Notícias da Família Avelar

Chegaram sábado, quase que direto, fomos ao jogo do Inter. Idelber e seu filho Alexandre impressionaram-se com a frieza de nossa torcida. Todos sentados, assistindo ao jogo. Só a Popular, abaixo de nós, comportava-se como a Massa, mas tomada de grande cansaço. Engraçado, o Inter é um time recentemente bem sucedido, que enche estádios, mas sua torcida é cada vez mais tranqüila. À noite, tivemos uma festa em parte convidada por mim, em parte por ele e em parte auto-convidada. Conhecemos a Gabriela Zago, tímida e risonha Twitter no meio de uns caras muito faladores; reconhecemos a ala colorada do Impedimento, Daniel Cassol e Douglas Ceconello; esteve lá meu querido ex-chefe Tiago Casagrande, em noite de grande inspiração.

Ontem, dia de brique, Barranco e calor insano, foi dia de Katarina Peixoto, de seu maridão, do César do Animot e de um monte de não-blogueiros não menos interessantes.

O Idelber conhece bastante Porto Alegre e os convites vão acontecendo de um jeito inesperado, ao menos para mim. Se me contassem que, após 48h, o homem só faria uma refeição lá em casa, não acreditaria.

Uma história certamente pouco divulgada e que deve figurar em meu blog – mais pessoal e íntimo que o dele – é o jeito com que o Idelber relaciona-se com seus filhos. São eles o Alexandre, um menino de 11 anos, e Laura, uma menina de 8. O Alexandre é um projeto de adolescente ensimesmado, mas felizmente isto tem de ser somado a uma perfeita calma e gentileza. Mesmo com o iPod nos ouvidos, está ligado, pricipalmente se houver comida por perto. Como o pai, sabe tudo de futebol. A Laura também não é especialmente loquaz, porém impressiona pela maturidade e por gostar de cozinhar, fato que a fez ser adotada imediatamente por minha mulher. Gosta de palavras e dá explicações muito acima do esperado para seus 8 aninhos. Os dois demonstram que o Idelber é pouco comparado ao que virá.

P.S.- Cadê as fotos, Bernardo?

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Porque hoje é sábado, Ingrid Bergman

No Dia Internacional da Mulher, apresentamos a – na opinião deste atento observador – mais bela representante do sexo a que dedicamos não apenas nossos sábados como todos os dias de nossas vidas: Ingrid Bergman (1915-1982).

Notem acima como Ingrid, aos 63 anos, quatro antes de falecer e já tendo realizado duas mastectomias em razão do câncer que lhe foi fatal, ainda era uma mulher belíssima.

Ela, que nasceu e morreu no mesmo 29 de agosto, protagonizou um enorme escândalo em 1949.

Ingrid separou-se de seu marido sueco Petter Lindström para casar-se com o diretor Roberto Rosselini. Ambos tinham filhos, família, cachorro e calopsita.

Tal paixão fez com que Ingrid fosse acusada de adúltera e de mau exemplo para as mulheres americanas. Ficou anos sem filmar nos EUA.

Os EUA não fizeram muita falta, nem pessoal nem artísticamente. Com Rossellini ela teve três filhos: Roberto e as gêmeas Isotta Ingrid e Isabella, esta a também atriz Isabella Rossellini.

Meu Deus, que pedigree! :¬)))

Recebeu três vezes o Oscar, sempre com filmes meia boca.

O primeiro veio em 1944 com “À Meia-Luz”, o segundo em 1956 com “Anastácia, a Princesa Esquecida” (imaginem o que deve ser…).

O terceiro em 1974 por uma solteirona tímida em “Assassinato no Orient Express”.

Mas ficará eternizada por Casablanca, pelo saco de dormir de Por Quem os Sinos Dobram (daria tudo para me meter ali com ela)…

pela obra-prima Stromboli e pelos hitchcocks.

Aliás, Hitchcock a criticava publicamente: dizia que, se desejava ser eterna, não tinha que fazer papéis de grandes heroínas como Joana d`Arc, mas seus pequenos papéis.

O gordinho, como sempre, tinha toda a razão.

Pois, além de nos hitchcocks, ela é vista por toda a nova geração em um filme pequeno. Passou todo o tempo discutindo com o diretor. Um caso entre dois suecos brigões.

A luta Ingmar X Ingrid teve resultado sublime: Sonata de Outono.

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Comprovado! Bach tinha um pé na África!

… por isso, tanto ritmo, pulso e malemolência.

BERLIM (Agência Estado) – A antropóloga escocesa Caroline Wilkinson reconstruiu digitalmente o rosto do compositor alemão Johann Sebastian Bach, a pedido da Casa Museu de Bach, com sede em Eisenach (centro da Alemanha), com uso de técnicas digitais e legistas. Os resultados de sua pesquisa, que serão apresentados na segunda-feira em Berlim, relacionam os dados obtidos de retratos, medições de seu crânio e da máscara mortuária do músico (1685-1750).

Duas dúvidas:
1. Se será apresentado segunda-feira, por que as fotos já estão aí?
2. Esse Bach tá mais para gospel do que pruma boa missa luterana, não?

Obs.: Roubei a imagem acima do Hermenauta.

E, mudando de assunto, embriague-se com a finesse da revista Veja na despedida de Fidel. Seguem as lições de mau jornalismo: “Fidel se desmancha lentamente dentro daquele ridículo agasalho esportivo”. É tudo uma questão de contexto – no caso de Veja, de descontextualização: o que nos pareceria bom num conto de horror de Horacio Quiroga, aqui é autêntico jornalismo de esgoto.

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Ela

Que saudade de quando tudo era mais simples, quando foi que mudou?
Frase que minha filha usa para descrever a si mesma no Orkut.

Foram quase quatro anos de espera. Começou numa manhã gelada de setembro de 2004, era antes das 7 da manhã e eu ia levá-la para o colégio; foi a primeira vez que disse aquilo que repetiria nos anos seguintes com todas as variações possíveis. Pai, quero morar contigo. Fiquei surpreso. Afinal, eu e minha segunda mulher morávamos num nada atraente apartamento de dois quartos onde não cabiam nem nossos prováveis dois mil livros. Além disso, sabia que minha ex, apesar de tratar-me como um cão, era boa mãe. A única justificava da Bárbara era sua vontade. Mas, meus amigos, que vontade! Nos primeiros dias, eu lhe respondia que ela devia ficar com sua mãe; afinal, lá havia pátio, cachorro, espaço, quarto individual, tudo o que eu não podia lhe dar naquele momento. Mas ela repetia que nada disso interessava. Expliquei-lhe que eu passava o dia trabalhando, que sua vida comigo não seria um enorme fim-de-semana. Ela respondia que já tinha pensado nisto e tudo bem. Propus-lhe seis meses para que refletisse melhor; se ela mantivesse sua decisão, eu falaria com a mãe dela. Confesso que enrolei um pouco mais, foram nove meses sem maiores comentários. Então ela voltou à carga com uma insistência multiplicada por nove. Tanto fez que fui falar um tanto desajeitadamente com a mãe.

Depois de alguma hesitação, ela lhe negou a permissão. Enquanto isso, eu e a Claudia fazíamos planos e contraíamos empréstimos para construir uma casa. Com ou sem minha filha, precisávamos de mais espaço. Então, houve dois fatos: um interno e outro externo. O fato interno é que concluí o óbvio: se não fizesse tudo para obter a guarda de minha filha, ela se magoaria para sempre. Imaginei-me pedindo o mesmo a meu pai, imaginei o ressentimento irremovível que teria se ele não agisse. Contei o fato para uma amiga psicóloga, ela me respondeu que os filhos deveriam sempre ficar com a mãe, a não ser que esta abusasse deles. Fiquei tão furibundo com esta opinião que rompi com ela. Uma psicóloga deveria saber que pães como eu (pãe é uma mistura de pai e mãe) transformam-se em feras quando vêem alguém afastar injustificadamente sua cria, mesmo que teoricamente. Entendi que deveria ir à Justiça. Abri processo em julho de 2006.

O homem, que havia se equipado com muitas coisas para a viagem, emprega tudo, por mais valioso que seja, para subornar o porteiro. Com efeito, este aceita tudo, mas sempre dizendo:

– Eu só aceito para você não julgar que deixou de fazer alguma coisa.

A Justiça não serve para quase nada e, com sorte, só teria a guarda de minha filha quando ela completasse vinte e oito anos. Eu só aceito para você não julgar que deixou de fazer alguma coisa. No início deste ano, após ser massacrado por mais pedidos e perguntas de minha filha, após encher o saco de minha advogada, a qual solicitou inúmeras vezes pressa ao juiz sob os mais diversos argumentos, após pagar R$ 2.000,00 por duas sessões para que um perito psiquiatra garantisse que eu não era louco e nem para neurótico servia, vi ser nomeado um assistente social e um psicólogo para avaliarem os pais e a já adolescente. Tudo bem, é necessário, mas a lentidão de tudo isso…

Ele faz muitas tentativas para ser admitido e cansa o porteiro com os seus pedidos. Às vezes o porteiro submete o homem a pequenos interrogatórios, pergunta-lhe a respeito de sua terra natal e de muitas outras coisas, mas são perguntas indiferentes, como as que os grandes senhores fazem, e para concluir repete-lhe sempre que ainda não pode deixá-lo entrar.

Não desejava mais incomodação e estresse; pedi, como último recurso, que minha advogada falasse com os advogados da outra parte a fim de evitar mais tensão. Queria um acordo.

Hoje, minha atual mulher mandou este e-mail para um pequeno grupo de amigos:

Caríssimos amigos,

entre sexta-feira e segunda, o Milton e eu vivemos talvez os dias mais desgastantes de nossas vidas.
Foram muitos e-mails enviados, muitos telefonemas e uma enormidade de angústia.
Na segunda pela manhã, depois de uma noite em claro – simplesmente não conseguimos dormir -, estávamos destruídos.
O Milton estava no limite e a desesperança se instalava enquanto estávamos sentados no escritório, mudos, às vezes nos olhando meio perdidos.
Eu mexia mecanicamente nos bilhetes soltos sobre a mesa dele e, de repente, deparei-me com um incrível bilhetinho.

