O Questionário de Proust (XVI) – Responde Tiago Casagrande

Publicado em 7 de março de 2007

Apresentar Tiago Casagrande, o Tiagón? Fiquei um bom tempo na frente do monitor pensando em como somos parecidos. Ele não sabe disso. Sinto-me muito próximo a ele. Ele é mais ou menos eu há 22 anos atrás. Espero que dê mais certo… Um exemplo: só li suas respostas hoje, mas já tinha pensado em dizer que meus momentos mais felizes ocorreram enquanto ouvia música e quando vi meus filhos pela primeira vez. Ele respondeu o que eu responderia e colocará seus filhos na resposta quando tivé-los. Estou escrevendo este parágrafo – agora!, em linguagem Tristram Shandiana – e vejo a Olivia no MSN. Peço-lhe para que ela apresente o Tiago. Ela escreve o que segue e não acrescentarei mais nada porque não precisará:

Tiagón é uma mente que transita por entrelinhas de idéias, nisso de captar o que existe em planos outros. Um escritor meio musical ou talvez um músico meio literário perdido – perdidíssimo – entre publicitários. E ele só faz mesmo sentido em sua falta de sentido, olhando o mundo com seus olhos de rei anacrônico feito criança que não sabe ler e vira o livro de ponta-cabeça porque afinal são tudo pequenos desenhos enfileirados. E só não digo que Tiagón é gênio porque gênio é coisa de poeta romântico e crítico bardólatra mal-resolvido.

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

Ultimamente os humanos andam me irritando muito. E a maioria desses defeitos pode ser englobada numa categoria “desrespeito”.

Como gostaria de morrer?

Sonhando. Ei, na verdade eu não gostaria de morrer! Essa é uma pergunta capciosa? ;-D

Qual é seu estado mental mais comum?

Ocupado, como um pregão da bolsa de valores. Na minha cabeça tem sempre um monte de gente gritando, confundindo e geralmente me vendendo.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Space Ghost, versão talk show host. Meu alter ego é burro e sem noção de nada.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Um ao vivo pirata do Black Sabbath, gravado em 74. Na época, custou quase uma mensalidade da Famecos (que era, imagina, 350 pilas).

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Provavelmente, o Faustão.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

Woody Allen.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Ah, só se fosse alguém muito rico, tipo Príncipe de Dubai, essas coisas. Se é pra voltar pro miserê, me deixa em paz!

Em quais ocasiões costuma mentir?

Em eventos e festinhas de publicitários. Mas só porque é de bom tom.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

A ausência total de angústia. (Soou muito dramático? Dá pra botar um drum roll no final, se achares melhor ;-))

Qual é seu maior medo?

Um ataque simultâneo de mais de 150 espécies de insetos, sendo metade deles (mais um) formada por unidades de ataque voadoras. Agh!

Qual é seu maior ressentimento?

A vitória da Yeda nas últimas eleições. E o futebol do Ronaldinho na final do mundial de clubes passado.

Que talento desejaria ter?

Barba e costeletas.

Qual é seu passatempo favorito?

Ler os blogs da Verbeat! Ler continua refrescando.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Adicionaria uma tia rica, generosa e moribunda. E um primo fanho. Primo fanho é diversão garantida!

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

Rabada!

Onde desejaria viver?

Numa Porto Alegre com a segurança de 20 anos atrás. E que tivesse mais bares legais perto da minha casa. E um súper melhorzinho, porque aquele da Carazinho tá muito bagunçado. E num Petrópolis que não tivesse tanta lomba. E o Barranco não cobrasse tão caro.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

Vida saudável. Ergométricas, broto de alfafa e despertar às 6h da madrugada não conjugam com o verbo “viver”. Tá todo mundo maluco.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

A sorte.

Quando e onde você foi mais feliz?

Acontece seguido, esteja onde estiver, ouvindo música. De tempos em tempos, surge *aquela* música, que não é só uma grande música mas também tem aquela rara capacidade de traduzir musicalmente o que a palavra “beleza” significa a toda a sensibilidade do nosso córtex. Sendo capaz de desafiar áreas inexploradas da nossa subconsciência. (Inclusive houve hoje; descobrindo “Holy Ghost”, do Owls.) E no momento desse encontro a torrente elétrica que se cria vai levar os harmônicos do som pra tocar pertinho do lugar onde ficam as melhores memórias, e o resultado é uma sensação de plenitude e compreensão alavancada pela música e formada pela fumaça de todas as felicidades das mais felizes memórias. É como se *aquela* música pudesse traduzir os códigos inconscientes do que é mais puro e bom naquilo do que somos formados, sem que o raciocínio estrague tudo. E quando isso acontece, eu me sinto feliz pelo que tenho e pelo que sou. Sem ter que pensar no que “felicidade” significa.

O Questionário Proust (XV)– Responde Luiz Biajoni

Publicado em 3 de março de 2007

O Biajoni tem razão. Conheço pessoas que dizem que ele é louco. Não é. E olha que eu sei identificar os loucos e os chatos a quilômetros de distância. É um cara legal, daqueles que a gente senta tranqüilo num bar sabendo que só receberá gentileza e boas piadas. Passamos uma tarde e uma noite entre outros amigos, em São Paulo. Como não gostar de alguém que topa qualquer papo, de alguém que tem autêntica curiosidade pelas pessoas, de alguém que ADORA provocar, mas que aceita o contra-ataque com o melhor dos humores? É um ressentimento justo, Biajoni. Te entendo. E, puxa, gostaria de vê-lo muito mais do que uma vez.

E o prazer de estar com o Bia é perfeitamente transposto a seus textos. São leves, fluidos e, quando ele quer, muito provocativos. É bom lê-lo, prova disso é que dá de goleada em mim em número de leitores aqui na Verbeat.

Obs.: Na verdade, acho que estou escrevendo isto só porque ele diz eu sou bonito, apesar de ter denunciado que passo muito trabalho equilibrando uma taturana debaixo do nariz.

– Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

Irritação. Pessoas que se irritam por qualquer coisa me enchem.

– Como gostaria de morrer?

Numa manhãzinha de segunda-feira, para fazer valer uma folga para os amigos. De ataque cardíaco fulminante.

– Qual é seu estado mental mais comum?

Meu estado mental mais comum se chama “lambari”. Parece que tem vários deles atravessando meus pensamentos.

– Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Ulisses, da Odisséia.

– Qual é ou foi sua maior extravagância?

Comprar CDs. Fazendo contas por baixo, gastei um automóvel zero em CDs. (Bom, não podemos contar exatamente como extravagância o fato de ter escrito um livro, né?)

– Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Desprezo o Bush.

– Qual é a pessoa viva que mais admira?

Pô, admiro muita gente. Admiro todos que vivem bem fazendo o que gostam.

– Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Pô, se pudesse, gostaria de voltar “Biajoni reloaded” – tive uma ótima vida até agora, apesar de todas as dificuldades.

– Em quais ocasiões costuma mentir?

Não costumo mentir. Se o faço em alguns momentos é para proteger alguém que amo – ou para não constranger alguém.

– Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

Casa com quintal e plantas, não precisar trabalhar, família por perto, livros, discos e filmes à mão, computador bom com internet rápida, comidas e bebidas boas, não ter hora para dormir ou acordar.

– Qual é seu maior medo?

Não dar conta de cuidar das pessoas que dependem de mim.

– Qual é seu maior ressentimento?

Ser considerado maluco por alguns.

– Que talento desejaria ter?

Da música, saber tocar um instrumento.

– Qual é seu passatempo favorito?

Sentar com amigos para uma cerveja e uns beliscos ouvindo discos obscuros e tecendo conspirações.

– Se pudesse, o que mudaria em sua família?

O volume da voz.

– Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

É incrível que ainda exista gente passando fome, pleno século XXI.

– Onde desejaria viver?

Olha… Atualmente penso muito em Minas Gerais.

– Qual a virtude mais exagerada socialmente?

Minha? Me empolgar e beber demais quando com os amigos.

– Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

A mesma que Schopenhauer: a de (ainda) se sacrificar por outrem.

– Quando e onde você foi mais feliz?

Atualmente. Embora precisasse de mais dinheiro.

:>)

O Questionário de Proust (XIV) – Responde Serbon

Publicado em 2 de março de 2007

BIOGRAPHIA DO SERBON (por ele mesmo)

Roqueiro, sãopaulino , blogueiro e pai em horário integral; músico bissexto(bissexual é a mãe) e jornalista nas horas vagas. Sergio Bomfim (corruptela de Serbon ou Serbão para os íntimos) encontra-se em crise da meia idade, pois entrou há pouco na chamada Casa dos Enta. Está criando um alter-ego, o Leonardo, que já tem 12 anos, desenha pra caramba e – oh tempora, oh mores! – sempre sacaneia o pai. Serbão já tentou largar o vício de blogar, mas desistiu e segue a política de redução de danos: apenas um post por dia.

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

a pieguice. argh!!!!

Como gostaria de morrer?

eu queria morrer dormindo, como meu avô. não desesperado, gritando, com os passageiros do vôo que ele pilotava.

Qual é seu estado mental mais comum?

confuso? não peraí, indeciso. não, confuso mesmo. é, confuso. ou indeciso.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Kramer, do Seinfeld. não trabalha, não faz nada e sabe-se lá como vive, mas é um tremendo cuca-fresca.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

uma vez, quando o real estava pau a pau com o dólar. arrisquei e comprei um vidrinho de caviar. fiquei sem dinheiro pro ônibus. mas gostei. como diria o Mundinho de Dona Flor, “tem gosto e cheiro de xibiu”…

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Nicolas Cage, disparado.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

Jim Morrison. ele não morreu não, forjou a própria morte e trocou de identidade. tem um cadáver de uma loba no túmulo de Père Lachaise.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

eu queria voltar como eu mesmo, mas com toda a experiência que tenho agora!!!!

Em quais ocasiões costuma mentir?

em todas as necessárias.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

o dolce far niente. sou devoto de São Domenico De Masi, o santo padroeiro do ócio.

Qual é seu maior medo?

o de não ter medos, pois aí, estarei anestesiado na vida.

Qual é seu maior ressentimento?

minhas histórias de rejeição.

Que talento desejaria ter?

surfar.

Qual é seu passatempo favorito?

internet. é o favorito de 90% dos que lêem blogs, mas só 0,1% admitem.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

gritaríamos menos.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

ir à uma festa, e recolher todas as latinhas de alumínio “pra reciclar”…

Onde desejaria viver?

num cantinho aconchegante.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

aparências…

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

carisma.

Quando e onde você foi mais feliz?

rapaz, pergunta difícil não vale!

Beethoven – Quarteto de Cordas, Op.59, "Razumovski", Nº 3 – 2º e 4º Mvtos

Para o Dr. Milton Cardoso Ribeiro

Hoje faz 17 anos que meu pai morreu. Esta era uma das músicas que ele mais amava, o terceiro Quarteto Rasumovsky (com “s” ou “z”), especialmente seu tranquilo segundo movimento e o quarto, bem diferente. Infelizmente, não os encontrei com o mesmo quarteto. O 2º vai pelo Alban Berg — esplêndido, esplêndido, esplêndido — e o 4º pelo Borealis, muito bem editado. Nossa, é música de primeira qualidade, nem vou escrever mais.

