Porque hoje é sábado, Kim Basinger

Ontem à noite, tinha pouco tempo e ainda menos inspiração. Então, melhor apelar, afinal…

… quantos de minha geração não viram, babaram e outras coisas para o cartaz acima?

O filme nem era tão bom, mas as algumas cenas eram muito ótimas.

Não adianta, não lembro da história, só do apartamento e de Kim Basinger.

Ah, e da música. Não era You Can Leave Your Hat On?

Começou cedo a trabalhar como modelo, claro.

Eram fotos para todo lado. Ela tem pedigree, pois…

…sua mãe trabalhara em alguns dos balés aquáticos de Esther Williams.

Kim Basinger, após um começo de mera presença física — e que presença — …

…tornou-se uma boa atriz.

Teve excelente atuação no bom Los Angeles – Cidade Proibida, com uma cara incrível de Veronica Lake.

Depois, parece que quase enlouqueceu com uma separação.

Que bobagem, Kimila! Obs.: seu nome é Kimila Ann Basinger.

Sofrer desse jeito. Uma mulher tão… durável!

(Acreditam que ela fará 56 anos em dezembro?)

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Ué, a campanha começou?

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Diagnóstico de Alma Welt

Engraçado, meus sete leitores gostam mesmo de um mistério. Telefonemas, e-mails, comentários até hoje, réplicas… Tudo para descobrir a identidade de Alma Welt. E em verdade vos digo: Alma Welt existiu, assim como existem Lúcia Welt e o pesquisador Jungmar Jensen.

Anton Tchékhov existiu também. E quem duvida da realidade de Gurov e de sua dama do cachorrinho Ana Serguêievna? Thomas Mann esteve entre nós, mas confesso que Adrian Leverkühn me é muito mais consistente e presente, até por ter feito um pacto com o Demônio. O Demônio também existe e não serei eu a duvidar de Fausto. Aquele foi criado pela religião, este por uma lenda popular, o que é a mesma coisa. E o que dizer de Deus, tão presente em nossas vidas?

Um de nossos leitores foi bastante fundo, pois trabalhou como inspetor de polícia na cidade onde Alma Welt escreveu grande parte de sua obra e suicidou-se. Por vício de profissão e equipado de boas práticas e autoironia, encafifou com o caso: imaginem que ele pesquisou sobre todas as mortes e suicídios recentes de Rosário do Sul. Mais: entrou em contato com a Associação dos Poetas Rosarienses. Um de seus membros declarou estar “consternado por desconhecer a pessoa e a obra de Alma Welt e mais ainda por ela nunca ter feito parte dos quadros da instituição”. Desta e de muitas outras formas, meu leitor garante que nada daquilo ocorreu, nem a morte daquele pobre e torturado padre citado na fortuna crítica e biográfica da grande Alma. Sua única preocupação é um elegante deboche: ele gostaria de saber se dialoga com um homem ou com uma mulher. Por quê? Ora, é que estava despedindo-se de Lúcia Welt com beijos e se esta fosse um homem tal atitude poderia, em suas palavras, “arruinar minha reputação”.

Pois eu me contraponho e ataco a Jorge Lima perguntando-lhe se foram documentados os terríveis crimes ocorridos nas cidades gaúchas de Boa Ventura e Santa Fé. Por exemplo, o jornalista e advogado Dr. Alcides Viana foi morto numa madrugada por um certo Fagundes ao sair da casa de sua noiva. Onde soube disso? Ah, foi no romance Porteira Fechada, de Cyro Martins, mas e daí? Alcides não representa a imprensa idealista com colhões? E toda aquela mortantade que houve por dois séculos em Santa Fé? Ou alguém aí vai dizer que nosso escritor maior mentiu e que, por exemplo, Ana Terra e Rodrigo Cambará jamais existiram? ERA SÓ O QUE FALTAVA PARA ACABAR DE VEZ COM NOSSO ESTADO!!! Não basta a Yeda?

Então, mesmo que o número IP de Jungmar Jensen e Lúcia Welt fossem iguais em alguns momentos — apesar do cuidado que deus tinha de usar IPs variáveis — , a gente deve contribuir para que a existência e a essência da Alma Welt se espraie pelo pampa como a de Erico e de Cyro.

E digo mais, tive um caso com Lúcia Welt, sua irmã. Vi in loquo as extraordinárias pinturas de Guilherme de Faria tendo Alma Welt como modelo. Pratiquei maravilhosos intercursos em salas com paredes lotadas de Almas que nos observavam, arfantes e apaixonados. Amei Lúcia Welt sabendo que nela encontraria algo dos restos de sua irmã. E, contrariamente a nosso inspetor, encontrei não apenas a mesma carne e o mesmo sangue, como os inestimáveis papéis amarelados de Alma, todos rabiscados de sonetos.

O Pranto de Alma Welt, de Guilherme de Faria

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Um Ato Privado: Uma Cusparada no Cadáver de Pinochet

Augusto José Ramón Pinochet Ugarte (Valparaíso, 25 de novembro de 1915 — Santiago, 10 de dezembro de 2006)

Hoje faz três anos que Pinochet morreu. Quatro dias após sua morte, em 2006, publiquei o post abaixo em meu blog da época. Este grande episódio pessoal foi retirado do El Pais e, mesmo em espanhol, teve importante repercussão, talvez pelo fato de nossa singular “grande imprensa” ter ignorado a história de Francisco Cuadrado Prats e do cadáver do ditador. Porém, meu afeto por este texto de um jornalista espanhol não vem apenas da notícia, mas do fato de que muitos amigos que hoje leem meu blog e se correspondem comigo terem chegado aqui através dele. A história deste artista tranquilo e muito simpático, que resolveu acertar seus débitos de dor, ódio e repulsa quando do falecimento de Augusto Pinochet, me faz sempre sorrir ironicamente. Nos dias subsequentes ao ato, ele dava entrevistas confirmando que fora um ato privado de desprezo e que estava apenas aguardando seu retorno ao anonimato.

Por J. MARIRRODRIGA (Santiago) – Publicado no El Pais

El nieto de un general asesinado escupe al féretro de Pinochet

Augusto Pinochet no sólo recibió el homenaje de sus simpatizantes y del Ejército durante la exposición de su cadáver en la Escuela Militar de Santiago. También recibió el salivazo de un familiar de una de sus víctimas, y sólo un delgado cristal impidió que fuera alcanzado su rostro. Y aunque la dignidad de todas las víctimas de la dictadura es la misma, lo cierto es que el hombre que escupió a Pinochet se convirtió ayer en el héroe de muchos chilenos.

Se trata de un nieto del general Carlos Prats, asesinado junto a su mujer en Buenos Aires en 1974 por orden de dictador. Prats fue el comandante en jefe del Ejército que precedió a Pinochet en el cargo y durante el golpe de Estado permaneció fiel al presidente constitucional, Salvador Allende. Pinochet siempre le negó los honores fúnebres de jefe del Ejército que él mismo recibió el pasado martes.