Um lado do quadrado de papel estava inteiramente pintado com caneta esferográfica preta e no outro lia-se o seguinte:

Nunca perca a determinação.
Artista e escritora: Bárbara (filha).

Então, o Milton me olhou, sorriu e contou que ela tinha feito aquilo num dia em que esperava a hora de ir para a  equitação. Ela tinha explicado que aquilo era uma obra de arte que expressava a determinação que precisaria ter. A justificativa para a “pintura” residia no fato de que era exigida muita persistência para cobrir inteiramente um lado do papel, sem deixar nenhum espacinho em branco.

Ontem à tarde, parece que fechamos um acordo sobre a guarda da Babi. O termo, escrito por nossa querida advogada Rúbia Poletto, já foi revisado por todos. O Milton e a Rúbia já assinaram e remeteram aos advogados dela para que seja assinada. Será uma guarda compartilhada, mas ela vai morar conosco.

Se nada novo acontecer acho que a “determinação” da Babi venceu! Eu, que coadjuvo a história e há quatro anos torço por um final feliz, só queria compartilhar isso com os amigos.

Beijos a todos.

O porteiro percebe que o homem já está no fim e para ainda alcançar sua audição em declínio ele berra:

– Aqui ninguém mais podia ser admitido, pois esta entrada estava destinada só a você. Agora eu vou embora e fecho-a.

Bárbara e Maria Callas (a nariguda de cabelos pretos)

Obs.: Os parágrafos apenas grifados são ou da Bárbara ou de Diante da Lei, de Franz Kafka.

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Espera & Fading

Há diversos tipos de espera. Há a espera por algo que sabemos que vai acontecer, só não sabemos quando. Há a espera por algo que tememos estar se afastando de nós (ou que sabemos estar se afastando). Há outro tipos também, mas estes não me interessam agora.

Vivendo momentos de espera, fui folhear inconscientemente o livro Fragmentos de um Discurso Amoroso, o mais popular de Roland Barthes e, como sói acontecer quando estamos angustiados ou quando um católico abre a Bíblia numa página qualquer, dei de cara com aquela página tudo a ver. Tudo a ver mesmo: abri o livro nos verbetes Espera e Fading. (Há um sinônimo para fading em português?) Pois então, copiei, mexi e certamente piorei alguma coisa nos dois verbetes. Já não lembro o que é de Barthes e o que é de minha pretensiosa intromissão.

Espera. Tumulto doloroso de angústia suscitado pela espera do ser querido.

Espera. A espera é um encantamento: recebi ordem de não me mexer. Me impeço de sair de casa, de ir ao banheiro, de telefonar, me desespero só de pensar que a tal hora tenho um compromisso. Fico recolhido. Estes incidentes seriam momentos perdidos de espera, impurezas da angústia.

Espera. A angústia da espera não é sempre violenta, tem seus momentos de calma. Espero, e tudo que está em volta da minha espera é atingido de irrealidade: neste escritório, observo os outros que entram, conversam, trabalham, se divertem: esses não esperam.

Espera. Apenas o que espera está carente. O ser esperado está na plenitude. Às vezes, ele tenta fingir que é aquela que é esperada; tenta se ocupar com outra coisa, chegar atrasado; mas neste jogo perde sempre. Arruma a casa, mas o que quer que faça, acaba sempre sem ter o que fazer, acaba sempre pontual e até mesmo adiantado. A identidade fatal de quem espera não é outra senão aquele que espera.

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Fading. Experiência dolorosa segundo a qual o ser querido parece se afastar, sem que esta indiferença seja dirigida contra o sujeito apaixonado ou a favor de um rival.

Fading. Quando o fading se produz, fico angustiado porque suas razões me parecem sem fundamento (não é razoável, diz ele) e sem fim. A outra se afasta como uma miragem triste.

Fading. Ela vai se afastando para um outro mundo como uma nave espacial que deixa de piscar. De repente, ei-la sem brilho.

Fading. No fading, a outra demonstra seu cansaço, parece perder todo o desejo, a noite a leva. Sou abandonado pela outra, mas este abandono se divide com o abandono que ela mesma sofre. Recebo sempre um embrulho de cansaço.

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Livros (falo de milhares deles) em Domínio Público

Amigos, neste site governamental há mais de dois mil documentos disponíveis gratuitamente, entre romances, contos, teses, etc. Então, quem tem pouca grana faz o seguinte: clica sobre o título do livro e manda para sua impressora… Ou para a do patrão, do pai, do(a) namorado(a) mais endinheirado(a)… ou lê no monitor mesmo. Todas as obras estão em “.pdf” e podem ser baixadas livremente. Mais: se você é autor e deseja disponibilizar textos para serem lidos livremente, o Domínio Público está preparado para recebê-los. Afinal, entre editar e não ser lido, talvez seja melhor mandar direto para o Domínio Público, não? Lá alguém pode baixar e você será lido. O que mais deseja um autor? Viver da venda de livros? Sim, claro, mas é uma quimera, certo? Talvez o melhor seja largar logo seu filho na vida.

Meu amigo Aurélio Dumitru me mandou um cuidadoso e-mail com duzentas e doze obras que destaca no site. No ano em que Machado de Assis completa cem anos de morte, pode-se tomar um porre – inteiramente gratuito – do Bruxo do Cosme Velho. Confiram abaixo a lista e visitem o site:

