Após a repetição da vitória de duas semanas atrás e a consequente conquista do Campeonato Gaúcho, Abel Braga demonstrou surpreendente falta de entusiasmo, mantendo uma lucidez inesperada para aquele momento. Na entrevista após o jogo, ele não fez qualquer alusão ao título, mirando apenas o futuro. Tem toda a razão. O Gauchão não representa nada, sua importância limita-se às duas vitórias consistentes sobre o time do Grêmio e nada mais. OK, a conquista posiciona melhor o ego e altera e sala de troféus, mas é só isso. Pior que ganhar o Gaúcho é perdê-lo, certamente.
Sobre o Gre-Nal: já tinha externado com muita clareza minha opinião sobre nossa superioridade, mas é óbvio que os 4 x 1 devem ter assustado os inquilinos da Arena, ainda mais pela forma como aconteceu. Fizemos uso de certa indulgência, não? O Grêmio até jogou melhor no primeiro tempo, mas volume de jogo não é quase nada quando seu adversário tem jogadores de melhor qualidade. Um time mais ou menos cria quatro oportunidades e faz uma, um melhor cria duas e marca. É da vida. Nos anos 80 e 90, eu via isso acontecer todo dia no Beira-Rio. Quando o Inter massacrou o São Paulo — e perdeu o jogo por 4 x 1 — comecei a pensar que bom mesmo era contra-atacar com Kaká, Júlio Baptista e Luís Fabiano e ser feliz.
Agora, o óbvio: o Brasileiro será disputado em poucas datas. É uma disputa para um grupo grande de jogadores. Haverá lesões e cartões pra todo o lado, além de adversários muito melhores. Então, não sei se temos que contratar — não conheço detalhadamente o banco do meu time –, mas certamente o clube com mais material de reposição sofrerá menos. Mais: acho que não há nenhum paulista ou carioca de assustar. O perigo, como no ano passado, está novamente em BH. E, olha, faz 35 anos que não levantamos o Brasileiro. Já passou da hora. Vamos lá, gente.
Sexta-feira, eu avisei a meus amigos gremistas: nós, do Internacional, ganharíamos o Gre-Nal. Ganharíamos porque nosso time estava e está em ascensão — jogando mais do que o Grêmio — e porque a ZH estava ajudando. Explico o caso ZH: na publicação, naquela mesma sexta-feira, de forma inexplicável, quatro analistas escreviam que o Grêmio chegava melhor ao Gre-Nal e era consequentemente o favorito. Eu discordava, sigo discordando e, desculpem, tinha razão. Para fazer valer a forcinha dada pelo jornal, bastaria fazer um poster da página principal de esportes e colocá-lo na entrada do vestiário do Inter. Puro doping.
(Não vou discutir aqui o enganador nível técnico do decepcionante Grupo da Morte da Libertadores, seria entediante).
Mas é claro que Abel contribuiu para deixar o jogo mais emocionante. Com Abel não tem nada de meritocracia, para ele substituir um titular, este há que ser antes execrado publicamente. Às vezes, tal atitude se revela sábia. Ele insistiu com o Rafael Moura e hoje penso em conhecer o desenho do He-man. Hoje já me mostraram a música de abertura. É ruim pra caralho.
Quando Abel acertou a escalação no início do segundo tempo e mais, a organização do time com D`Alessandro pela direita, Aránguiz solto e Alan Patrick se enfiando, a superioridade de nosso time tornou-se algo constrangedor para os locatários da Arena. Foram dois gols, dois gols perdidos cara a cara (Aránguiz e Alex) e mais aquela bola do Alan Patrick que merecia ter entrado pela magia do futebol. O Inter chega bem no momento da reinauguração do Beira-Rio e do início do Brasileiro, que é o que interessa num ano sem Libertadores.
Achei o Grêmio morto do ponto de vista físico, mas lembrem-se da lição Nº 1 do Andrade quando jogador do Flamengo: “Quem não tem a bola corre o dobro”. E o Grêmio realmente não viu foi a bola. Não obstante, Barcos fez um belo gol. Até eu fiquei feliz de ver, pena que tenha sido no nossa goleira.
Agora, os números do clássico estão bem redondos e justos: são 400 Gre-Nais, com 150 vitórias do Inter, 125 empates e 125 derrotas. Se o Grêmio alcançar o Inter algum dia, é certo que estarei morto. Assim sendo, agora torço pelos empates!
