… — livro muito lido em tempos antediluvianos — , essa é só para loucos (ou colorados doidos varridos) se emocionarem: A Chamada para Abu Dhabi.
As grosserias e a liberdade de dois ratos (après Cloaca News)
De longe a melhor foto da campanha
Não, como essa não há, é o mais puro rock and roll. Plínio bateu a todos em alguns pontos e agora bate também no quesito foto.
Publicada no blog de Juca Kfouri e apresentada a mim por Igor Natusch.
Como Kubrick deixou popular uma obscura obra de Shostakovich
Não é uma obra típica de Shostakovich, é tranquila e nada complexa ou raivosa ou sarcástica. Uma melodia simples que estava lá, quieta no meio de uma Suíte secundária, uma brincadeira como tantas que russo deixou por aí e que ninguém ouve. Mas Stanley Kubrick costumava encontrar obras perfeitas para ornamentar suas cenas perfeitas. E como! A simples abertura de Eyes Wide Shut (De Olhos bem Fechados), serviu para popularizar uma pequena e desimportante obra do grande russo. É claro que Shosta ficaria riria se pudesse ver todos os filmes abaixo e mais as outras dezenas que há no YouTube. Então, com vocês, a Valsa II da Suíte for Jazz Variety Orchestra, de Dmitri Shostakovich, em várias versões.
No filme de Kubrick:
Numa propaganda da Blockbuster:
No metrô de Paris:
Na interpretação (com improvisações e belos erros) de uma menininha:
E para servir de fundo a filmes de gosto pra lá de duvidoso:
Bom domingo a todos. Que Dilma e Tarso (no RS) acabem logo com isso.
Dmitri Shostakovich (I)
Pois hoje é o Dia Mundial da Música! Então inicio uma série sobre Dmitri Shostakovich que publicarei a cada sexta-feira, OK?
A música pode ser amarga, jamais pode ser cínica.
DMITRI SHOSTAKOVICH
Muitíssimas vezes, quando ouvimos Shostakovich (1906-1975), sentimos certa estranheza, notamos intenções ou um torna-se palpável uma enorma revolta e desconforto. Percebe-se que o drama e os contrastes apresentados referem-se a acontecimentos externos, sejam de ordem pessoal ou não. Em contato com essas obras firmemente assentadas sobre os ombros de Bach, Beethoven, Mahler, Tchaikovsky e Mussorgsky, somos, de alguma forma muito particular, solicitados a conhecer mais das circunstâncias em que foram compostas e da vida pessoal do compositor. Isto já pode ser notado desde a sua Sinfonia Nro. 1, composta antes dos vinte anos e que o deixou célebre internacionalmente antes mesmo de finalizar seus estudos.
Vamos começar esta série pela parte mais difícil: as relações do músico com o poder. Aqui há três pontos importantes para a compreensão de Shostakovich. O Ocidente costuma simplificar os fatos conferindo ao autor a condição simples de mártir e dissidente do regime. Tais “enganos” datam dos tempos da guerra fria e persistem até hoje. Aqui, procurarei equilibrar as coisas através de leituras mais recentes que fiz. Procurarei expor os fatos políticos e tomarei partido apenas da obra do compositor, a qual amo apaixonadamente.
O Comunista: Shostakovich foi, certamente, um comunista sincero, não obstante suas divergências com uma doutrina oficial que nem sempre seguiu um caminho retilíneo. Sem seu engajamento nítido em favor dos princípios originais que criaram a União Soviética, seria impossível inventar o sopro lírico e épico que atravessa algumas de suas composições. Mas há o verdadeiro e o forçado, ou o espontâneo e a encomenda, ou a alegria e o sarcasmo. A segunda de suas sinfonias (A Revolução de Outubro, de 1927), apesar de fraca, pertence às obras autênticas, já a décima-segunda (À Memória de Lênin, de 1961) parece ter sido obra de um autor amargo, sarcástico e que estava mandando provisoriamente sua obra às favas. No início de sua carreira de compositor, Shoatakovich tinha aquele entusiasmo que foi próprio de uma geração de criadores que — como Eisenstein e Maiakovski — , em determinado momento, acreditou ser para amanhã o paraíso terrestre, antes de renunciarem a suas esperanças, às vezes de forma trágica. Não obstante o que era dito durante a Guerra Fria, Shostakovich não estava preso à União Soviética e teve inúmeras oportunidades de fugir. Quando sua doença começou a prejudicá-lo como intérprete, ele estava fora do país, também esteve algumas vezes com Britten na Inglaterra … Ou seja, Shostakovich teve numerosas oportunidades que o compositor teve para emigrar – não o fazendo nunca. Houve declarações anti-soviéticas? Mas é claro, ele foi massacrado por Stálin e depois, mas nunca foi o dissidente típico. Seus problemas eram relativos às arbitrariedades dos dirigentes do país e não com aquilo que a imprensa ocidental desejava.