  • A Divina Comédia – Dante Alighieri
  • A Comédia dos Erros – William Shakespeare
  • Poemas de Fernando Pessoa – Fernando Pessoa
  • Dom Casmurro – Machado de Assis
  • Cancioneiro – Fernando Pessoa
  • Romeu e Julieta – William Shakespeare
  • A Cartomante – Machado de Assis
  • Mensagem – Fernando Pessoa
  • A Carteira – Machado de Assis
  • A Megera Domada – William Shakespeare
  • A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca – William Shakespeare
  • Sonho de Uma Noite de Verão – William Shakespeare
  • O Eu profundo e os outros Eus. – Fernando Pessoa
  • Dom Casmurro – Machado de Assis
  • Do Livro do Desassossego – Fernando Pessoa
  • Poesias Inéditas – Fernando Pessoa
  • Tudo Vai Bem Quando Acaba Bem – William Shakespeare
  • A Carta – Pero Vaz de Caminha
  • A Igreja do Diabo – Machado de Assis
  • Macbeth – William Shakespeare
  • Este mundo da injustiça globalizada – José Saramago
  • A Tempestade – William Shakespeare
  • O pastor amoroso – Fernando Pessoa
  • A Cidade e as Serras – José Maria Eça de Queirós
  • Livro do Desassossego – Fernando Pessoa
  • A Carta de Pero Vaz de Caminha – Pero Vaz de Caminha
  • O Guardador de Rebanhos – Fernando Pessoa
  • O Mercador de Veneza – William Shakespeare
  • A Esfinge sem Segredo – Oscar Wilde
  • Trabalhos de Amor Perdidos – William Shakespeare
  • Memórias Póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis
  • A Mão e a Luva – Machado de Assis
  • Arte Poética – Aristóteles
  • Conto de Inverno – William Shakespeare
  • Otelo, O Mouro de Veneza – William Shakespeare
  • Antônio e Cleópatra – William Shakespeare
  • Os Lusíadas – Luís Vaz de Camões
  • A Metamorfose – Franz Kafka
  • A Cartomante – Machado de Assis
  • Rei Lear – William Shakespeare
  • A Causa Secreta – Machado de Assis
  • Poemas Traduzidos – Fernando Pessoa
  • Muito Barulho Por Nada – William Shakespeare
  • Júlio César – William Shakespeare
  • Auto da Barca do Inferno – Gil Vicente
  • Poemas de Álvaro de Campos – Fernando Pessoa
  • Cancioneiro – Fernando Pessoa
  • Catálogo de Autores Brasileiros com a Obra em Domínio Público – Fundação Biblioteca Nacional
  • A Ela – Machado de Assis
  • O Banqueiro Anarquista – Fernando Pessoa
  • Dom Casmurro – Machado de Assis
  • A Dama das Camélias – Alexandre Dumas Filho
  • Poemas de Álvaro de Campos – Fernando Pessoa
  • Adão e Eva – Machado de Assis
  • A Moreninha – Joaquim Manuel de Macedo
  • A Chinela Turca – Machado de Assis
  • As Alegres Senhoras de Windsor – William Shakespeare
  • Poemas Selecionados – Florbela Espanca
  • As Vítimas-Algozes – Joaquim Manuel de Macedo
  • Iracema – José de Alencar
  • A Mão e a Luva – Machado de Assis
  • Ricardo III – William Shakespeare
  • O Alienista – Machado de Assis
  • Poemas Inconjuntos – Fernando Pessoa
  • A Volta ao Mundo em 80 Dias – Júlio Verne
  • A Carteira – Machado de Assis
  • Primeiro Fausto – Fernando Pessoa
  • Senhora – José de Alencar
  • A Escrava Isaura – Bernardo Guimarães
  • Memórias Póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis
  • A Mensageira das Violetas – Florbela Espanca
  • Sonetos – Luís Vaz de Camões
  • Eu e Outras Poesias – Augusto dos Anjos
  • Fausto – Johann Wolfgang von Goethe
  • Iracema – José de Alencar
  • Poemas de Ricardo Reis – Fernando Pessoa
  • Os Maias – José Maria Eça de Queirós
  • O Guarani – José de Alencar
  • A Mulher de Preto – Machado de Assis
  • A Desobediência Civil – Henry David Thoreau
  • A Alma Encantadora das Ruas – João do Rio
  • A Pianista – Machado de Assis
  • Poemas em Inglês – Fernando Pessoa
  • A Igreja do Diabo – Machado de Assis
  • A Herança – Machado de Assis
  • A chave – Machado de Assis
  • Eu – Augusto dos Anjos
  • As Primaveras – Casimiro de Abreu
  • A Desejada das Gentes – Machado de Assis
  • Poemas de Ricardo Reis – Fernando Pessoa
  • Quincas Borba – Machado de Assis
  • A Segunda Vida – Machado de Assis
  • Os Sertões – Euclides da Cunha
  • Poemas de Álvaro de Campos – Fernando Pessoa
  • O Alienista – Machado de Assis
  • Don Quixote. Vol. 1 – Miguel de Cervantes Saavedra
  • Medida Por Medida – William Shakespeare
  • Os Dois Cavalheiros de Verona – William Shakespeare
  • A Alma do Lázaro – José de Alencar
  • A Vida Eterna – Machado de Assis
  • A Causa Secreta – Machado de Assis
  • 14 de Julho na Roça – Raul Pompéia
  • Divina Comedia – Dante Alighieri
  • O Crime do Padre Amaro – José Maria Eça de Queirós
  • Coriolano – William Shakespeare
  • Astúcias de Marido – Machado de Assis
  • Senhora – José de Alencar
  • Auto da Barca do Inferno – Gil Vicente
  • Noite na Taverna – Manuel Antônio Álvares de Azevedo
  • Memórias Póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis
  • A “Não-me-toques”! – Artur Azevedo
  • Os Maias – José Maria Eça de Queirós
  • Obras Seletas – Rui Barbosa
  • A Mão e a Luva – Machado de Assis
  • Amor de Perdição – Camilo Castelo Branco
  • Aurora sem Dia – Machado de Assis
  • Édipo-Rei – Sófocles
  • O Abolicionismo – Joaquim Nabuco
  • Pai Contra Mãe – Machado de Assis
  • O Cortiço – Aluísio de Azevedo
  • Tito Andrônico – William Shakespeare
  • Adão e Eva – Machado de Assis
  • Os Sertões – Euclides da Cunha
  • Esaú e Jacó – Machado de Assis
  • Don Quixote – Miguel de Cervantes
  • Camões – Joaquim Nabuco
  • Antes que Cases – Machado de Assis
  • A melhor das noivas – Machado de Assis
  • Livro de Mágoas – Florbela Espanca
  • O Cortiço – Aluísio de Azevedo
  • A Relíquia – José Maria Eça de Queirós
  • Helena – Machado de Assis
  • Contos – José Maria Eça de Queirós
  • A Sereníssima República – Machado de Assis
  • Iliada – Homero
  • Amor de Perdição – Camilo Castelo Branco
  • A Brasileira de Prazins – Camilo Castelo Branco
  • Os Lusíadas – Luís Vaz de Camões
  • Sonetos e Outros Poemas – Manuel Maria de Barbosa du Bocage
  • Ficções do interlúdio: para além do outro oceano de Coelho Pacheco. – Fernando Pessoa
  • Anedota Pecuniária – Machado de Assis
  • A Carne – Júlio Ribeiro
  • O Primo Basílio – José Maria Eça de Queirós
  • Don Quijote – Miguel de Cervantes
  • A Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Júlio Verne
  • A Semana – Machado de Assis
  • A viúva Sobral – Machado de Assis
  • A Princesa de Babilônia – Voltaire
  • O Navio Negreiro – Antônio Frederico de Castro Alves
  • Catálogo de Publicações da Biblioteca Nacional – Fundação Biblioteca Nacional
  • Papéis Avulsos – Machado de Assis
  • Eterna Mágoa – Augusto dos Anjos
  • Cartas D’Amor – José Maria Eça de Queirós
  • O Crime do Padre Amaro – José Maria Eça de Queirós
  • Anedota do Cabriolet – Machado de Assis
  • Canção do Exílio – Antônio Gonçalves Dias
  • A Desejada das Gentes – Machado de Assis
  • A Dama das Camélias – Alexandre Dumas Filho
  • Don Quixote. Vol. 2 – Miguel de Cervantes Saavedra
  • Almas Agradecidas – Machado de Assis
  • Cartas D’Amor – O Efêmero Feminino – José Maria Eça de Queirós
  • Contos Fluminenses – Machado de Assis
  • Odisséia – Homero
  • Quincas Borba – Machado de Assis
  • A Mulher de Preto – Machado de Assis
  • Balas de Estalo – Machado de Assis
  • A Senhora do Galvão – Machado de Assis
  • O Primo Basílio – José Maria Eça de Queirós
  • A Inglezinha Barcelos – Machado de Assis
  • Capítulos de História Colonial (1500-1800) – João Capistrano de Abreu
  • CHARNECA EM FLOR – Florbela Espanca
  • Cinco Minutos – José de Alencar
  • Memórias de um Sargento de Milícias – Manuel Antônio de Almeida
  • Lucíola – José de Alencar
  • A Parasita Azul – Machado de Assis
  • A Viuvinha – José de Alencar
  • Utopia – Thomas Morus
  • Missa do Galo – Machado de Assis
  • Espumas Flutuantes – Antônio Frederico de Castro Alves
  • História da Literatura Brasileira: Fatores da Literatura Brasileira – Sílvio Romero
  • Hamlet – William Shakespeare
  • A Ama-Seca – Artur Azevedo
  • O Espelho – Machado de Assis
  • Helena – Machado de Assis
  • As Academias de Sião – Machado de Assis
  • A Carne – Júlio Ribeiro
  • A Ilustre Casa de Ramires – José Maria Eça de Queirós
  • Como e Por Que Sou Romancista – José de Alencar
  • Antes da Missa – Machado de Assis
  • A Alma Encantadora das Ruas – João do Rio
  • A Carta – Pero Vaz de Caminha
  • LIVRO DE SÓROR SAUDADE – Florbela Espanca
  • A mulher Pálida – Machado de Assis
  • Americanas – Machado de Assis
  • Cândido – Voltaire
  • Viagens de Gulliver – Jonathan Swift
  • El Arte de la Guerra – Sun Tzu
  • Conto de Escola – Machado de Assis
  • Redondilhas – Luís Vaz de Camões
  • Iluminuras – Arthur Rimbaud
  • Schopenhauer – Thomas Mann
  • Carolina – Casimiro de Abreu
  • A esfinge sem segredo – Oscar Wilde
  • Carta de Pero Vaz de Caminha. – Pero Vaz de Caminha
  • Memorial de Aires – Machado de Assis
  • Triste Fim de Policarpo Quaresma – Afonso Henriques de Lima Barreto
  • A última receita – Machado de Assis
  • 7 Canções – Salomão Rovedo
  • Antologia – Antero de Quental
  • O Alienista – Machado de Assis
  • Outras Poesias – Augusto dos Anjos
  • Alma Inquieta – Olavo Bilac
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    O Violista (Final – Allegro Maestoso)

    Romeu foi cedo para o concerto em que interpretaria a Sinfonia Concertante para Violino, Viola e Orquestra, K. 364, de Wolfgang Amadeus Mozart. Chegando ao teatro, arrumou-se, afinou atentamente o instrumento e, como não tinha nada para fazer, foi ver quem estava no teatro antes de praticar mais um pouco. Logo que entrou na área administrativa, viu o maestro Tardue conversando com as secretárias. Procurou evitá-lo, não precisaria de uma discussão naquele momento, mas ele lhe fez um gesto amistoso convidando Romeu a aproximar-se. O maestro tratava de alguma questão administrativa e não dirigiu-lhe a palavra até terminar seu assunto.

    – Já paramentado, Romeu? Que horas são? – perguntou finalmente.

    Romeu riu e respondeu que o Dia do Violista era uma instituição rara e que pretendia aproveitá-la ao máximo. Tardue levou-o cordialmente até sua sala e disse que sua evolução nos ensaios fora surpreendente.

    – Entendo perfeitamente o fato de alguém motivar-se agredindo quem lhe pareça um obstáculo.

    Romeu não respondeu e Marc seguiu:

    – Sim, eu acredito que você fantasiou uma hostilidade que nunca ocorreu entre nós. Eu, ao menos, não tive a menor intenção. Por que eu teria convidado justo você para substituir o húngaro?
    – Que húngaro, maestro?
    – Ora que húngaro?! Aquele que habitualmente interpreta a Sinfonia Concertante com Elena e que passou a faltar compromissos por motivo de saúde.

    Romeu entendeu que Tardue desejava humilhá-lo citando um fato que antes evitara: o fato de que ele estava no papel de um mero substituto de última hora. Intuitivamente, evitou desconcentrar-se e respondeu

    – puxa, maestro, não sabia. Que sorte a minha, não? Pois fazer minha estréia como solista em nossa orquestra com alguém do porte de Elena Sofonova é como entrar em campo ao lado de Zidane ou…
    – Zidane e Pelé, certamente. E fui eu quem defendeu a introdução de um membro da orquestra ao lado de Elena. O Conselho não desejava, mas, por insistência minha, consegui. Será um belo concerto.

    Romeu assentiu de forma entusiasmada e refletiu que aquele seria o momento exato para despedir-se do maestro; afinal, não seria nada bom não exercitar sua ironia a apenas duas horas do concerto. Tinha que manter-se mobilizado, concentrado. De voltar ao corredor, viu que havia luz num dos camarotes e bateu na porta. Como imaginava, após alguns segundos, a luz tornou-se ainda mais intensa com a presença de Elena à sua frente, sorridente e convidando-o a entrar. Falando num inglês menos estropiado que o de Romeu, ela lhe falou que trouxeram-na muito cedo do hotel para que ela se preparasse, mas que aquilo não era necessário a uma moça despojada e despreocupada como ela. Estava de calças jeans e camisa, ambas muito justas, que demonstravam ainda mais claramente sua beleza.