Oh! sejamos pornográficos. Oh! não, não, nada disso. Sejamos pragmáticos. Só para poder dizer que o Inter venceu o Remo por 6 x 1 sem jogar nada. Passei a noite sofrendo críticas por estar cabeceando durante o jogo. Me mandavam para a cama, só que o time empilhava gols… Como sair da frente da TV? Sim, minha cabeça caía de sono e levantava quase só para ver os gols. Agora, pude conferir nos jornais que não perdi nada. Abel Braga já começou a fazer das suas ao juntar Jorge Henrique e Alex na armação. Ambos são bons o suficiente para não serem massacrados e lentos o suficiente para causar sono. Acho que o efeito dramin foi sentido para dupla de volantes do Remo na segunda etapa.
O curioso é que todos sabem disso, todos os comentaristas de todas as rádios falam na lentidão da dupla, mas Abel tem seu código de conduta e este diz que os substitutos têm que aguardar pela aposentadoria ou pelo enforcamento público dos titulares.
Mas, pô, como sou chato, foi 6 x 1. Cala a boca , Milton! Melhor abster-se de criticar hoje. Melhor falar do golaço de Rafael Moura, que fez aquela coisa incompreensivelmente linda no último gol. Melhor falar do Aránguiz, que joga bem até quando não está inspirado. Mas torcedor de futebol é um sujeito sempre insatisfeito então mando o Luigi às favas mesmo com o 6 x 1.
Abel Braga voltou ao Internacional. É um vencedor dos mais chatos e teimosos. Lembro que ele amava de paixão o jogador Michel, o que deixava a arquibancada doida. Após Abel, Michel foi do Inter para o limbo, claro. Mas é um treinador que normalmente dá padrões interessantes de jogo a seus times. E que costuma dar certo no Inter. Basta dizer que faltam 62 jogos para que se ele se torne o técnico com mais partidas disputadas em toda a história do clube. Mas devagar, né?
Certamente pilhado por Luigi Calvário — que adora a História do Futebol, apesar de entender tão pouco a respeito dele –, Abel saiu falando num monte de jogadores velhos. Não vamos palmilhar o mesmo caminho dos últimos anos, com o time se arrastando lamentavelmente em campo puxado por atletas de vasta biografia, sem mais nada a provar ou ambicionar. Na boa, a política de trazer os velhos ídolos nos deu pouco. Para que falar em Edinho? É bom jogador, mas começa a decair. Chega, Abel. Precisamos de volantes cumpridores, mas talvez o ideal não seja mais um jogador passado dos 30 anos. Outro fato a ser considerado é que agora podemos ter até 5 estrangeiros em campo. Ora, se olharmos os nossos, temos só D’Alessandro. Scocco é uma incógnita, Forlán só jogou bem no estadual — o que significa absolutamente nada — e Bolatti é um fracasso ainda maior. A preços e salários menores que os praticados no Brasil, há argentinos, uruguaios e colombianos a serem observados. E, cheios de vontade, deve haver joias nas divisões inferiores do clube. Dali saem e saíram nossas maiores vendas, inclusive. Então, por favor, chega de seguir a tola cabeça nostálgica de nosso presidente Luigi Calvário. Ou, quem sabe, a gente traz Figueroa para acertar a defesa e Valdomiro e Lula para dar velocidade ao ataque? Não Abel, vamos chegar ao futuro não pelo passadismo, mas pela perspectiva de uma nova geração vitoriosa. Pense no nosso time de 2005 e 2006. Era velho? Não, de modo algum. De velhos, bastamos eu e tu.
Hoje faz 20 anos que meu pai morreu. Estou afastado das fotos de família, tudo a que tenho acesso está num disco externo que tenho aqui comigo e que possui o conteúdo do HD de minha ex-casa. Mas lá tenho uma mala e uma frasqueira — sim, isso mesmo — com muitas fotos não digitalizadas, em papel, e hoje me deu vontade de fuçar naquilo. Mas é só simples desejo, passa. Há pouco, conversando com a Elena na cozinha, notei que leio livros como ele o fazia com seus jornais, marcando as linhas com um caneta. Como alguém consegue ler sem uma caneta, hein? Os jornais do Dr. Milton… Aprendi a ler no colo dele, pela manhã, enquanto tomávamos café com o Correio do Povo. Claro que a primeira palavra que li foi a do nome do jornal do Dr. Breno Caldas. Mas sua maior herança, aquela que grudou em mim, foi mesmo a música. Ele passava as noites ouvindo seus discos em uma louca sequência. Sempre misturava erudito e popular, Pixinguinha e Beethoven, Chopin e Chico Buarque, chorinho e tango, mazurca e polca, em sucessões que nunca me perturbaram, pois nasci com elas.
