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Da truculência de Veja (sobre o pobre de espírito Augusto Nunes)
Apesar de pasmo, fico feliz que seja assim. Por obras do Twitter, me passaram os endereços de alguns posts do Sr. Augusto Nunes, colunista de Veja. Quem me passou, aprovava o jeitinho meigo do articulista e foi imediatamente excluído de minha lista de pessoas que sigo. Motivo: choque.
Augusto Nunes, que deveria ser alguém articulado, comporta-se como um menino indignado da 5ª série. Parece que não quer ser lido nem convencer ninguém. Aqui, após chamar Celso Amorim de chanceler de bolso, diz que o governo Lula é um otário internacional. OK, apesar do termo ofensivo, digamos que o fato de ser ou não otário internacional seja matéria de opinião. Mas e o “chanceler de bolso”? Augusto Nunes realiza aqui algo que não vejo meus pares de esquerda fazerem: ofender alguém por uma característica física. Mais um passo e ele poderá ofender os negros por serem negros, por exemplo. Aqui, ele segue na mesma linha, chamando Amorim de “Anta em miniatura”. Por mim, ele pode continuar fazendo isso. Apenas perderá leitores — e seu candidato Serra, eleitores — , num país onde quem grita e ofende fica pior do que o foco das ofensas. Na verdade, abismo-me com o que o colunista faz para agradar seus patrões. E, de seus patrões, assusta-me a burrice, pois não adianta nada manter em suas linhas alguém tão sem argumentos. Ah, demonstrando parco manejo do colorido da língua portuguesa, no link a seguir Augusto ataca a Bolívia, qualificando-a de Reino das Antas.
Pelo visto, ele simpatiza o animalzinho.
Não há nada que incite mais o antissemistimo do que o estado de Israel
(O blog está sem fotos. Não sei o que houve)
Meu caro amigo Rodrigo Cardia PERGUNTA se não haverá sanções ao estado de Israel pelo ataque criminoso aos barcos turcos que levavam ajuda humanitária aos Palestinos do campo de concentração da Faixa de Gaza. Eram milhares de toneladas de suprimentos destinados à população civil de Gaza. Dez militantes pacifistas foram mortos.
A pergunta é lógica mas é também retórica. É retórica pelo fato de sabermos que Israel conta com a indulgência internacional em nome de um passado que inclui violências e perseguições cada vez mais esquecidas e substituídas pelas limpezas étnicas que hoje o país promove em seu território. O esforço de propaganda e do cinema — mais propaganda — para que não esqueçamos dos absurdos verdadeiros ocorridos nos campos de concentrações nazistas, está sendo vencido pelo fundamentalismo israelense e pela mudez de Obama.
O Irã não pode ter a bomba, que Israel tem, mas, agindo desta forma, estimula os países árabes a se armarem. É a loucura de um estimulando a do outro. O Ministro do Exterior da Turquia, Ahmet Davutoglu, disse que se tratava de “assassinatos conduzidos por um Estado” “Em termos simples, isso se assemelha a bandidagem e pirataria”, afirmou. O governo de Israel disse que suas tropas agiram em defesa própria, depois de serem atacadas. Sabe-se que os ativistas não dispunham de armas e que os soldados abriram fogo contra eles. É importante saber que o ataque deu-se em águas internacionais — fora do território “israelense” — e que a Turquia e Israel são antigos aliados. Ou seja, Israel, sob a proteção americana, está tomando Actívia e bebendo Johnny Walker.
A autoridade portuária turca nega que navios levassem armas a Gaza nos suprimentos à população. O diretor da alfândega do porto de Antalya diz que todos os suprimentos bagagens passaram por raio-x. Tudo está documentado.
Tranquilo, sentado sobre minha opinião, bocejo
Fala por mim aí, Rafael Galvão!
Título do post: José Serra não está preparado para ser Chefe do Estado brasileiro.
Ninguém merece um candidato desses
José Serra acusou o governo da Bolívia de facilitar a venda de cocaína. Isso é coisa que um futuro presidente diga assim no mais, sem provas e prejudicando uma futura relação com o país vizinho? Faltou ele dizer que até o sobrenome de um ministro boliviano é Coca… A seguir, trecho do texto de Clarissa Pont publicado hoje no Sul21.
Bolívia quer provas
A declaração repercutiu no país vizinho. Segundo divulgado pelo jornal Folha de S. Paulo nesta quinta-feira, o ministro da Presidência de Evo Morales, Oscar Coca, disse que “se Serra sabe algo, que diga o que sabe e siga os trâmites legais para fazer a denúncia. Se não fizer, ele que é o cúmplice”.
(…)
O deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR) também comentou, nesta quinta, em seu Twitter: “Alguém que há tempos quer ser presidente precisaria, no mínimo, aprender a respeitar governos e povos dos demais países. Serra ainda não aprendeu”.
Serra já acumula gafes neste princípio de eleição
As declarações de Serra foram feitas durante entrevista ao programa “Se liga, Brasil”, na rádio Globo, no Rio de Janeiro. Sem apresentar qualquer tipo de prova, o pré-candidato tucano disse que o governo boliviano é cúmplice das quadrilhas de traficantes que atuam no Rio. “A cocaína vem de 80% a 90% da Bolívia, que é um governo amigo, não é? Como se fala muito”, provocou.
“Você acha que a Bolívia iria exportar 90% da cocaína consumida no Brasil sem que o governo de lá fosse cúmplice? Impossível. O governo boliviano é cúmplice disto. Quem tem que enfrentar esta questão? O governo federal”, declarou Serra, sem apresentar provas.
O cara é doido varrido, só pode.
Pelo Sim, Pelo Não
Publicado em 10 de outubro de 2005
1. Prólogo do Leigo:
Em minha opinião, o referendo sobre o desarmamento é uma questão secundária em nosso país. Não a chamaria de ociosa, mas creio que há questões que mereceriam maior atenção, seja para um referendo, seja para uma discussão em âmbito nacional. A descriminalização do aborto, por exemplo, é algo aceito na maioria dos países e aqui ainda estamos presos a uma legislação atrasada. Minha opinião favorável a esta descriminalização não deve ser vista como uma provocação aos cristãos, até porque não julgo o aborto, apóio sim é o direito de escolha. Outro ponto que demandaria maior atenção é a descriminalização das drogas. O que aconteceria com os traficantes e usuários? A violência diminuiria ou aumentaria? E o número de viciados? Outra questão fundamental que foi varrida para debaixo do tapete é a Reforma da Previdência. Afinal, o “direito adquirido” segue tornando seres especiais os funcionários públicos, os quais receberão aposentadorias integrais, enquanto que o restante ficará com suas pensõeszinhas e terão de optar entre comer ou comprar remédios. E a distribuição de renda? Bem, nem vou entrar neste tópico.
Desta forma, elegeria outros temas no lugar do desarmamento. Caricaturizando minha posição, sinto-me como aquele cara que assiste a uma acesa polêmica sobre futebol, pede a palavra e declara que tal esporte é praticado por imbecis. Sei muito bem que quem entra numa controvérsia criticando sua existência pode acabar alvo dos petardos dos dois grupos, mas paciência, o desregramento a que se permite este leigo sempre foi a sinceridade. A seguir, pois, desarmamento.
2. Argumentação do Leigo:
[Entram His Majesties Sagbutts and Cornetts. Surpreendentemente, atacam Fanfare for the Common Man, de Aaron Copland. Ao final dos três minutos da peça, saem.]
Temos o melhor sistema de classificação de óbitos da América Latina. Houve redução de 4,6% nas internações por arma de fogo com o desarmamento, isso é um fato.
MARIA DE FÁTIMA MARINHO DE SOUZA, Coordenadora de Informações e Análise Epidemiológica do Ministério da Saúde.
Supõe-se que a maioria das pessoas queiram o bem das outras, o que não significa que todos mereçamos canonização. Não sei se meus 7 leitores sabem que tenho uma divindade que responde correta e infalivelmente a quaisquer consultas minhas. Pois este oráculo, que neste mundo atende pelo nome de Stella, disse-me num telefonema (Serviço Oráculo On-line) que a mente humana é algo muitíssimo vulnerável às intempéries. Obrigado, oráculo. Todos podemos ser vítimas de 5 minutos daquele diabólico descontrole nosso conhecido. Presa dele, podemos desejar liquidar quem corta a frente de nosso carro, o vizinho que faz barulho à noite, o cara que nos ofende, o bêbado que nos segura o braço, o gremista que nos provoca ou nosso cônjuge. Quem ouve e compreende Mahler sabe que mesmo alguém supremamente erudito e sábio, como o compositor austríaco, tem seus 5 minutos — qualquer um os tem! Pergunto: quando um destes acessos nos pega com uma arma a nosso dispor, podemos garantir seu uso apenas em caso extremo? E para a sociedade, é melhor uma agressão verbal ou física ou outra que possa tornar-se armada?
