Ih, fodeu. O dentuço chegou…
Showing all posts in Futebol
A$$i$ e Ronaldinho
Perdi bastante tempo na tarde de sábado no twitter, incomodando meus amigos gremistas e lendo piadas de colorados sobre a malograda vinda de Ronaldinho Gaúcho para Olímpico. O objeto das piadas era a negociação — notória demais, chata demais, cara demais — entre o Grêmio, o Flamengo, o Palmeiras e, aparentemente, todos os clubes do mundo que tivessem o celular de Roberto de Assis Moreira, irmão e empresário do objeto do desejo, o dentuço Ronaldinho. Eu tinha algum receio da vinda dele. Apesar de achá-lo um ex-jogador, apesar de saber que ele não faz uma partida decente há 5 anos, tinha medo, pois também achava que ele poderia, sob um rígido controle e aconselhamento, voltar a nos ofuscar com suas indiscutíveis luzes. Ou seja, eu sofria de um temor profilático, um pré-cagaço que me dizia “Vai que esse cara volte a jogar bola?”. E via que a transação estava fechada. O mais gremista dos colunistas da cidade, David Coimbra, dava a barrigada do século ao noticiar o fechamento da negociação; o presidente Paulo Odone mandava buscar caixas de som e convidava a torcida para a festa; conselheiros do clube davam o acordo como selado após o brinde feito na casa do dono da Coca-Cola aqui no sul, Ricardo Vontobel; ou seja, todos anunciavam a contratação.
O que sobrou foi um fiasco e muito mais. Ficou demonstrada a moral torta do jogador e de seus representantes e uma inexplicável ingenuidade de Odone, um dirigente experiente e político conhecedor das jogadinhas e tramoias que envolvem qualquer negociação, mas que tomou espetacular drible dos dois irmãos. O que fez com que ele caísse na esparrela dos Assis Moreira? Ficou burro? Havia uma comissão bonita por trás e ele ofuscou-se? Ou foi a mera vaidade míope, transfigurada na forma de um coercível desejo de iniciar sua nova gestão à frente do Grêmio com um grande lance?
Ninguém sabe. Mas vamos por partes.
Os grandes jogadores argentinos e alguns brasileiros, ao final de suas carreiras, retornam a seus clubes de origem ou àqueles clubes onde foram mais felizes. É a garantia de mais algum dinheiro — normalmente menos do que poderiam auferir se encerrassem suas carreiras no exterior — e a liquidação de uma dívida de gratidão. O caso mais notável é o de Verón, que retornou ao Estudiantes de la Plata para encerrar suas atividades e que segue recebendo propostas e mais propostas, pois a cada dia que passa joga ainda mais e melhor. Verón não as aceita, diz que nem as lê. De certa forma, também é o caso de vários colorados — alguns ainda jovens — que decidiram facilitar seu retorno ao Inter: casos de Nilmar, Renan, Tinga, Rafael Sóbis, Bolívar e vários outros. Foi nisso que Odone acreditou? Pois não deveria.
Ronaldinho saiu daqui há dez anos sem deixar um tostão nos cofres do clube por sua formação. É legal? Sim, mas não faz parte da atitude habitual dos jogadores. Eles não costumam deixar seus contratos expirarem para sairem livres. Eles costumam renová-los e sair do clube deixando uma boa multa rescisória. Ofendido em seus direitos, o Grêmio foi à Fifa para buscar os valores relativos à formação do atleta. Recebeu-os, parece-me que foi uma miséria e nunca mais Ronaldinho chegou próximo de seu clube de origem, nem pediu desculpas. Por que Odone pensou que, nesta negociação, haveria a vontade da família Assis Moreira de “limpar a barra”? Ora, as aparências realmente não apontavam para isso. Assis viajava de um lado para outro e tanto o Grêmio quanto Palmeiras e Flamengo anunciavam o acerto. Claramente Assis ouvia uma proposta aqui e a aceitava, mas ia ouvia a próxima que fosse maior e a aceitava também, realizando um estranho e desonesto leilão, pois deixava o anterior a ver navios. Deixando mais claro o leilão, Assis promovia coletivas com o único sentido de atiçar os compradores. Ao interpretar suas declarações, paracia-me que o craque queria jogar no Grêmio, ganhar salários no Palmeiras e curtir o Rio…
E a festa? Após convidar a torcida, para a apresentação de Ronaldinho, soube-se que o Grêmio já tinha instalado caixas de som e outros que tais para uma festa. Talvez tivesse comprado litros e litros de cerveja… Ora, Odone é um sujeito experiente, foi presidente do clube várias vezes, participou do governo Yeda e era o chefe da secretaria da Copa de 2014 em Porto Alegre. O que o fez falar apenas com Assis é um mistério, já que havia 3 pontas no negócio: o Grêmio, Ronaldinho e ainda a liberação do Milan, com o qual o dentuço tem contrato até junho. Qualquer manual de negociação manda que falemos com os caras decisivos de TODAS AS PARTES ENVOLVIDAS. Assis disse que falaria com o Milan, que era ele o interlocutor com o clube de Berlusconi, e Odone acreditou… Tolo, não? O que terá rolado na conversa? O que convenceu Odone a ficar quietinho no seu quadrado enquanto Assis viajava?
