Meu amigo Carlos, um paulista que nunca tinha visitado Porto Alegre, veio trabalhar aqui por alguns dias. Foi difícil conciliar nossos horários. Porém, lá por quinta-feira, ele me telefonou para dizer que passaria também o fim-de-semana na cidade e que desejava combinar um encontro em que eu teria de explicar-lhe umas coisinhas sobre a cidade. Marcamos para conversar na sexta-feira à noite, no Bar do Beto lotado, em meio ao maior barulho.
— Milton, me diz porque eu andei por todo o lado desta cidade e não vi o rio. Esta porra é um porto ou não?
— Olha, comecemos do começo, bem do começo. Parece que não somos banhados por um rio e sim por uma lagoa.
— ?!
— Pois é, na minha época de estudante, diziam que o Guaíba era um estuário, que é um tipo de foz mais larga que o normal. Mas agora virou lagoa… É que aqui deságuam vários rios que vão dar na Lagoa dos Patos…
— Não entendi nada, mas me diz porque eu não vi o rio.
— Não o procuraste direito.
— Mas eu andei pelo centro, pelo tal Mercado Público que devia estar na frente do porto e não vi nada.
— É que houve uma enchente em 1941 que inundou o centro da cidade, então construíram um enorme muro para evitar uma nova enchente, só que ela nunca ocorreu e, bem, ficamos com uma muralha que nos impede de ver do rio. Para vê-lo tem que entrar por uns portões. Dá para ver o muro do Mercado Público.
— Acho que vi. Mas como é que foi inundar a cidade se a água vai para uma lagoa que deságua no mar?
— Não sei, talvez os ventos tenham represado as águas por aqui.
— Pode ser. Mas você acha normal que construam um muro bem na frente daquele que seria potencialmente o cartão postal da cidade?
— Não, é totalmente anormal. Temos uma relação difícil com o rio.
— Lagoa.
— Sim, lagoa. Tens que ir mais longe para vê-lo, ou vê-la, desculpe.
— E o porto?
— Fica escondido atrás do muro.
— E por que o estádio Beira-rio tem este nome se fica ao lado de uma lagoa?
— Não sei. Provavelmente por ignorância e porque todo mundo chama o Guaíba de rio.
— E por que a rua principal do centro chama-se Rua da Praia, se não tem praia?
— É que havia antes, mas aí poluíram tanto que hoje só dá para olhar. É “imprópria para banhos”.
— Olhar? Com o muro na frente?
— É, já disse, é difícil de olhar, tem que caminhar um pouco.
— E as pessoas tinham que contornar o muro para tomar banho?
— Antes do muro não, né? Só depois. Mas no final da Rua da Praia não há muro.
— Ah.
— E por que todo mundo chama de Rua da Praia se o nome é Rua dos Andradas?
— Antigamente, há uns 50 anos, era Rua da Praia.
— Mas ninguém diz Andradas?
— Não, ninguém. Sabes que o nome da Av. Beira-rio é Av. Edvaldo Pereira Paiva?
— É?
— E que a Rua da Ladeira chama-se Gen. Câmara?
— Hum… Subi a ladeira. Há boas livrarias ali.
— E que o Estádio Olímpico, do Grêmio, tinha este nome devido aos Jogos Olímpicos de Porto Alegre?
— Que nunca aconteceram!
(risadas)
— E o rio, a lagoa, é bonitinha?
— Sim, muito. Tem um desenho de ilhas bem aqui na frente que é muito interessante.
— Só que não se vê.
— Sim, só se vê o desenho delas do alto de alguns edifícios..
— Vocês são uns neuróticos.
Naquele momento, passou uma morena equipada com um rosto e sorriso lindos. Meu amigo quedou-se mesmerizado.
— De onde saiu esta maravilha, Milton? Me explica isto! Estou estupefato. A beleza doeu fundo em mim. A beleza dói quando é excessiva. É injusto. É injusto para quem apenas vê sem tocá-la.
Ficou alguns segundos em recuperação.
— E as mulheres, como são?
Em 2011, foi feito um painel fotográfico de 45 metros de largura mostrando a vista que as pessoas teriam caso o muro não estivesse lá
Vou escalar o time para ti: Alisson; Léo (já que tu gostas), Ernando, Alan Costa e Fabrício; Freitas, Aránguiz, Dale e Alex; Sacha e Vitinho. E estamos conversados. Deixa o Anderson e o Réver no banco. São craques, mas estão fora de forma. Nilton também está mal fisicamente. Não é hora deles. Rafael Moura nem pensar, deixe-o afastado até do banco de reservas para não dar vontade. Sabe-se, às vezes a gente se desespera e toma decisões equivocadas. Em seu lugar, convide o Bruno Gomes para ficar no banco. Mas só o coloque se estivermos ganhando. Se a coisa estiver complicada, ponha outro, mas nunca Rafael Moura, OK?
Obrigado.
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O Grêmio anda bem divertido. Liguei o rádio ontem à noite — sempre tomo banho com o rádio ligado –, estava na hora das coletivas pós-jogo. O Felipão e o diretor Rui Costa falavam com tamanha tranquilidade que achei que o time tivesse saído vitorioso. Não, a coisa tinha sido um melancólico 0 a 0. Um mau Gauchão não dá nada, o problema é entrar assim no Brasileiro. Bá, eu gosto quando o Grêmio cai.
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Eu jamais iria assistir uma dessas brigas públicas do gênero UFC ou MMA. Na minha opinião, trata-se de um moderno retorno às arenas, uma espécie de rinha de galos com seres humanos. Ou seja, é uma coisa de gosto pra lá de duvidoso. Sei que é polêmico, mas a maioria das pessoas que tenho como razoáveis concorda comigo. Então acho estranho que o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati, vá a um espetáculo violento desses como se fosse a um concerto. Ele tem um cargo importante, de certa forma, ele nos representa. E, no sábado à noite, vai ver um troglodita tentar amassar outro. Para piorar, ainda ufanou-se em seu twitter: “Porto Alegre recebe mais um grande evento internacional: baita público, gente bonita e grandes lutas”. E, como se não bastasse, foi flagrado tirando fotos da gente bonita, mais exatamente das ring girls, as meninas que anunciam os terríveis combates. A tripla baixaria está fartamente documentada.