    Tranqüilo, Romeu perguntou-lhe quantas vezes ela tinha interpretado a Sinfonia Concertante antes e ela respondeu-lhe que apenas duas ou três vezes além da gravação que fora lançada pela ECM.

    – Ah, sim. E com quem foi a gravação?
    – Com Kim Kashkashian. O convite partiu dela, claro. As you know, ela é filha de armênios e fomos parte do mesmo país até alguns anos. Acho que ainda é natural uma armênia procurar uma lituana para tocar, mesmo uma inexpressiva como eu – disse Elena.
    – Vocês ainda têm muito contato entre si? Isto é, russos e lituanos e armênios e húngaros… São colaboradores habituais ou tudo ficou no passado?
    – Não, há uma certa inimizade, até. Ou toco em meu país com grupos de lá ou estou no ocidente. Ultimamente, mais no ocidente, as you can see.
    – Pensei que costumavas tocar esta obra com um húngaro… – tentou Romeu.
    – Ainda não o conheço! – respondeu Elena com seu melhor sorriso. – Mas se der um bom marido, estou interessada!

    Desta vez, Romeu e Elena Sofonova finalmente sorriam com a mesma intensidade. Depois, ela lhe perguntou sobre o Brasil, achando incrível que alguém abandonasse um país de natureza tão pródiga e que produzia tão bons músicos, como ela comprovara em muitos CDs e nos últimos dias. Romeu estava encantado com a simpatia da moça que agora lhe oferecia um doce que ganhara e que não deveria comer para manter a fama de que as russas, ou quase, eram sempre loiras, altas e magras.

    Ele se despediu, dirigindo-se depois a seu armário. Um colega avisou que hoje ele tinha direito a um camarote ao lado da deusa, mas Romeu rejeitou, preferindo que o lugar de sempre entre os músicos. Ensaiou muitas vezes a belíssima entrada que faria em uníssono com Elena. Lembrou do filme Amadeus, em que aquele início fora utilizado; Romeu sabia que o público ficaria encantado desde os primeiros segundos daquela música perfeita.

    Repetiu-a muitas vezes até ver Elena, já de vestido longo, juntar-se a ele, refazendo os primeiros compassos agora em dueto. Romeu notou que, pouco a pouco, os dois alteravam a dinâmica de tal forma que sua entrada, após a longa introdução orquestral, pareceria um bem humorado mergulho na massa sonora da orquestra. Não pensava absolutamente em mais nada.

    O concerto foi um sucesso. Elena, Romeu e a Orquestra Nacional do Porto foram ovacionados, com os solistas e Tardue retornando duas vezes ao palco. No segundo retorno, Tardue fez questão de entrar com o braço sobre os ombros de Romeu, demonstrando ao público seu apoio a um instrumentista da orquestra, a alguém que fazia seu dia a dia ali e que não era um solista internacional.

    Foram os três jantar juntos, acompanhados de alguns amigos. Era a despedida de Elena, que viajaria no dia seguinte para Paris. Foi um jantar feliz e cansado; Romeu sentou-se ao lado da lituana e recebia os cumprimentos junto com ela. Não estava preocupado nem ressentido; sabia que fizera boa figura. À saída, quando se dirigiam para a porta do restaurante, Marc Tardue fez questão de pôr-lhe o braço novamente sobre os ombros, perguntando como tinham sido seus trinta minutos de glória. Romeu não respondeu, apenas desvencilhou-se do maestro para despedir-se do restante do grupo. Trocou um longo abraço com Elena.

    Chegando em casa, o violista tratou de arrumar a casa antes de dormir. Recolocou a cadeira de frente para a televisão, o cachecol do Boavista voltou a ornamentar a TV, o rádio temático retornou à mesa e só então foi preparar a cama para dormir, pensando que sua sala era melhor que o Bessa Século XXI, o estádio do desastrado Boavista daquele ano.

    -=-=-=-=-=-

    O primeiro movimento da Sinfonia Concertante está aqui, a entrada dos solistas ocorre lá pelos dois minutos, após a longa introdução:

    Imagem de Amostra do You Tube

    E termina aqui:

    Imagem de Amostra do You Tube

    Observação final: Marc Tardue foi o regente da Orquestra Nacional do Porto por oito anos até o final do ano passado. Não o conheço e nem sei nada a respeito dele. Os outros nomes e personagens foram inventados, exceto o de Elena Sofonova, que foi a atriz principal de Olhos Negros, filme de Nikita Mikhálkov.

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    O Violista (IV – Presto)

    Romeu retornou à casa e procurou imediatamente o telefone para pedir uma pizza. Estava feliz e falou em voz muito alta que queria o mesmo de ontem. A moça disse-lhe o preço e ouviu Romeu perguntar:

    – Você sabe qual é a diferença entre Deus e um maestro?
    – Não, senhor – disse a atendente brasileira acostumada às piadas de seu consumidor.
    – É que Deus sabe que não é maestro!

    Ela, excepcionalmente, deu uma autêntica risada. Romeu replicou:

    – Depois de meses, consegui fazer-te rir!
    – Sim, o Sr. é muito engraçado e hoje o dia está calmo.
    – Poucas encomendas? – perguntou Romeu que nunca tinha falado com a moça sobre quaisquer outros assuntos.
    – Sim, poucas. Mais tarde começa a correria. O Sr. é músico?
    – Sim, toco na Sinfônica do Porto.
    – Que interessante! E que instrumento o Sr. toca?
    – Viola, sou violista.
    – Não sabia que havia violas numa orquestra. Violas são como violões, né?
    – Não, viola é um violino maior, de som mais grave.
    – Ah, sei. Vocês colocam o instrumento no chão e ficam de pernas ab…
    – De pernas abertas? Não, aqueles são os violoncelos… – Romeu tentou resistir… Mas não conseguiu. – Para tocá-lo é necessário ficar como as mulheres gostam de ser tocadas.

    Ela não respondeu nem riu e Romeu tentou inicialmente preencher o silêncio com uma risada, depois com um pedido de desculpas. Não houve reação, à princípio, depois – com um tom entre a decepção e a irritação, talvez ambas – ela lhe disse apenas que tinha que trabalhar. Ele insistiu desculpando-se novamente até que ela respondeu com voz tranqüila:

    – Não esperava que um brasileiro me tratasse como alguns portugas daqui fazem. Não sou uma prostituta, sou uma brasileira que tenta ganhar a vida neste país. Sou igual ao Sr.
    – Desculpe, não foi minha intenção ofendê-la. Por favor, acredite.

    Desligaram e ele explodiu:

    – Sou um imbecil! Um idiota!

    Imaginando a idade e a aparência da moça, Romeu começou a arrumar a casa, retirou o cachecol do Boavista da parede e teve vontade de jogar o rádio alvinegro no lixo. Não o fez, mas tirou ambos de sua vista. Sentou-se na cadeira de sempre, postada no meio da sala, com a caixa da viola sobre os joelhos, achando-se desconfortável. Girou a cadeira até ficar de costas para a televisão e, com um leve sorriso, atacou o Presto, terceiro movimento da Sinfonia Concertante. Sentia-se reconciliado com o instrumento. Tocou de tal forma que agradou até este narrador. Enquanto repetia alguns trechos mais rápidos e difíceis, pensava no conflito com o maestro Tardue. Vários de seus colegas o cumprimentaram ao final do ensaio, parabenizando-o pela coragem de enfrentar o todo-poderoso.

    – Deixaste-o com a pata na poça – disse um.
    – Ele parvou e te sentiste no dever de fazer-lhe ver a verdade? – riu outro.

    Porém, à saída, o maestro olhou-o bem nos olhos e Romeu teve a certeza de que, como as guerras, aquela discussão não finalizaria enquanto o dominado não aceitasse a superioridade do dominador.

    Era heróico, talvez, mas não era inteligente um violista desafiar o maestro publicamente, assim como um recruta não deve fazer sugestões ao General em frente à soldadesca. Ele que esperasse. Mesmo refletindo dessa maneira, Romeu sorria, feliz com a vitória parcial. Será mesmo que Tardue se vingaria dele? E quando? Não acreditava numa demissão; afinal, não havia descumprimento nem extraordinária insubmissão. Vamos ver, pensava ele, ainda sorrindo.

    O problema resume-se nisto, refletia Romeu: quanto menos tempo temos, menos conteúdo comunicamos ao ouvinte. Acelera-se a música quando ela tenta expressar a alegria, ou o contraste com algum momento anterior; também apressamos o andamento se buscamos o virtuosismo ou o aplauso. Porém, alguns regentes fazem adágios precipitados por pura incapacidade de expressar conteúdo. Quando pressentem que este será inevitavelmente pobre e entediante, aumentam a velocidade da execução da música para que esta cause alguma impressão. Substitui-se a beleza pela habilidade. A lituana era mesmo muito boa, avaliava Romeu, pois sublinhava nuances que ele nunca percebera no movimento lento da Concertante. E mandava em todos, como muitas mulheres conseguem fazer. Afinal, a cada frase que seu violino pronunciava, ela sugeria ou impunha um sotaque à resposta do violista. A luta, na verdade, era entre ela e Tardue, tinha pouco a ver com o novo herói da orquestra. De modo submisso, ele, e depois a orquestra, foram induzidos por Elena que, consciente de que introduziria o tema do Andante, tinha o poder de arrastar todos consigo, não obstante a resistência do regente. Assim, garantiria uma interpretação cheia de intenções e conteúdo; aquilo não era para qualquer um.

    A relação entre conteúdo e tempo é mesmo curiosa, às vezes paradoxal, pensava Romeu, e tem de ser levada em conta. Faz parte de nossa época este desrespeito ao conteúdo; a TV mostra diariamente as notícias mais complexas de forma condensada, o que nos torna todos críticos e “sumidades” sobre qualquer assunto, ao mesmo tempo que nos priva dos meios para exercer críticas consistentes. Só agora ele dava-se conta que comprara uma briga que, na verdade, era de Elena Sofonova. Tardue ignora ser impossível fazer aquele Mozart sob o formato tacanho que lhe agrada e Elena Sofonova combatia a superficialidade do maestro.