E há, meus amigos, contra Ronaldinho e seu irmão, a questão moral.
Porra, a gente passa anos dando exemplo aos filhos sobre como agir, sobre o valor da palavra dada, sobre o CARÁTER, firmeza e confiabilidade que uma pessoa deve manter e vem um guri de merda sem a menor consciência ética dar um contraexemplo nacional, internacional. E, pior, que será objeto de festa no Flamengo, Palmeiras ou Blackburn ou em algum time dos Emirados. Vai seguir fazendo propaganda e vendido como exemplo de pessoa talentosa e bem-sucedida. O formato da coisa toda me enojou profundamente, ainda mais numa semana em que tive contato com outras pessoas de atitudes repulsivas. Olha, o padrão moral da família Assis Moreira é rasante e não gostaria se traçassem paralelos com sua origem humilde, de modo algum. É coisa lá deles. A família tem diversos imóveis na zona sul de Porto Alegre, é multimilionária e fica por aí fazendo um leilão de última categoria. Não precisava.
A não-vinda de Ronaldinho, patrocinada pela vexaminosa negociação do “Odono do Grêmio”, acabará por ser benéfica para o time da Medianeira. Não obstante minha paranoia, trata-se de um ex-atleta. A única coisa que o irmão de Assis traria ao seu ex-clube, seria dificuldades para impedir a desagragação do grupo, que conveviria com um festeiro de salário estratosférico. Talvez o Grêmio devesse comemorar o melhor futuro que decorrerá deste fracasso verdadeiro. Livraram-se de uma bomba.
A cerejinha podre que faltava: o deputado Gilmar Sossela (PDT) proporá moção que tornaria o jogador persona non grata no Rio Grande do Sul. De qualquer maneira, acho melhor Ronaldinho não vir ao RS nos próximos meses…
A Foto Perfeita
Publicado em 4 de março de 2006
A governadora Yeda Crusius conseguiu grande vitória sobre o botox ao receber o símbolo maior da arrogância esportiva injustificada. Feliz e imediatamente identificada com o mimo, prometeu apoio ao Grêmio na construção do novo estádio, que deverá chamar-se Via Crusius Arena. O atual recebeu seu nome em homenagem às Olimpíadas de Porto Alegre.
Um Espaço para meu Pasmo Futebolístico
Publicado em 21 de fevereiro de 2007
Hoje à noite, o Internacional entra em campo para sua estréia na Libertadores 2007. Como atual campeão, deveria estrear como um dos favoritos, mas não é o que acontece. A história recente do Inter é a de um clube vendedor de jogadores que tem confiança ilimitada em suas categorias de base. Porém, paradoxalmente, o Inter Campeão da América e do Mundo não contava com muitos jogadores formados no Beira-rio. A espinha dorsal da equipe foi comprada. Vejamos: o time da Libertadores 2006 tinha apenas Edinho e Rafael Sóbis de ex-juniores. E a maioria dos outros foram adquiridos quando consagrados macacos velhos: Fernandão, Clemer, Tinga, Jorge Wagner, Iarley, Ceará, Índio, etc. Ou seja, não há uma continuidade na política de futebol do clube, o que vemos é a descontinuidade.
Em agosto do ano passado, perdemos quatro jogadores importantíssimos: Tinga, Rafael Sóbis, Bolívar e Jorge Wagner. No final do ano, perdemos mais um, este um jogador realmente fundamental para a mecânica do time: Fabiano Eller. E não houve reposições à altura. Apenas Bolívar foi bem substituído por Índio, que já fazia parte do grupo. Para o lugar de J. Wagner veio o lamentável Martín Hidalgo; para o de Tinga veio um excelente jogador, mas de outra posição…: Vargas. Sóbis e Eller não receberam substitutos. Eller era importante porque ter sido o homem que vinha de trás num time de volantes toscos e de lateral esquerdo ruim. Ele tornava qualidades as deficiências de seus companheiros. Com ele, os volantes não precisavam aparecer na frente e o mau lateral ficava atrás cobrindo o avanço de nosso peculiar zagueiro pela esquerda. Mas Eller saiu, fruto da falta de interesse em pagar US$ 1,5 milhão de dólares para mantê-lo. Aliás, suponho que os empresários e dirigentes devam ter feito uma boa “realização de lucros” no final do ano, pois o dinheiro da premiação pelo Mundial e de todos os direitos ligados a esta competição aparentemente sumiu.