Ele reclamava que eu o fizera voltar ao futebol. Ele me fez colorado, mas logo eu passei a amar o futebol muito mais do que ele, passei a amá-lo como ele amava o turfe. E nós, eu e o Sylvio, marido de minha irmã — fizemos com que ele voltasse aos estádios de forma tão cabal que ele assistiu a final do Brasileiro de 1975 e eu não, pois estava estudando para o vestibular. Acho que eu não precisava me punir daquela forma — passei fácil no exame, glória juvenil — mas ele me contou que, quando Figueroa fez o gol que nos deu o título, ele se sentou com as mãos na cabeça na arquibancada do Beira-Rio, enquanto todos comemoravam, culpando-me por tê-lo tornado aquele fanático que quase morreria com cada chute de Nelinho — e defesa de Manga — nos minutos seguintes.
Talvez pela identificação, ambos homens e pais, penso muito no Dr. Milton. Acho que ele gostava mais de minha irmã do que de mim, assim como minha irmã escolhia minha mãe e esta a mim, que preferia meu pai. Nunca tinha pensado nisso! Será que era mesmo assim? Vamos organizar: Dr. Milton que amava Iracema que amava Maria Luiza que amava Milton (eu) que amava o Dr. Milton? Na verdade, acho que nós todos nos adorávamos, mas penso que as afinidades eletivas eram as que citei. Ou não? Tenho que consultar minha irmã a respeito.
E, bem, o dia 11 de dezembro de 1993 foi o mais triste que vivi até hoje. No dia 10, à noite, tínhamos nos encontrado no Zaffari da Ipiranga. Ele comentou uns discos que comprara, dentre eles uma gravação da Nona Sinfonia de Schubert, a Grande, sob a regência do Abbado. Estava animado, feliz. Na manhã seguinte, às 6 horas de um sábado, minha mãe me ligou dizendo que ele estava caído no banheiro. Um ataque cardíaco fulminante, um velório num fim-de-semana, lotadíssimo. Fiquei inconsolável, mas nada ficou de mais terrível do que o último beijo que lhe dei. Aquilo me estragou para sempre. Ele estava frio, totalmente esquecido dele, de mim, de Schubert e do gol de Figueroa.
De forma talvez involuntária, dormi das 15 às 19h de ontem. Digo “talvez” porque acho que foi o modo como que me protegi de ver Inter x Ponte Preta. Mais preocupada com a Copa Sul-Americana e já rebaixada, a Ponte jogaria com os reservas, mas nada indicava que o Inter pudesse sequer enfrentar esse time. Em verdade, tudo indica que o Inter não pode, hoje, enfrentar qualquer time. Como escreveu alguém no Impedimento, “O Internacional só não foi rebaixado porque não havia mais campeonato”. A degradação da qualidade do futebol tornou-se inexorável no segundo turno. Em outras palavras, o discurso vago e tolo da direção entrou no vestiário e lá permaneceu.
O ambiente é de pasmo. A direção do clube fica abismada e diz que gastou, que contratou e que pagou em dia, passando — para quem é bom entendedor — o bastão da culpa aos jogadores e à comissão técnica. Tudo o que foi previsto pelos múltiplos avisos de gente como eu, que anunciei no twitter — coisa que não cumpri — uma demissão do cargo de torcedor pelo prazo que durasse a segunda gestão Luigi, aconteceu. Tudo, tudinho, pois nunca acreditei numa Segundona Vermelha. O homem não entende nada de futebol, mas não se afasta dele. Ontem, já declarou que novidades virão, que 2014 será um grande ano.
A única novidade que Giovanni Luigi Calvário poderia trazer e que encheria de felicidade os colorados seria a que segue. Com a palavra, Giovanni Luig):
Colorados! Vou passar 2014 só administrando as finanças e nosso novo e belo estádio. Foi minha maior e única realização. Já que nos 36 meses em que estou no cargo, minha gestão futebolística mostrou-se deletéria, entregarei o futebol para quem dele entende. Afinal, está na cara que, sob minha influência, acabaremos na Segunda Divisão e não desejo isso. Aliás, nas minhas entrevistas nem vou mais falar sobre futebol a fim de não criar desassossego em nosso torcedor. Cumpra-se!
