez que Ricardo — inteiramente deslocado do implacável papel de Ricardão — a pega com Chico. A primeira fora em 1998.

Hoje, chegando em casa, vejo uma revista estranha. Aqui só costumam entrar revistas de notícias ou culturais, mas hoje havia uma Contigo! É uma reles revistinha de fofocas de celebridades e logo vi a razão da compra feita pela Claudia: Chico estava na capa e, abaixo da foto, havia uma manchete mui benigna: “Marido quer de volta a mulher que Chico Buarque beijou”. Beijou? Só? Arrã. Não sei o que pensar sobre o assunto, abro a revista e acho a tal Celina até feínha, mas nunca se sabe — alguns feios surpreendem quando começam a se mexer ou falar. Rio ao saber que o maridão (44 anos) chama Chico (60) de “o Velho”; rio mais ao saber que o maridão deu entrevistas, sábado à tardinha, antes de apresentar seu show numa clínica geriátrica carioca. Pelo visto, o casal trabalha para a terceira idade. Quase dou gargalhadas ao saber que ele vendeu todos os seus discos para os velhinhos e para o pessoal de imprensa que foi ver sua performance. É a mais nova celebridade! Que maldade, Milton. Começo a folhear a revista e, mais à frente, leio outra frase marcante que parece ter vaga relação com o caso. Rubens Barrichelo declara: “Estou cansado de perder”.

Posso entender o fascínio que Chico exerce sobre as mulheres; afinal, parte deste fascínio é também exercido sobre mim. O cara é um gênio, é bom músico, é espetacular compositor, é escritor reconhecido, é bonito, é gentil, demonstra em sua obra conhecer as mulheres; está, pois, um passo adiante na evolução humana (não deve ter nem os dentes do siso) e foi com isto que o casal Ricardinho-Celina deparou-se. Celina viu à sua disposição o cara que está no topo da cadeia alimentar. Tremeu ao sonhar com aquele vozeirão dizendo-lhe: “Meu bem, me traz um copo d`água?”.

Eu sei. É páreo corrido. Não há como segurar. Quando o Chico quiser, será gol do Polytheama. A mulher precisa ser uma fortaleza católica para resistir — e mesmo os católicos tem de limpar a reputação no confessionário. Acho desnecessário o Ricardo ofender Chico Buarque chamando-o de velho, é patético blasfemar contra alguém que habita o Olimpo. Ele deveria falar apenas à Celina, deveria suplicar por seu retorno, explicando-lhe que a reconciliação é ecológica para alma e que ele e os filhos a perdoam e querem de volta. Faz isso, Ricardo, não seja burro. Depois, dê-lhe um longo beijo de língua bem na frente dos paparazzi. Será um momento lindo. E dê entrevistas, Ricardo, por favor; a gente precisa de assuntos deste tipo. É horrível só ouvir falar em tragédias. Quem dera trepar com a mulher do próximo, ops!, desculpem… Errata: quem dera que os problemas do país fossem a libido das celebridades e as infidelidades dos homens e das mulheres — dos outros, é claro.

A propósito, ainda há a expressão “mulher honesta” em nossa Constituição?


Se até Tom e Vinícius deitaram com Chico, por que Celina não deitaria?

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Bernardo Carvalho na Rascunho

O texto não faz parte da cultura brasileira; faz parte apenas de uma cultura de classe média irrisória no país. O Brasil tem uma elite grosseira, muito iletrada. Em comparação com a elite de outros países, a brasileira é especialmente ignorante, e cultiva e reproduz a ignorância para seus filhos.

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Cabañas leva tiro da cabeça

Notícia aqui.

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Uma diversão

Era o início dos anos 70. Eu, todas as manhãs, ia para o Colégio Júlio de Castilhos, em Porto Alegre. Aquele dia estava frio demais, perto de zero grau e lembro que estávamos encolhidos de frio (dir-se-ia “encarangados”, no RS), sentados, duros, assistindo a uma aula. Não lembro qual era a matéria e nem interessa ao que vou contar. As salas de aulas não recebiam o sol matinal. Este, de modo perverso, vinha pelo outro lado, invadindo a enorme sacada do colégio, ultrapassando seus vidros, batendo no chão de lajotas de cerâmica hexagonais e subindo pela parede de nossa sala, mas não alterando sua temperatura interna. E então as explosões começaram.