Resultado: o time que estréia hoje na Libertadores tem somente três jogadores que disputaram a final do ano passado contra o São Paulo: Clemer, Edinho e Alex… Para complicar ainda mais, tivemos um início de ano com muitas lesões. Fernandão e Ceará foram operados; Índio, Pato e Vargas têm problemas musculares e Christian foi contratado mas talvez nem possa atuar por ter trocado três vezes de clube num período inferior a um ano. Este último caso revela bem o descaso com que o clube tem sido tratado pela nova direção. Não sabiam que Christian fora do Juventude e do Corinthians? Eu e o mundo sabíamos! Estão deitados sobre os louros de uma grande vitória. Parecem não saber que futebol é momento, é algo a ser renovado a cada partida e que dois empates em casa bastarão para que a torcida se volte contra o time. Ingênuos.
Não creio numa grande Libertadores para nós.
Copa do Mundo (Maitena)
Grenaica
Publicado em 12 de abril de 2006
Minha filha foi comigo ao Grenal de domingo. Ela tem 11 anos e aquele era o quinto – segundo ela, pois para mim é o terceiro – jogo a que assistia em estádio. Estava encantada com tudo. Lia as faixas, ria dos palavrões, juntava-se aos coros altamente ofensivos ao adversário, falava muito e transpirava certezas. Para mim, a experiência de ir a campo com ela foi a de travar contato com a mais escabelada passionalidade. As faltas cometidas em nossos jogadores eram agressões dignas de dar cadeia, o juiz era um imbecil e os gremistas, idiotas. Se um dia fui assim, esqueci. Talvez eu vá ao estádio pela beleza plástica do jogo e de sua tática (na TV não é tão bonito, nem tão interessante) ou por simples amor ao Inter, mas acredito que a verdadeira razão é a de que o futebol é um gênero de espetáculo que pode ser visto com maior variação de humores e participação do que qualquer outro disponível por perto. Por exemplo, se você for a um concerto, provavelmente não poderá ofender o artista. Vou a muitos concertos; sei que escolho bem e, quase sempre, saio feliz. Às vezes, ele é apenas aceitável. Há possibilidades bem piores, é claro, porém elas raramente incluem a vaia, chamar o artista de filha-da-puta ou a disposição de odiar-se a ponto de desejar a própria derrota – em outras palavras, de desejar o próprio fracasso.
Estou enrolando para dizer isso: um concerto ou qualquer outro espetáculo que aconteça dentro de um teatro são representações mais incompletas da vida do que um jogo de futebol. Pronto, disse! Talvez não consiga dormir hoje. Os fantasmas de Shakespeare, Pirandello, Tchekhov, Bergman, Sófocles e de tantos outros me perturbarão a noite. Sei que os aspectos culturais envolvidos fariam o futebol perder de goleada nos primeiros minutos de uma discussão, mas experimente olhar de frente para uma torcida de futebol com o jogo se desenvolvendo à nossas costas. O sofrimento, a alegria, a expectativa, a frustração e quase todos os sentimentos são coisas presentes, visíveis a ponto de serem quase fenômenos físicos. Talvez até o amor romântico tenha representação no futebol… No teatro elisabetano – época de Shakespeare -, os assistentes manifestavam-se, podiam gritar e fazer piadas sobre Otelo, Iago e Desdêmona, mas, hoje, fazer isto seria uma tremenda falta de educação e até eu concordo. Pô, já imaginaram um cara berrando ao nosso lado, fazendo-nos perder as falas?
A possibilidade de amar, de ser indiferente ou de detestar o próprio time, de ridicularizar ou sentir medo do adversário, de aplaudir ou desejar a própria derrota é exercida plenamente apenas quando estamos no estádio. Acho ridículo sentir tanta coisa na frente da TV. Aparentemente, a Bárbara concorda, pois nunca vê jogos de futebol em casa, não vê emoção naquilo; intuitivamente, sabe que a maravilha está no campo de batalha e no leque de opções por ele oferecidas. Na proximidade do fato e no oscilar entre o píncaro da glória e o possível funeral está o fascínio da coisa.
