Buscando contato com o travesseiro de Dilma Rousseff

No dia 8, Dilma Rousseff brindou-nos com um belo discurso no Dia Internacional da Mulher. Foi um discurso feminista e interessante sob todos os aspectos. E, falemos sério, era autêntico. Hoje ela está em Roma a fim de depositar seu ósculo na mão do novo Papa. Acho lamentável que ela se submeta a um Papa tão conservador e que já deu sinais bastante antifeministas, mas o travesseiro de Dilma deve ter-lhe dito coisas terríveis nos últimos dias… Há um grande eleitorado que se diz católico, Dilminha… O Papa é populista e será pop… Ele fala em opção pelos pobres, tu também… É um hermanito e, indo lá, tu fazes alguns pontos com eles… A mídia virá de graça até no Jornal Nacional — que vai te dar 4 preciosos segundos…

Maldito travesseiro! Resultado, ela foi, está lá, já beijou e tirou as tais fotografias.

Chico, Dilma e, de vermelho, o bonitão de Bento XVI | Foto: Roberto Stuckert Filho

Hoje, a Agência Brasil diz que, antes de falar com o Bergoglio, ela elogiou a iniciativa do papa de dar atenção aos pobres. “É claro que o mundo pede hoje, além disso [da preocupação com os pobres], que as pessoas sejam compreendidas e que as opções diferenciadas das pessoas sejam respeitadas”, acrescentou. Será que ela vai dizer isto a ele? Se disser, sobe no meu conceito. Mas nem teve tempo, claro, foi um encontro em pé, rapidinho, ao lado do padre-sexy Georg Gänswein. Só espero que ela não diga que, dã, “Nunca um papa tinha me beijado”, como disse Cristina Kirchner tentando embarcar na onda do papa pop. (Me deu um enjoo agora, sei lá).

Porque a Dilma morre de medo da migração dos votos dos religiosos, dos evangélicos e também da grande imprensa — financiada pelo governo para bater no governo. Tanto que 70% da verba federal para a publicidade vai para os dez maiores veículos de informação, justamente os mais conservadores e direitistas, que consideram satanistas quem olha os indicadores e aprova o governo do ex-presidente Lula e o da atual presidente.

Mas acordei mal humorado. Sei que desde sempre a política foi e seguirá sendo algo tortuoso e não devo esperar que um governante siga meu ideário sem fazer pit stops em prostíbulos. OK, Dilma, beije a mão do homem, mas, já que estás na Europa, dê uma olhada nos jornais. Alô, travesseiro da Dilma?, aconselhe-a a dar uma olhada na mídia. Aí, do ladinho, existem opções à direita e à esquerda. Os canhotos também recebem publicidade pública (e privada) que lhes permitem manter uma boa qualidade, competindo com os PIGs deles. Pergunta aí na Itália, Dilma, como vai la stampa suini. Verás que ela não é tão hegemônica quanto é aqui. Pergunta se a Miei cari amici daí demitiu seus jornalistas, pergunta!

E mais não digo porque o trabalho me aguarda.

Atea denuncia Colégio Estadual gaúcho que teria tornado obrigatório o ensino religioso

Foto: Divulgação

(Atualização das 19h25 de 19/03: a desmatrícula de Ensino Religioso foi finalmente autorizada, mas a diretora está ameaçando levar o garoto ao juiz para processá-lo, civil e criminalmente, por causa de uma gravação que ele teria feito. Não a ouvi, não procurei, nem quero que me mostrem).

A Associação de Ateus e Agnósticos do Brasil (Atea) enviou ofício ao Colégio Estadual Augusto Meyer, de Esteio (RS). A atitude deve-se ao fato de um aluno afirmar que o Ensino Religioso tornou-se disciplina obrigatória do currículo do Colégio. A denúncia partiu deste mesmo aluno do 1° grau, ateu, que informou que tanto a professora de Ensino Religioso, como a diretora e vice-diretora do Augusto Meyer, defenderam a obrigatoriedade da matéria.

A alegada obrigatoriedade do ensino religioso deu origem a incidente em uma dessas aulas, em que o aluno afirma que a professora riu dele por sua descrença, assim como os demais colegas, com a anuência dela, o que constituiria um caso de bullying.

A Constituição Federal tem como cláusula pétrea o Art. 5º, que estabelece que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”.

De acordo com o artigo 210 da Constituição Federal e a lei de Diretrizes e Bases da educação, o Ensino Religioso não é obrigatório, mas de matrícula facultativa.

O documento abaixo foi entregue na secretaria da Escola pelo aluno. Curiosamente, a secretaria recusou-se a dar o visto de “Entregue” na cópia que ficou com o menino.

OFÍCIO n.002 – 2013

A Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, entidade sem fins lucrativos sediada na cidade de São Paulo (SP) e registrada na Receita Federal (CNPJ) sob o número 10.480.171/0001-19, vem respeitosamente oficiar a sra. Nara Machado, diretora do Colégio Estadual Augusto Meyer, situado à R Rio Pardo, 1187, em Esteio (RS), tendo em vista o seguinte:

1. DOS FATOS

Informa-nos o adolescente X., ateu, regularmente matriculado na turma 104 do 1º ano do ensino médio do turno vespertino do dito estabelecimento desde o dia 07/03/2013, que a sua professora de Ensino Religioso, assim como a diretora e vice-diretora, alegam que o Ensino Religioso é disciplina obrigatória do currículo escolar que assim o obrigam a frequentar as aulas dessa disciplina

2. DO DIREITO

a) A Constituição Federal tem como cláusula pétrea o Art. 5º, que estabelece que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”.
b) O art. 3 da CF afirma que “constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil… IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.
c) Em consonância com esse dispositivo, o ensino religioso estabelecido no § 1º do art. 210 da Constituição Federal se estabelece da seguinte maneira:
O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental.
d) A lei de Diretrizes e Bases da educação (Lei Nº 9.394, de 20/12/1996) repete e reforça a CF, lendo-se
“O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão”

e) um dos reflexos do princípio constitucional da igualdade é o princípio da impessoalidade da administração pública, expresso no art. 37 da Constituição Federal, que assegura que a neutralidade tem que prevalecer em todos os comportamentos da administração pública e veda a adoção de comportamento administrativo motivado pelo partidarismo. Custeada com dinheiro público, a atividade da Administração Pública jamais poderá ser apropriada, para quaisquer fins, por aquele que, em decorrência do exercício funcional, se viu na condição de executá-la. Cabe aos servidores públicos, portanto, informar a população de maneira correta a respeito da legislação vigente, sob pena de incorrerem em falta administrativa grave, além de violarem direitos fundamentais dos alunos e de seus pais.

f) Ainda que a maioria dos pais, alunos e/ou professores se identifique e esteja de acordo com a obrigatoriedade do ensino religioso, a lei não lhes faculta criar uma obrigação como se da lei viesse. Os direitos fundamentais são indisponíveis e portanto não estão sujeitos a voto.