Hasta la madrugada de ayer se sabía que durante el desfile de simpatizantes frente al cadáver del general muerto se había producido un incidente cuando tres hombres se acercaron al féretro y uno de ellos pareció estornudar sobre él. Muchos de los presentes se lo tomaron como un accidente, algunos hablaron de falta de respeto, pero unos pocos se percataron de que en realidad el hombre que se acababa de inclinar sobre el ataúd, había escupido al rostro del militar fallecido.

Un grupito lo siguió tratando de evitar que abandonara el recinto. El agresor se marchaba caminando tranquilamente. El grupo consiguió darle alcance ya fuera del salón donde se encontraba expuesto el cuerpo de Pinochet y se formó un tumulto que finalizó con la intervención de la policía militar, que rescató al hombre de un grupo que pretendía lincharle allí mismo.

El detenido se identificó ante los uniformados como Francisco Cuadrado, y añadió: “Soy nieto del general Prats”. Los soldados supieron al instante de quién hablaba y optaron por comunicarse con el general director de la Escuela Militar, que ordenó que trasladaran a Cuadrado a su despacho. Tras permanecer unos minutos a solas con el nieto de Prats, el general ordenó que el hombre fuera escoltado hasta la salida del recinto y que un coche lo trasladara a su domicilio. La mayor parte de las personas que aguardaban su turno no se percataron del hecho y el incidente sólo fue un rumor que tardó unas 20 horas en confirmarse.

Francisco Cuadrado Prats, artista plástico de profesión, aguardó durante horas en la fila de miles de simpatizantes del dictador a que llegara su turno. “En un principio me acerqué por allí a ver qué pasaba”, explicó ayer. “Luego decidí quedarme e hice lo que tenía que hacer”.

“Mi última oportunidad”

El nieto del general Prats explicó a los medios de comunicación chilenos que, aunque la Escuela Militar estaba repleta de personas, su acción se había tratado de un “acto privado” ya que ésta era su “última oportunidad”, de mostrar su desprecio por el hombre que, tras ser recomendado por su abuelo para ocupar el cargo de jefe de Ejército, ordenó asesinarle. “Y además indultó a los homicidas”, añadió. Cuadrado, hijo de Sofía Prats, actual embajadora de Chile en Grecia, expresó además su total desacuerdo por el hecho de que el Ejército rindiera honores al dictador, considerado por toda la familia Prats como un traidor desleal. “Era una cuenta pendiente muy personal”, reconoció el hombre.

Prats, el militar leal

Carlos Prats era uno de los generales más leales a Salvador Allende. Era su amigo y aceptó, pese a reticencias personales, formar parte de su Gabinete. Para reemplazarlo al frente del Ejército, Allende se fió de su consejo y nombró comandante en jefe a Augusto Pinochet. Era el 23 de agosto de 1973. Once días después, Pinochet encabezó un golpe de Estado que acabó con la vida de Allende y dio la orden directa de bombardear el Palacio de La Moneda.

El general Prats, heredero de una tradición del Ejército chileno de sometimiento al poder civil, consideró desde entonces a Pinochet como un traidor desleal, el peor insulto que puede recibir un militar.

Prats, casado y con tres hijas, se exilió en Argentina, que pese a las turbulencias políticas todavía vivía en democracia. El 30 de diciembre de 1974 una bomba acabó con su vida y con la de su esposa, Sofía Cuthbert. La justicia argentina ha determinado que el atentado fue efectuado por los servicios secretos argentinos, infiltrados ya por la ultraderecha, pero que quien instigó y ordenó el crimen fue el propio Pinochet.

Años más tarde, las hijas de Prats lograron que Pinochet les diera permiso para repatriar los cuerpos de sus padres, pero se negó a que Prats fuera enterrado con los honores debidos a un ex jefe del Ejército. No fue hasta el año pasado cuando el entonces comandante en jefe del Ejército chileno, Juan Emilio Cheyre, presidió la ceremonia que debía haberse realizado tres décadas antes.

Adendo de hoje, 10/12/2009:

Em 21 de dezembro de 2006, o prefeito de Las Condes, Francisco de la Maza, demitiu o neto do general chileno Carlos Prats de suas funções como assessor cultural do municipio.

“Nesta decisão, não há ideologia”, declarou De la Maza ao Canal 13, em Santiago. “Na minha opinião, ele agiu de uma forma que não corresponde a um funcionário público e a uma pessoa ligada ao município de Las Condes. Dias depois, De la Maza propôs que a avenida principal da elegante Las Condes recebesse o nome de Augusto Pinochet.

Em resposta, o senador Nelson Ávila anunciou a instalação de uma “escarradeira” pública que levaria o nome do ditador morto, e acrescentou que esperava contar com Cuadrado Prats para sua inauguração. Não sei se ela existe.

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Baita descoberta… (via Inagaki)

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Traição

Acordei hoje com considerável dor de cabeça, algo que era habitual até meus vinte anos, mas que não me ocorre mais. Dizem que eu sofria de enxaqueca, principalmente porque a luz piorava tudo. Logo descobri que o melhor era ficar num quarto sem muita luminosidade, lendo ou ouvindo música. Em algumas horas, voltava ao normal. Há pouco tomei um paracetamol. Ele resolveu o que nenhum remédio resolvia antes.

Por que será que a gente encafifa com assuntos passados sem nenhuma relação com o presente? Pois hoje, sei lá por quê, enleei-me num episódio cômico ma non troppo de uns dez anos atrás. Sorria enquanto tomava café. Meu casamento estava charfurdando na crise que o matou, eu ainda vivia com minha ex, mas não havia nenhum interesse nem dela, nem meu. A gente ficava junto por inércia e por não ser ruim o suficiente para sair batendo a porta. Éramos apenas amiguinhos. Não obstante, eu mantinha a fama real de não trair. E não traía mesmo.

Como sói acontecer, o local mais espetacular que frequentava era a academia. O resto era assexuado: trabalho, crianças, até amigos e amigas. Eu era uma espécie de piadista oficial da academia ou, sendo mais veraz, diria que era um dos vários focos de geradores de assuntos e atenção. Aquilo me deixava feliz, vaidoso. Alongava, cumpria todo o treino com afinco (verdade, adoro!), corria meus trinta minutos, alongava de novo e conversava muito durante os intervalos e no final. Contribuíam para isso o café, o chimarrão e a cozinha sempre aberta da enorme ex-residência onde se esbelecera a academia. Raramente faltava a meus dois os três compromissos semanais lá.

