A história dos bares de esquerda de Porto Alegre: a Esquina Maldita (revisado)

A história dos bares de esquerda de Porto Alegre: a Esquina Maldita (revisado)

(Fanfarras. O auditório está animado, aplaude e o programa começa. Adentra o palco um homem grisalho, não de todo acabado. É o Especialista. Ele senta ao lado do apresentador, que fala.)

— Nosso pogrom d`oje traz o Espesializta Milton Ribeiro para nos contar sobre a Esquina Maldita. Boa noite.

— Boa noite, é um praz…

— Claro que é um prazer! Milton, diga-nos: quais foram os bares que formaram a famosa Esquina das avenidas Osvaldo Aranha e Sarmento Leite?

— Ora, primeiro, em 1966, veio o Alaska, depois vieram o Estudantil, o Copa 70 e o Marius.

— Quanto tempo duraram?

— Sei lá. O que sei é que o Alaska fechou em 1985 e o Marius foi adiante por mais um tempo.

— Quem ia ao Alaska?

— A militância d`esquerda.

(Fanfarras. O apresentador levanta-se e grita.)

— Ele acaba de ganhar uma caixa de nosso patrocinador, os cigarros d`Arrabalde, o cigarro d`oômem! Parabéns, Milton.

— Obrigado. Eu estava ligado.

— Bem, podemos continuar.

— O Alaska tinha um garçom que às vezes era acompanhado de um auxiliar meio idiota. O idiota sempre mudava, era de alta rotatividade. O garçom não era nada idiota, seu nome era Isake Plentis d`Oliveira.

(Fanfarras. Porém, o apresentador levanta-se e faz parar tudo.)

— Não, não valeu. Com nomes próprios não vale.

— OK, desculpe.

— Adiante!

— Então o garçom era Isake Plentis de Oliveira, conhecido por apenas por Isake. Quem ia lá era a intelectualidade da esquerda e muitas vezes éramos visitados pela polícia. Obviamente, o DOPS mantinha informantes lá.

— Sempre foi assim?

— Bem, nem sempre. No início era um bar em que as pessoas iam para conspirar ou falar de política, era também quase exclusivamente masculino. Depois, nos anos 70, as mulheres tomaram conta.

— Virou um bar de encontros?

— Não, de jeito nenhum… Foi um bar de resistência à ditadura até a metade dos anos 70, depois virou o local da esquerda festiva. Derrubávamos o governo todas as noites.

— E o que você comia lá?

— A gente comia os pratos mesmo.

(O apresentador ri e aponta para o Especialista. Seu gesto denota quão irresistivelmente engraçado é ele.)

— Os pratos eram o Robertão, o Burguês, o Vietcong e se bebia trigo velho ou batidas de côco e maracujá. Tinha chope, mas eu não tomava chope lá.

— E os outros locais?

— O Estudantil era barato e bagaceiro. As pessoas morriam no Hospital São Francisco e os parentes iam lá se embebedar. Esses momentos eram tristes. Era também o bar dos lixeiros da madrugada. Eles paravam o caminhão e o Ataliba, o garçom, servia cerveja para eles. Esse pessoal não se misturava com os intelectuais do Alaska e vice-versa.

— E o que você comia lá?

— Mulheres, porque o bar tinha dois ambientes. O da frente, com mesas, e o de trás, que era escuro e destinado ao sexo. Do amasso ao coito, podia tudo. Com o tempo, deixei de ir porque eu não era suficientemente promíscuo.

— Trepava-se com estranhos?

— Às vezes.

— E o Copa 70?

— Era um bar d`omossexuais!

(Fanfarras. O apresentador levanta-se e grita.)

— Ele acaba de ganhar mais uma caixa de nosso patrocinador, os cigarros d`Arrabalde, o cigarro d`oômem! Parabéns, Milton.

— Obrigado. Eu fiquei desligado por um tempo mas agora liguei de novo.

— Bem, podemos continuar.

— Era o bar onde a Nega Lu, que se chamava Luis Airton Bastos, fazia performances.

— Então, o que se comia lá?

— Bundas.

— Havia drogas nestes bares?

— Sim, mas o pessoal do Alaska não gostava daquilo. Elas alienavam.

— E o Marius?

— O Marius foi o último a abrir. Já era o tempo da decadência. A Universidade foi lá para o campus e o pessoal das drogas foi… foi… foi para… deixa eu fazer a frase… mais para o meio da Redenção.

— Hum, para que bar?

— O nome dele é… é. Bom, eles se tornaram o pessoal d`Ocidente.

(Fanfarras. O apresentador levanta-se e grita.)

— Ele acaba de ganhar mais uma caixa de nosso patrocinador, os cigarros d`Arrabalde, o cigarro d`oômem! Parabéns, Milton. A terceira caixa, hein?

— Obrigado. Agora tô ligado, tô ligado.

— E então?

— O grosso das pessoas foi para o Ocidente e os saudosos da Esquina Maldita acabaram no Marius.

— Bem, como já entregamos três caixas de nosso patrocinador e o Milton tem de trabalhar, encerramos aqui a entrevista. Milton, alguma coisa que queira acrescentar?

— Foi um`onra estar aqui.

(Fanfarras. O apresentador levanta-se e grita.)

— Não vale, não vale, tem que ser com “d”. Boa noite. Fim de programa.

Ontem, O Empresário, de Mozart

Ontem, O Empresário, de Mozart

Ontem à noite, assistimos a uma pocket ópera que talvez tenha sido o mais estimulante, bonito, eufônico e engraçado espetáculo que vimos em 2019 em Porto Alegre. Com quatro das melhores vozes da cidade — por ordem alfabética, Daniel GermanoElisa LopesFranciscco Amaral e Raquel Helen Fortes, com o pianista Daniel Benitz, todo mundo sob a direção de Flávio Leite –, vimos ‘O Empresário’, de Mozart. A opereta foi escrita para participar de uma competição musical, em 1786, no Palácio de Schönbrunn, em Viena. O tema era o mundo dos cantores líricos.

Deste modo, mini-ópera trata das confusões de um empresário às voltas com duas primadonas vaidosas, estressadas e enlouquecidas para obter papéis de destaque em uma produção musical. Ninguém mais apropriado do que Mozart para fazer um retrato fiel e pertinente do meio operístico. A ação, em sua parte falada, foi trazida para os dias de hoje em concepção do Flávio Leite. A música é de altíssima qualidade com árias muito difíceis que foram levadas com arrebatador virtuosismo por parte dos cantores. Uma delícia ver estes grandes cantores exercitarem um insuspeitado — e imenso — talento cômico. Divertimo-nos um monte!

Estive lá graças à Elena, que viu o anúncio e sentenciou: nisso aqui a gente tem que ir! Guardei lugar pra ela, que teve que sair correndo de uma aula que estava ministrando para chegar à tempo.

Rimos muito e estamos cantarolando as árias até agora.

Porto Alegre

Você trabalha com cultura e sai de casa otimista. No caminho, vê todo o tipo de lixo, lixo literal, sujeira, cheiro ruim, muita coisa seca e orgânica espalhada em torno das lixeiras da prefeitura. Isso sem contar os cocôs dos quais vai desviando na calçada. Depois, ao chegar ao trabalho, fica sabendo que houve uma Marcha para Jesus em São Paulo. Sim, com a presença de Jair Bolsonaro e milhares de pessoas. Um sucesso. Ou seja, o cheiro das ruas é de Idade Média e a religiosidade também. Haja ânimo. Ao menos aqui dentro da Livraria Bamboletras dá para respirar.

Um local da cidade: Bonobo, café com conceito

Um local da cidade: Bonobo, café com conceito

Acordei hoje e, por algum motivo, lembrei desta reportagem que fiz para o Sul21 em agosto de 2011. Apesar de não ser nada hostil e de eventualmente comer comida vegana, não faço parte da tribo. Porém, na época, mal sabia o que era aquilo, poucos sabiam o que era. Gostei muito do tratamento que recebi no Bonobo e vai ver que foi isto que me fez lembrar deste texto bem simples.

Um lugar incomum, o Café Bonobo | Ramiro Furquim/Sul21

Café Bonobo fica a dez minutos de caminhada do Parque da Redenção, exatamente na esquina da Castro Alves com a Felipe Camarão, em Porto Alegre. É uma bela casa de dois andares. No térreo fica o Café e no andar de cima moram os proprietários, o casal Valesca Sierakowski Kuhn e Marcelo Guidoux Kalil.

Se considerarmos a comida oferecida, a postura e o conceito que o apoia, o local não é nada tradicional. Para começar é um café vegano — os veganos se abstêm de utilizar quaisquer produtos que provenham de aninais ou da exploração destes. Então, além de não ingerir carnes, peixes, aves, ovos, leite, mel e seus subprodutos, como gelatina, soro, gordura, etc., os veganos não vestem tecidos de origem animal, como couro, seda, lã e peles, nem produtos testados em animais.

“O veganismo é um vegetarianismo puro e eminentemente ético”, explica Marcelo, sócio do Bonobo. “Com o tempo, a gente foi incorporando outros conceitos ao veganismo, coisas libertárias, algumas ideias anarquistas anti-hierarquia, que fomentam a horizontalidade.”

A estante do bookcrossing | Ramiro Furquim/Sul21

Tais opções estão presentes por todo o restaurante – chamamos de restaurante, pois frequentemente são servidos almoços aos sábados. Ao lado da mesa onde sentamos, por exemplo, há uma pequena estante de livros. Ao ser perguntado sobre o motivo da existência da pequena biblioteca, Marcelo esclareceu que era para fazer bookcrossing, que é a prática de deixar um livro num local público para que outros o encontrem, leiam e voltem a “libertá-lo”, seja devolvendo-o ao local onde foi encontrado, seja deixando-o por aí para que outros leiam. “Queremos divulgar as ideias que achamos boas. Recentemente, demos destaque à questão da mobilidade, do uso de bicicleta, que nós apoiamos. Então, quem chega de bicicleta aqui tem um espaço legal para estacioná-la”.