3. DO PEDIDO

a) A alegada obrigatoriedade do ensino religioso deu origem a incidente que reputamos grave durante uma dessas aulas, em que o citado aluno alega que a professora riu dele por sua descrença, assim como os demais colegas, com anuência dela – o que constitui claro caso de bullying, envolvendo comportamentos extremamente inapropriados de alunos e de uma professora, o que em tese pode até configurar ilícito penal. A cessação da alegação de obrigatoriedade fará com que eventos desse tipo não mais se repitam com os alunos atuais ou futuros.
b) Caso a diretoria continue impedindo a desmatrícula do citado aluno, ou de qualquer outro, da disciplina de ensino religioso ao fim do prazo de 5 dias úteis a partir do recebimento desta, isso implicará nas medidas administrativas e judiciais cabíveis junto à Secretaria de Educação, ao Conselho Tutelar e ao Ministério Público Estadual para garantir os direitos constitucionais dos alunos da instituição.
c) Para atestar a conformidade da instituição com a lei e informar corretamente os cidadãos, o colégio deve entregar uma circular a cada um dos alunos regularmente matriculados, e afixar uma cópia dela nos murais de cada uma das salas de aula, em que conste claramente que, segundo o art. 210 da Constituição Federal e a lei de Diretrizes e Bases da educação (Lei Nº 9.394, de 20/12/1996), o Ensino Religioso não é obrigatório, mas de matrícula facultativa, e que portanto a diretoria receberá e prontamente aprovará todos os pedidos de desmatrícula de Ensino Religioso dos interessados, nos termos da lei.
d) E para que fique plenamente documentada a posição da instituição, o colégio deve enviar uma cópia da circular e fotos dos avisos afixados nos murais do colégio através do email da Atea ([email protected]).

São Paulo, 18 de março de 2013

Daniel Sottomaior
Presidente
Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos

Retrocesso

Por Martín Kohan

Papa Francisco I e Máxima Zorreguieta com o príncipe Willem-Alexander (créditos: Josuecedeno e Holger Motzkau)

Entre nós, aqui na periferia, o moderno funciona quase sempre aos tropeços e um pouco à deriva. Nossas democracias têm sido muitas vezes descontínuas e imperfeitas. Somos oprimidos pela pobreza, pelas formas mais extremas de desigualdade. Mas pelo menos algumas taras não nos têm atormentado tanto, talvez por nos vermos eximidos da Idade Média: uma Argentina republicana e laica ganhou força especial por meio de grandes escritores que a imaginaram em meados do século XIX.

Neste sentido, o ano de 2013 nos desferiu dois duros golpes, contundentes e difíceis de assimilar: primeiro uma rainha argentina, como a que se apresenta para a coroação na Holanda; e agora, como se já não fosse o bastante, um papa argentino em Roma. As instituições mais retrógradas, com suas liturgias anacrônicas e sombrias, nos vigiam e nos deprimem, e talvez nos envergonhem.

via

O novo Papa e a ditadura militar argentina

Algumas matérias encontradas que vinculam o cardeal Bergoglio aos militares, a sequestros..:

Aqui.

O cardeal Bergoglio e os trinta anos do golpe na Argentina

12/5/2006

Eis de novo em evidência a Igreja católica da Argentina, uma das mais conservadoras, senão reacionária da América Latina e cuja cumplicidade durante os atrozes anos da ditadura militar, entre 1976 e 1983, escandalizaram o mundo.

Quem traz para a superfície a memória daquele período nefasto, cravejado de 30 mil desaparecidos, é Horácio Verbitski, jornalista e escritor argentino que foi nestes 22 anos de democracia um dos mais próximos companheiros das Mães da Praça de Maio.

Agora, com Kirchner, o vento mudou e são disse Verbitski “ao menos 200 os militares na prisão” e 1.400 as causas judiciárias pela violação dos direitos humanos. A notícia é do Il Manifesto, 10-5-06.

Segundo o Il Manifesto, Verbitski é autor de quinze livros, entre eles O Vôo que relata o testemunho do capitão da marinha Adolfo Scilingo sobre os vôos da morte, nos quais detentos vivos eram jogados dos aviões no Rio da Prata.

Agora, Verbitski – afirma o jornal italiano – lança na Itália o seu livro A Ilha do Silêncio no qual desenvolve uma implacável acusação contra o papel da Igreja na ditadura argentina.

Em A Ilha do Silêncio, que se lê como um romance de fato e atroz, diz o Il Manifesto, comparecem todos os nomes notáveis da Igreja na Argentina, os cardeais Caggiano, Aramburo e Pimatesta, os bispos e vigários castrenses Tortolo, Bonamin e Grasseli, e o habitual núncio Pio Laghi. Mas também o nome do atual cardeal Jorge Mario Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, que poderia ter se tornado o primeiro papa latino-americano no conclave após a morte de Wojtyla, vencido por Ratzinger.

De acordo com Il Manifesto, “uma vitória do jesuíta Bergoglio teria sido uma desgraça não menor daquela do pastor alemão”. E Verbitski, segundo o jornal, explica e documenta o porque.

Esclarecedor e demolidor, em particular, é o acontecimento dos dois padres jesuítas, Orlando Yorio e Francisco Jalics, que fizeram o erro de trabalhar nas favelas de Buenos Aires e por isto foram traídos e entregues aos militares por Bergoglio (que obviamente nega), diz o jornal a partir de relatos do jornalista.

Verbitski contou estes fatos na Universidade de Roma, apresentando o livro, acompanhado pelo vice-reitor Maria Rosalba Stabili e pelo professor Cláudio Tognonato. Eles três e outros inumeráveis participantes falarão hoje e amanhã da “Argentina; trinta anos do golpe. O Exílio na Itália” destaca o Il Manifesto.

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Bergoglio – Novos testemunhos sobre Bergoglio e a ditadura argentina

O papel do agora cardeal Bergoglio, da Argentina, no desaparecimento de sacerdotes e o apoio à repressão ditatorial é confirmado por cinco novos testemunhos. Falam um sacerdote e um ex-sacerdote, uma teóloga, um integrante de uma fraternidade leiga que denunciou noVaticano o que acontecia na Argentina em 1976 e um leigo que foi sequestrado junto com dois sacerdotes que não reapareceram.

A reportagem é de Horacio Verbitsky, publicada no jornal Página/1218-04-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Cinco novos testemunhos, oferecidos de forma espontânea a partir da notícia “Seu passado o condena”, confirmam o papel do agora cardeal Jorge Bergoglio na repressão do governo militar sobre as fileiras da Igreja Católica que ele hoje preside, incluindo o desaparecimento de sacerdotes. As testemunhas são uma teóloga que durante décadas deu catequese em colégios do bispado de Morón, o ex-superior de uma fraternidade sacerdotal que foi dizimada pelos desaparecimentos forçados, um integrante da mesma fraternidade que denunciou os casos ao Vaticano, um sacerdote e um leigo que foram sequestrados e torturados.