A Morte: Após a doença, Shostakovich era obcecado pela idéia da morte. Não devemos colocar toda a sua psicologia na conta do geopolítico. Ele possuía muito daqueles niilistas russos do século XIX, tão bem retratados nos romances de Dostoiévski. Há algo de Kirilov nele… Confundir isso com as torturas morais causadas pelos comissários políticos soviéticos é aplainar a grandiosa obra do compositor e é fatal para quem queira compreendê-lo. Obras como o Trio Nº. 2, Op. 67, de 1944, a Sonata para viola e piano, Op. 147, de 1975 ou a Sinfonia Nº 15, de 1974, todas com suas “Canções da Morte”, são inequívocas, assim como a Sinfonia Nº 14. As trevas sem fim que emanam destas composições e a melancolia por vezes desesperada só podem surgir de uma personalidade permeável a pensamentos macabros. Porém, até hoje, costuma-se esquecer demais da história pessoal de Shostakovich e colocar todos os seus momentos de depressão numa conta do geopolítico…
O Artista: como os verdadeiros artistas e, principalmente, os músicos, Shostakovich pensava que o estatuto particular de sua arte desobrigava-o a seguir palavras de ordem como aquelas que eram impostas aos operários, aos mineiros ou aos camponeses da União Soviética. Sob este aspecto, era ele quem enganava-se. Os sucessivos dirigentes jamais esqueceram de intervir diretamente nas orientações estéticas a serem seguidas por pintores, escritores, cineastas e… músicos. Sempre esteve fora das cogitações governamentais a existência de uma vanguarda artística na União Soviética, pelo menos depois da morte de Lênin.
Shostakovich sofreu gravemente três vezes os efeitos de restrições a seus trabalhos. 1936 pode ter sido um ano péssimo para ele, porém, em minha opinião, os detalhes jocosos da primeira proibição superam em muito o que ela tem de funesto para sua carreira. Ele havia composto sua segunda e última ópera — a primeira fora O Nariz, baseada no conto de Gógol — quando Stálin foi assisti-la. Lady Macbeth de Mtsensk — baseada na esplêndida novela de Nikolai Leskov e só encontrável em espanhol (recomendo a leitura) — conta como uma mulher se tornou assassina por amor e demonstra que, se ela foi levada a cometer crimes, a causa estava no comportamento odioso de suas vítimas, na realidade autênticos carrascos. Sim, uma distorção pero no mucho do Macbeth original. Stálin, que era um grande apreciador de óperas e ouvinte de música erudita, detestou-a. Mostrou-se chocado com o erotismo de certas cenas, com a complicada escrita vocal, com o uso brincalhão e extravagante dos instrumentos e o ritmo esbaforido da música. Chamou Lady Macbeth de “pornofonia” — termo surpreendente em qualquer época — e baniu-a de todos os teatros soviéticos. Foi preciso esperar 27 anos para retornar à cena e, ainda assim, com a supressão do episódio orquestral que descrevia uma cena de sexo… É curioso que as eructações, flatulências e gargarejos de O Nariz nunca tenham sido alvo de censuras. Talvez Gógol imponha mais respeito que Leskov…
A segunda vez que Shostakovich entrou no index ocorreu independentemente de qualquer obra. Logo após a notoriedade internacional da Sinfonia Nº 7 — que descreve com pungência inalcançável o sofrimento passado pelo povo soviético durante o cerco de Leningrado — foi baixada uma resolução do Comitê Central do Partido Comunista Soviético que depois foi conhecida por “Relatório Jdanov”. Isto ocorreu em 10 de fevereiro de 1948 e colocou no mesmo saco Prokofiev, Khatchaturian, Shostakovich e quase todos os artistas do país. Shostakovich foi o mais atingido, pois negara-se a fazer de sua Sinfonia Nº 9 um elogio a Stálin e ao Exército Vermelho, publicando em seu lugar uma piada musical, que foi recebida com alegria e aplausos no Ocidente, tendo em Leonard Bernstein seu maior divulgador. O que Bernstein só soube depois é que a nona sinfonia deixara Stálin novamente furibundo com Shostakovich, ao ver suas ordens desobedecidas. Como resultado, suas peças sumiram do repertório.
Mas ele seguiu produzindo e, quando Stalin morreu, em 1953, Shostakovich tinha as gavetas lotadas de novidades. Havia, inclusive uma vingança contra o ditador.
O terceiro e maior desentendimento aconteceu em 1962. Neste ano, aparecia a Sinfonia Nro. 13, para solo de baixo, coro masculino e orquestra. Os textos cantados vinham do poema Babi Yar, de Evgueni Ievtuchenko e, em lugar de cantar o porvir, o poema denunciava os crimes nazistas cometidos naquela cidade perto de Kiev, onde 34 mil judeus foram assassinados. Denunciar os crimes nazistas não seria problema, mas o poema de Ievtuchenko fala sobre como os soviéticos insistiam em considerar russos e ucranianos os mortos, em vez de judeus. É claro que o motivo de suas mortes era a etnia judaica e não outro. É claro, que aquele foi um episódio meio obscuro, onde há indícios de colaboração. Ele e Ievtuchenko, celebridades internacionais, foram fortemente repreendidos pelas autoridades, que exigiram a substituição completa dos textos, sob pena de a música não vir a ser executada. A Sinfonia nunca foi alterada.