Os pratos oferecidos pelo Bonobo são produzidos a partir de alimentos comprados em feiras ecológicas, direto do produtor. “Acho que a única coisa que passa por processos industriais é o vinho. O resto fazemos tudo: o pão, os burgers, os molhos, os bolos, os sorvetes. A cerveja é um amigo nosso que faz. Até os produtos de limpeza são naturais.”

O menu do Café Bonobo | Ramiro Furquim/Sul21

Os burgers é uma das especialidade da casa. Tudo é vegetariano. O pão é branco ou integral, o “bife” pode ser ou de lentilha com curry e grão-de-bico ou de cenoura, amendoim e arroz integral. Os molhos são de catchup caseiro de tomate, pasta de grão-de-bico ou guacamole. Para quem quiser se aquecer no inverno, há o tradicional chocolate quente com leite de amêndoas. Os preços não são nada altos e ainda há promoções: por exemplo, há o bolo sem preço, pelo qual cada um paga o quanto pode ou quanto acha que vale. E hoje (10/08/2011) o almoço é sem preço, ou seja, você come e paga o que achar justo.

Val e Marcelo vivem modestamente do Bonobo. Não pretendem mais e seu café tem o slogan “compre menos, trabalhe menos e viva mais”.

O que é bonobo? Bonobo é uma espécie de primata que age de forma contrária a do chimpanzé. Este costuma resolver seus problemas – inclusive os do amor – pela força, enquanto os bonobos decidem suas questões através do amor. Por exemplo, se estão disputando comida, um faz carinho no outro e acabam compartilhando. É uma visão que seria mais harmoniosa do que a dos chimpanzés, que fazem guerras entre eles, com mortes, muitas vezes. “Aqui no café somos eu e a Val. Fazemos, dividimos e compartilhamos tudo, até a limpeza”.

“Vez ou outra nos damos o luxo de não abrir” | Ramiro Furquim/Sul21

O Bonobo abre geralmente de quartas a sábados, das 18 às 22h. Mas nem sempre este horário é cumprido. Às vezes abre para o almoços, às vezes em outros horários, às vezes não abre. Os clientes se informam pelo telefone, twitter, facebook ou pelo blog do café. “Geralmente funcionamos de quarta a sábado, mas uma vez e outra nos damos o luxo de não abrir… Quando fazemos isso, sempre avisamos. Por exemplo, hoje, depois de um monte de dias de chuva, abriu um sol e era o aniversário da Val, então escolhemos não ficar presos aqui dentro na cozinha.”

Além da estante do bookcrossing, há uma biblioteca que vende e empresta livros. Há outros produtos também: “Temos até absorventes femininos ecológicos para vender. São aqueles antigos que nossas avós usavam. São de usar e lavar para reaproveitar. A própria água com que é lavado pode ser usada para regar as plantas, é ótimo.”

O Bonobo mantém a política de compartilhamento também na cozinha. Nada é segredo. Então, se um cliente quiser saber como as pratos são preparados, é convidado a visitar a cozinha para auxiliar a fazer as coisas e aprender. “Estamos mais interessados em divulgar o veganismo do que em guardar segredos de cozinha.”

“Quem chega de bicicleta aqui tem um espaço legal para estacioná-la” | Ramiro Furquim/Sul21

Segundo o casal, são raros os casos de comensais que pedem uma picanha sangrenta. “A maioria do público sabe como é, já temos um público bem fiel. Às vezes, quando está cheio, as pessoas olham e vão embora. Nós nem aconselhamos as pessoas a esperarem, pois quando o pessoal senta aqui demora muito para sair.”

Val e Marcelo tentam plantar alguma coisa no próprio espaço do Bonobo. “A gente planta mas aqui têm muitos prédios ao redor, pouca luz e é muito úmido. Agora um amigo trouxe uma mudinha de juçara, que é como o açaí da mata atlântica. Ele acha que vai pegar. Temos pimenta, maracujá, guaco, amoreira… bastante coisa. Os móveis aqui do café nós achamos na rua ou em briques, arrumamos tudo. Viste como são bonitos?”.

Além da estante de bookcroosing, há uma pequena livraria que faz vendas ou empréstimos de livros |Ramiro Furquim/Sul21

Porto Alegre e o calor senegalesco

Porto Alegre e o calor senegalesco

Ainda bem que a temperatura caiu nos últimos dias em Porto Alegre. Na semana passada, quase todas as pessoas com as quais eu mantive contato estavam irritadas, muito irritadas e cansadas. Vivíamos sob 37 graus e sensação térmica de 46. Os antigos narradores de futebol falavam em “temperatura senegalesca”, o que revela que os narradores de antes eram tão desinformados quanto os de hoje, pois, se a temperatura do Senegal chegasse aqui, seria uma dádiva a ser saudada por qualquer porto-alegrense.

Saibam que o Senegal é um país de clima muito agradável. Tem, basicamente, duas estações. Uma estação seca de novembro a maio, quando nunca chove e as máximas ficam entre os 23 e 25 graus. A outra estação é úmida e mais quente: de junho a outubro há alguma chuva, principalmente no sul do país. A média das máximas fica em 29, 30 graus.

Então, meus filhos, quando a coisa estiver insuportável por aqui, não fale em temperatura senegalesca e pense em Dakar como um bom destino. Ah, prepare algumas frases em francês. Ou em uolofe.

O Monumento do Renascimento Africano em Dakar, Senegal | Foto: Black History Heroes

Espetáculo “Música, Alimento do Amor”

Espetáculo “Música, Alimento do Amor”

Se a música é o alimento do amor não parem de tocar. Deem-me música em excesso; tanta que, depois de saciar, mate de náusea o apetite”

William Shakespeare

Em “Música, Alimento do Amor”, Fernando Rauber (cravo) e Andiara Mumbach (voz) apresentam canções inglesas renascentistas e barrocas dos compositores Thomas Morley (1557-1602), John Dowland (1563-1626), Robert Johnson (1583-1633) e Henry Purcell (1659-1695), intercaladas por solos para cravo do Fitzwilliam Virginal Book, coleção para teclado das eras Elizabetana e Jacobina na Inglaterra.

O período Elizabetano (1558-1603), final da dinastia dos Tudor na Inglaterra, simboliza o apogeu da Renascença na Inglaterra, tardia em relação ao restante da Europa porém especialmente rica na música e na literatura, tendo como Shakespeare um de seus maiores expoentes.

O espetáculo conta com a direção de arte de Cláu Paranhos, artista porto-alegrense.

SOBRE OS ARTISTAS:

A soprano Andiara Mumbach é formada em canto pela Universidade Federal de Santa Maria. Foi professora de técnica vocal no Projeto de Extensão do Curso de Música da UFSM e preparadora vocal do Coro de Câmara da mesma instituição. Ministra aulas de canto e dedica-se especialmente ao repertório barroco e à música de câmara.

Fernando Rauber é Doutor em Música pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Integra a Orquesta de Caxias do Sul e o grupo porto-alegrense Sphaera Mundi Orquestra. Foi um dos laureados no concurso Jovens Solistas da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre em 2006 e, em 2007, selecionado para ser bolsista do Chautauqua Music Festival em Chautauqua, NY, Estados Unidos. Entre 2011 e 2017 atuou como professor no Curso de Licenciatura em Música da Universidade de Caxias do Sul.

Cláu Paranhos é artista, arte educadora, agente cultural e pesquisadora na área de artes visuais. É Mestre (UFPel), Licenciada e Bacharel (UFRGS) em Artes Visuais. Participa e produz oficinas, exposições e ações artísticas individuais e coletivas. Atualmente, cria as “Bonecas Feias”, produção poética que questiona os padrões culturais do corpo. Atua no Conselho Municipal de Cultura na cidade de Pelotas, é Presidente da Associação de Amigos do Museu Júlio de Castilhos e Vice-presidente da Associação Riograndense de Artes Plásticas Francisco Lisboa.

SERVIÇO:
Recital “Música, Alimento do Amor”
Dia 24/11/2018, às 18h
No Museu Júlio de Castilhos
Rua Duque de Caxias, 1205, Centro Histórico, Porto Alegre.
Ingressos: R$40,00
Meia entrada para estudante e idoso
20% de desc. para amigos da Associação de Amigos do Museu Júlio de Castilhos
Antecipados no Museu ou pelo whatsapp: (51) 98220.3707

CONTATO PRODUÇÃO: (51) 98220.3707

CRÉDITOS VÍDEO (link) e CARTAZ: Cláu Paranhos

A cidade-mico de Porto Alegre abre edital para uma “ópera-rock” baseada na Revolução Farroupilha

A cidade-mico de Porto Alegre abre edital para uma “ópera-rock” baseada na Revolução Farroupilha

Com a concordância do prefeito (sim, aquele mesmo que diz não ter dinheiro para nada), a Câmara Municipal de Porto Alegre abriu um edital de R$ 350 mil para que seja composta uma ópera-rock baseada na Revolução Farroupilha. Bem, a época deste gênero musical já está mais do que finda, só podendo ser coisa de quem não acompanha nem de longe o movimento cultural, parecendo mais um projeto pessoal de um sem-noção.

Moda no final dos anos 60 e início dos 70, as óperas-rock foram puxadas pelo excelente The Who, cujo principal compositor, Pete Townshend, escreveu a pioneira Tommy — OK, a primeira foi A Quick One, também do The Who — e a melhor de todas, Quadrophenia. Depois o gênero diluiu-se e foi parar nos musicais, onde morreu há muitos anos. Uma ópera-rock era simplesmente uma série de canções interligadas que, reunidas, contavam uma história, sem chegar a ser um drama musical como os de Wagner.