Teóloga de minissaia

Dois meses depois do golpe militar de 1976, o bispo de MorónMiguel Raspanti, tentou proteger os sacerdotes Orlando Yorio e Francisco Jalics porque temia que fossem sequestrados, mas Bergoglio se opôs. Assim indica a ex-professora de catequese em colégios da diocese de Morón, Marina Rubino, que nessa época estudava teologia no Colégio Máximo de San Miguel, onde Bergoglio vivia. Por essa circunstância, ela conhecia a ambos. Além disso, ela havia sido aluna de Yorio e Jalics e sabia do risco que eles corriam. Marina decidiu dar seu testemunho depois de ler a nota sobre o livro de descargo de Bergoglio.

Marina Rubino vive em Morón desde sempre. No Colégio do Sagrado Coração de Castelar, ela dava catequese às crianças e formava os pais, o que lhe parecia mais importante. “Uma vez por mês, nos reuníamos com eles. Era um trabalho muito bonito. Essa experiência durou 15 anos”. Também deu cursos de iniciação bíblica “em todos os lugares não turísticos da Argentina. Tínhamos uma publicação, com comentários aos textos dos domingos. Queríamos que as comunidades tivessem elementos para pensar”. Desde que se aposentou, dá aulas de tecelagem em centros culturais, sociedades de fomento ou em casas.

Ela não quis ingressar no seminário de Villa Devoto porque não lhe interessava a formação tomista, mas sim a Bíblia. Em 1972, começou a estudar teologia na Universidad del Salvador. A carreira era cursada no Colégio Máximo de San Miguel. No primeiro ano, teve como professor Francisco Jalics e, no segundo, Orlando Yorio. Enquanto estudava, coordenava a catequese no colégio Sagrado Coração de Castelar, onde também estava a religiosa francesa Léonie Duquet. “Eram tempos difíceis. Por fazer no colégio uma opção pelos pobres levando a sério oConcílio Vaticano II e a reunião do Celam de Medellín, perdemos a metade dos alunos. Mas mantivemos essa opção e continuamos formando pessoas mais abertas à realidade e ao compromisso com os mais necessitados, defendendo que a fé tem que fortalecer essas atitudes, e não as contrárias”.

O bispo era Miguel Raspanti, que então tinha 68 anos e havia sido ordenado em 1957, nos últimos anos do reinado de Pio XII. Era um homem bem intencionado que fez todos os esforços para se adaptar às mudanças do Concílio, do qual participou. Depois do “cordobazo” de 1969, repudiou as estruturas injustas do capitalismo e estimulou o compromisso com a “libertação de nossos irmãos necessitados”. Mas o problema mais grave que ele pôde identificar em Morón foi o aumento dos impostos sobre o pequeno comerciante e o proprietário da classe média. “Muitas vezes, foi preciso discutir e defender essas opções no bispado, e Dom Raspanti costumava terminar as entrevistas dizendo-nos que, se acreditávamos que era preciso fazer esta ou aquela coisa, se estávamos convencidos, ele nos apoiava”, lembra Marina. Suas palavras são acompanhadas com atenção por seu esposo, Pepe Godino, um ex-padre de Santa María, Córdoba, que integrou o Movimento de Sacerdotes para o Terceiro Mundo.

Marina cursava teologia em San Miguel das 8h30min às 12h30min. Não haviam lhe dado a bolsa, porque era mulher, mas, como era a coordenadora de catequese em um colégio do bispado, Raspanti intercedeu e obteve que uma entidade alemã se encarregasse dos custos dos seus estudos. Também não quiseram lhe dar o título quando se formou em 1977. O diretor da teologia,José Luis Lazzarini, lhe disse que havia um problema, que não haviam se dado conta de que ela era mulher. Marina partiu em busca de quem a havia recebido ao ingressar, o jesuíta Víctor Marangoni:

– Quando você me viu pela primeira vez, você se deu conta de que eu era mulher ou não?

– Sim, claro, por quê? – respondeu atordoado o vice-reitor diante dessa forte mulher de minissaia.

– Porque Lazzarini não quer me dar o título.

Marangoni se encarregou de reparar essa absurdo. Marina tem seu título, mas a entrega oficial nunca ocorreu.

A desproteção

Em um meio-dia, ao sair de seus cursos, “encontrei Dom Raspanti de pé no hall da entrada, sozinho. Não sei por que o mantinham ali esperando. Estava muito silencioso. Perguntei se estava esperando por alguém, e ele me disse que sim, o padre provincial Bergoglio. Tinha o rosto desfigurado, pálido, acreditei que estava mal de saúde. Cumprimentei-o, perguntei se ele se sentia bem e o convidei a passar para uma salinha que havia no hall”.

– Não, não me sinto mal, mas estou preocupado – respondeu Raspanti.

Marina diz que tem uma memória fotográfica daquele dia. Ela fala com voz calma, mas se percebe o apaixonamento em seus olhos grandes e expressivos. Pepe a olha com ternura.

“Me impressionou ver Raspanti sozinho, ele que sempre ia com o seu secretário”, diz. Marina sabia que seus professores Jalics e Yorio e um terceiro jesuíta que trabalhava com ela no colégio de Castelar, Luis Dourron, haviam pedido para passar para a diocese de Morón. Yorio, Jalics, Dourron e Enrique Rastellini, que também era jesuíta, viviam em comunidade desde 1970, primeiro em Ituzaingó e depois no Barrio Rivadavia, junto à Gran Villa do Bajo Flores, com conhecimento e aprovação dos sucessivos provinciais da Companhia de JesusRicardo Dick O’Farrell e Bergoglio.

“Eu lhe disse que Orlando e Francisco haviam sido meus professores e que Luis trabalhava conosco na diocese, que eram irrepreensíveis, que não duvidasse em recebê-los. Todos estávamos inclinados para que pudessem vir para Morón. Nenhum dos que conheciam a situação se opunha. Raspanti me disse que era sobre isso que vinha falar com Bergoglio. Já havia recebido Luis, mas precisava de uma carta na qual Bergoglio autorizasse a passagem de Yorio e Jalics”.

Marina entendeu que era uma simples formalidade, mas Raspanti lhe esclareceu que a situação era mais complicada. “Com as más referências que Bergoglio havia mandado, ele não podia recebê-los na diocese. Estava muito angustiado porque, nesse momento, Orlando e Francisco não dependiam de nenhuma autoridade eclesiástica e me disse:

– Não posso deixar dois sacerdotes nessa situação, nem posso recebê-los com o relatório que ele me mandou. Venho para lhe pedir que simplesmente os autorize e que retire esse relatório que dizia coisas muito graves.

Qualquer um que ajudasse a pensar era guerrilheiro, comenta Marina. Acompanhou seu bispo até que Bergoglio o recebeu e depois foi embora. Ao sair, viu que o carro de Raspanti também não estava no estacionamento. “Deve ter vindo de ônibus, para que ninguém o seguisse. Queria que a coisa ficasse entre eles dois. Estava fazendo o impossível para dar-lhes proteção”.