Olha, eu acho que um sujeito que ocupa um cargo público deveria procurar ter maior cuidado. Há escolhas que uma pessoa pública deveria esconder ou praticar na intimidade.
Semana que vem completam-se quatro anos que Ricardo Neis covardemente atropelou dezenas de pessoas que participavam da Massa Crítica em Porto Alegre, quatro anos de impunidade. Enquanto o julgamento de Neis ainda nem foi marcado, um jovem que participou das manifestações de 2013 já foi julgado e condenado por quebrar objetos. Ricardo Neis quebrou pessoas. Qual é a prioridade da Justiça?
É contra a impunidade no trânsito, contra os diferentes tratamentos dados pela assim chamada “Justiça” e pela humanização do trânsito que estão marcados diferentes atos para os dias 25, 26 e 27 de fevereiro, marcando os quatro anos do atentado à Massa Crítica.
Dia 25 de fevereiro acontece ato em frente ao Tribunal de Justiça (Av. Borges de Medeiros com Aureliano de Figueiredo a partir das 17h), com posterior marcha. Convidamos as pessoas a trazer percussões, panelas, apitos e materiais para confecção de faixas e cartazes.
Dia 26 de fevereiro acontece uma Pedalada Pelada com o mote “Obscena é a demora da Justiça!”, saindo do Largo Zumbi dos Palmares às 19h.
E dia 27 de fevereiro, como é a última sexta-feira do mês, acontece a já tradicional Massa Crítica.
Lotações de Porto Alegre: serviço caro e de péssima qualidade
Hoje à noite, eu e minha namorada chegamos à parada da lotação Auxiliadora, no Shopping Iguatemi, às 21h05 e ficamos esperando até às 21h45, quando desistimos e pegamos um táxi. O curioso é que quando chegamos perguntamos ao fiscal até que horas haveria o serviço. Ele nos respondeu: até às 22h.
Às 21h05 estava chovendo e várias pessoas aguardavam a condução conosco. Durante este período chegaram três lotações Auxiliadora. A primeira deixou os passageiros alguns metros antes da parada e foi embora. Gritei para o motorista e este me disse que estava atrasado e que logo viria outra para nos levar. Pois bem, vieram mais duas e ambas fizeram ainda pior. Deixaram seus passageiros e trataram de nos ignorar, acelerando rapidamente. Fingiram que não estávamos ali. Uma fuga, na verdade.
O que a população deve fazer? Sair sempre de carro? A EPTC sabe que uma boa cidade não é aquela que todos têm carro, mas aquela que qualquer cidadão possa fazer uso de um transporte coletivo confiável, pontual e com frequência e horários previstos?
O serviço pelo qual vocês são responsáveis é caro e de péssima qualidade. E o fato que ora cito ocorre justo no dia em que foi autorizado um novo aumento na tarifa.
Ah, tenho também histórias sobre o serviço de ônibus de nossa cidade. Uso o meu TRI e sou usuário contumaz do transporte público de Porto Alegre. Acho que quase todos os porto-alegrenses têm histórias, na verdade.
Por favor, seria demais aguardar providências?
Acabo de registrar esta reclamação no site da EPTC e no perfil da empresa no Facebook, impossível que não leiam.
Hoje, após as obras de restauro da fachada, quanta diferença!
Informações da própria CCMQ dão conta de que a primeira fase do restauro — fachada, esquadrias, aberturas e telhado — estaria finalizada. A próxima fase será dedicada à acessibilidade e sinalização. Mas… O telhado está realmente finalizado?
No tempo que preto não entrava no Bahiano Nem pela porta da cozinha
Gilberto Gil, em Tradição
Porto Alegre é uma das sete cidades do mundo que têm dois times campeões mundiais — você saberia dizer quais são as outras seis? (*) — e uma história de nosso futebol jamais poderia tangenciar a Liga dos Canelas Pretas, formada por negros em nossa cidade no início do século XX.
A referência feita por Gilberto Gil na canção Tradição, de 1973, é ao Clube Bahiano de Tênis. O tênis é ainda um esporte de elite, mas até 1952 havia clubes de futebol no país que não aceitavam jogadores negros. O último grande clube a incorporar negros a sua equipe foi o Grêmio de Porto Alegre. Na época, por iniciativa do presidente Saturnino Vanzelotti, o clube foi atrás de um grande jogador negro que desse fim, em grande estilo, à discriminação no clube. E contratou o Tesourinha, ex-ídolo do Internacional, que estava no Vasco da Gama do Rio de Janeiro. A chegada dele ao Grêmio seria um choque nos colorados e um grande reforço para o Grêmio. Mas Vanzelotti pensava mais longe: o presidente queria Tesourinha para servir como emblema contra o racismo.
— É de um ídolo como você que eu preciso para provar a todos que esse racismo é errado — teria dito a Osmar Fortes Barcellos, o Tesourinha.
Então, no dia 4 de março de 1952, aos 32 anos, Tesourinha vestiu o novo uniforme para um treino no velho Estádio da Baixada. Um público numeroso nas sociais aplaudiu o novo contratado, enquanto alguns conselheiros reprovaram a contratação, alegando que era a quebra de uma importante tradição do clube. Era apenas um dia de treino, mas uma data histórica para o futebol gaúcho. É incrível pensar que, seis anos depois, o mundo reverenciaria Pelé, um negro de 17 anos, no Mundial da Suécia.
A Liga dos Canelas Pretas
Era o final da longa caminhada iniciada pela Liga dos Canelas Pretas. Este curioso nome era como a população conhecia a Liga Nacional de Futebol Porto-Alegrense, formada no início do século XX na região do antigo bairro da Ilhota, em Porto Alegre, unicamente por “homens de cor”. Também era chamada de Liga “das” Canelas Pretas ou simplesmente Liga Canela Preta.
É muito complicada qualquer pesquisa a respeito dela. Quase não há fotos ou registros escritos e o que conseguimos abaixo é o resultado da consulta a mais de vinte fontes diferentes.