Na época das óperas-rock, as pessoas se vestiam assim, meu caros edis.

The Who na época de Tommy.
The Who (Townshend, Daltrey, Entwhistle e Moon, da esquerda para a direita) na época das óperas-rock | Foto: https://www.thewho.com/ Divulgação.

Mais: além da Câmara propor uma composição de gênero anacrônico, a tal “Revolução Farroupilha” sempre esteve longe de ser uma unanimidade no estado, mesmo na época em que ocorreu. A própria cidade de Porto Alegre não a apoiou. Talvez fosse adequado a nossos vereadores darem uma olhadinha no brasão de armas da cidade. Lá está escrito o lema “Mui Leal e Valerosa”. Esta frase está ali por NÃO termos apoiado os Farrapos. Desculpem, a verdade é algo incontrolável mesmo.

Gente, a Revolução Farroupilha não foi a luta do povo rio-grandense contra o Brasil. Uma parte importante dos moradores da província lutou a favor do Império. Nem mesmo na região da Campanha, tida como base dos farroupilhas, havia unanimidade. Muitos dos líderes militares e grandes estancieiros, que ali viviam, eram legalistas.

E ainda mais: a Câmara de Vereadores financiando um tema que não diz respeito exclusivamente a Porto Alegre é, no mínimo, estranha.

Li em algum lugar que seria melhor montar uma ópera sobre o tema. Até concordo. Por que não? Afinal, elas ainda são compostas e são populares. É um gênero vivo em Porto Alegre, onde as montagens lotam teatros. Mas gostaria de sublinhar que já existe uma ópera chamada Farrapos, conforme lembra o tenor Antonio Telvio. Ela foi estreada em 1935 ou 36 no Theatro São Pedro e é de autoria de Roberto Eggers (1889-1984), que também compôs Missões. Eggers foi uma figura bem conhecida na cidade — dirigiu o Orfeão Riograndense e foi Diretor Musical das Rádios Gaúcha e Farroupilha.

Para terminar, por que não propuseram simplesmente um musical ou uma ópera gaudéria? Talvez uma ópera-funk? Ah, Pete Townshend, que estrago você fez na cabeça de nossos ignorantes edis!

The Who hoje: só Townshend e Daltrey. Moon e Entwhistle já faleceram.
The Who hoje: só Townshend e Daltrey. Moon e Entwhistle já faleceram | Foto: https://www.thewho.com/ Divulgação

Uma historinha no Parangolé

Uma historinha no Parangolé

Às vezes, almoço no Parangolé Bar E Restaurante. É muito tranquilo, gostoso e equilibrado. Hoje, completei nove ou dez almoços e ganhei um grátis, mas o que desejo contar é que sempre compro uma mineral com gás e levo a garrafa com o resto, normalmente a metade do conteúdo. Jamais lembraria que esquecera de levar minha água na última sexta. Pois o Seu Cláudio guardou o restante na geladeira. Hoje, ele perguntou se podia servir a água que eu já comprara. São gestos desses que fazem o Parangolé um lugar tão especial. É muita atenção, honestidade e fineza. Meu muito obrigado ao pai da Ana Laura Freitas!

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Fala Luiz Pilla Vares: “Por uma Política Cultural Democrática”

Fala Luiz Pilla Vares: “Por uma Política Cultural Democrática”

Luiz Pilla Vares

Em 1989, ao assumir a Secretaria Municipal da Cultura, nomeado pelo prefeito Olívio Dutra, o grande Luiz Paulo Pilla Vares (1940-2008) escreveu um texto intitulado “Por uma Política Cultural Democrática”, que sintetizou em oito pontos o programa de sua gestão. Pilla Vares faleceu há dez anos e, talvez possamos dizer que ao morrer cedo, teve a vantagem de não ver a desmontagem da Cultura via Temer, Sartori e Marchezan. A seguir, os oito itens:

1. Responsabilidade do Estado: “Nunca, como nos dias de hoje, o Estado tem tanta responsabilidades para com a cultura. Vivemos numa época trágica, de sistemática destruição não apenas dos aparelhos e equipamentos culturais, mas da própria cultura (…) Procura-se, num país atrasado como o Brasil, deixar a cultura sujeita às leis do mercado, o que, em nossa caso, significa simplesmente negá-la”

2. Financiamento da Cultura: O Estado tem o dever de se portar como um Mecenas Moderno: “Temos necessidade de um pleno renascimento cultural e os órgãos estatais responsáveis devem criar o clima para isso em todas as áreas, das ciências humanas às artes plásticas”.

3. A cultura não é lazer: “Ela é muito mais do que isso: refere-se à condição humana e capacidade do ser humano de pensar sobre ela, isto é, pensar sobre si mesmo. A indústria cultural faz um movimento contrário. Move-se no sentido de neutralizar o pensamento”.

4. Cultura e cidadania: “cultura é um elemento essencial da cidadania. Chega de considerar a cultura como elemento secundário! (…) O desenvolvimento cultural traz consigo conteúdos críticos e reflexivos. Rompe o senso comum e tem incidência na própria política. Desenvolve a imaginação ativa em detrimento da imaginação passiva”.

5. Cultura e política: “Os órgãos do Estado não podem interferir na criação, concepção e posição dos sujeitos em qualquer nível. Pelo contrário, sua função é precisamente a de garantir a livre manifestação em sentido absoluto”.

6. Diálogo com a comunidade: “Nosso objetivo é criar uma política cultural permanente com a intromissão ousada e aberta da própria comunidade, de tal forma que as retrógradas tentativas de desmonte encontrem uma resistência eficaz na sociedade civil”.

7. Cultura erudita e cultura popular: “Existe apenas uma cultura na qual os elementos populares intervêm e proporcionam conteúdo (…) Uma política de descentralização cultural, como a que estamos começando a pôr em prática, pode derrubar o muro abstrato que foi erguido, inclusive com a ajuda de alguns setores da esquerda”.

8. Modernidade: “A cultura contemporânea é incompreensível sem o cinema, o vídeo, a televisão, o rádio, as ciências humanas (entre elas, a psicanálise), a poesia concreta, a fotografia, o teatro de rua, o rock and roll, as histórias em quadrinhos, que se conjugam às grandes criações várias vezes milenares da história da humanidade”.

Em grande parte, esta política foi implantada e contribuiu para que Porto Alegre se consolidasse como um polo cultural importante por muito tempo.

A Ponte dos Açorianos hoje

A Ponte dos Açorianos hoje

Hoje, estava indo para um compromisso no Centro Histórico e fotografei (abaixo) o que estavam fazendo na Ponte dos Açorianos. Eram 8h40. O tal lago que foi feito em 1970 terá seu chão cimentado. Dizem que a Ponte de Pedra já está pronta e que faltariam “apenas” as calçadas, passeios e bancos do entorno. A Ponte de Pedra foi tombada pelo município no ano de 1979. A história diz que foi construída por escravos em 1848.

Achei incrível o fato de pessoas estarem trabalhando ali. Há anos aquilo ali estava parado, a não ser pela vegetação desenfreada que tomara conta do local. É uma bela praça da cidade, verdadeiro cartão postal de nossa combalida capital.

Procurei saber se há uma nova data para ser entregue ao público. Tudo o que encontrei na rede diz que ficaria pronta e seria entregue em 2016, 2017 ou em fevereiro de 2018. Eram notícias velhas, claro. Os tapumes estão lá.

Acho que o prefeito Marchezan deveria explicar direitinho os repetidos atrasos, apesar de estes virem desde a época de Fortunati. Há justificativa? Haverá cobrança de multa às empresas? Quanto foi investido? Fala-se em 4,6 milhões.

Para saber: em 1825, no governo do Visconde de São Leopoldo, foi construída uma ponte de madeira para travessia do Arroio Dilúvio, na sua foz junto ao Guaíba. Sim, era ali que o Dilúvio iniciava. Depois de repetidos danos e reconstruções, essa precária ponte inicial foi substituída por uma ponte de pedra, entregue à população em 1848.

Nos anos 1970, com as modificações urbanas, foi feito um lago para ambientar a antiga ponte. Esse projeto, em conjunto com o monumento, recebeu a denominação de Largo dos Açorianos, em homenagem aos fundadores de Porto Alegre. Conhecido como Ponte de Pedra, esse importante monumento foi tombado como Patrimônio Cultural da cidade em 1979.

Foto: Milton Ribeiro
Foto: Milton Ribeiro

Katia Suman relembra papel da Ipanema em relação ao rock e garante: liberdade era total

Katia Suman relembra papel da Ipanema em relação ao rock e garante: liberdade era total

Publicado em 18 de maio de 2015 no Sul21

O anunciado fim da Ipanema FM e o verdadeiro muro das lamentações que se tornou a caixa de comentários da brevíssima matéria era o pretexto óbvio para uma entrevista com Katia Suman. Porém, a ex-coordenadora e principal apresentadora da legendária emissora não é apenas seus quase 20 anos de Ipanema, é também os 16 anos de Sarau Elétrico, e os 5 de rádio Elétrica, além tocar vários projetos paralelos como o do Cais Mauá de Todos.

Katia, que se autodenomina uma “sub celebridade porto-alegrense” é a filha do zagueirão gaúcho Gago. O motivo no apelido é que ele gaguejava na hora das entrevistas, problema que ela não herdou. Ela nasceu em Salvador quando seu pai jogava no Vitória (BA) e agora está escrevendo um livro sobre seus anos na famosa 94.9. Mas sua entrevista ao Sul21 não se limita à nostalgia, focando também o modo como se faz o rádio tradicional, as novas formas e a série de projetos que Katia leva em frente. Tudo isso acompanhado das boas histórias de quem pode dar consultoria de como viver e trabalhar sem dinheiro.

Foto: Guilherme Santos / Sul21
Foto: Guilherme Santos / Sul21

Sul21: Como começou a tua história na Ipanema FM?

