Benedetti básico

Tanto en sus novelas, como por ejemplo “La tregua” (1960), como en sus cuentos “Montevideanos” (1959), o en sus poesías de “Poemas de oficina” (1956) e “Inventario” (1963), Mario Benedetti ha trabajado una cuerda que se detiene en el hombre medio y sus peripecias. Es un defensor de la comunicación plena del lenguaje literario, postura que le ha ganado millares de lectores en el mundo de habla hispana. Su tarea crítica fue reunida en diversos textos, como “Letras del continente mestizo” (1967), “Crítica cómplice” (1971), “El desexilio y otras conjeturas”(1984) y “Perplejidades de fin de siglo” (1989). Es también conocida su adhesión a Cuba y a las causas de izquierda, lo que lo obligó a exiliarse durante la dictadura uruguaya de los años 70 e inicios de los 80. Mantiene una intensa relación con la Argentina: entre 1938 y 1941 residió continuamente en Buenos Aires. Y dijo en 1984: “Volver a la Argentina, después de ocho años, ha sido muy estimulante. Al segundo día fui, como cumpliendo un rito, a la Plaza San Martín, adonde iba en mi adolescencia a leer. Allí decidí ser escritor, y empecé a escribir mi primer libro de poemas”.

FONTE: Página 12

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José Saramago: "Un amigo, un hermano"

En una columna en el diario El País de Madrid, el escritor portugués se refiere a Benedetti como “Un amigo, un hermano”.

“La obra de Mario Benedetti, amigo, hermano, es sorprendente en todos los aspectos, ya sea por la extensión en la variedad de géneros que toca, ya sea por la densidad de su expresión poética como por la extrema libertad conceptual que usa. El léxico de Benedetti ha ignorado deliberadamente la supuesta existencia de palabras “poéticas” y de otras que no lo son. Para Benedetti, la lengua, toda ella, es poética. Leída desde esta perspectiva, la obra del gran poeta uruguayo se nos presenta, no sólo como suma de una experiencia vital, sino, sobre todo, como la búsqueda persistente y lograda de un sentido, el del ser humano en el planeta, en el país, en la ciudad o en la aldea, en su casa simplemente o en la acción colectiva. Son muchas las razones que nos llevan a la lectura de Benedetti. Tal vez la principal sea ésa, precisamente: que el poeta se ha convertido en voz de su propio pueblo. O sea, en poeta universal”, escribió Saramago.

FONTE: El Pais de Montevidéo

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Mario Benedetti (1920-2009)

A Meg me avisa que um dos escritores que mais amo morreu ontem em Montevidéo aos 88 anos. Claro que foi uma vida longa, prolífica e deveríamos ficar felizes com uma existência assim, só que Mario Benedetti, mesmo em seus livros mais políticos, tinha uma voz tão próxima do leitor, tornava-se tão íntimo de nós, que é impossível não se sentir triste por ele, pela literatura, pelo Uruguai e por nós, que vamos ficar privados de sua companhia. Gosto muitíssimo dele e agora improvisarei qualquer coisa em sua memória.

Rodolfo Nin Novoa, presidente em exercício do Uruguai, María Simon, ministra da Cultura, e Ricardo Ehrlich, prefeito de Montevidéu estão preparando seu velório no Palácio Legislativo e seu sepultamento no Panteão Nacional.

A Agência EFE publicou a seguinte nota, de Juan Antonio Sanz:

Montevidéu, 17 mai (EFE).- O escritor uruguaio Mario Benedetti deixa atrás de si uma rica obra, na qual os mais de 80 romances, ensaios, contos e poemas escritos mostram o compromisso social e a coerência de alguém que acreditou “na vida e no amor, na ética e em todas essas coisas tão fora de moda”.

“Ele sempre disse que se sentia mais poeta que outra coisa”, afirmou a biógrafa do escritor, Hortensia Campanella, quando apresentou, há alguns meses, o livro “Mario Benedetti. Un mito discretísimo”.

Na obra, ela traça a trajetória de um dos mitos da literatura hispano-americana do século XX e talvez a consciência poética de todo um continente.

Essa poesia se transformou no único pilar para enfrentar seus últimos anos, após a morte da esposa, Luz López, em 2006, sua companheira há mais de seis décadas e a melhor crítica do poeta.

Benedetti teve “uma vida que foi perseguindo a utopia e que, por isso mesmo, encontrou na poesia sua melhor expressão, ou pelo menos, a mais querida, a mais autêntica”, explicou Campanella.

Joan Manuel Serrat, Daniel Viglietti, Pedro Guerra, Rosa León, Juan Diego ou Nacha Guevara são só alguns dos cantores que deram voz aos versos de Benedetti.

A poesia, dizia Benedetti, é “um sótão de almas”, uma “claraboia para a utopia” e “uma drenagem da vida/ que ensina a não temer a morte”.

Foi também o martelo que lhe permitiu forjar uma carreira literária ligada às profissões mais diversas: empregado de uma oficina, taquígrafo, caixa, vendedor, contador, funcionário público, tradutor e jornalista, antes de se dedicar ao que mais gostava.

“Quando tenho uma preocupação, uma dor ou um amor, tenho a sorte de poder transformar em poesia”, afirmava.

Títulos como a primeira obra do autor, “La víspera indeleble”, os “Poemas de la oficina”, “Rincón de Haikus”, os grandiosos três “Inventarios” ou as “Canciones del que no canta” foram coroados no ano passado com seu último poemário, “Testigo de uno mismo”.

Este livro era “um pouco o resumo de uma carreira poética extraordinária”, com todos os grandes temas da poesia universal transbordando pelas páginas, como disse a romancista Sylvia Lago.

Além disso, nesta obra já se pressentia o final dos dias do escritor, pois ele dizia claramente que se sentia só sem sua amada Luz e com um mundo reduzido: “Chega a noite e estou só/ me aturo a duras penas/ o bom amor a morte o levou/ e não sei para quem seguir vivendo”.

A poesia também deixou muito espaço para a prosa na obra de Benedetti e, assim, seu principal romance, “La tregua”, é uma das luzes da literatura do continente, com mais de 140 edições em 20 idiomas desde que foi publicado, em 1960.

O poeta também dedicou tempo aos contos, nos quais “cada palavra tem valor por si só” e, sobretudo, “têm a ver com os sentimentos”, como explicou em 1998.

O conto “é o gênero mais gratificante, tanto para o autor quanto para o leitor”, pois, “desde tempo imemorável, as pessoas gostam de que lhes contem coisas, e alguns gostam de contá-las”, dizia o autor de “Geografía”, “La vecina orilla” e “Montevideanos”.

Tanto a prosa como a poesia de Benedetti foram reconhecidas amplamente, e isso é atestado por prêmios Ibero-americano José Martí (2001) e Internacional Menéndez Pelayo (2005).

Em sua última aparição pública, em dezembro de 2007, Benedetti recebeu a Ordem Francisco Miranda, dada pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, na Universidade da República do Uruguai, aclamado pelas centenas de estudantes que reconheciam no poeta um ícone nacional.

Chávez reconheceu o autor de “Gracias por el fuego” como um ícone da esquerda latino-americana, pelo compromisso social que refletiu em sua vida, com o exílio durante a ditadura uruguaia na Argentina, em Cuba e na Espanha, e, sobretudo, em sua obra.

“A consciência é a única religião”, chegou a dizer este crítico da “grande hipocrisia que rege toda a vida política” e da globalização, à qual chamou de “ditadura indiscriminada, que cada vez conduz mais ao suicídio da humanidade”.

Em declarações à Agência Efe em junho de 2002, Benedetti explicava que, apesar de “os poetas não terem capacidade de influir nos Governos”, “atingem o cidadão comum, e, às vezes, servem para esclarecer uma dúvida, para dar uma tímida resposta a uma pergunta de alguém”.