Os colorados devem iniciar logo sua preparação para 2014. Será um ano duríssimo. Por um lado, teremos a grande alegria de rever o Beira-Rio lotado; por outro, teremos o ocaso de uma das administrações de futebol mais pífias e caras de todos os tempos. Pois nosso presidente Giovanni Luigi Calvário (sim, seu nome completo é muito mais transparente) é apenas bom nos negócios extra-campo. Fechou lentamente e de forma competente o contrato de reforma do Beira-Rio com a Andrade Gutierrez e costuma — apesar da morosidade — aplicar bastante dinheiro no departamento de futebol. Também é educado e honesto. É um bom homem para administrar uma empresa convencional, sem dúvida. É cuidadoso, não se atira. Não serve para o futebol.
Seus principais problemas são os fatos de que gasta muito e mal, de que fala muito e mal, de que centraliza muito e mal, de que rumina muito. Dentro do vestiário é igualmente calmo e tragicamente centralizador. O problema de colocar um sujeito lento no futebol do clube é que ele tratará de fazer-se cercado por pessoas do mesmo estilo. Pessoas que jamais criticarão seu ritmo adágio, sua indireção e falta de critério. Afinal, o sistema é presidencialista. Ele está protegido pelo cargo. No vestiário, Luigi é tipo do cara que espera que as coisas se resolvam por si mesmas, gosta de sentar sobre os problemas para refletir e, eventualmente, dormir. Isso talvez funcione na Rodoviária de Porto Alegre — também administrada por ele e onde a pressão é ínfima, comparada a de um clube de futebol. Quando resolve agir, costuma jogar dinheiro fora. O nosso dinheiro, aquele que é pago por sócios como eu.
Uma pena que Roberto Siegmann tenha agitado a coisa de tal forma que se tornou o Inimigo Nº 1 do mais tranquilo dos mandatários. O melhor caminho para um bom 2014 — caminho no qual não acredito — seria a renúncia de Luigi. Em três anos e mais os que foi diretor de futebol, só conseguiu demonstrar sua falta de critério. Não conhece futebol, simples assim. O que determinou que Roth recebesse de presente uma renovação de contrato dias depois do episódio Mazembe? O que norteou a contratação em sequência de Falcão, Dorival, Fernandão, Dunga e Clemer? E o que dizer de sua mania de trazer velhos ídolos de volta a fim de serem massacrados? Mesmo que a negociação com a AG tenha sido um sucesso, seu atraso deixou o Inter sem jogar todo o ano de 2013 no Beira-Rio. Como escreveu o Blog Vermelho “O mais básico em futebol é entender um pouco do assunto. Quem é bom, quem é ruim, quem está velho, quem ainda joga, onde estão as carências. Claro que tudo isso é subjetivo pois o “entender de futebol” depende do ponto de vista de cada um. Mas quando os resultados não acontecem em um, dois, três anos se percebe claramente onde está a origem do problema. Não posso dizer que esse ou aquele dirigente não entende do assunto, mas os resultados sim”.
Os méritos de Luigi são sua educação e honestidade — não é um cara louco por vender jogadores, não é louco por comissões e beiras… Mas seus deméritos são muito maiores: não sabe contratar jogadores nem comissão técnica, é totalmente destituído de senso de urgência e de ideias para o futebol. Não serve para o cargo. Seria uma bênção de renunciasse. Espero um 2014 morno. Se for quente, talvez seja a Segundona. E voltemos logo para o Beira-Rio, por favor.
Meu caro quase ex-treinador do Inter, sabe o que acabo de ouvir, dito pelo Iuri Müller? “Quinta-feira esclarecedora: agora, o Inter já sabe o campeonato que disputa — o da luta contra o rebaixamento”. Ele tem razão.
Me orgulho de ter tido um chilique — na verdade, quase uma convulsão — quando o Luigi foi reeleito. A culpa da situação é dos conselheiros que evitaram a eleição pelos sócios no final do ano passado. E, secundariamente, tua e do bobão do nosso presidente.
E o time? O time está uma bagunça, né Dunga? Os jogadores não te suportam mais. O Damião só quer fazer lambretas e jogadas de estilo. O vestiário está te queimando, Dunga. Simples assim. Só não vê quem não quer. Acho que só o Dale e alguns veteranos estão do teu lado, o resto…
Acabo de receber o seguinte e-mail:
Vitórias sobre Náutico e Ponte Preta = 6 Pontos.
Empates contra Coritiba e São Paulo = 2 Pontos.
Ficaríamos com 42 pontos. Será que chega pra fugir do rebaixamento?
Se precisar mais, tiraremos de qual adversário?
Já estou começando a me preocupar!