Katia Suman: Eu tinha voltado de uma temporada de 7 anos em São Paulo, tinha decidido não mais trabalhar com publicidade (fui redatora) e estava tentando achar meu rumo. Nesse processo havia sempre um rádio ligado, porque eu sempre gostei de ouvir. Descobri a rádio Bandeirantes, que era muito melhor do que qualquer emissora paulista, com um excelente repertório musical. E uma fala tão coloquial, tão verdadeira, tão fora dos padrões radiofônicos, fiquei realmente muito impressionada. Pensei que eu poderia fazer um programa nesta rádio. Elaborei um roteiro, levei para o Nilton Fernando e ele me recebeu, gostou da ideia, gostou do meu perfil. Pouco tempo depois, quando a rádio passou a se chamar Ipanema, eu comecei, ancorando o horário da noite, das 20h à meia-noite.

Esse negócio de “música de trabalho” que a indústria fonográfica inventou, não colava com a gente.

Sul21: Como a equipe (principais apresentadores) foi formada? Como o pessoal chegava?

Katia Suman: Quando eu cheguei o grupo era formado pelo Nilton, diretor, Mauro Borba, locutor da tarde, a Mary Mezzari, redatora. Tinha também o Ricardo Barão que fazia o Central Rock. A interação da rádio com os ouvintes sempre foi muito forte, muito antes da internet os ouvintes realmente tinham voz na Ipanema: eles participavam, opinavam, davam dicas, levavam discos e nos mantinham informados de tudo o que estava rolando pela cidade. Era já uma rede. Pois bem, em 85 eu criei o Clube do Ouvinte, programa que, como o nome diz, os ouvintes faziam. Eu explicava como fazer o roteiro e eles iam lá apresentar. Houve programas memoráveis, muita gente legal se dispôs a ir ao estúdio, compartilhar seus discos e artistas preferidos. Alguns que apresentaram esse programa acabaram entrando para a equipe da rádio: a Nara Sarmento, por exemplo, o Porã, o Cagê e o Cláudio Cunha. O Alemão Vitor Hugo começou como redator e depois virou locutor.

Sul21: Como se deu o crescimento da rádio?

Katia Suman: Era a rádio certa na hora certa. O país vivia o processo de redemocratização, estava saindo do período tenebroso da ditadura militar. Havia no ar um desejo de liberdade, de exorcizar toda aquela opressão. É nesse momento que surge a famosa cena dos anos 80: Barão Vermelho, Paralamas, Titãs, Blitz, Ultraje, Camisa de Vênus e tantas outras. E aqui TNT, DeFalla, Replicantes, Engenheiros, Taranatiriça, Cascavelettes e tantas outras. A sintonia entre o público e nós, que fazíamos a rádio, era total. Falávamos a mesma língua, tínhamos os mesmos interesses, íamos aos mesmos shows, assistíamos aos mesmos filmes, frequentávamos os mesmos bares, líamos os mesmos livros. Era uma comunicação muito horizontal, éramos, sem saber, já um coletivo. Não era uma relação “rádio aqui e público lá”, como costuma ser. A rádio falava de tudo: política, ecologia, economia, artes, drogas, religiões, tudo! Nunca subestimamos a inteligência da nossa audiência. Num contexto em que as outras rádios voltadas ao público jovem tinham aquele discurso padrão, aquela locução alegre, acelerada e superficial, aquele listão de músicas reduzido e predominantemente internacional, a diferença era gritante. Com o tempo, as outras rádios passaram a dar atenção também a essa nova cena que surgia e a incorporar algumas das nossas sacadas.

Sul21: Havia jabá ou a liberdade era total?

Katia Suman: Liberdade total. Nunca nos submetemos. Inclusive uma das características da rádio era rodar praticamente todas as faixas (era no tempo das faixas) de um disco. Esse negócio de “música de trabalho” que a indústria fonográfica inventou, não colava com a gente. E a gente se esmerava em oferecer o que havia de melhor na música. Não havia internet, as gravadoras deixavam de lançar muita coisa aqui no Brasil. Então era a “caça ao tesouro”: alguém viajava e trazia de fora, ou conseguíamos em lojas de discos importados, ou os ouvintes nos levavam e a gente gravava. Enfim, era uma batalha. E a gente rolava de tudo: rock, funk, blues, jazz, mpb, bossa nova, música erudita, rap, hip hop. Sobre jabá, quem se interessar, minha dissertação de mestrado é sobre o tema e está disponível aqui.

Foto: Guilherme Santos / Sul21
Foto: Guilherme Santos / Sul21

Naquele momento a nossa voz era mais forte que a da RBS.

Sul21: Qual foi o papel da emissora em relação ao rock gaúcho?

Katia Suman: Foi muito importante. O fato de a rádio rodar os artistas, dar visibilidade a eles, ajudou a criar público. Começaram a surgir várias bandas, vários estúdios de ensaio, estúdios de gravação, casas noturnas com espaço para shows, um circuito de shows pelo estado, enfim, uma cena. As bandas gaúchas num dado momento, lotavam o Gigantinho.

Sul21: Tu te tornaste uma rara celebridade porto-alegrense fora do mainstream da RBS.

Katia Suman: Sub celebridade, né? Mas sim, todos nós ficamos muito conhecidos. Naquele momento a nossa voz era mais forte que a da RBS.

Sul21: O resultado financeiro da Ipanema FM era aceitável ou ficava abaixo do esperado?

Katia Suman: Olha, não só era aceitável como chegou a ser excelente em alguns momentos. Nos anos 80 e 90 a rádio cresceu muito em audiência e faturamento. Todo mundo que tinha como alvo o público jovem, anunciava na Ipanema.

Sul21: E a tua primeira demissão na Ipanema? Foi mesmo por “contenção de custos”?

Katia Suman: Foi o que me disseram. Deve ter sido mesmo. Se foi outro o motivo, nunca soube e acho que nunca saberei.

Foto: Guilherme Santos / Sul21
Foto: Guilherme Santos / Sul21

Sou entusiasta de primeira hora da internet e de toda essa revolução que está em curso.

Sul21: O teu período de madrugadão — programa das 2h às 6h — na Atlântida equivaleu a uma temporada na Sibéria?

Katia Suman: Mais ou menos. Mas por outro lado aprendi a operar uma mesa de áudio, aprendi a falar no ar, inventei um jeito de me comunicar. Valeu. Esse estágio foi antes de eu entrar efetivamente para a Ipanema.

Sul21: É mesmo? Saíste de lá por ignorar o set list programado para tocar na rádio, fazendo a tua própria seleção musical?

Katia Suman: Sim. Eu ficava falando a noite inteira, lia e comentava notícias e rodava a programação musical que me deixavam. Acho que os porteiros de prédios, seguranças e taxistas que ficavam acordados de madrugada, gostavam. Eu comecei a enjoar da programação que era sempre a mesma, só alterava a ordem das músicas. E comecei a dar uma incrementada. Claro que o programador musical não gostou.

Me orgulho da rádio Ipanema ter sido a primeira emissora gaúcha a ter um site (e a segunda do país) e isso aconteceu na minha gestão.

Sul21: Antes de voltar à Ipanema, durante tua época na TV Com, criaste a rádio Elétrica na web. Durante um período, as duas rádios foram concomitantes, correto? Qual é o caráter deste projeto?

Katia Suman: A rádio Elétrica surgiu da minha necessidade de compartilhar o que eu leio, descubro e aprendo. É um lance meu, uma necessidade. Desde o tempo em que eu fazia a madrugada da Atlântida, eu tinha um caderno em que, durante o dia, anotava notícias e reportagens e trechos de livros e coisas do gênero para falar no ar. Então, quando eu fiquei sem rádio — nessa época eu estava na TV Com –, criei a Elétrica.  Em dezembro de 2010. No começo eu fazia sozinha, 2 horas por dia, ao vivo, rolando música e falando. Aos poucos foram entrando pessoas, vários programas foram criados e transmitidos. Algumas pessoas saem, outras entram e assim segue. Eu fiz a escolha de uma a uma das milhares de músicas que rodam. E hoje apresento o Talk Radio mais ou menos ao meio-dia, de segunda a sexta, cada dia conversando com uma das pessoas de um grupo muito legal, de diversas formações e profissões. Participam comigo, ao meio-dia, a psicanalista Christiane Ganzo, o produtor cultural Fernando Zugno, a médica Cinthya Verri, o escritor e professor Diego Grando e a especialista em sustentabilidade, Fabíola Pecce.

Sul21: A rádio Elétrica dá alguma grana ou tu pagas para tê-la? Essa migração já faz parte de uma percepção tua de que não dá mais nas FMs e AMs da vida?

Katia Suman: Até agora eu paguei o custo da rádio que inclui serviço de streaming, hospedagem de dados e equipamento. Agora comecei uma parceria com um apoiador (obrigada, Newkeepers) e esses custos serão bancados. Sou entusiasta de primeira hora da internet e de toda essa revolução que está em curso. Me orgulho da rádio Ipanema ter sido a primeira emissora gaúcha a ter um site (e a segunda do país) e isso aconteceu na minha gestão. Em 1997, tínhamos uma webcam transmitindo do estúdio da rádio. Quase ninguém assistia, pois eram poucos os que já estavam conectados. Mas nós já estávamos lá. Portanto a rádio web é quase um caminho natural para mim. Me agrada muito esse espírito do it yourself da internet.

Foto: Guilherme Santos / Sul21
Foto: Guilherme Santos / Sul21

Há uma diferença primordial da web para o FM, que é a possibilidade de ouvir o conteúdo a qualquer momento.

Sul21: Há também o Sarau Elétrico, de longa vida para um projeto literário. Como surgiu e ganhou consistência?