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Porque às vezes sinto orgulho de minha cidade

Publicado no Sul21, com outro título

A partir deste domingo (13), ônibus com mensagens ateias circularão em Porto Alegre e Salvador. A iniciativa é da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (ATEA) e apresenta quatro mensagens que expõem um pouco o que pensam os ateus. Segundo a entidade, este é mais um passo dado na direção do reconhecimento dos não crentes como cidadãos plenos e dignos. Serão 10 ônibus em Porto Alegre, financiados por um único doador paulista que prefere permanecer anônimo, e 5 ônibus em Salvador, financiados com recursos da entidade e outros doadores.

O mote da campanha é “Diga não ao preconceito contra ateus”, que aparece em quatro formatos diferentes. Um deles afirma “A fé não dá respostas. Ela só impede perguntas” e outra diz “Religião não define caráter” mostrando uma foto de Hitler, citado como crente, e Charles Chaplin, um ateu. As propagandas permanecerão nos ônibus por um mês. Porém Daniel Sottomaior, presidente da ATEA, revela que “O prazo pode se estender, se tivermos doações. Somos cerca de 2% dos brasileiros ou 4 milhões de ateus. Muitos têm medo de se expor devido ao preconceito de amigos, chefes e familiares. Isso tem que acabar”.

A campanha traz ainda a foto de um avião atingindo o World Trade Center com os dizeres “Se Deus existe, tudo é permitido”, uma citação alterada da famosa frase de Dostoiévski em Os Irmãos Karamázovi, “Se Deus não existe e a alma é mortal, tudo é permitido”, dita paradoxalmente pelo ateu Ivan Karamázov no romance. Outra peça afirma “Somos todos ateus com os deuses dos outros”, mostrando imagens de um deusa hindu, um deus egípcio e um deus palestino — Jesus.

Segundo a entidade, o objetivo da campanha não é fazer desconversões em massa, mas conseguir um espaço na sociedade e diminuir o preconceito que existe contra ateus.

DOAÇÕES –> AQUI <–

Dmitri Shostakovich (VIII – Final)

Na primeira parte do último texto, escreverei uma pequena introdução sobre meu diletantismo radical de escolher um compositor para passar centenas de horas a lê-lo e ouvi-lo. Há muita coisa boa e muita porcaria publicada. Já as gravações são quase todas boas. Ele não é compositor para músicos diletantes…

Os piores textos vêm daquelas alas que atribuem ou buscam descobrir alguma posição política no homem e na obra. Tais posturas, encontráveis tanto à direita quanto à esquerda, com predominância daquela, servem apenas para mostrar a ideologia de quem escreve, o que, convenhamos, pouco interessa neste caso. Depois de muito ler, fica clara a grande e falsa exposição que Shostakovich obteve durante da Guerra Fria, no Oriente e no Ocidente. Ambos os lados o utilizaram como exemplo de suas teses. Ele e outros intelectuais soviéticos foram espécies de caixas pretas nas quais se podia adesivar as mais diversas opiniões e posições. Não, Shostakovich nem representava o governo soviético, nem esteve ao lado dos dissidentes Soljenítsin e Sakharov. Se teve inúmeras oportunidades de permanecer no Ocidente e não o fez (argumento da esquerda), também sofreu horrores com Jdanov, Stálin e mesmo depois (argumento da direita); se escreveu ironias ao estado soviético (Cantata Rayok, argumento da direita), também cantou o heroísmo da revolução em obras não encomendadas. Shostakovich parece-me ter sido alguém cujo pensamento político possuía pouca relevância e que agia sempre como artista e ponto. Só isso? Não, em minha opinião, ele era um comunista muito crítico e reto, com uma complexa relação de amor e ódio ao poder da URSS. Apenas Stálin era cem por cento abominado. Era um artista, não um político; não seguia as linhas tortuosas, às vezes indefensáveis, que os partidos frequentemente defendem. Utilizou-se de temas de sua época, porém a perspectiva sob a qual via o mundo era, curiosamente, sempre foi a dos mortos. Dos mortos pelos nazistas, pelos anti-semitas, pelos soviéticos, por Stálin ou pelo passar do tempo, como em toda sua obra final. Como escreveu Fernando Monteiro, toda grande obra gira em torno de três temas: Amor, Deus e Morte. Acho que Shostakovich, teve muito a dizer sobre todos, principalmente sobre os dois últimos temas; o primeiro pela inexistência, o segundo pela onipresença.

Aliás, com o passar do tempo — o qual tem o bom costume de fazer aparecer a verdade e o pouco recomendável hábito de fazer desaparecer nossos pobres corpos –, a discussão sobre o pensamento político de Shostakovich tornar-se-á ociosa e ficará o que interessa: o homem e o compositor; e este era um sujeito brilhante e produtivo, deprimido e eufórico, que torcia interminavelmente os dedos, como mostram os filmes soviéticos, sentado num trem olhando a chuva bater na janela; que homenageava a pureza de alguns revolucionários e criticava ou expelia seu amargor e sarcasmo aos governantes; que permanecia parado por horas em silêncio com os amigos de que gostava — e só com eles.

Por falar em gostar, o que gosto em Shostakovich é sua música. Ela é produto de um artista apaixonado e inacreditavelmente produtivo. A forma com que ele se relacionou com seu tempo serviu à sua música e não o contrário. Escrevia para ser compreendido e para expressar-se, mas não tinha ilusões de mudar seu país e o mundo, que é como parece pensar quem só vê política na arte de Shostakovich. Sua música, antiquada para os modernos e moderna para os anacrônicos (sem ofensas, sem ofensas…), consegue ser visceral e cerebral, e concordo com este artigo quando seu autor fala no quanto a audição de Shostakovich demandou-lhe subjetivamente. Não é música para ser assimilada nas primeiras abordagens e nem esquecida facilmente. São experiências oferecidas por alguém disposto a buscar tudo o que estivesse à mão para expressar o que desejava e que produziu uma obra séria, sarcástica, deprimente, divertida, inteligente, lúdica e extraordinária: às vezes, tudo ao mesmo tempo.

A seguir, comento as três últimas grandes obras de Shostakovich.

Quarteto de Cordas Nº 14, Op. 142 (1972-73)

Este é quase um quarteto para violoncelo solo e trio de cordas, tal é a proeminência dada àquele instrumento. É um quarteto inspiradíssimo, escrito em três movimentos (Allegretto – Adagio – Allegretto), e que tem seu centro dramático em um dilacerante adagio de 9 minutos. Não consigo imaginar uma audição deste quarteto sem a audição em seqüência do Nº 15. Eles, que costumam aparecer juntos, seja em vinil ou em CD, formam, em minha imaginação, uma só música.

Quarteto de Cordas Nº 15, Op. 144 (1974)

Este trabalho, assim como a sonata a seguir, são tidas como obras-primas e seriam os dois principais “réquiens privados” de Shostakovich. Concordo.

O que dizer de um obra escrita em seis movimentos, em que quatro deles são adagio e os outros dois são adagio molto, sendo que, destes dois últimos, um é uma marcha funeral e outro um epílogo…? Ora, no mínimo que é lenta. Porém, como estamos falando do Shostakovich final, estamos falando de uma obra que tem como fundo a morte. Há três movimentos realmente notáveis nesta música: a Serenata: Adagio, a Marcha Fúnebre – Adagio Molto e o musicalmente espetacular Epílogo – Adagio Molto. O Epílogo recebeu vários arranjos sinfônicos e costuma aparecer — separadamente ou não do resto do quarteto — em gravações orquestrais.

Sonata para Viola e piano, Op. 147 (1975) – A Última Composição

Esta é a última composição de Shostakovich e uma de minhas preferidas. Ele começou a escrevê-la em 25 de junho de 1975 e, apesar de ter sido hospitalizado por problemas no coração e nos pulmões neste ínterim, terminou a primeira versão rapidamente, em 6 de julho. Para piorar, os problemas ortopédicos voltaram: “Eu tinha dificuldades para escrever com minha mão direita, foi muito complicado, mas consegui terminar a Sonata para Viola e Piano”. Depois, passou um mês revisando o trabalho em meio aos novos episódios de ordem médica que o levaram a falecer em 9 de agosto.

Sentindo a proximidade da morte, Shostakovich escreveu que procurava repetir a postura estóica de Mussorgsky, que teria enfrentado o inevitável sem auto-comiseração. E, ao ouvirmos esta Sonata, parece que temos mesmo de volta alguma luz dentro da tristeza das últimas obras. A intenção era a de que o primeiro movimento fosse uma espécie de conto, o segundo um scherzo e o terceiro um adágio em homenagem a Beethoven. O resultado é arrasadoramente belo com o som encorpado da viola dominando a sonata.

Os primeiros compassos da Sonata ao Luar, de Beethoven, uma obra que Shostakovich frequentemente executava quando jovem pianista, é citada repetidamente no terceiro movimento, sempre de forma levemente transformada e arrepiante, ao menos no meu caso… O scherzo possui uma marcha e vários motivos dançantes, retirados de uma outra ópera baseada em Gógol — seria sua segunda ópera composta sobre histórias do ucraniano, pois, na sua juventude ele já escrevera O Nariz (1929) — que tinha sido abandonada há mais de trinta anos. Outras alusões são feitas nesta sonata. Há pequenas citações da 9ª Sinfonia (de Shostakovich), da 4ª de Tchaikovski, da 5ª de Beethoven, da Sonata Op.110 de Beethoven, de Stravinsky, Mahler e Brahms. E a abertura da Sonata utiliza trecho do Concerto para Violino de Alban Berg, também conhecido pelo nome de “À memória de um anjo”, o qual é dedicado à filha de Alma Mahler, Manon, morta aos 18 anos, com poliomielite.

Creio não ser apenas invenção deste ouvinte- – há uma constante interferência do inexorável nesta música, talvez sugerida pela intromissão de temas de outros compositores na partitura, talvez sugerida pela atmosfera melancólica da sonata, talvez por meu conhecimento de que ouço um réquiem. O fato é que Shostakovich estava aguardando.

Shostakovich morreu sem ouvir a sonata, que foi estreada num concerto privado no dia 25 de setembro de 1975, data em que faria 69 anos.

Porque sou Goiás hoje

Sou Goiás porque sou colorado e colorados torcem sempre contra os interesses do Grêmio e vice-versa.

Sou Goiás porque sou um baita de um filha-da-puta que gosta de tirar sarro de gremistas.

Sou Goiás porque será cada vez mais comum times brasileiros vencerem a Libertadores — temos o melhor futebol de clubes do continente, o mesmo não digo sobre seleções — e é bom que o Grêmio fique afastado destes festins.

Sou Goiás porque o Goiás não irá muito longe na Libertadores 2011.

Sou Goiás porque defendo os fracos. (Puff!)

Sou Goiás porque me divirto com as grandes decepções e a torcida do Independiente sofrerá enorme uma frustração in loquo.

Sou Goiás porque adoro quando tudo está preparado para a vitória e sai tudo errado.

Sou Goiás porque Marcão joga lá.

Sou Goiás porque Fernandão é.

Sou Goiás porque me agrada o anticlímax da classificação domingo X a desclassificação de hoje.