Bibliografia: grande parte das informações históricas foram obtidas em incontáveis discos, CDs e outras publicações, mas foram um pouco sistematizadas pela leitura do texto de Philippe Olivier, dentro da História da Música Ocidental, Nova Fronteira, 1997, assim como de Shostakovich – Vida, Música, Tempo, de Lauro Machado Coelho, Perpectiva, 2006.
O homem que sabia demais
Gilmar Mendes volta a assombrar o país
Com uma conduta digna de um aluno qualquer da 5ª série de primeiro grau, Gilmar Mendes interrompeu ontem a sessão do STF que estava decidindo pela não obrigatoriedade de que os eleitores mostrassem dois documentos na hora de votar. O placar era de 7 x 0 pela não obrigatoriedade, mas com o pedido vistas, Gigi pode enrolar a decisão até segunda-feira, sem sofrer punições, pois o prazo está definido no regimento do STF.
É uma coisa divertida essa de pegar a bola do jogo e voltar para casa porque mamãe chamou para o banho. A mamãe, segundo descobriu-se hoje, é careca e atende pelo nome de José Serra. O candidato tucano, que será derrotado provavelmente no primeiro turno, quer divertir a turba com um segundo. Como? Vejamos: ele sabe que são exatamente os eleitores de menor renda e escolaridade os que costumam andar por aí sem lenço e sem documentos e as pesquisas que sussurram nos ouvidos de Serra que os pobres estão em esmagadora maioria com Serra. A matemática fica simples: dimunuido os eleitores de Dilma, talvez tenhamos segundo turno, certo?
Dizer que Gilmar é um filha-da-puta de um traiçoeiro é chover no molhado. Ontem, quando vi que ele deitaria seu voto em certamente copiosas palavras, como sói acontecer com esta estranha gente, fiquei aliviado, claro: afinal, a coisa ter chegara ao insidioso num 0 x 7 irremediável. Irremediável uma merda! Após o telefonema de Serra, Gigi agiu rapidamente, puxou o fio da tomada e mandou todos os togados pra casa. Simples assim.
(Vocês viram a sessão? Viram as pernas que apareciam atrás daquele barbicha mais jovem? Viram as pernas daquela mulher? Pois olha, eram per-fei-tas! Foi a única vez que eu torci para que um juiz não calasse a boca).
E agora, uma vênia cloacal
Os discursos de Pepe Mujica não costumam seguir as regras da sucessão de lugares-comuns. Menos brilhante do que este aqui, Mujica, abaixo, faz uma pequena homenagem aos militantes. Encontrado, produzido e dirigido por Mestre Cloaca.
Sexta-feira Nordestina – Uma Coincidência
Fato Nº 1 (Sexta-feira, 17h40): Recebo um comentário apressadíssimo de Márcia Maia. Ela me deixa um beijo de comecinho de primavera. Também pudera, ela, autora de dois livros e das grandes pequenas histórias de seu blog — às vezes deliciosamente fora do politicamente correto –, estava com o filho de aniversário. Mas, como era o dia dos nordestinos, ela veio.
Fato Nº 2 (Sexta-feira, 18h30): Estava dirigindo para casa quando o celular tocou. Li o número de quem me ligava antes de cometer a infração de trânsito. Era muito esquisito, pois começava com três zeros. Depois, ficou ainda mais estranho. Eu disse “alô” e como resposta só ouvi risadas. Repeti o “alô” mais duas vezes antes de ouvir uma voz muito forte perguntando se eu era Milton Ribeiro. Poucas vezes pude perceber meu nome sendo dito com sotaque mais nordestino e não fazia a mínima idéia de quem fosse:
— Milton, é Nora Borges.
Nora Borges é uma querida amiga. Tinha dois blogs: o primeiro era um dos melhores blogs íntimos que conheço, com longos posts que tratavam de assuntos pessoais, familiares e amorosos. É uma tremenda escritora. O segundo era turístico. Recentemente, Nora começou a unificação dos dois na Verbeat.
Fato Nº 3 (Sexta-feira, 18h45): Entrei em casa e vi que chegaram várias correspondências. Acabou a greve dos Correios e minhas contas voltarão a chegar pontualmente. Mas dentre elas estava o livro A Casa Miúda de Theo G. Alves. Theo é de Currais Novos (RN). Fico entre o orgulhoso e o constrangido ao ver que tenho em mãos o exemplar autografado de número 2. É uma edição artesanal onde estão algumas das histórias que Theo criou para seu ex-blog O Centenário, que foi criminosamente deletado por seu dono. Ele acaba de montar um novo blog aqui (por enquando só tem um post), mas há um tesouro aqui.