Katia Suman: O Sarau Elétrico também está dentro daquela lógica de compartilhar informações, no caso, informações de alta cultura, de intelectuais como os professores Luís Augusto Fischer e Cláudio Moreno. Atualmente, enquanto o Fischer está fora, o professor Sergius Gonzaga entrou para a trupe, que tem ainda o poeta e professor Diego Grando e a querida Claudia Tajes. Ainda nos primórdios da Ipanema, eu tinha por hábito ler trechos de livros. Sempre li bastante e cheguei a cursar Letras, embora não tenha concluído. Eu pensei em fazer um evento aberto, público, para leituras e conversas. Convidei o Fischer e o Frank Jorge. Eles toparam e começamos. E lá se vão 16 anos. No decorrer do período fomos criando uma dinâmica, um jeito, um borogodó qualquer que funciona. A atividade é muito prazerosa, aprendo muito. E nos divertimos também.

Sul21: Como potencializar audiências em tempos de narrowcasting? Pois uma radioweb é radicalmente diferente das tradicionais AMs e FMs (broadcasting).

Katia Suman: Ah, pois é. Eu não sei como potencializar audiência e nem chego a pensar muito sobre isso. Talvez devesse. Sim, rádio web é bem diferente. Não vejo sentido em botar só música, por exemplo, já que com esses serviços tipo spotify e deezer é possível ouvir música da melhor qualidade de qualquer gênero. Sem falar nas milhares de rádios espalhadas pelo mundo todo. Por outro lado, quem ouve a rádio Elétrica deve gostar da minha curadoria musical, porque tudo o que roda foi escolhido a dedo por mim. Estou constantemente atualizando o repertório. Mas o que faz mais sentido pra mim é compartilhar ideias, trazendo pessoas interessantes para juntos pensarmos o mundo que construímos. Eu acho também que há uma diferença primordial da web para o FM, que é a possibilidade de ouvir o conteúdo a qualquer momento. Por isso, os programas da rádio são todos arquivados em podcast.

Parece que a faixa FM já está virando uma imensa AM

Sul21: Que futuro tu vês para as atuais FM e seus modelos?

Katia Suman: A migração das AMs para a faixa de FM está acontecendo antes mesmo do prazo estabelecido pelo governo. E de uma maneira meio esquisita, que é duplicar o sinal, ou seja, transmitir o mesmo conteúdo nas duas frequências. Com o mesmo custo, o empresário tem duas fontes de faturamento. Então parece que a faixa FM já está virando uma imensa AM, ou seja, notícias, futebol e comunicação bem popular. Rádio FM para público jovem, acho que já era. Adolescentes nem conhecem o objeto rádio, não sabem como ligar (não é touch) nem para que serve. Tudo o que eles precisam em termos de informação e música está na internet.

Sul21: Tu tens te envolvido em projetos e tomado posições claras em relação à cidade. Há a Festa da Leitura e o coletivo Cais Mauá de Todos, por exemplo.

Katia Suman: Na Festa da Leitura eu participei muito discretamente, sugerindo algumas atrações para a programação e fazendo assessoria de imprensa.

Foto: Guilherme Santos / Sul21
Foto: Guilherme Santos / Sul21

Daqui a pouco vou dar consultoria de como viver, trabalhar e produzir sem dinheiro.

Sul21: E o resto?

Katia Suman: Atualmente eu estou fazendo um doutorado em Letras e o meu trabalho final será um livro sobre a Ipanema, feito a partir de relatos feitos à época, por todos os integrantes da rádio. Eram cadernos que ficavam no estúdio e ali anotávamos tudo o que acontecia, nos comunicávamos internamente. Era o nosso e-mail. Eu tenho cadernos de 1984 a 1997. É um belo documento. Também quero finalizar um documentário que comecei em 2013, quando tomei contato com uma cena de festas que acontecem nas ruas de Porto Alegre. São ocupações do espaço público, bonitas, com arte, alegria. Gente jovem reunida. Durante 2013 e 2014 captamos mais de 40 horas de imagens dessas festas, entrevistei um monte de gente. Estou buscando formas de finalizar. Tentei o Fumproarte, mas não rolou. Estou esperando agora o resultado de um edital nacional. Se não rolar vou fazer sem dinheiro mesmo, como tudo foi feito até aqui. Eu daqui a pouco vou dar consultoria de como viver, trabalhar e produzir sem dinheiro.

Sul21: Como surgiu a necessidade de te envolveres com as questões da cidade e da orla? O fato de seres bastante conhecida facilita e dá maior visibilidade às causas?

Katia Suman: Eu era daquelas pessoas que andava sempre de carro. Fazia todos os meus trajetos de carro. Mas, à medida que o trânsito começou a ficar muito denso e travado, eu passei a me sentir tão incomodada que fui mudando a maneira de me locomover pela cidade. Passei a caminhar muito mais do que antes, a usar mais transporte público e a andar de bicicleta. A partir desse contato mais próximo com as ruas da cidade — no carro, a gente está numa bolha –, eu comecei a tomar consciência da realidade da cidade, do estado de abandono das ruas, da deterioração dos espaços públicos, da humilhação a que os pedestres são submetidos quando esperam longos minutos para terem direito a alguns poucos segundos para vencer ao menos uma faixa de uma avenida. Paralelo a isso, comecei a fazer um programa chamado Cidade Elétrica com a escritora Carol Bensimon e o arquiteto João Marcelo Osório. (Na rádio Elétrica, claro – tem os podcasts lá). Entrevistamos muitas pessoas envolvidas com urbanismo, eu passei a pesquisar o assunto, li livros, vi palestras, fui me informado. E quando a gente se informa e cai na real, não tem como não se envolver. A gente vive hoje uma situação inédita na história do planeta terra: pela primeira vez a população que vive em cidades é superior a que vive no campo. E os problemas que a gente costuma encarar como “globais”, como mudanças climáticas (80% da emissão de gases que causam o aquecimento global vem das cidades) ou crise energética (75% do consumo global de energia acontece nas cidades), são em muitos aspectos, problemas urbanos, problemas das cidades. Eles não serão resolvidos se as pessoas que vivem nas cidades não se envolverem ou se responsabilizarem.

Nós precisamos de uma revolução de participação. E rápido!

Sul21: E Porto Alegre, neste contexto. 

Katia Suman: Pois é. Vou dar um exemplo dessa falta de envolvimento: Porto Alegre foi a primeira cidade brasileira a ter coleta seletiva de lixo. Desde 1990 há esse tipo de coleta e hoje toda a cidade está contemplada. 100%. Mas qual a porcentagem da população que efetivamente separa os seus resíduos? Apenas 25%!!!!! O que acontece com os outros 75%? Eles não se responsabilizam, eles não se envolvem. Eles não se interessam pelo assunto. Nós precisamos de uma revolução de participação. E rápido!

Sul21: E o movimento Cais Mauá de Todos?

Katia Suman: Aproveitando o espaço, eu convido o distinto leitor a conferir a página facebook.com/caismauadetodos e participar da discussão que nós estamos propondo. Somos um grupo de pessoas que, a exemplo de mobilizações passadas — como a que evitou que o Parcão virasse um lote de 40 prédios nos anos 50 e a que evitou a derrubada do Mercado Público nos anos 70 –, está lutando para que não se desfigure uma área de imensa importância histórica da cidade. Seguramente a mais importante. Porto Alegre só existe por causa do porto, que aliás dá nome à cidade. Se não fosse o porto, a capital seria Viamão, como de fato foi. Obviamente que nós não queremos que aquela área continue abandonada e degradada. Nós queremos sim progresso e desenvolvimento, geração de empregos, tudo isso. Mas não aceitamos shopping e torres naquela área da cidade. Queremos envolver a população nessa discussão.

Foto: Guilherme Santos / Sul21
Foto: Guilherme Santos / Sul21

Moradores aproveitam buraco de meses e plantam uma árvore no meio da rua da Ladeira

Moradores aproveitam buraco de meses e plantam uma árvore no meio da rua da Ladeira

A tranquila Rua Gen. Câmara — que deveria ser chamada de Rua da Ladeira, pois todo mundo a conhece assim em Porto Alegre –, recebeu hoje um ornamento, uma árvore. O detalhe é que ela foi plantada no meio da rua, num desses buracos que o prefeito Marchezan faz frutificar pela cidade.

Eu apoio toda e qualquer política de reflorestamento e sustentabilidade. A árvore plantada na frente da Ladeira Livros certamente ajudará no combate ao aquecimento global. Trabalho nesta rua. Ela é mesmo muito quente.

Aliás, sobre a árvore: que frutifique! Vamos cuidar dela com amor. Afinal, como diz Gilberto Gil:

A gente cuida, a gente olha
A gente deixa o sol bater
Pra crescer, pra crescer
A rosa do amor tem sempre que crescer
A rosa do amor não vai despetalar
Pra quem cuida bem da rosa
Pra quem sabe cultivar

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Feliz, pagando o IPTU na Porto Alegre de Marchezan

Feliz, pagando o IPTU na Porto Alegre de Marchezan
É assim que a Prefeitura vê o IPTU. Eu o vejo de outra forma.
É assim que a Prefeitura vê o IPTU. Eu o vejo de outra forma.

Porto Alegre… Que Porto Alegre, meu filho? Ninguém nas ruas, lojas vazias, com poucos funcionários e quem fugiu para a praia fugiu acompanhadíssimo de uma multidão. Óbvio, os verdadeiros fugitivos estão aqui, são os que ficaram na cidade, como eu.

Porto Alegre… Que Porto Alegre, meu filho? O perfeito-prefake Marchezan só chora, não cria nada, não mantém nada, há buracos crescentes aqui na porta do Sul21 onde me encontro, os parques estão se transformando em florestas, chorando por uma poda. E as notícias da prefeitura só chegam na forma de novos filhos e namoradas do alcaide playboy.