    Porém, no movimento que Romeu ensaiava, a velocidade era fundamental e ele acelerava seu solo ao ritmo de seus pensamentos. Pensava que era um violista rápido e nas piadas que inventaria, ao mesmo tempo que orgulhava-se de saber que estaria acompanhado, no dia seguinte, por uma instrumentista de primeira linha.

    Voltou ao telefone a fim de conferir se seu sapato já tinha recebido o salto que o faria acompanhar Elena com mais quatro centímetros de altura. O homem o tranqüilizou. Estava feliz, refletindo que a experiência já valera a pena e que o público aficionado da cidade do Porto reconheceria nele um instrumentista seguro e eficiente.

    Não pensou no Boavista nem enquanto devorava a pizza. Esqueceu todos os programas esportivos que normalmente assistia para ficar apenas ensaiando. Tinha a impressão de que o tempo retrocedera e que podia tornar-se aquilo que ambicionara na juventude. Imaginava a formação de um grupo com outros músicos da orquestra para interpretar Hindemith ou, quem sabe, talvez fosse mais fácil criar um quarteto de cordas?

    Abaixo, o Presto com Maxim Vengerov (Violino) e Yuri Bashmet (Viola):

    Imagem de Amostra do You Tube

    Amanhã, às 12h, o final.

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    O Violista (III – Andante)

    Véspera do concerto, dia do segundo ensaio. Romeu caminhava lentamente para o teatro obedecendo a ordem do maestro Marc Tardue. A secretária da orquestra havia-lhe deixado um recado para que chegasse meia hora antes. Romeu imaginava o conteúdo da conversa e preparava-se, refletindo que deveria argumentar com segurança, mas o que lhe passava pela cabeça era um tumulto de frases soltas, de conteúdo bastante agressivo.

    Entrou e a jovial secretária avisou que ele já era esperado. Tardue estava ao telefone. Sem parar de falar, levantou-se para cumprimentar Romeu e voltou a sentar-se atrás de sua mesa. O assunto era algum problema administrativo que não interessou a Romeu. Quando desligou, ofereceu um café ao violista e reclamou que as tarefas administrativas inerentes ao trabalho de maestro tomavam-lhe muito tempo.

    – É difícil ser artista e administrador ao mesmo tempo – replicou Romeu.

    Não fora um começo muito promissor e ele tentou emendar imediatamente.

    – Quero dizer que deve ser irritante ter de negociar e eventualmente fazer concessões. O ideal para um artista seria a recusa a quaisquer concessões, mas creio que um regente morreria se não as fizesse.

    Tardue, acostumado a afagos, estava mais surpreso do que ofendido com o início da conversa e resolveu ignorá-la, indo na direção do assunto principal.

    – Sr. Martins, convidei-o à minha sala com a finalidade de saber o que causou aquele desempenho inteiramente insatisfatório no ensaio com Elena Sofonova. O Sr. me deixou muito preocupado.

    Romeu tinha preparado uma justificativa de ordem pessoal para sua atuação – um mau dia, problemas em casa, quem sabe? -, mas ao ver o ar autenticamente interrogativo e nada hostil de Tardue, optou por outro caminho. Explicou-lhe que as facilidades de um violista de orquestra acostumaram-lhe mal e que chegara muito relaxado ao ensaio.

    – Determinado grau de tensão e mobilização é necessário, maestro – completou.

    Tardue pegou uma caneta e pareceu hesitar. Fez uma pequena anotação na folha sobre a mesa e foi ainda mais direto.

    – O que desejo saber é se precisaremos adequar os andamentos às dificuldades dos solistas ou não. Esta é a primeira obra de Mozart que está fora da concepção galante, é a primeira vez que aparece uma arquitetura mais monumental, ao mesmo tempo que íntima. Não é música superficial e é muito dialogada; sendo que a viola muitas vezes é instada a repetir imediatamente o que foi tocado pelo violino e, se houver erros nas repetições, será um fiasco, toda a platéia notará.

    – Não se preocupe maestro, o que aconteceu no ensaio… – tentou Romeu.
    – O ideal seria um primeiro movimento afirmativo, um movimento central dramático e um presto bem rápido e virtuoso, superficial até.
    – Maestro, eu e Elena faremos a música que …
    – Sr. Romeu, desculpe interrompê-lo, mas, quando rejo uma orquestra, eu faço a música e vocês tocam as notas. Eu sou o fator de inspiração e quero saber se meus recursos estão à altura daquilo que irei exigir.

    O sangue subiu ao rosto de Romeu. Pensou que deveria responder apenas que ele era um recurso com o qual Tardue poderia contar para qualquer obra e interpretação, que estava disposto a colaborar e obedecer com o melhor de si. Foi o que fez. E despediu-se.

    Faltavam dez minutos para o ensaio e o violista foi ao banheiro na tentativa de acalmar-se. Passou água fria no rosto e após fechou-se numa privada. Sentado e de olhos fechados, tentou esquecer a conversa com Tardue e retornar ao espírito de seu ensaio em casa. Lembrou do Boavista e dos gols de Nuno Gomes, mas conseguiu rejeitar as más lembranças. Na hora exata, entrou no palco dirigindo-se diretamente a Elena, à qual cumprimentou efusivamente, sem olhar para seus pés e ignorando a diferença de altura. A moça era mesmo bonita. Tardue, depois de perguntar se todos estavam presentes e preparados, escolheu ensaiar o segundo movimento da Sinfonia Concertante. Elena, que parecia ser incapaz de parar de sorrir, aproximou sua cabeça loira da de Romeu e cochichou-lhe em inglês, pedindo que ele ouvisse atentamente seu violino e seguisse dialogando com ela.

    – Vou tocar lentamente, vamos sem pressa, como fazem os casais… – foi o que falou a Romeu de forma bem humorada e não isenta de cinismo.

    Ele gostou do que ouviu e Tardue fez a orquestra tocar a breve introdução ao Andante. Elena iniciou seu solo muito lentamente e Romeu respondeu-lhe da mesma forma com o som mais grave da viola. A música seguiu seu colóquio verdadeiramente apaixonado e, enquanto sentia que a música estava passando de seu cérebro a seus dedos, Romeu reviu em imaginação vagas imagens do filme Afogando em Números, que utiliza o tema. Ele sorria, mas não era páreo para a luminosa violinista. Os dois sentiam-se refletindo perfeitamente a música de Mozart um no outro quando Tardue interrompeu tudo. Nervoso, reclamou dizendo que os solistas estavam arrastando-se e que aquilo era intolerável. Elena permaneceu com sua cara feliz, agora olhando para a platéia vazia e, quando Tardue acabou seu discurso, voltou-se para Romeu, não sem antes balançar ligeira e negativamente a cabeça. Naquele gesto havia um acordo tácito: a de repetir tudo de forma exatamente igual. Ela estava satisfeita. Romeu também.

    A segunda tentativa foi interrompida pelo maestro já no primeiro solo de Elena. Ele mandou-a acelerar. Na terceira vez, Elena fez exatamente o mesmo e Tardue fê-la parar novamente. Durante a explicação, Romeu, com surpreendente coragem se considerarmos o temor que a orquestra tinha de seu regente titular, interrompeu-o argumentando, um tanto romanticamente, que Sofonova estava determinando sua expressão à música e que esta estava de acordo com a concepção que ele, Romeu, também tinha. Até Elena ficou séria, temendo que a resposta do regente ao violista tivesse que ser medida por sismógrafo.

    Tardue não perturbou-se, apenas fez piada citando um estudo que mostrava serem os músicos os profissionais mais insatisfeitos em sua profissão, seguidos dos médicos. Completou dizendo que muitos médicos tinham por hobby tocarem algum instrumento e que vários na orquestra davam aulas particulares para doutores. “O mundo é paradoxal e as relações se alteram de forma meio carnavalesca… às vezes”, disse. Depois ergueu os braços, perguntou maldosamente se os solistas estavam prontos para sua dar expressão à obra, e mandou a orquestra reiniciar o Andante. Elena acelerou um pouco, bem pouco, no que foi imitada até o final por Romeu, encantado com seus novos poderes.

    Depois atacaram o majestoso primeiro movimento. Tardue deu diversas instruções, mas não à dupla solista. Quando considerou boa a execução, falou a todos em voz alta que, afinal, estava aliviado pois

    – Não haverá o temido fiasco anunciado no ensaio de anteontem.

    Seguiu depois para o terceiro movimento, em que fez novas solicitações à dupla solista, mas cada uma delas possuía o civilizado tom de sugestão.


    Ah, querem ouvir/ver o andante? Claro!

    Continua amanhã às 12h.

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    O Violista (II – Presto agitato)

    Romeu voltou a seu pequeno apartamento envergonhadíssimo de seu desempenho. Um vexame, pensava, um instrumentista com sua experiência não poderia ser suscetível a chiliques daquele gênero. Afinal, construíra uma reputação segura, ainda que obscura, e não poria tudo a perder.

    Entrando em casa, passou a falar sozinho e a guardar suas coisas da forma organizada e sistemática que só os solteirões convictos são capazes. Não admitia nada fora do lugar e ficava furibundo quando esquecia-se de deixar os óculos, as chaves ou o casaco no lugar correto. A sala do apartamento tinha aspecto bastante original: havia uma grande e confortável cadeira bem no centro. De cada lado, duas mesas menores onde o usuário da cadeira poderia talvez servir-se de iguarias, livros, jornais, etc. Sua posição ficava estrategicamente voltada para o real destaque da sala: um enorme televisor, tão imenso e inadequado ao tamanho do aposento que parecia estar ali temporariamente, quiçá por empréstimo de um amigo. Mas este narrador, atento, fixou-se num detalhe sobre a TV. Ali, existia um cachecol preso à parede, estendido diagonalmente, e que parecia ser ainda mais importante que a TV e a cadeira.

