Madame Satã e Geraldo Pereira

Madame Satã e Geraldo Pereira

Dia desses, talvez tivesse sido ontem, estava lendo sobre a famosa Madame Satã (1900-1976), uma drag queen e capoeirista brasileira retratada brilhantemente no cinema e personagem emblemática da vida noturna carioca na primeira metade do século XX. Com golpes de capoeira, Madame costumava enfrentar policiais, tendo inclusive matado um. Pois hoje resolvi pesquisar sobre Geraldo Pereira (1918-1955), compositor de “Sem Compromisso”, samba imortalizado por Chico Buarque, e, para meu absoluto espanto, soube que este tinha sido morto por aquela em circunstâncias mal explicadas. Sobre quem devo pesquisar amanhã?

Madama Satã
Madame Satã

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Bom dia, Odair (com os melhores lances de Inter 3 x 1 Juventude)

Bom dia, Odair (com os melhores lances de Inter 3 x 1 Juventude)

A resposta de D`Alessandro a um repórter da RBS foi engraçada, com palavrões e revela que a má vontade de parte da imprensa para com o Inter está clara para todos. “Eu trabalho pra caralho. Vocês, atrás do microfone, só falam”. A gente sabe onde acabaria seu discurso, não? Mas isso foi um detalhe da partida.

Patrick e o maestro D`Alessandro | Foto: Ricardo Duarte /SC Internacional
Patrick e o maestro D`Alessandro | Foto: Ricardo Duarte /SC Internacional

O Inter iniciou o jogo de ontem, contra o Juventude, com a mesmíssima escalação da boa partida contra o São José. Porém, sabemos de duas coisas: (1) de como o Ju tradicionalmente trata de engrossar os jogos contra nós e (2) de como nós costumamos colaborar com eles nesta tentativa.

Naturalmente, o jogo começou complicado. Uma falha defensiva de Cuesta manteve a perniciosa escrita: demos um gol para o Juventude. Damião respondeu perdendo dois ou três gols feitos, como sempre. Argh!

(Leandro Damião não marcou gols em 2018 e está visivelmente desesperado. Tem 28 anos, mas comporta-se como um menininho nervoso na frente do gol adversário. Não é o que se espera de um sujeito rodado. Ontem, ele esteve simplesmente patético).

Mas o Ju nos brindou com uma desatenção e Patrick empatou em inteligente cobrança de escanteio de D`Alessandro. O argentino passou a bola rasteira. Patrick estava livre. Eram apenas 20 min do primeiro tempo.

Depois, o Ju se fechou dando a nós as mesmas chances que a Justiça brasileira dá a um sujeito preto e pobre.

Mas é claro, temos Dale, sempre ele. Ele achou Iago entrando pela área e o palito deu um chute seco, mostrando a Damião como se faz, estabelecendo a virada, 2 x 1.

Atmosfera tensa no Beira-Rio | Foto: Ricardo Duarte /SC Internacional
Atmosfera tensa no Beira-Rio | Foto: Ricardo Duarte /SC Internacional

No segundo tempo, o Ju voltou melhor, perdeu gols e deu sufoco. E vieram algumas más notícias. Danilo Fernandes cometeu duas saídas escandalosamente erradas do gol, deixando o estádio boquiaberto antes de se machucar. Além disso, Pottker teve uma distensão que certamente o deixará fora por um mês.

O terceiro gol foi do leve, rápido e bom Nico López em mais um passe de Dale. Três passes de Dale, três gols.

Ontem, o destaque negativo foi a defesa, que andou de mal a pior, com péssimas atuações de Klaus, Cuesta e Danilo Fernandes.

Danilo Fernandes: já gente catando borboletas com maior elegância. Nabokov, por exemplo.
Danilo Fernandes: já vi gente catando borboletas com maior elegância. Nabokov, por exemplo | Foto: Ricardo Duarte

Bem, não somos os líderes por aproveitamento, somos os líderes em pontos. Temos 15 pontos em 7 jogos, enquanto o Caxias tem 14 em 6 e o Brasil 13, também em 6. Mas é melhor do que estar em décimo, né?

O próximo jogo será com os reservas contra o São Paulo de Rio Grande (11º colocado) no próximo domingo, às 16h, fora de casa. Tudo com a finalidade de se preservar para a partida da próxima quarta-feira, eliminatória, contra o Remo em Belém (PA), às 19h30, pela Copa do Brasil.

https://youtu.be/p59vzY_Medk

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Feliz ano novo, Renato! (com os melhores lances de Independiente 1 x 1 Grêmio)

Feliz ano novo, Renato! (com os melhores lances de Independiente 1 x 1 Grêmio)

Por Samuel Sganzerla

Sim, Renato, “Feliz Ano Novo”. Não porque ontem era Quarta-Feira de Cinzas, aquela coisa de “no Brasil, o ano só começa depois do Carnaval”, etc., mas porque 2018 começou para o Grêmio no dia de ontem. Não, eu também não estou levando em conta o Gauchão. Por mim, nem jogaria mais o estadual – mas falamos sobre isso outra hora.

Foto: http://www.gremio.net/
Foto: http://www.gremio.net/

Ontem fomos à Avellaneda, província de Buenos Aires, enfrentar o Independiente no primeiro confronto pela Recopa Sul-Americana. Reeditamos com os hermanos a final de 1996 – naquela época, em jogo único disputado lá em Kobe, no Japão, uma vitória esmagadora por 4 a 1 nos trouxe o caneco. Agora, no formato de ida e volta consolidado há 15 anos, voltamos ao solo argentino.

Só que olha, Renato, a verdade é que parecia, pelo menos para o Grêmio, um amistoso de pré-temporada. Não por termos encontrado facilidade, bem pelo contrário (como ficou bastante evidente). Depois do final da partida, tu disseste na coletiva que a opção por Alysson no banco se deu porque ele ainda não está 100%. E só isso explicou Lima na titularidade, porque este mal apareceu em campo depois da execução dos hinos.

Por ser um jogo de início de temporada, visivelmente os atletas ainda estão sem ritmo de jogo. A distribuição dos jogadores no esquema tático inicial também não deu certo – por isso falei antes que parecia amistoso preparatório, mas convenhamos, Renato: decisão não é hora para testes. Enfim, relevemos isso tudo.

O fato é que parecíamos estar com um homem a menos no início do jogo. Tomamos pressão, bola na trave, o Independiente perdeu gol na pequena área. Com os argentinos com um a menos em campo, a situação parecia de maior igualdade, mas ainda com superioridade dos rojos na contenda. Até que, num erro de saída dos argentinos, Luan se aproveitou da única oportunidade que apareceu e lembrou porque foi o melhor da América ano passado. Um a zero para nós.