A teóloga acrescenta que a angústia de Raspanti lhe impressionou, porque, “mesmo que ele não pudesse ser qualificado de bispo progressista, sempre nos defendeu, defendeu os padres questionados da diocese, levava a dormir na casa episcopal aqueles que corriam mais risco e nunca nos proibiu de fazer ou dizer algo que considerássemos fruto do nosso compromisso cristão. Como bom salesiano, se comportava como uma galinha choca com seus padres e seus leigos, abrigava, cuidava, mesmo que não estivesse de acordo. Eram pontos de vista diferentes, mas ele sabia escutar e aceitava muitas coisas”.

Um desses padres é Luis Piguillem, que havia sido ameaçado. Ele voltava de bicicleta quando se topou com uma barreira policial que impedia a passagem. Insistiu que queria passar, porque sua casa ficava no bairro, e um policial lhe disse:

– Você vai ter que esperar porque estamos fazendo uma operação na casa do padre.

Piguillem deu meia volta com sua bicicleta e se afastou sem olhar para trás. Dali, foi para o bispado de Morón, onde Raspanti lhe deu refúgio. Os militares disseram que ele havia se escondido debaixo das saias do bispo. Mas não se atreveram a ir buscá-lo ali.

– Raspanti era consciente do risco que Yorio e Jalics corriam?

– Sim. Disse que tinha medo de que desaparecessem. Dois sacerdotes não podem ficar no ar, sem um responsável hierárquico. Poucos dias depois, soubemos que eles os haviam levado.

De Córdoba a Cleveland

Outro testemunho recolhido a partir da publicação do domingo é o do sacerdote Alejandro Dausa, que, na terça-feira 03 de agosto de 1976, foi sequestrado em Córdoba, quando era seminarista da Ordem dos Missionários de Nossa Senhora de La Salette. Depois de seis meses nos quais foi torturado pela polícia cordobesa no Departamento de Inteligência D2, ele pôde viajar para os Estados Unidos, aonde o responsável do seminário já havia chegado, o sacerdote norte-americano James Weeks, por quem o governo de seu país se interessou. Neste ano, irá se realizar em Córdoba o julgamento daquele episódio, cujo principal responsável é o general Luciano Menéndez. Agora, Dausa vive na Bolívia e conta que tanto

Ao chegar aos EUA, soube por órgãos de direitos humanos que Jalics se encontrava em Cleveland, na casa de uma irmã. Dausa e os outros seminaristas, que estavam iniciando o noviciado, convidaram-lhe para dirigir dois retiros espirituais. Ambos foram realizados em 1977, um em Altamont (Estado de Nova York) e outro em Ipswich (Massachusetts). Dausa lembra: “Como é natural, conversamos sobre os sequestros respectivos, detalhes características, antecedentes, sinais prévios, pessoas envolvidas etc. Nessas conversas, ele nos indicou que Bergoglio os havia entregue e denunciado”.

Na década seguinte, Dausa trabalhava como padre na Bolívia e participava dos retiros anuais da La Salette na Argentina. Em um deles, os organizadores convidaram Orlando Yorio, que nessa época trabalhava em Quilmes. “O retiro foi em Carlos PazCórdoba, e também nesse caso conversamos sobre a experiência do sequestro. Orlando indicou o mesmo que Jalics sobre a responsabilidade de Bergoglio”.

Os assuncionistas

Yorio e Jalics foram sequestrados no dia 23 de maio de 1976 e conduzidos à Esma [Escola de Mecânica da Armada], onde um especialista em assuntos eclesiásticos que conhecia a obra teológica de Yorio lhes interrogou. Em um dos interrogatórios, perguntou-lhe sobre os seminaristas assuncionistas Carlos Antonio Di Pietro e Raúl Eduardo Rodríguez. Ambos eram colegas de Marina Rubino no curso de teologia de San Miguel e desenvolviam trabalhos sociais no bairro popular La Manuelita, de San Miguel, onde viviam e atendiam à capela Jesus Operário. Dali, foram sequestrados dez dias depois que os dois jesuítas, no dia 04 de junho de 1976, e levados para a mesma casa operativa que Yorio e Jalics. Na metade da manhã, Di Pietro telefonou para o superior assuncionista Roberto Favre e lhe perguntou pelo sacerdote Jorge Adur, que vivia com eles em La Manuelita.

– Recebemos um telegrama para ele e temos que lhe entregar – disse.

Desse modo, conseguiu que a Ordem se pusesse em movimento. O superior Roberto Favreapresentou um recurso de habeas corpus, que não obteve resposta. Adur conseguiu sair do país, com a ajuda do núncio Pio Laghi, e se exilou na França. Voltou de forma clandestina em 1980, convertido em capelão do autodenominado “Exército Montonero” e foi preso-desaparecido no trajeto para o Brasil, onde procurava se encontrar com o Papa João Paulo II.

O mesmo caminho do exílio foi seguido por um dos detidos na batida policial do bairro La Manuelita, o então estudante de medicina e hoje médico Lorenzo Riquelme. Quando recuperou sua liberdade, a Fraternidade dos Irmãozinhos do Evangelho lhe deu hospitalidade em sua casa portenha da rua Malabia. Em comunicações desde a França com quem era então o superior dos Irmãozinhos do Evangelho, Patrick Rice, Riquelme disse que quem o denunciou foi um jesuíta do Colégio de San Miguel, que era por sua vez capelão do Exército. Ele está convencido de que esse sacerdote presenciou as torturas que lhe foram aplicadas, em Campo de Mayo, acredita ele.

O amolecedor

Também em consequência da notícia do domingo, um fundador da fraternidade leiga dosIrmãozinhos do Evangelho Charles de FoucauldRoberto Scordato, aceitou narrar seu conhecimento do caso. Entre o fim de outubro e o começo de novembro de 1976, Scordato se reuniu em Roma com o cardeal Eduardo Pironio, que era prefeito da Congregação para os Religiosos do Vaticano, e lhe comunicou o nome e o sobrenome de um sacerdote da comunidade jesuíta de San Miguel que participava das sessões de tortura em Campo de Mayocom o papel de “amolecer espiritualmente” os detidos.

Scordato pediu-lhe que transmitisse ao superior geral Pedro Arrupe, mas ignora o resultado de sua gestão, se é que teve algum. Consultado para esta nota, Rice, que também foi sequestrado e torturado nesse ano, disse que isso não teria sido possível sem a aprovação do padre provincial. Rice e Scordato acreditam que esse jesuíta tinha o sobrenome González, mas, a 34 anos de distância, não lembra com certeza.

Fúria

Como todas as vezes em que seu passado o alcança, Bergoglio atribui a divulgação de seus atos ao governo nacional. Nesta semana, ele reagiu com fúria durante a homilia que pronunciou em uma missa para estudantes. Naquilo que seu porta-voz descreveu como “uma mensagem para o poder político”, ele disse que “não temos direitos a mudar a identidade e a orientação da Pátria”, mas sim a “projetá-la para o futuro em uma utopia que seja continuidade com aquilo que nos foi dado”, que os jovens não têm outro horizonte do que comprar drogas e que os dirigentes procuram ascender, aumentar o caixa e promover os amigos.

Com esse ânimo irascível, ele inaugurará em San Miguel a primeira assembleia plenária do Episcopado de 2010.

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Aqui.