Há alguns meses escrevi uma resenha a respeito de seu grande ensaio sobre a mediocridade, o romance A Trégua.

E, em meu blog anterior, publiquei duas resenhas curtas:

Eu já deveria ter lido Gracias por el fuego há muitos anos. Afinal, tudo o que do uruguaio Mario Benedetti me caiu nas mãos foi apreciadíssimo. Durante a Feira do Livro de Porto Alegre, descobri que havia uma edição em pocket da L&PM e finalmente o adquiri. É um livro político que trata do tema da frustração e do conformismo ou impotência frente à realidade, mas também é um romance psicológico que trata da baixa auto-estima. A obra foi censurada durante as ditaduras no Uruguai, na Argentina e na Espanha e diria que nunca estes governos foram tão exatos ao identificar algo que os explicasse e ameaçasse. A relação de Ramón Budiño com seu pai é a analogia perfeita dos métodos utilizados pelos regimes ditatoriais e uma aula sobre corrupção. Nada mais atual. Sem palavras de ordem, sem discursos datados e fora de hora, o livro tem boa trama e convence por seus personagens bem construídos e por sua humanidade. E traz, como sobremesa, uma figura de mulher absolutamente irresistível: Dolly, ou Dolores, para os íntimos. É uma pena que não tenhamos no Brasil uma obra sobre os tais “anos de chumbo” que chegue aos pés de Gracias por el fuego.

A Borra do Café, do uruguaio Mario Benedetti (Record) é um livro fácil de ler, daqueles de levar na mão de um lugar a outro. A princípio, parece ser um livro de crônicas, mas estas começam a completar-se e a ter continuidade formando um curioso romance feito de mosaicos. É notavelmente bem escrito e — por que não? — montado. Destaque para as descrições das primeiras experiências sexuais do personagem principal e para o ambiente da Montevidéo dos anos 30 e 40.

Termino este obituário com outro, escrito por Benedetti. O refinado escritor era capaz de momentos de ódio, como quando festejou a morte de Ronald Reagan. Leiam:

A Ronald Reagan, a la muerte de un canalla

OBITUARIO CON HURRAS, de Mario Benedetti

Vamos a festejarlo
vengan todos
los inocentes
los damnificadoslos que gritan de noche
los que sueñan de dia
los que sufren el cuerpo
los que alojan fantasmas
los que pisan descalzos
los que blasfeman y arden
los pobres congelados
los que quieren a alguien
los que nunca se olvidan
vamos a festejarlo
vengan todos
el crápula se ha muerto
se acabó el alma negra
el ládron
el cochino
se acabó para siempre
hurra
que vengan todos
vamos a festejarlo
a no decir
la muerte
siempre lo borra todo
todo lo purifica
cualquier día
la muerte
no borra nada
quedan
siempre las cicatrices
hurra
murió el cretino
vamos a festejarlo
a no llorar de vicio
que lloren sus iguales
y se traguen sus lágrimas
se acabó el monstruo prócer
se acabó para siempre
vamos a festejarlo
a no ponermos tibios
a no creer que éste
es un muerto cualquiera
vamos a festerjarlo
a no volvermos flojos
a no olvidar que éste
es un muerto de mierda

Em português:

OBITUÁRIO COM HURRAS, de Mario Benedetti

Vamos lá, vamos festejá-lo
estão todos convidados
os inocentes
as vítimas lesadas
os que gritam de noite
os que sonham de dia
os que sofrem no corpo
os que alojam fantasmas
os que pisam descalços
os que blasfemam e ardem
os pobres congelados
os que amam alguém
os que nunca se esquecem
vamos festejá-lo
estão todos convidados
o crápula morreu
acabou-se a alma negra
o ladrão
o porco
acabou-se para sempre
viva
estão todos convidados
vamos festejá-lo
para não dizer
que a morte
apaga sempre tudo
tudo purifica
num dia qualquer
a morte
não apaga nada
ficam
sempre as cicatrizes
viva
morreu o cretino
vamos festejá-lo
e não chorar como de hábito
que chorem os que são como ele
e que engulam suas lágrimas
foi-se embora o monstro magnata
acabou-se para sempre
vamos festejá-lo
sem ficar mornos
sem acreditar que este
é um morto qualquer
vamos festejá-lo
sem ficar frouxos
sem esquecer que este
é um morto de merda

Um morto de merda é tudo o que Mario Benedetti não é. Em 2006, Benedetti perdeu sua esposa, que se chamava Luz e com a qual era casado desde 1946. Nunca se recuperou. Luz o acompanhou no longo exílio pela Argentina, Peru, Cuba e Espanha. Benedetti afirmava que a literatura era “um sótão de almas”, uma “clarabóia para a utopia” e “uma drenagem da vida que ensina a não temer a morte”.

Atualização das 7h20: aqui, um excelente texto sobre Benedetti. E aqui, imagens — quase todas recentes — do velhinho.

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Concerto de Brandenburgo Nº 3, de J. S. Bach

… com a esplêndida Orquestra Barroca de Freiburg. O primeiro movimento e o terceiro — quase não há o segundo — foram uma revelação para o menino que eu era lá pelos 13-14 anos. Julgara não ser possível haver maior perfeição. E há?

Se você não vê a imagem acima, clique aqui.

O adágio quase inexistente…

Os sem Firefox devem clicar aqui.

Eu não disse que era quase inexistente? São poucas notas que servem de introdução ao vertiginoso terceiro movimento.

Uhu!

Os cegos clicam aqui.

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Porque hoje é sábado, o Festival de Cannes 2009

Começou o Festival de Cannes de 2009. Achei belíssimo o cartaz.

As atrizes não deixaram barato.

Monica Bellucci e Sophie Marceau tomaram o mundo com suas fotos na Paris Match.

Bellucci tem 44 anos, Marceau, 42.

Escolher entre as duas seria como optar entre Bach e Beethoven …

… (pois, aqui, estamos no topo da evolução humana).

Mas, como se não bastasse, há mais em Cannes 2009.

Há a cinquentona Isabelle Huppert presidindo o júri.

Há a trintona Penélope Cruz, tornada loira por Almodóvar.

Há Charlotte Gainsboroug — a filha de Jane Birkin é uma feia na qual nosso olhar gruda –, …

… no Anticristo de von Trier.

Há Diane Kruger, …

… no último Tarantino.

Há o sorriso iluminado de Juliette, …

…. abaninhos de Giovanna, …

… glamour de Rachel, …

… carinhas de Audrey e, fundamentalmente, a presença da maior de todas as francesas: …

… Jeanne Moreau, linda aos 81 anos. Monica Bellucci, desculpe, mas és uma baranga perto de Jeanne.