    O narrador onisciente então posicionou-se entre a cadeira e a televisão, voltado para o cachecol do Boavista F.C., girou 180 graus e viu claramente muitas marcas de cigarro sobre a cadeira. Quem sentava ali fumava como uma chaminé. Então, o dono retornou à sala e o narrador sumiu em suas brumas. Romeu pegou o telefone e pediu uma pizza grande. Escolheu o sabor, informou-se do preço, confirmou a solicitação e prestou informações desnecessárias tais como que “morava sozinho mas queria uma pizza grande para que sobrasse para a próxima refeição”. Brincou com a atendente perguntando-lhe qual era a diferença entre um maestro e uma pizza grande:

    – Ora, é que uma pizza satisfaz, de uma vez só, quatro pessoas.

    A moça do outro lado da linha deu seu risinho protocolar e ouviu Romeu dizer que tomaria um banho durante os próximos 20 minutos e que a pizza não deveria chegar antes. Estava loquaz.

    No dia seguinte, voltou a praticar a Sinfonia Concertante. Não entendia porque tocara tão mal no ensaio. Não era uma peça fácil, o primeiro e terceiro movimentos requeriam alguma habilidade, mas o movimento central era cantabile e Romeu apenas precisaria acentuar as notas da forma correta. Não era uma obra grandiloqüente, era bonita e Romeu poderia esquecer o detestável romantismo tão comum dos metais em brasa e violinos ardentes. Violinos ardentes… Como seria a lituana na cama? Sempre pensara que as loiras altas de seios grandes eram as mulheres que mais mantinham relações sexuais dentre todos os outros fenótipos e começou a irritar-se novamente. Estudou a peça por mais de seis horas e disse para si mesmo que o fiasco não se repetiria. Recuperara a auto-confiança.

    Olhou o relógio e assustou-se, faltavam pouco menos de quarenta minutos para o início de Benfica x Boavista. Correu à cozinha, abriu o congelador e jogou a pizza no forno de microondas. Caminhou preocupado pela casa, torcendo as mãos; trouxe um peculiar rádio pintado de branco e preto como um tabuleiro de xadrez, colocando-o à sua frente, no chão. A geringonça, bastante usada e remendada, ficou ali cuspindo detalhes acerca da partida enquanto Romeu enchia um balde de gelo e garrafas de cerveja que pousou na mesa à esquerda da cadeira e arrumava três maços de cigarros sobre a mesa da direita, acompanhados de um isqueiro com as cores do Boavista. O narrador desconfiou estar observando um ritual e sorriu levemente ao leitor. Momentos antes do início da peleja, ligou a TV sem som, buscou a pizza e colocou o prato sobre o colo. Mesmo olhando muitas vezes para a TV com ar preocupado, devorou o prato com extraordinária rapidez e, quando a bola foi para o centro do gramado, correu à cozinha a fim de jogar o prato sujo na pia.

    Retornou estalando os dedos, vendo e ouvindo o Benfica armar seu primeiro ataque. Acendeu um cigarro sem tirar os olhos da televisão, mas, antes que este chegasse à metade, acendeu outro. Dizia palavrões, chamava o presidente do Boavista de mafioso, os jogadores de imbecis e proferia coisas que este narrador trata de filtrar cuidadosamente a fim de não escandalizar o leitor mais sensível. Estava transtornado! O Boavista jogava miseravelmente e o primeiro gol da “equipa” lisboeta não tardaria, era mera questão de tempo, conforme disse o pobre homem do rádio antes de levar um potente chute de pé direito desferido por Romeu, fazendo com que as pilhas e pedaços do aparelho voassem longe. Preocupado em remontar o rádio, Romeu não viu o gol de Cardozo, o qual cumpria as previsões do recém chutado narrador.

    Depois de recolocar a última pilha e já com rádio falando, permaneceu prostrado sobre a cadeira durante o intervalo. Quando começou o segundo tempo, houve um fulminante contra-ataque do Boavista que resultou no gol de empate: Benfica 1 x 1 Boavista, gol de Jorge Ribeiro!

    Em cena que causou algum receio ao narrador, Romeu passou a beijar o rádio, a pedir desculpas ao radinho querido de seu coração, mais parecendo um psicótico. Abriu uma cerveja e aumentou o volume do rádio, logo depois, abria a segunda, convidando-a de forma acentuadamente lúbrica:

    – Vem cá, loirinha!

    Abriu a terceira, a quarta e a quinta, cada vez mais lentamente, pois o Benfica parecia cada vez mais contrariado com o placar. Repentinamente, este narrador ouviu o outro mudar de tom ao mesmo tempo que uma garrafa voava em direção a uma parede lateral. Por pouco não voou pela janela. Como o inteligente leitor já percebeu, o Benfica fizera mais um gol, através de Maxi Pereira. Um belo gol, arriscaria dizer, mas não em voz alta. Romeu não preocupou-se com os cacos da garrafa e voltou aos cigarros.

    Passou novamente a acendê-los um no outro, tragando como se daquilo dependesse sua existência, só parando para ver a falha do defensor que permitiu a Cristian Rodriguez assinalar o 3 x 1. Mais quatorze minutos e Romeu vê um jogador do Boavista acertar desgraçadamente o poste do gol do Benfica e, na seqüência, observa com ar bovino um defensor do Boavista fazer o quarto gol benfiquista contra suas próprias redes. Romeu estava arrasado. Houve um pênalti e Nuno Gomes fez o quinto, marcando logo depois também o sexto. “Dois golos de Nuno Gomes em apenas quatro minutos!”, berrava o aparelho. O Boavista perdera o controle da partida e Romeu o de sua pessoa. A partir daquele momento, tremia enquanto fumava sofregamente e lamentava cada passe errado do desgraçado clube desportivo português dirigido por mafiosos burros, formado por jogadores imbecis, canalhas e pusilânimes e orientados por um certo Jaime Pacheco – alguém que não deveria ter nascido, tamanho o mal que fez ao mundo. Quando o radinho gritou dizendo que os Panteras Negras estavam inapelavelmente batidos em campo, Romeu levantou-se e simulou um chute no estranho aparelho axadrezado, mas preferiu sair da sala com cara de choro e deitar-se. Emitia urros de dor e lamentava-se:

    – Que porcaria de merda de bosta de time! Pelas luvas pretas de João Alves, matem esse treinador, enterrem o presidente demissionário, troquem todos os jogadores e envenenem o Nuno Gomes traidor! Dois gols, os últimos, uns gols desnecessários e humilhantes daquele jogador que já foi nosso! Meu Deus, por que escolhi o Boavista, por que não escolhi o Porto e o violino, ficando com o Boavista e a viola?

    Acabou adormecendo.

    Agora que meu personagem está apaziguado, apresento-lhes a ficha técnica da partida.

    Continua amanhã às 12h.

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    O Violista (I – Largo)

    De hoje até sexta-feira, sempre ao meio-dia, publicarei os cinco capítulos desta novela.

    O violista entrou lentamente no teatro. Não costumava falar muito com os colegas, era metódico e silencioso. Chegava até seu armário, deixava seus pertences, abria a caixa do instrumento, fazia-lhe rápida revisão, afinava-o e seguia para o ensaio. O repertório romântico ao qual a orquestra prioritariamente dedicava-se era conhecido e para Romeu quase não havia diferença se o programa do concerto semanal fosse este ou aquele: a viola era um ornamento orquestral a quem nem compositores nem regentes davam muita atenção. Uma nota aqui, outra ali e longas e repetitivas séries depois. Fazia tempo que não estudava mais.

    Mas era a viola quem lhe dava um bom salário em euros na Orquestra Nacional do Porto, para a qual fora aprovado há dez anos, quando ainda tinha algum entusiasmo pela música. Viera do Brasil, de Porto Alegre, onde era violista da valorosa Orquestra Sinfônica de Porto Alegre. Uma vez, enquanto esperava o ônibus a fim de ir para casa após um concerto, numa noite fria e chuvosa do inverno portoalegrense, olhou para o homem mal vestido a seu lado, que também esperava pacientemente o miraculoso aparecimento de uma condução. Chegou-se e eles uma jovem também esperançosa de ir para casa. Notou o olhar da moça: estava receosa de algum assalto ou abordagem e o violista teve consciência do ridículo de estar com o estojo da viola numa parada de ônibus. Será que ela pensou que o estojo contivesse uma metralhadora como no cinema? Disse baixinho para si mesmo:

    — Calma moça, um é músico e o outro também não tem dinheiro. Mas somos do bem.

    Tais ressentimentos eram comuns na vida de Romeu. Em sua juventude, não achara-se suficientemente bom para o violino e logo correra para a viola. Ser violista normalmente não é uma opção, é o que sobra, e ele escolheu sua sobra muito cedo, depois de ouvir, por meses, gravações de seus amados Jasha Heifetz e Henryk Szeryng. Concluiu, de forma triste e calada, que sua técnica nunca chegaria a dez por cento daquilo que ouvia… e passou à viola. Depois, quando via os violinistas da Orquestra de Porto Alegre em ação, dava-lhe ganas de recomeçar sua vida. Sabia que enquanto ele e seus colegas violistas, agarrados a seus instrumentos, coçavam-se como um cães pulguentos, repetindo eternamente a mesma nota, os violinistas atraíam os olhares dos espectadores, mesmo errando lamentavelmente.