Sou Goiás porque é o Brasil na Sul-Americana. [Grupo Arquibancada Colorada do Google]

Sou Goiás porque quero ver o Grêmio fodido. [Grupo Arquibancada Colorada do Google]

Sou Goiás porque lugar de gazela é assistindo a Libertadores sentadinho no sofá. [Grupo Arquibancada Colorada do Google]

Sou Goiás porque nosso caminho ao Bi da Recopa será facilitado contra o time brasileiro, fugindo do Independiente. [Grupo Arquibancada Colorada do Google]

Sou Goiás, porque prefiro que esse título venha para o Brasil, mais uma vez. [Grupo Arquibancada Colorada do Google]

Sou Goiás porque eliminaram o gazeledo no xiqueróvsky na estréia de Renato Guadalupe, um dia após nosso Bi da América, e na ocasião ouvi as bibas dizendo: — Campeonato de segunda linha, o Grêmio precisa é sair dessa situação (no zonão na época). [Grupo Arquibancada Colorada do Google]

Agora pergunto, será que eles não preferiam estar na situação do Goiás hoje? Rebaixado pra segunda divisão (nenhuma novidade pra eles) e disputando um título continental inédito que daria a vaga pra Libertas do ano que vem. [Grupo Arquibancada Colorada do Google]

Sou Goiás desde pequeno porque hoje quero ligar para um amigo gazélico e perguntar : — E aí, ´tomô´? [Grupo Arquibancada Colorada do Google]