Todos nós ficamos assustados. O que seria aquilo? Eram explosões sucessivas e devo ter sido um dos primeiros a sair correndo da sala, pois lembro do corredor vazio com o chão desmanchando-se. Provavelmente as lajotas dilataram-se mais rapidamente do que aquilo que as mantinha coladas ao chão e elas simplesmente voavam pelos ares, fazendo grande barulho. Claro que a saída dos alunos das salas para o corredor fazia com que mais lajotas se quebrassem. Logo houve aquele descontrole típico de quem tem 13 ou 14 anos. Os professores e monitores não eram mais ouvidos e, pior, estavam igualmente pasmos, observando o fenômeno, que já passara do terceiro para o segundo andar. Todos corriam. Eu lembro das caras felizes dos colegas e da cara de o-que-está-acontecendo de quem deveria manter a ordem. Ninguém temia os estilhaços.

Não tivemos mais aula naquele período. A ordem custou a ser restabelecida. Um professor de física foi de sala em sala explicar o fenômeno. Não fora um ataque militar, nem algo sobrenatural. Fora apenas diversão.

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Schumann: Quinteto para piano, Op. 44 (2 mvto: In modo d'una marcia)

A mim, esta música sempre lembrou meu pai, que a ouvia muito. Após Fanny e Alexander de Bergman, passou a ser a música deste filme. Porém, sobraram outras cem que me trazem o Dr. Milton à memória… Interpretação de Renaud Capuçon e Sayaka Shoji (violinos), Lars Anders Tomter (viola), Mischa Maisky (violoncelo) e com a belíssima Hélène Grimaud ao piano.

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Continho Realista da Impotência

A empresa onde Paulo trabalhava ganhara uma licitação para reformar e ampliar uma escola da periferia de Porto Alegre. Era um trabalho que ele, um homem de esquerda, preocupado com as questões sociais, gostava especialmente: construir escolas e casas em comunidades carentes. Houve uma reunião com a diretora. Ela parecia exultante por haver finalmente obtido a verba para a construção de mais cinco salas e por ter, diante de si, alguém preocupado em realizar um bom trabalho. Era uma valorização para a escola e para a atividade de todos sob sua gestão. Acompanhado por ela, Paulo conheceu toda a escola e acertou os horários em que os pedreiros poderiam fazer barulho, pondo abaixo algumas paredes e preparando as fundações para a ampliação. Era uma obra simples para ele, acostumado à sofisticação dos condomínios e edifícios de alto luxo.

Após o encontro, Paulo saiu da escola e procurou uma ferragem nas redondezas. A experiência ensinara-o a fazer um acordo com algum dos pequenos comerciantes próximos. Afinal, sempre faltava alguma coisa miúda. Se a empresa normalmente mandava entregar o cimento e as tintas, esquecia-se de enviar pregos, pincéis e outros materiais menos onerosos. Ele encontrou o que precisava a uns cem metros da escola. Pediu para falar com o proprietário do estabelecimento e, quando este veio lá do fundo, conversaram no balcão de atendimento.

O acordo foi fechado rapidamente e o comerciante apresentou-lhe o filho, que era quem ficava a maior parte do tempo atendendo o público. O chefe de obra poderia retirar material até determinado valor, assinaria um recibo e Paulo, ao final de cada semana, pagaria a ferragem. O nome do proprietário era Fernando, “Seu” Fernando, e o do filho, Fernandinho. Todos os conheciam assim no bairro. A conversa não demorou cinco minutos.

Quando Paulo estava despedindo-se deles, dois jovens, um negro e um branco, com armas na mão, adentraram aos gritos no estabelecimento, exigindo o dinheiro que o comerciante tinha em caixa. “Todo mundo parado, queremos toda a grana!”, gritavam eles. Um deles ficou na porta e o outro se aproximou do dono da loja, quase ao lado de Paulo. Seu Fernando começou a bravejar reclamando daqueles filhos da puta que volta e meia entravam ali. Abriu a gaveta de dinheiro e deixou duas notas de cinqüenta reais sobre o balcão, dizendo que estava bom assim. O garoto chegou-se ao balcão e quase encostou a arma  no rosto do comerciante, berrando com ainda maior veemência:

— Eu quero toda a grana que tem nesta merda! Não faz falcatrua com a gente, senão eu te furo, véio!