Pffff…

Obs.: Eu sei que é demais pedir que haja três filmes efetivamente BONS abaixo, apesar da nominata impressionante dos concorrentes à Palma de Ouro. Confiram:

A L’ORIGINE, de Xavier Giannoli (FRANÇA) com Gérard Depardieu e Emmanuelle Devos
ANTICHRIST, de Lars Von Trier (DINAMARCA) com Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg
BAK-JWI (THIRST), de Chan-Wook Park (CORÉIA DO SUL) com Eriq Ebouaney
BRIGHT STAR, de Jane Campion (REINO UNIDO) com Abbie Cornish e Ben Whishaw
CHUN FENG CHEN ZUI DE YE WAN, de Lou Ye (CHINA)
DAS WEISSE BAND, de Michael Haneke (ÁUSTRIA) com Susanne Lothar e Ulrich Tukur
ENTER THE VOID, de Gaspar Noé (FRANÇA) com Nathaniel Brown e Paz de la Huerta
FISH TANK, de Andrea Arnold (REINO UNIDO) com Michael Fassbender
INGLOURIOUS BASTERDS, de Quentin Tarantino (ESTADOS UNIDOS) com Brad Pitt e Diane Kruger
KINATAY, de Brillante Mendoza (FILIPINAS)
LES HERBES FOLLES, de Alain Resnais (FRANÇA) com Sabine Azéma
LOOKING FOR ERIC, de Ken Loach (REINO UNIDO) com Steve Evets
LOS ABRAZOS ROTOS, de Pedro Almodóvar (ESPANHA) com Penélope Cruz
MAP OF THE SOUNDS OF TOKYO, de Isabel Coixet (ESPANHA) com Rinko Kikuchi
TAKING WOODSTOCK, de Ang Lee (ESTADOS UNIDOS) com Demetri Martin
THE TIME THAT REMAINS, de Elia Suleiman (PALESTINA) com Elia Suleiman
UN PROPHÈTE, de Jacques Audiard (FRANÇA) com Niels Arestrup
VENGEANCE, de Johnny To (HONG KONG) com Johnny Hallyday e Sylvie Testud
VINCERE, de Marco Bellocchio (ITÁLIA) com Giovanna Mezzogiorno e Filippo Timi
VISAGE, de Tsai Ming-Liang (FRANÇA) com Mathieu Amalric e Jeanne Moreau

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Duas frases marcantes por motivos antitéticos

Uma frase inteligente e verdadeira:

A literatura faz cidadãos. É uma forma de a gente se civilizar, Não conheço nada mais importante, que nos melhore como seres humanos, do que ler livros.

Lívia Garcia-Roza

Uma tolice que dá o que pensar (dá piadas também):

Liberte os agasalhos!

Yeda Crusius

Obs.: Atenção para a logomarca da Brasken atrás de Yeda. A empresa teria sido uma das que teria colaborado na compra da casa de R$ 1.500.000,00 — em Porto Alegre, tal valor significa uma supermansão — da desgovernadora. “Em sendo verdade”, a troca de favores está valendo até, e principalmente, em iniciativas humanitárias.

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Tertúlia Virtual

Neste dia 15, o tema da Tertúlia Virtual é uma brincadeira:

“Você irá passar 10 anos numa pequena ilha deserta no Pacífico, e só poderá levar cinco coisas. Quais seriam? “.

A postagem pode apenas nomear as cinco coisas (pessoas inclusive), ou cinco imagens das coisas, ou ambos! Pensem bem, serão 10 anos. A ilha é deserta. Não tem energia elétrica, não recebe sinal de telemóvel ( celular ), TV, ou internet! Pensem bem!

Eu não levaria nenhuma pessoa porque pode ser perigoso. Tomaria alguns cuidados prévios: decoraria alguns manuais de sobrevivência em locais inóspitos, assim como quais as plantas que poderiam ser utilizadas para comer, para medicar-se, etc. Teria que aprender a fazer fogo como os caras fazem nos filmes americanos. Então, meu Manual de Sobrevivência iria instalado no cérebro. E eu levaria:

1. Uma barraca.
2. Um saco de sementes para recomeçar minha vida no Neolítico. Nego-me a ser um mero coletor paleolítico.
3. Um caniço.
4. Um saco com algumas mudas de roupas (vale, não?).
5. Uma foto da Bárbara, do Bernardo e da Elena.

Porém, tentaria enganar o Chefe da Alfândega Eduardo Lunardelli escondendo em meio às roupas algum material para escrever e o romance Doutor Fausto, de Thomas Mann, com a finalidade de minorar minha sede de leitura e música.

Ah, e em meio às sementes haveria um canivete suíço, claro. Sei que o Eduardo faria vistas grossas, ele é legal…

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Um jogo, o Marconi, outro jogo

Estava assistindo ao Sport martelar, martelar e martelar o Palmeiras quando me veio a idéia de ligar para Marconi Leal. Trata-se do mais famoso torcedor do Sport a morar abaixo das latidudes do Trópico de Capricórnio. Talvez o único. Pego o telefone e ligo para São Paulo. Atende Patrícia, sua mulher, uma gaúcha que tenta torná-lo mais razoável, isto é, colorado. Ela me cumprimenta alegremente enquanto me diz que está levando o telefone para o Marconi na cama. Rapidamente, visualizei o meu amigo em seu quarto vendo o jogo, dando tapas no colchão a cada gol perdido, desejando que Paulo Baier voltasse a capinar na roça. Ele atende:

— E aí, Ribas?

— Vem cá, esse teu time não para de perder gols?

— É? Estou ouvindo uns vizinhos gritarem…

— Não estás vendo o jogo?

— Não, é que estou passando por uns problemas de pressão e meu médico sugeriu que eu não me emocionasse muito.

— Ah, tá.

(Um pouco de hesitação de minha parte).

— Olha, o Sport está bem. O jogo está seguro. O Palmeiras nem ataca. O gol sai logo…

— Hahahahahahahaha, não te preocupa, basta não ver!

E seguimos conversando por algum tempo. Sobre outros assuntos, claro…

Tão verídica quanto a história acima é o fato do Sport ter marcado apenas um gol durante o jogo e só mais um na decisão por pênaltis, o que retirou o clube de meu amigo da Libertadores. Marcos esteve do tamanho da decisão; o restante do Palmeiras, não. Ganharam com muita, muita sorte; defenderam-se todo o tempo; tinham poucos contra-ataques e mínima posse de bola. Neste Palmeiras, não reconheço a assinatura de seu treinador: é um time pesado, sem criatividade, de constrangedora simplicidade. Mas foi uma bela partida, típica de Libertadores, nada a ver com os amistosos do Grêmio, que nada mais são do que coletivos. O São Paulo devia protestar por não fazer o seu!

E ontem vi o jogo do Inter. O Inter perdeu muito com esse posicionamento defensivo inventado pelo Tite. São os tais sete atrás da linha da bola. Ora, se é assim, D`Ale, Nilmar e Taison têm de armar e fazer os gols. O louco do Nilmar rende sob qualquer esquema, mas D`Alessandro e principalmente Taison sumiram, assim como o toque de bola. OK, não perdemos para Corinthians e Flamengo, mas apresentamos um futebolzinho pobre, feio e fedorento. O Flamengo merecia vencer o jogo, só que entrou com uma dupla caipira na frente (Éverton e Emerson) e depois botou Obina e Josiel… Assim fica difícil, né?

Não vi o coletivo do Grêmio, só sei que há mais dois programados para as próximas quartas-feiras, desta vez contra um time de beisebol.

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É tudo verdade

Ontem, passei o dia acompanhando o cerco a Yeda Crusius. Não acredito em impeachment e nem o desejo. A entrada em cena de seu vice — que sempre fez-lhe oposição — como uma espécie de salvador e reserva moral do estado teria consequências desastrosas. Em pouco mais de um ano de governo, Paulo Feijó poderia tornar-se herói e novo candidato preferencial da mídia gaúcha. Melhor deixar assim. É bonito ver a louca espernear. É bonito ver Serra preocupado com uma governadora do PSDB comprovadamente ladra.

Mas encontrei esta coisa entre meus e-mails. Trata-se de uma mui truculenta troca de e-mails entre este blogueiro e um candidato a deputado estadual carioca. É tudo verdade, nada foi alterado. Claro que vocês sabem que eu não sou do TRE gaúcho e nem meu sobrenome é Rabelo. Ah, alterei meu e-mail trocando algumas letrinhas e o nome do candidato fazendo o mesmo. Tudo começou com um spam emitido por ele.