O Manifesto de Zizi Possi & Consequências do Post Anterior

Publicado em 5 de agosto de 2004

O post sobre o jabá provocou uma notável série de comentários (que perdi…). Fico agradecidíssimo a todos. Também provocou belas reações fora do âmbito bloguístico. Ganhei links em sites de gravadoras independentes e recebi e-mails de pessoas ótimas e que não conhecia. Dentre eles, gostaria de destacar Augusto Maurer – este eu já conhecia! -, da gravadora Antares, que, com enorme generosidade, tratou de me informar acerca da cena atual das gravadoras independentes. A MPB está buscando uma  saudável revolução cuja finalidade é a retomada do mercado por aqueles a quem de direito – seus verdadeiros artistas. O crescimento da Antares, da Biscoito Fino, da Kuarup, da Acari, da Rob, etc.; as atitudes de artistas como Djavan, Zizi Possi e Lobão apontam que as independentes ainda farão muito barulho. Foi também através do Augusto que recebi o belíssimo documento que transcrevo abaixo e que está no site de Zizi Possi. Com ele, fecho temporariamente o assunto.

~~~~~

O Manifesto de Zizi Possi

Sem arriscar, do artista não brota a obra.
A realização dessa obra requer muita fé no que não se pode ver,
nem tocar,nem sequer acreditar que é possível…
e suportar a pressão dos incrédulos.
Ser artista é entre outras coisas, ter coragem de ousar,
de mergulhar no desconhecido até então.
Quem investe na arte?

Zizi Possi

Meus amigos;
Muitas pessoas que gostam de mim e do meu trabalho têm perguntado sobre a minha rescisão com a gravadora, e o que será do meu futuro.
Gostaria de responder a todos os que têm essa questão em mente, contando um pouco do que, e de como penso sobre isso.
Vale lembrar que não sou dona da verdade, nem pretendo convencer ninguém a respeito de nada.
Estou apenas expressando o meu ponto de vista, e esclarecendo minha opção.
É o seguinte:
A indústria da música no mundo gera o maior capital depois da de petróleo.
Ou pelo menos gerava, antes da facilidade de reprodução de um CD pela pirataria, e da era Internet,
Ou seja: um próspero negócio.
As gravadoras multinacionais no Brasil, historicamente dominaram o mercado por serem mais ricas e organizadas,
Graças ao geométrico potencial de desenvolvimento financeiro, chamaram a atenção e foram absorvidas por grandes corporações ou parques temáticos:
A CBS virou SONY MUSIC – mais um braço da SONY.
A POLYGRAM virou UNIVERSAL MUSIC – mais um braço do parque temático, cinema, bonequinho, álbum de figurinhas, etc e tal…. Que por sua vez já foi vendida para um grupo francês enoooooooooooooooooorme, e que nunca trabalhou com música antes.
A RCA de ontem, a do cachorrinho no gramofone, é hoje BMG.
O André me mostrou pela Internet “quem” é a BMG. Tentem ,e pasmem! E por aí vai…
Ou seja, nas últimas décadas, o negócio foi crescendo tanto que a própria indústria, deslumbrada com os louros conquistados, foi arrebatada pela tentação financeira e acabou abrindo mão de si própria, para se tornar mais um braço de uma grande corporação.
Como braço, se a “gravadora” não gerar um volume pré-determinado de dinheiro no ano, o cargo dos executivos entra em pane, e pode haver um desastre nas suas promissoras carreiras.
Que entre em pane então a arte, a cultura,o artista, e tudo o que é mais trabalhoso de colocar no mercado, pois o consumo deve ser rápido e por atacado. Sem riscos desnecessários.
Quanto mais essa rapidez atropeladora vai crescendo e “resolvendo” a questão, menos importância e cuidado sobra para a arte e o artista – originalmente a matéria prima da indústria!….
Salve as bundas! Salve o hedonismo! Salve a banalização do sexo, da televisão, do “tornar-se famoso a qualquer preço”, e da informação!!!
(que se faça justiça: esse mérito não é só da indústria da música!!! )
É o que temos, e teremos por um bom tempo, até que o mal se consuma a si próprio, e o povo se farte do sexismo, desmistifique a fama barata, e finalmente respire a permissão de merecer mais e melhor do que isso.
Em contrapartida, o Brasil é um grande mercado para a música.
Não é tão difícil alcançar o mínimo anual estipulado. Não requer grandes investimentos comparados aos que os outros braços costumam disponibilizar para o marketing dos respectivos produtos.
Desde que abriu mão da sua identidade para se tornar “parte” de algo maior, deixou também de crescer, de se atualizar, pesquisar, abrir mercados novos, e de investir adequadamente nos seus produtos.
Os caminhos para divulgação trocaram de nome mas continuam os mesmos!
Me pergunto:
Qual é o investimento de suporte que a indústria já fez por aqui?
Casas de espetáculo:
Empresas de igual ou menor porte,investem em suas marcas associando seus nomes a espaços culturais:
ATL Hall (Rio), Credicard Hall, Direct Tv Hall, Teatro Alpha Real (S.P.)
– Tem algum UNIVERSAL MUSIC´S THEATER em algum lugar do Brasil?
Quem sabe um WARNER Music Hall????
Entre nós: para quem trabalha com música, investir num “show room” – um lugar adequado para a apresentação da mesma – não é tão incoerente assim…. você não acha????
Seria até uma garantia de visibilidade para seu investimento, além de ser uma mais do que justa forma de reconhecer a hospitalidade brasileira, oferecendo à sociedade e ao artista mais um local de cultura, lazer e trabalho.
O Bradesco – instituição financeira – fundou e cuida de um grande e super bem estruturado orfanato.
O Bank Boston – instituição financeira – também.
O Itaú – instituição financeira – tem um centro cultural que oferece espaço e visibilidade para que artistas de várias áreas possam mostrar seu trabalho e o público tenha acesso à arte e informação.
Vocês já viram alguma ação cultural e /ou benemérita das multinacionais da música no Brasil ????

Tudo bem que a TV a cabo seja outro braço desta verdadeira “SHIVA” capitalista, e que portanto temos bolsos diferentes…….. embora na mesma calça.
Seria uma heresia pensar em contar com uma pequena janela – pode ser até uma fresta – para a apresentação do nosso produto musical, o da própria empresa ?!!?
Todo o longa metragem lançado, tem sua trilha sonora distribuída e vendida pelo seu “braço” musical do país em questão. Será que isso deveria permanecer assim mesmo, unilateral????
Aí vem aquelas justificativas todas para explicar que a divulgação é escassa porque os programas são sempre os mesmos etc etc
Ai que pena e que cansaço!
Tenho 24 anos de carreira profissional, e 46 de idade, ou seja: não dá mais para ouvir as mesmas desculpas de sempre por aquilo que não foi feito, e acreditar que as alternativas não são viáveis!!!!!
Reclamam da pirataria, e com razão.
Mas temos de reconhecer que o mercado foi negligenciado pela própria indústria.
Ela sempre subestimou o que chamava de “menor “.
Nisso incluem-se a própria pirataria, que há 10 anos atrás representava um “nada” para o mercado, e as pequenas cadeias ou lojas isoladas, porém especializadas em música.
A inadimplência alegada para o corte ao crédito das pequenas lojas, realmente é um fator desestruturador e requer providências.
Nem sempre encontramos a melhor saída para a crise.
Acho que abrindo mão de vender música, abriu-se mão do mercado dela.
Tenho saudade de entrar naquela loja onde o mocinho de crachá se aproximava para ajudar, e quando eu perguntava sobre um determinado artista, ele sabia tudo o que havia sido gravado nos últimos anos.
Mostrava os CDs, citava músicos e o solo da guitarra numa canção, o de sax na outra….
Eram bons os tempos em que se ouvia um disco inteiro com prazer e sede de estar perto da criação e do artista.
Hoje em dia, as lojas minguaram a tal ponto, que só se encontram CDs em supermercados, loja de departamentos, postos de gasolina, e graças a Deus em livrarias!
Imaginem, o CD, produto tão vendido no país, perdeu sua própria loja!!!!
O terrível, é que nesses lugares, (nas livrarias menos) não há lugar para catálogos.
Você só acha os sucessos:
1- da novela,
2- das rádios de “parada musical” ,
3- de compilação feito pela própria gravadora para parecer produto novo, e
4- com sorte, dos últimos 2 ou 3 CDs do artista – lógico, se tiverem sido um sucesso!
Sucesso
– essa é outra boa questão a se repensar.
O sinônimo de sucesso para mim sempre foi o de obter um resultado positivo como decorrência de algum bom trabalho.
Para se obter um resultado é preciso fazer alguma operação antes, certo?
Então, desde que sucesso passou a ser encarado como sinônimo de fama e de dinheiro a qualquer preço, foi diminuída a importância do trabalho do artista.
O sucesso passou a ser a meta, e não o resultado.
As máquinas maravilhosas que corrigem desafinações, e trazem já ritmos e timbres completos, são capazes de reduzir o número de músicos e de consertar qualquer erro.
Não sou contra essa tecnologia, muito pelo contrário – acho bárbaro!
Só sinto por ela estar sendo utilizada tão abusivamente.
O mercado e a mídia podem estar lotados de pessoas que se tornam famosas, mas nem por isso podem ser reconhecidas como artistas.
Isso é sucesso?????
Olha, até meu cachorrinho pode latir afinadinho, e com sorte se cair no gosto popular, ser o maior sucesso do Brasil.
Sucesso no dicionário deles, bem entendido!
Cabe dizer, que neste momento da história, a indústria nacional de música – ontem um “nada ” para o mercado – tem revelado extrema criatividade ao lidar com o mercado, a mídia e as concorrentes.
Que bom poder olhar para este cenário e ver que a batuta na mão da indústria brasileira (a verdadeira ABPD) está regendo um leque aberto de opções menos preconceituosas, preguiçosas e tendenciosas, garantindo um pouco da imensa variedade de músicas e estilos do país – o que caracteriza nossa riqueza cultural.
Tomara que não se percam pelo caminho. Não haverão de se perder!
Enfim quem sou eu para criticar?
Como já disse desde o início, não sou dona da verdade.
Essa é apenas a minha visão deste momento da história da música popular & indústria & mercado.
A mim, cabe apenas saber até onde posso andar nessa direção.
Não me reflito nesses valores.
Sei que vai ser trabalhoso daqui por diante realizar meus projetos sem o suporte financeiro e mercadológico da indústria, mas acredito que vai rolar sim!
Parei de andar por esse caminho, mas não parei de cantar.
Gosto de música, muito! De música com “M” maiúsculo.
E é essa a música que pretendo realizar sempre.
Pode demorar um pouquinho, mas tenho certeza que vai rolar!
Para você meu querido amigo, que vem me acompanhando ha algum tempo, agradeço de coração, e espero retribuir lhe apresentando um trabalho do tamanho do seu carinho e atenção.
Vamos manter contato!
Um grande beijo,
ZZ

Notícias do Reino do Jabá

Publicado em 2 de agosto de 2004

Estes dias, revendo os CDs de música brasileira que comprei nos últimos anos, constatei que 90% deles eram de gravadoras independentes. Não sabia que era tão outsider.

Ontem, recebi um e-mail com um artigo provavelmente assinado por Sérgio Rubens de Araújo Torres — nunca se sabe a real autoria das coisas que chegam a nossa caixa de entrada — e que fala sobre como as multinacionais fonográficas tratam nossa música. O tom geral do artigo é demasiadamente virulento para o meu refinado gosto (hã?), mas seu conteúdo expressa verdades difíceis de serem contestadas.

Sabem o que é o jabá? Ora, é aquela grana que a emissora de rádio ou TV recebe da gravadora para executar determinadas músicas de seu interesse. É uma forma permitida de suborno e que faz com que sejamos obrigados a ouvir centenas de execuções da mesma música, pois um executivo de uma multinacional decidiu grudá-la em nossa memória de tal forma que sejamos impelidos a ir correndo a uma loja adquiri-la… Sabem qual é o gasto das gravadoras com o jabá? São muitos milhões de reais por ano. É um pagamento difícil de explicar, principalmente para quem se declara quase extinta pela pirataria.

A pergunta principal que faço e que o Sr. Sérgio Torres tenta responder em seu artigo é a seguinte: por que o jabá tem de beneficiar sempre a pior música brasileira? Por que Guinga, por exemplo, não pode ser beneficiado por ele? Mais: por que um artista como Guinga não pode fazer parte do excelso cast de uma grande gravadora e sim do da Veleiros? É por não ser bonitinho? E por que as grandes gravadoras não promovem nada que seja de qualidade? O pop-rock-pagode que costumam promover são constrangedores.

Não sou um nacionalista radical, apenas acho natural que os croatas possam conhecer, através dos meios de comunicação disponíveis na Croácia, o melhor que os compositores e músicos croatas produzam, escolhido por radialistas croatas que tenham liberdade para fazê-lo. Você também não acha que um croata tem o direito de ouvir a boa música croata? É claro que ele tem também o direito de ouvir música croata ruim ou músicas americanas ou inglesas boas ou más, mas ele deve ter liberdade, certo? Pois aqui no Brasil quem faz esta escolha é o jabá, só ele. Ou seja, um executivo de uma gravadora é quem vai determinar se lhe é mais lucrativo que ouçamos carradas de Jota Quest ou de É o Tchan. Isto não é um tipo de censura? Isto não fere a liberdade? Isto não cai em nenhum artigo de nossa monstruosa massa informe de leis?