Se parecíamos estar com inferioridade numérica, o gol foi um alívio. E aí Gigliotti, o centrovante adversário, simplesmente agrediu Kannemann logo depois, em nosso campo de defesa. Levou amarelo primeiro, sendo depois expulso, por correção do árbitro graças ao auxílio do VAR (o bom e velho VIDEOTAPE). E aqui merece o registro, superando o grenalismo que a tudo contamina por estas bandas: parabéns a Inter e Grêmio por terem votado a favor da utilização do recurso no campeonato nacional. Uma pena que foram minoria. Mas divago.

Com a vantagem no placar e com um a mais, o cenário pareceu se tornar favorável no primeiro tempo. Mas só pareceu mesmo. Se os gringos aparentavam ter um homem a mais em campo no 11 contra 11, com um a menos parecia tudo igual, mas com eles melhor distribuídos em campo e imprimindo mais velocidade.

Uma falta na entrada da área e um forte cruzamento decretaram a igualdade no placar, depois de um infeliz desvio de Cortez, que tirou as chances de defesa de Marcelo Grohe. 1 a 1, e os argentinos ainda vieram para cima na primeira etapa. Que teve, como jamais poderia faltar, muita catimba, pontapés, provocações, faltas não marcadas e outras inexistentes apitadas. Vai entender. O término do primeiro tempo foi bom para nós.

Pelo menos, já no segundo tempo, quando Alysson entrou, o jogo mudou. O Independiente cansou e pudemos ver não apenas o que era esperado por ter um a mais, mas também o que nos acostumamos a ver no ano passado: o Grêmio com a bola, girando a área do adversário, trocando passes rapidamente e determinando o ritmo do jogo. Não conseguiu criar grande coisa, é verdade, e perdeu a chance de sair da Argentina com uma vitória.

O lado positivo é que a equipe mostrou, na segunda etapa, que a base do futebol que nos levou a erguer troféus nos últimos dois anos segue presente. Arthur e Ramiro, respectivamente lesionado e suspenso, fizeram falta. Há outras boas opções para se testar também. Hernane Brocador em breve desembarcará no Aeroporto Salgado Filho, e saberemos se ele irá se encaixar no time.

Agora, aguardamos o jogo de volta na próxima quarta-feira. Será em casa, com expectativa de termos a Arena lotada, em busca de mais um título. Não será fácil, com certeza. Só a vitória interessa. O gol fora não vale como saldo qualificado (sem pênaltis, pelo amor dos deuses da bola). Precisamos ajustar o time, Renato, para que ele entre decisivo e mortal, como foi quando precisou ano passado. A torcida entrará em campo contigo, tenha certeza.

E não é nada fácil também porque do outro lado, claro, tem o maior vencedor deste continente. Uma equipe que só perdeu uma decisão continental em duas oportunidades em toda sua história: para nós, em 96, e para o coirmão, em 2011 (e deu de apaziguamento da corneta por hoje). Vamos para cima deles, em busca do bi da Recopa. Dá-lhe Grêmio!

Segue o baile…

https://youtu.be/CqIZKGDuVIg

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E a morte perderá o seu domínio, de Dylan Thomas

E a morte perderá o seu domínio, de Dylan Thomas

E a morte perderá o seu domínio.
Nus, os homens mortos irão confundir-se
com o homem no vento e na lua do poente;
quando, descarnados e limpos, desaparecerem os ossos
hão-de nos seus braços e pés brilhar as estrelas.
Mesmo que se tornem loucos permanecerá o espírito lúcido;
mesmo que sejam submersos pelo mar, eles hão-de ressurgir;
mesmo que os amantes se percam, continuará o amor;
e a morte perderá o seu domínio.

E a morte perderá o seu domínio.
Aqueles que há muito repousam sobre as ondas do mar
não morrerão com a chegada do vento;
ainda que, na roda da tortura, comecem
os tendões a ceder, jamais se partirão;
entre as suas mãos será destruída a fé
e, como unicórnios, virá atravessá-los o sofrimento;
embora sejam divididos eles manterão a sua unidade;
e a morte perderá o seu domínio.

E a morte perderá o seu domínio.
Não hão-de gritar mais as gaivotas aos seus ouvidos
nem as vagas romper tumultuosamente nas praias;
onde se abriu uma flor não poderá nenhuma flor
erguer a sua corola em direção à força das chuvas;
ainda que estejam mortas e loucas, hão-de descer
como pregos as suas cabeças pelas margaridas;
é no sol que irrompem até que o sol se extinga,
e a morte perderá o seu domínio.

Dylan Thomas, trad. Fernando Guimarães

Dylan Thomas
Dylan Thomas

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Maria – Uma Peça e Cinco Histórias, de Isaac Bábel

Maria – Uma Peça e Cinco Histórias, de Isaac Bábel

D_Q_NP_506905-MLB25117564480_102016-Q“Em cima de uns tijolos, havia um caldeirão com carne de porco cozinhando, que fumegava como fumega ao longe a casa paterna na aldeia, confundindo dentro de mim a fome e uma solidão sem igual”.

Isaac Bábel, no conto Meu Primeiro Ganso

Excelente livrinho lançado pela Cosac & Naify nos idos de 2003 e certamente apenas encontrável em sebos, como eu encontrei o meu.

Bábel viveu entre 1894 e 1941. Morreu vítima de grande violência física durante o stalinismo, que o prendera em 1939. Este livro mostra o enorme talento de um escritor que escrevia perigosamente, considerando a época. Mas vamos antes a uma curiosidade.

Minha mulher é linda e russa e culta. E de origem judaica. Ela me disse que a impressão que Bábel causa é irreproduzível em outra língua, pois seus personagens judeus falam um russo muito primitivo, às vezes errado, utilizado por eles na época. Há muitas frases com expressões invertidas, provavelmente trazidas do ídiche e, quando alguém começa a falar desse jeito, sabe-se que é um judeu. Até hoje, quando os judeus russos se auto-ironizam — prática mais do que comum –, o estereótipo cômico é o de fazer inversões, entonações e inserções indiscriminadas de “então”, “pois”, “daí”, etc. Além do mais, o povo da revolução não era lá muito alfabetizado e Bábel deliciava-se reproduzindo seus erros nos diálogos. Ou seja, nem os russos de Bábel falavam corretamente. Os judeus falavam, por exemplo: “O que você quer o quê?”. Elena diz que eles começavam com uma pergunta e a repetiam no final… Então, ela acha que traduzir Bábel… Bem, o português utilizado nesta tradução é sempre perfeito. Mas Maria é uma peça de teatro cheia de judeus…

Ela diz que só a revolução culturalizou todo mundo, unificando o russo e tornando este modo de falar algo típico do passado. Quando estava muito irritada, sua avó, professora de alemão, também falava como os personagens de Bábel.