From: cesar penha
To: miltonr@mdsinfo.com.br
Sent: Wednesday, September 04, 2002 11:18 AM
Subject: cesar penha

Há mais de 30 anos, desempenho um trabalho em busca da Justiça Social. Como advogado, vendo a sociedade ruir com a total falta de amparo. Empenhei-me em auxiliar aos que clamavam por ajuda. Vereador do Município do Rio de Janeiro – 88/92, fui 2º vice-presidente da Câmara Municipal. Participei de forma atuante, na elaboração da Lei Orgânica do Município. Criei projetos para dependêntes quimicos; Banheiros em praças públicas e orla marítima; Regulamentei a atividade de professor de Educação Física no Município; Doaroes de sangue não pagam inscrição para concurso público municipal; Disponibilizei vale transporte para presidentes de associação de moradores e o mais importante trabalho de minha vida, a “justiça gratuita”. Quero dar continuidade a esse trabalho e conto com seu voto. Para Deputado Estadual Dr. Cesar Penha 12 678

—– Original Message —–
From: miltonr@mdsinfo.com.br
To: cesarpenha12678@ig.com.br
Sent: Wednesday, September 04, 2002 11:20 AM
Subject: Re: cesar penha

Notei que você tem dificuldades com a língua portuguesa. Quer auxílio? Presto consultoria!

—– Original Message —–
From: cesarpenha12678@ig.com.br
To: miltonr@mdsinfo.com.br
Sent: Wednesday, September 04, 2002 12:09 PM
Subject: Re: cesar penha

Va se fuder seu merda!!

—– Original Message —–
From: miltonr@mdsinfo.com.br
To: cesarpenha12678@ig.com.br
Sent: Wednesday, September 04, 2002 1:45 PM
Subject: Re: cesar penha

Amigo.

“Vá” tem acento; e revise seu texto, ele tem 6 erros!

O mesmo para você. Milton.

—– Original Message —–
From: miltonr@mdsinfo.com.br
To: cesarpenha12678@ig.com.br
Sent: Wednesday, September 04, 2002 1:53 PM
Subject: Fw: cesar penha

Desculpe, tem 7 erros. Encontrei mais um. Você é “doutor” por ter feito um doutorado ou é apenas mais um bacharelzinho do PDT?

Milton Rabelo – TRE Porto Alegre

—– Original Message —–
From: cesarpenha12678@ig.com.br
To: miltonr@mdsinfo.com.br
Sent: Wednesday, September 04, 2002 4:04 PM
Subject: Re: cesar penha

Desde quando vc eh do TRE ??
Pensa que me assuta ??
Mais uma vez,, Vá se fuder seu MERDA !!! Bacherelzinho é a pqp!!!

Meta seus acentos e aulas no rabo !!

—– Original Message —–
From: miltonr@mdsinfo.com.br
To: cesarpenha12678@ig.com.br
Sent: Thursday, September 05, 2002 2:22 PM
Subject: RE: cesar penha

Meu caro analfabeto.

Você fez duas perguntas. Vamos a elas.

1. Trabalho na área de sistemas do TRE gaúcho. Isto significa que, se desejar, comerei seu cuzinho carioca.

2. Em sua ponderada resposta, você cometeu três erros: “Assuta” e letra maiúscula após as vírgulas. A propósito, aquelas duas vírgulas consecutivas que você acaba de inventar, significam uma pausa um pouco mais longa?
Se for o caso, sugiro a utilização de um sinal já existente em nossa gramática: o ponto e vírgula (;). E o que é “bacherelzinho”?

Milton Rabelo, sempre a seu dispor para uma aulinha.

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Igreja de São Pelegrino em Caxias do Sul e Antônio Prado

Viajamos durante o fim de semana. Minha mulher tinha algumas reuniões na serra. Eu fiquei vadiando. O exterior da Igreja de São Pelegrino, em Caxias do Sul, é uma verdadeira blasfêmia arquitetônica, uma inconcebível mistura de estilos. A remissão destes pecados inicia na porta, quando nos deparamos com a porta de bronze, obra de Augusto Murer.

O lado de dentro é deslumbrante, com obras de Aldo Locatelli por todos os lados.

Vejam o teto.

Ah, vocês acharam estranho este detalhe?

Pois é, se Michelangelo foi proibido de colocar demônios na Sistina, Locatelli desenhou-os em São Pelegrino. Notável.

Mas há uma coisa absurda. Nos quadros que descrevem a via sacra e que circundam a nave há vidros de proteção. E eles refletem a luz, óbvio. E há muita luz. Então a gente não consegue nenhum quadro por inteiro. Alguns detalhes tem que ser vistos dando uma voltinha para fazer com que os reflexos luminosos se movam. Há malucos que se quase se atiram no chão por uma foto.

E mesmo assim, observem, pegam o reflexo das janelas do outro lado da igreja. O quadro acima é belíssimo. Aquela lata caindo é a lata de tinta do pintor Locatelli, já quase sem forças para finalizar os afrescos de São Pelegrino, em razão do câncer que o mataria aos 47 anos. Algumas pessoas protestam, pois não havia latas na época de Cristo… Céus!

Depois, fomos à Antônio Prado.

Na cidade, há diversas obras tombadas pelo patrimônio histórico. Desconheço a história de Antônio Prado, mas chutaria algo semelhante à Parati. Provavelmente foi mantida do modo como a vemos por ter empobrecido muito.

A única forma de se preservar alguma coisa do passado do Brasil é através do desinteresse. Se há interesse, põe-se tudo abaixo. Voltem às fotos anteriores. Prestem atenção ao tamanho das tábuas. Cada uma tem metros e metros de madeira contínua.

Mesmo que entremeadas de construções modernas, mesmo que os pradenses passeiem na rua com os carros tocando a todo volume uma “música” com a “letra” que transcrevo abaixo: …

Ela já fez plástica,
ela faz ginástica,
ela faz dieta
é gostosa à beça,
ela ficou fantástica,
ela é transgênica,
ela é turbinada,
foi modificada
ela ficou fantástica.

Sobrou alguma coisa para a gente ver. Imagino meus amigos Leônidas Abbio e Daniela Pasetto pequenos, brincando no pátio do Colégio Ulisses Cabral.

Comprando carne num açougue pra lá de temático.

Mas olha, gostei mesmo foi da fantástica, perfeitíssima sopa de capeletti (ou agnolini) que tomamos no Clube União. Comemos maravilhosamente — depois foram servidas milhões de saladas e churrasco impecável. E pasmem, nós pagamos, O CASAL, R$ 28.

Inesquecível.

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Steve Reich: Music for pieces of wood

Se Gavin Bryars é o maior compositor minimalista, Steve Reich é o mais inventivo, surpreendente e matemático. Gosto muito. Com vocês, algumas de suas experiências: a Clapping Music, as Nagoya Marimbas e a Music for pieces of wood em versão “metal”, três estudos para percussão escritos por Reich.

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A privada metafórica e seus efeitos colaterais

Às vezes, uma voz feminina me sussurra ao ouvido: “ Faltam seis jogos para o Inter ser campeão da Copa do Brasil. Acho que vai dessa vez”. Mas logo vem outra voz, agora masculina, e responde: “ E sete para o Grêmio ser campeão da Libertadores”. Se eu pudesse ligar os dois fatos, fazendo um consequência do outro, se pudesse assinar um contrato garantindo as duas vitórias… Acho que não o assinaria.

Pois a Copa do Brasil é o meio, a Libertadores é o fim. A conquista de uma Libertadores é algo que marca e muda um clube e meu coloradismo seria cruelmente atacado com um terceiro título tricolor, enquanto que a Copa do Brasil, pfff… Acho que nem deveria dar vaga direto à Libertadores, mas aquela vaguinha que deve ser confirmada contra um sul-americano fraco. Então, já que rasgamos o contrato, separemos Grêmio e Inter. O Inter ganha a Copa do Brasil e o Grêmio perde a Libertadores. Brilhante! Mas quem fará o Grêmio perdê-la?