Vejam a foto que fez o Mauro Scheuer Messina, sócio da Ladeira Livros, do nosso buraco preferido de nossa querida Rua da Ladeira. Ele existe há seis meses, uma maravilha:

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Porto Alegre… Que Porto Alegre, meu filho? Fui até a farmácia e peguei fila nenhuma. Depois, fui ao Mercado Público, na banca 38, puxei uma ficha e o cara gritou o meu número imediatamente. Fui a uma eletrônica e toda a estrutura da loja estava disponível para mim. Meu almoço daqui uma hora virá certamente voando em tapetes. Todos os serviços estão funcionando com rapidez, na contramão do prefeito.

Então, fui ao banco pagar o IPTU com desconto. Era a data final para isso para dar dinheiro para a prefeitura permanecer paralisada, apenas gerando notícias para as colunas sociais.

Fui ao Banrisul. Putz, toda Porto Alegre estava lá. Como fiz 60 anos, agora entro na fila preferencial. Vi o povo lá sentado e quase só havia cabeças brancas como a minha. Acho que as famílias mandam seus velhos para os bancos, só pode. A caixa, uma mulher de seus 40 anos, bastante bonita, estava irritada, furibunda, puta. Apresentei o IPTU com medo que ela rasgasse o papel. Não repassei o dinheiro, esperei que ela o pedisse. Quando alguém está irritado, melhor não bancar o muito autônomo. Então ela pediu a grana e foi completando:

— Hoje só recebo IPTU, que merda.

O outro caixa olhou para ela, mas não ousou responder, muito menos eu.

— Sou uma idiota. Quem mandou esquecer em casa? Perdi a por… do desconto do idiota do prefeito — sim, amigos, ela disse “por…”, sem completar o palavrão. Já o “idiota” saiu claro, com gosto. Era o último dia para ganhar um desconto que não era tão grande assim.

— Essa merda estragou meu dia — completou.

Ia dizer pra ela que acho que se consegue emitir pela internet, mas não ousei.

A Rádio da Universidade faz 60 anos amanhã

A Rádio da Universidade faz 60 anos amanhã

Amanhã, a Rádio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul completa 60 anos. Foi a primeira rádio universitária e pública do país. Comecei a ouvi-la diariamente desde os 15 anos e não imaginava que ela tivesse nascido no mesmo ano que eu. Antes desta idade, meu pai já nos fazia ouvi-la no carro e em casa. Naquela época, suas transmissões começavam às 8h e iam até a meia-noite. Tudo terminava num estranho “Boletim Astrônomico”. Assim que meu pai notou em mim alguma tendência para apaixonar-me pela música erudita, iniciou um jogo que durou até sua morte em 1993. Toda vez que ligava o rádio, nós tínhamos que adivinhar que obra estava sendo executada. O jogo era levado tão a sério que, logo após o final de cada música e do locutor anunciar o nome do compositor e título da obra – tínhamos que ouvir atentamente, porque era nossa conferência para saber quem tinha acertado — , o rádio era desligado a fim de que não ouvíssemos o nome da próxima. Deixávamos passar alguns minutos para só então religarmos o rádio e as tentativas de adivinhação.

Rádio da Ufrgs 60 anos

Isso me deu um treinamento incrível para reconhecer estilos e obras. Mas o que interessa hoje é que há mais de 45 anos ouço a rádio, a minha rádio que tantos problemas apresentava nos primeiros anos: sinal fraco, interrupções das transmissões, vinis com problemas (alguns arranhados, outros em tal estado que não deixavam a agulha avançar…), etc. Hoje, o maior problema é o fato de ela ser uma emissora AM. Melhor ouvi-la sempre na Internet. Quando virá o FM? Outro problema é que, antigamente, a escolha do repertório tinha mais lógica.

Os méritos da rádio ultrapassam em muito os seus problemas e foi ali, com o grande compositor e ex-diretor da emissora Flavio Oliveira e com Rubem Prates, que aprendi que uma programação não era mero sorteio ou livre-associação. É notável como eles conseguiam ligar inteligentemente cada música à próxima, fosse por seu tema, por sua evolução na história da música ou pela pura sensibilidade desses dois conhecedores, que viam parentescos em coisas aparentemente díspares. Com eles, aprendi que havia várias formas de se avançar na grande árvore da história de música. Por exemplo, pela manhã, a rádio iniciava por um compositor de música antiga ou barroco, depois ia para um clássico, daí para um romântico, e assim por diante, nos mostrando sempre os caminhos e os diálogos que um compositor travava com seu antecessor. Foi a maior das escolas. Com a Rádio da Ufrgs conheci o que cada compositor passou a seus sucessores e aquilo, após milhares (mesmo!) de dias como ouvinte, tornou natural a leitura das histórias da música que fiz depois. De forma misteriosa, estranha e certamente gloriosa, aqueles dois homens silenciosos já tinham me ensinado tudo, colocando as coisas na ordem certa para que meu ouvido entendesse. Hoje, a coisa está mais bagunçada, às vezes temos que reformatar o ouvido de uma obra para outra.

É claro que me emociono ao falar da Rádio da UFRGS, não há como ser diferente. Voltando a sua história, depois seu horário foi ampliado e já faz décadas que transmite 24 horas por dia como qualquer outra emissora. Conheci na rádio quase tudo o que ainda ouço hoje ou posto no PQP Bach. Lembro do dia em que ouvi a Oferenda Musical de Bach numa manhã intacta e perdida, no quarto já então pleno de futura saudade. Era uma gravação de Hermann Scherchen e, naquele momento, eu tive a certeza de que não existia nada que pudesse deixar aquele momento mais perfeito e importante, tal o modo como a música caiu sobre mim. Lembro do dia em que mandei uma carta — sim, pelo correio — para o programa de sábado à noite Atendendo o Ouvinte. Pedi a Sinfonia Nº 10 de Shostakovich. Fui atendido. Eu e uma namorada — eu devia ter entre 18 e 20 anos — deixamos de sair para ficar ouvindo aquela maravilha. Fora da música, talvez apenas os filhos, os momentos de amor ou a futura leitura do Fausto de Mann, de Tolstói, Dostoiévski, Bulgákov ou de Machado, além do enlouquecido Guimarães Rosa do Grande Sertão, me proporcionaram momentos em que novamente pareci ter saído de minha pequena natureza.

E, no grande último momento, dias atrás, ao ligar a rádio, dei de cara com a esquecida Sinfonia Turangalîla de Messiaen e permaneci – por sorte estava em minha cama, antes de dormir — por mais de uma hora, de olhos arregalados, cada vez mais acordado e eufórico. Ou ainda, anos atrás, quando atrasei-me para um encontro porque TINHA que saber qual era aquela música incrível que, afinal, era desconhecidíssima para mim na época: a Sinfonia Singular de Berwald.

É por viver com ela há mais de 45 anos, é por saber que só em Montevidéu, em Oslo e em Amsterdã (ouço pela internet) há emissoras de mesma categoria, é por ter receio de que a programação da rádio caia na vala comum — como tantos já desejaram –, que saúdo e fico feliz com os 60 anos, meus e de “minha rádio”.

Parabéns e longa vida!

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P.S. 1 — Tenho no computador de casa um excelente programa Música em Pessoa cuja entrevistada é minha Elena Romanov, que é violinista da Ospa. Ela foi entrevistada pela Ana Laura Freitas e é um baita programa.

P.S. 2 — Pedro Palaoro, funcionário da Rádio de Ufrgs, me informa: “O FM aparentemente virá em 2018. A banda será liberada no final de janeiro, quando caírem as TVs analógicas. Tem o tempo de aquisição de equipamento e tal, mas o planejamento é que isso ocorra logo”.

MP considera que não havia pedofilia ou incitação à mesma na exposição Queermuseu: “Não houve crime. Ponto”

MP considera que não havia pedofilia ou incitação à mesma na exposição Queermuseu: “Não houve crime. Ponto”

Com a Agência de Notícias da ALRS, do qual retirei trechos

No período dos Assuntos Gerais da reunião ordinária da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa, presidida pelo deputado Jeferson Fernandes (PT), na manhã desta quarta-feira (13), deputados debateram sobre a exposição Queermuseu, Cartografias da Diferença na Arte Brasileira. A mostra, que acontecia no Santander Cultural, foi fechada pelos organizadores no domingo (10), após divergências e protestos. Presente, o promotor de Justiça Júlio Alfredo de Almeida, da área da Infância e Juventude do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP/RS). Na segunda-feira (11), o promotor esteve no Santander, acompanhado da coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Infância, Juventude, Educação, Família e Sucessões, promotora Denise Villela.

Nas considerações iniciais, o deputado Marcel van Hattem (PP) explicou que havia convidado o representante do MP diante da mobilização da sociedade “gaúcha e brasileira em razão da exposição, que acabou fechada. A questão é pertinente e deve ser analisada democraticamente, sem violências”, ponderou. Para ele, a indignação aconteceu por parte de pessoas “que não se conformaram com situações que apresentavam sexo explícito, com acesso livre às crianças”. Disse que oficiou o MP por entender que, deve sim, haver liberdade de expressão, “mas que esta liberdade igualmente precisa ter limites, independente daquilo que é classificado ou entendido como arte”.

O deputado Pedro Ruas (PSOL) considerou que houve indignação, igualmente, por setores da sociedade que entenderam ter acontecido “um ataque à democracia e à liberdade de expressão”.

Cena de interior II -- Adriana Varejão
Cena de interior II, de Adriana Varejão

MP

O promotor Júlio Almeida, com 20 anos de atuação ligados à infância e juventude, disse que estava no encontro para “prestar contas à sociedade, tarefa do MP”. Informou que tomou a decisão de ir ao Santander, na companhia da promotora Denise Villela, após ter acesso a várias notas divulgas na imprensa e por parte das redes sociais. “Diante de algumas manifestações, segundo as quais haveria crime na mostra, me senti provocado, e o MP tem a obrigação de atuar quando provocado”, acrescentou, citando que foi recebido pela diretoria que lhe passou todas as informações solicitadas, bem como explicou as razões do fechamento da exposição.