Claro, um dos sintomas que quem está a fim de trair é o de reservar amigos para si e a turma da academia era só minha. Lá, a presença de minha ex — chamada Suélen ou Pâmela, nunca lembro –, seria imprópria e, verdade seja dita, ela nunca quis juntar-se a nós, sinal inequívoco de que o que havia aqui, talvez houvesse lá. Então, não eram necessárias grandes preocupações nem cavar ou pedir um espaço para mim. Este me era dado de presente. Havia, ora se não, minhas instrutoras preferidas e aquela com a qual mais gostava de fazer meus alongamentos e receber orientações era a dona da academia. Muito competente, tinha uns dez anos a menos do que eu (deve ter ainda, parece que isto não costuma alterar-se…) e não costumava deixar sem respostas nenhuma das minhas perguntas sobre encurtamentos e nódulos musculares. Principalmente os do pescoço. Algumas vezes pedia-lhe que dissolvesse aqueles nódulos com massagens, o que ela fazia com miraculosa habilidade.

Alongamentos, encurtamentos, etc. e não lembro como a conversa esquentou, mas posso garantir que foi subitamente, sem obedecer a nenhum planejamento. Com o papo indo por aquele caminho que faz uma parte de nosso corpo de menino estremecer, ela resolveu me alongar deitando-se sobre minhas costas, coisa que já fizera outras vezes de forma absolutamente profissional. Não tenho inteira certeza da posição em que ficava, mas acho que rezava voltado para minha meca particular quando ela resolveu me empurrar mais para o chão. Aquilo era agradável, nem parecia que estava alongando alguma coisa. Devo ter dito alguma bobagem como “Hum… peso bom!”. Ela não riu, o que tinha significado óbvio. Afinal, mulheres adoram que as façamos rir, mas quando param é melhor analisar. Pode ser irritação, ora.

Bem, depois são detalhes. No mesmo dia, ocorreu um agarramento dentro da cozinha da academia, cuja porta foi fechada com certa violência por minha professora, houve algumas festas de fim de ano e, vocês sabem, futebol é bola na rede. Aqui, chego próximo ao ponto no qual pensava durante minha dor de cabeça matinal. Se algum de meus sete leitores pensam que passei a me esconder, a atender sobressaltado o celular, se pensam que a confusão me procurava, estão enganados. Eu não contava para Pâmela (ou Suélen, nunca sei), mas também não mudava nada em meu comportamento. Só saía mais de casa. Exatamente como também ela passou a fazer. Ficávamos alternadamente em casa. A única coisa que me atrapalhava a consciência era vê-la muito quieta. Sempre achava que ela estava pensando em meu caso. Mas nunca conversamos a respeito de nada que rondasse a palavra “traição”. Não fazia sentido, dado o desinteresse mútuo.

Aqui, bem aqui, chego ao ponto exato que me fez rir hoje de manhã enquanto escovava os dentes. Já estávamos frequentando uma “terapeuta de casal” que serviria para definir a questão dos filhos. Um dia, bem lá no final do “tratamento”, durante uma sessão, Suélen (ou seria Pâmela?) me disse que eu tinha sido visto no cinema pelo chefe dela. Preparei-me para ser acusado, devo até ter me ajeitado na cadeira, quando a ouvi dizer, toda sorridente, que eu estava sozinho. Virei santo.

Quis saber que filme era. Era Malena. Então foi minha vez de sorrir. Naquela noite, fora ao um velório da mãe de meu melhor amigo de infância, jantara com minha amiga F., mas, antes do filme, deixara-a em casa com uma crise de rinite. Ela não gostava muito dos filmes que eu escolhia. Preferia ver DVDs de blockbusters americanos em casa. Um saco. Curiosamente, aquilo passou a ser a prova inequívoca de minha… sei lá… idoneidade, honestidade? Muitas vezes tal prova foi citada quando se conjeturava a possibilidade de reconstruirmos a relação. Deixei assim.

Quando por fim nos separamos, também me separei de minha amiga e da academia. Meus sete leitores devem saber que depressão a gente curte privadamente, não em praça pública, fazendo piadas.

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A Decadência do Cinema e de seus Comentaristas

Building upon each other’s knowledge is exactly what Newton meant when he said he can see further because he stands on the shoulders of giants.

BERTRAND RUSSELL

Tenho absoluta certeza da decadência do cinema. Deveria generalizar e falar em decadência das artes em geral? Bom, hoje meu assunto é cinema ou ao menos pretendo partir dele. E começo dizendo que acredito que a crescente intervenção dos produtores tem efeitos desastrosos nos filmes. Neste domingo, por exemplo, fiquei surpreso ao ver num canal pago a comédia romântica Procura-se um Amor que Goste de Cachorros, filme lá de 2005. Deu-me a impressão de que a personagem vivida por Diane Lane repetia os diálogos que a mesma Diane tivera antes no simpático Sob o Sol da Toscana. Pude assegurar-me do fato ao ligar a TV ontem na HBO e dar de cara com Diane Lane na Toscana: ela usava as mesmas palavras e vivia a mesma situação do filme que vira! Só que, em vez de falar ao advogado, falava à irmã. Algum produtor sentiu no bolso que o filme anterior dera bom lucro e resolveu repetir minuciosamente a fórmula. Diane concordou em ficar mais rica e, em compensação, corre o risco de obter o duvidoso título de “A Namoradinha dos Divorciados da América”. Deve estar preocupadíssima. E assim caminha a humanidade, ao menos a cinematográfica.

Os filmes parecem estar cada vez mais indulgentes para com um público supostamente emburrecido. Como contrapartida, poderia lembrar que, em 1974, fui a um programa duplo no extinto cinema Marabá. Às 14h, vi Gritos e Sussurros e, às 16h, Amarcord. Se não era normal, era uma coisa possível de se fazer na época. Afinal, eram lançamentos.

Uma vez, fui convidado por Fernando Monteiro a fazer listas dos 10 melhores filmes e livros de todos os tempos. Ele publicou suas listas e as minhas na Rascunho. Por e-mail, me provocava mais ou menos assim: “Quero ver quantas obras recentes constarão nelas”. Fiz a lista cinematográfica forçando a entrada de um filme de Peter Greenaway de que gosto muito — Afogando em Números… Mas confesso ter forçado a barra. Mais recentemente, escrevi uma relação de filmes maior e mais bem mais pensada e o fenômeno repetiu-se.

Poderia colocar nela os recentes e excelentes Dogville e Anticristo (Lars von Trier), Os Bons Companheiros (Martin Scorcese), Cidade dos Sonhos (David Lynch), A Vida é um Milagre (Emir Kusturica), As Confissões de Henry Fool (Hal Hartley), O Casamento de Rachel (Jonathan Demme), A Vida dos Outros (Von Donnersmark) ou Os Imperdoáveis (Clint Eastwood)? Até poderia, são belos filmes, mas quais tiraria?

(Um diabo chega por trás para fazer uma massagem em meus ombros e lê o que escrevo. Comenta: Não dramatiza, Milton, estamos numa época em que deixaram de fazer filmes de arte para fazer entretenimento. Antes que eu lhe diga que o cinema de entretenimento sempre existiu e que antes havia espaço para todos, ele vai embora. Se eu lhe respondesse, talvez ela fizesse referências à infantilização do cinema e de alguns adultos. Não vês as filas para Matrix? Não te lembras daquele quarentão que tcompra e sua diariamente seu videogame? Bom, diabo, esta é outra história e, na verdade, a decadência pessoal tem sua poesia e esta, dependendo das circunstâncias e de sua qualidade, pode até ser adorável.)

