Se Bach soubesse…

Se Bach soubesse que o órgão — instrumento do qual gosto com restrições — ficaria tão fora de moda, talvez não tivesse dado tanta atenção a ele. A sonoridade do órgão parece ser a ideal para acompanhar vozes e coros e suas possibilidades harmônicas torna-o capaz de substituir uma orquestra. Como, apesar de grande, ocupa menos espaço do que uma orquestra e também por não ser nada portátil, é o instrumento sacro por excelência. Porém nossa época o vê como um instrumento chato nas duas acepções da palavra.

Um amigo músico me disse que algumas obras para o instrumento parecem um longo orgasmo, analogia que não podemos avaliar se refere-se a algo bom ou não, infelizmente. OK, ele não disse orgasmo, disse clímax. Mas voltemos a nosso assunto. Então, as incríveis — verdadeiramente estupendas — possibilidade timbrísticas do instrumento ficam prejudicadas por aquelas peças de som contúnuo, flat, sem grandes variações de volume sonoro, chatas nos dois sentidos. Pude observar que isto incomoda, e muito, os ouvintes atuais que, desculpem, são quase todos ateus como este que vos escreve e não veem naquilo uma representação do poder divino.

Eu também me incomodo um pouco, mas com meu amor à catalogação e a conhecer tudo, estou ouvindo um por um os CDs da caixa Bach 2000. São 153 CDs coma obra completa do mestre e, se a maioria está no gênero Cantatas e Paixões, sua música para órgão está em segundo lugar. Os volumes 7 e 8 (23 CDs) é feito só de música para órgão. É um discreto porre, cheio de experimentações e novidades. O Bach mais ousado é o do órgão, sem dúvida. Todos os gêneros que ele explorou em outras áreas está ali realizado ou em projeto.

Hoje, é uma música quase secreta e ontem, enquanto corria calmamente meus 7 quilômetros ao anoitecer, sentia quão boa aquela música era para competir com o barulho dos carros da rua. E que qualidade tinha!

Bach não tinha a nossa noção de obra e, portanto, não era nada preocupado em preservar o produto de sua aparentemente ignorada — dele e de seus contemporâneos — genialidade. Se escrevesse para o futuro como Beethoven e os que vieram logo depois, talvez não tivesse ficado tanto tempo sentado na frente do órgão das diversas igrejas onde foi kantor (Diretor Musical).

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Em protesto, Nelson Freire cancela concertos com a Orquestra Sinfônica Brasileira

Nelson Freire anunciou o cancelamento das apresentações que faria com a OSB — Orquestra Sinfônica Brasileira — , a qual passa por enorme imbroglio entre seus dirigentes e músicos. Freire, que se apresentou com a OSB pela primeira vez há 55 anos, desmarcou os dois concertos agendados para esta temporada — as apresentações seriam em agosto. A notícia repercutiu internacionalmente em sites especializados em música erudita, provando que a OSB tornou-se finalmente uma orquestra de importância mundial, como deseja seu regente titular e diretor artístico Roberto Minczuk.

O cancelamento deixa clara a contrariedade do pianista para com as atitudes da Fundação OSB e de seu regente titular e diretor artístico, Roberto Minczuk. Sempre discreto e elegante, Freire, um homem que é um monstro ao piano, que estuda e trabalha mais de seis horas por dia no instrumento e que poderia ter testado e cheirado até do avesso, manda um recado inequívoco: “Sou solidário aos músicos demitidos”.

Caras como o polêmico crítico inglês Norman Lebrecht comentaram o rumoroso caso que talvez possa ser resumido assim:

O regente titular e diretor artístico Roberto Minczuk — neste acúmulo de cargos mora um grande perigo, é o mesmo que dar poderes ilimitados a uma potencial estrela — resolveu realizar, assim de surpresa, provas de avaliação de desempenho. A convocação aconteceu logo após o início da férias da orquestra e a ordem era que deviam prestar uma prova de avaliação do seu potencial artístico. É estranho, pois não há notícia de caso semelhante, nenhuma orquestra do mundo exige tal prova, pois a avaliação é diária. Mesmo as avaliações feitas na OSESP nos anos 90 foram realizadas de forma civilizada, de comum acordo e sem a espada da demissão sobre a cabeça de ninguém — quem era ruim ia para o time B tocar nos festins estaduais, quem era bom ficava no time e as vagas que sobrassem eram preenchidas por novos concursos. Era justo. Na OSESP, John Neschling sabia que tinha um grupo fraco e que precisava reforçá-lo. De forma clara, justa e conversada, montou a maior orquestra do país.

Como disse, as avaliações nas orquestras e mesmo nas empresas costumam ocorrer no dia a dia e não em provas de proficiência. Trabalhei numa multinacional onde havia um ranking de funcionários. Achava confortável, nada agressivo e lutava para ter resultados. As regras era claras e factíveis. A empresa estabelecia metas e a gente ia atrás delas com chances de recuperação e aconselhamento durante o processo. Neschling, na OSESP, sabia muito bem quem ia passar e quem não ia. E criou funções para seu time B. Havia necessidade? Mas é claro! Há concertos e concertos e há a necessidade das orquestras criarem conservatórios ou escolas, não?

Porém, na OSB houve até um Programa de Demissão Voluntária (PDV). Além das indenizações garantidas pela legislação trabalhista à demissão sem justa causa (aviso prévio, multa de 40% do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS e saque do FGTS), o plano oferecia continuidade dos salários e do plano de saúde até o próximo mês de junho. Criou-se assim um impasse que o autor destas linhas vê como MUITO COMPLEXO, pois se havia desacordo sobre os critérios, tempo de preparação e a exigência inédita da prova, havia também o regente e diretor artístico.