Theo, modestamente, descreve seu livro:
A Casa Miúda. Este é o nome do invento. Dia 22 de julho foi a inauguração oficial do imóvel minúsculo, sem garagem, sem área de serviço e sem quarto para a empregada. A Casa Miúda reúne alguns textos que estiveram publicados em O Centenário, blogue do qual alguns amigos mais antigos talvez se lembrem, somados a um ou outro palavreado inédito. Os textos foram revisados, ou refeitos, batizados novamente, reinventados, tudo na tentativa inútil de torná-los um pouco mais decentes.
(…)
Volto sempre a dizer: as publicações artesanais são uma maneira extrema de se fazer ouvir. Não há romantismo nessa história. Pelo contrário. Como bem disse o amigo Fábio Ulanin, “(esse processo) é extremamente realista, duro e cruel. Ele tem razão.
A Casa Miúda faz com que eu não me cale. É meu jeito de contribuir (talvez desnecessariamente) com esta vida.
Fato Nº 4 (Sexta-feira, 18h46): nada mais natural do que abrir o livro do Theo e dar da cara com um belíssimo prólogo escrito pelo poeta Moacy Cirne, figura procuradíssima por este blog. Os conhecimentos deste homem sobre tudo o que me interessa — literatura, música, cinema e política — são inacreditáveis. Querem saber? Na minha opinião, Moacy não existe, trata-se de um nome fantasia que representa algum colegiado de sábios. Há muitos Moacys para cada área.
Fato Nº 5 (Sábado, 2h12): Chega um comentário do pernambucano Manoel Carlos. Conheci o blog do Manoel através de Nora Borges e, meses depois tive a sorte de conhecê-lo pessoalmente no Rio de Janeiro. O que está mais longe deste homem é a arrogância, tanto ao vivo como por escrito. Sempre indica bons artigos e apresenta a este preguiçoso novos blogueiros. Manoel Carlos gosta de polêmicas civilizadas e os comentários a seus posts sempre devem ser lidos. Paradoxalmente, apresenta posições firmes em tom de conversa. É homem de muitos amigos. Atualmente, estamos contemplativos, encantados com nossas opções futebolísticas: seu time, o Santa Cruz de Recife, é líder da segunda divisão, enquanto que o meu é líder da primeira. Temos aquela conversa arrogante — não, arrogante é impossível –, digo, superior. De quem está no topo, entende?
Finalizando, tenho que dizer que, há uns dois anos, o escritor Fernando Monteiro escreveu-me num e-mail que gaúchos e pernambucanos tinham, de fato, uma ligação “meio misteriosa” que os fazia invariavelmente entender-se muito bem. Viu, mana? Nem precisava tanto álcool…
Gustav Mahler e Jordi Savall
esta Wer hat dies Liedlein erdacht uma das canções do Des Knaben Wunderhorn, de Mahler. (Gosto de lavar a louça sob algo como Mahler ou Bruckner, a todo volume…) Era a gravação de Anne Sofie von Otter com Claudio Abbado, bem mais rápida do que esta da dupla Lucia Popp e Leonard Bernstein. Abaixo, com a zombeteira Lucia Popp e Bernstein uma versão um tantinho mais dura do que a de Abbado com von Otter. Mesmo assim dá para dançar. Ah, podemos afirmar tranquilamente que não bailamos com qualquer porcaria não… A canção é belíssima!
Ou clique aqui.
O grande mestre catalão Jordi Savall, mostra-nos seu instrumento, a viola da gamba, que se originou na Espanha no século XV e caiu em desuso no final do século XVIII, quando o aparecimento das grandes orquestras condenou a delicada gamba ao silêncio. Jordi Savall é um tremendo pesquisador e gambista que, a partir de documentos históricos, recupera o som de um dos mais incríveis instrumentos que conheço. O som da viola da gamba é mais impressionante, na minha opinião, do que o do violoncelo. No vídeo abaixo, ele toca um pouco, explica coisas sobre a gamba (perna, em italiano) e sobre a música em geral. Bom domingo para todos!
Ou clique aqui.
Minha filha Bárbara faz 12 anos
Publicado em 25 de setembro de 2006. As fotos se perderam junto com o blog antigo
É tempo de homenagens. Hoje é o centenário de Shostakovich, mas é também o dia em que minha filha completa uma dúzia de anos. Então, publiquei ontem a última parte da série sobre o compositor russo, a fim de abrir espaço para o níver de minha filha. Questão de justiça? Não, questão de amor mesmo.
Querida filha.
O dia 25 de setembro de 1994 foi um domingo. Dias antes, eu tinha assistido a um filme sueco chamado “Crianças de Domingo” no qual dizia-se que as crianças nascidas em domingos eram as mais felizes. Espero que seja verdade. Tu eras esperada para umas duas semanas depois, mas uma bolsa rota determinou que aquele seria o dia. Foi rápido. Chegamos ao hospital por volta das 17h30 e tu foste retirada da barriga da tua mãe às 19h35. Não lembro do que diz na certidão, lembro ter olhado para o relógio ao ouvir um berreiro sensacional de criança saudável e ver que eram 19h35. Lembro da pediatra saindo da sala de parto contigo e que fui atrás, caminhando rápido. Enxerguei uma enorme boca de uma guria vermelha de tanto gritar, adornada de cabelos lisos e pretos. Mas teu irmão era loiro! Eras bem mais morena do que a rigorosa brancura do teu irmão e os cabelos de índia até combinavam contigo. Mas logo os cabelos pretos caíram e, para a surpresa dos familiares, foram substituídos por cabelos encaracolados e loiros. Bárbara, a ex-índia.