Após a tragédia, já sabemos o sentimento de todos. Que horror, coitada da vítima. O estudo que publico abaixo (Parte 3) e que não foi escrito por leigos no assunto, demonstra como o uso de armas por cidadãos despreparados é perigoso até para estes projetos de Rambo.
Os argumentos do Não são miseráveis. Vamos deixar de lado a boba filigrama jurídica do direito adquirido; afinal, este direito — aqui, trata-se do “direito adquirido de matar”, bem entendido — é análogo ao que mantém as aposentadorias integrais ao lado das citadas pensõeszinhas, pois não há dinheiro para todos, mas alguns adquiriram o direito de receber… argh! Os programas do Não copiam a revista Veja que, em sua edição de 5 de outubro, aponta sete razões para votar negativamente. Há ali, é claro, (1) o direito adquirido. Os outros motivos, em minha opinião, serviriam para zombarias se não estivessem na capa da maior revista brasileira. (2) Dizem que a polícia brasileira seria incapaz… E é, mas o cidadão comum está a substituí-la com brilhantismo; prova disso é que ele, quando armado, tem 56% mais chances de ser morto. (3) O ladrão temeria as armas… Não parece, pois grande parte dos roubos é realizada com o objetivo de tomar posse da arma do agredido; isto é, o cidadão armado é bastante cobiçado. (4) Os criminosos não obedeceriam a nova lei… Bem, este argumento é especialmente brilhante ao aspirar a obediência dos criminosos às leis. (5) Hitler, Stálin, Fidel, Mao e Mussolini proibiram seus povos de possuírem armas… Aqui seria melhor que nos esclarecessem a nova e grande Teoria da Conspiração que a revista, de forma olaviana, sugere. (6) O referendo desviaria a atenção do que deve ser feito: a limpeza e o aparelhamento da polícia, da justiça, etecétera…. Mas pô, nós, os do Sim, discordamos disto? E não param por aí: (7) dizem que aumentaria o contrabando de armas… Novo argumento estranho, que vai contra a recente tendência de evolução de nossa Polícia Federal (e não falem mal da PF, pois tornei-me fã de los federales brasileños!). Outros argumentos encontrados de forma esparsa é que antes deveríamos eliminar outras causas de morte, tais como a miséria, a corrupção, o automóvel, a droga e o cigarro. Bem, haveria então uma ordem natural para a resolução dos problemas do país e deveríamos escolher primeiro outro item?
Como vemos, há a argumentação do Não é obtusa e não resiste a simples equação: mais armas, mais mortes; menos armas, menos mortes. Para auxiliar o pessoal do Não, digo que preocupo-me apenas com os crimes realizados no campo. A Veja, zelosa porém tola, esqueceu-se disso.
[Entra novamente o grupo His Majesties Sagbutts and Cornetts. Desta vez, tocam a Music for His Majesty`s Sackbuts And Cornetts, de Matthew Locke. Saem.]
3. A opinião de quem conhece o assunto:
O Desarmamento em Questão (retirado do site do Instituto Latino Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente)
Fonte: Boletim IBCCRIM nº 132 – Novembro / 2003
Na data de 28 de agosto deste ano, o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais promoveu uma mesa de Estudo e Debate sobre “Porte de Armas e o Estatuto do Desarmamento”, com a participação do juiz Benedito Roberto Garcia Pozzer, 2º tesoureiro do IBCCrim, e do diretor-executivo do “Instituto Sou da Paz”, Denis Mizne.
A mesa versou sobre tema de alta relevância para a sociedade, que tem mostrado seu interesse sobre o assunto desde que este entrou na pauta do Congresso Nacional. Com os números alarmantes da violência nos grandes centros urbanos do País, a população afirma que pode e quer contribuir para a reversão desse quadro e assim se faz presente debatendo, questionando, procurando parlamentares e indo às ruas pela aprovação do Estatuto do Desarmamento.
A pretensão da nova lei não é a de solucionar todas as mazelas que assolam a segurança pública no País. A violência é visivelmente complexa e para combatê-la é necessário um conjunto de ações, que cuidem de outros fatores, além das armas. Dentre esses, a desigualdade social, a qualidade do ambiente urbano, a eficiência e credibilidade dos sistemas de justiça e segurança pública, a geração de renda, para citar apenas alguns.
Embora esteja posto um desafio maior para a política de segurança do País, a opinião pública enxerga acertadamente o desarmamento como um passo, dentre outros tantos necessários, nessa direção.
O Brasil, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), é o país nº 1 em homicídios praticados por armas de fogo. A cada 13 minutos um brasileiro é assassinado com o emprego desse instrumento.
Através de pesquisa de vitimização realizada pelo Ilanud/Datafolha em São Paulo em 1997, estimou-se a existência de armas de fogo em 8% das residências brasileiras. No Rio de Janeiro, a mesma pesquisa, em 1996, avaliou como provável a existência de armas em 9% dos lares cariocas.
São estimativas que não nos conferem números exatos sobre a quantidade de armas no País. O SINARM, Sistema Nacional de Armas, ligado ao Ministério da Justiça, no âmbito da Polícia Federal, e responsável pelo cadastramento de armas no País, tem em seu banco de dados apenas o registro de armas legais. Sobre as armas ilegais, provenientes do contrabando, do roubo, furtos e desvios, restam cifras incertas. Há quem se arrisque a dizer que são ao todo 8 ou até 20 milhões de armas espalhadas em nosso território.
O Brasil não é um país muito civilmente armado quando comparado a outros. Os EUA, conhecidos mundialmente pelo seu arsenal civil, e até mesmo a pacífica Suíça são exemplos de nações que dispõem, proporcionalmente, de um número muito maior de armas nas mãos da população. Contudo, a violência é fruto de cruzamento de fatores, e os números absolutos de armas em determinada localidade importam, quando comparados à predisposição das pessoas em recorrer a esses instrumentos.
A Suíça possui índices baixíssimos de violência. As armas são para aqueles cidadãos ferramentas da defesa nacional, para casos excepcionais, de um país sem exército. Nos EUA, por outro lado, como bem retrata o filme Tiros em Columbine, do diretor Michael Moore, o direito ao exercício de defesa patrimonial e pessoal justifica o emprego das armas nas relações interpessoais mais cotidianas.
Desta forma, é importante que a discussão sobre as armas esteja inserida dentro de um contexto que abranja, além dos números absolutos de armas, as características políticas, socioeconômicas e culturais de uma sociedade.
Nos grandes conglomerados brasileiros, o cruzamento, entre o acesso às armas e a predisposição a usá-las corriqueiramente na vida urbana, é refletido nos altos índices da violência. A circulação e o emprego de fato de armas de fogo carregam, anualmente, o peso de 40.000 mortos no País.
Estudos mostram que os homicídios, em nosso território, ocorrem muitas vezes por motivos fúteis. Em São Paulo, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública, quase 50% dos homicídios são cometidos por pessoas sem histórico criminal e por razões banais.
Dados semelhantes foram apresentados pelo sociólogo Guaracy Mingardi em uma pesquisa em 1996 que revelou que 46% dos casos de homicídio registrados na Zona Sul da capital, vítima e autor mantinham uma relação prévia de parentesco, vizinhança, amizade, ou outra proximidade qualquer. Esses dados apontam para o fato de que nós nos matamos em situações mundanas, como uma briga de trânsito, uma discussão com o vizinho, um mal-entendido no bar ou um desentendimento em casa. A predisposição para apertar o gatilho é alta.
No entanto, a justificativa mais comum para a compra da arma continua sendo a de pessoas “de bem” que adquirem um revólver legalmente com a finalidade de se proteger dos “bandidos”. A autodefesa pregada pelo recurso às armas, contudo, não é real nem eficaz.
Como demonstrado, aquela arma que, a priori, foi comprada para ser utilizada para a proteção da vida, é freqüentemente empregada contra um amigo, um parente ou vizinho em um momento no qual se perde a razão. O que poderia ser um mero bate-boca ou troca de safanões, desencadeia um fato irreversível – a morte.