É bom lembrar que o Náutico começou a ganhar alguns jogos…
Estava acompanhando todos os jogos do Inter e, por isso, estava escrevendo uma série de posts na qual fingia dirigir-me diretamente a Dunga. Mais elogiava do que criticava. Só que… Ora, nunca tive paciência com a diretoria do Inter e com suas decisões flagrantemente equivocadas. Como escreveu o Alexandre Perin num e-mail de ontem, a derrocada do Inter no Brasileiro começou com a trágica decisão política de poupar jogadores num jogo contra o ridículo Náutico. Eram três pontos certos que foram perdidos para o último colocado da competição. Então, veio um Gre-Nal de 0 x 0 e fomos caindo na tabela. Aquele um ponto de seis possíveis parece ter desmobilizado o grupo.
Essas decisões de ópera bufa parecem estar associadas a Giovanni Luigi de forma muito consistente. E me irritam muito. A coisa vai indo bem até que um fato novo e bobo chega para atrapalhar. É como se alguém de fora desligasse a energia pelo simples prazer de ver o recomeço. Esse mito de Sísifo com o qual Luigi gosta de se envolver desmotiva muito. Ele leva a pedra morro acima e, em determinado momento, apraz-lhe deixá-la descer. Agora estamos com um baita grupo de jogadores e lá embaixo.
Dunga, meu amigo. Se tu quiseres comprovar, venha ao Sul21e pergunta pro Igor Natusch, pro Iuri Müller ou pro Nicolas Pasinato. Eu previ o fiasco de ontem. Previ no momento em que vi que D`Alessandro e Fabrício provocaram o terceiro cartão amarelo para jogarem o Gre-Nal. Burrice, Dunga, coisa de quem não sabe jogar pontos corridos. Todos os concorrentes ao título e à Libertadores vencerão o Náutico em Recife e em casa. Ademais, os três pontos contra o Grêmio valem o mesmo que os três pontos contra o Náutico, só que os últimos são muito mais fáceis. A matemática ainda não foi avisada de que essa coisa de que ganhar Gre-Nal é importante. Três são três. Sempre.
Voltando aos amarelos: Fabrício e Dale são os dois armadores do time. Como esperar a manutenção da qualidade da armação sem eles? Impossível, né? Ainda mais colocando um estreante de belo nome como Alan Patrick… Coitado do cara, né, Dunga? O time ficou todo torto e lento. Não foi falta de esforço, foi falta de entrosamento, de mecânica.
Outra coisa que deu pra notar é que o Ronaldo Alves não dá. Jackson ou Alan jogariam muito mais ali do lado direito. Para de inventar hierarquias por idade, Dunga.
Depois de ontem, se perdermos o Gre-Nal, tu arranjaste uma crise, certo? Que mancada, Dunga, pelamor.
Nem vou falar mais porque estou meio puto contigo, tá?
Ontem foi um dia muito cheio e não pude te cumprimentar pela vitória sobre o Flamengo. Grande resultado, Dunga, parabéns. Teu time é de luta e a gente gosta disso. É importante ressaltar que o Flamengo é hoje um time de Mano Menezes e isso significa dizer que sabe marcar, contra-atacar e que irá longe, apesar de estar mal colocado no Brasileiro. Mesmo jogando em casa, nem todos os times grandes vencerão o Flamengo, que tem ons jogadores e um líder no banco.
D`Alessandro e Forlán não conseguiram jogar, tal foi a marcação. Aliás, qualquer e nenhum dos dois times poderiam marcar gols. Tivemos sorte, Dunga, e isso é importante. Também gostei da postura gelada do Juan ao não comemorar o gol feito por ele nos descontos, quando tudo contribuía para que ele corresse para a torcida entusiasmado. A gratidão é um belo sentimento, mas a gente quase trincou de expectativa pensando que o gol tivesse sido anulado. Lembro de Gamarra, Iarley, Sóbis e de outros ex-jogadores nossos que marcaram gols contra o Inter. Os dois primeiros baixaram a cabeça, o terceiro pôs as mãos na boca, como se tivesse cometido um crime involuntário. Acho bonito, repito.
Não houve sofrimento ontem, né, Dunga? Não jogamos bem, mas foi uma classificação controlada, quase uma formalidade para um ato antecipadamente decidido. Quando fizemos o gol do América-MG (por favor, Dunga, Jackson dá de dez em Ronaldo Alves), foi só trabalhar um pouquinho para empatar e repor as coisas em seus lugares. Sim, claro, suamos, mas agora é que virão os maiores adversários da Copa do Brasil. Quer saber? Estou mais preocupado é que contratemos logo este excelente Ignacio Scocco, que viria em boa idade (28 anos) e que é um baita jogador.