Um amigo de minha mulher, Yakov Soloveichik, filólogo e poeta, deu uma bela contribuição:

Penso que existem vários aspectos.

1. Para os judeus, a língua russa era estrangeira. A língua nativa era o iídiche. Falando em russo, eles apenas colocavam palavras russas nas frases que costumavam usar. É claro que seu russo era errado. Então, um certo estilo foi desenvolvido.

2. Odessa é uma cidade portuária. Em cada porto havia um jargão – uma grande quantidade de palavras emprestadas de uma variedade de línguas dos marinheiros visitantes.  Por sinal, no mar Mediterrâneo nos séculos 16-19, também houve um idioma falado apenas nos portos do Mediterrâneo – na Itália, Grécia, Israel, Espanha, Argélia, Marrocos, etc. Este idioma era uma língua franca que incluía elementos de todas as línguas mediterrâneas. As pessoas não eram muito alfabetizadas e, portanto, todas as palavras estrangeiras eram altamente distorcidas. Os portadores desta língua eram marinheiros e prostitutas portuárias, que vagavam de um porto para outro. A mesma coisa aconteceu em Odessa.

3. E o último – uma espécie de humor judaico, que está presente em todas as frases.
Das “Histórias de Odessa”:
Benya Creek conta a Froim Hrach:
– Froym, resolvi o seu problema.
– Como você decidiu, Benya?”
– Eu decidi que não era um problema.

E, bem, há duas vertentes de tradução. Uma que tenta a complicada tarefa de tentar reproduzir o original com seus erros e sonoridade em outra língua, e outra que apenas verte o conteúdo, opção tomada pelo tradutores deste livro.

Os contos deste volume são fruto da passagem de Bábel pelo Exército Vermelho, lutando ao lado de cossacos, contra os poloneses, entre 1920 e 1921. Já a peça Maria foca na miséria dos primeiros anos pós-revolucionários.

O belíssimo História do Meu Pombal versa sobre a vida de uma criança judia de Odessa, mostrando o anti-semitismo ucraniano. O menino não apenas precisa vencer o preconceito e a perseguição dos professores na escola — havia uma lei que ditava que, para cada 20 alunos matriculados na escola, apenas um podia ser judeu e isto gerava uma grande disputa no exame de admissão — mas ainda há os pogroms (pilhagens e assassinatos de judeus, realizados sob a aprovação das autoridades).

Em outra história, vemos a incapacidade do narrador de dar o tiro de misericórdia em um de seus colegas mortalmente ferido. Em outra, comprovamos como uma demonstração de violência dá autoridade a alguém. São contos excelentes.

A peça Maria — assim como o primeiro conto do livro Mamãe, Rimma e Alla — trata da decadência de uma família durante a Revolução. Os sobreviventes são obrigados a dispor de tudo o que tem, inclusive da filha. Filha de um general, Liudmila antes costumava frequentar a corte, mas agora tenta sobreviver seduzindo um judeu oportunista, três estropiados de guerra e um ex-príncipe que toca violino para trabalhadores. A outra filha, Maria, é a favorita do velho e encarna a salvação. Todos a esperam. Só que ela está ocupada, servindo ao Exército Vermelho. Os que ficaram apenas a esperam, sobrevivendo de migalhas.

Claro que, publicada em 1935, a peça nunca foi encenada. Quatro anos depois, Bábel perseguido pelo stalinismo. Preso em 1939, Bábel morreu dois anos depois. Durante uma transferência de presos, feita durante o inverno e a pé de uma cidade para outra, ele caiu de fraqueza. Foi deixado para morrer na estrada.

Isaac Babel
Isaac Babel

 Livro comprado na Ladeira Livros.

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Acabaram as férias

Mesa de nossa pousada em Bombinhas no último dia de férias
Mesa de nossa pousada em Bombinhas no último dia de férias

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Bom Carnaval, Odair Hellmann

Bom Carnaval, Odair Hellmann

Vi atentamente as duas últimas partidas que o Inter fez com os chamados titulares. Na semana passada, contra o Boavista, uma atuação comprometedora; na última quinta, contra o bom São José, uma partida que promete boas coisas. Qual Inter veremos em 2018?

Odair: equilíbrio instável | Foto: Ricardo Duarte
Odair: equilíbrio instável | Foto: Ricardo Duarte

É muito cedo para garantir qual será, das duas versões, a que veremos mais em 2018, mas creio que tu, Odair, encontraste um caminho para sair do maldito 4-2-3-1, esquema inadequado ao grupo de jogadores disponível. Espero nunca mais ver nem a linha de 3 e muito menos Edenílson nela, pela esquerda.

A entrada de Patrick e a colocação de Edenílson no lado onde ele não fica “torto” teve efeito extraordinário. D`Alessandro ganhou um companheiro na armação (Patrick) e pode desfilar sua categoria sem ter que ir buscar a bola junto aos zagueiros e volantes. Apesar de ser um jogador em grande forma aos 36 anos, não dá para pedir que ele corra por dois. Edenílson saiu do estado de choque de ter que atuar como meia esquerda e Pottker foi o mais efetivo do jogo, fazendo dois gols e grandes jogadas.

A linha ofensiva de 4 ficou com Pottker, Edenílson, Patrick e Dale, este com maior liberdade para passear, com Dourado atrás e Damião na frente.

Aliás, Damião está pedindo uma reavaliação. Sai sempre aplaudido após não fazer absolutamente NADA. Não creio que Roger seja o cara para substituí-lo. Preferiria mil vezes ver ali o movediço e oportunista Nico López, que perderia dois gols por jogo e faria outros tantos.

Acho, Odair, que o otimismo que vejo nos colorados é consistente, mas sabemos que foi apenas um jogo e que muitas vezes a coisa se perde em derrotas idiotas. Espero que tu regues cuidosamente esta vasinho e cuides bem de tudo para que o entrosamento possa crescer. Sim, sei que há jogos eliminatórios da Copa do Brasil que podem desestabilizar tudo nas próximas semanas, por isso é que usei a analogia de mau gosto da plantinha… Pois sei que basta um pisão e tchau.

Confiamos em ti.

P.S. — Nossa direção… Desesperada atrás de Rithely, jogador reserva de Patrick no Sport, descobriu o titular estava sem contrato e trouxe o cara que não queria. Pois Patrick é a surpresa positiva do ano. A patetice desta vez deu certo, parece.