Além disso, pesquisas sobre defesa e vitimização revelam que a posse da arma como forma de defesa é uma ilusão. Um cidadão armado tem 56% mais chance de ser assassinado em uma situação de roubo do que os que andam desarmados, de acordo com informações divulgadas pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo e pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais.
O fator surpresa e a familiaridade do agressor no dia-a-dia com a arma são elementos de desvantagem para a vítima.
Outro dado a ser levantado é que é comum que a arma legal, brasileira e de calibre permitido, adquirida por uma “pessoa de bem”, transforme-se em arma ilegal, por meio de roubo, furto ou desvio para a criminalidade.
Ignácio Cano, em pesquisa realizada sobre armas registradas e acauteladas, demonstrou que 75% dos crimes são cometidos com armas brasileiras e de calibre permitido, ou seja, provenientes das nossas próprias fábricas. Diferentemente, do que a mídia retrata, os criminosos não se utilizam, na prática, dos fuzis AR-15 ou submetralhadoras Uzi, mas sim das armas que saíram da indústria armamentícia nacional sem qualquer restrição. Daí, a importância de criarmos mecanismos que impeçam a venda de armas, a não ser em casos rigidamente excepcionados por lei.
No Estado de São Paulo, em 5 anos, cerca de 77.000 armas registradas foram roubadas, conforme números da divisão de Produtos Controlados da Polícia Civil. No Rio de Janeiro, segundo a Polícia Civil do Estado, a cada 5 horas, uma arma legal é roubada. Esses são dados oficiais, não incluindo as estimativas dos casos não notificados. Pode-se imaginar, portanto, como o mercado ilegal se serve literalmente das armas à disposição da sociedade civil.
Os argumentos a favor do desarmamento, no entanto, não param por aí.
No que tange aos acidentes e suicídios, os números também são expressivos. As Nações Unidas, em estudos sobre a regulação de armas, revelou que a cada 7 horas uma pessoa é vítima de acidentes com armas de fogo no Brasil. Pessoas com pouca familiaridade com esses instrumentos são atingidas inadvertidamente, sendo as crianças as figuras mais fragilizadas deste cenário.
Pesquisa mundialmente conhecida, publicada no New England Journal of Medicine, pelo dr. Arthur Kellerman, revela que os lares com armas de fogo têm 11 vezes mais chances de suicídio do que aqueles sem. O Rio Grande do Sul, Estado brasileiro com alta concentração de armas nas mãos de civis, é líder nesta modalidade de atentado contra a vida, contando com uma taxa de cerca de 10 suicídios em cada 100 mil habitantes.
Como vemos, não são poucos os argumentos a favor do desarmamento. A crença numa autodefesa armada é ingenuidade. Disseminadas pela população, as armas não protegem, mas matam. Indiscriminadamente. Elas deixam de colaborar com a segurança pública, para, ao contrário, contribuir para situações de instabilidade coletiva, corrosão do poder de ação do Estado, imposição de desafios à saúde pública e acréscimos de pesados custos à economia e à coletividade.
Por estas razões é que o Estatuto do Desarmamento ganha destaque na vida nacional. Também conhecido como Projeto de Lei nº 1.555, de 2003, o Estatuto visa substituir a Lei nº 9.437/97, ora em vigor, restringindo o acesso às armas de fogo. O referido projeto de lei apresenta inúmeros avanços no que concerne à matéria, como levantado pela mesa de debate realizada no IBCCRIM.
O primeiro deles diz respeito à restrição imposta à compra de armas. A lei em vigor é silente em relação ao assunto, apenas determinando o Certificado de Registro de Armas de Fogo como obrigatório. O Estatuto do Desarmamento vai além. Embora também determine a necessidade do registro junto ao SINARM, o art. 4º do referido diploma legal é claro ao impor uma série de requisitos àquele que queira adquirir uma arma de fogo. Além de demonstrar a efetiva necessidade, o comprador deve comprovar: idoneidade, através de certidões de antecedentes criminais, não respondendo por inquérito policial ou processo criminal; ocupação lícita e residência certa; além de capacidade técnica e aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo. Critérios estes minimamente necessários para a entrega de um instrumento com tamanho poder letal a um indivíduo indistinto.
Outro ponto importante diz respeito ao porte. O porte de armas, hoje, é considerado legal quando concedido por autoridade competente. O porte, para aqueles que não têm ou não obtiveram autorização, é ilegal e considerado crime pela Lei nº 9.437/97. Anterior à lei em vigor, o porte ilegal de armas era mera contravenção penal.
O Estatuto propõe a mudança desse quadro. Segundo suas previsões legais, fica proibido, como regra, o porte de arma de fogo, salvo exceções previstas em lei, como no caso das Forças Armadas, Polícias, Guardas Municipais, e outras instituições de natureza similar. A idade mínima para obtenção do porte, nos casos excepcionais, passa a ser de 25 e não mais 21 anos.
Avanço outro da lei em discussão é o da tipificação penal do tráfico internacional de arma de fogo, ora presente no art. 19 do Substitutivo apresentado pelo relator e deputado Luiz Eduardo Greenhalgh da Comissão de Constituição e Justiça e de Redação. O dispositivo legal, que tem pena prevista de reclusão de 4 a 10 anos e multa, é estratégico. Todas as medidas internas de restrição de armas não serão eficientes se não houver concomitantemente o amparo pela fiscalização das fronteiras, o combate ao contrabando e a imposição de regras sobre a importação e exportação de armas.
Aliada a essas medidas, está também a obrigatoriedade da destruição de armas e munições apreendidas, em menos de 48 horas. A proposta é inteligente e precavida, evitando que, após tantos esforços de diversas partes, estes instrumentos sejam desviados, retornando ao mercado.
No combate ao extravio de armas, temos também a responsabilização penal dos responsáveis por empresas de segurança privada e transportadoras que deixarem de registrar roubo, furto ou desvio de armas de fogo, acessórios ou munição sob sua guarda, nas primeiras 24 horas do ocorrido. O estatuto aqui visa impedir a conivência com a circulação ilegal de armamento.
Por último, vale lembrar que o projeto de lei em referência previu, para o futuro, a proibição não somente ao porte, mas também a comercialização de armas de fogo e munição em todo o território nacional, mediante aprovação de referendo popular a ser realizado em outubro de 2005.
Se aprovado o texto nestes termos, a sociedade brasileira, em 2005, será consultada e chamada a decidir sobre a proibição da venda de armas à população. O único pesar dessa medida é que fica ainda protelada, por mais 2 anos, uma decisão urgente, literalmente, de vida ou morte.
Aparentemente já é consenso entre nós o apoio à proibição ao comércio de armas no Brasil. Pesquisa realizada pelo Ibope, no mês de setembro deste ano, com amostragem de 145 municípios brasileiros, constatou que 80% dos entrevistados votariam a favor da proibição da venda de armas a civis em eventual referendo.
Os dados revelados pela população denunciam a insustentabilidade do cenário que protagonizamos – 76% da população das capitais se disseram interessados pelo assunto, enquanto este número é retratado por 61% nos municípios com mais de 100 habitantes. Dos entrevistados, 82% afirmaram ser a favor das medidas propostas pelo Estatuto e 65% declararam acreditar nas propostas do projeto de lei para ajudar a reduzir a violência no País.
Somos, portanto, a favor da aprovação do Estatuto do Desarmamento. O PL nº 1.555/03 é uma ótima proposta, embora não seja impecável e restem a ele, sim, algumas críticas – as quais, infelizmente, teremos que deixar para uma outra oportunidade.
Contudo, pesando prós e contras, estamos convencidos de que sua aprovação trará controle sobre a existência e circulação das armas em nossa sociedade, refletindo positivamente no quadro de morbidade do País. Retirando das mãos dos civis as armas que poluem e envenenam nossas vidas, estaremos avançando e disponibilizando esforços para outros desafios de importância crucial, em prol da segurança pública do Brasil.
Maria Eduarda Hasselmann de Oliveira Lyrio
Advogada e coordenadora de Justiça e Segurança do Instituto Sou da Paz
Esta é mais uma postagem coletiva do:
Acrescentado às 10h55 do dia 10/10: um amigo meu, que é cristão, solicita visitas aos sites que esclarecem sobre as posições, respectivamente, das igrejas católica (CNBB) e metodista a respeito do referendo do dia 23.