E, com os maus filmes, apareceu uma geração de críticos adequada a eles. Com mínimas noções de história do cinema, parecem não entender as alusões às vezes existentes nos filmes, sejam as de um ser mais complexo como Theo Angelopoulos, sejam as do pop Quentin Tarantino. E alguns que escrevem na Internet — onde, naturalmente, o amadorismo é mais presente — conseguem mais: conseguem transformar os fatos históricos narrados pelos filmes em ficção. É constrangedor lê-los. Isaac Newton e o roqueiro quase-hooligan-de-mentirinha Noel Gallagher sabiam estar Standing on the Shoulders of Giants, e que, só por isto, viam mais longe. Alguém deveria avisar a estes críticos que eles também estão lá e que deveriam delirar menos em seu suposto brilhantismo e olhar em torno. E um crítico cita o outro e todos juntos… Céus! Lembro de críticos que, ao comentarem um filme baseado numa obra de literatura, sabiam avaliar as alterações feitas por roteiristas nessa espinhosa questão de adaptar uma linguagem para outra. Agora, as críticas são rasteiras, ignorantes.

Eu estou convencido de que houve mesmo uma época (e um lugar) de ouro do cinema, que foi Hollywood na década de 1950, e talvez isso não se volte a repetir, porque se conjugaram várias coisas: o domínio da técnica cinematográfica, uma indústria próspera mas bastante aberta à inovação e a falta de concorrência da TV. Penso que depois disso tornou-se muito mais difícil ver-se filmes simultaneamente muito bons, inovadores e populares, como alguns de Hitchcock ou Nicholas Ray. Os Cahiers du Cinema vieram em auxílio a estes cineastas, porque até então o cinema americano era desprezado pelos intelectuais, e esses jovens (gente como Truffaut ou Rohmer) idolatravam John Ford e outros realizadores de Hollywood. Talvez o último herdeiro espiritual dessa época gloriosa seja Scorsese — o Good Fellas está ao nível dos melhores Nicholas Ray. O que aconteceu nas últimas décadas é que o cinema europeu começou a circular com grande dificuldade, esmagado pelos circuitos de distribuição americanos.

Hoje, não só o cinema se rendeu à linguagem fácil e banal dos filmes de entretenimento. TODA a cultura se transformou em produto de consumo popular. A reflexão cedeu espaço ao evento, tudo é evento. Tudo tem luz, produção, maquiagem até reunião de condomínio acabará tendo roteiro e cenografista. Mas e as idéias? E os ideais, as intenções? Para que fazer pensar se o que importa é faturar? Que discussão vou querer promover se o que quero promover é o sucesso de bilheteria e basta? O cinema sumiu junto com as utopias e quem sabe não está aqui a raiz da decadência? Claro que para toda ação, corresponde uma reação. Por que as Bienais não tratam do tema da arte como espetáculo vazio? Seria uma bela provocação.

Para finalizar este post deixado em aberto, cito Ivan Lessa — que pertence a uma geração anterior à minha — de memória:

Nós íamos ao cinema — definitivamente. Nós víamos filmes — indubitavelmente.

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Olha o Grêmio entregando o jogo aí, gente!

Não parece que Bérgson diz: “Parou. Não chuta mais a gol!”? E por que Adriano e Léo conversam com as mãos sobre as bocas? Foi neste momento que resolvi ver Coritiba e Fluminense. Depois alguns vêm com o papo de que o Grêmio não entregou…

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Larguei o Avanço, agora só uso Dolce & Gabbana… (updated)

… usar outra coisa? Tá louco?

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Em drágeas, Co e Curitiba

Antes, alguns tópicos sobre a rodada final do Brasileiro de 2009.

1. O G-4 ficou bem. O maior time paulista, o maior carioca, o maior mineiro e o maior gaúcho.

2. Os rebaixados são 3 times médios, daqueles que gostam de um elevador subindo ou descendo — Sport, Náutico e Coritiba — e o Santo André, clone de clube de futebol, obra de empresários.

3. Acertei que o Palmeiras ficaria fora do G-4. Pediu e levou.

4. Muricy deu seu habitual show ou estava calmo?

5. Inter: vice da Copa do Brasil, vice da Recopa e vice do Brasileiro. Centenário vice. Ganhou o Gaúcho, porém vencê-lo era uma obrigação, visto que o Grêmio dava maior atenção à Libertadores.

6. Grupo do Inter na Libertadores: Inter, Cerro (URU), Deportivo Quito (EQU) e o vencedor do Jogo 5 (Argentina 6 x Equador 3). Leia-se: LDU!

7. Quase foi o Flamengo quem entregou o jogo. Nervoso, não se impôs no primeiro tempo. Na verdade, como os outros, também estava louco para abrir mão do título. O Grêmio não jogou bem, apenas aproveitou-se. No segundo tempo, uma brisa mais forte fez cair seu mal montado castelo de cartas. Assim, como o Inter no ano passado, entregou o jogo. Vingaram-se.

-=-=-=-=-=-

Tenho algumas décadas de experiência em estádios de futebol e acho que posso apontar muitos erros na condução daquela pequena tragédia. Assisti a Coritiba x Fluminense desde os 30 minutos do segundo tempo, já que estava desinteressado pelo Maracanã. O que os câmeras da SporTV mostravam eram pessoas frustradas, chorando nas arquibancadas. O Flu defendia-se bem, sem dar chances aos paranaenses que só chutavam de longe, sem perigo. O que ocorreu depois da partida foi algo humano e previsível, fruto da frustração. Ou o policiamento acha que todo mundo frustra-se educadamente, ainda mais em grupo? A torcida do Inter, se pudesse, não teria entrado em campo na final da Copa do Brasil? Claro que entraria. Mas vamos aos erros:

1. Preços a R$ 5,00. Ora, a diretoria do Coritiba tentou lotar o estádio reduzindo o valor dos ingressos. Erro. Por exemplo, o que fez a Inglaterra para acabar com os hooligans? Colocou câmeras nos estádios e elevou o preço dos ingressos, privilegiando os associados dos clubes. O baixo valor do ingresso curitibano chamou para o estádio aquelas pessoas que utilizam o anonimato para cometer ações.