No caso do jogo de domingo, fomos enterrados. Faltando cinco minutos para o final do jogo, todos estavam em pé e meu filho sentou. Ele não queria seguir assistindo aquela tremenda exposição de incompetência de nosso técnico. Eu e a Bárbara ficamos aguardando o momento mágico e improvável da sorte. Com o jogo terminado, ficamos todos paralisados, sem nos movermos do estádio. Bernardo me perguntou sobre o que estava acontecendo. Disse-lhe que o jogo acabara e que tínhamos perdido o campeonato mais fácil dos últimos dez anos, que eles eram os campeões. Quando olhei para a Bárbara, ela chorava.
Já no papel de pai, fiz com que ela sentasse sobre minha perna e expliquei-lhe que aquilo era uma diversão, que mesmo para mim o futebol era a mais importante das coisas desimportantes e que, enfim, aquele fato não era digno do choro dela. Fomos embora passando entre torcedores boquiabertos, que pareciam hipnotizados vendo a pequena torcida do Grêmio comemorar. Eu falava sem parar. Não queria que ela visse tantos adultos chorando, contradizendo minha argumentação.
Obs. 1: tenho a leve impressão de ter roubado o título deste post de alguém. Se tivesse que chutar, diria que o furto foi feito ao Tiago. Mas é muito tarde para averiguar. Vou dormir. Update matinal: foi sim, foi tirado daqui.
Novo Referendo
Publicado em 30 de outubro de 2005
Você é a favor da proibição da comercialização de campeonatos de futebol no Brasil?
1- NÃO
2- SIM
Será que desta vez o SIM vence? Vote nos comentários abaixo.
Obs.: Post inspirado em e-mail escrito por Elias Dill (Maurício).
Acrescentado às 9h40 do mesmo dia:
A colorada Elenara Iabel Cariboni nos envia uma importante e curiosa contribuição ao debate: uma crônica escrita por Graciliano Ramos em 1921, sob o pseudônimo de J. Calisto, na qual ele defende a tese de que o Brasil não tinha vocação para o esporte, e sim para a rasteira. A rasteira? Sim, a mesma que levamos do Dr. (?) Luiz Zveiter, 84 anos depois, ao acordarmos, num domingo, manhã de jogo importantíssimo, sem a liderança do campeonato. Se hoje os comentários sobre esportes e outras previsões de Graciliano só nos provocam riso, ele acerta em cheio ao escrever que “desde S. Exa. o senhor presidente da República até o mais pançudo e beócio coronel da roça, (…) todos os salvadores da pátria têm a habilidade de arrastar o pé no momento oportuno.”
TRAÇOS A ESMO
GRACILIANO RAMOS – Publicado pela primeira vez em “O Índio”, em Palmeira dos Índios (AL), em 1921, sob o pseudônimo de J. Calisto.
Pensa-se em introduzir o futebol, nesta terra. É uma lembrança que, certamente, será bem recebida pelo público, que, de ordinário, adora as novidades. Vai ser, por algum tempo, a mania, a maluqueira, a idéia fixa de muita gente. Com exceção talvez de um ou outro tísico, completamente impossibilitado de aplicar o mais insignificante pontapé a uma bola de borracha, vai haver por aí uma excitação, um furor dos demônios, um entusiasmo de fogo de palha capaz de durar bem um mês.
Pois quê! A cultura física é coisa que está entre nós inteiramente descurada. Temos esportes, alguns propriamente nossos, batizados patrioticamente com bons nomes em língua de preto, de cunho regional, mas por desgraça estão abandonados pela débil mocidade de hoje. Além da inócua brincadeira de jogar sapatadas e de alguns cascudos e safanões sem valor que, de boa vontade, permutamos uns com os outros, quando somos crianças, não temos nenhum exercício. Somos, em geral, franzinos, mirrados, fraquinhos, de uma pobreza de músculos lastimável.
A parte de nosso organismo que mais se desenvolve é a orelha, graças aos puxões maternos, mas não está provado que isto seja um desenvolvimento de utilidade. Para que serve ser a gente orelhuda? O burro também possui consideráveis apêndices auriculares, o que não impede que o considerem, injustamente, o mais estúpido dos bichos. (…) Fisicamente falando, somos uma verdadeira miséria. Moles, bambos, murchos, tristes – uma lástima! Pálpebras caídas, beiços caídos, braços caídos, um caimento generalizado que faz de nós um ser desengonçado, bisonho, indolente, com ar de quem repete, desenxabido e encolhido, a frase pulha que se tornou popular: “Me deixa…” Precisamos fortalecer a carne, que a inação tornou flácida, os nervos, que excitantes estragaram, os ossos que o mercúrio escangalhou.