Também é uma questão de ascensorista, claro
Não podemos ignorar o botão que aperta o dedo do ascensorista…Afinal, sabe-se que FHC não atrai votos, e sim os espanta.
Campanha pela Memória e pela Verdade – OAB/RJ
Uma OAB digna e argentina? Notável! Parabéns MESMO!
Assine aqui o abaixo-assinado da Campanha pela Memória e pela Verdade, pela abertura dos arquivos da ditadura militar.
Em respeito e defesa da vida animal
Minha filha estava me ameaçando de morte. Exigia que eu postasse isso. Então tá.
O Projeto de Lei n. 215/2007, que institui o Código Federal de Bem-Estar Animal, de autoria do Deputado Federal Ricardo Tripoli (PSDB-SP), é um forte instrumento legal de defesa animal. Acompanha as exigências da União Européia, vedando práticas e regulamentando atividades na área de produção animal, experimentação e controle populacional de animais em meio urbano. Aprovar um projeto deste porte no Congresso Nacional é bastante complexo, pois a maioria dos parlamentares não se importa com a vida animal. Por isso, precisamos demonstrar a força das pessoas que amam e defendem os animais com este abaixo-assinado, pedindo urgência na aprovação do Código de Bem-Estar Animal.
Por outro lado, deputado aprova lei de “TORTURA DE ANIMAIS”. O deputado Edson Portilho, do Rio Grande do Sul, teve a desventura de criar um projeto de lei que permite que os animais sejam torturados e sacrificados em rituais religiosos. O parlamentar, sabendo que os protetores dos animais se manifestariam, fez a seguinte trama: marcou a apresentação para votação da lei num dia de julho, mas fez um chamado urgente e marcou a reunião às pressas, mais cedo. Os únicos avisados foram os demais deputados. Ou seja: não havia defesa. Os animais não tiveram oportunidade de ter pessoas que os representassem. Quem poderia responder por eles? E aconteceu o que mais temíamos: houve 32 votos contra os animais e apenas 2 a favor.
Endereço do Abaixo Assinado eletrônico:
–http://www.leideprotecaoanimal.com.br/
Não podemos deixar uma barbaridade dessas assim.
Precisamos de 500 mil assinaturas.
Entenda a crise financeira
Carrossel de Emoções
Há períodos em que as notícias enlouquecem de vez. Essas aqui me chamaram a atenção ultimamente por sua loucura:
1. Dom Dadeus Grings, na abertura de assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), afirmou que a “sociedade atual é pedófila”.
OK, Dom Dadeus, concordo com o Sr. Infelizmente, milhares de crianças têm seus futuros irremediavelmente prejudicados por causa da pedofilia. Este existe em toda a sociedade — independente de classes sociais — e temos de lutar contra ela. O que se deseja, sua besta, é que haja informação e que todos os pedófilos sejam punidos. Todos. E saiba que a pedofilia é o que ato mais próximo ao assassinato que conheço. Meça suas palavras, padreco.
2. Mano Menezes diz que uma nova eliminação do Corinthians na Libertadores não seria motivo para desespero no clube.
Absurdo autoexplicativo.
3. Promotores querem investigar peça em que garota de 16 anos mostra seio.
O musical O Despertar da Primavera está há um ano em cartaz e a menina tem carreira artística e autorização paterna para mostrar o que quiser. O Ministério Público suspeita que foi infringido o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). No espetáculo, a protagonista, a adolescente Malu Rodrigues (ao lado), exibe um dos seios e simula uma relação sexual. O pai da atriz, o auditor fiscal Sérgio Rodrigues tem autorização judicial para a filha atuar no palco e é obrigado pelo Conselho Tutelar do Rio a assistir a todas as exibições.
Quem sabe o Ministério Público não se preocupa com os padres ou a corrupção?
4 e 5 e 6. Por cinco votos a um, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou que a patente do princípio ativo do Viagra vai valer apenas até o próximo dia 20 de junho.
Os velhinhos do STJ devem ter legislado em causa própria. A Pfizer recorrerá ao Supremo, outro tribunal cheio de velhinhos… Mas não é bem este o absurdo. O absurdo foi o STF ter ratificado a Lei da Anistia, não a revisando.
Mas o pior MESMO foi Dilma Rousseff ter afirmado que revisar a Lei seria uma atitude de revanchismo. Desde quando Justiça é igual à Revanchismo? Como escreveu Rodrigo Cardia, revanchismo seria torturar o torturador. Prender quem mandou torturar é Justiça. Não é possível alguém com seu passado dizer isso, candidata.
Detalhes interessantes acerca da Corte de D. João VI
Petição «Cidadãos pela Laicidade»
Senhor Presidente da República Portuguesa,
Nós, cidadãs e cidadãos da República Portuguesa, motivados pelos valores da liberdade, da igualdade, da justiça e da laicidade, manifestamos, através da presente carta, o nosso veemente protesto contra as condições – oficialmente anunciadas – de que se revestirá a viagem a Portugal de Joseph Ratzinger, Papa da Igreja Católica.
Embora reconhecendo que o Estado português mantém relações diplomáticas com o Vaticano e que a religião católica é a mais expressiva entre a população nacional, não podemos deixar de sublinhar que ao receber Joseph Ratzinger com honras de chefe de Estado ao mesmo tempo que como dirigente religioso, o Presidente da República Portuguesa fomenta a confusão entre a legítima existência de uma comunidade religiosa organizada, e o discutível reconhecimento oficial a essa confissão religiosa de prerrogativas estatais, confusão que é por princípio contrária à laicidade.
Importa ter presente que o Vaticano é um regime teocrático arcaico que visa a defesa, propaganda e extensão dos privilégios temporais de uma religião, e que não reúne, de resto, os requisitos habituais de população própria e território para ser reconhecido como um Estado, e que a Santa Sé, governo da Igreja Católica e do «Estado» do Vaticano, não ratificou a Declaração Universal dos Direitos do Homem – não podendo portanto ser um membro de pleno direito da ONU – e não aceita nem a jurisdição do Tribunal Penal Internacional nem do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, antes utilizando o seu estatuto de Observador Permanente na ONU para alinhar, frequentemente, ao lado de ditaduras e regimes fundamentalistas.
Desejamos deixar claro que, se em Portugal há católicos dos quais uma fracção, mais ou menos importante, se regozijará com a visita de Joseph Ratzinger, há também católicos e não católicos para quem o carácter oficial da visita papal, o seu financiamento público e a tolerância de ponto concedida pelo Governo, são agressões perpetradas contra os princípios de laicidade do poder político que a própria Constituição da República Portuguesa institui.
Esta infracção da laicidade a que estão constitucionalmente vinculadas as autoridades republicanas torna-se ainda mais gritante e deletéria quando consideramos que se celebra este ano o Centenário da Implantação da República, de cujo legado faz parte o princípio de clara separação entre Estado e Igreja, contra o qual atentará qualquer confusão entre homenagens a um chefe de Estado e participação oficial dos titulares de órgãos de soberania em cerimoniais religiosos.
Declaramos também o nosso repúdio pelas posições veiculadas pelo Papa em matéria de liberdade de consciência, igualdade entre homens e mulheres, autodeterminação sexual de adultos, e outras matérias políticas.
Porque nos contamos entre esses cidadãos que entendem que a laicidade da política é condição fundamental das liberdades e direitos democráticos em cuja defesa e extensão estão apostados, aqui deixamos o nosso protesto e declaramos a Vossa Excelência o nosso propósito de o mantermos e alargarmos através de todos os meios de expressão e acção ao nosso alcance enquanto cidadãos activos da República Portuguesa.
Meu caro amigo, as coisas estão melhorando
Por Daniel Cariello e Thiago Araújo, da revista Brazuca | Foto: Jorge Bispo
“Se tiver bola, eu dou a entrevista”. Essa foi a única exigência do nosso companheiro de pelada, Chico Buarque, numa caminhada entre o metrô e o campo. Uma bola. E eu acabara de informar que o dono da redonda não viria à pelada de quarta-feira. Éramos dez amantes do futebol, órfãos.
Sem saber se esse era um gol de letra dele para fugir da solicitação de seus parceiros jornalistas, ou uma última esperança, em forma de pressão, de não perder a religiosa partida, eu, que não creio, olhei para o céu e pedi a Deus: uma pelota!