2. Onde estavam os seguranças? Os maiores clubes brasileiros utilizam seguranças próprios para auxiliarem a Brigada Militar. Esses homens vestem-se de terno preto e um de seus locais preferidos é na frente da torcida, de costas para o campo, a fim de evitar invasôes. Isso é mais necessário ainda no Couto Pereira, estádio “civilizado” onde se passa da arquibancada para o campo com se estivéssemos no Santiago Bernabeu ou na Inglaterra. Quando da invasão da torcida, viu-se que havia poucos seguranças e estes corriam da torcida…

3. Poucos e mal equipados brigadianos. Não vi brigadianos com cães. E as bombas de “efeito moral”, assim como os tiros com balas de borracha, demoraram longos minutos para aparecerem. Sabe-se que este gênero de multidão enfurecida assusta-se e recua facilmente quando se vê atacada, mesmo que o ataque seja mais de fumaça e barulho. Passaram anos até que aparecessem brigadianos adequadamente armados. Um fiasco.

4. Ambulâncias. O estatuto do torcedor manda que haja uma ambulância para cada 10.000 pessoas. No Couto Pereira, em flagrante desobediência à lei, havia apenas uma.

5. Vias de acesso. O Couto Pereira fica no Alto da Glória, perto da Universidade e, com os carros dos torcedores estacionados nas redondezas era difícil chegar reforços para a Brigada e mais ambulâncias, ainda mais que aquele era o momento em que a torcida estava se retirando do estádio, no contrafluxo.

6. Os distúrbios fora do campo. Normais após o que ocorreu no estádio, não? Os locais preferidos para as brigas foram os terminais de ônibus. É onde havia gente. 14 foram parar em hospitais.

Conclusão: Claro que a lei punirá apenas o clube e uns poucos torcedores, só que a culpa pelos acontecimentos deveria ser dividida entre o Coritiba e o poder público. Ouvi ontem alguns cariocas e paulistas estranharem tais acontecimentos numa cidade tão “civilizada” e “europeia” como Curitiba… Isto é simples ignorância. Curitiba só será mais civilizada que outra cidade brasileira quando for determinado que conservadorismo, limpeza urbana e civilização sejam sinônimos. Conheço bem. E Curitiba é tão europeia quanto Porto Alegre e menos que a violenta Buenos Aires. Grande coisa ser “europeia”!

Fotos: Terra.

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Outro dos muitos motivos pelo qual adoro Brahms

Dando continuidade a este post, mais um movimento lento de Brahms, o Andante do Quarteto para Piano, Nº 3, Op. 60, absurdamente lindo com Martha Argerich (piano), Dora Schwarzberg (violino), Lyda Chen (viola) e Mischa Maisky (violoncelo) em concerto realizado em 15 de junho de 2009 na cidade de Lugano, Suíça. Tratado como deve ser, como uma canção, é de ser ouvir de joelhos.

Ou aqui.

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Porque hoje é sábado, Nigella Lawson

Como disse aqui o Branco Leone, Nigella Lawson já tem bem mais de …

… 40 anos, pesa mais de 70 quilos e a bunda e os peitos têm mais de 1 metro…

… de diâmetro. Mas, pô, ela é linda, inteligente e ainda por cima sabe cozinhar.

Cá entre nós, acho ela meio porquinha na cozinha, mas admito …

… que sabe pegar o melhor e o faz com paixão…

Cheira, experimenta, saboreia, lambe os dedos…

É gulosa e, se a gente pedir você pedir direitinho, talvez ela até dê…

… para provar, sem maiores pudores vitorianos.

Porém, as Deusas da Cozinha são as mulheres mais desprotegidas.

Acumulam calorias. Deveriam, portanto, além de lavar sempre a louça, …

… dedicar-se mais a servir do que a sua própria alimentação.

Nada de ameaças, Nigella.

Melhor assim.

Acho uma brutal sacanagem dos jornais sensacionalistas …

… revelarem o que há por trás (ou na frente) dos complicados movimentos…

… de camêra a que se obriga quem produz seu prestigiado programa de receitas.

Não se mostra o que ninguém quer ver e o que deixaria …

a doce Nigella mais do que perplexa: …

… viram no que dá acordar à noite para explorar a geladeira? Pois é, é triste.

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Vejam até o último segundo

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Os jogos de domingo

Haverá disputa, e disputa sensacional, entre Fluminense, Botafogo, Coritiba e o vegetativo Santo André. Haverá outra decisão entre São Paulo, Palmeiras e Cruzeiro pelas últimas vagas na Libertadores. Mas acredito que não haverá disputa pelo título.

Eu nasci e vivo no Rio Grande do Sul. Gremistas e colorados vivem na mesma sociedade, são semelhantes étnica e religiosamente e acho que posso me colocar na pele dos gremistas com naturalidade. Basta inverter a situação e imaginar como eu reagiria. Eu nunca, mas nunca mesmo, desejaria ver o Grêmio campeão brasileiro. Então, por que o auxiliaria? É claro que eu torceria e aconselharia os jogadores e o clube a perderem o jogo de domingo logo nos primeiros minutos, para não deixar dúvidas nem esperanças ao outro lado. Porém, há outros clubes envolvidos e nem Souza nem a direção do Grêmio tiveram inteligência para notar onde estavam se metendo ao declararem abertamente que entregariam o jogo.

O jogador Souza, o qual não costuma primar pela reflexão, saiu de campo prometendo vingança ao Inter: entregariam o jogo pois o Inter fizera o mesmo no ano passado. Como colorado, admito que desejava que o São Paulo nos vencesse de forma a ultrapassar o Grêmio na liderança. Só que o Inter, muito mais malandro e marqueteiro, tratou de justificar a utilização do time reserva naquele jogo em São Paulo. Ah, temos jogo contra o Boca quarta-feira em Buenos Aires; ah, o temos que poupar nossos atletas porque só nos resta a Sul Americana; ah, pobres de nós que não temos mais chance de Libertadores e vamos lutar por um título de consolação, de segunda linha — afirmação que mudou logo após a conquista: ah, conquistamos um título INÉDITO para o Brasil, agora somos (nós, o Inter) campeões de TUDO.

Então, meus amigos, o jogo do Maracanã será uma farsa como foi São Paulo x Inter em 2008. O absurdo desse jogo foi o fato do Grêmio ter limpado a área dizendo que ia entregar MESMO. É claro que, durante a semana, sob protestos de Inter, São Paulo e Palmeiras, teve de recuar. Agora as vozes do Olímpico prometem luta, honra, dedicação, seriedade e… time reserva, provavelmente. Pois a forma politicamente correta de entregar um jogo é escalando um time fraco, mandando-o vencer o jogo. O que a tola direção gremista não pensou é que esta partida será transmitida para o mundo inteiro como a Decisão do Brasileiro de 2009 e que há uma grana grossa envolvida. Os donos dos direitos de transmissão querem vender o campeonato como um bom produto, como uma disputa séria e hasta la muerte, não como uma farsa. Me desculpem os amigos gremistas, mas que diretoria imbecil vocês têm.

A declaração lapidar (literalmente) sobre a situação foi dada pelo jogador Giuliano, 19 anos, do Internacional:

Se não perderem para o Flamengo, os jogadores ficarão marcados pela própria torcida. Se forem mal, serão lembrados por terem entregado a partida. Ficarão em situação ruim de qualquer jeito.