Os conservadores argentinos sonham com um papa próprio

Como em 2005, quando Ratzinger foi eleito, os conservadores argentinos voltam a sonhar em ter um homem seu no Vaticano: o cardeal Jorge Bergoglio. Mas o papel desempenhado pela Igreja argentina e pelo cardeal na ditadura militar (1976-1983) torna quase impossível a escolha de um personagem com semelhante currículo.

Oscar Guisoni

Data: 13/02/2013

Buenos Aires – “Quando João Paulo II morreu todos nos iludimos com a possibilidade de que nosso cardeal Bergoglio assumisse como papa. Mas não aconteceu. Oxalá desta vez ocorra”, exclama sem ruborizar uma conhecida jornalista local em uma das tantas transmissões improvisadas da televisão argentina surpreendida, como o resto do mundo, com a renúncia de Bento XVI. “Deus não o permita”, responde o colunista Fernando D’Addario, no Página/12.

Como ocorreu em 2005, quando foi eleito o Papa Joseph Ratzinger, os conservadores e ultramontanos argentinos voltam a se iludir com a possibilidade de colocar seu homem no Vaticano: o cardeal Jorge Bergoglio. Mas o papel desempenhado pela Igreja argentina e pelo citado cardeal em particular durante a última ditadura militar (1976-1983) torna quase impossível que o Vaticano opte por habilitar com a “fumaça branca” um personagem com semelhante currículo. Salvo que “assim como nos anos 80 escolheram Karol Wojtyla para canalizar religiosamente a luta do povo polonês (isto é, a do mundo ocidental e cristão) contra o totalitarismo soviético”, sustenta D’Addario com acidez, “agora escolham um papa argentino para salvar-nos do populismo gay e favorável ao aborto que se expande como uma peste por estes pampas”.

A polêmica, que em apenas algumas horas voltou a impregnar grande parte da imprensa argentina, trouxe à tona de novo a triste memória do papel desempenhado pela Igreja local durante a última ditadura militar e suas implicações no presente. Assim, enquanto o setor mais conservador e católico da classe média local volta a sonhar em ter seu próprio Papa, os organismos de Direitos Humanos e as associações que agrupam os familiares dos 30 mil detidos desaparecidos na última ditadora recordam que a Igreja não só colocou uma venda nos olhos diante da matança organizada pelo Estado, como se fez de distraída inclusive frente o assassinato de seus próprios sacerdotes, comprometidos com a “opção pelos pobres’ e com a Teologia da Libertação que havia iluminado o Concílio Vaticano II.

Uma prova da atualidade da polêmica é a recente decisão judicial do tribunal que julgou na província de La Rioja o assassinato dos padres Carlos de Dios Murias e Gabriel Longueville, ligados ao também assassinado bispo Enrique Angelelli, uma das figuras emblemáticas da “Igreja comprometida” dos anos setenta na Argentina. Nesta sentença inédita anunciada na semana passada fala-se pela primeira vez da “cumplicidade” da Igreja Católica local com os crimes cometidos pelos militares, ao mesmo tempo em que se assinala a “indiferença” e a “conivência da hierarquia eclesiástica com o aparato repressivo” dirigido contra os sacerdotes terceiro-mundistas. Chama a atenção, diz ainda a sentença, que “ainda hoje persiste uma atitude resistência por parte de autoridades eclesiásticas e de membros do clero ao esclarecimento dos crimes”.

Como ocorreu em 2005, enquanto por trás dos muros do Vaticano se escolhia o sucessor de João Paulo II, a discussão pública leva os argentinos a olhar para sua própria Igreja no espelho que mais os envergonha: do outro lado da Cordilheira, a Igreja Católica tem outra cara para mostrar, já que sua atitude frente à ditadura de Augusto Pinochet foi exatamente a oposta à adotada pela hierarquia argentina. A polêmica transcende rapidamente o âmbito religioso e se instala no cenário político cada vez mais radicalizado, que encontra os partidários da política de Direitos Humanos promovida pelo governo kirchnerista no caminho oposto ao dos conservadores que desejam encerrar os julgamentos contra os responsáveis pelos crimes contra a humanidade executados pela ditadura antes que os processos comecem a bater às portas dos cúmplices civis do regime, o que já começou a acontecer.

Enquanto isso, o candidato em questão, o atual arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, sonha em alcançar um papado impossível. Nascido em 1936 e presidente da Conferência Episcopal durante dois períodos (cargo que abandonou recentemente por doenças da idade), é difícil que o Vaticano se arrisque a colocar no trono de Pedro um homem citado em vários processos judiciais por sua cumplicidade com a ditadura e que conseguiu evitar seu próprio julgamento por contra de influências e argúcias de advogados. Nada disso impede, porém, os ultramontanos argentinos de sonhar com a possibilidade de ter um Papa em Roma que os ajude a acabar de uma vez por todas com um governo que consideram o pior inimigo da Igreja Católica desde que o presidente Juan Domingo Perón enfrentou-se de forma virulenta (incluindo a queima de algumas igrejas) com a hierarquia católica no final de seu governo em 1955.

Tradução: Katarina Peixoto

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Aqui.

Cardeal Bergoglio denunciado na Argentina por seqüestros durante a ditadura

BUENOS AIRES, 15 Abr (AFP) – O cardeal argentino Jorge Bergoglio, um dos candidatos à sucessão e que participará do Conclave no Vaticano, foi denunciado nesta sexta-feira na Justiça por supostas ligações com o seqüestro de dois missionários jesuítas em 23 de maio de 1976, durante a ditadura, segundo uma fonte judicial do Palácio de Tribunais.
A denúncia foi apresentada pelo advogado e dirigente de organizações defensoras dos direitos humanos Marcelo Parrilli, que pediu ao juiz Norberto Oyarbide que investigue a atuação do cardeal quando um comando da marinha de guerra seqüestrou e fez ‘desaparecer’, durante cinco meses, os dois religiosos.

As vítimas eram Orlando Virgilio Yorio e Francisco Jalics, companheiros de Bergoglio na Companhia de Jesus, cuja congregação fazia trabalhos de ajuda social numa localidade do bairro de Bajo Flores.

Parrilli, segundo a denúncia à qual teve acesso a AFP, se baseou em artigos jornalísticos e no livro ‘Igreja e Ditadura’, escrito por Emilio Mignone, fundador do Centro de Estudos Legais e Sociais (CELS).

Se o novo Papa for brasileiro, pretendo me mudar para o Butão

Acho que não vou aguentar a onda de conservadorismo. Hoje, sonhei com a capa da Veja que comemorava o papado tropical. Pesadelo. Elejam um estadunidense, por favor. Lá, não fará muita diferença. Dizem que o Butão é o país da felicidade, não? Bem, ao menos não tem a Globo nem a Veja, o que já são belos passos.

Meu sonho de Natal

Quando eu era pequeno, gostava do Natal. Na verdade, adorava, claro, porque meus pais nos enchiam de presentes. A festa era diferente, era matinal. A gente ia dormir pensando naquilo que o Papai Noel nos deixaria durante a noite e, quando acordávamos, nossa, ele tinha adivinhado nossos mais profundos desejos! Lembro especialmente de quando ganhei um autorama, mas isso é outro papo.