Conforme ele, os dois promotores analisaram as mais de 200 obras e identificaram que algumas poderiam ter cunho sexual. “Não tratamos do mérito das obras enquanto arte. Nos fixamos no aspecto técnico, nas definições do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente)”, ponderou, destacando a atenção especial quanto ao crime de pedofilia. “Na nossa avaliação, depois que vimos as obras polêmicas, não havia crianças ou adolescentes em sexo explícito ou exposição de genitália de crianças ou adolescentes. Também não havia obras fazendo com que crianças fossem incentivadas a fazer sexo com outra criança”, comunicou, ponderando que a pedofilia ocorre em outras situações, como traz o artigo 241 do ECA: simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual. Já o artigo 241-D cita: aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de comunicação, criança, como fim de, com ela, praticar ato libidinoso.

De acordo com ele, se poderia considerar que algumas obras apresentavam cenas com extremada sexualidade, mas sem pedofilia. “Em outros casos, nos deparamos com a simulação de ato sexual, aí caracterizada como pornografia. No entanto, se houvesse situação de pedofilia eu daria voz de prisão aos responsáveis”, assegurou. Conforme o promotor, é preciso analisar a intenção da exposição. “Além disso, a legislação brasileira garante a liberdade de expressão”, adendou. Na sua avaliação, é necessária a construção de dispositivos que especifiquem mais claramente faixas etárias dos visitantes também no caso de exposições e mostras de arte. “O ECA é claro na classificação indicativa de idade para casos como filmes, peças de teatro e programas de TV. Não há nada em referência a museus ou exposições”, sublinhou. Júlio Almeida ressaltou que uma medida, simples, a ser tomada, seria a colocação de peças polêmicas em área restrita e frisou que não houve crime no episódio.

Pedro Ruas (PSOL) também destacou a presença do MP no encontro, pela importância dos esclarecimentos. “Lamento, no entanto, que estejamos discutindo este tema, que não deixa de ser significante, ao invés de estarmos buscando atenção e medidas que diminuam o sofrimento de milhares de crianças e adolescentes no Estado que não têm saúde, remédios, alimentos, educação e nem casa. O MP foi claro: não houve crime, ponto”. Advertiu que já conhece este caminho. “Primeiro, fecham atividades culturais; depois, prendem quem for contra”

A deputada Manuela d Ávila (PCdoB) cumprimentou o MP por seu papel no episódio, verificando no local o conteúdo da exposição e sugeriu que o promotor solicite imagens dos dias nos quais funcionou a mostra. “Por certo verificará a ação de grupelhos que perseguiram artistas e constrangeram o curador. Preocupa, isso sim, que este tipo de ação tenha contribuído para o fechamento da exposição, algo muito próximo da censura. Não quero isso de volta; já vivi este tempo”, assinalou.

A deputada Stela Farias (PT) citou nota divulgada pelo Conselho Estadual de Cultura, intitulada Inaceitável Censura, em referência ao episódio Santander. O texto cita a inconformidade do Conselho, “diante da reação de intolerância que deu causa para o encerramento da exposição Queermuseu, programada para permanecer aberta ao público até 8 de outubro, no Santander Cultural”. Ainda de acordo com a nota, “o Conselho Estadual de Cultura afirma que a obra de arte não pode ser cerceada, limitada ou censurada, e seu caráter sempre será promover a liberdade criativa, assim como refletir o seu tempo sob as diversas óticas e contradições. Restrições a alguma obra asseguram ao público descontente o direito de abster-se de ir ao local de visitação, assim como acontece com qualquer outra manifestação de livre acesso”. Para Stela Farias, a situação é esta: “devemos ter o direito de acesso. Vamos se queremos”.

Por fim, o deputado Jeferson Fernandes, presidente da CCDH, observou que o debate propiciou pontos convergentes, como a necessidade de classificação indicativa de idade para casos como este. “De outra parte, tivemos a posição, segura, do MP de que não houve crime de pedofilia. Entendo, isso sim, que a exposição foi pano de fundo para posições retrógradas, de censura. O mais estranho é que grupos que se denominam liberais estejam por de trás disso. Algo paradoxal. Os que defendem a liberdade foram autores de denúncia que fechou a mostra”, analisou.

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A nota divulgada pelo Conselho Estadual de Cultura que foi citada acima pela deputada Stela:

O Conselho Estadual de Cultura vem a público manifestar sua inconformidade diante da reação de intolerância que deu causa para o encerramento da exposição “Queermuseu – cartografias da diferença na arte brasileira” programada para permanecer aberta ao público até 8 de outubro, no Santander Cultural, em Porto Alegre. Esta mostra reúniu Pintores mundialmente reconhecidos como Alfredo Volpi e Cândido Portinari, além de outros 83 artistas.
A Constituição do Rio Grande do Sul em seu artigo 220 prevê que: “O Estado estimulará a cultura em suas múltiplas manifestações, garantindo o pleno e efetivo exercício dos respectivos direitos bem como o acesso a suas fontes em nível nacional e regional, apoiando e incentivando a produção, a valorização e a difusão das manifestações culturais. Parágrafo único: É dever do Estado proteger e estimular as manifestações culturais dos diferentes grupos étnicos formadores da sociedade rio-grandense”. A mesma Constituição prevê, em seu artigo 221, parágrafo V, inciso a: “as formas de expressão constituem direitos culturais garantidos pelo Estado”.

Lamentamos que tantos anos dedicados na separação dos direitos e deveres do Estado em relação à igreja e as ideologias sejam ignorados. Lamentamos constatar a apunhalada objetiva desferida contra a humanidade e o empobrecimento simbólico que este horror provocará

O Conselho estadual de Cultura afirma que a obra de arte não pode ser cerceada, limitada ou censurada e seu caráter sempre será promover a liberdade criativa, assim como refletir o seu tempo sob as diversas óticas e contradições.

Restrições a alguma obra asseguram ao público descontente o direito de abster-se de ir ao local de visitação, assim como acontece com qualquer outra manifestação de livre acesso.

O resultado destas manifestações, de indisfarçável intransigência e censura para com a referida exposição, evidencia a intolerância com o contraditório, o diferente, o novo. É sabido que não é função de uma exposição formar opinião ou definir posições ideológicas a partir do seu conteúdo e certamente isso não ocorrerá com o tema em tela.

Queremos um Brasil livre de medos, de preconceitos, de discriminação, de intolerância e por isso nos solidarizamos com o Curador e aos artistas da referida exposição.

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Recebi de colegas da UFRGS:

As e os docentes da Ufrgs, reunidos em Assembleia Geral no dia 11 de setembro de 2017, manifestam seu repúdio ao encerramento da exposição ‘Queermuseu – Cartografias da diferença na Arte Brasileira’ no Museu Santander Cultural de Porto Alegre, atendendo a pressões de grupos que realizaram campanhas pelas redes sociais e ações de constrangimento aos frequentadores da mostra. O encerramento da exposição é uma concessão à intolerância, ao preconceito e à incompreensão das artes. As alegações apresentadas para o cancelamento desrespeitam as obras e os artistas envolvidos, privam a população porto-alegrense do acesso a uma mostra de relevância internacional e acenam para um caminho inaceitável de censura e de restrição às manifestações artísticas e ao debate sobre a diversidade.  (ANDES-UFRGS).

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Nota do Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes – IdA (UnB) sobre a exposição Queermuseu:

Nós, membros da comunidade artística, cultural e acadêmica, professores do Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes da Universidade de Brasília queremos manifestar nossa contrariedade e nosso repúdio à decisão do Santander Cultural, de Porto Alegre-RS, de fechar e (auto)censurar a exposição Queermuseu: cartografias da diferença na arte brasileira.

Em um momento de aumento do conservadorismo, da intolerância e da violência ocasionada pelo preconceito, o fechamento e a censura de uma exposição abre um precedente gravíssimo que poderá ter como consequência a repetição de situações repressivas como essa em outras partes do Brasil e com diferentes atividades artísticas e culturais.

Afirmamos que as razões justificadas para a interrupção da exposição um mês antes de seu final são produto de uma campanha subterrânea pelas redes sociais que disseminaram informações falaciosas, equivocadas e deliberadamente mentirosas acerca das obras em exposição e sobre a plataforma curatorial da exposição.

Consideramos que decisão da instituição cultural terminará por reforçar movimentos obscurantistas e de caráter fascista que devem ser combatidos por todos os que defendem uma sociedade democrática e livre.

Nos solidarizamos com todos os 85 artistas participantes da exposição e com o curador Gaudêncio Fidelis pela violência dessa decisão e nos posicionamos radicalmente em defesa da liberdade de expressão e da liberdade da atividade artística no Brasil.

Brasília, 12 de setembro de 2017.

 Jesus Shiva, decFernando Baril
Jesus Shiva, decFernando Baril

É possível que Sartori seja reeleito?

Foto: Luiz Chaves / Palácio Piratini
Foto: Luiz Chaves / Palácio Piratini

Sim, muito possível. Durante o fim de semana, em Gramado, teria sido alinhavada uma chapa de Sartori com o ex-prefeito de Pelotas Eduardo Leite (PSDB). Tudo teria ocorrido no Congresso da Federasul. 300 líderes do comércio gaúcho estavam na Serra. Desta forma, o que houve foi quase uma reunião entre candidato e financiadores.

A chapa PMDB-PSDB, polenta com leite, é um perigo. Sartori está conseguindo vender uma imagem de administrador austero, enquanto faz patacoadas com fundações úteis. Ontem, o MP de Contas voltou a pedir suspensão da extinção das fundações por insuficiência de motivos apresentados pelo governo do Estado. O TCE reclamou da “forma sucinta e desprovida de documentação comprobatória em relação aos números apresentados e às estimativas de custos dos serviços públicos”.