Nada de enigma, oferenda ou golpe de Estado. Ele estava ali, o cálice sagrado da cultura brasileira, que sucumbiu ao ver não uma, mas duas bolas chegarem à quadra pelas mãos de Mauro Cardoso, mais conhecido como Ganso. A partir daí, nada mais alterou o meu ânimo e o da minha dupla de ataque-entrevista, Daniel Cariello. Apesar de termos jogado no time adversário do ilustre entrevistado, tomado duas goleadas consecutivas de 10 x 6 e 10 x 1, tínhamos a certeza de que ele não iria trair dois dos principais craques do Paristheama, e sua palavra seria honrada.
Mas o desafio maior não era convencer o camisa 10 do time bordeaux-mostarda parisiense a ceder duas horas de sua tarde ensolarada de sábado. O que você perguntaria ao artista ícone da resistência à ditadura, parceiro de Tom Jobim, Vinicius de Morais e Caetano Veloso, escritor dos best sellers “Estorvo”, “Benjamin”, “Budapeste” e “Leite Derramado”, autor de “A banda”, “Essa moça tá diferente”, “O que será”, “Construção” e da canção de amor mais triste jamais escrita, “Pedaço de mim”?
Admirado e amado por todas as idades, estudado por universitários, defendido por Chicólatras, oráculo no Facebook, onipresente nas manifestações artísticas brasileiras – sua modéstia diria “isso é um exagero”, mas sabemos que não é –, sua reação imediata ao ser comparado a Deus foi “em primeiro lugar, não acredito em Deus. Em segundo, não acredito em mim. Essa é a única coisa que pode nos ligar. Então, pra começo de conversa, vamos tirar Deus da mesa e seguir em frente”.
Enfim, ainda não creio que entrevistamos Deus, quase sem falar de Deus. Mas foi com ele mesmo que aprendi uma lição, talvez um mandamento: acreditar em coisas inacreditáveis. (Thiago Araújo)
Você assume que não acredita em Deus, mas existem trechos nas suas músicas como “dias iguais, avareza de Deus” ou “eu, que não creio, peço a Deus”. No Brasil, é complicado não acreditar em Deus?
Eu não tenho crença. Eu fui criado na Igreja Católica, fui educado em colégio de padre. Eu simplesmente perdi a fé. Mas não faço disso uma bandeira. Eu sou ateu como o meu tipo sanguíneo é esse.
Hoje há uma volta de certos valores religiosos muito forte, acho que no mundo inteiro. O que é perigoso quando passa para posições integristas e dá lugar ao fanatismo. O Brasil talvez seja o pais mais católico do mundo, mas isso é um pouco de fachada. Conheço muitos católicos que vão à umbanda, fazem despacho. E fica essa coisa de Deus, que entra no vocabulário mais recente, que me incomoda um pouquinho. Essa coisa de “vai com Deus”, “fica com Deus”. Escuta, eu não posso ir com o diabo que me carregue? (Risos). Tem até um samba que fala algo como “é Deus pra lá, Deus pra cá – e canta – Deus já está de saco cheio” (risos).
Você já foi em umbanda, candomblé, algo do tipo?
Já, eu sou muito curioso. A mulher jogou umas pipocas na minha cabeça, sangue, disse que eu estava cheio de encosto. Eu fui porque me falaram “vai lá que vai ser bom”. Passei também por espíritas mais ortodoxos, do tipo que encarnava um médico que me receitou um remédio para o aparelho digestivo. Aí eu fui procurar o remédio e ele não existia mais. O remédio era do tempo do médico que ele encarnava (risos).
Já tive também um bruxo de confiança, que fez coisas incríveis. Aquela música do Caetano dizia isso muito bem, “quem é ateu, e viu milagres como eu, sabe que os deuses sem Deus não cessam de brotar.” Eu vi cirurgias com gilete suja, sem a menor assepsia, e a pessoa saía curada. Estava com o joelho ferrado e saía andando. Eu fui anestesista dessa cirurgia. A anestesia era a música. O próprio Tom Jobim tocava durante as cirurgias. Eu toquei para uma dançarina que estava com problema no joelho. Ela tinha uma estreia, mas o ortopedista disse “você rompeu o menisco”. Ela estreou na semana seguinte, e na primeira fila estavam o ortopedista e o bruxo (risos).
Uma vez, estava com um problema e fui ao médico. Ele me tocou e não viu nada. Aí eu disse “olha, meu bruxo, meu feiticeiro, quando ele apertava aqui, doía”. Ele começou a dizer “mas essa coisa de feitiçaria…” e atrás dele tinha um crucifixo com o Cristo. Daí eu perguntei “como você duvida da feitiçaria, mas acredita na ressurreição de Cristo?”. Eu acho isso uma incongruência. Gosto de acreditar um pouco nisso, um pouco naquilo, porque eu vejo coisas inacreditáveis. Eu não acredito em Deus, acredito que há coisas inacreditáveis.
De vez em quando você dá uma escapada do Brasil e vem a Paris. Isso te permite respirar?
Muito mais. Eu aqui não tenho preocupação nenhuma, tomo uma distância do Brasil que me faz bem. Fico menos envolvido com coisas pequenas que acabam tomando todo o meu tempo. Aqui, eu leio o Le Monde todos os dias, e fico sabendo de questões como o Cáucaso, os enclaves da antiga União Soviética, que no Brasil passam muito batidos. O Brasil, nesse sentido, é muito provinciano, eu acho que o noticiário é cada vez mais local.
Meu pai, que era um crítico literário e jornalista, foi morar em Berlim no começo dos anos trinta. Foi lá, onde teve uma visão de historiador, de fora do país, que ele começou a escrever Raízes do Brasil, que se tornou um clássico. A possibilidade de ter esse trânsito, de ir e voltar, eu acho boa. É como você mudar de óculos, um para ver de longe e outro para ver de perto.
Nesse seu vai e vem Brasil-França, o que você traria do Brasil para a França, e vice-versa?
Eu traria pra cá um pouquinho da bagunça, da desordem. Os nossos defeitos, que acabam sendo também nossas qualidades. O tratamento informal, que gera tanta sujeira, ao mesmo tempo é uma coisa bonita de se ver. Você tem uma camaradagem com um sujeito que você não conhece. Aqui existe uma distância, uma impessoalidade que me incomoda.
Para o Brasil, eu gostaria de levar também um pouco dessa impessoalidade. Da seriedade, principalmente para as pessoas que tratam da coisa pública. Não que não exista corrupção na França.
Outra coisa que eu levaria pra lá é o sentimento de solidariedade, que existe entre os brasileiros que moram fora. Isso eu conheci no tempo que eu morava fora, e vejo muito aqui através das pessoas com as quais convivo. Eles se juntam. Como se dizia, “o brasileiro só se junta na prisão”. Os brasileiros também se juntam no exílio, na diáspora.
Falando em exílio, tem uma história curiosa de Essa moça tá diferente, a sua música mais conhecida na França.
É. A coisa de trabalho (N.R.: na Itália, onde Chico estava em exílio político, em 1968) estava só piorando e o que me salvou foi uma gravadora, a Polygram, pois minha antiga se desinteressou. A Polygram me contratou e me deu um adiantamento. E consegui ficar na Itália um pouco melhor. Mas eu tinha que gravar o disco lá. Eu gravei tudo num gravador pequenininho. Um produtor pegou essas músicas e levou para o Brasil, onde o César Camargo Mariano escreveu os arranjos. Esses arranjos chegaram de volta na Itália e eu botei minha voz em cima, sem que falasse com o César Camargo. Falar por telefone era muito complicado e caro. Então foi feito assim o disco. É um disco complicado esse.
Você acabou de citar o Le Monde. Para nós, que trabalhamos com comunicação, sempre existiu uma crítica pesada contra os veículos de massa no Brasil. Você acha que existe um plano cruel para imbecilizar o brasileiro?
Não, não acredito em nenhuma teoria conspiratória e nem sou paranoico. Agora, aí é a questão do ovo e da galinha. Você não sabe exatamente. Os meios de comunicação vão dizer que a culpa é da população, que quer ver esses programas. Bom, a TV Globo está instalada no Brasil desde os anos 60. O fato de a Globo ser tão poderosa, isso sim eu acho nocivo. Não se trata de monopólio, não estou querendo que fechem a Globo. E a Globo levanta essa possibilidade comparando o governo Lula ao governo Chavez. Esse exagero.
Você acha que a mídia ataca o Lula injustamente?
Nem sempre é injusto, não há uma caça às bruxas. Mas há uma má vontade com o governo Lula que não existia no governo anterior.