Foto do Sport Club 8 de Setembro
Tudo começou com a discriminação — naturalíssima, na época — praticada pela Liga Metropolitana. Ali, só podiam jogar times de homens brancos. Em resposta, os Canelas Pretas estabeleceram sua liga entre 1910 e 1915, atingindo grande reconhecimento na década de 1920. Como sempre acontece no Rio Grande do Sul, havia dois grandes adversários: o Bento Gonçalves e o Rio-Grandense. Mas havia outras equipes menores, como o Primavera (dos arredores da Rua Gonçalves Dias), o Primeiro de Novembro (formado por funcionários do Forno do Lixão), o Oito de Setembro (da área então chamada de Colônia Africana, hoje o bairro Rio Branco), mais União, Palmeiras, Aquidabã e Venezianos, totalizando nove clubes associados.
Mesmo dentro da Liga havia certa segmentação. O Rio-Grandense (não confundir com outros times homônimos) era um time de mulatos, os chamados “mulatinhos cor-de-rosa”, formado por funcionários públicos e de hotéis. Já o Bento Gonçalves era um time majoritariamente de negros, formado por engraxates e outros profissionais, quase sempre muito pobres.
A discriminação tinha a ver com a sociedade da época, mas também com a estrutura urbana de Porto Alegre. Havia guetos negros como a Colônia Africana, atual bairro Rio Branco, e outros bairros étnicos, o que poderia ajudar a explicar a segregação racial do futebol local. Ou seja, a Liga da Canela Preta e toda a rejeição por parte da liga branca são fatos que não podem ser isolados da dinâmica urbana.
Nos anos 20, a Liga Metropolitana criou sua segunda divisão (a “liga do sabão”, composta pela classe média baixa), absorvendo os melhores jogadores dos Canelas Pretas, o que acabaria por fazer desaparecer a Liga na década de 1930 (possivelmente em 1933, início do profissionalismo no futebol local).
Antonio Carlos Textor, autor do filme A Liga dos Canelas Pretas, fala a respeito das dificuldades que enfrentou na realização da obra:
— Os registros oficiais da liga se perderam na enchente de 1941. Essa história foi praticamente ignorada pela imprensa local e sobreviveu na memória oral da comunidade negra e em raríssimas fotografias. Muita gente, inclusive entidades ligadas ao movimento negro, desconhece esse episódio.
A existência da curiosa Liga de nome peculiar serve apenas deixar evidente as dificuldades dos ex-escravos e seus descendentes para se integrarem à sociedade.
O Internacional
O Internacional teria o primeiro registro de um negro em sua equipe no ano de 1913, o zagueiro Dirceu Alves. Porém, até 1928, apesar de o Internacional possibilitar a inclusão de indivíduos não oriundos da elite em seus quadros, era quase inexistente a presença de jogadores negros em seus quadros. Na década de 30, o Internacional também contribuiu para o fim da Liga dos Canelas Pretas, pois passou a utilizar muitos jogadores negros em seu grupo. A atitude acabou fortalecendo a equipe, absolutamente hegemônica nos anos 40, além de criar o carinhoso apelido de Clube do Povo. Mas os jogadores da Liga não vieram para o Inter por algum amor abnegado. Os atletas negros se transferiam atrás do pagamento de salários, ainda que muito baixos.
O time do Inter dos anos 40, conhecido por Rolo Compressor: negros
O Grêmio
A história da presença de negros no Grêmio é muito contraditória. Além da foto abaixo, que mostra o Grêmio com dois negros em sua equipe nos tempos do lendário goleiro Eurico Lara, que permaneceu no clube entre 1920 e 1935 — quem seriam? –, pesquisas recentes realizadas pelo clube indicam que os primeiros negros (ou pardos) a atuarem foram os Irmãos Carlos e Alfredo Mostardeiro, na equipe principal a partir de 1911 (tendo ingressado no clube em 1909 e participado da segunda equipe em 1910).
O que se sabe é que, a partir dos nos 30, o tricolor não teve negros em suas esquadras até a chegada de Tesourinha em 1952.
Uma crônica do gremista e mulato Lupicínio Rodrigues, publicada no jornal Última Hora em 6 de abril de 1963 (Coluna Roteiro de Um Boêmio) vem em nosso auxílio. Ela está publicada abaixo, finalizando o texto.
Uma foto deveras estranha. O goleiro Eurico Lara deitado à frente do time do Grêmio. Só que há dois negros na foto…
Domingo, estive em um churrasco da Sociedade Satélite Prontidão, onde se reúne a “Gema” dos mulatos de Pôrto Alegre. Lá houve tudo de bom, bom churrasco, boa música e boa palestra. Mas, como sempre, nestas festas nunca falta uma discussão quando a cerveja sobe, lá também houve uma, e, esta foi a seguinte. Uma turma de amigos quis saber porque, sendo eu um homem do povo e de origem humilde, era um torcedor tão fanático do Grêmio. Por sorte, lá estava também o senhor Orlando Ferreira da Silva, velho funcionário da Biblioteca Pública, que me ajudou a explicar, o que meu pai já havia me contado. Em 1907, uma turma de mulatinhos, que naquela época já sonhava com a evolução das pessoas de côr, resolveu formar um time de futebol. Entre estes mulatinhos estava o senhor Júlio Silveira, pai do nosso querido Antoninho Onofre da Silveira, o senhor Francisco Rodrigues, meu querido pai, o senhor Otacílio Conceição, pai do nosso amigo Marceli Conceição, o senhor Orlando Ferreira da Silva, o senhor José Gomes e outros. O time foi formado. Deram-lhe o nome de “RIO-GRANDENSE” e ficou sob a presidência do saudoso Julio Silveira. Foram grandes os trabalhos para escolher as côres, o fardamento, fazer estatutos e tudo que fôsse necessário para um Clube se legalizar, pois os mulatinhos sonhavam em participar da Liga, que era, naquele tempo, formada pelo Fuss-Ball, que é o Grêmio de hoje, o Ruy Barbosa, o Internacional e outros. Êste sonho durou anos, mas no dia em que o “RIO-GRANDENSE” pediu inscrição na Liga, não foi aceito porque justamente o Internacional, que havia sido criado pelo “Zé Povo”, votou contra, e o “RIO-GRANDENSE” não foi aceito. Isso magoou profundamente os mulatinhos, que resolveram torcer contra o Internacional e, sendo o Grêmio seu maior rival, foi escolhido para tal. Fundou-se, por isso, uma nova Liga, que mais tarde foi chamada de “Canela Preta”, e quando êstes moços casaram, procuraram desviar os seus filhos do clube que hoje é chamado o “CLUBE DO POVO”, apesar de não ser êle o primeiro a modificar seus estatutos, para aceitar pessoas de côr, pois esta iniciativa coube ao “ESPORTE CLUBE AMERICANO”, e vou explicar como: A Liga dos “Canelas Pretas” durou muitos anos, até quando o “ESPORTE CLUBE RUY BARBOSA”, precisando de dinheiro, desafiou os pretinhos para uma partida amistosa, que foi vencida pelos desafiados, ou seja, os pretinhos. O segundo adversário dos moços de côr foi o Grêmio, que jogou com o título de “Escrete Branco”. Isso despertou a atenção dos outros clubes que viram nos “Canelas Pretas” um grande celeiro de jogadores e trataram de mudar seus estatutos, para aceitarem os mesmos em suas fileiras, conseguindo levar assim, os melhores jogadores, e a Liga teve que terminar. O Grêmio foi o último time a aceitar a raça porque em seus estatutos, constava uma cláusula que dizia que êle perderia seu campo, doado por uns alemães, caso aceitasse pessoas de côr em seus quadros. Felizmente, essa cláusula já foi abolida, e hoje tenho a honra de ser sócio honorário do Grêmio e ter composto seu hino.