Vocês, meus 7 amados leitores, talvez não tenham tanto acesso ao dinheiro quanto gostariam, mas certamente têm acesso à informação. Nós, portanto, não precisamos padecer deste problema. Somos privilegiados e compramos (ou baixamos pela rede) o que nos agrada. Eu, por exemplo, fui conhecer a egüinha pocotó há pouco tempo; não ouço as rádios populares e quase não vejo a Globo, a Record, o SBT, a MTV, etc. Conheci a Kelly Key na Playboy e valeu a pena… Vi seus vários lábios, não ouvi sua voz e acho que detestaria fruir sua música.

Mas… e o resto das pessoas deste país? E os que só podem ouvir o que o jabá permite? Isto não nos traz conseqüências culturais? O fato de não nascerem mais tantos Tons, Pixinguinhas, Chicos, Paulinhos, Aris, Gonzagões, Miltons, Noéis, Dorivais, etc. é mera coincidência? Não seria este um caso para nosso Ministro da Cultura preocupar-se? Ou o fato de ser contratado de uma grande gravadora multinacional o tolhe?

(Este texto foi livremente desenvolvido a partir de um artigo de SÉRGIO RUBENS DE ARAÚJO TORRES chamado Multis boicotam produção musical brasileira para favorecer a da matriz.)

Who`s Next?

Publicado em 30 de janeiro de 2007

Eu pensei naquela velha piada do cara que vai ao psiquiatra e diz ‘Doutor, meu irmão está louco. Ele acha que é uma galinha.’ E o doutor responde ‘Bem, mas por que você não tenta convencê-lo do contrário?’. E o cara diz ‘Eu até o convenceria, mas é que preciso dos ovos’. Bom, eu acho que é mais ou menos isso o que penso dos relacionamentos. Sabe, eles são totalmente loucos, irracionais, absurdos, mas continuamos atrás deles, porque a maioria de nós precisa dos ovos”.

ANNIE HALL – Woody Allen

Meu estado de espírito foi lentamente luto do dia 14 para a brutal ironia dos dias subseqüentes e agora estaciona triste e decepcionado. Ontem, porém, fiz uma piada sobre pensando no rumoroso caso Meg-Paulo José Miranda; fiz mal; como resultado, algumas risadas e e-mails pessoais acusando-me de traição à Meg. Os espectadores desta tragédia grave e real, acontecida da forma mais virtual possível, parecem divididos entre os bondosos que depuseram irrestritamente seu perdão, os malvados incondicionamente irritados e os de minha posição, sem vontade de linchar nem afagar.

Teria muitos motivos para espernear indignado: fui eu o primeiro crédulo a divulgar a notícia a pedido de Paulo José Miranda, fui dos primeiros a ver minha caixa de e-mails pululando de textos que apontavam incoerências e pediam retificações a uma história mal contada. Aliás, minha caixa de entrada – uma verdadeira pândega durante a semana passada – tem declarações por escrito de pessoas que afirmam taxativamente fatos que são negados veementemente duas horas depois… pelas mesmas pessoas. O manicômio. Agora, o movimento está voltando ao normal, mas há os pedidos de explicações. São um saco, pois alguns começam assim: “Milton, cadê o Sub Rosa?, a Meg morreu mesmo?” Putz, e lá vai o Milton explicar….

Logo após meu enlutado post, vi a recém fantasmal criatura escrever um scrap no Orkut como Meg, vi-a metamorfoseada como Tereza Quetzal comentando em meu blog, li cético a declaração do Paulo sobre um encontro de ambos em São Paulo, revisei IPs que não apontavam nem por sombra para os Estados Unidos, discuti acerbamente com o Paulo tentando fazer com que ele abrisse os olhos e visse a mentira (e o problema) em que estava começando a charfurdar – mas ele permaneceu convicto – e tive com vários blogueiros diálogos dos mais inesperados de minha vida.

Não vou contar toda a história em detalhes. Acho mais importante afirmar que discordo visceralmente da posição de perdão irrestrito. Dizer que atitudes mentirosas e imorais – mesmo que provocadas com o objetivo de proteger o objeto amado… – são sub-produtos de uma doença é um enorme erro. Mas é a reação da maioria. Muita gente parece possuir o vício mental de trazer, colada à compreensão, o perdão. Se eu compreendo, perdôo. Discordo. Isto faria com que perdoássemos a todos. Também não me alinho na posição dos que execram o casal. Se a Meg reabrir seu blog, irei lá. Ela errou? Sim, mas o Sub Rosa era bom, muito bom. Quando o Paulo publicar um livro, não vomitarei sobre ele, é provável que goste como gostei dos que li. Preciso dos ovos e esta é uma relação escritor-leitor, ou seja, é a mesma que tenho com Diogo Mainardi (escritor?, foi promovido?) ou Franz Kafka.

Há confusão entre vida pessoal e vida na rede. Quando leio Diogo Mainardi na Veja, rio ou acho lastimável ou sinto impulsos de jogar a revista no lixo, mas sempre o objeto da discussão é o texto. Porém, se falo em seu filho que sofre de retardo mental – fato exposto por ele – e o ofendo dizendo que “ele merece”, não estou sendo apenas deselegante como passa a uma esfera onde só deveria entrar com a máxima educação: a dos problemas pessoais. Ora, só discutirei a impotência do blogueiro X se ele me conceder abertura para isso e, se o fizer, será com amizade e cuidado; só falarei em regimes alimentares quando Y se declarar gordo ou anoréxico e pedir conselhos a respeito; não falarei nunca sobre um transtorno bipolar exposto a mim, pois não tenho competência para tanto e procurarei ser apenas carinhoso. Sim, é preciso cuidado, a exposição existe onde mais da metade dos blogs são confessionais (e chatos). No caso em questão, a super-exposição da vida pessoal de um e de outro era inevitável, pois havia no ar a certeza de uma ocorrência muito estranha. E, talvez pior, houve os diagnósticos…

O caso é que uma fato comum da Internet foi levado ao paroxismo.

O que houve? Ora, uma mulher de mais de 50 anos, muito inteligente, jovial, culta e sedutora entra em contato (ou ele entra em contato, não interessa) com um escritor desimpedido, talentoso, culto e mais jovem. Ela lhe abre contatos, apresenta-lhe pessoas e encanta-se por ele, assim como ele por ela. Então, a mulher manda-lhe uma foto tirada há 25 anos. Fez mal, muito mal, pois ele acreditou que ela fosse ainda aquela – por que desconfiaria? O jogo prossegue e o homem quer conhecer a mulher, claro. Mas não pode, pois descobrirá sua idade! Então, ela cria uma enorme fantasia: adquire um câncer, vai para o Nova Iorque e morre por lá. Fez mal, muito mal, pois ele não apenas acreditou novamente, como resolveu pranteá-la publicamente, com foto e tudo. Mas ele também erra: a morte é importante, porém é mais convicente agregada a um romance fugaz. Ele o cria. Enquanto isso – como é difícil livrar-se do vício da Internet! -, ela fica entrando na rede e sendo descoberta quase todos os dias. Ou todos, teria que revisar. (Neste ínterim, já existia uma rede de relatórios informais da blogosfera.) Quando tento, e tentei várias vezes, dizer ao homem que a mulher está viva, que ele está equivocado, ele responde: está morta e ela é a da foto! E fica irritado. Fez mal, muito mal em desconsiderar as advertências. Às vezes até eu estou certo.

No domingo passado nem era Páscoa, mas quando a gorda mentira estava sendo levada merecida e lentamente pelo Inagaki para a estreita via do esquecimento, onde também teria dificuldades, estoura a bomba. Ressurreição! A mulher reaparece. No primeiro momento passam de mentiroso e idealista e de mentirosa e voyeur à mais pura compreensão e solidariedade. Todos erraram, todos pedem perdão. Meg retorna. Paulo envergonhado, diz que as advertências que recebera estavam corretas; Meg pede desculpas. É claro que, passados dois dias, a situação já deve ser outra. Não sei.

Fico triste, são dois amigos. Não sei se permanecerão. Os brasileiros são tolerantes e colocarão a história nos anais da blogosfera como uma curiosidade. Já os blogs portugueses são muito mais sérios e não sei não.

Mas acho que chega desta história, não sou monotemático. Who`s next?

Minha participação no imbroglio

Publicado em 26 de janeiro de 2007

No dia 14 deste mês, fui informado que a Meg do Sub Rosa morrera na noite anterior. A notícia dava conta de que ela estava internada no Hospital Monte Sinai em Nova Iorque desde meados do segundo semestre. Pedia que eu avisasse seus amigos. Achei natural ser o portador da comunicação; afinal, era amigo tanto do informante quanto da Meg. Fiz dois posts a respeito, ambos lamentando o fato – um dia 14 e outro dia 16.

Dias depois, alguns contestaram a notícia e lotaram minha caixa de e-mails com protestos. Ela estaria viva. Fiz a averiguação pessoal possível: comprovei que os comentários feitos pela Meg em meu blog, durante o período de hospitalização, haviam sido escritos (ou ao menos gravados) no Brasil. Os endereços IPs associados a eles eram todos brasileiros, mesmo aqueles dos dias 26 e 30/12. Depois, recebi outras informações, mas só posso garantir as que estão sob meu controle, é óbvio.

Mesmo assim, ainda acreditando no ocorrido, entrei na blogagem coletiva do dia 23 em homenagem à sua memória; porém retirei o post uma hora depois, tal foi a ênfase do questionamento: ao mesmo tempo que recebia comentários emocionados, o telefone não parava de tocar e minha caixa de e-mails se enchia. Eram alertas de amigos pedindo para eu não publicar algo que seria falso.

Naturalmente, escrevi um e-mail a quem tinha me avisado de sua morte. Pedi esclarecimentos, é claro, pois a notícia que veiculei comovera toda a comunidade blogueira – imaginem que houve pessoas que me ligaram chorando -, mas a resposta foram apenas protestos pelas perguntas.

Espero que os boatos sejam verdadeiros e que a Meg esteja viva.

Os motivos que me levam a escrever este post são os seguintes:

1. Fui eu, provavelmente, o primeiro a noticiar a morte da Meg.
2. A notícia está finalmente circulando pela rede a partir deste post.

Comentários:

Milton, meu amigo, junto-me aos que te pedem para retirar referências a este PJM. Àurea, sinto muito informá-la, mas tudo isso é cascata. Droga. Eu já tinha dado esse assunto por encerrado.
Sergio Fonseca Minha participação no … Jan 27 2007

Tá bom, vamos continuar perdendo nosso tempo, então. Milton, eu te envio um e-mail e te digo: Sergio morreu. Pronto. Sou tua amiga e pessoa confiável até debaixo d’água. Aí vc me pergunta coisas básicas e obviamente a minha resposta a vc será extremamente ofendida do tipo “respeite a minha dor”. Tudo bem. Por quem vc estaria me tomando, meu amigo??? Olha, me desculpem, mas tudo o que eu mais quero neste momento é que ver isto acabado, preservando o que for bom sobre Meg e o Sub Rosa, sim. E esquecendo certos tipos que não precisam de tanta divulgação, muito menos amizade. E estou falando demais, sim. Porque estou cheia. De verdade. Beijo, Milton. Se quiser, me liga. Eu não sei mais como tentar te convencer a limpar este lixo, do qual vc não é culpado.
Ane Aguirre Minha participação no … Jan 27 2007

Áurea, vou pensar na tua sugestão. De um lado, há a Meg e os anos de excelente relacionamento que tivemos. Há a saudade dela. De outro, há o fato de eu ter divulgado, a pedido do Paulo, um fato que foi contestado e que, na pobre averiguação que fiz (conforme explico neste post) demonstrou não ser inteiramente correto. Minha mulher e vários amigos estão também pedindo que eu delete todos os posts a respeito deste caso. Mas há uma voz interna rebatendo e perguntando: você divulga e depois corre da repercussão?
Milton Ribeiro Minha participação no … Jan 27 2007

Meu amigo, Eu te escrevi por e-mail. Sei que vc não é ariano feito o Sergio. Mas leoninos também são osso duro de roer (risos). É desagradável todo este assunto. E ele já está acabado. Não concordo com Áurea (desculpe, moça, não é nada pessoal), mas PJM já ganhou seu espaço. E vamos deixar esse papo de certidão e cartório pra lá! Quem precisa disto? Ah! Por favor, saia da pia!!! (risos) Beijo pra vcs.
Ane Aguirre Minha participação no … Jan 27 2007

Paulo, não vou deletar teu comentário como tens feito com tantos. Apesar das ofensas e “sugestões” sobre meu mau caráter – vou dormir na pia hoje de tanta preocupação… -, é um comentário dentro do assunto do post e vem ao meu encontro quando diz que parte da solução para o imbroglio seria a apresentação da certidão de óbito. Façamos o seguinte: deves saber em que cartório está. Diga-me que eu peço uma segunda via. De acordo? Quanto à questão “Onde estava Meg”, parece-me que já há certa admissão de que estava em Belém mesmo. Abraços a todos e bom findi. P.S.- Seja objetivo. Não responda com palavrões como tens feito em meu e-mail. Encaminhe soluções. Ninguém suporta mais esta história. Obrigado.
Milton Ribeiro Minha participação no … Jan 27 2007