E o que você acha da entrevista recente do Caetano Veloso, onde ele falou mal do Lula e depois acabou sendo desautorizado pela própria mãe?
Nossas mães são muito mais lulistas que nós mesmos. Mas não sou do PT, nunca fui ligado ao PT. Ligado de certa forma, sim, pois conheço o Lula mesmo antes de existir o PT, na época do movimento metalúrgico, das primeiras greves. Naquela época, nós tínhamos uma participação política muito mais firme e necessária do que hoje. Eu confesso, vou votar na Dilma porque é a candidata do Lula e eu gosto do Lula. Mas, a Dilma ou o Serra, não haveria muita diferença.
O que você tem escutado?
Eu raramente paro para ouvir música. Já estou impregnado de tanta música que eu acho que não entra mais nada. Na verdade, quando estou doente eu ouço. Inclusive ouvi o disco do Terça Feira Trio, do Fernando do Cavaco, e gostei. Nunca tinha visto ou ouvido formação assim. Tem ao mesmo tempo muita delicadeza e senso de humor.
A música francesa te influenciou de alguma maneira?
Eu ouvi muito. Nos anos 50, quando comecei a ouvir muita música, as rádios tocavam de tudo. Muita música brasileira, americana, francesa, italiana, boleros latino americanos. Minha mãe tinha loucura por Edith Piaf e não sei dizer se Piaf me influenciou. Mas ouvi muito, como ouvi Aznavour.
O que me tocou muito foi Jacques Brel. Eu tinha uma tia que morou a vida inteira em Paris. Ela me mandou um disquinho azul, um compacto duplo com Ne me quitte pas, La valse à mille temps, quatro canções. E eu ouvia aquilo adoidado. Foi pouco antes da bossa nova, que me conquistou para a música e me fez tocar violão. As letras dele ficaram marcadas para mim.
Eu encontrei o Jacques Brel depois, no Brasil. Estava gravando Carolina e ele apareceu no estúdio, junto com meu editor. Eu fiquei meio besta, não acreditei que era ele. Aí eu fui falar pra ele essa história, que eu o conhecia desde aquele disco. Ele disse “é, faz muito tempo”. Isso deve ter sido 1955 ou 56, esse disquinho dele. Eu o encontrei em 67. Depois, muito mais tarde, eu assisti a L’homme de la mancha, e um dia ele estava no café em frente ao teatro. Eu o vi sentado, olhei pra ele, ele olhou pra mim, mas fiquei sem saber se ele tinha olhado estranhamente ou se me reconheceu. Fiquei sem graça, pois não o queria chatear. Ele estava ali sozinho, não queria aborrecer. Mas ele foi uma figuraça. Eu gostava muito das canções dele. Conhecia todas.
Falando de encontros geniais, você tem uma foto com o Bob Marley. Como foi essa história?
Foi futebol. Ele foi ao Brasil quando uma gravadora chamada Ariola se estabeleceu lá e contratou uma porção de artistas brasileiros, inclusive eu, e deram uma festa de fundação. O Bob Marley foi lá. Não me lembro se houve show, não me lembro de nada. Só lembro desse futebol. Eu já tinha um campinho e disseram “vamos fazer algo lá para a gravadora”. Bater uma bola, fazer um churrasco, o Bob Marley queria jogar. E jogamos, armamos um time de brasileiros e ele com os músicos. Corriam à beça.
Vocês fumaram um baseado juntos?
Não. Dessa vez eu não fumei.
E essa sua migração para escritor, isso é encarado como um momento da sua vida, já era um objetivo?
Isso não é atual. De vinte anos pra cá eu escrevi quatro romances e não deixei de fazer música. Tenho conseguido alternar os dois fazeres, sem que um interfira no outro.
Eu comecei a tentar escrever o meu primeiro livro porque vinha de um ano de seca. Eu não fazia música, tive a impressão que não iria mais fazer, então vamos tentar outra coisa. E foi bom, de alguma forma me alimentou. Eu terminei o livro e fiquei com vontade de voltar à musica. Fiquei com tesão, e o disco seguinte era todo uma declaração de amor à música. Começava com Paratodos, que é uma homenagem à minha genealogia musical. E tinha aquele samba (cantarola) “pensou, que eu não vinha mais, pensou”. Eu voltei pra música, era uma alegria. Agora que terminei de escrever um livro já faz um ano, minha vontade é de escrever música. Demora, é complicado. Porque você não sai de um e vai direto para outro. Você meio que esquece, tem um tempo de aprendizado e um tempo de desaprendizado, para a música não ficar contaminada pela literatura. Então eu reaprendo a tocar violão, praticamente. Eu fiquei um tempão sem tocar, mas isso é bom. Quando vem, vem fresco. É uma continuação do que estava fazendo antes. Isso é bom para as duas coisas. Para a literatura e para a música.
Tanto em Estorvo quanto em Leite derramado o leitor tem uma certa dificuldade em separar o real do imaginário. Você, como seus personagens, derrapa entre essas duas realidades?
Eu? O tempo todo, agora mesmo eu não sei se você esta aí ou se eu estou te imaginando (gargalhadas).
Completamente. Eu fico vivendo aquele personagem o tempo todo. Entrando no pensamento dele. Adquiro coisas dele. Você pode discordar, mas chega uma hora que tem que criar uma empatia ou uma simpatia. Você cria uma identificação. E alguma coisa no gene é roubado mesmo de mim, algumas situações, um certo desconforto, não saber bem se você é real, se você está vivendo ou sonhando aquilo. Por exemplo, agora que ganhamos de 10 a 1 (referência à pelada que jogamos três dias antes), eu saí da quadra e falei: “acho que eu sonhei. Não é possível que tenha acontecido” (risos).
Você é fanático por futebol?
Não sou fanático por nada. Mas eu tenho muito prazer em jogar futebol. Em assistir ao bom futebol, independentemente de ser o meu time. Quando é o meu time jogando bem, é melhor ainda, pois eu consigo torcer. Agora mesmo, no Brasil, tinha os jogos do Santos.
Mas eu vou menos aos estádios. Eu não me incomodo de andar na rua, mas quando você vai a alguns lugares, tem que estar com o cabelo penteado, tem que estar preparado para dar entrevistas. Aqui, eu estou dando a minha última (risos). Aqui, é exclusiva. Fiz pra Brazuca e mais ninguém. Eu quero ver o pessoal jogar bola. Então eu vejo na televisão. E quando não estou escrevendo, aí eu vejo bastante.
É verdade que um dia o Pelé ligou na sua casa, lamentando os escândalos políticos no Brasil, e disse “é, Chico, como diz aquela música sua: ‘se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão’”?
É verdade (risos). Eu falei “legal, Pelé, mas essa música não é minha”. O Pelé é uma grande figura. Nós gravamos um programa juntos. Brincamos muito. Conheci o Pelé quando eu fazia televisão em São Paulo, na TV Record, e me mudei para o Rio. Os artistas eram hospedados no Hotel Danúbio, em São Paulo. O mesmo onde o Santos se concentrava. Então, eu conheci o Pelé no hotel. E sempre que a gente se encontra é igual, porque eu só quero falar de futebol e ele só quer saber de música. Ele adora fazer música, adora cantar, adora compor. Por ele, o Pelé seria compositor.
E você, trocaria o seu passado de compositor por um de jogador?
Trocaria, mas por um bom jogador, que pudesse participar da Copa do Mundo. Um pacote completo. Um jogador mais ou menos, aí não.
Você ainda pretende pendurar as chuteiras aos 78 anos, como afirmou?
Não. Já prorroguei. Tava muito cedo. Agora, eu deixei em aberto. Podendo, vou até os 95 (risos).
O Niemeyer está com 102 anos e continua trabalhando. Aliás, não só trabalhando como ainda continua com uma grande fama de tarado (risos).
Ele me falou isso. Eu fui à festa dele de 90 anos e ele me disse: “o importante é trabalhar e ó (fez sinal com a mão, referente a transar)”. Aí eu falei “é mesmo?” e ele respondeu “é mesmo”.
Falando nisso, o Vinícius foi casado nove vezes. Você acha a paixão essencial para a criação?
Sem dúvida. Quando a gente começa – isso é um caso pessoal, não dá pra generalizar – faz música um pouco para arranjar mulher. E hoje em dia você inventa amor para fazer música. Se não tiver uma paixão, você inventa uma, para a partir daí ficar eufórico, ou sofrer. Aí o Vinícius disse muito bem, né? “É melhor ser alegre que ser triste… mas pra fazer um samba com beleza, é preciso um bocado de tristeza, é preciso um bocado de tristeza, senão não se faz um samba não”.