O comerciante, vendo a arma próxima a seu nariz, empurrou-a para o lado com a mão direita, com ar agastado e até calmo, como se estivesse acostumado àquilo. O garoto voltou rapidamente à posição inicial e deu-lhe um tiro, pegando rapidamente mais alguns reais na gaveta do caixa e sumindo com seu companheiro. Paulo levou o ferido em seu carro para o pronto-socorro. Fernando e Fernandinho filho foram no banco de trás; o silêncio deles, em oposição ao som da buzina de Paulo pedindo passagem e furando sinais, demonstrava que seria tudo inútil. Quando Paulo os procurou no espelho interno do carro, viu Fernandinho com lágrimas nos olhos, olhando pela janela. Seu pai não era visível, devia estar com a cabeça no colo do filho. A bala tinha entrado no pescoço de seu pai, sufocando-o. Após o médico confirmar a morte, Paulo foi para casa. Horas depois, indignado, deprimido e com o carro todo ensangüentado, foi depor na polícia.

Enquanto depunha, foi interrompido pelo policial.

— Acho melhor o Sr. não dizer que pode reconhecer o assassino. Aliás, acho melhor o Sr. ficar fora dessa.
— Por quê?
— Veja bem, os familiares da vítima já vieram aqui. Disseram que não viram quem matou o velho.
— O filho dele esteve aqui?
— Sim.
— Fernando?
— Sim, ele mesmo, com a mãe.
— Mas como? O filho estava junto! Ele viu!
— Meu amigo, eles vivem daquele comércio; os matadores moram no bairro. Se denunciam, os próximos serão eles, entende? O mesmo pode acontecer com o Sr., que vai trabalhar na escola ali perto. É uma temeridade se meter numa confusão dessas. Melhor não se apresentar como testemunha. É perigoso. A escolha é sua.
— E o trabalho de vocês?
— Nós mal temos gasolina para buscar os presuntos, que dirá para fazer investigações.

Paulo refletiu sobre o que o policial lhe dissera, pensou em sua família e perguntou:

— O que devo fazer então?
— O senhor não é o Batman e eu não sou da polícia de Los Angeles.
— …
— Se fosse o senhor, eu me retiraria agora enquanto eu rasgo esta folha. É para a sua própria segurança.

Dias depois, voltou à escola. No tecido cinza do banco de trás de seu carro ainda estavam as marcas deixadas por uma lavagem mal feita. O resto parecia limpo. Muito limpo, disse Paulo para si mesmo. À saída, Paulo hesitou entre voltar à ferragem para renovar o acordo, procurar outra ou deixar o assunto para depois, quando ouviu alguém lhe chamar.

— E daí, chefia? — Paulo tremeu ao reconhecer o sotaque do assassino.

Mas era outro garoto, muito menor.

— Não sai um ginásio de esportes aí pra nós?

Sorriu para o menino e respondeu:

— E o dinheiro?
— O governo tá sempre inaugurando algum ginásio poli-alguma-coisa-da-porra nos outros bairro…
— Bom, isso realmente não é comigo.
— E o que é contigo?
— Eu não sei o que é comigo.

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O Onyxzão 2010 e o Aberto da Austrália

Ontem, tarde da noite, eu enchi o saco de ver o Inter C enfrentar o terrível Porto Alegre — investimento da família Assis Moreira. O Inter já fizera seu gol e o Porto Alegre não atacava. Não atacava porque é ruim e não há uma torcida que lhe cobre uma postura mais competitiva. Levava o jogo como quem leva um pagode até o fim, apenas isso. O Onyxzão 2010 é uma dessas coisas lamentáveis que nossa política mantém apenas para satisfazer alguns caciques locais (presidentes de federações e agregados) que, por sua vez, sistematicamente votam e mantêm o cacicão Ricardo Teixeira.