(*) Milão, Madrid, Montevidéu, São Paulo, Buenos Aires e Avellaneda.
Hoje foi o dia de receber e-mails me perguntando coisas. É normal. O anormal foi receber uma série de questionamentos acerca de minha não participação no grupo do Facebook chamado Associação dos Amigos da OSPA. Já havia recebido vários outros, mas o número de perguntas cresceu em função do espetáculo que a Orquestra apresentará neste fim-de-semana. Um de vocês me escreveu 3 vezes apenas hoje! Pô, cara! OK, respondo a todos aqui no blog, espaço administrado por mim.
Eu fui um dos moderadores do grupo e, além de só permitir posts que dissessem respeito à orquestra, ali publicava chamadas para os concertos que achava prometedores e para minhas opiniões críticas — elogiosas ou não. Só que a imaturidade de alguns, assim como a de uma moderadora, recebia extremamente mal quaisquer reparos que eu fizesse a um concerto. Eram esperados apenas elogios. Quando não cumpria minha função de mero elogiador, podia e fui chamado de palhaço, idiota, etc. Não vejo problemas. Tenho mais de um blog, vivo no Brasil e estou acostumado às ofensas. Mas as reações de alguns do grupo eram desproporcionais, por demais infantis, chegando às vezes à beira da psicopatia. O baixo controle comportamental parecia ser a regra, inclusive da moderadora. Aqui, vejo problemas, pois houve a invasão de problemas particulares da moderadora para comigo que nunca deveriam aflorar num grupo público. Para minha não-surpresa, logo deixei de ser um dos moderadores e, ato contínuo, deixei de poder postar no grupo. E minhas opiniões passaram a ser rejeitadas. Retirei-me silenciosamente.
Bem, meus caros sete leitores, não sou nada brilhante ou original, mas nasci com teimosia e opinião, infelizmente. Não pensem que o fato de não poder colocar meus humildes links no grupo diminuiu o número de pessoas que leem minhas observações concertísticas. Ao contrário, o número de leitores de meus posts sobre a Ospa aumentou inexplicavelmente. Fora do grupo, também não saí por aí fazendo campanha contra quem me combateu ou contra a moderadora que se candidatou a deputada estadual. Também não aconselhei ninguém a deixar o grupo. Mais: seria uma irresponsabilidade contra-atacar. Vocês sete foram 34 mil visitantes únicos em setembro. É muita gente, fico feliz. Mas é claro que não sirvo mais, pois, como externou equivocadamente um dos músicos, aquele grupo da futura Associação serve apoiar a Ospa, nunca para criticá-la (?). Hum… Pensei que criticar fosse uma das formas mais honestas e francas de apoio a uma instituição.
Sou um melômano de grande experiência como ouvinte. Sei quando as cordas desafinam ou quando bolas batem na trave ou na bandeirinha de escanteio. Sei também que vários maestros acabaram meus amigos, principalmente os melhores e principalmente após receberem críticas negativas. Por outro lado, sou um leigo e conheço a diminuta relevância de minhas observações. Talvez elas devam ser mesmo desprezadas, pois escrevo-as rapidamente, com grande liberdade e colorido de expressão. Há ideologia nisso. Mas algumas coisas eu mantenho para todos os casos: o texto tem que ser legível, informativo, divertido, leve e ousado, sem dobrar-se aos elogios baratos. Todos os meus poros se revoltam contra o compadrio. Não me serve a troca vazia de adulações, o “tu és genial” que aguarda o retorno de um “tu és fabuloso”. Isso só se faz com o filho pequeno quando se deixa que ele nos ganhe no futebol ou com a filha para convencê-la de que é a mais linda. E mesmo assim não devemos exagerar.
Esta é a segunda ou terceira Associação que se forma em torno da Orquestra de Porto Alegre. Nunca elas deram certo. Mas acredito mesmo que um dia a Ospa será como outras (grandes) orquestras e terá uma Associação digna. Pode ser que seja dessa vez, por que não? Espero que a atual dê certo e que fique totalmente afastada de partidos e dos interesses de pessoas partidarizadas. O que importa é a instituição. Sem isso, a Associação será novamente estéril. Quem estiver ao lado da orquestra tem que estar tanto pronto a defendê-la do que a prejudique quanto disposto a apontar publicamente seus problemas. Ou ao menos para seus membros. Hoje, a Ospa detesta discutir problemas. Faz de conta que tudo vai bem.