Repetia contigo as brincadeiras que fazia com teu irmão, porém contigo elas não faziam muito sucesso. É que eras uma menininha que não gostava de movimentos bruscos e muito menos de ser atirada para o alto. A coisa tinha que ser mais afetuosa e dava ainda mais certo se acabasse em abraços e beijos. Nossa, como tu gostavas de balanço; lembro de ficar sábados e domingos te balançando por horas, horas mesmo! Sabes este Walkman da Sony que tenho até hoje e que levo aos jogos de futebol? Pois é, comprei para ouvir alguma coisa enquanto te balançava. Para mim era meio chato, mas tua cara de felicidade fazia com que eu permanecesse horas te empurrando. Devia ser legal ver o mundo se mexendo para cá e para lá, para cá e para lá; ficavas em silêncio, com aquela cara embevecida, e se eu parasse para ouvir melhor alguma música na Rádio da Universidade ou o jogo do Inter, logo ouvia “quero mais, papai”. Para ir embora, no mínimo uma hora depois, tínhamos que entrar em acordo. Tu querias que eu contasse, um a um, mais mil impulsos no balanço, eu contrapropunha dez e fechávamos por vinte. Pai sacana.
Tempos depois, a brincadeira preferencial era na tua cama, antes de dormir. Ficávamos no escuro, debaixo das cobertas. Tinhas uns cinco ou seis anos e eu te dizia que ia pedir para tu fazeres uma conta, uma conta difícil, tão difícil que ia quebrar tua cabeça. Tu entravas para baixo das cobertas, simulando medo e eu dizia lento e soturno: “treze menos cinco”. Entravas em pânico, dizias várias vezes “Espera!”. Eu ficava ouvindo tua vozinha cochichando os números enquanto contavas nos dedos. Via que tu tinhas dificuldade por não possuir treze dedos e não sei mesmo como fazias para simulá-los. “Espera, papai!”. Talvez concluísses que era mais fácil tirar os três dos cinco e fazer dez menos dois. “Espera, só mais um pouquinho!”. E, olha, Babi, às vezes demorava mesmo… Então descobrias a cabeça rapidamente e eu via vagamente os contornos de um sorrisão e tu respondias sempre, mas sempre com uma pergunta: “Dá oito?”. Claro que eu ficava triste por não conseguir te fazer errar e propunha outra conta terrível que também acertavas. Uma merda, aquilo.
Um pouco antes desta época conheceste a Luísa Cunha. Era uma menina muito alegre e legal e eu tenho a tese secreta de que só pais legais criam crianças legais e que se eu não vou com a cara e com as atitudes de uma criança é porque não vou gostar dos pais. É uma tese tranqüilizadora; nunca fiquei preocupado em te deixar visitá-la. Eu me parabenizo até hoje por ter sempre concordado com essas visitas que acontecem desde o maternal até hoje, quando vocês vão para a praia, durante o inverno, invadir o jardim de casas desconhecidas e fazer soar os alarmes, para fazer aparecer a empresa de segurança enquanto vocês fogem para casa e ficam jogando cartas, olhando a confusão pela janela…
Bem, mas isto é coisa de agora. Estou misturando tudo. Vamos voltar ao fim-de-semana em que aprendeste a ler. Minha apreciada veia pedagógica estava desligada e não me dava conta de como te explicar as sílabas. Tu colocavas uma só consoante para cada letra e dizias “Pronto”. Mandava tu escreveres CASA e tu escrevias CS. Foi então que teu irmão, que estava perdendo minutos fundamentais de sua vida porque não conseguia me fazer jogar futebol com ele, veio ajudar e te disse, com aquela má vontade e indulgência peculiar dos irmãos mais velhos, que uma letra só muito fraca para fazer um som decente, desses de palavras, e que precisava de uma daquelas cinco letrinhas para ajudar. Disse mais, mostrou que o número de duplas de qualquer palavra podia ser descoberto batendo palmas. “Bo-la”, viu? Batemos palmas duas vezes. Pai, diz agora para esta idiota escrever banana!”. Tu bateste palmas três vezes e… deu certo, escreveste ba-na-na! Viste o que a paixão pelo futebol faz?
Ah, tiveste algumas dificuldades no colégio, mas eu também tive no meu tempo. E, também como tu, era um dos mais baixinhos da turma até me estabelecer como médio. Cresci tarde para chegar a meus incríveis 1,71m. Teu irmão também é um ex-anão, né? Só crescemos depois dos quatorze, ele bem mais do que eu. Quando fomos ao médico para ver tua idade óssea deu quase dois anos a menos. Então, acho que vai dar para ganhar da tua tia, das tuas avós e das tias-avós anãs, passando fácil dos 1,60m. Maldade com elas, né?