    Quando soube, em 1997, da fundação de uma orquestra na cidade do Porto, em Portugal, pensou ser esta uma boa chance de receber mais do que o modesto salário em reais de funcionário público. Se sua vida futura seria a de tremer como uma máquina de lavar roupas no meio de um palco, acompanhando quem pensava fazer música, talvez chegasse a roupas mais limpas na Europa, com melhores músicos. Fez o Concurso e acabou surpreendentemente aceito após interpretar uma obra solo de Hindemith e uma transcrição de uma suíte para violoncelo de Bach. Seus concorrentes, um bando de instrumentistas da Europa Oriental, eram assustadores e ele autenticamente admirou-se quando viu seu nome anunciado: Romeu Martins.

    Os primeiros tempos na cidade do Porto foram felizes, tudo era novo e ele logo adaptou-se à vida portuguesa. Tornou-se torcedor – ou adepto, como lá dizem – do Boavista FC. Seu principal adversário do clube era o multi-campeão FC Porto, mas ele preferiu o alvinegro por não ter o odioso azul do Grêmio de Porto Alegre.

    A única vez que Romeu foi visto em pé durante um concerto da ONP – além das ocasiões em que o maestro pede que todos levantem para receber os aplausos -, foi quando alguém resolveu apresentar a Sinfonia Concertante de Mozart para Violino e Viola. O maestro titular Marc Tardue o chamou e perguntou se ele poderia tocar a Concertante dali a um mês. Ele respondeu que sim, claro, que iria estudar a música para os ensaios.

    Hindemith, Bartók e Mozart foram os únicos compositores a voltarem suas luzes para a viola. O primeiro era violista, os outros dois talvez fossem bons corações que deixaram-se levar por amigos violistas, deprimidos com um repertório de terceira linha.

    No dia do primeiro ensaio, foi apresentado à violinista com quem faria o duo. Ela o deixou instantaneamente irritado. Era jovem, muito jovem e bonita, tinha os cabelos loiros e olhos azuis que denunciavam uma origem nórdica e fria. Era lituana. Romeu não deu a menor importância à beleza da moça, mas fixou-se em seus pés. Viu que ela estava de sapato baixo. Concluiu que todo seu esforço, dormindo dias e noites sobre a partitura de Mozart, seria solapado por alguém com 15 anos e 15 quilos a menos que ele, e com – o mais importante – 15 centímetros a mais de altura. Ninguém veria um arredondado, pequeno e feio violista brasileiro. E, pior, ela certamente viria de salto alto ao concerto.

    O ensaio foi um fiasco. Apesar do estudo intensivo da obra, Romeu tocou pessimamente e nem suas desculpas (“Estou num mau dia, maestro.”) acalmaram o todo-poderoso Tardue. Ele pensava apenas no regime que teria que submeter-se para estar um pouco mais esguio, aflautado. Arranhava seu Mozart, atrasando-se sempre após a longa introdução do primeiro movimento, porque conjeturava que tinha de deixar de comer até o concerto, que procuraria sapatos com saltos um pouco maiores e que, finalmente, precisaria tocar adequadamente a peça.

    Continua amanhã às 12h.

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    Tropa de Elite recebe o Urso de Ouro

    Dez anos depois de Central do Brasil, Tropa de Elite repete o feito. Fico autenticamente feliz, pois este blog foi dos primeiros a defender o filme quando começaram as acusações de fascismo, etc. Tenho certeza de que o Arranhaponte e o Idelber devem ter ficado bem felizes. Acredito que nem eu nem eles precisemos de grifes para apoiar nossas opiniões, porém, como não somos cineastas, não vou deixar de utilizar o fato de o presidente do juri berlinense ser alguém que saberia reconhecer um filme fascista de longe: o diretor grego Constantin Costa-Gavras.

    Tropa de Elite (ou Da Impossível Simplicidade), de José Padilha

    Tropa De Elite

    Observação: Resolvi ver o filme após ler a discussão que corria lá no Torre de Marfim. E valeu a pena enfrentar a enorme fila. É um bom e importante filme brasileiro. Minhas considerações são parcialmente influenciadas por diversos posts e críticas lidas por aí, então não esperem cem por cento de ineditismo. Começo desorganizadamente pela periferia e vou pouco a pouco entrando nas questões principais de Tropa de Elite. Ao final, copio, no melhor estilo Fausto Wolff (mas com o devido crédito), alguns trechos lidos que achei especialmente esclarecedores ou inteligentes acerca do filme.

    I was not writing the Bible.

    Resposta lacônica de Doris Lessing na Feira do Livro de Buenos Aires, em 1990, ao responder a uma leitora – de Veja?, já naquela época? – sobre o motivo do personagem X ter dito a Y aquela determinada frase presciente naquele determinado momento iluminado… Puf!

    Não é o tipo de filme que normalmente me agrada; muitos personagens interessantes ficam inexplorados em troca da ação. Por exemplo, a esposa do Capitão Nascimento passa todo o filme repetindo a mesma ladainha – e, porra (desculpem, deve ser influência do filme), seu papel mereceria maior desenvolvimento, pois é ela quem cobra de forma peremptória a saída do marido do BOPE – e a burguesinha gostosa e correta poderia ser algo mais particularizada. Outra coisa que perturbou minha atenção é que eles suam o tempo inteiro. Parece um filme feito no insuportável verão gaúcho e não no calor bem mais seco do Rio. Talvez o drama e a tensão dos personagens devesse sair fisicamente por seus poros, mas com Wagner Moura, André Ramiro e Caio Junqueira atuando de forma soberba, nem precisava besuntar os atores. A tensão está na cara de todos eles. E por que a burguesa vivida por Fernanda Machado não sua tanto? Se os burgueses não sentem calor então por que compram tanto ar condicionado? Bom, OK.

    Vale a pena discutir a acusação de que o filme seria fascista? Não fala em globalização, em Lula, não defende o capitalismo, a família, o patrimônio, nem os Estados Unidos ou Bush; vai sempre em linha reta sem proteger-se de eventuais assuntos espinhosos; Wagner Moura não tem nada de Stallone ou de Schwarzenegger e até obedece à esposa; não se fala de onde vem a droga e não há cartazes neo-nazistas nem de Che Guevara e muito menos resquícios de bolivarismo. Então…? Mais: na sessão em que assisti o filme, o público não aplaudiu ou aprovou as cenas de violência; ou seja, não me pareceu haver grande prazer em ver aquela violência tão pouco estilizada.

    Maniqueísta? (Maniqueísmo: Doutrina que se funda em dois princípios opostos, antagônicos e irredutíveis: Deus ou o bem absoluto, e o mal absoluto ou o Diabo.) Maniqueísta? Mas quem é quem? E olha, mesmo que seja, considere que estamos no cinema, local onde o bem e o mal já travaram belas lutas e travarão outras, espero. O esquema mocinho-bandido é maniqueu, goste ou não você da palavra. E ponto. O foco narrativo do filme reforça o maniqueísmo ao partir exclusivamente do Capitão Nascimento – cuja mulher está grávida e que deseja deixar aquele serviço – e do BOPE. Trata-se de uma visão, portanto, parcial e emocionada, dentro de um tom que permanece longe do narrador onisciente a derramar-se em verdades. Então, mesmo dentro do esquema tradicional do the good and the evil, José Padilha expõe certas fragilidades de seu personagem, deixando-o à crítica, por assim dizer. Diferentemente do que faria um filme fascista a proclamar suas teses, ele nos apresenta um ser humano plenamente contraditório e que, portanto, pode ser contestado. É claro que nos sentimos identificados com o narrador – o filme infelizmente trata a bandidagem muito superficialmente -, mas nossa simpatia a priori abraça o narrador, sendo ele bonzinho como eu ou mauzinho como o Alex Castro.

    O principal mérito do filme é o de não dar razão a ninguém. É como a vida. Sei que é muito complicado para alguns espectadores – e também para o leitor médio da revista Veja – entrar em contato com uma história deficitária em termos de sínteses intelectuais (sínteses que na verdade só servem para nublar a realidade e outras camadas de experiência que, sabemos, têm o glorioso costume de serem inesgotáveis). Ah, o leitor de Veja não deve chegar próximo a Tchekhov, pois o russo, tal como Padilha, expõe problemas, mas nega-se a resolvê-los. Fala, professor: “Não cabe ao escritor a solução de problemas como Deus ou o pessimismo; seu trabalho consiste em registrar quem, em que circunstâncias, disse ou pensou sobre Deus e o pessimismo.” Obrigado pelo auxílio, Anton Pavlovitch. Ora pro nobis.

    Há cenas brilhantes no filme.

    1. A cena em que o inteligente Matias, finalmente metamorfoseado em homem violento da repressão – enfrenta diretamente o menino rico que liga-se ao tráfico e ao crime é uma espécie de recapitulação (*) do conflito externo. Fantástico. Ponto para Padilha.
    2. A cena dos comprimidos, na qual o capitão Nascimento presumidamente evita matar-se com seus calmantes, jogando fora na pia o conteúdo do frasco. O conflito interno é demonstrado em cena curta e elegante. Mais um ponto para Padilha.

    E há duas cenas lindas.

    1. Na cena do nascimento do filho do Capitão Nascimento, Wagner Moura tem uma atuação absolutamente tocante, fazendo com que eu lembrasse de meus dois episódios semelhantes que ocorreram comigo. Principalmente do segundo, em que olhava para minha menina pensando no esforço que fizera para que aquilo acontecesse. Soma mais um para ele!
    2. A cena em que são avaliados os policiais que participarão do Curso do BOPE: o elenco, como se estivesse brincando numa mesa de reuniões, improvisa uma série de piadas sobre os noviços. Tal cena lúdica, talvez tomada num ensaio, é um refrescante interlúdio para o espectador. Brilhante.

    E três fatos que reforçam o estranhamento.

    1. O capitão Nascimento é um profissional que ama sua família, mas…
    2. O traficante Baiano despede-se da mulher e filha quando sabe que enfrentará o BOPE. É uma atenção meio tosca, mas é a autêntica e…
    3. Não quer que seu rosto seja desfigurado por um tiro, pois quer estar adequado em seu enterro.