Roberto Minczuk, Roberto Minczuk… é apenas um Roberto Minczuk, nada mais, e desta forma deveria se comportar com um deles. Os músicos fizeram o maior barulho, alegando que não precisariam ser reavaliados, uma vez que já haviam passado por um rigoroso concurso para entrar na orquestra, no que têm razão parcial, em minha humilde opinião.  Também diziam que não haveria tempo suficiente para se prepararem e reclamavam que deveriam ter sido convocados para colaborar na criação do sistema de avaliação, no que tem toda a razão. E protestavam que eram avaliados diariamente, no que têm carradas de razão. Ou será que Minczuk desconhece o grupo com o qual trabalha?

Além disso, Roberto Minczuk não seria avaliado… Por que não? Vi-o reger duas vezes e suas concepções eram bastante discutíveis.

A atual contabilidade mostra a dureza dos dirigentes da orquestra. Dos 82 músicos, exatos 41 não compareceram às duas chamadas para a avaliação. Destes, 31  já receberam o comunicado de demissão. Dos outros dez, sete estavam com atestado médico e foram convocados para uma nova audição, marcada para amanhã (06/04). E três também foram chamados novamente para a avaliação, por não terem recebido a convocação anterior.

Os demitidos já entraram na Justiça do Trabalho. Enquanto isso, ensandecidos, a OSB decidiu cumprir o calendário de concertos deste primeiro semestre de 2011 com a OSB Jovem, orquestra formada por bolsistas. É a loucura completa. Parece uma caça às bruxas.

Estranhamente, a OSB informou que não há relação entre a crise com os músicos que rejeitaram a avaliação e a série de audições para seleção de novos músicos que a direção da orquestra promoverá, durante o mês de maio, em Londres, Nova York e no Rio de Janeiro. O objetivo, segundo a fundação, é apenas a de preencher 13 vagas que estão abertas no corpo orquestral da OSB: seis para violino, três para viola e uma para violoncelo, clarineta, trombone e piano. Bem, então também não haverá segundo semestre, correto? Pois saem 41 e entram apenas 13! Muito estranho.

Minczuk segue defendendo que as avaliações serviriam para elevar a orquestra a um padrão internacional. Conseguiu. O assunto está presente em todas as revistas e colunas mais ou menos especializadas do mundo. Não sei se Minczuk está feliz com o gênero de notoriedade alcançada. Mas acho que ele deveria escolher entre permanecer como diretor artístico — cargo que ele deve desprezar mas que lhe dá poder — ou regente. Isso, é claro, após o aval de uma banca de padrão internacional, como ele gosta.

Afinal, quando um Nelson Freire — calmíssimo, jeitosíssimo, ultramineiro — chuta o pau da barraca, é porque a coisa foi longe demais.

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Adagietto da Quinta Sinfonia de Mahler

Mais do que um simples adágio, o Adagietto está incrustrado na complicada e notável 5ª. Claudio Abbado vai bem mais rápido que o habitual. 8min52 contra os 10min35 de Haitink — que obedece rigorosamente o Sehr langsam do compositor — , mas bem mais lento que o ejaculatio praecox de Karajan, com seus parcos 7min54. A orquestra é a do Festival de Lucerna, a gravação de 2004 e Abbado insere-se dentre aqueles regentes modernos que melhor interpretam a obra do compositor austríaco ao lado de Bernard Haitink (o campeão) e Leonard Bernstein.

Aos cinéfilos: se acharem que são íntimos do Adagietto, lembrem-se de A Morte em Veneza de Luchino Visconti / Thomas Mann. É ela mesmo. É a música de Aschenbach e Tadzio.

http://www.youtube.com/watch?v=HfXoADUoYy4

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Musicalmente, vai muito bem

Nunca se poderá avaliar a extensão do crime que é cometido diariamente contra a OSPA. Ontem, num local inteiramente inadequado para a orquestra — a Igreja da Ressurreição, dentro do Colégio Anchieta — , o que ouvimos foi um concerto de primeira linha. Só para dar uma ideia: tive dificuldades de ouvir os agudos em meio à reverberação que acontecia onde estava sentado, em banco inteiramente desconfortável. Acho que a maior penitência a que deve ser condenado um crente que ali vai expiar seus pecados e prazeres, é o de ficar sentado na igreja por uma hora. Sairá dali livre deles, com a maior dor nas costas.

(Como parte da orquestra estava acomodada nos primeiros bancos da igreja, a plateia não os via, pois ficávamos na sentados no mesmo nível. Era bonito ver os arcos erguidos dos violinos dançando juntos durante os pizzicati. De resto, o local não oferecia diversão nenhuma).

As interpretações do Concerto de Aranjuez, do qual se nota melhor ao vivo a dificuldade, e da Sinfonia Nº 2 de Sibelius, foram consistentes, ótimas. Se o Concerto soou melhor por ser quase música camarística, a Sinfonia recebeu bela interpretação, tão bela que a gente fica pensando se as orquestras não deveriam mesmo dispensar seus regentes titulares para receber visitantes de concepções e repertórios diferentes do feijão com arroz diário. Não soube e nada sei sobre o regente Nicolas Rauss, mas o que vi foi uma direção tranquila e segura, íntima daquilo que propunha. O poema sinfônico Finlândia foi um bom aquecimento no qual mal pude prestar atenção, pois estava procurando entender o que havia de errado. Era a acústica.

Céus, que crimes se praticam contra a OSPA! Há bons músicos ali, os últimos concursos formaram um excelente conjunto. Quando o RS vai fazer por merecer o que já tem? E até quando se manterá bem uma orquestra sem sede e com falta de músicos?

Ah, acabo de descobrir que o próximo concerto em Porto Alegre também será numa igreja. Ai, minha bunda.

~o~

Atualização das 12h37:

Augusto Maurer, primeiro clarinetista da OSPA, escreveu nos comentários:

(…)

Ótima observação sobre os últimos concursos. Quando antes já se ouviu na OSPA um coral de metais como ontem no início de Finlândia ?