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O louco no espelho, de Lúcio Humberto Saretta

O louco no espelho, de Lúcio Humberto Saretta

O louco o espelho SarettaEste é um bom livro de crônicas sobre futebol e boxe — muito mais sobre futebol –, misturados com música e cerveja. Na verdade, Saretta nem fala muito de cerveja, mas dá vontade de ler O louco no espelho bebendo geladas num bar e, bem, eu li o livro dentro de um avião. Pena, porque tudo parece uma longa e agradável conversa. O cronista deriva de um assunto para outro até dentro de um mesmo texto, o que reforça o tom de conversação. As crônicas não estão ordenadas por temas nem cronologicamente, outro mérito do livro.

Saretta parece saber tudo de futebol, podendo escrever tanto sobre o artilheiro do Vasco da Gama nos anos 20 quanto sobre fatos mais recentes como a sequência de técnicos gaúchos na Seleção Brasileira. Para quem gosta do esporte e até para quem não gosta, vale muito a pena a leitura. Um fato que chama atenção no livro é o de o autor apresentar vários argumentos contrários ao boxe como esporte, mas sucumbir cabalmente ao fascínio daquele espetáculo. “Meu trabalho é machucar as pessoas”, diz o grande Sugar Ray Robinson, citado por Saretta.

O autor fala dos grandes, mas seus melhores textos são sobre os fracassados, viciados, bêbados, esquecidos, doentes ou azarados. A maioria dos textos são sobre coisas que não funcionaram. Heleno de Freitas, Jake LaMotta e Syd Barrett surgem como as grandes figuras que efetivamente foram nos textos de O louco no espelho.

Apesar da última observação, trata-se de um livro extremamente agradável e fluido, ideal para as férias. Eu curti e recomendo.

Lúcio Humberto Saretta aguardando para autografar alguma coisa
Lúcio Humberto Saretta aguardando para autografar outros de seus livros

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Mulher de Porto Pim, de Antonio Tabucchi

Mulher de Porto Pim, de Antonio Tabucchi

022148Quando finalmente os espanhóis conseguiram desembarcar nos Açores, em 1581, a invasão foi rapidamente rechaçada. Os açorianos aguardaram o exército espanhol sair dos navios e lhes lançaram manadas de touros enfurecidos morro abaixo, o que matou boa parte dos homens, fazendo o restante voltar às pressas e borrados para os navios. Até aqui, nada demais além dos touros, é claro. Mas só até aqui, quando lhes direi que, entre os que se salvaram, estavam Miguel de Cervantes e Lope de Vega, que recordou aquela ‘selvageria’ em seus poemas.

Antonio Tabucchi, em Mulher de Porto Pim (adaptado)

Este é um livrinho lá dos anos 80 escrito por Antonio Tabucchi, o escritor italiano mais português que já existiu. Apaixonado por Portugal, por Pessoa, Antero, pela cidade de Lisboa e que tais; tradutor de literatura portuguesa para o italiano, autor de vários e deliciosos pequenos livros — verdadeiros azulejos portugueses plenos de arte e poesia, formando um belíssimo mosaico –, Tabucchi escreveu seus últimos livros direto em português, pois não fazia mais sentido escrever em italiano. Teve também o bom gosto de casar-se com uma portuguesa. (Ah, as lisboetas!).

Neste Mulher de Porto Pim, sua lusofonia chegou ao ponto de levá-lo ao arquipélago de Açores a fim de lá pesquisar ficções, provavelmente do gênero baleeiro. Deu mais ou menos certo. O fato é que Tabucchi acabou foi fazendo uma bela crônica de suas andanças pelas ilhas e escreveu um conto bastante bom — Mulher de Porto Pim. Tudo isso entremeado de notícias históricas das ilhas.

É um livrinho delicioso de menos de 100 páginas. Como não amar Açores? No século XIX, principalmente à noite, os navegantes costumavam bater nas ilhas rochosas e naufragar. Então, os açorianos recolhiam os restos dos navios, pegavam suas proas por inteiro, cortavam-nas e construíam suas casas com elas. Explico: as casas eram triangulares, duas paredes eram a proa original e a terceira era a pedra do morro onde a proa era encostada. As janelas eram escotilhas e tudo, mas tudo lembrava o navio de onde fora retirada a casa. Dois viajantes ingleses que estiveram nas ilhas em 1839 ficaram atônitos com a beleza de algumas casas. Tudo — lanternas, assentos, mesas e até camas — quase tudo tinha sido retirado do mar. E as proas estavam lá enormes, pintadas de cores variadas…

Claro que o povo vive da pesca de baleias e todos os peixes e de seus rebanhos. Devia ser o máximo morar em uma proa…

Bem, eu curti muito a crônica de Tabucchi. Recomendo!

Tabucchi em algum lugar lusófono
Tabucchi em algum local lusófono

 Livro comprado na Ladeira Livros.

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Arte, sempre acertando em cheio no futuro

Arte, sempre acertando em cheio no futuro

O Idelber Avelar não apenas nos traz a charge, como o título do post e a seguinte descrição: “Uma impressionante charge dos anos 1920 imagina o que aconteceria se inventassem um telefone de bolso”.

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Boa tarde, Odair (com os lances do fiasco de ontem)

Boa tarde, Odair (com os lances do fiasco de ontem)

Olha, Papito Odair, há certamente um alucinógeno nas águas poluídas do Guaíba. Todo técnico que assume o Inter sofre de inomináveis confusões, começa a agir estranhamente, passa por delírios. Jamais poderei entender o motivo que te levou a repetir ontem a fracassada experiência de Caxias, escalando um volante como meia de armação. O posicionamento do Edenilson, que de volante pela direita e lateral direito foi escalado — PELA SEGUNDA VEZ — como armador pela esquerda, é sinal inequívoco de loucura. O moço Juan, de 21 anos, foi o melhor em campo no ultimo jogo contra o Avenida jogando como MEIA. E ontem pagou o alto preço de ver, do banco, um volante avançado e improvisado em seu lugar.

Edenilson: todo torto do lado esquerdo | Foto: Ricardo Duarte / SC Internacional
Edenilson: o mega destro todo torto pelo lado esquerdo | Foto: Ricardo Duarte / SC Internacional

É claro que isto acarretou criatividade e lances tão surpreendentes quanto observar uma fila de formigas de longe, sentado em uma cadeira de praia.

Não pretendo perder muito tempo contigo porque desse jeito serás uma figura efêmera no comando do time. Além do mais, estou em férias.