Pequena correção à verborragia do prefeito Marchezan Jr.

Pequena correção à verborragia do prefeito Marchezan Jr.

Num de seus arroubos verborrágicos no Facebook, o prefeito Marchezan Jr., o Juninho do MBL, disse que o Sul21 seria um veículo da “esquerda radical” e que seu “dono teria trocado o PT pelo PSOL”. Tal afirmativa me causa frouxos de riso e certa perplexidade. Sempre sublinhando minha qualidade de reles funcionário, gostaria de dizer humildemente que sou o único filiado ao PSOL que trabalha no jornal. Completo dizendo que não sou nada militante.

Talvez esteja sendo imodesto ao me inserir no caso, mas creio que algum assessor tenha feito confusão. Sou o veterano de nossa pequena aldeia gaulesa, mas meu cabelo e barba grisalhas, já quase brancas, não me fazem “dono do Sul21“. Na verdade, meu cargo está mais para o de Chatotorix do que para o do grande chefe Abracurcix, aquele que tinha medo que céu caísse sobre sua cabeça.

O bardo Chatotorix
O cotidiano do bardo Chatotorix

Interesso-me muito por redes sociais e a página Nelson Marchezan Júnior, do Facebook, muito me diverte por seu papel de meio de promoção pessoal e ataque a partidos de oposição, sindicatos, servidores e adversários políticos. Mas evitarei dar minha opinião a respeito. Acho que é fácil deduzir.

Completo dizendo que o Sul21 não tem apenas um dono.

A nova programação da FM Cultura é…

A nova programação da FM Cultura é…

Vejam a reação do público à estreia de Renato Martins na FM Cultura antes que deletem. Um sucesso. A FM Cultura era uma das coisas boas deste estado.

Vamos tentar dar amplificação a quatro manifestações sobre a nova FM sem Cultura e outra de antes da “modernização”.

1. José Fernando Cardoso, funcionário da rádio.

Gente amiga (2), um último esclarecimento sobre as mudanças na Programação da FM CULTURA, pra que não haja alguma dúvida – e parece que tá ocorrendo um certo ruído, especialmente em relação a uma frase do presidente da FUNDAÇÃO PIRATINI, Orestes de Andrade Júnior, postada aqui no Facebook, de que “ouvimos e construímos uma nova grade junto com os servidores”. Sim, de fato Orestes e alguns membros de sua diretoria nos ouviram: nós, servidores da FUNDAÇÃO lotados na RÁDIO, fizemos três reuniões com eles na semana retrasada – e depois houve mais duas, com o novo diretor, Paulo Inchauspe, e os três programadores musicais, eu, Martinha e Clarisse. Nas reuniões com o Orestes, nos foi apresentada, num primeiro momento, uma nova grade, fechada, que acabaria por sofrer (mínimas) alterações depois de críticas e sugestões nossas. Pra se ter uma ideia, no primeiro modelo de grade não constava o ‘Conversa de Botequim’, simplesmente o programa mais conhecido e reconhecido – pelos ouvintes, músicos, colegas, apoiadores, jornalistas, divulgadores etc. – de toda a história de 28 anos da FM CULTURA. Insistimos que o ‘Conversa’ e o ‘Estação Cultura’ não poderiam cair: conseguimos manter o primeiro – e sugerimos o Demétrio Xavier pra apresentá-lo, já que a direção insistiu que o Luiz Henrique não mais poderia exercer a função -, mas infelizmente perdemos a batalha pelo segundo. Então, dizer que a grade foi construída conosco não é exatamente o que aconteceu – nossa compreensão sobre a discussão é bem diversa. Não concordamos com quase nada do que foi proposto pelos gestores: nem a troca dos apresentadores da Casa por terceirizados, nem a supressão de programas, nem o ‘Clássicos’ sendo jogado lá pra madrugada – é daí que surgiu a frase do “tu e mais 6”, quando uma colega nossa disse que era ouvinte assídua -, nem a inclusão de música estrangeira – que já é contemplada nos programas jornalísticos ‘Café Cultura’, ‘Cultura Na Mesa’, ‘Estação Cultura’ e segmentados –, o que fatalmente vai ocasionar perda de espaço para músicos locais e nacionais -, nem o esvaziamento do ‘Café Cultura’, que terá outro formato, muito mais superficial – risco que corre também o ‘Cultura Na Mesa’. Portanto, concluindo: a grade já estava modificada, 95% do que muda já estava decidido, nos opusemos de maneira muito clara, questionamos se essas medidas não deveriam passar pelo Conselho Deliberativo – eu, o colega Walmor Sperinde e o próprio Orestes, que ocupava uma das cadeiras do colegiado como representante da SECOM, sabemos disso de cor, até porque a FUNDAÇÃO ainda não foi extinta, então seu Estatuto e Diretrizes ainda tão valendo -, mas o atual presidente disse que entende que isso não é necessário. Então o que foi feito é que, a partir de nossa discordância, demonstrada já de cara e de forma veemente, deixou-se uma margem – pequena, minúscula, eu diria – para que sugestões nossas fossem levadas em conta. O que é bem diferente de uma construção conjunta, entre servidores e direção, da nova grade de Programação. O que aconteceu foi isso, perguntem aos demais colegas que lá estavam. Abraço a todos. E a luta continua.

2. Francisco Marshall, historiador.

DE ONDAS E DETRITOS

Se você fosse o dono ou gestor de uma empresa, trocaria uma funcionária culta, bem preparada tecnicamente, dedicada, reconhecida e aclamada por seu público, prestando um serviço relevante para a comunidade, pessoa certa no lugar certo, por seu oposto?

E trocaria um produto sofisticado, relevante, correto, bonito, singular, bem acolhido por seu público, por uma babaquice vulgar estilo camelódromo?

Resposta hoje vigente: “sim, afinal a empresa não é minha, o risco de solapá-la não atinge meu patrimônio, e o acionista maior (meu chefe) gosta mesmo de uma boa babaquice vulgar e aduladora. Ademais, se eu quebrar esta empresa, haverá quem aplauda, como há quem goste de me ver agredindo seus técnicos e seus clientes.”

3. Marcos Abreu, engenheiro de som.

FM Cultura

4. Renato Martins, apresentador do Café Cultura, comprovando o “mais do mesmo” em emissora pública.

Renato Martins comprovando o mais do mesmo

5. E vejam este post, por favor.

Aqui, o link, vale a pena clicar.. Hoje recebi uma visita pra lá de especial. A professora Isabel Velásquez é mexicana. Vive nos EUA. Leciona linguística na University of Nebraska. Lá ela ouve, diariamente, a FM Cultura! Fã de MPB, não perde um Conversa de Botequim. Apoiado por esta livreira. Participando de um seminário na PUC, as professoras que a acompanharam disseram que há três dias ela quer vir conhecer a livraria que apoia uma rádio cultural. E veio. Disse que a Bamboletras faz parte de seu imaginário cotidiano. Ao ouvir a rádio pensava: como será essa livraria? Agora conhece. Coisa de gente que ama os livros. Foi um lindo encontro!

14 de junho de 2017: A Noite da Maldade em Estado Puro

14 de junho de 2017: A Noite da Maldade em Estado Puro

O RS é um estado triste administrado por um merda. Porto Alegre — local onde nasci e onde vivo — é uma cidade truculenta, capaz de desalojar crianças numa noite como a de ontem. Somos um estado hipócrita e sujo, que tem Campanha do Agasalho para que a primeira dama apareça e que depois, em noite gelada, pede para a Brigada tirar o teto de 200 pessoas que não têm para onde ir. Foi uma noite horrorosa, de guerra contra desarmados e desamados, patrocinada por Sartori, pelo PMDB gaúcho e seus aliados. Espero que ninguém esqueça da noite desumana de 14 de junho de 2017 na hora de votar em outubro de 2018. Noite gelada, famílias postas no olho da rua, silêncio de parte da imprensa e prisão de deputado — fato apenas importante em relação às famílias por não ter ocorrido desde a ditadura. Meu pequeno consolo é não ter votado em nenhum deles. Nem de perto. Isso não me dá nenhum mérito. Gauchada burra, vá tomar no cu!

Foto de Guilherme Santos / Sul21
Foto de Guilherme Santos / Sul21
Foto de Guilherme Santos / Sul21
Foto de Guilherme Santos / Sul21
Foto de Guilherme Santos / Sul21
Foto de Guilherme Santos / Sul21
Foto de Guilherme Santos / Sul21
Foto de Guilherme Santos / Sul21

Aline S. G. (não pretendo sujar meu blog com seu nome completo, nem receber eventuais visitas deste tipo de gente) é o nome da juíza que autorizou a reintegração de posse de um prédio que ficou mais de dez anos abandonado e que nos últimos dois anos abrigava 70 famílias (homens, mulheres, crianças, idosos, etc.). Preocupada com o trânsito de veículos na região, determinou que a desocupação ocorresse à noite, autorizando o uso de força contra crianças, idosos, mulheres e homens. Esta senhora recebe um salário de milhares de reais. Além de outros tantos benefícios, percebe também R$ 4.300,00 de auxílio moradia, pagos com dinheiro público.

Neste momento, o bairro Anchieta está mais tranquilo do que água de poço

Neste momento, o bairro Anchieta está mais tranquilo do que água de poço

Confiram abaixo, nas fotos do meu amigo Fernando Guimarães, a tranquilidade do bairro neste momento, 24h após o término de chuvas que, ao menos no Bomfim, não causou falta de luz. Uma raridade. Fernando tirou a foto desde sua janela, de onde pode ver a placidez da paisagem.

Foto: Fernando Guimarães
Foto: Fernando Guimarães
Foto: Fernando Guimarães
Foto: Fernando Guimarães