(…)

E eu respondo:

Pois é, escrevi rapidamente e esqueci deste detalhe (?) fundamental. Os metais não foram apenas bem em Finlândia, foram MARAVILHOSOS no final da Sinfonia! Assim como as madeiras, meu amigo.

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OSPA apresenta hoje bom programa com obras de Sibelius e Rodrigo

Escrito originalmente para o Sul21.

Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Uma coisa é a política que envolve a OSPA, a falta de músicos e de uma sede para a orquestra; outra coisa é a música produzida. E esta pode ser arrastada e sonolenta como a da apresentação da 9ª de Beethoven ou espetacular como a 9ª de Mahler, apenas para citar dois concorridos concertos do segundo semestre do ano passado.

Hoje, a OSPA apresenta na Igreja da Ressurreição (Colégio Anchieta), às 20h30, um bom programa sob a regência de Nicolas Rauss (foto):

Dia 29 – 20h30min
2º Concerto Oficial

Obras:
— Jan Sibelius – Finlândia, Op.26
— Joaquín Rodrigo – Concerto de Aranjuez para violão e orquestra
— Jan Sibelius – Sinfonia Nº 2, op. 43, em ré maior

Solista de violão no Aranjuez: Thiago Colombo
Regente: Nicolas Rauss

Finlândia, Op. 26 é um poema sinfônico de Jan (ou Jean) Sibelius cuja primeira versão foi escrita em 1899, sendo posteriormente revisada em 1900. A obra tem origem na turbulência e desolação gerada no país pela dominação imperial russa. Por quase todo o século XIX, o país foi um estado do império russo, que procurava tornar “mais russa” a população finlandesa. Para tanto, o método de convencimento era o de recrutar sistematicamente finlandeses para seu exército, enquanto mantinha forte censura sobre a imprensa e quaisquer manifestações.

Porém, na última década do século, o nacionalismo findandês reapareceu. A independência só chegou em 1918, após a Revolução Bolchevique de 1917. Em outubro de 1899, no meio ao crescimento do nacionalismo, Sibelius escreveu este poema sinfônico logo adotado como segundo hino pela população. Música poderosa, ao mesmo tempo simples e comovente, repleta de melodias e explosões dramáticas, é talvez a peça mais conhecida de Sibelius.

Ainda dentro do nacionalismo, o programa segue com o famosíssimo Concerto de Aranjuez de Joaquín Rodrigo. Também é a obra mais conhecida de Rodrigo, que a escreveu em 1939, inspirado pelos jardins do Palácio Real da cidade. O Aranjuez estabeleceu Rodrigo como um dos mais importantes compositores espanhóis do século XX. O concerto recebeu diversas interpretações e abusos, sendo uma das mais famosas e respeitáveis a do trompetista Miles Davis.

Aranjuez é uma pequena cidade espanhola famosa pela qualidade de seus morangos e pelo Palácio Real de Aranjuez, construído por Filipe II na última metade do século XVI; reconstruído em meados do século XVIII por Fernando VI e que serviu de inspiração para Rodrigo, o qual ficou cego aos 4 anos de idade e que talvez nunca tenha visto os tais jardins do Palácio, pois passou a infância em Sagunto, província de Valência, perto do Mediterrâneo, enquanto que Aranjuez fica próxima à Madrid.

Segundo o compositor, o primeiro movimento está “animado por um vivo espírito rítmico sem que nenhum dos dois temas se sobreponha ao outro ou interrompa seu ritmo incansável”. O segundo movimento — o ultrafamoso tema de Aranjuez — “representa simplesmente um diálogo entre a guitarra e instrumentos solo como o corne inglês, o fagote, o oboé, a trompa, etc.”, e o último movimento, “lembra uma dança cortesã”. Como pouca modéstia, muito olfato e refinada audição, Rodrigo descreveu sua grande música como a captura “da fragrância das magnólias, do canto dos pássaros e do jorro das fontes dos jardins de Aranjuez”. O solista será o excelente violonista gaúcho Thiago Colombo (foto).

Mantendo a coerência do programa, o concerto se encerra com a Sinfonia Nº 2 em ré maior, Op. 43, novamente de Sibelius. Escrita logo após o poema sinfônico Finlândia entre fevereiro e março de 1901, esta sinfonia foi estreada em Helsinque em 1902 com grande sucesso, tanto que foi repetida mais três vezes em oito dias.

Também conhecida como “Sinfonia da Independência”, este trabalho popular de grandioso final conecta-se a um momento de sanções russas na língua e cultura finlandesa. Desda a estreia, a postura de Sibelius foi amplamente debatida: alguns afirmam que ele não tinha intenções patrióticas e que a Sinfonia seria apenas nacionalista. Hoje, para nós, esta discussão tem valor apenas histórico.

O programa poderia ser finalizado pela Valsa Triste, também de Sibelius, mas o mundo não é perfeito.

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Domingo, com Maria Bethânia

Meu caro Ramiro Conceição.

Li teu comentário — que transcrevo abaixo — e tenho reparos a ele. Poucos, é verdade; e os que há são relativos à isonomia e à lastimável postura da sobrinha Belô Velloso, filha de Mabel Velloso, irmã de Caetano e Bethânia, e cuja única boa referência foi a de ter vindo ao mundo num 19 de agosto. Ela, na minha opinião, prestou severo desserviço para sua tia famosa.

Mas hoje é DOMINGO e, apesar das imagens, a música e a letra são esplêndidas! (Quase ninguém conhece esta música, mas ela faz parte dos dois últimos CDs de Bethânia — Tua e Encantería — , lançados juntos. A boa MPB é ouvida apenas do exterior. Por que o MinC não age também neste ponto, o qual é muito mais importante: o de proteger a música brasileira de qualidade? Não dá para fazer? Ah, dá, sim. Assim como o cinema e a literatura.).