Consolidar o cérebro é bom, embora isto seja um órgão a que, de ordinário, não temos necessidade de recorrer. Consolidar o muque é ótimo. Convencer um adversário com argumentos de substância não é mau. Poder convencê-lo com um grosso punho cerrado diante do nariz, cabeludo e ameaçador, é magnífico. (…)
Para chegar ao soberto resultado de transformar a banha em fibra, aí vem o futebol.
Mas por que o futebol?
Não seria, porventura, melhor exercitar-se a mocidade em jogos nacionais, sem mescla de estrangeirismo, o murro, o cacete, a faca de ponta, por exemplo? Não é que me repugne a introdução de coisas exóticas entre nós. Mas gosto de indagar se elas serão assimiláveis ou não.
No caso afirmativo, seja muito bem vinda a instituição alheia, fecundemo-la, arranjemos nela um filho híbrido que possa viver cá em casa. De outro modo, resignemo-nos às broncas tradições dos sertanejos e dos matutos. Ora, parece-nos que o futebol não se adapta a estas boas paragens do cangaço. É roupa de empréstimo, que não nos serve.
Para que um costume intruso possa estabelecer-se definitivamente em um país é necessário, não só que se harmonize com a índole do povo que o vai receber, mas que o lugar a ocupar não esteja tomado por outro mais antigo, de cunho indígena. É preciso, pois, que vá preencher uma lacuna, como diz o chavão.
O do futebol não preenche coisa nenhuma, pois já temos a muito conhecida bola de palha de milho, que nossos amadores mambembes jogam com uma perícia que deixaria o mais experimentado sportman britânico de queixo caído. (…)
Temos esportes em quantidade. Para que metermos o bedelho em coisas estrangeiras? O futebol não pega, tenham a certeza. Não vale o argumento de que ele tem ganho terreno nas capitais de importância. Não confundamos.
As grandes cidades estão no litoral; isto aqui é diferente, é sertão. As cidades regurgitam de gente de outras raças ou que pretende ser de outras raças; não somos mais ou menos botocudos, com laivos de sangue cabinda ou galego.
Nas cidades os viciados elegantes absorvem o ópio, a cocaína, a morfina; por aqui há pessoas que ainda fumam liamba. (…)
Estrangeirices não entram facilmente na terra do espinho. O futebol, o boxe, o turfe, nada pega.
Desenvolvam os músculos, rapazes, ganhem força, desempenem a coluna vertebral. Mas não é necessário ir longe, em procura de esquisitices que têm nomes que vocês nem sabem pronunciar.
Reabilitem os esportes regionais que aí estão abandonados: o porrete, o cachação, a queda de braço, a corrida a pé, tão útil a um cidadão que se dedica ao arriscado ofício de furtar galinhas, a pega de bois, o salto, a cavalhada e, melhor que tudo, o cambapé, a rasteira.
A rasteira! Este, sim, é o esporte nacional por excelência!
Todos nós vivemos mais ou menos a atirar rasteira uns nos outros. Logo na aula primária habituamo-nos a apelar para as pernas quando nos falta a confiança no cérebro – e a rasteira nos salva.
Na vida prática, é claro que aumenta a natural tendência que possuímos para nos utilizarmos eficientemente da canela. No comércio, na indústria, nas letras e nas artes, no jornalismo, no teatro, nas cavações, a rasteira triunfa.
Cultivem a rasteira, amigos!
E se algum de vocês tiver vocação para a política, então sim, é a certeza plena de vencer com auxílio dela. É aí que ela culmina. Não há político que a não pratique. Desde S. Exa. o senhor presidente da República até o mais pançudo e beócio coronel da roça, desses que usam sapatos de trança, bochechas moles e espadagão da Guarda Nacional, todos os salvadores da pátria têm a habilidade de arrastar o pé no momento oportuno.
Muito útil, sim senhor.
Dediquem-se à rasteira, rapazes.
Festa no Apê e outro tópicos menos eruditos
Publicado em 15 de fevereiro de 2005
FESTA NO APÊ: Sábado, enquanto respondia e-mails e comentava no blog da Meg, cantava “Festa no Apê” em altos brados. Dificilmente haverá quem mais depreze música ruim do que eu, só que a coisa colou na minha cabeça e sou uma natureza canora. Para me auxiliar – tenho certeza -, a Claudia ameaçou separar-se de mim imediatamente. Atiraria minhas coisas pela janela. Não deu certo. Depois, mais razoável, pôs a Pequena Missa Solene de Rossini em um volume ensurdecedor para qualquer vivente sem lesões auditivas. Isto fez passar a crise. Na semana passada, li esta frase em um e-mail: “Bons tempos aqueles em que uma festa no apê só incomodava os vizinhos“. Nada mais verdadeiro.