Olha, li uma vez que, oficialmente, a Unicef considera que a adolescência começa aos doze anos e acaba aos dezoito. Confesso que conheço pessoas que já passaram dos quarenta e que refutam eloqüentemente este cálculo arbitrário, mas consideremos que ele seja verdadeiro. Então, hoje, às 19h35, todo aquele teu mau humor matinal, aquela recusa de dar justificativas para certas atitudes, aquele azedume repentino e inexplicável, aquele choro ou grito que não se sabe o motivo, aquele fechar-se no quarto, tudo, mas tudo mesmo, estará inteiramente esclarecido: será a abominável aborrecência. Ho, ho, ho.
Mas ela não há de mudar assim tão rápido teus sonhos de andar a cavalo todos os dias, de ficar mais tempo comigo, tuas vontades de comer eternamente pastel à noite, de ver filmes de terror com a Claudia, de visitar cemitérios com a mesma doida varrida, de dizer que odeias ler para depois elogiar os livros e sentir pena quando acabam e de criares agendinhas mentais e rotinas para todas as tarefas do dia.
E por falar em tarefas, anote aí. Não esqueça que te busco hoje lá pelas cinco, te dou o presente e vamos ao supermercado comprar as bebidas para a festa de hoje, que terá horário rigoroso para começar e nenhum para terminar e que acabará numa negociação assim:
– Pai, posso dormir uma hora mais tarde hoje?
– Não.
– Então meia hora?
– Não.
– Então, quinze minutos?
– Dez.
– E que horas tu vai me acordar amanhã?
– Às 6h40.
– Ah, eu posso chegar atrasada no colégio amanhã?
– Não.
Ah, as fotos. Como sei que nunca leste o meu blog – apesar de achá-lo “muito massa” –, botei um chamariz, entende? O que é chamariz? É um tipo de propaganda bem direcionada, meio que só para ti, em que vais ver a tua cara e talvez te sintas a fim de ler isto aqui, sua pentelha.
Um beijo do pai, minha linda guloxinha.
P.S. – Ontem, fomos ao jogo só eu e ela. Um diálogo:
– Pai, sobre o que tu e o Dado tanto conversam durante os jogos? – Dado, ou Bernardo, é o irmão.
– Sobre os jogadores, a tática.
– Quero que tu converse também comigo sobre isso.
– Tá bom.
Up-grade: Atendendo a pedidos, uma foto da Bárbara saltando:
A mais bela mulher da TV brasileira ataca Serra
Certo, ela é da Globo, mas quaisquer pruridos ideológicos caem e sobe… Bem, nossa consideração por uma grande mulher. Sim, por uma grande mulher que atacou Serra com inédita voracidade. Leiam abaixo a transcrição das perguntas de Renata Vasconcelos ao candidatinho ontem pela manhã, no Bom Dia Brasil.
Renata – Além do salário mínimo e da aposentadoria, o senhor fez outra promessa ou anúncio, como o senhor disse. Um 13º para o Bolsa Família, como se o programa de assistência fosse uma espécie de emprego. O seu partido defendia uma porta de saída para quem é dependente do Bolsa Famíla. Eu gostaria de saber o que aconteceu, o senhor mudou de opinião?
Serra – Não. Primeiro, nós criamos as bolsas. Eu criei a bolsa alimentação no governo Fernando Henrique… (e enrolou …)
Renata – Justamente, a ideia então é? (Insistiu a deusa)
Serra – Exatamente para que a renda possa se elevar. (?????? Enrolation rides again …)
Renata – Candidato, muitos dos seus aliados criticam a sua postura nessa campanha porque dizem que o senhor não defende, como deveria, os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso e prefere, por exemplo, por a imagem do presidente Lula, inclusive na sua propaganda de TV. O senhor tem receio de ser oposição?
Serra – Não, não. Essa coisa do Lula, foi bom você ter perguntado, porque se repete muito. Não estou dizendo que é o seu caso, mas muita gente que pergunta não viu. Passou durante três segundos na televisão, ou quatro segundos. (Ah, OK…)
Renata – Então, por que esconder Fernando Henrique Cardoso?
Serra – Agora, com relação ao Fernando Henrique, ninguém mais do que eu tem defendido… (mais enrolação)
Ah, e ela tem uma irmã gêmea! Já imaginaram as possibilidades matemáticas disso?
Obs.: as perguntas e respostas foram copiadas do site da Rede Globo.
Minhas Falsas Primaveras
Publicado em 23 de setembro de 2005
Há aqueles que, quando ouvem alguém contar algum problema pessoal, respondem com outro seu, normalmente muito mais grave. É um egoísmo que torna a conversa um campeonato de lamentações. E este gênero de pessoas não admite perder. Não sou assim, raramente reclamo. Mas aviso que, atualmente, é mau negócio querer competir comigo. Tenho um leque muito variado para apresentar.