Depois, meu esfriamento em relação à data chegou a grau zero. Ainda na pré-adolescência, sem ler nada e sem maior influência, tornei-me ateu, um ateu natural e a data, que originariamente é uma festa pagã, passou a me irritar em razão de seu substrato religioso. Acho que todos os meus sete leitores sabem que a origem da festa não guarda o menor ranço de cristianismo: é o Solis Invictus (Sol Invencível), o Solstício de inverno. Era uma enorme festança que acontecia na noite mais longa do hemisfério norte para comemorar o recomeço, pois dali por diante os dias seriam mais longos, pouco a pouco mais quentes, e haveria a possibilidade de novas e fartas colheitas. Uma belíssima data do hemisfério norte, uma data bem realista que nos foi tomada pela igreja. De certa forma, era mais ou menos (eu escrevi mais ou menos) o que é nossa virada de ano, com suas renovadas esperanças, resoluções e renovação.

Depois, quando vieram as crianças, cheguei a me vestir de Papai Noel. No segundo ano, o Bernardo ficou me olhando como quem diz “Mas esse aí é o meu pai” e, perguntado se não era no dia seguinte, neguei e desisti de novas tentativas. A Bárbara deve ter aproveitado menos dessas festinhas. Também pudera! Ela, com três anos de idade e já sob a influência do irmão três anos mais velho, costumava observar aos coleguinhas de maternal que nem Deus nem Papai Noel existiam, fato que a deixava extremamente popular entre seus amiguinhos e objeto de desconfiança dos outros pais. Quem seria aquela crespinha louca, de três anos, que fazia proselitismo ateu num maternal?

Terrível: Bárbara por volta da época em que fazia proselitismo ateu. Ainda faz, acho.

Hoje, nem dou bola para o Natal, mas acho que está na hora dos movimentos ateus serem menos mal humorados. A data é nossa. Simples assim. Por exemplo, o presidente da Atea (Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos, da qual sou sócio), Daniel Sottomaior, comemora tranquilamente e não se incomoda com a data. Ele tem uma filha de 8 anos que adora o 25 de dezembro. Diz ele: “Nossa árvore é uma árvore de referência a Isaac Newton, que nasceu nesta data e que descobriu a Lei da Gravidade. Ela tem maçãs e luzes. Os outros simbolismos – perus, renas, presentes, árvores, Roberto Carlos – , nada disso nasceu com o Natal”. E completa: “Estamos apenas retomando uma data pagã que nos foi roubada pela igreja e que foi comemorada por sete mil anos antes do século III”.

Aqui em casa, durante o Natal, meu filho costumava  — esse ano ele não fez (por quê?) — escrever no quadro de avisos da cozinha em letras garrafais: Natalis Solis Invictus, isto é, Nascimento do Sol Invencível. O nascimento do Sol Invencível é o momento em que o Sol inicia a Sua ascensão triunfante, representando, neste momento, a Luz que nunca morre e vence sempre, reflexo da imortalidade. (E que acabará com a Terra, daqui a 5 bilhões de anos…). Á época, a data era uma coisa tão forte que a igreja trouxe o nascimento de Jesus justo para o 25 de dezembro… Vergonha.

Então, meu sonho de Natal é que o paganismo retome a data. E que, no hemisfério sul, a gente invente um modo bem livre e religiosamente incorreto de comemorá-lo. Eu acharia muito justo se os namorados perseguissem uns aos outros nus pelas ruas, algo assim. É sonho, e em sonhos vale tudo.

P.S. — Rodrigo Cardia que, assim como eu, odeia o verão, escreveu: O texto do Milton Ribeiro me fez lembrar do significado original da celebração: o solstício de inverno no hemisfério norte, noite mais longa do ano, depois elas começam a ficar mais curtas. E então percebo que tenho algo a celebrar: aqui no hemisfério sul as noites começam a ficar mais longas… 

O Julgamento do Macaco discutiu a existência de Deus em tribunal

No dia 21 de julho de 1925 foi finalizado um dos casos mais rumorosos e filosóficos do judiciário norte-americano. Foi um julgamento que durou 11 dias e o primeiro a ser transmitido por rádio para o país inteiro. Também virou filme de sucesso — Inherit the Wind (O Vento Será sua Herança), de 1960. O chamado Julgamento do Macaco (“Monkey Trial”) foi a ação que o estado do Tennessee moveu contra o professor de biologia John Thomas Scopes, de 25 anos, acusado de ensinar a teoria da evolução em uma escola pública da minúscula cidade de Dayton.

A rua principal de Dayton em 1925 | Foto: Wikimedia Commons

Os meios de comunicação deram enorme cobertura ao caso e ganhá-lo tornou-se uma obsessão para ambas as partes. Durante o processo, o juiz John Raulston não permitiu que o advogado Clarence Darrow — militante da União Americana pelas Liberdades Civis e um dos mais famosos oradores dos EUA — chamasse cientistas “como testemunhas” em favor da teoria da evolução. Ao final, Scopes, que teve contra si outra celebridade, o advogado William Jennings Bryan, um democrata candidato por três vezes à presidência dos EUA, foi condenado a uma multa de 100 dólares. Bryan fez uma defesa apaixonada do criacionismo, mas foi punido por um enfarte e morreu seis dias após a decisão do tribunal.

O juiz Raulston utilizou-se de bom senso no julgamento de tão longínquo caso e, não obstante o fato do juri ter apontado o professor Scopes como “culpado”, impediu que o veredito fosse cumprido em razão de “erros técnicos” no processo. A pena dele fora o pagamento de 100 dólares, um montante que seria de aproximadamente R$ 2.700,00 em nossos dias.

O professor de Biologia John Scopes | Fonte: Wikimedia Comm0ns

O caso tinha contornos realmente curiosos, pois evidentemente não havia certeza de ambos os lados. Os criacionistas só concordavam que Scopes tinha de ser punido mesmo que estivessem se debatendo entre três teses distintas: alguns tinham certeza da criação recente do Universo e afirmavam que o mundo fora criado por Deus em seis dias com um de folga — Bryan pensava assim; outros achavam que tinha sido antes e falavam em Adão, Eva e na serpente; outros acreditavam num projeto à cargo de uma vaga inteligência pré-existente.

Darrow finalizou sua peroração dizendo que o réu não era culpado, mas que como o tribunal excluíra quaisquer testemunhos, desejando apenas ater-se à simples questão sobre se Scopes realmente ensinara que o homem descenderia de uma ordem animal tão inferior, ele jamais negaria que o fato ocorrera. Ele apenas esperava que o juri encontrasse um veredito que pudesse levá-los a uma tribunal ou instância superior.

Segundo o livro World’s Most Famous Court Trial, encerrou sua fala de forma enigmática:Não consigo nem mesmo explicar-lhes que penso que os senhores deveriam retornar com o veredito de não culpado. Não vejo como poderiam decidir nos próximos minutos sobre a existência de Deus. Não lhes peço isso”.