Ai, jisuis. Vamos combinar que o San Martín é uma piada. E o próximo adversário do Grêmio está entre Caracas e Cuenca. Vi todos jogarem. São zumbis. Todo o mundo sabe que o Grêmio já está nas semifinais e o que me desespera é que, antes das delas, o São Paulo brigará com o Cruzeiro, o Sport com o Palmeiras, o Boca com o Estudiantes; ou seja, o Grêmio chegará sem cansaço e luta para enfrentar apenas dois times. Como não creio que vá me matar, resta esperar que os melhores vençam.

O entusiasmo do São Paulo me parece o daquele cara que come a Scarlett Johansson e vê que a estagiária gorda e cheia de acne está a fim de “fazer amor”. Além do mais, o time do Morumbi só ganha em Porto Alegre quando traz o Atlético-PR (obrigado, Prestes). Contra o Grêmio, é galinha morta. O Cruzeiro é uma instituição bipolar e, de uma forma que deixaria muitos psiquiatras ruminativos, contratou Kléber, um centroavante com tantos desvios de comportamento que seria o pupilo ideal do Capitão Nascimento. O Boca Juniors tem fama e resultados, mas a formação atual se esforça, corre, berra, bate e sua um rio para parir algo como uma mosca, das pequenas. Sim, estou cagado.

Falam em mudar os cruzamentos. Ah, eu quero, mas não tirem o Cruzeiro do caminho!

A vida do Inter é parecida com a do Grêmio. Enfrenta o Flamengo, depois, se passar, diverte-se com Ponte Preta ou Coritiba – babas dignas de um San Martín da vida — e pega o Vitória do Franciel (dois links) ou o Corínthians do Mano Menezes ou o Fluminense do Fred. Eu prefiro enfrentar o Corínthians. Seria muito mais “temático” ganhar um campeonato deles depois que quase roubamos o Brasileiro de 2005, comprado por eles. Eles se tornariam bi-vices da competição. O Vitória é o time do Carpeggiani, não gostaria de torcer contra ele que foi meu ídolo e o Flu seria também legal, pois seria bi-vice para o Inter. Também seria divertido.

Mas olha, estou preocupado é com quem ganhará do Grêmio. Se apostasse, vocês já sabem, cravaria Cruzeiro. Todo cagado.

P.S. importante: o jornalista Jones Lopes da Silva está escrevendo uma biografia de Escurinho. Quem tiver boas histórias e curiosidades que não as usuais, marque um papo com ele pelo e-mail jones.silva@zerohora.com.br. Falei longamente com ele e o livro sairá bonito e bom.

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Melhor programa cultural para hoje: Cineclubismo nos Anos de Chumbo

Recebi este e-mail:

Olá,

estou organizando uma sessão de cinema na Sala Redenção (UFRGS) no dia 07/05, em que será passado o filme Uma cidade sem passado. A proposta é de que a autora do livro “Cineclubismo – Memória dos anos de chumbo” – Rose Clair Matela – comente, após a sessão, a importância do movimento cineclubista no período da ditadura (não era ditabranda) não só como um espaço de resistência político-cultural, mas também de formação para os sujeitos que dele participaram. Rose Clair paricipou diretamente da organização dos cineclubes no Rio de Janeiro naquela época, viu e viveu de perto a repressão. No dia 08/05, a proposta é de realizar um debate entre ela e Luiz Alberto Cassol – que trabalha com o cineclubismo hoje – para que seja debatida a importância do cineclube naquela época e na atualidade, também como um espaço de resistência político-cultural e de formação para os sujeitos, mas em contextos diferentes. Gostaria de saber se é possível fazer a divulgação no blog quando a data se aproximar. Se puder contribuir de alguma forma, ficamos gratos. Desde já agradeço a atenção.

Att.,
Carla Hirt

Uma Cidade sem Passado (Das Schreckliche Mädchen), de Michael Verhoeven, é um dessas pequenas obras-primas muito pouco vistas. É um filme alemão de 1990. A história: na década de 70, Sonja, uma jovem estudante, inscreve-se num concurso “Minha Cidade Durante o Terceiro Reich“. Porém não são todos que querem colaborar para que ela tenha acesso aos antigos arquivos da cidade. Muita gente entra em pânico e então mais do que nunca Sonja quer descobrir a verdade sobre os que viveram sob o regime da época. Deliciosa mistura de comédia e drama, o filme é baseado em fatos reais. Ganhou vários prêmios e chegou a ser indicado para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Com inteira justiça. (Adaptado desta página).

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Uma abordagem pessoal ao Abecedário de Pound

Durante a adolescência, apaixonei-me tão perdidamente pela literatura, que tinha certeza de que o único destino possível para mim era o de tornar-me escritor. Era capaz de ler livros diariamente por mais de 6 horas. Na época não confessaria isto nem sob tortura, mas minha dedicação era uma meticulosa preparação para o futuro. Queria abordar o maior número possível de obras e fazia-o de maneira sistemática, a fim de alargar pouco a pouco meus conhecimentos. Minha família preocupava-se discretamente com aquele filho maluco que só queria saber de livros, mas como eu era manso, minha situação não lhes assustava muito. Kafka dizia que, fora da literatura, pouca coisa o interessava; a mim também, naquele tempo. Depois, muita coisa mudou, mas fiquemos em Pound.

Nunca me interessei muito por poesia, dedico-lhe um tempo ínfimo se comparado àquele que dou a prosa. Fiquei feliz quando soube que Dostoiévski, Balzac, Bellow, Thomas Mann e outros eram assim também. Porém, no âmbito daquela minha preparação para o futuro, li um ensaísta-poeta que foi fundamental para meu entendimento de literatura. Ele havia caído em desgraça nos meios universitários dos anos 70. Vivíamos sob ditadura militar, todos os intelectuais respeitados eram de esquerda; mas, apesar disto tudo, eu precisava conhecer Ezra Pound, um dos escritores que deram apoio ao fascismo durante a Segunda Guerra Mundial.

Seu ABC da Literatura (Cultrix, 1973), traduzido por Augusto de Campos e José Paulo Paes, foi adquirido e lido por mim em agosto de 1976. É um pequeno livro, escrito quase em forma de panfleto, onde Pound prova, através de teoria simples e de muitos exemplos, que a poesia é tanto melhor quanto mais significados contiver. O ABC comprova que a melhor poesia é a mais saturada de significados e nos explica sobre a sabedoria da língua alemã, onde dichten (condensar) é o verbo alemão correspondente ao substantivo Dichtung, que significa “poesia”. “Grande literatura é simplesmente linguagem carregada de significado até o máximo grau possível”, escreve Pound. Após curtas explicações teóricas, Pound nos demonstra suas teses com excertos. Estes tomam metade do livro e são a prova cabal de que sua teoria foi criada sobre fatos literários, não sobre fatos imaginados.

Ezra Pound (1885-1972)

Os prosadores também tiraram vantagem da condensação. Alguns, além de utilizarem uma linguagem limpa, quase livre de adjetivações – como Kafka e Borges, por exemplo – se utilizam de situações que falam. Isto é, os personagens são colocados em determinadas situações que auxiliam a narrativa ou a contradizem. Este é mais um elemento a condensar significados, pois acrescenta mais informação àquela que nos chega através dos meios tradicionais: texto e diálogos. Este seria o máximo de condensação em prosa, pois além da linguagem enxuta e multi-significante tomada da poesia, há todo um contexto apoiando a narrativa. Também o cinema, a partir da nouvelle vague, passou a “treinar” o público para este tipo de abordagem, na verdade tão antiga quanto Shakespeare.