E eu? Eu, meus caros missivistas, permanecerei como gosto e como sou — um melômano que quer a melhor Ospa possível. E que vai escrever de vez em quando sabendo que, um dia, aparecerão pessoas para tecer criticas e que estas serão ouvidas por gente mais consistente e consequente. Ou tudo vai ficar mais ou menos assim para pior.
O título da grande canção de Lou Reed talvez não tenha relação direta com meu assunto. Afinal, o livro de Nelson Algren que inspirou o filme e a canção é uma longa pergunta sobre o motivo que leva algumas pessoas sem rumo a tornarem-se mais humanas e interessantes do que os certinhos. Não vou analisar se eu e a Elena somos certinhos ou não, mas o fato é que nós fazemos algo docemente perigoso quase todas as noites. Quando é possível, a gente sai para caminhar. Simplesmente isso. E vamos aprendendo sobre a cidade.
Não chega a ser um passeio pelo lado selvagem, mas certamente é um passeio sem policiamento. O pessoal do roubo tem nos ignorado nas caminhadas pelo Bonfim e arredores. E têm razão, pois levamos apenas nossos corpos dentro de roupas mais ou menos velhas. Dia desses, fomos até o Garcias`s lá na Av. Praia de Belas, tomamos uma canja e retornamos. O Google Maps diz que foram 3 Km até lá. 6 ao todo. E fizemos tudo isso sem ver um guarda. Digo a vocês, meus queridos sete leitores, que só vi policiamento à noite em nossa cidade nos dias da Copa do Mundo. E lhes digo, quando ela está bem, não é possível impedir que a Elena saia para passear à noite. Ela adora e comecei a gostar também.
Outra coisa. A Elena passou anos andando pela cidade de carona. A vida sem carro é uma novidade para ela. E ela faz elogios à cidade. Quem nasceu aqui não a valoriza, mas ela garante que é uma bela cidade. Ao menos do ponto de vista visual, pois a parte olfativa não é muito boa. A esquina da Santo Antônio com a Irmão José Otão — sim, a Vasco muda de nome na João Telles — tem uma árvore ao lado de um ponto de táxi. A árvore serve como mictório do pessoal. Que tal colocar um banheiro químico ali, prefeito? No fim de semana, próximo ao Bar Beco, a Av. Independência também ostenta um indisfarçável cheiro de mijo. Como há enormes filas para entrar no bar, é óbvio que a garotada se alivia ali mesmo na calçada. O cheiro só fica melhor depois da chuva.
Bem, se fazer xixi a céu aberto é algo selvagem, caminhar nas ruas de Porto Alegre é mesmo Walk On The Wild Side.
É sabido que desconhecidos, ao tentarem uma conversação, costumam introduzir, como que tateando o novo terreno, um assunto neutro, algo como a previsão do tempo. É sabido também que, logo após a tréplica, a conversa derivará para qualquer outro tema mais interessante. Só em Porto Alegre é diferente. Não há aqui assunto mais fundamental do que a previsão do tempo. Somos uma cidade de meteorólogos amadores. Sempre foi assim. Mesmo antes do efeito estufa, nosso clima já era imprevisível e existia uma real preocupação com ele. Portanto, se você vier para cá, saiba que o tempo é um grande assunto.
Também somos uma cidade pouco beneficiada pela natureza. Então, ufanamo-nos de possuir o mais belo pôr-do-sol do mundo, de sermos a cidade de melhor qualidade de vida do país, o povo que mais consome livros por habitante e de termos as mais belas mulheres. O último é o único fato comprovável, os outros dois devem ser mentirosos. Da mistura dos casais açorianos que a fundaram, dos portugueses que organizaram o mercado do porto, dos alemães que fundaram o odioso Grêmio, dos simpáticos sapateiros italianos que criaram o amado Internacional, dos negros que o jogaram melhor e das etnias que vieram depois, nasceu este ser único: a mulher porto-alegrense.
Só quem nos visita sabe como são as mulheres daqui. Nossa cidade e a de Passo Fundo, no interior do estado, são as recordistas de casamentos desfeitos no Brasil, fato estatístico que deixa as esposas perturbadas, agressivas ou vingativas, as solteiras confiantes, as “liberais” satisfeitas e os homens um pouco mais bocós. As estatísticas também apontam outro fato sublime: aqui, elas estão em maioria.
Os acontecimentos da vida privada das pessoas comuns normalmente carecem de confirmação, suas intimidades não costumam ir para os jornais, mesmo assim, já o das celebridades… Vou dar-lhes um pequeno exemplo dos problemas que Porto Alegre pode provocar. Certa vez, veio para o Inter um grande jogador: o zagueiro chileno Elias Figueroa. Ele chegou e já no aeroporto declamou Neruda. Imaginem um jogador bonito, alto, forte, moreno, com a cabeleira rebelde dos anos 70 e entonação estudada, dedicando um poema de amor à esposa Marcela, a seu lado, dentro o aeroporto, cercado por repórteres. Era um grande jogador e um publicitário, sem dúvida. No dia seguinte, os jornais estampavam as fotos do chileno e todos puderam ver de quem se tratavam, um e outro: Figueroa era um adônis, já Marcela era uma moça simpática. Porém, morando aqui, seria preciso muito mais para que o zagueiro mantivesse inexpugnável sua fidelidade. Rapidamente, ele tornou-se um símbolo tanto do Inter bicampeão brasileiro, como das mulheres que gritavam seu nome. Inabalável na defesa de seu clube, a resistência de Figueroa às porto-alegrenses foi pouco a pouco tornando-se mais sorridente. Primeiro, o chileno respondia com aceninhos às fãs, depois passou a dar autógrafos perguntando carinhosamente o nome das mulheres e alongando os diálogos muito além da tréplica. Neste período feliz, declamava poesias de amor nas rádios, mas agora sem dedicatórias à Marcela. Sabíamos, claro, que logo ocorreria o inevitável: ele acabou por focar sua atenção numa misteriosa mulher que o esperava dentro de um automóvel após os treinos.