O juri demorou apenas nove minutos para decidir e, em 21 de julho, ele foi considerado culpado e condenado a pagar a multa de 100 dólares.

O mais incrível é que Scopes (1900-1970) não depôs em seu julgamento e ele, em sua autobiografia, garantiu que não tinha absoluta certeza se havia ou não ensinado a respeito da evolução das espécies em suas aulas, mas “que era possível, claro”.

Sobre o massacre dos palestinos: negando o discurso único da imprensa

O rabino Dovid Weiss explica bem a questão, mas há que limpar as frases de que o sionismo seria um movimento ateu… Não, é um movimento violento e fundamentalista, mas vale a pena assistir discurso do moço, bem melhor do que o de nossa grande imprensa e de alguns judeus burros. Infelizmente, a maioria.

A verdadeira carta de Einstein sobre Deus é leiloada no eBay, mas é bom saber seu conteúdo

Tirado daqui, ó. Só não coloquei as fotos das cartas a serem leiloadas.

Um ano antes de morrer, o célebre físico Albert Einstein escreveu, em 24 de março de 1954, uma carta ao filósofo judeu Eric B. Gutkind, expressando sua visão sobre o povo judeu, as religiões e a existência de Deus. O documento estará em leilão no eBay de 8 a 18 de outubro, com lance inicial de US$ 3 milhões (mais de R$ 6 milhões).

“Estamos excitados por oferecer a uma pessoa ou organização a oportunidade de possuir um dos documentos mais intrigantes do século 20″, disse Eric Gazin, presidente da Auction House (agência que está cuidando da venda), em entrevista ao LiveScience. “Esta carta pessoal de Einstein representa um nexo entre ciência, teologia, razão e cultura”.

Einstein x Deus e as religiões

A carta era uma resposta do físico ao livro de Gutkind “Choose Life: The Biblical Call to Revolt” (“Escolha a Vida: A Chamada Bíblica à Revolta”), no qual o filósofo sustentava a ideia de que os judeus eram um povo de “alma incorruptível”. “A alma do povo judeu nunca foi uma alma de massas. A alma de Israel não poderia ser hipnotizada; nunca sucumbiu a ataques hipnóticos (…). A alma de Israel é incorruptível”, escreveu.

Einstein não concordava:

Para mim, a religião judaica é, da mesma forma que todas as outras, uma incarnação das superstições mais infantis. E o povo judeu, ao qual eu pertenço com boa vontade, e que tem uma mentalidade com a qual tenho uma afinidade profunda, não tem, para mim, uma qualidade que o difere de qualquer outro povo. Até onde minha experiência vai, ele também não é melhor que outros grupos humanos, embora esteja protegido dos piores cânceres por falta de poder. Fora isso, não consigo ver nada de ‘escolhido’ sobre ele.

No final de sua vida, Einstein se mostrou contrário às religiões. Mas ele acreditava em Deus? Não exatamente, como se lê em uma carta escrita em 24 de março daquele mesmo ano:

Foi, é claro, uma mentira o que você leu sobre minhas convicções religiosas, uma mentira que foi repetida de forma sistemática. Eu não acredito em um Deus pessoal, nunca neguei isso, mas expressei de forma clara. Se algo em mim pode ser chamado de religioso, é minha ilimitada admiração pela estrutura do mundo que nossa ciência é capaz de revelar.

Na carta a Gutkind, Einstein disse que a palavra “Deus” nada mais era do que “a expressão e produto da fraqueza humana, e a Bíblia, uma coleção de honoráveis, porém primitivas lendas que eram no entanto bastante infantis”.

Comentário de Milton Ribeiro:

Trá-lá-lá!

Férias ateias

Por Hélio Schwartsman

Nestas férias, levei as crianças para passar uma temporada num acampamento ateu nos EUA. Durante duas semanas eu, minha mulher e os dois garotos fizemos programas familiares na região de Washington DC, fustigada por um calor senegalês. Eram 40 graus à sombra. Na semana seguinte, enquanto eu e Josiane gozávamos um idílio romântico, os gêmeos Ian e David, agora com dez anos, eram iniciados nos evangelhos de Dawkins, brincando com outras crianças enquanto recebiam lições de ciência e ceticismo. Era um daqueles acampamentos de filme, em que os meninos dormiam em cabanas de madeira bem primitivas no meio de uma floresta e derretiam marshmellow na fogueira.

Minha ideia inicial não era a de doutrinar os garotos, que já são por constituição dois bons ateuzinhos. Pretendia apenas promover uma viagem em família e aproveitar para reciclar-lhes o inglês, aprendido no período em que moramos em Michigan, internando-os num “summer camp”. Mas, durante minhas buscas na internet por um lugar adequado, sempre topava com descrições que frisavam os “valores cristãos” ali ensinados. Aos poucos, aquilo foi me deixando irritado. Os garotos já aprendem mais valores cristãos do que eu desejaria na escola católica em que estudam em São Paulo (não tenho nada contra religiosos desde que promovam um bom ensino). Eu queria apenas um acampamento de verão que fosse divertido. Assim, num momento de exasperação, joguei no Google “atheist summer camp” e, para minha surpresa, apareceu o Camp Quest, no qual logo os matriculei.

Trata-se, na verdade, de uma rede com acampamentos em vários Estados dos EUA e no Reino Unido. Eles até tentam, sem muito esforço, negar a pecha de ateus, preferindo termos como “secular” e “freetought” (pensamento livre), mas o caráter da instituição fica claro no nome com que batizaram a barraca em que Ian e David ficaram: “Magic of Reality”, título do último livro de Richard Dawkins, em que ele explica ciência e prega ateísmo para crianças.

Os garotos adoraram. Ressentiram-se um pouco de não ter conseguido jogar futebol como pretendiam, mas divertiram-se a valer, aprenderam os rudimentos do pensamento crítico e atualizaram seu inglês. Ian, que tem um talento especial para idiomas, chegou arrastando um sotaque levemente sulista, já que a maioria dos “campers” vinha da Virgínia, de Maryland e da Carolina do Norte.

Essa pequena mágica, a mudança de acento, esconde uma espécie de segredo de polichinelo da psicologia, algo que está bem na nossa cara, mas que nos recusamos a ver: pais importam muito menos para a formação dos filhos do que estamos dispostos a admitir. Quem primeiro lançou essa tese foi Judith Harris em “The Nurture Assumption – Why Children Turn Out the Way They Do” (a hipótese da criação – por que crianças se tornam o que se tornam), lançado em meio a muita polêmica em 1998. Esse foi um dos bons livros que li nas férias.

Harris sustenta que a socialização dos jovens não se dá através dos pais, como nossa cultura prega, mas por meio de seus pares, isto é, de outras crianças da mesma faixa etária e sexo. Um dos muitos argumentos que ela usa para apoiar sua teoria é o fato de que filhos de imigrantes não terminam falando com a pronúncia dos pais, mas sim com a dos jovens com os quais convivem. Pode parecer até meio banal, mas a conexão linguística é especialmente interessante para o debate hereditariedade X educação porque ela é uma das poucas características que não embaralha fatores genéticos e ambientais. Com efeito, o idioma que falamos e a forma como o fazemos não são determinados pelos genes, mas só pelo meio em que vivemos. E, nesse meio, a força dos pares claramente prevalece sobre a dos pais. Harris se pergunta se esse mesmo esquema não valeria para outras características, ainda que entremeadas com condicionantes genéticas, como personalidade, religiosidade, propensão a vícios, a cometer crimes etc.