Ou clique aqui.

MERDA, POESIA!
by Ramiro Conceição

Até onde compreendi, a cantora baiana está autorizada somente a batalhar no mercado recursos que, se obtidos, fomentarão concretamente, durante um ano, vídeos diários sobre poesia (não estou a par do conteúdo proposto para tais vídeos), mas acredito que, por toda a obra artística de Bethânia, tal iniciativa não tenha qualquer característica de amadorismo.

Até onde compreendi também, as empresas que endossarem livremente tal projeto terão a sua marca associada ao empreendimento cultural bem como um incentivo fiscal, um desconto, em seu imposto de renda.

Até onde compreendi também, tudo se dará sob a total transparência da lei. Até o momento, não percebi, em tudo que li, qualquer falcatrua porventura escondida na decisão do MinC.

Bem, se não há nada ilegal, então resta analisar se houve, ou há, alguma falta ética no acontecido, ou seja, qual a falta ética de Bethânia ou do MinC no episódio em questão?

Até onde compreendo, haveria uma falta ética se, e somente se, algum outro projeto de caráter semelhante não tivesse sido autorizado antes ou tivesse sido indeferido por favorecimento claro ao aprovado agora pelo MinC. E, por outro lado, se Bethânia tivesse claramente se utilizado de tráfico de influência em detrimento de outro projeto superior ao seu.

Vive-se no Brasil um regime democrático, portanto, que os injustiçados apareçam, se pronunciem competentemente!

Mas, por favor, não me venham com argumentos do tipo: “Ah, Bethânia é rica” ou “Ah, 50.000 por mês, que absurdo!” ou “Ah, eu faria o mesmo ‘di gratis’” ou “Filha da puta da Bethânia” ou “Tal grana poderia ser destinada à educação”.

Não, o buraco é muito, muito, mais em baixo e, minhas senhoras e senhores, não se trata aqui de nenhuma baixeza.

Minhas companheiras e companheiros de história, gostaria de lembrá-los de um fato. Amyr Klink, quando do seu projeto de hibernação na Antártica, a duras penas, conseguiu o patrocínio à construção de seu barco por meio da “AÇOS VILLARES”, à época importantíssima empresa brasileira do setor SIDERÚGICO, isto é, da metalurgia do FERRO!!!!. Detalhe, importantíssimo, seu barco foi construído totalmente em ALUMÍNIO!!!!!!

Por que a AÇOS VILLARES não poderia ter obtido qualquer benefício fiscal – como não obteve!!!! – ao financiar tal empreendimento histórico?! Com terrível angústia, Amyr descreve em seu livro de relatos que, sem a VILLARES, seu projeto não teria existido. Outro detalhe: Amyr fora o único ser humano a atravessar a remo o Atlântico Sul.

Diante disso, brota em mim, infelizmente, a seguinte constatação histórica:

o padecer crônico do Brasil não se constitui essencialmente de seus milhões de miseráveis, mas, ao contrário, de sua maligna, insignificante elite miserável!

Diante disso, só posso clamar à Maria Bethânia:

MERDA, POESIA!

(À merda, hipocrisia)!

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Há algo difícil de definir na imagem de John Lennon

Sempre me detenho ao olhar suas fotos. Por quê? Hoje soube que ele é o líder — sim, em 2011, trinta anos após sua morte — nas buscas de entretenimento realizadas por crianças. Não entendo.

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Maria Bethânia terá R$ 1,3 milhão para criar blog (ou site)

A cantora Maria Bethânia conseguiu autorização do Ministério da Cultura para captar R$ 1,3 milhão a fim de criar um blog. A proposta é de que O Mundo Precisa de Poesia seja atualizado diariamente por um ano. O blog apresentaria, a cada dia, um vídeo da cantora interpretando grandes obras.

A direção dos 365 vídeos seria de Andrucha Waddington. Há três anos, Bethânia se envolveu numa polêmica ao ter um pedido de captação, de R$ 1,8 milhão para uma turnê, rejeitado pela área técnica do ministério.

Bem, captação de recursos é dinheiro nosso que, em vez de irem para o país na forma de impostos, beneficia a cultura. Maria Bethânia é uma artista bastante rica, como sua sobrinha @belovelloso confirmou no twitter. Ela irá se promover com o site, sem dúvida. Por que ela precisa captar?

Acho que a matéria é MUITO polêmica e duvidosa.

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48 Variações sobre Bach, de Franz Rueb

O número 48 é um pouco surpreendente. Esperava os 30 das Variações Goldberg, mas Franz Rueb escolheu os 48 Prelúdios e Fugas (Livros I e II somados) de Bach, certamente em razão de ter assunto demais. E é isso o que surpreende — assunto demais, 375 páginas sobre alguém do qual se sabe tão pouco. Explico melhor: este livro é formado por 48 capítulos (flashes) — que têm de 5 a 10 páginas cada um — sobre a obra e principalmente sobre a vida de Bach.

A abordagem do escritor Rueb é basicamente histórica. 48 Variações sobre Bach parte da família de Bach em direção ao ambiente dos principados e das igrejas daquilo que hoje é a Alemanha. Aprofunda-se no estudo do que era a educação da época e procura compreender um artista absolutamente brilhante e original nascido naquele contexto e que ficou órfão aos 10 anos de idade, indo de casa em casa, de instituição em instituição, até aprender seu ofício e alcançar vários cargos em principados. A tarefa não é nada simples, mas se fizer a comparação deste livro com outras biografias que li, a de Rueb parece das mais honestas. A conclusão de que Bach provavelmente não entenderia a divisão que hoje se faz entre sua música sacra e secular é uma tese bastante sólida. A certeza de que Bach era um tipo de homem que não tinha a compreensão do próprio gênio e de que era adogmático na área musical são certezas. A descrição de suas muitas lutas contra as autoridades são bem conhecidas, mas aqui são descritas com riquezas de detalhes que as tornam interessantes. O único defeito que encontro neste livro cheio de qualidades e de tão engenhosa feitura são certos exageros na vontade de dar sempre razão a Bach, o qual, cumpre lembrar, era um ser humano. (OK, quando ouço algumas de suas obras, parece-me sobre-humano, porém o ouvinte normalmente é um e o biógrafo outro menos arrebatado, de preferência).