Aquilo foi demais para Marcela. Pegou os dois filhos do casal e, encastelada no Chile, avisou ao presidente do Inter que seu marido voltaria para a casa no final do ano. Ela exigia seu retorno por motivos “de família”. O fato era motivo de piadas entre os torcedores do Grêmio e de temor entre nós, os do Inter. Neste ínterim, o futebol do chileno vicejava luxuriante. Ele agregara românticos dribles a seu futebol de resultados e era mais e mais amado pela torcida que comemorava, apesar de receosa da possível vingança de Marcela. E ela veio. Foram reuniões e mais reuniões para tentar demover Dom Elias, mas ele, como bom católico, rescindiu seu contrato com o clube no final de 1976. Perdeu muito dinheiro. O homem que enfrentava os mais perigosos atacantes voltou para a casa feito um cachorrinho. Como é uma das glórias do clube, visita até hoje Porto Alegre, sempre vigiado pela onipresente, modesta e simpática Marcela. Em 1977, quase fomos para segunda divisão. Tudo por culpa da mulher do carro.
Baseada em fatos verídicos ocorridos em 18 de dezembro de 2013. Os nomes dos envolvidos foram dramaticamente alterados.
Pois então houve aquele rebuliço legal do dopinha. Pela primeira vez, pudemos ver todas as esquerdas juntas, as falsas e as verdadeiras. O governador falou, o prefeito discursou, assim como os menores irredutíveis e os torturados. Já que a proposta era a de chamar a casa da morte de Centro de Memória Ico Lisboa, lá estava seu irmão Nei cantando. Também houve performances teatrais e a presença de nosso cartunista preferido. Sim, o conhecido Palestuff lá deixou seus traços.
O que as pessoas não souberam foi de um drama real que ocorreu lá fora, naquela tarde quentíssima. O jornal Vermelho23 mandara o repórter Emir Pereira e o fotógrafo Leonardo Ribas fazerem a cobertura do evento. Na saída, eles encontraram dois amigos, os célebres Zezé Cinzano — editor do Jacaré — e o fotógrafo de duas rodas e dois metros Cauan Sanguinetti. Zezé trouxe a ideia de mudar o nome da Rua Santo Antônio para Ico Lisboa. Ora, ele já vira ações semelhantes num passado recente e sobraram alguns poucos adesivos, que ele recebera. Um deles o do próprio Ico Lisboa! Entraram logo em acordo e subiram lentamente a rua sob o sol escaldante de nossa triste capital. Emir saiu do grupo não por receio, mas por responsabilidade; afinal, sua matéria era esperada na redação. Mas os outros permaneceram para a ação. E arrastaram-se até a esquina.
Em ação anterior, a Duque de Caxias recebeu um nome muito mais digno.
Lá chegando, a primeira dúvida foi a de quem subiria nas costas de quem. Leonardo pegou sua máquina fotográfica e saiu dando ordens:
— Cauan, dá um pezinho pro Zezé. Eu vou registrar em foto. Só vou pegar as mãos e a mudança de Santo Antônio para Ico Lisboa na placa.
Mas Cauan fez um muxoxo e discordou. Queria um outro esquema qualquer. Ficaram Leonardo e Zezé conjeturando enquanto Cauan sumia. Foi neste momento que chegaram, de moto, dois expeditos brigadianos ou porcos, como são mais conhecidos em nossa meiga cidade. Um deles, o Coronel Bicaco, estava preocupado, falando no rádio aos gritos, mostrando serviço à população circunstante. Já o outro, chamado Tenente Portela…
— O que tu tá fazendo com este plástico na mão? — perguntou a Zezé.
A resposta de Zezé foi um tanto agressiva:
— Tu não tem nada a ver com o que eu estou fazendo. É ilícito ficar parado na esquina com um adesivo na mão?
— Se tu vai colar essa merda no poste, é.
— Tu não pode sair questionando todo mundo na rua.
— Não tô questionando todo mundo, rapaz. Tô falando contigo.
Leonardo é um hedonista que tira diversão de tudo. Ele pensava em impor sua visão de mundo quando quedou-se boquiaberto ao observar Cauan saindo de uma lavanderia próxima com uma enorme escada. Desatento, ele passou entre os dois homens da lei, deixando a escada cuidadosamente encostada no poste onde se apoiava Zezé. Sim, como estamos vendo, tudo, SEMPRE, pode piorar.
Depois de cometer tal ato, Cauan sentiu o clima meio assim. Portela parecia deliciado.
— Nunca vi postura mais natural: um sujeito com um adesivo e uma escada ao lado de um poste acompanhado por dois amigos, sob o sol de cinquenta graus de Forno Alegre. É uma nova religião?
— Sou acusado de quê, porra? — perguntou Zezé, hesitando entre brigar com o guarda ou estrangular Cauan. Mas o policial militar também estava aquecendo.
— Olha aqui, seu idiota. Nada de me desrespeitar. Tá pensando o quê? Olha a tua situação! — vociferou Portela.
Nesta altura, Leonardo tratou de vir com panos quentes, apesar da temperatura.
— Olha aqui, seu guarda, o elemento é gente boa. É que a gente estava ali no dopinha. O Sr. sabe o que é o dopinha? É um dos lugares onde a polícia torturava e matava gente como o Zezé e eu durante a ditadura. Ah, gente como tu também, porque já vi que tu é um cara digno e sério, que não gosta de coisa errada… Mas, porra, como o teu amigo berra neste rádio, hein?
— Poderia não interromper a enrolação, por favor?
— Então, a ideia da manifestação de hoje, que teve a presença do governador e do prefeito, era a de conseguir que o estado adquirisse a casa de número 600, ali embaixo ó, para fazer o Centro de Memória Ico Lisboa, um sujeito que foi irmão do Nei Lisboa e que foi morto na cas… Mas, porra, esse teu amigo nem precisa de rádio pra falar com o QG, né?
— Deixa o Bicaco, desembucha.
— Então, para colaborar com o evento de que participou o teu chefe, o governador Tarso Genro, a gente estava pensando…
— CARALHO! Nós estamos na rua errada! — berrou o Coronel Bicaco, inteiramente estressado. — Temos que ir é na Santo Inácio e a gente veio pra Santo Antônio. Vamo pra lá agora!
