Réquiem para 115 árvores

Este texto foi escrito sexta-feira logo após o evento documentado na reportagem abaixo. Mas estava faltando o vídeo, que só consegui ontem… Vai atrasado mesmo!

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Por Ramiro Furquim/Sul21Esta Lacrimosa do Réquiem de Mozart – executada em frente à Prefeitura de Porto Alegre na última sexta-feira – serve como lamento para uma grande derrota. Ou para celebrar a vitória da irreflexão e da morte.

Enquanto se consolida a ideia de que não é aceitável nenhuma árvore a menos, em nossa cidade vemos 115 árvores serem cortadas para que uma via fique mais larga, dando lugar a mais automóveis que certamente não podem esperar.

Esta Lacrimosa serve como reclamação culta e impotente de quem pensa que uma boa sociedade seria aquela em que todos, até os ricos, pudessem andar a pé, de bicicleta ou de transporte público – deixando o carro para as ocasiões em que seja razoável seu uso.

Reportagem da TVE-RS abaixo:

Esta Lacrimosa é porque Porto Alegre prioriza o carro em lugar do transporte público.

Aqui, muitas pessoas que gostariam de se deslocar de bicicleta têm receio de fazê-lo por medo dos carros.

Aqui, em vez da educação dos motoristas, dá-se ainda maior espaço à má educação, maior espaço ao asfalto que substitui árvores e grama, à revelia do Plano Diretor da cidade.

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Árvores abatidas: tudo foi planejado como num crime

Enquanto as cabeças da população estavam afundadas nos travesseiros...
Enquanto as cabeças da população estavam afundadas nos travesseiros… | Foto: Ramiro Furquim / Sul21

Há dois pontos que demonstram a péssima condução que a prefeitura deu para os cortes das árvores nas proximidades do Gasômetro. O primeiro foi ocorreu em 6 de fevereiro, quando aconteceram os primeiros cortes de árvores e foram ouvidos os primeiros protestos. Estes surpreenderam tanto o prefeito Fortunati que ele soltou uma das suas mais mal ensaiadas e infelizes declarações: “As pessoas não utilizam as árvores no Gasômetro”. Outro ponto pode ser escolhido dentre as fotografias das árvores abatidas em plena noite — pois, de forma absolutamente sorrateira, escondida da população, o horário escolhido para os cortes foi as 3 da madrugada — , mas coloco-o em outra declaração, a do procurador-geral do Município, João Batista Linck Figueira (PSDB), que disse: ”A decisão pelo corte foi conjunta. Partiu da prefeitura, mas quem encaminhou o momento mais adequado e as questões de segurança é a Brigada Militar”.

Sim, meu caro, a decisão foi conjunta entre a Prefeitura e a Brigada. Ou seja, foi totalmente desconjunta. Desde o início, houve uma total desconsideração pelos movimentos sociais. Há 40 dias existia um acampamento protegendo as árvores e o prefeito jamais tentou um diálogo decente com eles. Foi lá e saiu dizendo chorosamente que “eles têm uma posição radical”. Isto é política? Com efeito, uns vão dizer que o acampamento era habitado por ecochatos radicais. Outros dirão que a prefeitura tinha planos que nunca conjeturou alterar. Logicamente, cada um dos lados ganhou força em função da existência do outro, mas não podemos esquecer que quem tomou o primeiro passo foi a prefeitura. Read More