    São homens preocupados com suas famílias. Seres humanos.

    Copy and Paste:

    Arranhaponte escreveu isso na citada Torre:

    (…)Resgata a polícia da demonização desmiolada de uma certa intelligentsia, mas apenas para lhe fazer fortes reprimendas. Neste sentido, é um filme profundamente civilizatório.Eu quase diria que chamar Tropa de Elite de fascista é uma atitude fascista, por ser uma aposta na barbárie da rebeldia primitiva.(…)As pessoas que classificam o filme de fascista são aquelas caricaturizadas na aula sub-foucaldiana na PUC-Rio. Não apenas e necessariamente consumidoras de drogas, mas adeptas da visão do bandido como revolucionário primitivo, e da polícia como agente da reação. Tropa de Elite é um ataque do Bope ao miolomolismo desta gente. Porrada pura.

    (…)

    Não é o marginal como vítima do sistema, mas o policial como vítima e verdugo do sistema.

    Grande Arranhaponte!

    E Sergio Leo, invariavelmente exato, expõe certa loucura da mídia:

    Na capa da Veja, leio que o sucesso do filme Tropa de Elite se dá porque finalmente, alguém “trata bandido como bandido”. Meu amigo Bode Orelana, analista político de plantão, me garante que o filme é bom, e que desnuda a engrenagem hedionda capaz de fabricar torturadores de boas intenções. Leio na Folha um rapper defender a tese imbecil de que o crime é um mecanismo de justiça social, e o Reinaldo Azevedo, em vez de desmontar o argumento, dizer, babando pelo canto da boca, que a democracia pede a supressão sumária de vozes como essa.

    (*) Termo utilizado de forma análoga ao da música erudita (as sonatas têm três partes: exposição, desenvolvimento e recapitulação): Recapitulação é a seção que tem a função dramática de afirmar o tom original, após a transferência para a dominante no final da exposição.

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    Para que ser mais do que triste?

    Um tenista genial tem uma lesão no quadril que o impede de seguir jogando competitivamente. Isto é uma notícia triste para o esporte, principalmente num país como o nosso, que dá atenção mínima a tudo que não seja futebol. É um pouco mais triste se o cara, mesmo rico e tendo ganho os maiores torneios mundiais, permanecia com o mesmo ar alegre, sorridente e amador, preocupado em ajeitar as cordas da raquete a cada saque e levando quase sempre seus erros no bom humor.

    O que Gustavo Kuerten não deveria fazer é o que fez ontem, por exemplo. Após rolar e perder insistentemente em torneios de aspirantes, resolveu jogar o Brasil Open. Segunda-feira foi eliminado nas duplas e, ontem, levou um baile de Carlos Berlock, um obscuro argentino. Dois a zero. Não, Guga, em honra a sua biografia, você não deveria receber os aplausos penalizados de noite de ontem. Foi patético.

    Se Guga ama o jogo a ponto de não conseguir afastar-se, deveria desistir das competições profissionais. Poderia fazer um belo jogo-exibição de despedida. Imagine um evento que reunisse outros grandes tenistas do passado recente como Alex Corretja, Magnus Norman, Patrick Rafter – por que não Sampras? – e outros, ao lado de Guga e do show-man Fernando Meligeni. Uma coisa bonita: além dos jogos, o bom humor que acompanha estes torneios e, num telão, vídeos das inúmeras vitórias de Guga. Seria uma despedida digna de um grande tenista.

    Gustavo Kuerten merece ser melhor lembrado. Como o foi durante a transmissão do Aberto da Austrália no mês passado. Roger Federer estava levando – e levou – um surpreendente 3 x 0 de Novak Djokovic. O comentarista brasileiro foi consultar quando fora a última vez que Federer tinha sido derrotado desta forma inapelável e chegou a um Roland Garros de sei lá quantos anos. Ele disse meio que suspirando: o último que impôs tal placar à Federer foi Gustavo Kuerten… Houve um silêncio após o qual ouviu-se um “Que coisa!”.

    É assim que ele deve ser lembrado.

    P.S.- Deveriam proibir que os comentarios aos posts sejam melhores que os próprios… O que o Dr. Claudio Costa faz aqui é sacanagem…

    :¬)))

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    Prelúdio para a Fuga do Carnaval

    Como não vivo em Recife ou Salvador, para mim o Carnaval significa apenas barulho, gente bêbada e falta de serviços. Desta vez, fugiremos para bem longe. Dizem que estaremos a 40 km de qualquer asfalto, mas que o celular funciona. Também não há nenhuma cidade por perto, então nos submeteremos às quatro refeições diárias previstas pelo hotel: café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar. Estava precisando mesmo. Não terá nem televisão no quarto, uma beleza.

    Posso me imaginar descendo do carro, olhando os cavalos, cumprimentando quem estiver na minha frente e perguntando onde ficaremos. Depois de tudo arrumado, olho para os livros, fantasio a mulata globeleza dançando na minha frente e o locutor anunciando:

    – Olha o Tchékhov chegando aí, geeeeente!

    Então abrirei o livro e me deitarei para ler. Passada meia hora, eu, que sofro de baixa tolerância à ausência de música, pegarei o mp3 ou o computador, farei a globeleza retornar e ouvirei a voz novamente:

    – Olha o Bach chegando aí, geeeeente!

    Estou esquentando os tamborins para a festa. Louco para chegar logo lá. Dizem que haverá cavalos para as amazonas da família, piscina para todos e que teremos cinco dias daquela vida besta para a qual tenho pecular talento.

    (Não esqueça do Autan e de levar as piores calças compridas, Milton. Dizem que pode haver cavalgadas… Ops!)

    – Olha a cavalgada noturna chegando aí, geeeeente!

    Pois a cavalgada noturna não dá para perder. Afinal, dizem que lá não há sol à noite.

    P.S.- Há pessoas, como meu amigo Leônidas, que tiveram outra idéia da expressão “cavalgada noturna”. Espero satisfazer ambas as interpretações.

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    Punição para ele? E Kaká?

    O atacante egípcio Mohamed Abou Treika está chamando a atenção na Copa Africana de Nações. Ao comemorar um gol contra o Sudão, na vitória do Egito por 3 a 0, o jogador exibiu uma camisa com a inscrição “tenha compaixão por Gaza” (obrigado, Nelson!), mostrando solidariedade com os milhares de palestinos que vivem na região que é controlada por Israel.

    Apoio A Palestina

    A Confederação Africana de Futebol não gostou da atitude e decidiu que vai punir Mohamed Abou Treika, sob a acusação de “expressar uma mensagem política no meio de uma competição oficial”. A informação é do jornal espanhol “20 minutos”.

    Mohamed Abou Treika, de 29 anos, já marcou 81 gols em 128 partidas pela seleção do Egito. Além de ser famoso por seu lado político, Treika é chamado de “o assassino sorridente” devido ao fato de comemorar seus gols com um sorriso.

    E Kaká?

    (Obrigado pela lembrança, Dario. Fonte: Globoesporte.)

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    A Primeira Impedfest

    O povo do futebol só pode orgulhar-se da I Impedfest promovida no último sábado pelo pessoal do Impedimento. Em evento de mais de 12 horas de duração, os donos do bar Parangolé (Av. Lima e Silva, Porto Alegre) viram seus estoques de cerveja sumirem rapidamente à sombra das camisetas imortais.

    Impedfest 022

    Engraçado. Gremistas e colorados, quando reúnem-se em torno de uma mesa bem regada, tornam-se filosóficos como os gregos e mais confessionais do que blog adolescente. Foi emocionante ouvir o Leo Ponso declarando que sua maior dor não foi o título mundial do Inter, mas a saída do grande Tinga para o Inter. Fizemos as pazes quando lhe contei minha vida sob Ronaldinho e meu ano de 1995. Depois, para variar, filosofamos junto com o Douglas Ceconello sobre o que nos leva a ser apaixonados assim e divagamos sobre os motivos da mística de certas camisetas. Daniel Cassol gravou entrevistas e há uma em que descrevo o gol que Falcão fez no Atlético-MG, em 1976.

    Foi um belo final de tarde.

    Abaixo, Douglas (de óculos) observa a construção do varal sagrado. No alto, Leo Ponso.

    Douglas Impedimento

    Obs.: As expressões “varal sagrado” e mesmo a rodrigueana “à sombra das camisetas imortais” foram copiadas de post do Impedimento.

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    Milton Ribeiro entrevista P.Q.P. Bach

    A fim de inaugurar este espaço, convidamos o Sr. P.Q.P. Bach para uma entrevista. P.Q.P. é o fundador do blog coletivo homônino que bate repetidos recordes de audiência divulgando algo bastante impopular: a música erudita. Foi complicado conseguir que ele se aproximasse de nosso microfone, pois teme o assédio da imprensa internacional sobre si. Já os brasileiros, com sua indiferença ao tipo de música que PQP ama, não são tão temidos. Mesmo assim, suas exigências foram extremas. Além do grupo chinês de ursos pandas equilibristas, ele fez absoluta questão de sua voz fosse filtrada, transformando-se em outra coisa – ou, melhor dizendo, transformando-se numa coisa.

    Deu certo e a voz do filho do mestre manteve apenas o carregado sotaque tedesco, mantendo-se razoavelmente digna. Porém, o filtro tornou minha voz inteiramente gay. Se tal voz não exprime minha verdadeira opção, o fato de colocar à disposição o podcast demonstra a falta de preconceitos que norteia as atitudes deste autor. Também o filtro incluiu um certo ruído que não conseguimos retirar e que dá um colorido especial à grande entrevista.

    P.Q.P. Bach fala sobre música, sobre seus parceiros de blog, reclama dos wagnerianos, das perguntas e, ao final responde ao famigerado Questionário Proust.

    Ouça a entrevista na íntegra clicando abaixo (aproximadamente 20 minutos):

    Milton Ribeiro entrevista P.Q.P. Bach

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