Antes de terminar, digo-te que medalhões que jogam mal devem curtir um período de suas vidas no banco. É o caso de Damião. Ontem, perdeste uma linda oportunidade de testar Pottker como homem mais avançado com Nico mais atrás. Mas deixaste o medalhão no time, mesmo que ele erre todos os fundamentos: passes, chutes, cabeçadas, etc. Ninguém deseja queimar o bom Damião, o que não dá é para ele tentar a recuperação jogando.

De quebra, ainda foste vaiado por não escalar Nico. Mereceste. E ainda nem descobriste que o esquema 4231 não serve para nosso elenco.

Eu decididamente ignoro os motivos dos treinadores do Inter jamais fazerem o mais simples. Em vez de colocar todo mundo que está em boa fase em sua posição de origem, primeiro testam suas invenções malucas. Quando talvez pretendam fazer as coisas pela via do bom senso, já estarão demitidos.

Depois, entra um novo técnico, cheira o alucinógeno do Guaíba e começa um novo leque de invenções.

Abaixo, a mediocridade de ontem.

https://youtu.be/L_-E11KdFwA

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As coisas que perdemos no fogo, de Mariana Enriquez

As coisas que perdemos no fogo, de Mariana Enriquez

As coisas que perdemos no fogoAs coisas que perdemos no fogo entrou para a lista de melhores livros de 2017 do Sul21. Dizem alguns amigos que a literatura argentina é, disparada, a melhor do mundo. E isso aconteceria há várias décadas.

Pois bem, este livro de Mariana é um exemplo que dá força a tal afirmativa. As coisas não é um livro de peso filosófico e muito menos erudito. Trata-se de contos magnificamente bem escritos (traduzidos por José Geraldo Couto) que oscilam entre a crítica social e o puro terror a la Stephen King. E é originalíssimo. E um belo exemplo de que a literatura popular também deve ser boa.

São doze contos, alguns realmente espetaculares. Outros têm o mérito de mostrar o mais desbragado terror misturado à realidade contemporânea da América Latina. Mariana Enriquez foi uma adolescente “leitora de Stephen King, das irmãs Brontë, de Ray Bradbury e de escritores de terror avulsos, surripiados entre nas livrarias de livros usados – além das histórias de fantasmas contadas pela avó, cheias de religiosidade misturada com superstições e criaturas assustadoras“. Não há melhor descrição para o que lemos. Apenas acrescentaria que os personagens vivem realidades muito próximas da nossa aqui no Brasil, o que torna tudo muito familiar, apesar do humor tipicamente platino.

O livro abre com o melhor conto do volume, O Menino Sujo, onde se tem um leque de temas bem construídos. A incapacidade para ajudar, a pobreza, um país sem direção, um auto-retrato da autora — ela mesma sub-editora do Página/12 e que se acha muito provocadora, bacana e rebelde, quando é apenas impotente.

A qualidade não cai. Em Teia de Aranha temos um retrato de macho realmente repugnante, Pablito clavó um clavito: uma evocação do Baixinho Orelhudo é absolutamente assustador, Sob a Água Negra traz uma juíza visitando uma favela e As coisas que perdemos no fogo é surreal. Todos são arrebatadores.

Como disse, o ambiente é 100% latino-americano. Há a nossa noção difusa de moral, as pessoas que se preocupam com os pobres batem de cabeça nas mais incríveis impossibilidades, a pobreza faz tudo para isolar-se e todos parecem estar (e viver como) loucos. Neste livro não há nenhum final feliz e quando não estamos falando de nosso continente, ouvimos a banda tocar a marcha do macabro, do bizarro e do apavorante.

Um livro sombrio, contemporâneo e muito, muito bom.

Recomendo.

Mariana Enriquez
Mariana Enriquez

Livro comprado na Bamboletras.

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O Conto da Aia, de Margaret Atwood

O Conto da Aia, de Margaret Atwood

O Conto da Aia, de Margaret AtwoodNa área das distopias, creio que este foi o melhor romance que li. Não é pouca coisa. Para não irritar os admiradores de clássicos como 1984, Admirável Mundo Novo, Fahrenheit 451, Nós e outros, não pretendo entrar em comparações, apenas elogiarei o livro de Atwood.

É curioso. Assisti Margaret Atwood palestrar em uma Flip lá por 2004 ou 2005. Achei-a muito fraca e desisti de lê-la. A única coisa que lembro de sua palestra foi o fato de ela ter reclamado de seu agente literário, que lhe obrigava a uma rotina de festivais que nem sempre eram em locais com a paisagem e o ambiente de Paraty. Ela apontou o dedo para o sujeito e disse que pretendia se rebelar. Ela falava muito sério, pouca gente riu da irritada intervenção.

Rebelar-se é praticamente impossível na república teocrática e totalitária de Gilead. O livro é de 1985, mas recentemente voltou à moda, impulsionado pela eleição de Donald Trump e pela, dizem, excelente série televisiva homônima, The Handmaid’s Tale. E, como é um livro que trata basicamente de mulheres que são divididas em categorias, Atwood têm sido muito entrevistada e… Bem, tem decepcionado algumas de suas mais ardentes admiradoras que hoje participam do #MeToo não por defender abusos, mas a presunção da inocência dos acusados. É uma democrata clássica, alguém de moralidade e ética à antiga.

Mas vamos lá, sempre sem spoilers. Nas primeiras 150 páginas, o leitor não entende plenamente o funcionamento de Gilead. Atwood mostra-se uma mestra em jogar informações que vão nos deixando curiosos. Nem se importa de criar um conflito. Até que faz um balanço na página 173. Sim, um balanço.

As mulheres de Gilead são divididas em categorias, cada qual com uma função de Estado muito específica. Offred é uma Aia, o que significa pertencer ao governo e existir unicamente para procriar depois que uma catástrofe nuclear tornou estéril um grande número de pessoas. As Aias são as mulheres não estéreis, que ainda podem engravidar. São úteros de duas pernas, receptáculos sagrados.

Elas são entregues a um Comandante que é casado com uma Esposa (outra categoria). Tais casais fazem parte de um escalão superior de governo. As Aias são obrigadas a fazerem sexo periodicamente com os Comandantes, sob o olhar de suas Esposas, até engravidarem. Depois de darem à luz, elas amamentam a criança por alguns meses. Ela e a criança são propriedade do casal. Elas têm nomes como Offred, que significa “of Fred” (“de Fred”) ou “pertencente ao homem chamado Fred”. Assim, ao longo da vida, uma aia pode ter vários donos e, portanto, vários nomes: Ofglen, Ofcharles, Ofwarren…

Após a bela introdução, a história toma direção e força assustadoras, mesmo que Atwood recorra a flashbacks. O livro é triste e atualíssimo, obrigando-nos a pensamentos pouco ortodoxos sobre liberdade, direitos, sanidade, poder, abuso e fragilidade.