A ORAÇÃO DO ATEU: De sexta para sábado, tive um sonho em que via e ouvia um padre falar mais ou menos assim: Ó Pai, que estás nos céus, colocado lá por nossa fraqueza, medo, culpa e imaginação, feito a nossa imagem e portador de nossos defeitos, olhai por nós, pobres pecadores que não usamos teu nome para nada e que vivemos pelo mundo como cães sem dono. Permita que os cães com dono não nos mordam e que a bondade e desespero enviada por eles a ti, retornem na forma de grandes chuvas de bençãos e não como tens feito ultimamente. Que a beleza de tua figura, formada em cada poro e célula por nosso afeto a nós mesmos e nosso horror ao vazio, possa espalhar-se pelo mundo e transformar-se em vales onde jorrarão o leite e mel (*) necessários a nutrir teu povo… (Aqui acordei conjeturando se isto não daria um post…)
(*) “Vales onde jorram o leite e o mel…”. Da letra de Chico Buarque em Sobre Todas as Coisas, lembram?
O FRACASSO DA LITERATURA: Além de Perto Demais (Closer) – analisado espetacularmente pela Meg e respondido com argúcia ainda maior por mim (*) enquanto cantava Festa no Apê para a Claudia; bem, dizia eu que, além de Perto Demais, você deveria ver urgentemente Menina de Ouro (Million Dollar Baby), de Clint Eastwood. Acho uma pena isto, mas o cinema – e não a literatura – tornou-se nosso maior background cultural comum. Então, a gente tem que correr logo aos bons filmes para não ficar fora das discussões! Vê-se um filme em duas horas, lê-se um livro em alguns dias. As apresentações dos filmes nos cinemas são efêmeras, o livro espera na cabeceira ou na estante até a hora em que você decida-se a lê-lo. É mais difícil, pois, sincronizar leituras, enquanto os filmes são assistidos por muita gente numa mesma época. Discutamos filmes, então.
Observação: Tópico escrito com o auxílio etílico de Jussara Mussi e Ricardo Branco.
(*) Brincadeirinha, Meg. Sabes que só repeti o que disseste.
GÊNIOS ABSOLUTOS: Em minha opinião, William Shakespeare foi o maior gênio do século XVII; no século XVIII, elejo tranqüilamente Johann Sebastian Bach como o maior de todos os homens; já no século XIX, deixaria a láurea (fifty-fifty) nas mãos de Karl Marx e Charles Darwin e, no vizinho século XX, daria o prêmio a Sigmund Freud. Para o século XXI, tenho um candidato por ora imbatível: Hugo de León, técnico do Grêmio. Só um gênio imortal consegue fazer aquele grupo de cabeças-de-bagre jogar. Insuperável!
FIASCO: Se o Inter continuar jogando deste jeito, dedicar-me-ei ao hipismo ou ao golfe. Alguém aí conhece as regras do badminton? Ou seria badmilton?
Grêmio, isso ainda vai ser grande no Brasil
Argumentos dramáticos e indiscutíveis para elevar a autoestima tricolor.
Ou clique aqui.
Odone e Yeda
Sou inteiramente a favor de tirar sarro de gremistas e vice-versa, claro. Talvez a maioria de meus amigos seja gremista. Fizeram, coitados, esta triste opção numa idade em que não tinham discernimento… Mas anteontem, o novo presidente do Grêmio apequenou-se de forma muito severa ao fazer um discurso de posse onde falava mais de nós do que da instituição que estava assumindo. E não foram referências elegantes como as que recebi de meus amigos, foram coisas assim: “Vamos voltar ao Mundial e goleiro algum vai debochar da gente arrastando a bunda no chão”, disse, em referência à estranha dança comemorativa do goleiro Kidiaba. Depois falou em fiasco, uma verdade que fica mal na boca de um presidente, e voltou a falar na superiodade tricolor, etc. Aqui está um pequeno resumo da coisa. Sim, pequeno resumo, porque ouvi o discurso e houve frases como “perder para um clube africano é mais vergonhoso do que um rebaixamento para Série B”… Frase pra lá de duvidosa e em mais de um sentido.
Fico tranquilo apenas por achar que isso não aconteceria no Inter. Ao menos em discurso de posse.
Ontem mesmo, Fernando Carvalho respondeu à Odone, ex-secretário especial da Copa de 2014 nomeado por Yeda, a quem dediquei o post abaixo. Odone e Yeda são semelhantes, não? Carvalho poderia ter respondido melhor, mas ficou aceitável se pensarmos na pessoa a quem era dirigido o discurso. Uma prova de que há fiascos e fiascos.
Celso Roth, vai
Ou clique aqui.