Scocco tem aquelas características simpáticas: marca gols e é criativo. Precisamos de gente assim, que saiba colocar as bolas nas redes adversárias, que tenha intimidade com o fato, que ache anormal aquele faniquito que dá em alguns na hora do chute final, da alegria. Sempre digo, Dunga, os artilheiros não valem mais por acaso, valem mais porque são raros e poupam trabalho. Os times que têm de parir uma bigorna para fazer um golzinho são deprimentes.
Agora é preparar o time para o jogo contra o Flamengo. Precisamos ganhar e nos despedir definitivamente de Caxias, Dunga. É muito longe, frio e os gringos nos veem com reservas. Vamos para NH, onde fica mais fácil pra gente ir. Estou com saudades de ir aos jogos, Dunga.
Posso te dizer um segredo? Não vi nenhum jogo do Inter de Fernandão, nem do de Dorival. Não eram treinadores de futebol como tu. Detesto times bagunçados. Faz dois anos que só vejo meu time pela TV. Não dá mais, chega.
Sabe, Dunga, sou colorado roxo, mas ontem vi mais o jogo do Atlético-MG pelas semifinais da Libertadores do que o nosso. Mesmo assim, deu para rever um defeito muito grande no nosso time. Um escândalo. Olha Dunga, domingo passado tu, que foste volante dos bons, deixaste o Rafael Vaz do Vasco correr 30 metros em direção à nossa zaga sem ser incomodado para disparar um torpedo no segundo gol do Vasco. Onde estava este Airton — de que tanto gostas — naquele lance?
E ontem? Viste como sofremos com o terrível Rodriguinho do América-MG? O cara vinha sempre livre com a bola. Quando o Índio vinha, ele dava na esquerda para aquele Tiago Alves perder o gol. Foram três gols perdidos só pelo Tiago, fora os outros. Onde estava nosso volante Jackson (ou o Josimar) naquelas bolas?
Será que tu consegues arrumar essa bosta até o jogo contra o Fluminense? Nós vamos tomar muitos gols desse jeito. É claro que, se qualquer zaga recebe proteção, imagina do que precisa a nossa, de 72 anos. Ô, Dunga, tu que tens um belo projeto social lá na Restinga, dando um lar e educação às crianças carentes, poderias dar uma força pros velhinhos, né? Coloca uns cães de guarda ali na frente, pelamor.
Depois do amadorismo e da acomodação, representados por Falcão, Fernandão e Dorival Junior, Luigi acabou acertando. Acertou sem querer, pois Dunga era tudo que nosso presidente entendido em futebol não desejava. Luigi aspirava continuar no cargo de presidente-palpiteiro, mas o péssimo resultado nas eleições do Conselho fez-lhe dar alguns passos atrás. Ontem, nas entrevistas após a partida, notei certo BANZO e inveja em Luigi. Acho que nosso Giovanni Luigi Calvário está louco para mexer no time e não se enganem: se Dunga pestanejar, voa.
Mas tudo o que não tem feito é pestanejar. Dunga não apenas diz o que pretende como consegue demonstrá-lo depois. Queria saídas rápidas para o ataque, queria que a defesa parasse com os chutões, queria marcação, jogadas ensaiadas e controle da bola alta. Disse tudo isso e depois demonstrou em campo. Esta é uma rara qualidade. Afinal, identificar o problema, eu, o Falcão e monte de gente identifica. O complicado é ir ao campo e inventar treinamentos que deem ao time o que lhe falta. E aí está o trabalho de Dunga, técnico de futebol.
O campeonato é o gaúcho, competição fácil e crepuscular do futebol mundial, mas nós sabemos que, quando a coisa não está ajustada, aqui e ali alguns jogos são vencidos com dificuldades e dor. Às vezes também se empata ou perde. Porém o time de Dunga, apesar de ele se escabelar na casamata como se estivesse 0 x 5, já vai fazendo seus gols no primeiro tempo e vence os jogos sem nenhum estresse. E não toma gols mesmo relaxando um pouco no segundo tempo. Ou seja, faz o que deveria fazer com extrema naturalidade.