Nunca li descrições tão completas e convincentes do entorno do compositor, nunca o final de sua vida em Leipzig foi mostrada com tanta crueza e tristeza. Então, o livro, que termina com a afirmação de que os ossos que estão no túmulo de Bach são de outra pessoa, vale a pena. E como.

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O terceiro movimento da 8ª Sinfonia e o segundo da 10ª de Shostakovich são puro ódio

Mas por motivos diferentes. A oitava era contra a guerra. E a décima, contra o recém-defunto Stalin. Vale a pena comparar o modo de reger do controlado e genial Mravinsky…

httpv://www.youtube.com/watch?v=0JhdFlFWiSQ

Ou clique aqui.

… com o da nova estrela, o também genial venezuelano Gustavo Dudamel. Nada contra o primeiro ou o último. O resultado que ambos alcançam é esplêndido.

httpv://www.youtube.com/watch?v=2ZbJOE9zNjw

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Sono atrasado, Bach e sobre ontem à noite

Em cada um dos quatro dias de carnaval, corri 5 Km pela manhã. Algo leve, para todos os dias, tanto que ganhei um 1 kg. Às vezes, dormia à tarde, perfazendo horas e horas da vida besta que não tinha há meses. Durante a noite, dormia umas 7h. Digamos que dormisse mais 2 à tarde, completando aproximandamente 9 horas diárias de sono. O milagre foi acontecendo aos poucos: a sensação de cansaço que me perseguia há meses foi me abandonando aos poucos. Nunca pensei que essa coisa de “sono atrasado” existisse mesmo. No passado, uma noite normal já me deixava em forma. Agora, nesta sexta década — estou com 53 anos — , preciso de muitas horas de sono para me sentir bem de novo.

Temakeria Japesca

Passar um feriado longo em Porto Alegre com temperatura amena é reencontrar a qualidade de nossa vida junto aos amigos, no cinema à tardinha, na leitura a qualquer hora ou no passeio à Redenção com os cachorros. Com grande parte dos restaurantes fechados em férias coletivas, sobrou de bom a Temakeria e Empório Japesca do Mercado Público, espaço onde a gente pode se empanturrar de temakis de salmão ao preço de R$ 5,00 cada. Esta é uma iniciativa muito boa, espero que ela auxilie a fazer o preço da comida dos japas recuar a valores mais justos. E o temaki dos caras é de primeira categoria. Mesmo num sábado de carnaval, ficamos na fila. Coisa pouca, 15 minutos e olhe lá.

Estou lendo um livro sobre Bach. É tão bom que não quero terminá-lo. Franz Rueb dá uma visão muito realista e documentada da vida de repetidas discordâncias entre o compositor com seus chefes. Em 48 flashes de 5 a 10 páginas cada um, Rueb faz a descrição de todos os problemas, das demissões, das relações com a sociedade, com seus pares e também da educação de Bach desde a infância. Naquela época, a falta de títulos já fazia de alguém um idiota e, bem, Bach era autodidata. O livro faz surgir um ser humano interessantíssimo e muito brigão por trás da obra sobre-humana legada a seus filhos e que chegou a nós muito, mas muito incompleta. Foi tão grande quanto Shakespeare, certamente. É curioso. Livros muito mais analíticos não conseguem fazer surgir o homem que há em Bach, um empregado tão obediente que levava sua mulher para cantar na igreja quando isto era um importante pecado. De santo, o cara não tinha nada.

Urretaviscaya

Vi o jogo do Grêmio ontem. Pobre Caxias, ser time do interior é complicado. Nunca vi tantos e tão injustos descontos. Quando o Grêmio marcou seu gol, aos 53 do segundo tempo, perguntei aos amigos o que o juiz faria em reparação. A responsabilidade pelo resultado passava tanto por Márcio Chagas que ele precisava fazer alguma bobagem para demonstrar que era probo, honesto, ilibado. Bingo!, acertei na mosca: ele expulsou inexplicavelmente um jogador do Grêmio. Havia culpa, claro. Acredito que ele escreverá horrores na súmula. Porém, se houve emoção no Olímpico, o grande futebol apareceu antes, às 19h30, no tremendo jogo entre Peñarol e LDU. Os uruguaios estão renascendo de verdade. O Peñarol tem um atacante chamado Urretaviscaya que é uma verdadeira joia. O incrível é que ele, aos 21 anos, é jogador do Benfica de Portugal, que o empresta há 3 anos para manter jogadores duvidosos em seu elenco. Bem, o futebol não é para ser entendido completamente.

Hoje, o Inter joga contra o Ypiranga. Se não ganhar fácil, o juiz dá uma mão, imagina se não?

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Barbara Strozzi (1619-1677)

Nascida em Veneza, Barbara foi adotada e batizada pela família Strozzi. Provavelmente foi filha “ilegítima” de Giulio Strozzi e Isabella Garzon. Giulio incentivou o talento da filha, até criando uma academia onde Barbara pudesse aprender e apresentar-se. Ele parecia estar interessado em expor seu considerável talento vocal para um público mais amplo. No entanto, a cantora logo substituída pela compositora e seu pai conseguiu que ela estudasse com o compositor Francesco Cavalli.