Inter dá fiasco, perde para o Mazembe e está fora do Mundial
Publicado originalmente no Sul21
Em Porto Alegre, estouram foguetes e ouve-se buzinas. De gremistas. O que era considerado impossível, mera fantasia de torcedores do tricolor, aconteceu. O Internacional perdeu para o Mazembe, do Congo, por 2 a 0 nesta terça-feira (14), no Estádio Mohammad Bin Zayed, em Abu Dhabi (Emirados Árabes), vendo o sonho do bicampeonato transformar-se numa triste disputa de terceiro lugar.
O campeão da Libertadores, que era favorito absoluto antes do jogo de hoje começar, perdeu várias chances do gol e mereceu perder, com gols de Mulota Kabangu, aos 7min, e Dioko Kaluyituka, aos 40min, ambos da segunda etapa.
Com a vitória, o time do Congo se torna a primeira equipe a quebrar a tradição da decisão ficar entre um time da América do Sul e outro da Europa. Esta será no próximo sábado, contra o vencedor de Inter de Milão e Seongnam, da Coreia do Sul, que se enfrentam nesta quarta. Também no sábado, o clube gaúcho disputa o terceiro lugar contra o perdedor da semifinal de amanhã. Paradoxalmente, este resultado finalmente justifica a posição da FIFA de colocar todos os continentes na disputa pelo Mundial.
O jogo começou com o Inter bem melhor em campo. O colorado valorizava a posse de bola e chegava com perigo. Em dois minutos de bola rolando, Rafael Sobis e Wilson Matias já haviam desperdiçado boas chances. Aos 10min, a equipe de Roth por muito pouco não abriu o placar. Alecsandro tabelou com D’Alessandro e cruzou na medida para Sobis, que chutou para grande defesa do estranho e espetacular goleiro Kidiaba.
Mais preocupado em marcar (a exemplo das quartas de final, contra o Pachuca, o time abusou de faltas), o Mazembe assustou pela primeira vez apenas aos 12min em chute de longe de perigoso Kabangu, defendido por Renan em dois tempos.
Na parte final da primeira etapa, porém, o Mazembe começou a mostrar que não estava a passeio em Abu Dhabi — ao poucos, passou a controlar o Inter, que, por sua vez, mostrou-se impotente para reagir.
Como desgraça pouca é bobagem, a defesa colorada começou o segundo tempo insegura. Logo no primeiro minuto, Kaluyituka girou para cima da marcação e bateu para fora. Aos 7min, o inesquecível Kabangu dominou absolutamente livre na área e bateu com categoria no canto esquerdo de Renan para abrir o placar.
O Inter respondeu debilmente. Aos 15min, Rafael Sobis pegou sobra da zaga, mas novamente parou em Kidiaba. Demonstrando muito nervosismo no banco desde o começo do jogo, Roth fez duas trocas: a de sempre, Alecsandro por Leandro Damião, e a incompreensível, Tinga por Giuliano, em vez de tirar um de seus volantes.
Aos 19min, D’Alessandro cruzou e Sobis cabeceou para fora. Quando o Inter acertava o alvo, o tremendo Kidiaba brilhava. Aos 25min, o goleiro fez excelente defesa após chute forte de Giuliano. Com os colorados mostrando ansiedade e nervosismo, D’Alessandro perdeu o gol mais feito do universo, chutando meio de rosca, uma bola limpa, recebida na marca do pênalti.
Roth ainda fez uma tentativa ridícula sacando Sobis e mandando o juvenil Oscar para o campo aos 30min. Oscar, recém vindo do time B e ainda encantado com a novidade da viagem, agradeceu a chance e nada fez. Apos 40, Kaluyituka carregou pela esquerda em contragolpe, pedalou e driblou na entrada da área e chutou forte no canto para confirmar um dos maiores feitos do futebol africano e um abissal fracasso colorado.
MAZEMBE (2) — Kidiaba, Nkulukuta, Kimwaki, Ekanga e Kasusula; Mihayo, Kaluyituka, Bedi e Kasongo; Kabangu (Kanda) e Singuluma. Técnico: Lamine N’Diaye
INTERNACIONAL (0) — Renan, Nei, Bolívar, Índio e Kleber; Wilson Matias, Guiñazu, Tinga (Giuliano) e D’Alessandro; Rafael Sobis (Oscar) e Alecsandro (Leandro Damião). Técnico: Celso Roth
Árbitro: Bjorn Kuipers (Holanda). Auxiliares: Berry Simons (Holanda) e Sander Van Roekel (Holanda).
Gols: Kabangu, aos sete, e Kaluyituka, aos 40 minutos do segundo tempo.
Cartões amarelos: Nkulukuta (Mazembe); Índio (Inter).