Óbvio, uma ação que teria de ser feita justificando a ausência de cada jogador — estes dois se machucaram durante os treinamentos, aquele perdeu a avó, o outro já tinha uma dispensa prometida previamente — foi feita à vista de todos. E digamos que o Brasil tenha certa dificuldade em compreender ou admitir nossa rivalidade sem tréguas. Um argentino, torcedor de Boca ou River, entenderia facilmente. A gente prefere mil vezes ver nosso time perder a imaginar o outro feliz. Somos irracionais? Mas é claro! Qual foi o idiota que disse que NÃO SOMOS IRRACIONAIS?

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Lúcia Welt, a irmã de Alma, responde

Nosso blog tem a honra de abrir espaço para para a irmã de Alma Welt, Lúcia Welt. Dentro da maior civilidade, ela veio não apenas prestar esclarecimentos sobre a existência de sua irmã. como explicar as lamentáveis circunstâncias de sua morte. Ontem, houve fortes questionamentos a este respeito por parte de nosso leitor Jorge Lima, inspetor real de polícia ora envolvido informalmente num caso a meu ver ficcional, assim como, em tom irônico e compreensivo, de Luís A. Farinatti, professor do Departamento de História da UFSM, especialista em história agrária, da família e social do Brasil Império.

Prezado Milton Ribeiro

Eu sou Lucia, irmã da saudosa Alma, Poetisa maior do Pampa, e gostaria de esclarecer algumas coisas sobre o “mistério Alma Welt”, já que é o que está se tornando a sua trágica e prematura morte, aos 35 anos , no auge de seu talento e beleza.

1°- Meus avós, Joachim e Frida Welt, agricultores alemães imigrados dos Sudetos da Tchecoslováquia antes da segunda grande guerra, depois de décadas na região de Blumenau SC compraram uma estância pampiana no extremo sul do país e foram pioneiros na plantação de um vinhedo no Pampa, de que agora há muitos outros exemplos.

2°- Por razões que por enquanto não devo esclarecer, a cidade do Rosário do Sul foi usada apenas como uma referência deliberadamente falsa, pois eu não quis que identificassem a verdadeira cidade mais próxima da região de nossa estância. Assim também o citado delegado Benotti é um nome falso (por razões de segurança) de uma pessoa real, de outra cidade.

3°- Um comentador referiu-se ao nosso poço da cascata (onde Alma se afogou) como uma “cachoeira”. Nem Alma nem eu nunca nos referimos a essa cascatinha como “cachoeira”. E ela em si, não é “perigosa”. Há um riacho aqui na nossa estância que depois de uma pequenina cascata de três lances forma um “poço” (laguinho) mais fundo onde Alma se afogou colocando um laço em seu pecoço e a ponta da corda de 150cm a uma pedra de mais ou menos 40cm de diâmetro que a arrastou para o fundo quando ela a deixou cair do alto de uma pedra mais alta da margem que fica perto do centro do “poço” .

4°- Devo protestar quanto à tua afirmação de que as obras da Alma não chegam a ser obras-primas. É claro que nem tudo é e nem poderia ser, mas se mergulhares nesse mundo de textos, verás que há muitas, sim, muitas obra-primas. E o conjunto forma um todo monumental, conquanto sejam obras de caráter intimista (contradição em termos, eu sei) e confessional. Mas o encanto da obra da Alma é justamente que ela consegue transcender o mero personalismo e, mormente os sonetos, permite uma leitura no plano simbólico universal. Ela seria o que Keats chamava de “egotista sublime” (ele se referia ao seu contemporâneo Wordsworth) um tipo de poeta de que temos inúmeros exemplos, sendo o maior o grande Walt Whitman, embora também Florbela Espanca.

5°- O famoso artista plástico e tambem escritor e poeta cordelista Guilherme de Faria (66), descobriu a Alma e sua obra literária em 2001, em seu ateliê de pintora na região dos Jardins, onde ela morou e trabalhou entre 1999 e 2005. Ela chamava esse período de seu “auto -exílio paulistano” motivado pela dor da morte do nosso Vati (papai), que era um médico que não se dedicou à medicina, e era um pianista clássico amador de grande talento e hablidade, mas que só tocava para a família. Quanto ao mestre Guilherme, não fez somente gravuras, mas muitos retratos dela em pintura a óleo sobre tela (vide seu blog), bem como magníficos desenhos a pincel e nanquim que captam de maneira magnífica o belíssimo perfil de minha irmã, e outros, o seu corpo inteiro, quase sempre nu. Até hoje ele está na sua “fase Alma Welt”, pois ele a amou e a considera a sua “última e definitiva Musa” (como ele diz).

Se precisarem de mais esclarecimentos, estarei à disposição com prazer, aqui, se me permites, ou no meu blog. Digo isso porque vejo que trataram Alma com respeito, principalmente por sua obra, que realmente está acima de dúvidas e controvérsias. Estou grata.

Abraços a ti e aos que amam ou respeitam a Alma.

Lucia W

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Quem acredita em Alma Welt (1972-2007)?

Já aprendi — com Lacan, veja só! — que o significado do que se diz é dado por quem escuta e não por quem fala. Freud, muito antes, já descobrira que a chave da interpretação está com o analisando, não com o analista. Este, quando não atrapalha, oferece a escuta e… aí o analisando diz e exclama: — “Eu sabia!”. Assim vivemos: num mundo imaginário onde até mesmo a imagem de si mesmo é constructo imaginário! Por isso acredito piamente em TUDO que você escreve – o que é a mesma coisa que dizer: “não acredito em NADA disso”.

Comentário do Dr. Cláudio Costa ao post A Autocensura, de meu blog anterior (fora do ar)

Alma Welt foi uma grande escritora gaúcha nascida em Novo Hamburgo (RS) em 8 de janeiro de 1972. Belíssima, prolífica e talentosa, suicidou-se em 20 de janeiro de 2007 na fazenda onde vivia no interior gaúcho — mais exatamente na Estância Sta. Gertrudes, em Rosário do Sul. Ela não se deixava fotografar e dela só há gravuras, todas feitas por Guilherme de Faria.

Até hoje, seus dois biógrafos, a irmã Lúcia Welt e Guilherme, publicam na internet textos inéditos da imensa obra de Alma. Seu único livro publicado foi Contos da Alma (Editora Palavras e Gestos, 2004), o qual foi saudado por José Mindlin como uma obra admirável. O célebre bibliófilo procurou Alma sem sucesso. Eu não fiz uma contagem dos sonetos (fala-se em 700), contos, romances e textos vários de Alma Welt que encontrei na rede, mas posso dizer que não é pouca coisa. Mais: não é pouca coisa e há coisas de muito boa qualidade, como vários dos Sonetos Pampianos e dos Metafísicos. Alma Welt foi uma espécie de estrela do site Recanto das Letras até ser expulsa postumamente, fato tão inédito quanto sua imensa obra. O motivo teriam sido as circunstâncias de sua morte, “demasiado romanesca”. Estranhamente, o site abriga milhares de escritores com os nomes e codinomes mais esquisitos, como Miss Pain, flash e Menina Sol, mas não pode abrigar a obra da cultíssima Alma nem ter seu protetor Guilherme (de) Faria entre seus membros.