Portela preparou-se para seguir seu colega, mas antes dirigiu-se a Leonardo.
— Tu é um cara legal e educado.
E a Zezé:
— E tu é um baita chato.
E foram embora para salvar algum endinheirado na Santo Inácio. Afinal, é a especialidade da corporação.
Já a placa…
.oOo.
Observações finais: 1. As fotos são de Bernardo Jardim Ribeiro e Carlos Latuff (última). 2. Peço desculpas aos envolvidos nesta brincadeira.
Cercada por megalivrarias e sem nenhuma poção mágica a que possa recorrer, a irredutível Bamboletras resiste. Alheia ao modelo triunfante de livrarias onde os livros são procurados em terminais de computador — Vou ver se tem, poderia soletrar para mim?, diz o atendente, dirigindo-se a um terminal livre — , na pequena Bamboletras a resposta vem imediata e a caminhada é até a estante. Com um dedo, o livro é puxado e mostrado e, se o usuário perguntar, poderá ouvir uma opinião a respeito. Os livros do acervo não são quaisquer. Tudo é escolhido e conhecido pela dona e seus funcionários. Pois quem entra na Bamboletras sente que ali a literatura não está pressionada (ou demolida) sob pesadas cargas de auto-ajuda, vampiros e tons.
A dona e responsável pela pequena e acolhedora Bamboletras (R. Gen. Lima E Silva, 776, Centro, Porto Alegre, tel 51 3221-8764) é Lu Vilella, a jornalista com pós-graduação em literatura que a criou há 18 anos. “Quando eu estava na pós, enquanto meu gosto ia ficando mais requintado, notei que todos os títulos que eu queria ou precisava ler não estavam nas livrarias. Então eu pensei que Porto Alegre precisava de um local especializado em literatura”.
“Se a comunidade não demonstrasse interesse numa pequena livraria de qualidade, nós simplesmente fecharíamos” | Foto: Ramiro Furquim / Sul21
No começo, o foco era a literatura infantil como o nome denuncia: Bamboletras, bambolê de letras. “E comecei a vender livros infantis. A Bamboletras era a única onde as pessoas podiam escolher entre um Ou isto ou aquilo de Cecília Meirelles, ou um Drummond, um Quintana, um Guimarães Rosa ou um Erico para seus filhos”. A livraria foi fundada na Rua da República, 95, onde permaneceu apenas um ano. Depois mudou-se para onde está hoje, no Nova Olaria. “O lugar da Bamboletras é aqui. Recebi convites para abrir filiais em todos os shoppings que abriram, mas meu lugar é aqui”, conta Lu. Logo ampliou seu acervo para abarcar a literatura nacional e estrangeira, o ensaio, a poesia e o que se vê hoje é uma espécie de crescente acervo básico, onde os bons livros são substituídos assim que vendidos. “Quem é apaixonado ou viciado em literatura, aqui na cidade, já foi levado a visitar a Bamboletras por um motivo ou outro, tenho certeza”, completa com simplicidade.
E as megalivrarias? “Quando a Livraria Cultura apareceu em Porto Alegre, a Bamboletras sentiu o impacto”. Naquela época, Lu reuniu sua equipe e disse que teriam que melhorar em tudo: na organização do espaço, no acervo, no atendimento e na atenção para as boas novidades. “Porém, se a comunidade não demonstrasse interesse numa pequena livraria de qualidade, nós simplesmente fecharíamos, pois, se é para vender qualquer coisa, prefiro fechar. Eu só vendo o que conheço e gosto”.
Os banquinhos culturais da Bamboletras | Foto: Ramiro Furquim / Sul21
O primeiro ano de convivência com as megalivrarias foi complicado. Houve um mês de dezembro – mês de colheita para os livreiros – em que as vendas caíram muito. “Eu me desesperei, porém, lentamente, os clientes retornaram em função das sugestões, da orientação, da conversa, do antigo vínculo, da amizade. Nosso público é o da literatura. Aqui não tem 50 tons de nada. Às vezes, entram umas pessoas aqui atrás de best sellers. Neste caso, ou o cara se adapta — e há muitos que se apaixonam por nós — ou vai embora. É que aqui nosso banquinho é da Frida ou da Tarsila, os marcadores são do Dali, os imãs de geladeira são de Tchékhov, Kafka ou Klimt, os livros são diferentes do comum. Às vezes, boto em destaque livros de poesias da Sophia de Mello Breyner Andresen, por exemplo. Então o cara que entra se pergunta que porra é essa, optando por ficar ou não. Já o cara da área, o que já curte cultura, se sente em casa”.
Agentes da Prefeitura Municipal costumam bater em nossas casas a fim de verificar se não mantemos condições propícias ao surgimento do mosquito da dengue, o aedes aegypti. Acho que todos sabem que dito cujo se reproduz em qualquer lugar onde houver condições propícias (água parada limpa ou pouco poluída).
Pois ontem, após almoçar no Centro Peruano, passávamos pelo meio da Redenção, próximo ao Auditório Araújo Vianna, e encontramos um local que talvez vise substituir o zoológico retirado do centenário parque. Tratava-se do maior criadouro do mosquito da dengue a céu aberto de nossa cidade. Uma maravilha! Vejam as fotos abaixo, tiradas por este brioso repórter.
Como diz nosso prefeito, chove muito em Porto Alegre. OK, não chovia desde quarta-feira, mas não interessa.
Heather e Paul McCartney com Vladimir Putin em 2003
O músico tornou pública uma carta que escreveu para o líder russo há um mês. Ele está aguardando uma resposta.
Leiam abaixo a minha carta ao presidente Vladimir Putin, ainda não respondida. O embaixador russo gentilmente me comunicou que a situação “não é corretamente apresentada na mídia mundial .
Seria ótimo se esse mal-entendido pode ser resolvido e os manifestantes pudessem estar em casa com suas famílias, em tempo para o Natal . Vivemos na esperança.
Paul McCartney
A carta enviada a Putin:
14 de outubro de 2013
Querido Vladimir,
Espero que esta carta o encontre bem. Faz mais de dez anos que eu toquei na Praça Vermelha, mas acredite que muitas vezes penso na Rússia e nos russos.