Lê-lo é para quem tem estômago forte. O livro é violento, desconfortável, perturba mesmo. Publicado em 1985, o romance tem um pé na Revolução Islâmica de 1979, que transformou o Irã em uma república islâmica teocrática, e outro pé na Argentina, no roubo de bebês de presos políticos por parte de militares. Sem ser panfletário nem de leitura leve, O Conto da Aia é uma distopia que, anos depois de seu lançamento, voltou a ser lida e, certa ou erradamente, assimilada por uma nova geração de leitores.

Recomendo fortemente.

Atrás dessa carinha de santa tem um cérebro que vou lhes contar...
Atrás dessa carinha de santa tem um cérebro que vou lhes contar…

Livro comprado na Bamboletras.

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Boa tarde, Odair (com os melhores lances de Caxias 2 x 1 Inter)

Boa tarde, Odair (com os melhores lances de Caxias 2 x 1 Inter)

Odair Hellmann pensou que estivesse livre de nossa insistente coluna dedicada aos treinadores do Inter, mas estava redondamente enganado. Este blogueiro está de férias, não viu muito de Inter 1 x 0 Veranópolis, mas viu NH 0 x 3 Inter e o jogo de ontem. Estamos bem informados.

Foto: Ricardo Duarte
2018 ainda é uma criança, mas Pottker já aponta como destaque | Foto: Ricardo Duarte

Ontem à noite, os colorados começaram a ver que a vida em 2018 não será aquele mamão com açúcar que os grandes times que vêm da segunda divisão parecem encontrar cá fora. Quando vi que Edenílson estava escalado o lugar de Camilo, tomei meu primeiro susto tático do ano. Três volantes??? Uma retranca contra o Caxias??? Só que a coisa era ainda pior: Edenílson jogou como se fosse Camilo. Ora, isso é realmente o samba do afro-descendente com problemas mentais.

Mesmo assim, fomos superiores ao Caxias. Perdemos o jogo de em função do preparo físico, que pesou muito no segundo tempo, e pelo fato de Danilo Fernandes negar-se a sair do gol. “Sou goleiro, do gol eu não saio”, não disse Danilo para nossa reportagem. Mas aposto que é assim que pensa.

Também temos um problema de formação de grupo. Odair escalou um volante no lugar de Camilo, mas há que considerar que os reservas para a posição de meia-armador são Fernandinho — um menino de 20 anos que ainda não estreou — e Juan — outro menino de 21 que está sempre no banco mas nunca entra.

Ou seja, é uma posição que é FUNDAMENTAL e para a qual estamos MUITO MAL SERVIDOS. Os titulares são Dale e Camilo. Dale fará 37 anos em abril, Camilo fará 32 em março. Não serão nunca mais atletas em seus auges físicos. Precisaríamos de mais gente pronta para a posição. Edenílson não é o cara para jogar ali.

Quando ao resto, nem vou falar da ruindade de Winck, mas falaria da ruindade de Dourado, que iniciou o ano muito, mas muito mal. (Desculpe, Dourado, mas Charles, contra o NH, jogou muito mais do que tu estás fazendo ). E Damião? Segue se esforçando muito e perdendo gols como um louco. Fundamento nenhum funciona, uma vergonha.

Na parte positiva, Pottker está mais solto e é o destaque do time. Largou a vida de auxiliar de lateral direito, passando a incomodar os adversários lá na frente. Iago também é um grata surpresa. E tem 20 anos, a mesma idade de Fernandinho e Juan…

Outro fato que nos deixa felizes é a saída de bola sem chutões. Parece um sonho ver o Inter saindo de trás, tocando a bola. Mesmo com a derrota de ontem, fiquei feliz de ver o time sem ejacular precocemente.

Nossa próxima partida será sábado, às 16h30, no Beira-Rio, contra o terrível Avenida. Estamos na 3ª colocação, que é muito melhor do que estar em 11º.

https://youtu.be/v9-JKQxpZjc

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Moradores aproveitam buraco de meses e plantam uma árvore no meio da rua da Ladeira

Moradores aproveitam buraco de meses e plantam uma árvore no meio da rua da Ladeira

A tranquila Rua Gen. Câmara — que deveria ser chamada de Rua da Ladeira, pois todo mundo a conhece assim em Porto Alegre –, recebeu hoje um ornamento, uma árvore. O detalhe é que ela foi plantada no meio da rua, num desses buracos que o prefeito Marchezan faz frutificar pela cidade.

Eu apoio toda e qualquer política de reflorestamento e sustentabilidade. A árvore plantada na frente da Ladeira Livros certamente ajudará no combate ao aquecimento global. Trabalho nesta rua. Ela é mesmo muito quente.

Aliás, sobre a árvore: que frutifique! Vamos cuidar dela com amor. Afinal, como diz Gilberto Gil:

A gente cuida, a gente olha
A gente deixa o sol bater
Pra crescer, pra crescer
A rosa do amor tem sempre que crescer
A rosa do amor não vai despetalar
Pra quem cuida bem da rosa
Pra quem sabe cultivar

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Elis 36 / 36

Elis 36 / 36

36 anos sem Elis, morta aos 36 anos. Na época de Elis, devia ser mais fácil de compor. O cara pegava o violão, imaginava a voz de Elis e a canção já saía muito melhor, tenho certeza.

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Um grande momento em Porto Alegre: o show de Guinga e Dudu Sperb

Um grande momento em Porto Alegre: o show de Guinga e Dudu Sperb
Foto de Norberto Flach em seu perfil do Facebook. A legenda era mais do que justa: "Esperando o mestre.".
Foto de Norberto Flach em seu perfil do Facebook. A legenda era justa: “Esperando o mestre.”.

Ontem, fomos assistir ao show, violão e voz, de Guinga e Dudu Sperb no StudioClio. É uma parceria que está iniciando e que pode render muito. Guinga é um tremendo compositor e instrumentista e Dudu é um afinadíssimo cantor de bela voz, que cabe bem no espírito da música de Guinga. O que se pode fazer é o elogio máximo. Houve muito de musicalidade, delicadeza e acordes pouco ouvidos nestas plagas. Segundo o que pude entender, a dupla tinha ensaiado no próprio dia de ontem e mesmo assim o entendimento foi excelente. Assim, fica possível sobreviver ao calor de Porto Alegre. A gente quase morre durante o dia e à noite consegue lembrar dos motivos para tanto esforço.