Não, não há indícios de plágio ou outro crime de qualquer natureza. O material é todo original, o único senão é a profunda desconfiança de que Alma Welt jamais tenha existido. Só que Alma Welt, ficcional ou não, existiu e existe. Tem obra própria, biografia e seus textos seguem aparecendo aqui e ali.

Minha amiga Vera Medeiros é professora da Unipampa em Bagé (RS). Ela existe, tanto que escorregou ontem em seu banheiro bageense, tendo realizado um spaccata involuntário (ou espacato ou espacate, como queiram), peripécia de que não se orgulha, mas da qual é lembrada sempre que tenta caminhar…. Mas tergiverso… Graduada em Letras pela UFRGS, é mestre e doutora em Literatura Brasileira. Em seu mestrado e doutorado, dedicou-se ao estudo da obra da escritora Clarice Lispector que, supomos, tenha efetivamente existido. Um de seus alunos fez um trabalho sobre Alma Welt. Vera, que escorrega mas não é exatamente uma desequilibrada, ficou desconfiada. Welt, Alma Welt? Welt significa “mundo” em alemão e Alma é um nome de mulher. E é alma. Vera me disse: “Não, ela não existiu; mas a obra dela, provavelmente escrita por Guilherme de Faria, está aí e há coisas interessantes. Vou te mostrar.” E mostrou.

Vida e Obra de Alma Welt

Sonetos Metafísicos de Alma Welt

Sonetos de Mistérios da Alma (de Alma Welt )

Contos da Alma (de Alma Welt)

Romances de Alma Welt

O espaço da irmã da Alma

Guilherme de Faria

O Caso Alma Welt

E eu, com um sorriso irônico, pergunto àqueles que dentre meus sete leitores clicaram nos links acima: você acredita em Alma Welt?

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Fala, oráculo

Predição (muito fácil):

Com atores como a revista Veja e o jornal Folha de São Paulo, teremos as eleições presidenciais mais engraçadas, caóticas e rasteiras de todos os tempos.

Foto retirada do Cloaca News.

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Abraços Partidos, de Pedro Almodóvar

Ontem à noite, os sócios do Guion foram convidados para a pré-estreia de Abraços Partidos, de Pedro Almodóvar. A propósito, você já se associou? Eu pago R$ 180,00 anuais e quase semanalmente vou a alguma das salas do Guion. Calculo um lucro anual de uns R$ 300,00, mas tergiverso…

Tenho uma relação paradoxal com Almodóvar. Vou tentar explicá-la a seguir: sinto-me atraído pelas imagens, pela cenografia, pelas atuações das mulheres, pelos diálogos francos, pelas cores fortes —  adequadas a um daltônico como eu — , pela gratuidade de algumas situações que simplesmente não entendo (*), ao mesmo tempo que não gosto do artificialismo, tenho dificuldade de acompanhar certos roteiros inesperados e muito românticos, com relações de parentesco descobertas de surpresa e suas reviravoltas. Também fico hesitante quanto ao profundo amor do cineasta por mostrar muitas vezes o kitsch mostrado dentro de um arcabouço elegante.

De seus filmes, gostei principalmente do primeiro que vi — Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos –, além de Carne Trêmula e Fale com Ela. Este Los abrazos rotos vai unir-se àqueles em minha lista de melhores. À exceção do primeiro, são filmes “perigosamente” próximos do melodrama, sem efetivamente assentar-se no gênero. Li que seria seu filme mais masculino e, OK, é. Mas é muito mais um filme sobre o cinema e sobre um cineasta que fica cego. Aliás, há muitos duplos no filme. O cineasta Mateo Blanco também é Harry Caine (hurricane?), a personagem de Penélope Cruz — cada vez mais Audrey Hepburn — se divide entre duas vidas, o filme dá foco a dois tempos distintos e há um filme dentro de Abraços: certamente Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, desta vez refeito por um diretor cego, em clara autoironia.

O plot do filme é simples: Penélope é uma secretária aspirante a atriz que, após se tornar amante do chefe milionário, tem a chance de entrar para o cinema através da grana e da influência. Ela será a atriz principal de Garotas e Malas, de Mateo Blanco. Está história alterna-se com outra, onde Mateo aparece cego, na época da morte do empresário. O filme vai preenchendo todas as lacunas daquela forma autoral de Almodóvar: construção engenhosa, belas cenas e perfeita dramaturgia carregando paixões exacerbadas de amor e maldade. Abrazos tem muitas referências e citações a outros diretores e até uma engraçada auto-homenagem para que os hostis possam espicaçá-lo.

Eu acho que vale a ida ao cinema. E como!

(*) Alguém me explique a função daquela dupla de DJs na história!

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Os filhos da verdade

Por Washington Araújo, publicado na Carta Maior.

Poucas vezes encontramos na grande imprensa do país um ataque tão direto ao caráter de um presidente da República e o que mais impressiona que poucas vezes tivemos refutações tão veementes quanto à fidedignidade do ataque. Um pouco mais de apuração jornalística faria cair por terra o excesso de paixão ideológica que como sarampo vive contaminando amplos setores de imprensa. Um celular e um pouco de vontade e mais umas pitadas de amor à verdade reduziriam aquela página A-8 inteira a rodapé de coluna social… ou policial. O artigo é de Washington Araújo.

Causou-me estranheza a Folha de São Paulo ter concedido uma página inteira para o artigo do cientista político Cesar Benjamin na última sexta-feira, 27/11/2009. O artigo, aparentemente sem sentido, relatava com minúcias de detalhes os dias em que o autor passara detido nas dependências do DOPS em São Paulo, em 1980 e que, à mesma ocasião estivera preso o atual presidente da República, Luiz Inácio. O título também queria transparecer que se tratava de um texto, digamos, ameno. A Folha titulou-o como “Os filhos do Brasil”. Em espaço de quatro colunas encimava um fotograma do filme “Lula, o filho do Brasil”, cena em que o ator Rui Fabiano fala a uma extensa platéia de sindicalistas, interpretando o personagem-título do filme. A narrativa é fluida, vamos lendo, lendo e em alguns momentos parecemos estar rememorando os dias de prisioneiro de Graciliano Ramos em sua excelente obra “Memórias do cárcere”. No primeiro caso não há estilo literário, apenas exercício mental do autor que é loquaz em alguns pontos e completamente amnésico em outros.