Juan acertou a defesa; com ele, Moledo adquiriu segurança e não estranhem se acabar morrendo abraçado com Felipão em 2014. Gabriel e Fabrício vão muito bem, obrigado. Nossos volantes têm apresentado mais argumentos do que cometido faltas; a prova disso está no número de cartões. Na armação estão Fred, que erra muitos passes mas se esforça como um louco, e D`Alessandro, o único que é afagado publicamente pelo técnico. Aí está mais qualidade de Dunga: a de ter identificado o argentino como um caráter mimado, que deve ser elogiado até quando erra. Se D`Alessandro precisa ser amado, então amemo-lo! D`Alessandro, tu és o melhor armador que vi jogar desde Maradona…
No ataque, Forlán só me apaixona quando chuta, mas bastou Rafael Moura recuperar-se de sua cirurgia e fazer três gols num jogo-treino para Damião acordar. Se D`Alessandro precisa de carinho oral, Damião precisa de alguém que lhe chegue por trás, tipo avalanche. Acho compreensível que ele passe a jogar melhor; afinal, o apelido do cara é HE-Man. E tudo isso só possível porque, durante a semana, Dunga treina seus jogadores de forma consistente, bem diferente daquele Dorival que ficava à beira do gramado, treinando a diretoria que o amava.
Ah, junto a Dunga há o preparador físico Paulo Paixão, um sujeito que costuma fazer seus times voarem em campo. Então, não obstante Luigi, nosso vestiário é profissional.
Luigi, deixe os caras trabalharem, por favor. Preocupe-se com o Beira-Rio, com a contabilidade, faça um curso de dicção, mas fique longe do vestiário!
Eram tempos um pouco diferentes dos de hoje, digo sem nenhuma nostalgia. Por exemplo, uma vez, passei dez dias em Itaqui. Estava fazendo um trabalho por lá e dependia de uma linha sem ruído da CRT. Que nunca veio. Era verão e anoitecia bem tarde. Quando o sol caía, eu caminhava pelas ruas da pequena cidade ouvindo continuamente as notícias do Jornal Nacional. Con-ti-nua-men-te, pois todas as casas de Itaqui ficavam com as janelas abertas e as tevês sintonizadas na mesma emissora. Parecia 1984, o livro de Orwell, apesar de que, pensando bem, talvez até fosse o ano de 1984 de verdade. Esqueçam a frase anterior. Parecia Fahrenheit 451, que também tem um Grande Irmão e este era representado pelas vozes de Cid Moreira e Sérgio Chapelin, que ecoavam a quase dois mil quilômetros do Rio de Janeiro.
As pessoas podiam até duvidar de alguma notícia, mas TODOS ouviam e viam a Rede Globo e quem duvida da influência dela nos anos 70 e 80, deve perguntar aos candidatos Fernando Collor de Melo e Luís Inácio da Silva. Ao menos um deles, contará boas histórias. Aquilo me irritava – pois adoro Itaqui e jamais falaria mal de seus habitantes que conhecem como poucos a arte de receber – e eu acabava na beira do rio para olhar Alvear e pensar na dona do hotel. Uma tarde, reclamei manhosamente que o ar condicionado de meu quarto não dava conta do calor. Ela foi conferir o fato in loco. A recepção ficou vazia por bastante tempo, prova de que nem todo mundo têm a opinião do Dante (o comentarista do Impedimento que não curte nada que eu faço).
Nas noites de domingo, a presença da Rede Globo parecia ainda maior. Tinha o Fantástico e, lá pelas 22h, entrava o Léo Batista com os gols pelo Brasil. O personagem principal, o mais festejado, o Rei da Globo e do Flamengo era um baixinho que atuava com a camisa 10. Rede Globo → Rio → Flamengo → Zico → Festa, simples assim. Era insuportável. Ainda mais que o cara era absolutamente genial.
Logo que ele apareceu, todos os Ceconelli do sul do Brasil, com sua neurótica fixação pelo número 3, diagnosticavam que ele era apenas um “jogador de Maracanã”, que era só botar “o Ademir Kaefer em cima dele pra ele abrir as pernas”, e torciam o nariz com ceticismo. Só que ele não parava de fazer gols – e era gol de tudo quanto era jeito, de pé direito, esquerdo, forte, colocado, de primeira, driblando meio mundo, de pênalti, de bate-pronto, de falta e até vários de cabeça, normalmente feitos no Botafogo.
O moço era realmente democrático. Tinha pra todo mundo. Todo o clássico no Maracanã tinha. A princípio, dando razão aos Ceconelli, o futebol e os gols de Zico apareciam mais quando acompanhados pela torcida do Flamengo, mas depois eles passaram a prescindir da companhia dela e vararam o Brasil. Eram gols bonitos, calculados, cheios de estilo. Não é favor compará-los com os de Messi. Zico também era pequeno e perdia poucos gols. Assim como o argentino, Zico calculava seus chutes. Raramente a bola estufava as redes com ódio, ela quase sempre dirigia-se para lá como uma criança dirige-se com sono para sua cama. A cena seguinte era a do protagonista correndo para a torcida, quase sempre passando pelo lado direito da goleira adversária para ir até o fosso do velho estádio. Era uma cena chata, repetitiva para os torcedores não flamenguistas.