Houve momentos de grande eletricidade no ar. Quando Dudu cantou Você Você (Canção Edipiana), parceria de Guinga e Chico Buarque, a plateia foi muito cuidadosa antes de aplaudir, porque estaria desmanchando um momento autenticamente mágico. Outros momentos desses foi Nonsense e a aula particular de Tom Jobim que Guinga nos deu ao mostrar a falsa simplicidade de Água de Beber.

Como disse meu amigo Marcelo Barbanti, a música brasileira precisa ser mais valorizada. Salve Chico Buarque de Holanda, salve Guinga (…) salve Antonio Carlos Jobim e tantos outros geniais compositores brasileiros. Pobre do país que vira as costas para as suas mais belas canções e coloca porcarias em pedestais.

Espero que a nova parceria frutifique.

Foto: Norberto Flach
Foto: Norberto Flach

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Após 10 anos, única maestrina do Irã foi finalmente autorizada a reger

Após 10 anos, única maestrina do Irã foi finalmente autorizada a reger

Nozhat Amiri

O 33º Festival Fayr de Música Internacional do Irã está em andamento na capital do país, Teerã. Enquanto a cidade hospeda mais de 30 orquestras de todo o mundo, a primeira e única regente mulher do Irã subiu ao palco deixando o público atônito.

Nozhat Amiri tornou-se a primeira mulher a liderar a Orquestra Nacional do Irã, executando peças compostas por importantes músicos do país, como Hossein Dehlavi, Homayun Khorram e Morteza Hannaneh.

Nozhat Amiri diz que deve tudo ao apoio que recebeu do marido e aos amigos que acreditavam na sua capacidade. Amiri é mestre em música e regência pela Universidade de Teerã e aguardou 10 anos por este momento. É a única iraniana com tal formação.

Veja um trecho abaixo:

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Laços, de Domenico Starnone

Laços, de Domenico Starnone

Laços D StarnoneUm tremendo livro que figurou entre os dez melhores do ano passado no Guia21. Que grande final! Na vida real, o autor Domenico Starnone é o marido de Anita Raja, a tradutora que estaria por trás do pseudônimo Elena Ferrante. Outros dizem, em hipótese mais inverossímil, que ele seria Elena Ferrante… Bem, se uma autora ou autor deseja permanecer anônimo, devemos respeitar tal opção, penso. E meu objetivo aqui é outro: é o de comentar rapidamente o excelente romance que é Laços.

Aldo e Vanda formam uma família convencional com seus dois filhos Sandro e Anna. Ele é professor e dramaturgo, ela é dona de casa. O livro é narrado em primeira pessoa por três vozes, as de Vanda, Aldo e Anna. O personagem principal é Aldo, o homem que abandona Vanda e a família por uma mulher mais jovem, Lidia. As consequências disso são analisadas em detalhe por Starnone, dentro de um romance sintético, de linguagem ágil e paradoxalmente densa. Não estarei dando um spoiler ao dizer que o casal se reconcilia logo no início do romance, após um hiato de anos. O que interessa aqui é o processo e vou passar longe do que há para se descobrir apenas nas duas últimas páginas. Tem toda a razão o crítico e escritor Carlos André Moreira ao dizer que a reconciliação de ambos é uma paródia rançosa. Que durará décadas. Na reconciliação, ensina Aldo, é preciso dizer “bem menos do que calamos”. Pelo visto no romance, muitíssimo menos. O adultério cometido por Aldo é bastante comum, banal, mas a narrativa do desmoronamento é envolvente. Ao fundo, há certeza de que a felicidade é frágil e de que os laços, esses são bem mais fortes.

Cada mudança de voz narrativa funciona como um furacão. Boa parte do que está organizado e coerente numa voz é desmanchado pela próxima. E a entrada em cena da voz da filha vem com o poder de uma muito eficiente máquina de demolição.

É claro que muita gente está fazendo comparações entre Laços e Dias de Abandono, de Ferrante. Mas vamos deixar pra lá.

Quando você comprar este romance da editora Todavia, procure esquecer o mau prefácio de Jhumpa Lahiri. Talvez seja melhor pulá-lo de vez. Já a tradução de Maurício Santana Dias é ótima.

Recomendo fortemente!

Elena Ferrante... Não, espera, Domenico Starnone.
Elena Ferrante… Não, espera, Domenico Starnone.

Livro comprado na Bamboletras.

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A Maldição da Nona (não confundir com avó em italiano, que é nonna)

A Maldição da Nona (não confundir com avó em italiano, que é nonna)
Cena do filme 'O Sétimo Selo': será que Bergman contou seis também?
Cena do filme ‘O Sétimo Selo’: será que Bergman contou seis também?

Mozart escreveu 40 sinfonias (a 37 não existe); Haydn, 104; Brahms escreveu apenas 4 e Shostakovitch pretendia produzir 24, mas ficou em 15. Porém, seis dos maiores sinfonistas de toda a história da música compuseram 9 e logo morreram, forjando o mito de que a nona, ou a décima, é fatal. Vejam a lista abaixo e surpreendam-se com o tamanho da coisa… É como se a morte sempre entrasse em campo quando o imortal pretendesse chegar ao número dez. Aviso: não sou numerologista e não dou a menor importância a este tipo de — creio! — crendices.

Beethoven-Musica-classica.jpgLudwig van Beethoven (1770-1827) está em qualquer seleção de maiores sinfonistas. Se alguém o deixar de fora, merecerá internação. Beethoven fez da 9ª Sinfonia seu testamento musical. Com problemas de saúde cada vez mais notórios, o compositor teve tempo de preparar sua despedida com a maior de suas sinfonias. Ele inaugura nosso sortilégio e, se o leitor não tiver muita intimidade com o mestre, dê preferência à audição das sinfonias Nº 3, 5, 7, 8 e 9. Claro que ele não caiu morto fulminado por um raio logo após fechar o manuscrito da Nona, depois dela ele ainda escreveu algumas de suas maiores obras, os últimos Quartetos de Cordas. Mas a décima ficou em menos do que um rascunho.

franz-schubertFranz Schubert (1797-1828) morreu um ano depois, logo após escrever a sua nona. A curiosidade é que sua oitava sinfonia é conhecida como a Inacabada. E estamos certos em chamá-la assim, pois Schubert abandonou-a ao compor os temas que utilizaria na última. A Sinfonia Nº 9 também é conhecida, com total merecimento, por “A Grande”. Também vale a pena ouvir, além das citadas Nº 8 e 9, a 4 e a 5. Todos pensam que Schubert morreu de sífilis. Nada disso. Morreu de tifo, após ingerir um vulgar peixe contaminado. Ou seja, uma droga de um peixe podre ceifou Schubert durante seus anos mais produtivos. Espero que, se o inferno existir, este peixe esteja lá queimando. Até agora.