Milton, É, para mim uma incoerência da tua parte esse post. Em primeiro lugar por que ele não faz jus à sua inteligência que é, ou deveria ser, capaz de discernir com muito mais lucidez os fatos acerca da partida da Meg.Em segundo lugar deveria bastar a você a informação que o Paulo te deu acerca da verdade. Você conhece a integridade dele e isto deveria ser suficiente para que você não tratasse com tanta leviandade a morte da Meg. Ou você acha que o Paulo, ou qualquer pessoa que não seja insana, colocaria no seu blog um post com o título mais pesaroso que alguém pode escrever: “minha mulher morreu” se não fosse verdade? E, se já não bastasse a decepção desse teu post para todos os que conhecem a verdade dos fatos, ainda você oferece um link que para um outro post que transforma a morte num circo, fazendo chacota de tudo e juízos de valor acerca das pessoas envolvidas. PELO AMOR DE DEUS, CARA, RESPEITE A DOR DO PAULO!!!. Retire esse post. A forma como tudo isto está sendo tratado é uma vergonha pra blogosfera e pra nós brasileiros. A Meg deixou tantas marcas boas em todos nós…não precisava ser tão desonrada depois de sua partida. Recupere a lucidez “querídolo”.
Áurea Cruz Minha participação no … Jan 27 2007

Eu vou deletar os posts… que nojo!
Alena Minha participação no … Jan 27 2007

O que menos me importa na vida é o blog! Se fiz ali minha última homenagem à Meg, foi por ela, que amava seu blog e quis que eu fizesse o meu. Mais do que um blog, o subrosa foi a vida da Meg nos seus últimos anos. E fi-lo para seus amigos e continuo certo de ter feito bem, pois seus amigos me agradeceram. Quanto a ser ou não verdade, que ela morreu, é muito fácil de averiguar, caso estejam interessados, pois há uma coisa que se chama certidão de óbito. Quem tenha dúvidas, em vez de dizer disparates e mostrar a falta de educação que tem, deveria telefonar para sua irmã, confirmando a verdade ou a mentira do fato. Mas o mais lamentável é um amigo não defender sua amiga. Isso é o mais lamentável de tudo. Pensem bem nisto, pois um dia podem estar na situação de precisar desse “amigo”.
Paulo José Miranda Minha participação no … Jan 27 2007

meu amigo, sinto muito mesmo tudo o que vc está passado por essa história. eu também torço para que ela esteja viva, mesmo sem compreeender os motivos que a levaram a criar toda essa história. um grande abraço
nora borges Minha participação no … Jan 27 2007

Lamento ter contribuido com essa história toda, lamento ter acreditado no que li aqui, no Milton, no Francisco Cals, e ter dado essa “triste” notícia, e assustado o Dudi. De resto continuo sem entender o por que? E acho também que o melhor a se fazer é ESQUECER o assunto definitivamente.
Eduardo Minha participação no … Jan 27 2007

O Sérgio tem razão ninguém (nem morto, nem vivo, nem do além) merece ler o blog do tal portuga PJM. Aquilo é a coisa mais chata que já li na minha vida. Lendo aquilo até entendo que a Meg tenha querido desaparecer do mapa, só de ler tanta chatice já me dá enjôo, o cara é um porreeeeeeee ha ha ha.
Ana Lucia Minha participação no … Jan 26 2007

Quer saber?? manda esse povinho mequetrefe e querendo uma promoçãozinha “sifu” e vai curtir tua esposa linda!!! Beijos
Sandra Minha participação no … Jan 26 2007

Querido Milton, sugiro a retirada dos links para o PJM da tua lista. Tanto da lista de links quanto dos posts. A maior parte das visitas do cara está saindo do teu blog. A propósito, a falecida deletou o blog. Um abraço!
Sergio Fonseca Minha participação no … Jan 26 2007

Sei lá, cara. Por algum motivo só consigo pensar em Nâzguls alados. Enfim, Solidarnosc.
hermenauta Minha participação no … Jan 26 2007

Milton, estou pasma com essa história, como abusaram da tua boa fé. Esse mundo virtual é bastante perigoso às vezes. Mas que isso não te desanime a continuar blogando e a fazer amigos de carne e osso.
Leila Minha participação no … Jan 26 2007

Claudia está coberta de razão, Milton. Eu, de minha parte, fiz todos os meus esforços para que o Sergio mantivesse limpo o espaço dele no PDP. Claudia está certa, certíssima. Este assunto pode ser considerado encerrado. E deletado, inclusive. Sem mais. Beijo pra ti. Outro grandão para a Claudia.
Ane Aguirre Minha participação no … Jan 26 2007

Milton, “pelamordedeus” pára de perder tempo com este absurdo. Não responda mais nada sobre este assunto. Elimine-o e a tudo que há sobre isto no teu blog. É de um tamanho mau gosto o fizeram que não há desculpas. Te usaram como veículo de uma falácia despropositada. Perturbaram tantas pessoas queridas. Não tem cabimento! Só de pensar que a Magaly, com 80 anos e recém viúva, ficou tocada e escreveu longamente sobre o tema me enoja. Ela merece e vocês também mais respeito. É vergonhoso!
Claudia Antonini begin_of_the_skype_highlighting end_of_the_skype_highlighting Minha participação no … Jan 26 2007

mais uma prova que idiotice e imbecilidade dos blogueiros e agregados nao tem limite mesmo.
Ana Lucia Minha participação no … Jan 26 2007

Nesse teu post, faltou falar sobre a argumentação do Paulo José Miranda quando você resolveu questioná-lo. Achei-a sensacional. “Faleceu, como tu bem sabes, pois anunciaste no teu blog.”
Sergio Fonseca Minha participação no … Jan 26 2007

Vou meter minha colher… Se isso foi uma brincadeira ou forma de sair da net, foi de um mau gosto sem tamanho!! No dia em que foi divulgada a morte naveguei por outros blogs e o que li foi indignação, tristeza, sentimentos bons misturados com perda. Mais uma coisa: se ela está viva deve saber desse furdíncio todo. Então, por que não se manifesta??? Por que não desmente? Tá! Eu sei. Não a conheço, não a lia mas, depois de sentir a perda do meu pai há tão pouco tempo, só digo uma coisa: notícia de morte de alguém que gostamos dói demais!!! E, notícia falsa na net, só a morte do Biajoni no dia do niver dele e com muito humor. E se não quiser publicar esse comentário, meu anjo, fique à vontade! Beijos
Sandra Minha participação no … Jan 26 2007

Mas isso é uma ÓTIMA notícia! Eu realmente espero que tenha sido tudo uma brincadeira de péssimo gosto, não me incomodo de nem um pouco de ter caído nela – pena que ninguém me avisou nada sobre as dúvidas que seria boato e eu entrei na blogagem coletiva que entendi tinha sido convocada por você, Milton – mas meu post pra Meg não perde a validade, muito pelo contrário. Só posso torcer muito para que seja mesmo tudo uma grande mentira, isso é o que mais interessa. ps.: mas e o Paulo não é casado com ela? e a Tereza?
Denise Arcoverde Minha participação no … Jan 26 2007

Milton, brincadeira têm hora!
Ramiro Conceição Minha participação no … Jan 26 2007

http://www.omelete.com.br/Conteudo.aspx?id=100003394&secao=cine
Nelson Moraes Minha participação no … Jan 26 2007

Uma Morte Virtual

Publicado em 23 de janeiro de 2007

Hoje é o dia 23 e vários blogs devem estar postando sobre a filósofa e professora Maria Elisa Guimarães, a Meg do Sub Rosa, falecida no último dia 14. Devido a compromissos profissionais, chego quase atrasado a esta postagem coletiva e não poderei escrever com a calma que gostaria.

Comecei isto aqui em maio de 2003, época em que o vírus do blog, apesar de inoculado, ainda não estava instalado em mim. Pouco tempo depois, fiquei impressionado com o tamanho e a qualidade de um comentário que recebera de uma certa Meg (Sub Rosa). Era assim que ela assinava. O texto era muito inteligente e gentil, mas não visitei-a imediatamente, preferi remoer antes as idéias da leitora. No dia seguinte, publiquei novo post e o primeiro comentário foi novamente da Meg. Se o primeiro fora grande, o segundo era um épico. Fui então conhecer o Sub Rosa.

E, desde aquele dia, nunca mais deixei de ir. Depois, iniciamos a intensa troca de e-mails e comentários que só acabou em 30 de dezembro. Talvez eu tenha uns 1000 e-mails da Meg comigo. Há de tudo ali, pois ela parecia conhecer e ter opiniões relevantes acerca de tudo. Era difícil falar de um autor que ela não conhecesse, de um blogueiro que não tivesse lido, de um filme que não tivesse visto; também era raro ela não elogiar ou fazer reparos compreensivos a textos meus. E suas explicações não vinham como conversa insípida de scholar, mas em tom scherzando, cheio de referências e de analogias bem humoradas, acompanhadas de declarações em que desculpava-se por ser tão tola e prolixa… Ora, é impossível não sentir falta de alguém assim. Era a consultora que me respondia às questões com mais de uma alternativa; era a amiga que apresentava seus amigos sugerindo “conversem, vocês têm isto e aquilo em comum”; era quem sabia de toda minha família em detalhes e quem tinha a prosa mais característica possível: numa mesma frase podia fazer variações sobre um tema, entremeá-las de piadas, de risadas às piadas (Ho ho ho), tudo isso sem se perder, apenas com muitos erros de digitação, característica sua.

Um exemplo?

E-mail 1:
Milton, querido
Bom dia.
Olha, eu quero sim. Me manda por e-mail? Muito obrigada.
E queria saber se poso colocar em contato você e o meu amigo X por um dia desses para vcs conversarem sobre musica.
um beojo

E-mail 2:
Queridos amigos X e Milton,
Milton e X
Apresento-os um ao outro.
O Milton Ribeiro, escritor e melômano.
Já O X, meu amigo há mais tempo, mebora estejamos tão afastados, desde que me mudei do Rio de Janeiro, como já disse é escritor premiado etc etc.
Estou apresentando-os porque acho que tem amuito em comum.
O Milton é gaúcho e X é mineiro. Mas mora em São Paulo.
X, seu artigo na Agulha eu enviei ao Milton, pra que lesse e desse sua opinião, ao que el não se furtou.
Eu como sabem estou doente não me perguntem, por caridade, o que tenho.
Beijos, apresentações feitas que espero, possam redundar em amizade.

Era assim.

Querido Milton.
Sabes? – ou não sabes – cheguei a uma altura da vida em que posso (ou não posso?) – me permitir expressar sempre o amor, o gostar, o querer, a admiração pelos meus talentosos e predestinados etc… Quero, necessito e desejo ser livre para tanto.
Para quem como eu, já chegou algumas vezes, muito, mas muito próximo das fronteiras com o Nada, todo o tempo é tempo e não pode ser desperdiçado, pois bem sei que não teria como Proust a chance do Tempo Recuperado, ou Reencontrado, – enfim Le Temps Retrouvé -(ô coisa difícil e sublime é a tradução, não achas?)
Pois bem, eu estou viajando desde 30 de agosto.
Quem está organizando o blog com republicações é minha cunhada e alguns amigos, inclusive a magaly.
Mas como não gosto de culyivar a imagem de donete, não disse nada.
Mas, mesmo sendo cético e ateu ou agnóstico, como eu, pede e ora por mim, pois farei uma operação de alto risco.
Mais não quero dizer, quero guardar esse momento só para mim e ver como me saio dele.
Consegui afsatar todos os que mo, inclusive namorado, irmã, e todo o ressto da família, pois a mim incomoda que estejam me perguntando como estou o que é semlhante à pergunta: vais viver? vais morrer?
Só quero ganhar ou reapossar-me de alguma saúde: preciso estar bem para ver os filhotes, vocês, tu e mais alguns crescerem ainda mais e ganharem a cavalgada das asas que já possuem.
Beijos ao “teu grande elenco” de casa,
M.

O Questionário de Proust (XIII) – Responde Sílvia Chueire

Publicado em 28 de fevereiro de 2007

Não era para eu ser amigo da Silvia, não devia gostar dela e muito menos lê-la. Ela é uma poeta e eu sou o anti-poético por excelência. Leio pouca poesia, nunca me ocorreu pensar algo que pudesse tornar-se poema e me pergunto: que estado de espírito poderia me fazer parir aquelas linhaszinhas? Mas sou um leitor dedicado e descobri a Silvia junto com os portugueses que editam seus livros. Gosto das linhaszinhas dela. Muito.

Ela é médica psiquiatra – não cobra nada para me tratar pelo telefone e, na maioria das vezes,  ainda paga a ligação do Rio -, é dona deste blog, escreveu Por favor, um blues, livro de poemas lançado em Portugal, já tem outro a caminho (também em Portugal) e é alguém que derruba o estigma das loiras serem burras. Ou será que as libanesas são loiras diferentes? Sim, deve ser isso. A propósito, quando você for a seu blog e cruzar com algo que tenha como título “Árabes”, leia!

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

A hipocrisia.

Como gostaria de morrer?

Rapidamente.

Qual é seu estado mental mais comum?

Consciente.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Há vários, o Mersault do Estrangeiro de Camus, a Ana Terra do Tempo e o Vento do Érico Veríssimo são dois deles.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Não me lembro de uma.

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Não vale a pena mencionar.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

Não está mais viva.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Voltava mar.

Em quais ocasiões costuma mentir?

Para evitar chatos.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

A paixão correspondida.

Qual é seu maior medo?

Alzheimer.

Qual é seu maior ressentimento?