Ana mostra o tamanho do seu jogo

Muito mais interessante estava o Aberto da Austrália. Na ESPN, a musa Ana Ivanovic (acima), ex-número 1 do mundo, via desmancharem-se seus planos de um grande 2010. A argentina Gisela Dulko inequivocamente reagia a um set perdido de forma quase casual e só um milagre salvaria a bela sérvia. Porém, os grandes jogadores tiram forças sabe-se lá de onde e eu, enquanto conversava com minha filha, esperava uma virada firme de Ana sobre uma adversária comum. E aqui volto a tocar no assunto de minha admiração pelas mulheres. As expressões, os rostos. A derrota de Ana estava em sua cara quase uma hora antes de ocorrer. Ela não conseguia deixar de expressar seu desespero, de comunicar ao estádio, à adversária e aos milhões que assistiam pela TV que, desde a metade do segundo set, estava perdida e impotente frente à argentina. O jogo acabou em 6/7 (6/8), 7/5 e 6/4 em favor de Dulko.

Toda vez que Ana ia pegar as bolas para um novo saque, estampava-se em seu rosto coisas como: “todos esperam, até eu, que a ex-número 1 reaja e massacre esta ridícula”, “estou decadente aos 22 anos”, “por que erro tanto?”, “por que não consigo jogar como dois anos atrás?”, “que vergonha ser eliminada na segunda rodada”, “como tudo é injusto!”, etc. O desalento e os erros de Ana eram tamanhos que Dulko também começou a errar lastimavelmente e o jogo tornou-se uma tour de force psicológica para averiguar quem poderia ser pior. Dulko errava por estar eliminando uma das favoritas ao torneio, Ana errava por estar quase chorando de impossibilidade e vergonha.

Sem Sharapova e Ivanovic,
o torneio feminino vira apenas uma série de jogos de tênis. Nhé.

O jogo do Inter terminou 1 x 0, né? Não devo ter perdido nada.

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Enfim, um post absolutamente brilhante!

Aqui.

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Problemas em Crepúsculo

Oferecimento:

Obrigado, Melo.

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Disse Ludwig Wittgenstein:

“Humor não é um estado de espírito, mas uma visão de mundo”.

Trecho do comentário de Charlles Campos:

(…) O humor sempre me pareceu assim, uma região solitária, onde você assume a coragem de se revelar por inteiro sem medo: você não quer competir porque observa tudo de uma altura que dá a devida medida ridícula das coisas.

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A origem da utilização da palavra “Veado” para designar homossexuais no Brasil (direto para a Wikipedia!)

Sabemos que o Brasil é um país muito ignorante, mas às vezes ele nos oferece coisas surpreendentes ligadas à cultura. Por exemplo, só aqui existe o adjetivo “balzaquiana” (sempre no feminino) para qualificar as mulheres que passam dos trinta anos. Sei que a expressão baseia-se apenas no título de um dos piores romances de Balzac, A Mulher de Trinta Anos, porém, o simples fato de qualquer brasileiro utilizar uma expressão tão literária para designar a idade de certas mulheres, deveria denotar uma intimidade com as letras que somos obrigados a não reconhecer… Imagine se esta qualificação fosse cunhada na Inglaterra – todos nós imaginaríamos ser isto mais uma prova de que os ingleses são cultíssimos!

Por isto, assombra-nos ainda mais que nosso povo chame de veados a nossos homossexuais. Primeiramente, é mister derrubar a hipótese errônea de que a palavra seria escrita como “viado”, tendo sua origem numa simples corruptela de “desviado”. O estigma de ser um desviado, além de uma agressão aos homossexuais, é ridículo, ainda mais se considerarmos as opções vernaculares disponíveis.

Tudo deriva de um inesperado conhecimento de nosso povo sobre a vida e a reprodução dos veados. Explicarei como isso se dá. A veada (ou veado fêmea) entra no cio e passa, com suas emanações, a atrair os machos. Obviamente, muitos machos se candidatam, mas ela é uma natureza fiel, e manterá relações com apenas um dos animais. Como muitas vezes acontece na natureza, não será ela quem escolherá seu parceiro. Serão eles que travarão uma série de lutas para decidir quem a merecerá. Durante essas refregas, a produção de esperma dos machos intensifica-se e eles ficam inteiramente voltados para disputa, sendo que muitos deles, neste ínterim, perdem 15% de seu peso.