Quando eu falo que você inventa amores, você também sofre por eles. “E a moça da farmácia? Ela foi embora! Elle est partie en vacances, monsieur!”. E você não vai vê-la nunca mais. Dá uma solidão. Eu estou fazendo uma caricatura, mas essas coisas acontecem. Você se encanta com uma pessoa que você viu na televisão, daí você cria uma história e você sofre. E fica feliz e escreve músicas.
Pra finalizar. Se você fosse escrever uma carta para o seu caro amigo hoje, o que você diria?
Volta, que as coisas estão melhorando!
MAIS
A entrevista foi publicada originalmente na revista Brazuca, uma publicação bilíngue sobre cultura brasileira que circula em Paris e Bruxelas. A partir de 3 de maio, a degravação completa estará disponível no site de Brazuca. Também lá, é possível baixar em pdf, desde já, a edição completa de março-abril (inclusive com as fotos de Chico…)
Os argentinos e as contradições de José Serra: depois, quando eu digo que eles são mais espertos…
Mejor joia que farsa
Por Martín Granovsky , publicado no Pagina 12
Los brasileños deberían escribir un libro y mandarlo para aquí: un manual para entender a José Serra. El candidato de oposición para las elecciones presidenciales de octubre dijo primero que el Mercosur es “una farsa”. Después pidió “flexibilizar el Mercosur”. ¿Cómo se flexibiliza una farsa? Misterio. Lo que queda claro, desde la Argentina, es que José Serra asocia el Mercosur con una valoración negativa. Para él, en cambio, sería positivo que Brasil firmase muchos tratados de libre comercio. Según Serra, Brasil no puede hacerlo, justamente, por culpa de las barreras que le impondría el Mercosur. Es decir que su horizonte de política exterior ideal luce muy sencillo: menos Mercosur y muchos TLC.
El actual gobernador del estado de San Pablo acaba de tirar dos mitos al tacho. El primero es que nadie en Brasil discute la política exterior, que vendría demostrando una continuidad sin fisuras desde que Pedro I se proclamó emperador de una monarquía constitucional en 1822. El segundo es que la política exterior nunca forma parte de la política interna, y menos de una campaña electoral.
Según datos del Intal, el Instituto para la Integración de América latina, cuando en 2009 el comercio internacional se desplomó también bajaron las exportaciones brasileñas a la Argentina, Uruguay y Paraguay, los socios del Mercosur. Las exportaciones bajaron 27,2 por ciento y las importaciones bajaron 12,2 por ciento. Pero la mirada histórica con detalle es más interesante:
– En 2008, cuando la crisis internacional ya había comenzado, las exportaciones se habían incrementado en un 25,3 por ciento respecto del 2007 y las importaciones en un 28,5 por ciento.
– En medio de la peor crisis desde los años ’30, el valor del intercambio con el Mercosur fue de 28.935 millones de dólares en 2009. Casi igual a la cifra registrada en 2007, antes de la crisis: 28.978 millones de dólares.
O sea que la debacle mundial no fue una debacle regional. Serra podría decir que las cifras demuestran su posición: más comercio y menos arancel externo común. Pero, ¿así funciona el mundo? ¿O también el volumen de intercambio y las proporciones que representa el otro socio en el comercio exterior de cada país tienen un fuerte condimento de política internacional?
Ni Brasil ni la Argentina sufrieron el 2009 como Grecia. No sufren tampoco el 2010 de los griegos, caso paradigmático actual de un país obligado a seguir el camino de contracción fiscal y económica sufrida ya por los brasileños con Fernando Henrique Cardoso (FHC) y por los argentinos con Carlos Menem. Pero Grecia está lejos. Más cerca, México sufrió más la crisis porque el 80 por ciento de su intercambio depende de la relación comercial con los Estados Unidos, porque los migrantes a los Estados Unidos disminuyeron sus remesas a casa por falta de trabajo y porque las migraciones bajaron por la combinación de restricciones y políticas como la xenofobia de Arizona.
Brasil y la Argentina fueron menos golpeados por la debacle. En parte cada uno amortiguó el golpe por una política macroeconómica neodesarrollista que compensó la caída apostando a la reactivación y no al ajuste. Y en parte el hecho concreto es que no necesitaron de ningún TLC para seguir con su estrategia de comercio diversificado, entre ellos mismos, con otros socios de la región o con China.
El Mercosur no es el paraíso, en buena medida porque fue vaciado de política por la dupla FHC-Menem con ayuda de Domingo Cavallo, el ministro que adoraba las áreas de libre comercio y detestaba al Mercosur tanto como Serra.
El punto clave es que hoy el Mercosur representa uno de los distintos resultados concretos del armado político regional. Otro resultado es la Unasur, en construcción desde el 9 de diciembre de 2004, que agrupa a toda Sudamérica. Otro más es el Consejo de Defensa Sudamericano. Y la clave de la estabilidad sudamericana es la sólida relación entre la Argentina y Brasil, el vecino de la Argentina que representa la “B” del grupo BRIC junto a India, Rusia y China. No es poco: la región no presenta ningún conflicto limítrofe importante y revela una sintonía mayoritaria y un nivel de paz y previsibilidad que hoy son una rareza mundial. El compromiso alcanzado por los presidentes Cristina Kirchner y José “Pepe” Mujica de respetar el Tratado del Río Uruguay no borra ningún error de cada país en el pasado, pero marca un modo inteligente de recomponer el daño en las relaciones.
Cuando la palabra “farsa” aparece en medio de esta construcción imperfecta pero persistente conviene encender las luces de alerta. ¿Serra –como Eduardo Duhalde aquí con su crítica a los juicios por crímenes de lesa humanidad– eligió la espectacularidad para diferenciarse de Lula y de la candidata del PT Dilma Rousseff? Es probable, pero en su caso conviene tener en cuenta que siempre receló de la relación privilegiada con la Argentina. Si además ignora las construcciones institucionales colectivas, tal vez esté indicando que en su opinión los objetivos regionales deben disolverse en múltiples TLC particulares.
Pero la apuesta a favor del modelo de los TLC no serviría para amortiguar una crisis feroz. Tampoco es útil la receta para solucionar por medio de la negociación, como ya sucedió, tensiones políticas como las vividas en los últimos años en los casos de Bolivia, de Colombia, de Venezuela y de Ecuador, o para dar un horizonte de inclusión a Cuba con el primer encuentro de presidentes de América latina y el Caribe.
No son gestos retóricos. Cuanto más intensa sea la convivencia regional será más fácil para cada país negociar en un mundo turbulento. Sudamérica probó que puede mantener diferencias con los Estados Unidos, como cuando rechazó el área de Libre Comercio de las Américas, un tema que hoy parece archivado para todos, vaya a saber si también para Serra, y a la vez evitar la hostilidad infantil con Washington. Brasil y la Argentina, por tomar de ejemplo a los dos socios mayores del Mercosur, tuvieron una postura común frente a la deuda: se desengancharon del Fondo Monetario Internacional, aumentaron sus reservas, abandonaron el modelo adictivo de absorción de capitales y desconectaron la mecha común que unía a dos bombas, la deuda interna y la deuda externa. Los dos países plantean ahora reformas democratizadoras en el FMI y los otros organismos multilaterales. Y consiguieron que cada diferencia en el comercio quede limitada a un pequeño porcentaje de su intercambio bilateral (es menor al 10 por ciento del total) y pueda ser negociada sin escaladas políticas.
Con esta política Brasil y la Argentina crecieron y disminuyeron la indigencia y la miseria. Lo mismo hizo Uruguay con Tabaré Vázquez primero y ahora con Mujica, y eso intenta Paraguay con Fernando Lugo. El resultado no está tan mal, si se lo compara con épocas anteriores de recesión o, como en la primera etapa Cavallo-Menem, de crecimiento sin mayor justicia social ni aumento del empleo.
¿Qué farsa querrá montar Serra en Brasil? Con FHC y Menem, dos tipos divertidos cada uno a su modo, ambos países terminaron llorando. Y en la vida, para decirlo en brasileño, siempre es mejor la joia.
Ciro Gomes passa vexame literário
Ciro, meu caro.
Sei que é complicado ter uma mulher que todos gostariam de comer e ainda sentir-se traído por seu partido, mas tenho um duro conselho a lhe dar: retire do ar imediatamente esta porra de seu blog.