Por outo lado, é bastante crível que Strozzi possa ter sido uma prostituta. Ou quem sabe era apenas alvo de calúnias por parte de contemporâneos do sexo masculino? Ela nunca casou, mas sua vida amorosa foi movimentada. Há evidências de que pelo menos três de seus quatro filhos tinham por pai o mesmo homem, Giovanni Paolo Vidman, o que seria estranho para uma prostituta. Após a morte de Vidman é provável que Strozzi se sustentasse por meio de seus dotes físicos, por suas composições ou quaisquer expedientes. Ela, aparentemente, não deixou nada para seus filhos.

Strozzi morreu em Pádua em 1677 e há indícios de ter sido enterrada em Eremitani. Quando ela morreu, sem deixar testamento, seu filho Giulio Pietro reivindicou sua inexistente herança.

CDs brilhantes de composições de Barbara Strozzi. E há ao menos um livro traduzido que analisa seus Lamenti: Safo Novella – Uma Poética do Abandono nos Lamentos de Barbara Strozzi., Veneza 1619-1677. Este livro inclui um CD e traz análises das composições de Strozzi, além de um perfil das mulheres da Veneza da época e de reproduzir textos originais e traduzidos.

Quase três quartos das suas obras impressas foram peças vocais escritas para soprano, mas ela também publicou obras para outras vozes. Strozzi efetivamente evoca o espírito de Cavalli, herdeiro de Monteverdi. No entanto, seu estilo é mais lírico e mais dependente dos cantores. Muitos dos textos de suas peças iniciais foram escritos por seu pai, Giulio. Mais tarde, os textos foram escritos por amigos de seu pai.

Neste 8 de março, homenageio a grande Barbara Strozzi, modelo de mulher talentosa e lutadora. Brilhante compositora , cantora, poeta e, talvez, prostituta.


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J. S. Bach – Cantata BWV 80: Ein feste Burg ist unser Gott (completa) e o jazz de Hiromi Uehara

A Cantata BWV 80 de J.S. Bach é daquelas coisas que fazem os dias pararem, os outros compositores se embasbacarem, a gente acreditar na possibilidade de um deus e que justificam os versos finais de Anna Akhmátova que estão inscritos no túmulo de Dmitri Shostakovich:

Música

(…)

Depois que o último amigo tiver desviado o olhar,
ela ainda estará comigo no meu túmulo,
como se fosse o canto do primeiro trovão,
ou como se todas as flores tivessem começado a falar.

Na verdade, a Cantata tem uma estrutura simples e quase simétrica de variações sobre um Coral de Lutero. Um coral, um dueto, uma ária, um coral central, outro dueto e mais um coral. Sim, simples, mas e as variações de Bach?

http://www.youtube.com/watch?v=Mlb0cr-k8PY&feature=related
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http://www.youtube.com/watch?v=u_dS1nain9c&feature=related
Ou clique aqui.

http://www.youtube.com/watch?v=L1RcW6L4oic&feature=related
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http://www.youtube.com/watch?v=jV–lwDBhTg&feature=related
Ou clique aqui.

~o~

Para terminar, um show de Hiromi Uehara em Choux à la Crème. Ela não precisa de baixo… Vejam o que ela faz aos 5min20. Um Chick Corea alegre e de saias.


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I know it`s only rock and roll…

… but I like it, like it. Yes I do. Encontrado no excelente Goodshit que, com seu peculiar humor, faz questão de informar que esta música não tocou no Oscar.

httpv://www.youtube.com/watch?v=JJS8-wWBT8M&feature=player_embedded#at=132

Ou clique aqui para ver.

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Duas coisonas e duas coisinhas

Taí o seu presente, Milton. Espero que você goste. Um abração!

Quando recebi esta mensagem pelo Facebook, pensei que fosse mais uma composição que o Gilberto Agostinho desejava me mostrar. Gosto muito de ouvi-las e, bem, de dar meus pitacos. O Gilberto é um compositor brasileiro que estuda em Praga e suas obras são efetivamente muito boas, tanto que ele acaba de classifcar-se em primeiro lugar na principal Academia de Música de Praga. Ouvi a tal música e gostei muito. (Vocês podem baixá-la aqui, vale a pena). Chamava-se Suite for Cello and Harpsichord, in Old Style. E escrevi-lhe de volta:

Rapaz, consegui ouvir apenas ontem. Gostei muito. Achei ADMIRÁVEL e deixo a palavra em caixa alta para demonstrar que este é um elogio repleto, onde a palavra deve receber significado pleno. É claro que notei a Courant e sua citação. Me diverti com o final perfeitamente bachiano da abertura, e — mesmo com a séria sarabanda — o efeito geral sobre mim foi de felicidade. Ouvi tudo com um sorriso. Achei o final da Giga um tanto inesperado, talvez brusco, mas eu jamais o alteraria, pois aquilo parece uma frase tua dizendo “gente, é bem feito, bem escrito, mas é uma paródia, claro”.

Cara, nós já temos material para outra postagem naquele blog, não? Esse teu sw de agora é melhor do que aquele outro. Até o pizzicato funciona bem. O cravo tem som de cravo, etc. Poderíamos montar uma postagem assim que eu voltar de uma viagem que farei de quinta a terça? Volto em 22/02. Tu poderias ir escrevendo os textos de apresentação, certo?

Inclua o que quiser, mas não retire essa Suíte, pelamor.

Grande abraço!

P.S.– Acredito que estejas passando por um período feliz em Praga. A Suíte, além de excelente, é feliz.

Tudo normal até aqui. Mas então ele escreveu de volta:

Oi Milton,

Muitíssimo obrigado pelos elogios! Já fazia tempo que eu estava querendo dedicar uma obra minha pra você, e eu achei que esta cairia muito bem, já que você é outro fanático pelo período barroco. Você pegou bem o espírito desta peça, e eu fico feliz que o final tenha sido bem entendido. Eu me considero um contrapontista acima de tudo, então eu escrevi esta obra como uma espécie de desafio para mim mesmo. Será que eu ainda conseguiria escrever algo tonal, respeitando todas as regras do período barroco? Pois bem, eis o resultado.