O chamado Galinho de Quintino – apelido de considerável mau gosto – chutava bem demais. Sua cobrança de falta era mortal. Seus lançamentos também eram esplêndidos e quase todos os pênaltis que batia acabavam nas redes adversárias – quase todos eles chutados no canto direito do goleiro. Um dos mistérios que nem deus explica é porque os goleiros atiravam-se quase sempre para o canto esquerdo. A convicção com que se equivocavam – ou eram enganados – era algo patético, ridículo. A seguir vou colocar alguns poucos números de Zico como artilheiro, mas é importante esclarecer que ele não era exatamente um atacante, era um enganche que chegava para chutar. OK, era um enganche que não marcava ninguém, mas era um meio-campista, saía de lá. Só que quando estava na área demonstrava como ninguém a arte de se colocar bem. E livre. E a bola insistia em passar por ele.
E o que dizer das arrancadas? Quantas vezes Zico partiu da intermediária como quem não queria nada e acabou nas redes adversárias? Mas eu nem precisaria descrever suas qualidades. Vamos aos poucos números que prometi.
Ele marcou 699 gols em sua carreira. No Flamengo, foram 539 em 826 jogos. Em 72 jogos pela Seleção, fez 52 gols. Também jogou na Udinese e no Kashima, onde até hoje é chamado de サッカーの神様. Em Udine, um jornal escreveu: “Para nós, friulanos, Zico tem o mesmo significado de um motor da Ferrari colocado dentro de um fusca. Sentimo-nos os únicos no mundo a possuir um carro tão maravilhoso e absurdo”. Mas há mais: é o maior artilheiro do Maracanã, com 333 gols; no ano de 1979, marcou 81 gols em 70 jogos; e em sua carreira ganhou Brasileiro, Libertadores (da qual foi o artilheiro), Mundial de Clubes, Campeonato Carioca. Só não levou mesmo a Copa do Mundo, em parte por sua culpa ao errar um pênalti contra a França, no México, na Copa de Maradona.
Alguns times que o Flamengo construiu em torno de Zico foram arrasadores. O clube sempre tentava dar-lhe coadjuvantes sensacionais, mas aquele que tinha Raul no gol, Mozer na zaga, Leandro e Junior nas laterais, Andrade na volância com, à sua frente, sem posição fixa, Tita, Adílio, Lico e Zico, com Nunes lá na frente – nunca sozinho – era praticamente imbatível. Só eu sei como sofri com esses caras. Vou passar por cima da lesão que lhe infligiu Márcio Nunes, do Bangu, em 1985. Afinal, neste 3 de março, Zico está completando 60 anos e a gente não deve falar de coisas ruins.
Então, para finalizar e a fim de que ninguém diga que minto…
Quando era bem pequena, minha filha não conseguia dizer a palavra salgadinho. Ela dizia cagadinho. Eu achava engraçado e providenciava o que ela queria. E, sabe?, toda vez que ouço o Luxemburgo falando em Gre-Nal me vem a impressão de que ele tem medo de jogar contra o Inter e lembro de minha filha dizendo “cagadinho”. Reconheço o tom de Luxa até por identificação, porque, como torcedor do Inter, também tenho certo temor de Gre-Nais. Ele usa palavras que conheço.
Noto a alegria de Luxemburgo em ter justificativas perfeitas para entrar em campo com o time reserva. Noto como ele fica feliz de poder jogar com o time mais fraco e não correr riscos pessoais. Noto como ele quer preservar seu longo contrato. Mas acho que acabou. O próximo será às ganhas. O próprio presidente Koff, que para trouxa não serve, já anunciou que no segundo turno os jogos serão mais espaçados e o Grêmio vai jogar contra o Inter com o time titular. Nada me tira da cabeça que era um recado para seu técnico.
É tudo impressão, mas apostaria que Luxa dorme mal antes dos Gre-Nais. Ainda mais depois daquele último Gre-Nal do Brasileirão. Um segundo tempo de onze contra nove — o goleiro e o centro-avante do Inter tinham sido expulsos — que acabou em 0 x 0 e que teve graves consequências no planejamento do clube em 2013.