Condensar não é tão fácil quanto parece. “A incompetência se revela no uso de palavras demasiadas”, diz Pound. Parece fácil eliminar as excrescências de nossos textos, mas como fazer para que os significados se multipliquem? Pound não nos deixa à deriva e também investiga os modos através dos quais as palavras podem ser carregadas de significado.

Porém, a teoria de Pound tem limites. Se alguém censurasse Dostoiévski, Bernhard ou Stendhal pela incrível profusão de repetições e detalhes que seus livros contêm, poderia ser chamado tranqüilamente de doido. Nestes casos, as minúcias criam o ambiente da ação ou servem para caracterizar o pensamento de alguns personagens. Dostoiévski escreveu no plano de Crime e Castigo: encher a narrativa de detalhes e repetições! O mesmo vale para o ultra-verboso e barroco Saramago. Nestes autores, o excesso trabalha a favor da trama. Que bom que seja assim! Se a boa literatura fosse apenas aquela que melhor adere a cânones pré-definidos, tornar-se-ia uma simples competição entre virtuoses e morreríamos de tédio. É excelente que os bons autores insistam em agir como aquelas cozinheiras talentosas e corajosas que mudam as receitas durante a preparação dos pratos. Agindo assim, acabam por cometer tanto erros lamentáveis como gloriosos acertos.

Ou seja, sei lá. Cada um faz do seu jeito.

COMENTÁRIO EXPOSTO AO MILTON E AOS SEUS LEITORES (por Paulo José Miranda)

Bom, pensei demoradamente antes de escrever este comentário: pensei um minuto. Para mim, um minuto é muito para pensar, quando se trata da minha vida e não de filosofia, de poesia, de literatura ou de arte. Aí, sim, demoro-me a pensar. Julgo que a vida não foi feita pra pensar. Na vida age-se. Talvez por isso tenha vivido em tantas e tão estranhas partes deste mundo. Ao ponto de a minha casa ser a internet. Não é certo encontrarem-me em outro lugar. Por isso agradeço tudo quanto posso ao Senhor Tim Berners-Lee pela sua infinita generosidade, ao inventar ao WEB e não ter registado direitos, isto é, ter feito da WEB um espaço gratuito. Assim, devido a esse senhor, hoje todos me podem encontrar em meu e-mail e sites. De tal modo é assim que, aquando do meu projecto America-is, o senhor e fotógrafo Francisco Huguenin Uhlfelder anunciou os membros envolvidos no projecto e as suas localizações deste modo: A em Munique, B em Itália, C em Nova Iorque, D em Lisboa e E(u) num http://etc. Tudo isto por causa de não pensar mais de um minuto em relação à minha vida, aos acontecimentos da minha vida.

Depois desta explicação acerca do meu minuto, passo ao que verdadeiramente aqui me trouxe: o post do Milton. Não me parece que este post seja melhor do que alguns outros, mas é seguramente pertinente por várias razões: 1) apresenta um cânone poético-literário que se propõe, depois, não a destruir, mas a relativizar; invoca, sem medo, a filiação política de Pound, assumindo que isso nada interfere no seu juízo de gosto, pois se não gosta dos poemas é por razões estéticas, que não impedem de apreciar ao limite o seu ABC; por fim, mas não por último, mostra a angústia de um homem à beira de ser escritor (estamos sempre à beira quando o mundo não nos reconhece). Ninguém é escritor na sua rua, embora possa ser na gaveta. Contrariamente ao Milton, li muito pouco durante a minha infância e durante a minha adolescência. Li, mas li pouco. Nem sequer alguma vez tive alguma vez a ideia exotérica de querer ser escritor. Quis ser músico! Músico como o nosso (meu e do Milton e de muitos outros) muito apreciado Thomas Bernhard. Mais tarde, falhado o objectivo músico (o talento dava pra ser um razoável executante e um pouco menos razoável compositor) quis ser filósofo. Filósofo depois de falhado o projecto de músico, como já tinha acontecido com alguns filósofos. Depois falhei também neste projecto, embora tenha sido um aluno bastante acima da média, o que daria pra ser um professor mediano na faculdade, nunca como os mestres que tive: António C. Caeiro, Mário Jorge Silva Carvalho, Nuno Ferro, Maria Filomena Molder, José Gil. A poesia surgiu nos intervalos da filosofia. Quando acabei filosofia editei um livro de poesia, A Voz Que Nos Trai, que acabou por ser premiado com o Prémio Teixeira de Pascoaes. Por causa de uma mulher comecei ou recomecei ou comecei, não sei, a escrever prosa. Esse primeiro livro Um Prego No Coração acabou por despertar a atenção do melhor poeta português vivo, que me teceu os maiores elogios e que, por causa disso, me levou á publicação de outros livros de prosa. O segundo, Natureza Morta, levou-me a arrebatar o primeiro Prémio José Saramago que, para além do prestígio me concedeu também cerca de 25 mil euros. A partir daqui aceitei que era escritor. Acabei por ser escritor por ter falhado em tudo o que me havia proposto anteriormente. E não foi sem resistência que um dia, ao olhar para o espelho, disse a mim mesmo: “é assim, pá, és escritor, aceita!” E aceitei. Hoje, volvidos 6 ou 7 anos, sei por que sou escritor e não sou poeta, contrariamente ao que alguns amigos julgam. Nós somos qualificados por uma profissão ou um mister quando grande parte do nosso tempo é passado aí. Ora, eu passo quase tempo nenhum na poesia, quase nada, apenas um pouco mais do que passo a pensar na minha vida. Quanto à literatura, passo quase a minha vida toda. Desde que aceitei aquilo que era, escritor, quase não faço mais nada senão pensar, pensar, pensar, pensar. Não penso em escrever. Penso e escrevo. Penso e escrevo. Penso e escrevo. E assim vai.

Em Portugal temos uma expressão antiga que é: De Espanha nem bons ventos, nem bons casamentos. Poderia aplicar a mesma expressão a Pound. Nunca consegui apreciar-lhe os versos, nem a sua inteligência literária. E asseguro que não se trata de preconceito político, pois tal como o Milton também não misturo alhos com bugalhos, embora isto seja uma discussão enorme. Por outro lado, estou bastante longe de ser um intelectual de esquerda. Não há razões políticas a atrapalharem-me o juízo estético, pronto! Serei a última pessoa a pôr em causa o talento poético ou qualquer outro de Pound. Mas não é pra mim. Quanto à sua teoria, é tão ridícula quanto as teorias que orientavam Eça de Queirós quando escrevia os seus romances. As teorias eram ridículas, mas o talento de Eça, não. Eça é um escritor excelente, um escritor que aprecio imenso. Mas não as suas teorias, não aquilo em que literariamente ele acreditava. Provavelmente passa-se o mesmo com Pound, mas eu não sou permeável. Milton expõe sucinta e eficazmente a teoria do senhor Pound, no seu post, mas depois relativiza a sua verdade. O problema, para mim, é que a verdade não é relativizável, se me permitem o neologismo. À primeira leitura, parece que o Milton quer ficar bem com Deus e com o Diabo, com Pound e com Bernhard. Quem já leu Extinção, de Bernhard, sabe que isso não é sequer possível de ser pensado. Nesse livro, a páginas tantas, lá pras trezentas e muitas, pelo menos na minha edição inglesa, ele expõe, através do narrador, a sua teoria literária. Qual a grande diferença? Primeiro porque ela é teoria dentro de um livro de ficção, isto é, não pode ser lida independentemente desse facto. Não se trata de um ensaio, ou sequer de um artigo, trata-se de algo maior: o coração de Bernhard. E o coração do autor é exposto, mostrado em duas linhas: exagero e repetição. Mais: exagero de repetição. Podemos viver uma vida, ou várias, amando Pound e, depois, outras vidas amando Bernhard, mas não podemos amá-los em simultâneo. Peço desculpa a todos, mas não se pode gostar do Grémio e do Inter! Sei, a arte não é futebol. Pois não, pois não, mesmo. É muito mais vital. Jogamos a nossa vida nela. Eu, pelo menos, jogo a minha vida nela. Assim, amar um cânone e desprezar outro é muito mais vital para mim do que amar o Tremendo FC Porto e desprezar o Benfica. Quero que o Benfica perca todos os jogos, apenas isso. Mas quero muito menos ao cânone de Pound: quero que ele se escafede todo; quero que o cânone do senhor Pound não veja sequer a luz do dia; quero que morra (não a sua poesia, mas a sua teoria). Por outro lado, julgo que Milton não está a defender o “convívio” entre teorias irreconciliáveis. Milton está a dizer que não “reconhece” nenhum cânone. E isto, sim, é perigoso. Não há um escritor que seja que não escreva por causa de um cânone, ainda que o modifique, claro. Mas quem é que pode modificar uma receita (para usar o exemplo dado pelo Milton) senão quem sabe cozinhar, quem seguiu, até à modificação da receita, um determinado cânone? Suspeito que só se pode escrever bem contra Deus, contra a ciência, contra a vida, contra si mesmo. E para estarmos contra, temos que estar, erradamente ou não, certos de que há um caminho melhor do que todos os outros. Só assim Bernhard pôde escrever tão bem como escreveu.