E ela acredita que sim. Para a pesquisadora, a influência dos pares supera a dos pais em quase tudo. É apenas por uma herança cultural relativamente recente, que valoriza sobremaneira a criação, que imaginamos o contrário. É verdade que existe toda uma biblioteca de pesquisas supostamente científicas que aponta para os efeitos paternos, mas Harris afirma que esses estudos sofrem de graves falhas metodológicas. Eles continuam a ser produzidos porque dizem o que queremos ouvir.

Boa parte das conclusões a que Harris chegou tem como base os estudos de gêmeos e adotados, que permitem não apenas discriminar efeitos genéticos de ambientais como também distinguir, nesta segunda categoria, o que seria o ambiente reprodutível (aquilo que passa para todos os que são criados no mesmo lar, escola etc.) do ambiente único (aquilo que faz parte da história exclusiva de cada indivíduo). E a somatória desses trabalhos aponta de forma mais ou menos clara que o ambiente reprodutível, onde os efeitos gerados pela criação se incluiriam, tem muito pouca força no longo prazo.

Um caso eloquente é o do comportamento criminoso. Um estudo dinamarquês que mantinha registros dos pais biológicos e dos adotivos e acompanhava o desenvolvimento das crianças, inclusive as condenações penais que receberiam como adolescentes e adultos, mostrou que 15% dos filhos de pais sem problemas judiciais criados por delinquentes acabaram tornando-se criminosos. Já entre os descendentes de gente honesta criados por pais adotivos também honestos, a taxa de desencaminhados foi de 14%, uma diferença irrisória.

A história muda um pouco para os filhos de criminosos criados por pais honestos. Aqui, a delinquência atingiu 20%, um bom indício de que a genética influi na sanha infracional. Na ponta final temos os filhos de criminosos educados por criminosos. A taxa de desviados nessa categoria foi de 25%. Esse seria um sinal de que a criação, afinal, faz diferença, ainda que apenas para o mal. Mas o resultado deve ser relativizado à luz de um outro dado. Nas cidades pequenas, o efeito do pai adotivo criminoso simplesmente desaparecia, o que se explica se pensarmos menos em termos de pais e mais da vizinhança em que a criança cresceu. De novo, são os pares que importam mais.

Para Harris, essa sensibilidade extrema do ser humano a seus iguais faz sentido do ponto de vista da evolução. No ambiente darwiniano em que nossa espécie passou a maior parte do tempo, tornar-se órfão ainda em tenra idade era, senão a regra, ao menos uma possibilidade bastante concreta. A melhor chance de um jovem sobreviver nessas condições era ser capaz de aprender e socializar-se com o grupo, não com os genitores.

A hipótese encontra amparo no fato de que crianças que são criadas em condições razoáveis de vínculos, vá lá, amorosos, por um dos pais ou um substituto pelo menos até os quatro anos acabam se tornando adultos funcionais mesmo que, dos 4 aos 18, passem por um festival de horrores em orfanatos ou nas ruas. Já quando traumas e abusos vêm antes dos quatro anos, o mais provável é que a criança se torne um adulto problemático, mesmo que, depois da idade crítica, seja tratada a pão de ló. Na Idade da Pedra em que o homem foi forjado, perder os pais antes dos quatro e não encontrar nenhum substituto equivalia a uma sentença de morte.

Para Harris, o efeito dos pares sobre o indivíduo é inafastável. Mesmo que a criança seja rejeitada pelos colegas num bullying maciço e não tenha nenhum amigo, ainda será ao grupo de semelhantes que ela irá se comparar e do qual tirará suas referências e inferirá as regras sob as quais o mundo funciona. É nesse processo de comparações e busca de inserção social que ela consolidará as características de sua personalidade, em boa medida genéticas.

O que o ambiente moderno fez, sustenta a pesquisadora, é criar uma multiplicidade de nichos por causa das grandes aglomerações em que vivemos. Entre caçadores-coletores, as crianças são “criadas” pelo grupo de jovens que reúne tipicamente meninos e meninas de várias idades. Hoje em dia, com escolas de centenas de alunos, o garoto(a) socializa-se apenas com coleguinhas do mesmo sexo e idade. O resultado é a exacerbação das características. Meninas se tornam hiperfemininas e meninos, hiperativos. O mau aluno encontra outros maus alunos, que constituirão um grupo onde rejeitar a escola é percebido como uma característica positiva. O mesmo vale para a violência e o uso de drogas. Na outra ponta, podem surgir subculturas que valorizem a leitura, a utilização de computadores e outras “nerdices”.

O livro de Harris é muito bom. Mesmo que não compremos todas as suas conclusões pelo valor de face, é difícil rejeitar todas as evidências que ela oferece e seguir acreditando piamente no mito da boa criação. E reconhecer que o papel dos pais não era bem aquilo que imaginávamos não significa que os genitores sejam inúteis ou impotentes.

Para começar, cada um deles fornece 50% da matéria-prima, que são os genes. A melhor maneira de ajudar o futuro de seu rebento é encontrar um bom(a) parceiro(a) para gerá-lo. Depois disso, é preciso mantê-lo vivo pelas próximas duas décadas e recebendo quantidades adequadas de nutrientes e informações. A fase até os quatro anos de vida é especialmente sensível. Se você não cometer abusos nem submetê-lo a maus-tratos nessa janela, o mais provável é que ele se torne um adulto funcional.

Há ainda outras maneiras de influir. É bem verdade que você pode pouco contra os pares, mas, como adulto, tem o poder de determinar a área em que a família vai viver o que, em boa medida, determina os colegas e amigos que ele terá à sua disposição. Se o seu filho está nas piores companhias, em vias de tornar-se um marginal, você pode mudar-se para uma cidade menor, onde não será tão fácil encontrar um grupo de “bad boys”. Não é garantia de dar certo, mas é uma chance.

Outra coisa que pais podem fazer é transmitir hábitos e práticas que não são escrutinados pelo grupo e, portanto, tendem a manter-se incontestados. É nessa categoria que entram coisas como cozinhar ou tocar piano. É difícil uma criança ser ridicularizada por algo que não entra nas conversas do grupo e, portanto, ninguém sabe que ela faz. Se a prática não é condenada, pode ser conservada.

De resto, o importante, como já coloquei num outro texto em que comentava aspectos da criação, é aproveitar a jornada. Mesmo que o poder dos pais de imprimir características duradouras aos filhos seja pequeno, o de gerar momentos prazerosos que se consolidarão em memórias carregadas por toda a vida é quase ilimitado. E, como sabe todo ateu, a capacidade de deixar lembranças é a única forma de transcendência cientificamente comprovada.