Muitos e solucionáveis problemas — com maior ou menor sofrimento, com maior ou menor investimento de angústia — estão se desdobrando e, durante este período, tenho esquecido aniversários, não tenho respondido muitos e-mails e os compromissos não fundamentais são deixados a uma duvidosa auto-resolução.
Àqueles que sabem das preocupações que tenho com minha mãe, aviso que ela está melhor e que fizemos algumas reformas em sua casa, além de alterarmos sua medicação junto com minha irmã — que é médica — e os médicos da Dra. Maria Luiza. Mas nada foi fácil e ela resistiu o que pôde à retirada da banheira. Fim.
Mas há a parte boa, quase primaveril. A casa-edifício que estamos construindo parece subir a cada dia, a garagem está lá no térreo, nosso futuro apartamento está acima dela, já possuindo chão e algumas paredes. É preciso imaginação para visualizar o apartamento da família do irmão da Claudia mais acima, mas logo ele será concreto. E, como nosso apartamento será de tamanho razoável — enorme, se considerarmos as construções de preço médio atuais –, brevemente a Claudia poderá voltar a promover suas festas. Ah, e haverá uma edícula para recebermos amigos e blogueiros de passagem por Porto Alegre, além dos maridos eventualmente chutados. Aguardem!
No final de novembro, a Claudia tem que ir à Itália por motivo de trabalho. Eu vou acompanhá-la. Será ótimo, apesar da temporada curta de 10 dias, mas não é ainda a primavera, pois, no hemisfério norte, será o final do outono . Muitos de vocês deverão morder-se ódio, pois vou conhecer pessoalmente a Nora Borges e o Flavio Prada. Eu e o Flavio participaremos do III Grande Encontro de Blogueiros na Itália, com certamente com o dobro de participantes do primeiro. A reportagem sobre o I Encontro pode ser lida (e vista) clicando-se aqui. Infelizmente, o outro representante de blogueiro brasileiro na Itália, o Allan ficou meio fora de mão em nosso breve percurso. Mas, com o trabalho que a Claudia faz, o que não vai faltar são oportunidades.
Antes, no dia 12 de novembro, às 15h30, no Memorial do RS, durante a Feira do Livro de Porto Alegre, estarei autografando o livro do Blog de Papel. Trata-se de uma obra coletiva onde haverá contos e crônicas de Alê Félix, Alexandre Inagaki, Ane Aguirre, Arquimimo Moraes, Edson Marques, Fabio Danesi Rossi, Fal Vitiello de Azevedo, Maira Parula, Marco Aurélio Brasil, Marco Aurélio dos Santos, deste que vos escreve, mais Nelson Moraes, Nelson Natalino e Ticcia Antoniete. Às 16h30 do mesmo dia, na sala “O Retrato”, do Centro Cultural Erico Veríssimo, haverá uma mesa sobre Literatura e Internet com a participação de André Dahmer e dos autores gaúchos do Blog de Papel – eu, a Ane e a Ticcia – com mediação do escritor Armindo Trevisan.
E no dia 19, às 18h, haverá o lançamento em São Paulo, na Oca (Parque do Ibirapuera), com a presença de toda a galera.
A renda obtida com nosso livro não irá garantir a independência financeira dos autores, mas será destinada à APAE de Lagoa Vermelha (RS), que tem um blog desde junho de 2004.
Tá bom, vá lá, estas últimas notícias são, para nós, uma primavera inteira.
O mau amigo de Marcelo Backes
Pois minha atividades no Sul21 andam tão açambarcantes que eu acabei esquecendo de avisar que Três traidores e uns outros, do meu amigo Marcelo Backes, teve lançamento na Livraria Travessa, no Rio de Janeiro, no último dia 16. Li Três traidores ainda antes da revisão final. Enchi o saco do Marcelo num longo e-mail em que corrigia principalmente erros de digitação… Ontem, para minha enorme culpa, recebi o volume da Editora Record pelo correio. Sim, terrível, esqueci. Não que meu blog vá fazer alguma diferença para o sucesso do livro, é que estamos todos tão empenhados na evolução do Sul21 que acabamos — eu, a Nubia, a Rachel, o Igor, o Prestes, o Bruno e o Seadi — deixando de lado a vida pessoal.
Ontem, comecei a ler o livro do Marcelo. Está tão diferente que nem parece o mesmo. Desconheço sua forma de trabalho; apenas vi que as coisas parecem muito organizadas em seu computador, mas penso que tenha recebido uma primeiríssima versão. O primeiro capítulo já foi um conto que li faz uns dois ou três anos. Ele reaparace muito modificado e melhorado, apresentando um narrador mais presente, o qual deverá tomar conta do livro. O Backes escreveu num de seus livros que Milton Ribeiro era o “melhor leitor não profissional” que ele conhecia, mas minha primeira leitura de Três traidores e uns outros foi um fracasso. Por algum motivo, quando abri o arquivo com o romance, li a relação de capítulos como se fosse uma relação de contos — culpa talvez de lido o primeiro capítulo com um conto no passado — e acabei lendo-os em intervalos de 10 ou 15 dias, pelo simples fato de que costumo carregar livros comigo e não folhas A4. O resultado é que simplesmente não me dei conta de que o personagem principal era o mesmo, narrando quatro episódios de sua vida em sentido cronológico inverso.