Sou leitor assíduo das crónicas do Milton. Algumas são excelsas. Algumas são maçadoras. Mas todas são bem escritas. Se não julgasse assim, não o tinha convidado para fazer parte do Cidades Crónicas. Mas, para ser melhor ainda, aconselho-lhe, se posso, se ele me permite, que se assuma literariamente. Apetece-me dizer-lhe: “Milton, pá, escreve como se tivesses a dizer mal do Grémio!” E dizer mal do Grémio (que eu prefiro ao Inter) não implica não dizer bem. Pois acaba-se por dizer bem nem que seja desses tomatinhos de conserva do Inter. Eu, que nunca quis ser escritor, e que acabei por ser; foi o que restou pra eu ser, estou convicto de que é daqui que vem a força da minha escrita: escrever contra o que não foi a minha vida, isto, contra todos os meus falhanços, escrever contra mim. Eu sou eu mesmo o meu Benfica. Quero ouvir o Milton dizer: “Eu sou eu mesmo o meu Grémio.”

Abraço forte ao Milton e aos seus leitores,
Paulo José Miranda

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Galeria de Horrores: José Serra, Ariano Suassuna e católicos do Paraguai

Este é o ex-Ministro da Saúde (!?) José Serra tranquilizando o país sobre a gripe suína. Este homem é candidato à Presidência da República…

Se a imagem não aparecer, clique aqui para pasmar-se.

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É sabido por poucos que o Secretário de Cultura do Estado Ariano Suassuna é um fascistóide. Mas é. As pessoas insistem em achá-lo engraçadinho fora do estado de Pernambuco. Talvez ele até seja, desde que distante 3000 Km ou mais. Experimente viver com quem MANDA na cultura e pensa que Antonio Carlos Jobim, por exemplo, é um “compositor sem especial importância” e “José de Alencar é mais importante do que Joyce”. Ontem, Fernando Monteiro publicou o post abaixo na Kriterion:

“DIFERENTEMENTE DA MAIORIA”
Fernando Monteiro

Ariano Suassuna concedeu entrevista ao “Personalidade”, programa da TV Câmara. Participaram da entrevista a antropóloga da Universidade Federal de Pernambuco, Aparecida Nogueira, autora de vários textos sobre a obra do escritor paraibano, e os jornalistas Cláudio Ferreira, da TV Câmara, e Amneres Pereira, diretora do Jornal da Câmara. Entre outras “pérolas” recolhidas das respostas do atual secretário Ariano Vilar Suassuna, pincemos esta aqui, de uma franqueza (reconheçamos) que em nada disfarça – realmente – o pensamento “alinhado” que faz sucesso (?) não só entre os conservadores, como-nunca-antes-por-este-país afora:

“Sou um intelectual que, diferentemente da maioria, nunca falei mal das Forças Armadas. Apoiei, durante um tempo muito difícil, generais patriotas como Euler Bentes Monteiro e Antônio Carlos de Andrada Serpa, porque via neles uma preocupação de defender o País. Acho que nós, intelectuais, temos o dever de começar a relembrar que o Brasil precisa muito de uma aproximação nossa com as Forças Armadas e com o clero neste momento em que vivemos.”

Quem quiser conferir o resto, acesse este endereço.

É a ditabranda Versão Armorial.

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Para finalizar, começou no Paraguai a campanha anti-Lugo, o comedor de criancinhas. E a Justiça? Intervém acusando-o de algo ou o cara será incinerado pela imprensa?

É foda.

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Porque hoje é sábado, X

Às vezes a coisa não dá certo. O WordPress ficou irritado com as imagens deste sábado. Deve ser religioso, mas não como o Lugo, nosso hot bispo.

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Atenção, cinéfilos de Porto Alegre!

Hoje vou fazer uma propaganda gratuita do Cinema Guion de Porto Alegre. Um dos melhores negócios que fazemos anualmente eu e minha mulher é a assinatura anual do Guion. Quase todos os melhores filmes passam lá, raramente tenho que enfrentar um shopping com gente cheia de pipocas e com aquele cheiro nauseabundo de manteiga. Por quê? Ora, porque 90% do cinema relevante passa lá.

Deste modo, acabo indo no mínimo uma vez por semana a uma das oito salas do Guion. Entro gratuitamente. Bem, não é bem assim: pago R$ 180,00 e entro em todos os filmes que quero, quantas vezes quiser, por um ano. Façamos alguns cálculos:

Se eu for uma vez por semana pagando ingresso: R$ 12 x 52 = R$ 624,00
Se eu for uma vez a cada 15 dias: R$ 12 x 26 = R$ 312,00

Mas pago R$ 180,00. Querem saber a relação de filmes desta semana, por exemplo?

VALSA COM BASHIR, de Ari Folman
A JANELA, de Carlos Sorín
CHE – O ARGENTINO, de Steven Soderbergh
ENTRE OS MUROS DA ESCOLA, de Laurent Cantet
O CASAMENTO DE RACHEL, de Jonathan Demme
DUVIDA, de John Patrick Shanley
A BELA JUNIE, de Christophe Honoré
O LEITOR, de Stephen Daldry
FOI APENAS UM SONHO, de Sam Mendes
X-MEN ORIGENS: WOLVERIN, de Gavin Hood
ELE NÃO ESTA TÃO A FIM DE VOCÊ, de Ken Kwapis

Excetuando-se Gran Torino e ignorando os dois últimos da lista, todo o restante dos filmes “suportáveis” estão aí. Então deixe de ser burro, tá? Ah, e no AeroGuion o estacionamento é grátis!

Resposta a uma dúvida surgida nos comentários: São R$ 180,00 por pessoa. Obviamente, não há promoção para casais, essas coisas.

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O Leitor, de Bernhard Schlink, e o filme homônimo de Stephen Daldry

O Leitor é um livro alemão até em demasia. Seco com o Rio Grande do Sul destes dias, não há muita coisa desnecessária nele. Há algumas descrições da natureza (querem algo mais alemão?) e o restante são frases que contam a história de forma algo brusca. Como Schlink faz conosco, Hanna também é capaz de asperezas com seu menino. Bem, mas será que todo mundo conhece a história? Ora, vamos resumi-la no parágrafo seguinte.

