O Último Minuto, de Marcelo Backes (Fim)

o-ultimo-minuto_marcelo-backesComo escrevi na primeira parte deste texto, a voz de Yannick Nasyniak ou João, O Vermelho, não é única no livro de Backes. Concordo, é ele quem fala por quase todo o romance através de um copioso discurso livre indireto, mas há importantes interrupções de parte do narrador-interlocutor. Ou seja, o livro não é um longo monólogo que se estende por 224 páginas, como li em algum lugar. Uma das qualidades do livro está no contraponto, no diálogo, no reflexo das palavras de João-Yannick sobre o seminarista. Como já escrevi, o livro chega a apresentar uma inversão de posições, dando espaço ao monólogo do seminarista! Outro fato que me causou contrariedade foi a redução feita por alguns jornais, como se o livro apenas argumentasse sobre o futebol como metáfora da vida. Ok, é uma das teses presentes no livro, mas é apenas uma delas. O Último Minuto é bem mais rico. Fiquei feliz ao ler meu amigo Carlos André Moreira na ZH de hoje. Ele caracterizou bem o livro de Backes, passando o centro do romance para a paternidade de Yannick.

De forma muito curiosa, o evento de hoje no StudioClio propõe o tema “A Voz da Prisão” em autores como Nabokov, Sabato, Dostoiévski e Graciliano. É uma boa ideia estabelecer diferenças entre estes ícones e o livro que estaremos comentando. Nestes livros e em O Último Minuto, a posição que cada narrador ocupa é diferente. É lamentável que eu tenha estudado tão pouco o assunto. Vamos, um tanto esquematicamente, ao que lembro destes livros narrados por prisioneiros. Read More

Réquiem para 115 árvores

Este texto foi escrito sexta-feira logo após o evento documentado na reportagem abaixo. Mas estava faltando o vídeo, que só consegui ontem… Vai atrasado mesmo!

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Por Ramiro Furquim/Sul21Esta Lacrimosa do Réquiem de Mozart – executada em frente à Prefeitura de Porto Alegre na última sexta-feira – serve como lamento para uma grande derrota. Ou para celebrar a vitória da irreflexão e da morte.

Enquanto se consolida a ideia de que não é aceitável nenhuma árvore a menos, em nossa cidade vemos 115 árvores serem cortadas para que uma via fique mais larga, dando lugar a mais automóveis que certamente não podem esperar.

Esta Lacrimosa serve como reclamação culta e impotente de quem pensa que uma boa sociedade seria aquela em que todos, até os ricos, pudessem andar a pé, de bicicleta ou de transporte público – deixando o carro para as ocasiões em que seja razoável seu uso.

Reportagem da TVE-RS abaixo:

Esta Lacrimosa é porque Porto Alegre prioriza o carro em lugar do transporte público.

Aqui, muitas pessoas que gostariam de se deslocar de bicicleta têm receio de fazê-lo por medo dos carros.

Aqui, em vez da educação dos motoristas, dá-se ainda maior espaço à má educação, maior espaço ao asfalto que substitui árvores e grama, à revelia do Plano Diretor da cidade.

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Ospa: a trombonada que salva e liberta

Durante o ensaio, o trompista Israel Oliveira testa seu volume pulmonar. | Foto: Augusto Maurer
Durante os ensaios, o trompista Israel Oliveira testa sua capacidade pulmonar. | Foto: Augusto Maurer

Libertos da ditadura das cordas, derrubado o muro que separa madeiras e metais da plateia, os sopros utilizaram muito bem a liberdade de expressão que lhes foi concedida após anos de lutas. Eles deram um belíssimo concerto ontem no Salão de Atos da Ufrgs. É claro que o repertório ajudou muito. A fórmula Bernstein + Strauss + Stravinsky + o ainda desconhecido Ewazen demonstrou o quanto é saudável a expansão dos programas em direção ao ineditismo. Os aplausos após o concerto foram merecidíssimos. Afinal, foi um trabalho árduo enfrentado com brilhantismo pelo pessoal do barulho. Read More

Chope e livros e riscos descontrolados

Após a entrevista que fiz com Ernani Ssó sobre sua tradução do Quixote, realizada sob os chopes do aprazibilíssimo Tuim, pegamos a mania de nos encontrarmos no mesmo local para falar de literatura e qualquer coisa. Não precisamos mais de pretextos, porém desta vez ele me pediu que, amanhã, eu levasse comigo meu exemplar de O mestre e Margarida, para lhe emprestar. Não há problema, costumo emprestar livros. Ou melhor, há um problema sim. É que, cada vez mais, faço anotações a caneta nos livros e não gosto que os outros as leiam, por serem feitas ao ritmo de meus imbecis pensamentos pessoais durante a leitura.

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O Último Minuto, de Marcelo Backes (I)

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Farei dois ou três comentários acerca de O Último Minuto, de Marcelo Backes, em razão de minha participação no lançamento do livro em Porto Alegre, lá no StudioClio, na próxima quinta-feira, às 19h30. Serve como anotação, certamente desorganizada. 

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A pedido do Backes, li O Último Minuto quando era ainda um arquivo do Word e tinha o nome de Morte Súbita. Demorei a me resolver a ler, demorei a responder ao Marcelo. Quando o fiz, ele disse: “Olha, já é outro livro. Certamente, tu vais comentar coisas que foram alteradas”. Tudo inútil, portanto, e tudo muito curioso, pois a releitura, feita agora já sob um novo nome e no formato de livro (Companhia das Letras, 221 páginas), é realmente desconcertante. Jamais manteria a sinopse que catalogara em minha memória no ano passado e que vou tentar recriar sem spoilers. Fico pensando na extensão das reformas empreendidas pelo Backes e que agora nem posso conferir porque tenho o hábito de deletar originais. Já imaginaram se aparecem em outro lugar? Read More

Chaplin e a multidão

Chaplin e a multidão

Copiado do blog português O homem que sabia demasiado.

Quando pensamos que hoje existem celebridades no mundo do espetáculo e do cinema, nem sempre nos lembramos que este não é um fenômeno recente. Desde o período do cinema mudo que grandes estrelas do cinema arrastavam multidões de fãs e seguidores.

Foi assim, por exemplo, com o gênio de Charlie Chaplin. Depois da primeira década de trabalho ter sido de pouco reconhecimento (1910), a fama chegou em força a partir do final da mesma década e no início dos anos 1920.

Esta fotografia é espantosa pela forma como se revela aos nossos olhos: nela vemos Chaplin em trajes “civis” aos ombros de um homem para que toda uma incrível multidão de pessoas o possa admirar. Foi tirada em Londres em 1921, uma cena em total apoteose popular, quase parecendo que foi encenada de tão perfeita ser.

Uma imagem como hoje não há mais (clique na imagem para ampliar).

chaplin