brucknerAnton Bruckner (1824-1896) é outro dos grandes sinfonistas indiscutíveis. Ele praticamente só se dedicou a este gênero. Além delas, compôs apenas 3 Missas, 1 Te Deum e pouquíssimas obras de câmara. Seus contemporâneos o consideravam quase como uma criança idiota e a opinião a este respeito é tão unânime que deve ser verdade. Porém, se você continuar a chamá-lo de burro após ouvi-lo, ficarei desconfiado. Sim, de você. Deve tratar-se do idiota mais profundo que se tem notícia, o que prova que a inteligência musical sobrevive mesmo em um cérebro limitado. Há duas curiosidades a seu respeito. A primeira é que Bruckner, já agonizando, quis que seu Te Deum fosse acrescentado como último movimento de sua 9ª. Não foi atendido; era um evidente absurdo. A segunda é que ele possui uma sinfonia Nº 0 e outra 00. É que após a publicação das primeiras sinfonias, apareceram aquelas que o compositor escrevera antes, mas que tinha escondido por vergonha. São excelentes e para não demonstrar uma possível involução em seu estilo, denominou-as Zero e Zero-Zero. Mas, apesar de todos esses zeros, não sobreviveu à décima. Indico fortemente as sinfonias Nº 4 (Romântica), 5 (que possui um adágio estarrecedor de tão belo), 7 e 9 (ambas espantosas).

mahlerGustav Mahler (1860-1911) é o caso mais explícito de medo à 9ª. Contrariamente a Bruckner, era um intelectual e regente respeitadíssimo na Viena da virada do século. Mahler tinha grande temor de escrever sua nona sinfonia e dizia isto a todos. Sabia que a décima o mataria… Quando compôs a oitava (Sinfonia dos Mil), resolveu fazer uma pausa e atacou “A Canção da Terra” (Das Lied von der Erde), que talvez seja sua maior obra, mas que, cá para nós, é uma sinfonia camuflada de ciclo de canções. Com isto, pensou ter enganado o capeta. Só então escreveu sua nona e, por uma distração do diabo, conseguiu até escrever o primeiro movimento da décima, só que… Morreu sem compor os outros movimentos. Outros caras a completaram. Estes sim deviam morrer. Suas melhores sinfonias são todas.

DvorakMenor que os citados, há Antonín Dvorak (1841-1904). Foi um compositor mediano que escreveu lindos quartetos de cordas e que deve ser muito elogiado na presença de checos. Eles se ofendem facilmente. E as sinfonias? Ele compôs nove sinfonias muito parecidas. Todas com quatro movimentos: o primeiro movimento possui 3 temas; o segundo movimento geralmente é um adagio; o terceiro movimento é uma dança ou fuga que copia Beethoven; o quarto movimento é livre, mas melhor seria se não existisse. Deveria ter morrido antes, mas ficou por aí até terminar a nona. Deixou um número surpreendente de obras inacabadas. Sorte nossa. E dele, pois morreu rico e famoso. Sentiram que eu não gosto muito do moço, né? Mas OK, admito que a  8ª e a 9ª são bem legais.

spohrLouis (ou Ludwig) Spohr (1784-1859) escreveu nove sinfonias e deixou a décima pela metade. Achava mais seguro escrever concertos para violino, tanto que escreveu dezesseis. Há um — o oitavo — que é bastante revolucionário, escrito em apenas um movimento, para gáudio de Jasha Heifetz. Sua nona sinfonia é programática e tem um nome incrivelmente original: As Estações. Enquanto vocês decidem se ele plagiou Vivaldi ou Haydn, vou dizendo que Spohr foi um bom compositor, apesar de minhas ironias.

.oOo.

Por isto, aconselhamos a todos os candidatos a compositores eruditos que se depararem com este texto: evitem o gênero ou utilizem-o com parcimônia. Está provado: a décima pode matar.

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Mas confiram o comentário de Filipe Salles:

Caro Milton, devo objetar de sua conclusão, se me permitir, pelos seguintes argumentos: Destes compositores que vc mencionou, apenas Beethoven e Spohr realmente escreveram 9 sinfonias completas (e talvez Mahler, dependendo da interpretação). Schubert deixou sua 7a. sinfonia apenas em esboço melódico, tendo orquestrado uma parte muito pequena dela. Ele próprio se esqueceu desta obra e muitos musicólogos não a consideram no rol da numeração canônica. Há uns 15 anos atrás a Sony lançou uma série com ninguém menos que Giulini regendo, tendo a capa a indicação “Schubert: Symphony no.7 (8)” e também “Symphony no.8 (9)”, apenas para saberem que se tratava apenas de uma questão numérica. No caso de Bruckner, como você mesmo diz, ele escreveu 11 sinfonias, sendo as 2 primeiras rejeitadas por serem obras de juventude. Uma sinfonia em Fá maior não tem numeração e a famosa Número Zero é a “die Nullte”, a nula, que na verdade foi escrita entre a Primeira e a Segunda. Bruckner não aguentou as críticas feitas à ela e riscou na partitura autógrafa a numeração “2”, substituindo pelo 0, acrescentando que ela “não contava”. Mas ambas estão completas e foram editadas, de forma que também é só uma questão de posição dos números. O caso de Dvórak é mais esquisito: apenas suas 5 últimas sinfonias foram publicadas em vida, e as demais só vieram à tona a partir de 1917, quando o musicólogo Otakar Sourek reestabeleceu a ordem por data de composição. A sua Primeira Sinfonia, antes tida como a que hoje é a Sexta, foi recusada num concurso e Dvórak, irritado, disse que a tinha destruído (assim como sua segunda), e só foi executada em 1936, depois de encontrarem os manuscritos originais. Lembro-me até hoje de um disco LP, ainda na era monaural, em que Furtwängler executava a Sinfonia no.5, “Do Novo Mundo”. Ou seja, não poderia haver uma maldição da Nona se ele na época tinha certeza que sua série ia só até a 5a.

No caso de Mahler, depende de considerar ou não o Das Lied von der Erde uma sinfonia, e com certeza na época em que ele estava escrevendo sua Nona, só sabia dos casos de Beethoven e Bruckner, pois a 7a.Sinfonia de Schubert não havia sido completada e as de Dvórak se encerravam na 5a.

No caso de Spohr… Bem, outro dia ouvi suas sinfonias nos. 4 e 5 e achei-as extremamente tediosas, de maneira que não me interessei mais pelas coisas dele.

Um abraço!

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