A sensação que tive ontem à noite foi a de ler outro livro, não aquele de há quase dois anos. Logo que terminar, mando notícias para este blog, OK? E, bem, peço descupas ao Marcelo. Devo estar no título do livro no papel de uns outros.
Óia – NOVAS DENÚNCIAS CONTRA DILMA SACODEM O PAÍS
Gostar de quem conta histórias
Na semana passada, entrevistei Paixão Côrtes para o Sul21. Não sou ligado ao Movimento Tradicionalista Gaúcho, mas adoro quem se dedica a contar histórias, principalmente se for um velho cheio delas. Hoje, neste feriado estadual, a entrevista foi publicada. Acho que ficou boa e o maior mérito é do próprio Paixão e do fotógrafo Bruno Alencastro, que fez um belo trabalho dentro da casa do entrevistado e ainda foi lá no Laçador complementar.
Pequena Missa Solene, de Gioacchino Rossini
Abaixo, temos a versão original do movimento de abertura, Kyrie, da Pequena Missa Solene (Petite Messe Solennelle) de Rossini. Depois, após o pequenérrimo conto que este coitado escreveu, há uma versão que não é a original, mas que é cantada por um coral muito melhor. Então, entre as duas versões, há um antigo conto meu que usa a Pequena Missa de Rossini como personagem. Bom divertimento!
Todos os pecados perdoados
A Fernando Monteiro
Eu estava estudando na Itália, mas o tema de maior interesse, aquele sobre o qual me debruçava com verdadeira afeição, era Antonella, minha pequena e saltitante romana. Um dia, tivemos uma discussão acerca de algumas grosserias que, segundo ela, eu cometera, e ela rompeu nossa ligação.
Dias depois, telefonei-lhe e convidei-a para assistirmos à Pequena Missa Solene de Rossini, que estaria sendo apresentada na Parrocchia dell’Assunzione, no Tuscolano. Depois de alguma hesitação e surpresa – ela não esperava uma ligação minha, ainda mais sem referências a nosso impasse -, ela aceitou. Antonella amava a música de tal forma que eu não tinha como saber se a aceitação do convite significava um perdão ou a mera impossibilidade de recusar a missa de Rossini.
Caminhamos lado a lado, sem nos tocarmos. Tive todo o cuidado em ser verbalmente o mais gentil com ela, já que as circunstâncias não permitiam nada além. Quando a Missa começou, ela se riu. Disse em meu ouvido que achara engraçada a pobre instrumentação que Rossini utilizara. Passaram-se alguns minutos e notei que Antonella estava muito emocionada. Abracei-a e ela apoiou sua cabeça em meu peito. Enquanto lhe acariciava o rosto, sentia suas lágrimas molhando meus dedos. Soube que estava perdoado.
Rossini começou a escrever música muito jovem. Era prolífico e compunha, em média, duas óperas por ano. Então, aos 37 anos – enfadado do freqüente contato com cantores temperamentais e diretores de teatro ainda piores -, parou de trabalhar seriamente com música, tornando-a um divertimento pessoal. Riquíssimo e célebre, dedicou-se ao lazer e a um irônico e gentil convívio com todos, itens nos quais era mestre. Costumava promover freqüentes festas em sua casa. Ali, bebia-se champanhe, vinho, comia-se esplendidamente e ouvia-se música. Às vezes, Rossini apresentava ao piano peças de um certo compositor anônimo… O compositor ressurgiu surpreendentemente aos setenta e poucos anos publicando duas extraordinárias peças sacras – o Stabat Mater e a Petite Messe Solennelle (Pequena Missa Solene) -, além de peças para piano. Tais obras foram agrupadas sob o título genérico de Péchés de vieillesse.
Fomos a meu apartamento, onde nos amamos e dormimos como fazem os casais. Quando acordei, não vi Antonella. Havia somente um bilhete em italiano sobre meu criado-mudo. Meu amigo, fomos engolfados por um dos “pecados da velhice” de Rossini. O que aconteceu não tem nada a ver com nossa situação. Não me procure mais. Antonella.
Nunca mais vi minha pequena Antonella. Porém, ontem, recebi de um amigo uma gravação da missa de Rossini. Comecei a ouvi-la, mas logo interrompi a audição por pudor. Deixei todos dormirem para religar o aparelho de som. Então, enquanto minha mulher dormia, ouvi toda a gloriosa Missa, imóvel, sentado no escuro, sentindo a presença de minha adorável Antonella e de uma outra vida perdida.
Apoie, divulgue, porra!
Uma utilização nobre para aquele tapume idiota da Praça da Alfândega
Mera constatação, mas verdadeira pra mais de metro
Quando a ascensão social causa medo e perplexidade de Luiz Carlos Azenha.