Ultrassonografia de um testículo de veado lotado de esperma antes de ser “aliviado”

Depois disso, o veado vencedor aproxima-se da veada e eles mantêm um longo coito em que ele deposita enorme quantidade de sêmen na fêmea e que é assistido pelos perdedores. Ora, eles não se retiram do local porque ainda tem algo a fazer. Quando o macho vencedor desprende-se da veada, eles, um a um, formando uma fileira desorganizada, denominada nos círculos científicos de “Fila de desopilação”, curam seu ressentimento montando-se uns às costas dos outros — todos machos — penetrando-os, com a finalidade de se aliviarem. Depois fazem a troca, pois todos devem se livrar do esperma. Claro, a natureza é sábia: eles, após produzirem por volta de 300 ml de esperma em cada testículo, mal podem caminhar — então como poderiam ir de árvore em árvore para alimentar-se ou fugir de algum animal maior? Nos homens, este fenômeno é chamado por muitos — e aqui meus leitores mais sensíveis e as crianças hão de me perdoar — de “dor nas bolas” e ocorre quando uma grande excitação sexual acaba em malogro.

Flagrante de uma “Fila de Desopilação”

Após este ritual, é comum que alguns destes veados perdedores passem a demonstrar certa afeição entre si. Há também aqueles que passam a acompanhar o casal vencedor até o nascimento do veadinho, mas nossos cientistas garantem: eles sempre demonstram acentuado interesse pelo macho. Alguns passam a fazer parte da família e, quando da ocorrência de outro embate por uma fêmea, escolhem perder, brigando apenas até obterem maior produção de esperma. Dir-se-ia que cumprem carnê.

Dois veados machos ligados pelo afeto

Ora, estes seres cujas escolhas parecem inadequadas à preservação da espécie não devem ser escamoteados ou considerados de menor importância, pois são eles que se atiram em sacrifício quando da presença de algum animal mais forte e ameaçador à família, muitas vezes rasgando-se todos.

Por que o “Animal`s Planet” e os programas sobre a vida animal não divulgam tais verdades? A resposta é clara. Primeiro, temos de considerar que, de cada dez palavras que circulam pelas agências internacionais de notícias e de cada dez minutos de transmissão televisionada no mundo, temos, respectivamente, nove palavras e 8 minutos e 23 segundos de responsabilidade ou norteamericana ou de entidades religiosas, sejam estas católicas, protestantes ou muçulmanas. Sabendo-se que tais sociedades caracterizam-se por uma forte deturpação de evidências, é normal que fatos de indiscutível veracidade venham a ser omitidos ou mesmo falseados.

Não vejo motivo para que continuemos a turvar a realidade desta maneira, não vejo que prejuízo nossas crianças teriam de soubessem da fila de desopilação dos veados e sempre fui de opinião de que A los niños hay que decirles siempre la verdad, no hay que asustarlos con cucos, brujas, ogros, temibles personajes imaginários pero con cosas más reales, como nos ensina a melhor pedagogia argentina.

Não sei como, quando e nem quem passou a chamar nossos homossexuais de veados, mas esta pessoa — talvez um veterinário — certamente tinha informações privilegiadas sobre a vida animal e fez uma analogia com a vida humana que,  se está longe de constituir-se num exato paralelo, é demonstradora de grande cultura. Acredito que nosso leitor Charlles Campos poderá confirmar todas as verdades aqui externadas e que juntos criaremos importante e esclarecedor verbete na Wikipedia.

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Gol contra? Não, né?


Depende do livro, claro.

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Começou o Yedão 2010

O Grêmio, fora de forma, virou o jogo pra cima do Pelotas no segundo tempo. Perdia de 2 x 0 no intervalo e alcançou a vitória por 3 x 2 no segundo tempo. O Pelotas estava em melhor forma física, mas é tão ruim que deixou  um adversário cansado fazer-lhe 3 gols. O Inter ganhou com o time B. O time B é, na verdade, o C, pois os caras não servem nem para reservas. Resultado: Inter 4 x 2 Ipiranga.

Alguém poderia me dizer para que serve este campeonato?

Ytalo — sim, com pisilone — fez um gol nos mortos do Ipiranga.

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Concerto para Mão Esquerda de Ravel

Com Nikolai Lugansky, a versão completa:

E aqui, trecho com som perfeito e luxuosa interpretação de Pierre-Laurent Aimard (piano), Pierre Boulez (regência) e a Orquestra Filarmônica de Berlim. Concerto realizado em junho de 2009.

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