Benjamin tenta uma moldura de veracidade para sua condição de ex-preso político, sabe de cor nomes de ex-detentos e chega a afirmar que acompanhou a trajetória de vários destes. Mas o que deseja Cesar Benjamin com esse texto? Simples. Benjamin quer atacar a honra de Lula tendo como gancho o filme de Fabio Barreto que, segundo a linha editorial da FSP, é um filme feito para gerar o mito, um filme que varre do roteiro qualquer coisa que empane o brilho do caráter personagem-título. E o articulista já depois de dois terços do caudaloso texto – afinal, leva página inteira da Folha – vai ao ponto: relata ter ouvido do próprio Lula que este em crise de abstinência sexual tentou subjugar um jovem preso, mas que foi repelido por “socos e cotoveladas”. Seria este jovem militante de organização de esquerda, o Movimento pela Emancipação do Proletariado.

É óbvio que tal artigo se posicionava como contraponto ao filme dos Barretos, inspirado no livro da jornalista Denise Paraná. O lançamento, a estréia mundial em Brasília, na abertura do 42o. Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, do qual fui jurado, teve superlotação do Teatro Nacional, manifestação pró-libertação de Cesare Battisti, preocupações exageradas com a segurança do local que abrigava cerca de 1.800 espectadores, 400 a mais que o permitido e que, segundo Luiz Carlos Barreto não contava com brigadistas dos bombeiros. A grande imprensa optou repercutir esses pontos e deixou de falar do filme e, quando queria falar do filme era pelo viés de se tratar de obra de propaganda fora de época. Como não surtiu efeito os queixumes da Folha e seus confrades midiáticos o jeito mesmo era buscar um texto que atentasse contra a integridade moral do personagem central do filme e, que obra do destino, ocupa o cargo de Presidente da República desde janeiro de 2003.

César Benjamin cita, em seu texto, uma testemunha, “um publicitário brasileiro que trabalhava conosco cujo nome também esqueci”. O “publicitário” é o cineasta Silvio Tendler, que em 1994 trabalhou na campanha de Lula à presidência da República. Em entrevista ao jornalista Bob Fernandes, Tendler afirma: ”Ele diz não se lembrar de quem era o “publicitário”, mas sabe muito bem que sou eu. Eu estava lá e vou contar essa história…” E, então, Silvio Tendler conta o que viu e o que recorda daquele almoço em meio à campanha presidencial de 1994:

– Era óbvio para todos que ouvimos a história, às gargalhadas, que aquilo era uma das muitas brincadeiras do Lula, nada mais que isso, uma brincadeira. Todos os dias o Lula sacaneava alguém, contava piadas, inventava histórias. A vítima naquele dia era um marqueteiro americano. O Lula inventou aquela história, uma brincadeira, para chocar o cara… só um débil mental, um cara rancoroso e ressentido como o Benjamin, guardaria dessa forma dramática e embalada em rancor, durante 15 anos, uma piada, uma evidente brincadeira…

Para quem não sabe Silvio Tendler já fez cerca de 40 filmes, entre curtas, médias e longas-metragens. Além de vários prêmios é detentor das três maiores bilheterias de documentários na história do cinema brasileiro: “Anos JK” (800 mil espectadores). “Jango” (1 milhão de espectadores) e “O Mundo Mágico dos Trapalhões” (1 milhão e 800 mil espectadores).

E não ficamos por aqui. Vejamos as falas de outros participantes do almoço onde foi servido o cozido que abasteceu o longo artigo do Cesar Benjamin.

O publicitário Paulo de Tarso da Cunha Santos, citado por Benjamin, afirmou que “o almoço a que se refere o artigo de fato ocorreu”, que “o publicitário americano mencionado se chamava Erick Ekwall”, e que não houve “qualquer menção sobre os temas tratados no artigo”. Ex-companheiros de cela de Lula no Dops, José Maria de Almeida (PSTU), José Cicote (PT) e Rubens Teodoro negaram a tentativa de estupro, tendo Almeida acrescentado que não havia ninguém do Movimento pela Emancipação do Proletariado na cela e Cicote se lembrado vagamente de que um sindicalista de São José dos Campos seria apelidado de “MEP”. Já Armando Panichi Filho, um dos dois delegados do Dops escalados para vigiar Lula na prisão, disse nunca ter ouvido falar disso e não acreditar que tenha acontecido, mesmo porque, segundo ele, nem sequer havia “possibilidade de acontecer”. O então diretor do Dops Romeu Tuma (atual Senador) também desmentiu “qualquer agressão entre os presos”.

O irmão de Lula, o conhecido como politizado da família Silva, o Frei Chico, lembrou que a cela do Dops era coletiva e que nunca Lula ficou sozinho, pois estava preso com os outros diretores do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (Rubão, Zé Cicote, Manoel Anísio e Djalma Bom).

Como disse Tendler ao fim de sua entrevista ao Bob Fernandes, “…isso não tem, não deveria ter importância nenhuma. Só um débil mental, um cara rancoroso e ressentido como o Benjamin, guardaria dessa forma dramática e embalada em rancor, durante 15 anos, uma piada, uma evidente brincadeira…”

O Presidente do PSTU, José Maria de Almeida dividiu cela com Lula e declarou o seguinte: “O governo Lula é tragédia para a classe trabalhadora. Mas isso que está escrito não aconteceu. Benjamim viajou na maionese. Não lembro sequer de haver alguém do MEP conosco.”

Lula, de acordo com o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto de Carvalho, teria ficado triste e abatido, afirmando que isso era “uma loucura” e o próprio Gilberto de Carvalho qualificou a acusação de “coisa de psicopata” e recriminou a Folha por tê-la publicado, já o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, afirmou que o artigo é “um lixo, um nojo, de quem escreveu e de quem publicou”. Coube ao ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, atribuir “essa coisa nojenta” aos ressentimentos e mágoas de Benjamin, que algum tempo depois deixaria o PT, mas não por causa desse episódio.

Para seguirmos o Manual da Folha… agora seria o exato momento para uma ampla entrevista – de preferência ocupando página inteira – com o cineasta Sílvio Tendler. Seria uma forma de reafirmar seu decantado compromisso com a verdade, seu apreço pelo “outro lado da notícia” e seu interesse de bem informar os leitores. Aliás, quem conhece Cesar Benjamin e quem conhece Sílvio Tendler sabe que a verdade é sempre modesta e que esta não requer amplos espaços para se tornar referência.

Poucas vezes encontramos na grande imprensa do país um ataque tão direto ao caráter de um presidente da República e o que mais impressiona que poucas vezes tivemos refutações tão veementes quanto à fidedignidade do ataque. Um pouco mais de apuração jornalística faria cair por terra o excesso de paixão ideológica que como sarampo vive contaminando amplos setores de imprensa. Afinal, a maior parte dos protagonistas do almoço citado por Benjamin está viva, e de facílima localização. Um celular e um pouco de vontade e mais umas pitadas de amor à verdade reduziriam aquela página A-8 inteira a rodapé de coluna social… ou policial.

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Lançamento: Fora do Lugar, de Rodrigo Rosp

Estarei lá, bem cedinho. É mais um Não-lançamento.

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