A maldade, a falsidade, o mau-caratismo.

Que talento desejaria ter?

Gostaria de poder pintar.

Qual é seu passatempo favorito?

São muitos : navegar na net, ler, cinema, ouvir música, dançar, etc.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Não mudaria, estão bem assim.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

O abuso de crianças.

Onde desejaria viver?

No Rio de Janeiro e em Lisboa. Talvez Paris (temporariamente) e uma ilha em Angra dos Reis.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

A beleza.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

São duas, inteligência e o bom caráter.

Quando e onde você foi mais feliz?

No dia em que tive cada um dos meus filhos, no Rio. E depois: entre 1999 e 2001, por aí.

O Questionário de Proust (XII) – Responde Manoel Carlos

Publicado em 27 de fevereiro de 2007

Uma das melhores lembranças que trouxe de minha última viagem ao Rio foi Manoel Carlos. Gostei muito de conhecê-lo. É um pernambucano tranqüilo e gentil, de posições firmes – muito próximas às minhas -, e que aceita a cordial discordância. Mas se você quiser ver um Manoel amoroso é só falar o nome Flora… Espero que seus outros três filhos não se irritem com minha inconfidência (ou suposição de preferência, talvez; o que sei eu, afinal?).

Pedi-lhe uma minibio e ele escreveu esta:

“Nascido em Pesqueira, Agreste de Pernambuco, em 1951. Analista de Sistemas e Consultor. Viveu em Pernambuco, África e Rio de Janeiro, onde reside. Foi Coordenador do DCE da UFRJ, Secretário Geral do Instituto Cultural Brasil África, membro da Coordenação Executiva Nacional do Comitê Anti-Apartheid do Brasil e membro do Conselho Editorial do Jornal Inverta. Recebeu Moção de Honra da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Ocupou diversos cargos na administração pública. Casado, tem quatro filhos.”

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

Geralmente condenamos nos outros nossos próprios defeitos.

Como gostaria de morrer?

Gostaria de não morrer.

Qual é seu estado mental mais comum?

Sendo uma pessoa comum, não tenho alterações significativas de humor ou estado mental.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

É mutável, depende das circunstâncias, o que durou mais tempo como preferido não era de ficção, entre infância e adolescência, foi Spartacus.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Eita! Fiquei ruborizado só de me lembrar.

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

É circunstancial, conjuntural, hoje seria fácil dizer que é Bush.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

Conheci pessoas tão maravilhosas, como Prestes, Gregório Bezerra, Vasco Cabral… o padrão exigido passou a ser alto demais, admiro aspectos de pessoas, algumas como escritores, outras como músicos, mas não tenho ídolos vivos.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Depois da experiência, como eu mesmo, pois poderia ser eu e ser muito melhor, mais útil, mais produtivo, mais tolerante…

Em quais ocasiões costuma mentir?

Às vezes, omito (para não machucar os outros), às vezes aumento um pouco (quando me entusiasmo numa narrativa), mas não minto.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

Não tenho uma idéia de felicidade perfeita, pois a felicidade está sempre associada a um processo de construção, aprendizado e aperfeiçoamento.

Qual é seu maior medo?

É de me deixar dominar pelo medo, pois só me considero corajoso pela capacidade de superar meus medos.

Qual é seu maior ressentimento?

Procuro me esquecer das coisas que possam provocar ressentimento.

Que talento desejaria ter?

Musical.

Qual é seu passatempo favorito?

Já gostei muito de praticar esportes, atualmente gosto de ouvir música, ler, usar computador e ver jogos pela TV.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Não sei, talvez precisasse mudar algumas coisas em mim, antes de tentar mudar coisas em minha família, mas com certeza o que manteria é o afeto que nos une.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

Há tantas, talvez as que determinem degradação moral.

Onde desejaria viver?

Como diz Paulinho da Viola, voltar quase sempre é partir para um outro lugar. O Recife é a cidade de que mais gostei, mas não sei se o Recife que amo é real ou se o criei, fertilizado pela saudade.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

Não sei.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

Muitas. Generosidade, humildade, simplicidade.

Quando e onde você foi mais feliz?

Em geral sou mais feliz no presente, pois a felicidade passada, por saudosa que seja, serve para me ajudar a ser feliz no presente. Em Pesqueira, no Recife, na África e no Rio tive momentos de felicidade que carregarei para sempre comigo.

Caro Milton, respondi de supetão, pois não vale a pena pensar muito, se o fizermos, poderemos perder a naturalidade.

O preconceito contra os ateus

O Ministério Público Federal entrou com ação civil pública para que o programa “Brasil Urgente”, da Rede Bandeirantes de Televisão, se retrate de declarações contra ateus, consideradas preconceituosas, feitas por José Luiz Datena, no dia 27 de julho. Para o procurador regional dos Direitos do Cidadão e autor da ação, Jeferson Aparecido Dias, a emissora descumpriu as finalidades educativas a que a TV aberta se propõe veiculando declarações preconceituosas.

Enquanto a rede de televisão exibia imagens de uma matéria sobre um garoto fuzilado, Datena conversava com um repórter sobre a ‘falta de Deus’ dos criminosos. “Então, Márcio Campos [repórter], é inadmissível, você também é muito católico, não é possível, isso é ausência de Deus porque nada justifica uma crime como esse, não Márcio?”, dizia o apresentador no programa veiculado aos finais de tarde.

Segundo o MPF, em todo o tempo em que a matéria ficou no ar, o apresentador associava aos ateus a ideia de que só quem não acreditava em Deus poderia ser capaz de cometer tais crimes.

“Porque o sujeito que é ateu, na minha modesta opinião, não tem limites, é por isso que a gente vê esses crimes aí”, afirmava o apresentador.

Para o procurador, ao veicular as declarações preconceituosas contra pessoas que não compartilham o mesmo modo de pensar do apresentador, a emissora descumpriu a finalidade educativa e informativa, com respeito aos valores éticos e sociais da pessoa, prestou um desserviço para a comunicação social, uma vez que encoraja a atuação de grupos radicais de perseguição de minorias, podendo, inclusive, aumentar a intolerância e a violência contra os ateus.

“O apresentador e o repórter ironizaram, inferiorizaram, imputaram crimes, ‘responsabilizaram’ os ateus por todas as ‘desgraças do mundo’”, defende o procurador. Procurada pela reportagem da Rede Brasil Atual, a Band informou que ainda não foi notificada pela Justiça. Órgão quer direito de resposta em programa “Brasil Urgente”, do apresentador José Luiz Datena.

Fonte: Virginia Toledo e Letícia Cruz, da Rede Brasil Atual

Encontro (1944) — Gravura de Maurits Cornelis Escher (1898-1972)

Revendo Laranja Mecânica

Neste final de semana, minha filha pediu para conhecer o filme Laranja Mecânica (A Clockwork Orange, 1971), de Stanley Kubrick. Esta é uma das delícias da paternidade — pode rever coisas acompanhado daquele olhar juvenil que perdemos. Ela adorou o filme. A curiosidade é que neste tempo de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e de tentar mudar as políticas de enfrentamento ao tráfico e ao crime, o filme está mais atual do que nunca, apesar do seu visual estranho e dos escritores do futuro usarem máquinas de escrever…

Não vou descrever o filme, pois acho que todos os que passam por aqui sabem de tudo: da violência estilizada, da prisão, do tratamento Ludovico e da primeira e segunda curas.

A Claudia fez uma rápida pesquisa sobre as circunstâncias em que foi filmada aquela maravilha e demos boas risadas com sua leitura. As filmagens foram o que esperávamos. Copio abaixo, de forma algo editada, algumas observações deliciosas da Wikipedia:

Stanley Kubrick e o objeto de arte futurista que será fatal para a mulher dos gatos

  • Durante a cena em que Alex (Malcolm McDowell) é submetido ao tratamento Ludovico, o ator arranhou a córnea e ficou temporariamente cego. Revendo as cenas não é de surpreender. O cara recebe garras de metal para manter os olhos abertos.
  • O médico que acompanha Alex durante o tratamento no filme era realmente médico e estava lá por motivos de segurança para o protagonista.
  • Malcolm também teve costelas quebradas durante a filmagem da cena de humilhação após o tratamento.
  • Malcolm quase se afogou de verdade devido a uma falha no equipamento que o ajudaria a respirar, na cena em que os seus ex-“droogies” — naquele momento já no cargo de policiais — o encontram e o submetem a uma tortura em uma banheira.
  • Stanley Kubrick propositalmente cometeu alguns erros de continuidade em Laranja Mecânica. Os pratos em cima das mesa trocam de posição e  o nível de vinho nas garrafas muda em diversas tomadas, com a intenção de causar desorientação ao espectador.
  • O filme foi retirado de cartaz no Reino Unido a mando de Stanley Kubrick. Irritado com as críticas recebidas, de que Laranja Mecânica seria muito violento, Kubrick declarou que o filme apenas seria exibido lá após sua morte, ocorrida em 1999.
  • A linguagem utilizada por Alex, chamada de nadsat, foi inventada pelo autor Anthony Burgess, que misturou palavras em inglês, em russo e gírias.
  • A cobra foi colocada nas filmagens após o diretor Stanley Kubrick descobrir que Malcolm McDowell tinha medo delas.
  • A música de Beethoven que perpassa todo o filme foi executada no revolucionário “sintetizador” de Walter Carlos. Depois, famoso, o moço mudou de sexo, rebatizando-se como Wendy Carlos.
  • No livro, o sobrenome de Alex não é revelado em momento algum. Comenta-se que DeLarge seja uma referência a um momento no livro em que Alex chama a si mesmo de “Alexander the Large”.
  • O orçamento total do filme foi de apenas US$ 2 milhões.
  • Stanley Kubrick certa vez declarou que, se não pudesse contar com Malcolm McDowell, provavelmente não teria feito Laranja Mecânica.
  • A canção Singing in the Rain, cantada por Alex durante a cena em que ele e seus colegas violentam uma mulher na frente de seu marido, só está no filme porque esta era a única música que Malcolm McDowell sabia cantar por inteiro.
  • O filme foi proibido no Brasil na época do lançamento, mas liberado depois de alguns anos com a condição de que a genitália da mulher na cena de estupro fosse encoberta por meio de manchas pretas sobrepostas à cena. Quem assistiu ao filme naquela época pôde perceber que tais “manchas pretas” nem sempre acompanhavam a vagina com os pêlos pubianos. Isso sem contar que a censura era de 18 anos. Tais acontecimentos no Brasil serviram para a que a oposição ao governo militar ridicularizasse a censura.
  • Durante a Copa do Mundo de 1974, disputada na Alemanha Ocidental, graças ao seu futebol envolvente, revolucionário e taticamente perfeito, a Seleção Holandesa de Futebol foi batizada pelos jornalistas europeus de Laranja Mecânica. A “Laranja” faz referência também ao vistoso equipamento utilizado por essa lendária seleção de futebol, comandada por Johan Cruijff e Rinus Michels.
  • Na cena em que Alex está em uma loja de discos, pode-se notar que um dos discos que está na prateleira da loja, na fileira central, é o da trilha sonora do filme 2001: Uma Odisséia no Espaço, além do Magical Mystery Tour dos Beatles e Atom Heart Mother do Pink Floyd.
  • A banda Sepultura lançou, no início de 2009, o álbum A-lex, inspirado inteiramente no livro. Inclusive todos os títulos das músicas têm relação com a obra de Anthony Burgess.

A Semana Mais Importante da História

Publicado em 11 de dezembro de 2006 (Casualmente, a semana que vem será análoga a esta…)

Esta é a semana em que o Internacional de Porto Alegre poderá sagrar-se Campeão Mundial Interclubes. Atualmente, este título existe e é oficial, sendo reconhecido pela FIFA e disputado por seis times. Antes, o campeão mundial saía de um jogo entre o campeão da América do Sul (o vencedor da Libertadores da América) e o da Europa (o ganhador da Champions League); agora, foram acrescentados os campeões da América do Norte, da África, da Ásia e da Oceania. Apesar do fato da Fifa ter oficializado todos os títulos anteriores, é indiscutível a maior autenticidade do campeonato atual, que só deixa de fora a América Central, uma tão representativa quanto a fraca Oceania.