Umas das questões que me ocorreram enquanto eu escrevia esta obra foi sobre liberdade de escrita. Eu tentei escrever algo que fosse “histórico”, mas ao mesmo tempo eu tentei ao máximo me expressar neste idioma. Só que acontece que nós já não temos o direito de “quebrar regras”, como Bach fazia. Quando você ouve uma obra como a minha fuga favorita, aquela em si menor do primeiro livro do cravo, você tem um tema quase dodecafônico, e isto deve ter sido um choque na sua época (ainda hoje muita gente não gosta desta fuga, fazer o quê?). Só que seria incoerente se eu me propusesse escrever algo barroco, e então saísse quebrando as regras. Quebrando para aonde? Para atonalidade? Felizmente perdemos este direito, pois com isto ganhamos outros, mas é uma questão interessante que me apareceu. Então eu ousei mais na forma das composições, não no conteúdo tonal.

E sim, eu tenho muitas composições para postar no blog sim! Eu vou separar algumas delas, e vou escrever o texto e depois te mando. Quando você voltar de viagem, você me diz o que achou. E a maioria das composições que eu gostaria de incluir serão aquelas outras que eu te mandei, mas não sei se você já teve tempo para dar uma ouvida. Depois me diga o que você achou, eu estou bem curioso com suas opiniões (mas sem pressão para ouvir logo). E esta suite será inclusa sim, pódexá!

Sobre Praga, eu estou muitíssimo feliz com a minha vida musical. Eu estou me sentindo bem seguro e produzindo muito, o que é ótimo.

(…)

Um grande abraço, meu caro!
Gilberto Agostinho

Ou seja… Ou seja.. A obra é dedicada a mim, como aliás estava escrito na partitura e eu, boca-aberta, não tinha visto.

Eu realmente não sei como agradecer. Estou explodindo de tão orgulhoso e feliz. Muito obrigado, Gilberto.

~o~

Hoje viajamos em visita ao Dr. Cláudio Costa! Passaremos 4 dias em sua companhia e de sua mulher Amélia. Já estiveram aqui em casa e foi indiscutivelmente maravilhoso, ao menos para nós. Ele ligou várias vezes convidando e já viram, vou ter que fazer meu tratamento psiquiátrico nas cidades históricas de Minas em meio àquela baita gastronomia. (suspiro) Volto terça-feira durante o dia. Mais um motivo para comemorar. Mas nem tudo pode ser perfeito, senão não seria a vida.

~o~

Mônica Leal me processou. Já retirei o post causador da pendenga, se o deixasse teria de pagar um salário mínimo por dia… Não entendo, mas, enfim, é a nossa justiça. Ela insiste numa indenização. Se soubesse de minhas posses e de minha conta bancária, não perderia tempo. Acho que se esqueceu de averiguar. Ela deveria ser incentivada a fazer uma devassa em minha vida. E a vida segue.

~o~

E segue com Celso Roth, que recebeu um timaço e insiste em jogar retrancado dentro de seu esquema chama-derrota. O Mazembe não serviu de lição; acho que a diretoria espera algo mais grave como um enorme fiasco da Libertadores 2011 e um grupo de jogadores descontentes. Deram um carro de Fórmula 1 para um motorista de taxi.

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Carta mais bonita é difícil

O jornalista cultural Anthony Tommasini, do New York Times pediu para que seus leitores escrevessem seus 10 compositores eruditos favoritos. A coisa terminaria no dia 23 de janeiro, mas ele seguiu recebendo “interessantes reações de seus leitores”. Sua reação favorita veio na forma de uma carta escrita à mão por Lucas Amory, um menino de 8 anos. Lucas é um estudante de piano e filho de dois violistas, Misha Amory, do Quarteto de Cordas Brentano e Hsin-Yun Huang. Abaixo as cartas. São muito, mas muito legais.


Quem encontrou foi o @adrianosbr.

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O único filme em que aparece Erik Satie

Raridade total. Um curtíssitimo filme de René Clair de 1924 em que Erik Satie (1866-1925) aparece. Satie, para quem não o reconhece, é o homem de terno e chapéu-coco.

httpv://www.youtube.com/watch?v=G5P03pbThNQ&feature=player_embedded

Ou clique aqui para ver.

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Marin Alsop na OSESP

No ano passado, assisti tardiamente a OSESP na sala São Paulo. No programa havia Sibelius, Janacek, Debussy e Pärt. Foi um dos grandes momentos de 2010, talvez até o maior deles num ano de poucas emoções artísticas.

Fiquei feliz quando soube que Marin Alsop assumirá a regência titular da OSESP. E fiquei surpreso ao saber que se tratava de uma mulher. Achava que seu nome derivava do nome masculino francês Marin (diz-se Marrã), como Marin Marais, e que vestisse cuecas como eu. Mas não. Aquele regente admirável de tantas gravações da Naxos é uma mulher, o que, se não a melhora, ao menos surpreende num mundo ainda dominado pelos homens.

Alsop, nascida em 1956, assinou por cinco anos a partir de 2012 e deverá ficar dez semanas por ano em São Paulo, além de turnês e gravações. Está bem, se considerarmos que a regra atual é a troca contínua do ocupante do pódio.