Michael Berg tem 15 anos no período do pós-guerra na Alemanha. Ele conhece Hanna Schmitz, uma mulher de 36, bela, sexy e autoritária. Eles acabam por estabelecer um ritual diário: primeiro tomam banho, depois ele lê livros em voz alta para ela e finalmente amam-se. Uma marca inapagável na alma de um adolescente. O fim chega de surpresa quando Hanna some. Mas Michael voltará a vê-la poucos anos depois, quando já está na faculdade de direito. Ela se vê envolvida em um processo de acusação contra ex-guardas de campos de concentração nazistas. Ela fora uma delas durante a guerra.

É absolutamente admirável o trabalho de Kate Winslet ao recriar Hanna Schmitz. Toda a Hanna descrita por Schlink está no filme. Winslet é uma atriz de muitíssimos recursos e que realmente gruda no personagem, sem trazê-lo para maneirismos prontos de antemão. Cada gesto descrito por Schlink foi realizado pela atriz e pego por Stephen Daldry. Mas falta ao filme uma cena fundamental, falta ao filme a dúvida que dá a Schlink a gradiosidade que o filme não possui. Daldry ou o produtor fez questão de emburrecer o filme. No capítulo 16 da segunda parte, Berg faz uma visita ao juiz principal. Ora, isso não há no filme! Nesta visita, temos a impressão de descontinuidade narrativa; ou seja, não sabemos se foi mesmo vazia, porém, ao final do capítulo, Berg, que narra o livro, escreve que estava alegre e que poderia seguir vivendo a partir daquilo. É óbvio que ele contou-lhe sobre Hanna, passando a informação que só ele tinha ao juiz.

O que significa? Ora, que o juiz preferiu ignorar o analfabetismo de Hanna e escolheu puni-la como se ela tivesse escrito os relatórios, como queria a platéia. Ele claramente jogou para a torcida, fazendo o que toda justiça faz: julgou para o lado que parecia mais correto à opinião pública, num ridículo exercício de senso comum. Stephen Daldry escolheu a simplicidade. Ao deixar seu filme plano mais plano que podia (ou devia), perdeu uma bela oportunidade de sugerir outras camadas de experiência, de criar mais dúvidas no expectador. Sabemos que a vida é assim, que a realidade nunca se esgota, mas parece haver uma sede de burrice no cinema atual e os diretores tratam de saciá-la.

O final do livro é uma doída e envergonhada reflexão sobre a geração alemã que veio antes de Berg. Eles só pareciam capazes de crimes. E seguiam criminosos ao punir.

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Excesso de temas

Quando comecei meu blog, pensei que o grande desafio seria o de arranjar assuntos para escrever 3 ou 4 vezes por semana. Consequentemente, protegi-me intitulando meu blog com temas bem gerais, dos quais gostasse muito, sem esquecer de um salvador “qualquer coisa” no final. Hoje sei que isto não é problema, pois sofro é de excesso de temas. Aqueles 3 ou 4 partos semanais ameaçam precipitar-se a cada momento que venho dar uma olhada nos e-mails, tenho é que impedir a superfetação (*).

Neste momento, debato-me entre 5 temas: um post dedicado ao livro inédito do Marcos Nunes que já está metade escrito, uma descoberta notável que fiz lendo o livro O Leitor, uma crítica ultraelogiosa ao filme O casamento de Rachel, uma divulgação das assinaturas do Guión Center de Porto Alegre (ideal para publicar no feriado?) e, afinal, a revisão do último capítulo publicado de meu Monólogo Amoroso, que um dia estará finalizado, não? Ah, e hoje escrevi mentalmente uma homenagem àquelas pessoas que me convenceram que ir a restaurantes é uma bobagem, tal a qualidade dos pratos que podem produzir em casa. Talvez devesse chamá-lo de “As Mulheres que me Alimentam”. Há os homens também, mas os deixaria de fora, por enquanto. Afinal, gostei do título.

Resolvi então fazer um protesto que terá de ser medido em escala Richter na rede mundial. Não vou escrever mais nada hoje! Foda-se!

(*) Palavra pouco utilizada, né? Superfetação significa, segundo o Aurélio, “Concepção que ocorre quando, no mesmo útero, já há um feto em desenvolvimento” ou “Coisa que se acrescenta inutilmente a outra; excrescência, redundância”.

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Lugo, o "hot" Bispo

Faz uns cinco anos, uma amiga minha que é muito bonita, foi a um evento político aqui em Porto Alegre. Lá, conheceu Fernando Lugo. Não, não engravidou, mas me contou. O cara tinha todo o jeito da religioso que fez a opção pela pobreza e, de sandálias, disse que seria candidato à presidência do Paraguai. Ela não deu muita bola para os planos do ex-bispo nem para a parte política, prestou mais atenção no sorriso contagiante, na simpatia e nas piadas. Típico. Ano passado, num jantar aqui em casa, voltou a falar no bispo:

— Viram? Meu bispo será presidente do Paraguai, claro. Ele é cheio de charme, um verdadeiro “hot” bispo. Receberia tranquilamente meu voto…

Arrã. Lugo ocupou as manchetes na semana passada. Ele confirmou ter um filho de 10 anos e pululavam mais dois candidatos a filhos seus na mídia. Estes dois logo transformaram-se em seis. Provavelmente irá para o Guiness como o homem que mais fez exames de paternidade. Sua biografia é exemplar: infância pobre, família perseguida por Alfredo Stroessner, noviciado em 1970 (19 anos), padre em 1977 (26 anos), aproximação com a Teologia da Libertação, bispo em 1994 (43 anos), ex-bispo em 2004 (53 anos), presidente do país em 2008 (57 anos). Mesmo antes de tornar-se padre, Lugo sempre confessara a amigos um plano: aos 55 anos, largaria a Igreja para escrever, dar aulas, casar e ter filhos. E, bem, sexo é algo de que ele aparentemente nunca abriu mão.

Eu realmente não gostei do debate que se criou sobre o caso. Todos discutiam a queda de popularidade e o ocultamento da verdade. OK, são fatos políticos, mas podem ser perfeitamente passageiros. Poucos discutiram que, em 2004, o Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais (CERIS) fez uma pesquisa onde 41% dos padres brasileiros admitiram terem tido relações sexuais depois de ordenados. Nem todo mundo consegue ficar só na masturbação, como Ratzinger. E pouquíssimos citaram o fato de Lugo ter-se afastado aos 53 anos, quando o natural é fazer isto lá pelos 75 anos — tal fato não apontaria para uma oposição de consciência?

O celibato é uma regra criada há 1000 anos; é, portanto, posterior ao cristianismo. Porém… O que me surpreende mesmo é que não li em nenhum lugar o motivo principal de sua existência: a Igreja Católica não quer ver padres com famílias e filhos pois eles teriam HERDEIROS e estes seriam incômodos para quem sempre se utilizou do trabalho dos padres, da fé e da liberação do pagamento de impostos para ficar mais rica, ops!, desculpem, para que as obras de suas vidas dedicadas a deus ficassem não para mulheres e filhos e sim para a Santa Igreja Romana.

Acho que a crise de confiança do eleitorado paraguaio em relação a Fernando Lugo poderá ocorrer assim como aconteceu com FHC, que não era bispo mas tem filho fora do casamento. Hoje, poucos falam em FHC como pai de “filho ilegítimo” (expressão horrível e preconceituosa). O Paraguai não é os EUA e alguém poderia espalhar por lá que o celibato é desumano. Alguns padres, inclusive, acabam envolvendo-se com adolescentes de mesmo sexo, lembram…? A Igreja sabe disso e a prova é que relaxou as punições por desvios sexuais aos padres. Elas foram reduzidas no Código de Direito Canônico. Ou seja, defendido o Santo Dinheiro, que grasse a pedofilia!


— Sabias que tens algo em comum com o FHC, papito?
— Si, nuestro nombre es Fernando…

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