Escrevo-lhe sobre os 28 ativistas do Greenpeace e dois jornalistas detidos em Murmansk. Espero que você não se oponha a que eu comente o caso.
Eu ouço dos meus amigos russos que os manifestantes estão sendo retratados em seu país como sendo contra a Rússia, que eles estavam fazendo o jogo dos governos ocidentais, e que ameaçaram a segurança das pessoas que trabalham na plataforma de petróleo do Ártico.
Estou escrevendo para garantir que o Greenpeace não é certamente uma organização anti-Rússia. Na minha experiência, eles tendem a irritar todos os governos. E eles nunca pedem recursos a nenhum governo ou corporação de qualquer lugar do mundo.
E acima de tudo, eles são pacíficos . Na minha experiência, a não-violência uma parte central de sua atuação.
Leio que você disse que eles não são piratas – bem, isso é algo que todo mundo pode concordar. Tão importante quanto isso, é o fato de que eles não pensam que estão acima da lei. Eles dizem que estão dispostos a responder por aquilo que realmente fizeram, então não poderia haver alguma forma de deixá-los livres?
Vladimir, milhões de pessoas em dezenas de países seriam muito gratas se você interviesse para pôr fim a este caso. Eu entendo, claro, que os tribunais russos e a Presidência da Rússia são entidades distintas. No entanto, pergunto-me se você não poderia usar sua influência a fim de reunir os detentos com suas famílias.
Quarenta e cinco anos atrás, eu escrevi uma canção sobre a Rússia para o Álbum Branco, bem na época em que não era moda dizer coisas boas sobre o seu país. Essa música tinha uma das minhas frases favoritas dos Beatles: “Been away so long I hardly knew the place, gee it’s good to be back home.”
Você poderia fazer isso se tornar realidade para os prisioneiros do Greenpeace?
Espero que, quando nossas agendas permitam, possamos nos encontrar novamente em Moscou.
Atenciosamente,
Paul McCartney
Já faz tempo, quase uma semana. Na última terça-feira à noite, fui convidado para a apresentação do Solar Coruja, na Rua Riachuelo, 525. No coquetel, houve cerveja Coruja, comidinhas e música, pois há salas para tanto na bela casa do novo Solar. Mas o que impressiona é o novo e extraordinário local para happy hours na cidade. E é isso mesmo. O bar abre das 17 às 22h, oferecendo cervejas e acompanhamentos, mas nos outros horários haverá cursos sobre, é claro, cerveja.
A Coruja parece ser uma empresa diferente, preocupando-se frequentemente em ligar a arte e a história a seus produtos. Deve ser matéria de convicção de seus proprietários a insistência num gênero de convívio que privilegia o frutífero e a sabedoria ao beber. Porque arte, música, livros e espaços culturais como o StudioClio não dão dinheiro no Brasil, mas os caras insistem. É bonito e digno e eu adoro a Labareda, aquela cerveja com pimenta…
Abaixo, quatro fotos do local para sentir o clima:
Nunca pensei que sentiria tanta falta do sol, mas esta sequência de dias chuvosos está realmente insuportável. Hoje, a bola de fogo amarela brincou por brevíssimos momentos no céu da cidade. Eu e o Fernando Guimarães chegamos a brincar no Facebook. Ele disse: “Que estranho: uma bola brilhante, acho que de fogo, começa aparecer no céu de POA. O que será?”. Foram 5 minutos e o sol voltou a se esconder… Triste.
Pois todos nos esquecemos do sol. Amanhã, o Climatempo e todas as previsões prometem “Dia de sol, com nevoeiro ao amanhecer. As nuvens aumentam no decorrer da tarde.” A previsão é de 0 (zero) mm de chuva. Espero que isto signifique um pouco de sol para nós. Meus sete leitores sabem como eu gosto do frio. Mas chuva contínua e gelada por quase uma semana? Francamente, aí já é demais.
A vereadora Mônica Leal (PP) ficou irritada ao verificar que seu quadro não estava no mural das vereadoras e acusou os manifestantes de o terem roubado. No entanto, um funcionário da Câmara de Vereadores de Porto Alegre a avisou que o retrato havia sido guardado por seus assessores pois estava com o vidro quebrado. A vereadora, então, solicitou ao presidente da Casa, Thiago Duarte (PDT), que fosse aberta uma queixa-crime por conta do vidro danificado.
“Para Fortunati, Porto Alegre não está preparada para combater grandes incêndios”. OK. E a Prefeitura de Porto Alegre está preparada para fiscalizar obras a 30 metros de distância da prefeitura em um prédio, sob sua responsabilidade e sem PPCI há seis anos? Roto falando do esfarrapado?
Fernando Guimarães, no Facebook
Ontem, o Mercado Público de Porto Alegre foi atingido por um incêndio. Desde a minha infância, época em que ele estava mais para um pardieiro, sou usuário do local. A Banca 40, a salada de fruta com nata, o Gambrinus, o Sayuri que eu e minha filha adoramos, as iguarias daquela banca dos vinhos que sempre esqueço o nome — mas nunca de ir lá –, o Café do Mercado, a Tainha na Telha, mais um monte de cafés no lado de fora, as rações para animais, os peixes, a Japesca, sua temaqueria, as casas de religiões africanas, os chás, as ervas, tudo está lá reunido. Difícil sair do Mercado de mãos vazias ou sem algo no bucho.
Também é um local popular, cercado de terminais de ônibus, bem no centro de Porto Alegre. E bem ao lado da prefeitura. Então, bem ao lado da prefeitura, repito, no Centro Histórico de Porto Alegre, tínhamos um prédio histórico e útil, querido da cidade e muito frequentado. Só que o Plano de Prevenção Contra Incêndios (PPCI) do Mercado Público estava vencido há seis anos, há uma gestão e meia. E muita gente devia saber. Faz um mês a Band avisou que os extintores de incêndio, por exemplo, estavam sem vistoria de segurança há pelo menos dez meses e que a prefeitura voltava a prometer uma inspeção. Ontem, pouco adiantariam os extintores internos, mas e o PPCI? Será que a Kiss não funcionou como lição?