O primeiro ocupante do posto no período da Sala São Paulo, John Neschling, ficou bastante nervoso e foi deselegante aqui (final) e aqui. Seu livro é muito bom, mas em seu blog ele se permite um pouco de truculência: colocar o nome de Fernando Henrique Cardoso ao lado do de Marin Alsop é o mesmo que ofendê-la. E ela veio cheia de bom senso:

“Eu sempre ouço conselhos, mas raramente os sigo. Disseram-me para evitar a Naxos, que é uma gravadora de discos baratos, mas olhe o resultado: eles viraram o principal selo clássico do mundo! Bem, mas talvez meus CDs estejam fazendo sucesso porque eu sou mulher. Não é engraçado?”.

Em Baltimore, além das atividades artísticas, ela realizou programas de educação musical envolvendo a população carente. “Você tem de tentar ser relevante e isso é difícil quando lida com gente morta, que criou cem anos atrás”.

“A tendência inicial e imediata seria o repertório brasileiro, latino-americano, mas isso parece muito óbvio. Talvez fosse divertido fazer mais compositores contemporâneos que mesclam popular e erudito. Todo mundo sente que essa é uma cidade contemporânea e isso tem que se refletir no repertório. Além de Mahler, Brahms e Beethoven, temos que trazer a música de hoje. Sou muito interessada na música nova brasileira, e tenho que me educar nisso.”

A Sra. Alsop sabe o que faz. Será que vamos ter mesmo de comprar passagens baratas com antecedência, ficar hospedado naquele hotelzinho ali perto da Sala São Paulo para ouvir música de primeira qualidade? Não me incomodo, mas e Porto Alegre?

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The Day the Music Died e outras duas de Don McLean

Pois é, hoje vamos de rock. A canção American Pie (1971), de Don McLean, era algo bonitinho e cheio de referências das quais eu mais ou menos me dava conta quando ouvia seus mais de oito minutos. Porém, esta semana, meu colega de trabalho Igor Natusch me mostrou um vídeo onde tudo o que é citado na música é explicado. Vale a pena.

Abaixo, para quem se interessar, está toda a letra de American Pie.

E agora um roquezinho bem legal de que gostava muito na minha adolescência. Dreidel (a máquina lembra o Colégio Júlio de Castilhos, onde estudei; havia uma dessas lá):

E outra canção estupenda do olvidado McLean, esta em homenagem a Van Gogh, Vincent:

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Óperas

Certa vez, um chato de um cético perguntou a Louis Armstrong o que era o jazz e ele respondeu: Man, if you gotta ask, you`ll never know.

Minha mulher ama e conhece muito sobre óperas. Eu não, muito pelo contrário. Não gosto mesmo.

Como morou 7 anos entre Verona, Roma e Londres, pôde passar este período assistindo ao vivo uma ópera por semana. Quando voltou para Porto Alegre, por alguns anos participou de um grupo que se reunia semanalmente a fim de assistir e comentar óperas. Uma pessoa era escolhida para estudar a ópera e fazer o comentário inicial. Depois, a peça era vista de cabo a rabo e tudo terminava num jantar. Então me conheceu e, talvez pelo fato de minha paixão pela música de concerto e de câmara ser tão açambarcante, acabou oprimida e hoje é uma ouvinte mais ou menos conformada daquilo que ouço.

Também contribuiu para seu afastamento uma briga interna com quem administrava o grupo. Alguma dureza é necessária para manter por anos um grupo do gênero, mas os ciúmes e a competição extrapolaram em muito o amor ao bel canto. Os desentendimentos eram recorrentes e voltavam-se principalmente para os que debilmente se insurgiam, se ausentavam ou demonstravam mesmo o mais humilde desejo de mudar alguma coisa.

Para assistir uma ópera é necessária toda uma infraestrutura. O gênero faz menos sentido sem a imagem. É preciso ver cantar, ver o cantor atuar. Deste modo — e já que pouquíssimas óperas são apresentadas nas cidades brasileiras — , é necessário armar-se de um DVD, sentar na frente da TV e ficar ali umas poucas horas. Nem sempre dá, então participar de um grupo com compromissos de horário e discussão é uma boa. Faz acontecer.

A novidade dos últimos anos é ver ópera no cinema, muitas vezes ao vivo. Acho uma solução sensacional, já que nossas cidades são tão ineptas para montar as suas, apesar da paixão de muitos e do excelente material humano.

O fato de minha mulher ter, digamos, “jogado a toalha”, não é uma vitória minha. Na verdade é algo que lamento ter-lhe tirado. Porém ela é muito gregária e, para mim, acompanhá-la é um suplício. O resultado é que fantasio ou durmo. Não gosto do gênero e os motivos não são claros, apenas posso contorná-los. Penso que a maioria dos enredos sejam inverossímeis e talvez cantá-los corresponderia mais ou menos com o fato de atores saírem repentinamente dançando nos musicais. Isto é, acho que a expressão sincera se perde em meio à cantoria empostada e às muitas necessidades do gênero: mostrar voz, mostrar que está sobrando potência, atuar e ainda ser delicado, raivoso, terno, amoroso, rancoroso, engraçado, malvado, interessado, ciumento e tudo. É complicadíssimo e não vejo motivo para todo aquele esforço. I´ll never know. Pior: noto certo desespero dos autores em torcer as melodias para contar a história e os recitativos – frases “semicantadas” que para mim parecem algo como um roubar num jogo (e isso também vale para os das Cantatas e Paixões de Bach) – são de matar. Há também a total proeminência de melodia ou da voz principal na música; coisa que, hoje sei, me irrita. If I gotta think about it, I`ll never know, indeed.

Porém me assusta o fato de tê-la involuntariamente roubado algo que lhe era tão importante. Ainda mais que sua paixão pela música de concerto não me parece tão avassaladora, não obstante sua devoção a Brahms. Um dia, ela vai recuperar o amor pela ópera e eu só espero que não passe a me detestar.

Hoje, ela está na Espanha com sua mãe e depois irá trabalhar em Roma. É claro que esta culpa e este texto é uma expressão em péssimo recitativo de minhas saudades. Até o dia 8.

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