O Resto é Ruído, de Alex Ross

o-resto-e-ruidoEu já tinha comprado este livro, mas ainda não o tinha lido. Surpreendi-me quando, em fevereiro, cheguei a Londres e descobri que o complexo de salas de concerto do Southbank Center estava apresentando uma série de espetáculos que teria a duração de um ano (é isso mesmo) e que era inteiramente baseada no livro de Ross. Ou seja, eles tinham lido O Resto é Ruído e já estavam escutando o século XX, como diz o complemento do título do autor norte-americano. Depois de comprar alguns ingressos com os quais pude assistir a um fantástico concerto com a Sagração da Primavera e outro sobre a obsessão de Ravel pela Espanha, não apenas me senti menos infeliz ao comparar Londres a Porto Alegre como decidi que leria imediatamente o livro. Quando voltei para casa, não precisei avançar muitas páginas para saber porque o ensaio, — que é recente, de 2007 — é objeto de tantos elogios, quase objeto de culto. Read More

Ospa: túnica, boa música e baixa miscibilidade

Richard Strauss: um estranho entre latinos

Copland, um novaiorquino fazendo música mexicana; Gandarias, um guatemalteco falando de sua infância; Krieger, um catarinense polifônico; Guerra-Peixe, um fluminense falando de Minas e Richard Strauss em seu entardecer alemão. Tudo isto regido por um maestro vestido com uma túnica muito pouco discreta — coloridíssima, de cor predominantemente amarela escura, disse minha mulher (sou daltônico, lembram?) — e cuja provável intenção étnica me fugiu totalmente. Parecia algo africano, mas acho que sua origem deve ser alguma artesanía latino-americana, suponho a partir da música.

Apesar da divertida cara de surpresa de alguns músicos ao observarem a espetacular entrada do maestro Cláudio Ribeiro, o concerto foi seríssimo e do mais alto nível artístico. El Salón Mexico, de Copland, é muito boa e não é culpa da obra o fato de sermos remetidos a velhos seriados de faroeste. As Quatro Últimas Canções, de Strauss, foi o grande momento do concerto. Arrepiou MESMO, mesmo que a acústica ou a projeção da soprano Janette Dornellas fizessem com eu não a ouvisse nas partes mais delicadas da música. Mas é grande música, verdadeiramente sublime! Destaque para o solo de Israel Oliveira (trompa) na segunda canção, Setembro.

Edino Krieger: melhor prestar atenção nele

Após o intervalo, veio Desde la infancia, de Igor de Gandarias, obra curta e cheia de citações. A surpresa da noite foi a envolvente Passacaglia para o novo milênio, de Edino Krieger. A passacaglia (ou passacalha) é uma forma musical de tema e variações onde aquele é repetido pelos baixos enquanto o resto da orquestra se diverte. Depois de um começo que lembra a Música para Cordas Percussão e Celesta, de Bartók, a obra ganha ritmo e ares populares para retornar a seu início. Acho que Krieger merece mais atenção. O concerto finalizou com a conhecida Museu da Inconfidência, de César Guerra-Peixe, com um show da percussão e do fagotista Adolfo Almeida Júnior.

A orquestra esteve muito bem. Aliás, nos concertos deste ano o nível artístico das apresentações da Ospa não merece senão elogios. Minha crítica é ao programa. Certo, foi um bom repertório, cheio de ineditismos — ao menos para mim — mas a mistura de Richard Strauss e suas canções sobre a morte próxima com o restante do programa… Bem, alguém há de me explicar.