Meu amigo, este poema só foi escrito por Maiakóvski nos “.ppt” que Patrícia recebe. Este poema foi escrito por alguém com bem menos grife, o poeta brasileiro Eduardo Costa — não confundir com o ex-volante do Grêmio e do São Paulo.
É que o título atrapalha, Ciro. O nome do poema de Eduardo é Na Cama, com Patríc…, ops, desculpe, No Caminho, com Maiakóvski. É imenso e lá encontramos o trecho…
Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
É o seu texto, certo? Informo-lhe também que há um poema, Intertexto, de Brecht, que é quase igual, viu?
Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
E há um texto de 1933, de autoria de Martin Niemöller, que vai no mesmo lenga-lenga:
Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar.
Então, retire-se ao menos com dignidade literária, providenciando a alteração da autoria e me recomende à Patrícia. Diga para ela deixar Waldick e me procurar.
Um abraço de quem não ia mesmo votar em ti, bobão.
Milton Ribeiro
O Politicamente Correto
Se você tem de escrever um trabalho para a escola ou a faculdade sobre o politicamente correto, copie daqui, está pronto e é grátis (free and copyleft)!
Introdução
É possível definir algo que não tem significado? Talvez seja possível caracterizá-lo. A expressão “politicamente correto” é uma triste variação da palavra-valise de Lewis Carrol. Se lá uma palavra agregava duas ou mais, aqui ela se mostra sem conteúdo algum. Então, basta abrir a valise para lá guardar o marxismo, o catolicismo, a boa razão, o motivo inconfessável, o freudismo ou o fascismo. Normalmente, quem utiliza o politicamente correto vê o mundo segundo o seu próprio critério de bom senso – do certo e do errado – , e vê o mundo e a história de forma maniqueísta, sendo o politicamente correto o bem e o politicamente incorreto, o mal. O mundo deixa de ser visto como um longo processo protagonizado por seres e consciências as mais diversas, passando a ser examinado de forma estanque, como se criado ontem. Tal perspectiva foi , evidentemente, concebida pela decadência do espírito crítico coletivo e pela falta de cultura sólida ou refinada.
Como podemos nos livrar desta peste?
Em nosso tempo, a mídia ou quaisquer redes de comunicação adquiriram grande importância e é precisamente ela a responsável por essa epidemia. A profilaxia é simples: a primeira coisa que precisamos fazer é identificar seu vetor, onde ele circula. Ora, ele circula através do vocabulário que utilizamos. Tal fato já demonstra sua debilidade, pois, apesar de se referir a fatos reais, a culpa nos é normalmente inoculada através de um ataque a nosso vocabulário. O contra-ataque que devemos usar é a renúncia à toda terminologia politicamente correta. Por exemplo, devemos dizer “putas” em vez de “profissionais do sexo”, “surdo” em vez de “deficiente auditivo”, “cegueira para cor” em vez de “daltonismo”, “maconheiro” em vez de “usuário de drogas leves”. O mesmo vale para todas as categorias sexuais. E onde inventaram que chamar alguém de negro é agressivo se o próprio movimento autodenomina-se Movimento Negro? (Um amigo de meu filho diz que os gaúchos são grosseiros ao chamar o doce “brigadeiro” de “negrinho” – deveriam chamá-lo “afrodescendentezinho”, claro…).
Abrangência
O politicamente correto é tão mutinacional quanto o cinema americano. Aliás, nasceu nas universidades americanas daquele país e tomou o mundo. Como se faz identificar uma perigosa pessoa inoculada pelo vírus do “politicamente correta”? É difícil fazê-lo rapidamente, requer alguma convivência, pois geralmente são pessoas que se consideram tolerantes. Então, é preciso fazê-las praticar a tolerância. Exato, elas não conseguirão. Sairão dizendo coisas como “Você não entendeu coisa nenhuma”, etc. Sim, o mundo é um local horroroso.
O perigo
A verdade é que o politicamente correto está entre nós e se apresenta sempre com frases pseudo-bondosas e argumentos de fácil assimilação. Temos de rechaçar imeditamente esta falsa inocência e desconstruir a facilidade de assimilação. É necessário, do mesmo modo, prevenir-se contra o mimetismo vocabular. Sempre enfadonho, com necessidades de repetição a fim de ampliar a estupidez dos seres humanos, o vocabulário politicamente correto é o principal veículo de contágio. Porém, trata-se de uma fé débil e, como tal, não resiste a uma aplicação do espírito crítico. É fundamental desconfiar das opiniões generalizadas: o mais tolo espírito contraditório vale mais do que a aceitação daquilo que a mídia nos dá. Lembre-se sempre da Primeira Lei de Milton: A Ignorância Não Gera Dúvidas, a qual agora adapto para A Convicção Cega Não Alcança Profundidade Alguma (OK, Cioran disse algo parecido).
A desinformação
Na verdade, o politicamente correto prepara o terreno de forma ideal para a desinformação e o crescimento de nossa estupidez. Quando o politicamente correto vencer, o mundo estará preparado para receber qualquer propaganda através de termos repetidos ad nauseum, os quais consistem em conceitos simples e imbecis. Esta será a nova opinião pública globalizada. Será negar a história e a complexidade, será a idiotia em seu estado mais puro. E esta opinão pública aceitará qualquer ação, compreendendo e absolvendo seus manipuladores. Opa, mas isso já não ocorre?
Inspiração: aqui.
Papa Bento XVI em marca de preservativos?
Segundo o ministério britânico dos Negócios Estrangeiros, o Papa devia lançar sua própria marca de preservativos, abençoar o casamento homossexual e ordenar mulheres católicas. Estas são as sugestões que aparecem quando faltam poucos meses para a visita de Ratzinger ao Reino Unido — ele não impõe sua presença no país desde 1982.
Lançadas numa reunião para preparar “uma visita ideal” de Bento XVI ao país em setembro, as ideias constam num memorando, mas nunca deviam ter vindo a público. Fuga de informação: foram publicadas nas páginas do “Sunday Telegraph”. Resultado: o “Foreign Office” teve de apresentar desculpas ao Vaticano.
“Trata-se de um documento estúpido, que não representa em nenhum caso a posição do Ministério das Relações Externas, nem do governo britânico”, assegurou um porta-voz do ministério. O Ministro dos Negócios Estrangeiros David Miliband, afirmou estar “horrorizado” e o embaixador britânico no Vaticano, Francis Campbell, reuniu-se com vários funcionários da Santa Sé para transmitir os arrependimentos de Londres.
Pô, eu achei ótimas as sugestões!
Veja faz candidatura Serra bombar: abaixo, a capa e as entusiasmadas adesões!
Jogo pesado: Datafolha frauda pesquisa
(recebido por e-mail)
O Datafolha, ao registrar sua pesquisa no TSE, declarou:
Plano Amostral:
“… Os dados utilizados para definição e seleção da amostra são baseados no IBGE (censo 2000 e estimativas 2009)…”
Ao observamos o primeiro gráfico abaixo vemos que não houve fraude na pesquisa de fevereiro, pois a seleção da amostra corresponde aos dados do IBGE.
Para quem não gosta de matemática e gráficos, basta observar no desenho, que o tamanho das barras amarelas são praticamente iguais ao tamanho das barras marrons em todas as regiões, no primeiro gráfico.
Já no segundo gráfico (pesquisa de março), houve fraude no plano amostral do Datafolha, como se pode notar no tamanho das barras marrons e amarelas bem diferentes.
O Instituto continuou declarando à justiça eleitoral que o plano amostral era baseado no IBGE, porém só as barras amarelas permanecem na mesma proporção que tinham em fevereiro (pois os dados do eleitorado do IBGE não mudam de proporção em um mês), mas as barras marrons do Datafolha não acompanharam:
Foram “esticadas” no Sudeste, onde está São Paulo, e José Serra tem índices mais altos.
Foram “encurtadas” nas demais regiões, onde Dilma tem índices mais altos.
O efeito disso nos números finais da pesquisa só abrindo a caixa-preta do Datafolha para saber. Por hora, os fato é que o Instituto abandonou a amostragem no padrão do IBGE logo após Dilma encostar em Serra, quando a diferença entre ambos apontava apenas 4%, e apresentou uma declaração falsa ao TSE ao registrar a pesquisa. Além disso manipulou a composição da amostragem desviando importância para cidades do Estado de São Paulo e para bairros da capital paulista.
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