O centro do país não dá a menor importância a nossa cidade, mas, aqui em Porto Alegre, estamos no centro da maior expectativa latino-americana para o Mundial. Nossa população está sofrendo de monotematismo e qualquer reunião de pauta frouxa resvala para o Mundial. O estranho é que a expectativa é até maior do lado gremista. O nervosismo dos bananas é justificável para quem pensa que o futebol é uma contagem de títulos. Acho bom saber que ganhamos o Campeonato Brasileiro de 1979 e que este foi nosso terceiro título nacional. É natural dizer que somos tri-campeões brasileiros, todavia é inteligente pensar que estamos estáticos nesta situação há 27 anos… Ou seja, nosso título faz parte da História, assim como o do Grêmio. Os títulos duram um ano e depois têm de ser revalidados. Desta forma, quando um gremista diz ser campeão do mundo eu respondo que o Grêmio foi o autêntico campeão de 1983, tendo deixado de ser em 1984, quando o Independiente (Argentina) venceu o Liverpool. Porém, é claro, sei que a Copa Toyota de 1983 – ex-mundial de clubes, reconhecido tardiamente pela FIFA – é o único argumento de uma superioridade que hoje mora apenas na estatística.

Lembro do jogo de 1983. O Grêmio – reforçado por jogadores como Paulo César Caju e Mário Sérgio, que jogariam apenas aquela partida – iniciou melhor e fez 1 a 0. A partir dali o Hamburgo dominou inteiramente o jogo, pressionando o tricolor e perdendo gols. Eu estava assistindo a partida entre amigos gremistas e comecei a me desesperar e gritar contra a inexatidão dos atacantes alemães, que só foram empatar a partida numa bola alta em que a defesa do Grêmio, pela centésima vez, não conseguiu rebater e que sobrou limpinha para uma sumidade qualquer fazer o favor de marcar o gol. Depois, na prorrogação, o Grêmio seguiu levando um baile, mas o craque Renato Portaluppi fez um belo gol e o Hamburgo acabou derrotado. Quando digo para meu filho que o Hamburgo deu um chocolate no Grêmio e que a vitória foi casual, ele – apesar de colorado – me olha estranho. A imprensa gaúcha, com o tempo, tornou aquela partida uma grande atuação. Tenho certeza que os são-paulinos também esquecerão logo – isto se já não o fizeram! – que levaram o mesmo banho de bola do Liverpool no ano passado e que foram auxiliados por uma peculiar arbitragem.

Concordo com Rubens Minelli: futebol é o momento atual, o que aconteceu antes é História. Acho que quem gosta mesmo de futebol prefere analisar os jogadores e a tática. O resto é estatística. Desta forma, a única relação que vejo entre os jogos desta semana e o Grêmio é a história e a geografia portoalegrense. É o suficiente para quem gosta de se comparar, é claro. Talvez eu seja um dos poucos gaúchos que se desligam do futebol quando o Grêmio vai bem. É uma negação explicada por Freud, porém, nos últimos anos, ando sempre ligado…

Haja o que houver, jogaremos duas partidas no Japão. A primeira será quarta-feira, em Tóquio, às 8h20 da manhã, contra o Al Ahly, que venceu o Auckland City por 2 a 0 ontem. O Al Ahly é um time que não deverá assustar: joga com três zagueiros, ataca sempre pelo meio e tem alguns bons jogadores, como o angolano Flávio e o egípcio Aboutrika, que disputariam posições em times brasileiros; no mais é um time previsível que insiste de forma quase comovente em fazer corta-luzes espetaculares. A segunda partida dependerá desta: se ganharmos, vamos para a final, domingo, às 8h20, em Yokohama; se perdermos, vamos para uma melancólica partida de despedida, no mesmo estádio, três horas antes. Não acho escandaloso perder o Mundial, mas ficaria muito decepcionado se não chegássemos a disputar a final. Sei que uma de nossas principais características é a desmedida vocação para tragédias em jogos decisivos e que, ultimamente, elas estão afastadas de nós. Mas ser colorado é ser cuidadoso. Não faz parte da nossa índole a arrogância gremista do “já-ganhou-pois-somos-os–maiores”. Todo colorado teme o fiasco. Já ouvi vários dizendo que só fazem questão de ganhar do Al Ahly e que o resto estará nas mãos de Deus. Acho muito perigoso deixar tudo em Tais mãos – até porque Ele parece gostar bastante de Ronaldinho – e dou risadas porque o medo comum do fiasco faz minha alegria de observador. (No jogo de despedida, antes da viagem para o Japão, no Beira-rio, com uma torcida alegre e festiva, jogamos contra um desinteressado Goiás e tomamos 4 x 1… Isto é a nossa cara perfeita!)

Mas desta vez será tudo diferente e entraremos em campo no próximo domingo, às 8h20 da manhã, certamente…

Nosso time é muito bom, conta com esteios importantes como Fabiano Eller, Índio, os dois volantes Edinho e Wellington Monteiro e, principalmente, Fernandão, o jogador que deu a maior contribuição para mudar o Inter nos últimos anos. Chegou em 2004, e hoje aos 28 anos, no auge da carreira, já jogou 136 partidas pelo clube, marcando 58 gols e dando passes para o dobro. Como se não bastasse, fez um gol na final de Libertadores, deu o passe para o outro e é nossa maior esperança. Alex é um ponto importante de equilíbrio, mas grande parte de nossa atenção irá para a atuação do “prodígio” Alexandre Pato, de apenas 17 anos e 59 minutos de titularidade. É convicção no Beira-rio que Pato será um super-craque. Eu concordo e espero ele seja muito jovem para saber que deveria ficar nervoso no Mundial. Há os pontos fracos, como o imprevisível goleiro Clemer – capaz de dias de fechar o gol e dias de inacreditáveis frangos – e o discreto lateral Hidalgo, um peruano que bate bem na bola, mas que é mau apoiador e mau marcador.

Bem, aguardemos a manhã de quarta-feira. Penso que o Inter só perderá se fizer a tradicional patacoada. Se jogar direitinho, chega à final.

P.S.- Às vezes, encontramos boas notícias no obituário. Pinochet morreu e Michelle Bachelet já avisou que não vai ao enterro! Uhu!

O Questionário de Proust (XI) – Responde Marcelo Backes

Publicado em 23 de fevereiro de 2007

Conheço Marcelo Backes há muitos anos. Gaúcho de Paca Norte, noroeste do estado, é o cara que mais sabe sobre literatura dentre todas as pessoas que conheço. Além de incontáveis traduções – incluindo Goethe, Kafka, Marx, Heine, Nietzsche, Schnitzler e outros de língua alemã – é autor de três livros: Estilhaços (Record, 2006), A Arte do Combate (Boitempo, 2003) e Lazarus über sich selbst: Heinrich Heine als Essayist in Versen (Peter Lang Verlag, 2005). Também selecionou e traduziu os contos do esplêndido Escombros & caprichos: O melhor do conto alemão no século 20 (L&PM, 2004). Tudo isso, é claro, está longe de ser desprezível, mas a mim o que interessa é o grande amigo de frases surpreendentes e lapidares que, como eu, sofre com as agruras do Internacional de Porto Alegre. O que mais sinto em relação ao Marcelo são saudades; porra, como este cara viaja! Atualmente mora no Rio com sua Nina, mas hoje, neste momento, está na Alemanha. Não disse?

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

Prometer tudo e não fazer nada; eu não prometo nada – e não estou falando de trabalho – e tento fazer alguma coisa.

Como gostaria de morrer?

Gaúcho e missioneiro que sou, na guerra mundana ou em batalha amorosa.

Qual é seu estado mental mais comum?

Letargia, combatida e vencida todo dia. É pena, mas tem de ser assim.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

O príncipe Míchkin, de “O idiota”, de Dostoiévski.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Entre as confessáveis, volubilidades como passat alemão, armani, osklen e que tais…

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Ignoro muitas, tento me ocupar de poucas delas a ponto de chegar a desprezá-las.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

Admiro muito o Zezinho Queiroga, por exemplo, e Juli Zeh, uma autora alemã de trinta e bem poucos anos.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Na condição de touro, mas no pampa bravio e selvagem de vários séculos atrás.

Em quais ocasiões costuma mentir?

Sempre que a verdade especulativamente doeria mais; mas apenas se a coisa for de foro privado, pois em questão pública não se mente.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

Viver muito bem de direitos autorais sem me prostituir intelectualmente. Ave, paraíso!

Qual é seu maior medo?

Ter o filho que um dia quero ter.

Qual é seu maior ressentimento?

Não ser um grande jogador de sinuca.

Que talento desejaria ter?

Talvez cantar, que seria onde eu ganharia mais, uma vez que partiria do zero absoluto, na condição de pior cantor do mundo. Diria ser um grande jogador de futebol, mas sou capaz de fazer 200 embaixadinhas.

Qual é seu passatempo favorito?

Olhar o mundo em todas as suas protuberâncias.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Não mudaria nada, mudar o outro segundo nosso manual é piorá-lo, e ademais eu gosto de meus familiares como eles são.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

A fome; outro dia vi um casal na parada de ônibus, e o marido disse a mulher: “Não vamo pegá esse que a passagem tá dois”. A do outro, que ele pegaria vários minutos mais tarde, era um e noventa.

Onde desejaria viver?

Berlim.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

O sucesso, que em muitos casos é inversamente proporcional à capacidade. O que eu mais admiro são esses talentos grandiosos, que sucumbem pelo fato de serem humanos, demasiado humanos: Mike Tyson, Maradona, Jan Ullrich, um ciclista alemão, por exemplos; o Zidane, outro dia: defendo e defendi a cabeçada dele.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

A bondade.

Quando e onde você foi mais feliz?

Na cama, em diversos lugares diferentes deste vasto mundo.

O Questionário de Proust (X) – Responde Leila Couceiro

Publicado em 22 de fevereiro de 2007

Só fui conhecer a Leila quando ela entrou na Verbeat. O Tiago me disse: é inteligente, politizada, muito mulher e ainda é bonita; enfim, é o máximo. Então tá. O Tiago tinha razão. Depois, ela se tornou meu objeto de visitação obrigatória porque também escrevia muito bem, além de ser divertida, solidária, iconoclasta na medida certa e de irremovível modéstia. É um dos melhores seres humanos que me foram apresentados na rede. Pedi-lhe uma mini-bio e ela, em minutos, mandou-me o que segue:

Eu trabalhei como repórter de jornal e revista nos anos 90, e depois de me mudar para os EUA (Sacramento) em 2000, me acomodei num emprego mais tranqüilo e estável de funcionária de universidade. Assim é mais fácil dar atenção ao meu filho, que nasceu em 2003. Então eu abri o blog para matar a saudade dos tempos de escrever matérias. Nos meus posts eu sempre gosto de dar um gancho jornalístico atual, mesmo que sejam sobre temas abobrinhas.

Qual é o defeito que você mais deplora nas outras pessoas?

Egoísmo ou individualismo em excesso.

Como gostaria de morrer?

Feliz, velha e, de preferência, sem dor.

Qual é seu estado mental mais comum?

Contemplativo.

Qual é o seu personagem de ficção preferido?

Jesus Cristo.

Qual é ou foi sua maior extravagância?

Ter usado minhas economias para viajar para Nova York com uma amiga, numa época em que estava desempregada. Valeu a pena cada centavo.

Qual é a pessoa viva que mais despreza?

Fica um empate entre George Bush, Dick Cheney e o time de âncoras da Fox News.

Qual é a pessoa viva que mais admira?

No momento acho que Al Gore está dando uma contribuição fundamental à humanidade ao alertar a opinião pública sobre o aquecimento global, de forma simples e com sólidas evidências científicas. Os políticos só farão alguma coisa sobre isso se houver pressão popular.

Se depois de morto tivesse de voltar, em que pessoa ou coisa retornaria?

Angelina Jolie.

Em quais ocasiões costuma mentir?

Em poucas ocasiões, apenas para poupar os sentimentos das pessoas que eu gosto.

Qual é sua idéia de felicidade perfeita?

Estar tudo bem ao mesmo tempo na vida amorosa, saúde, família e vida profissional. Mas se não tiver tudo isso, serve uma temporada numa ilha paradisíaca.

Qual é seu maior medo?

Alguma coisa ruim acontecer com as pessoas que eu amo.

Qual é seu maior ressentimento?

Não gosto de perder tempo remoendo ressentimentos. Eu tenho memória seletiva.

Que talento desejaria ter?

Ter fôlego e resistência de maratonista. Mas não usaria isso para correr maratonas, é chato.

Qual é seu passatempo favorito?

Viajar.

Se pudesse, o que mudaria em sua família?

Faria minha irmã parar de fumar, e adotaria uma menina.

Qual é a manifestação mais abjeta de miséria?

Crianças abandonadas.

Onde desejaria viver?

Num Rio de Janeiro sem violência e com melhor distribuição de renda.

Qual a virtude mais exagerada socialmente?

Juventude.

Qual é qualidade que mais admira num ser humano?

A capacidade de sobreviver e superar as piores adversidades e ainda conseguir contribuir de forma positiva para a comunidade.

Quando e onde você foi mais feliz?

Foram muitos momentos, fica difícil escolher o melhor… Ser criança pegando onda na praia, ou o meu pai lendo histórias num livro pra mim, ou ajudando minha mãe a fazer um bolo. Sair da universidade direto para um ótimo emprego e vivendo um grande amor. A fase de recém-casada. A gravidez. Ver meu filho aprender coisas novas.