Estádio: Mohammed bin Zayed, Abu Dhabi (Emirados Árabes). Público: 22.131 torcedores.
Se jogar direitinho, chega à final
É óbvio, é claro. É só jogar direitinho hoje às 14h. O Mazembe é perigoso, mas também é daqueles times que correm de forma desordenada, numa agitação quase caótica, chegando atrasado nas bolas e cometendo muitas faltas. São rápidos, chutam muito e bem e o envelhecido Índio pode sofrer com a correria deles. Porém, insisto, precisamos apenas fazer nosso jogo.
O futebol mudou. O gold standard voltou a ser o estilo Rinus Michels-Cruyff-Rijkaard-van Gaal-Guardiola-Barcelona de fazer a bola rodar e rodar pelo campo até que se abra uma brecha. Nem todos têm um Xavi para fazer a abertura das portas, mas a coisa funciona mesmo conosco. O Inter talvez seja o time brasileiro com maior aptidão para fazer a bola ir de lá para cá, com aquele falso desinteresse de quem pega o dinheiro sem contar, mas é preciso ter uma calma e categoria imensas para isso e calma é hoje tudo o que não sinto. Porque hoje é o “Dia de se livrar do fiasco”, muito mais ameaçador do que o sábado — o “Dia de tentar ser bi mundial”. Lembro de um ditador da Indonésia (Sukarno?) que nomeava os anos: “este é o ano-em-que-deixaremos-de-passar-fome”, “este é o ano-de-desenvolver-a-indústria, aquele é o “ano-de-viver-perigosamente”, ou seja, de eliminar fisicamente a oposição… Ah, os gremistas.
Eles estão mais assustados ainda. Se o Inter for campeão, passamos à frente deles em títulos internacionais de peso, engatamos uma quinta, ganhamos a Recopa do Independiente no meio do ano e adeus tia Chica. A decadência deles em relação a nós neste século ficará muito clara, clara demais, ofuscante, como sempre desejamos… Para completar, eles ontem perderam a primeira posição no ranking da CBF com o reconhecimento dos campeonatos nacionais pré-1971. O novo líder é o Santos, seguido do Palmeiras, e só a RBS poderá criar uma forma de salvar o tricolor, talvez com um “Ranking Monumental”.
Nossa chefe aqui no Sul21 não nos liberou do trabalho, mas haverá uma TV na redação. Até lá, tenho muitas coisas para fazer e, confesso, não terei muito tempo para exercitar meu nervosismo. Melhor assim. O ócio é um algoz torturante, nunca gostei muito dele.
Agora, leiam abaixo como foi a terrível semifinal de 2006 (post de 14 de dezembro de 2006):
Com Alguma Sorte
Para quem não sabe, o dono deste blog está assoberbado de trabalho – sim, aquele que garante sua sobrevivência com razoável dignidade – e, secundariamente, mobilizado pelo inédito Campeonato Mundial que seu time, o Internacional, disputa esta semana no Japão. Calma, mesmo assim, teremos o “Porque hoje é sábado”.
Pois meu dia de ontem começou com a visão de uma Porto Alegre parada, assistindo ao quase-fiasco do Inter contra o Al Ahly. Jogamos muito mal. Os egípcios exerceram forte marcação e nosso time sentiu muito. Alexandre Pato e Iarley ficaram isolados na frente, brigando inutilmente contra os três bons zagueiros adversários, sem o auxílio de Fernandão e Alex, que travavam outra batalha inglória mais atrás. Com todos bem marcados, as tarefas de armação acabavam ficando para os dois volantes de contenção Edinho e Wellington Monteiro, eficientes em suas funções defensivas mas péssimos criadores.
Ora, é sabido que, para jogar futebol, é adequado ter a posse da bola. Os egípcios marcavam bem, recuperavam a bola e então aparecia o outro grande problema. Nosso meio de campo, formado por Edinho, Wellington, Fernandão e Alex, apresentava enormes deficiências de marcação. Alex está fora de forma – é óbvio que deveria jogar Vargas em seu lugar – e Fernandão está desacostumado à posição, pois passou o ano jogando como primeiro e segundo atacante. Então, recuperar a bola era um parto. Não sei como ganhamos o jogo. Ou sei? Foi com muita sorte, com um zagueiro do Al Ahly atrasando uma bola no pé do Pato e com outro um gol de Luís Adriano, um sujeito que nunca tinha feito nada de positivo no time titular e que, mesmo depois do gol, seguiu no padrão de suas péssimas atuações.
Já contra o Barcelona, os problemas serão outros. O Barça joga mais, marca menos e é provável que nosso jogo apareça. Mas, é claro, me preocupa a recuperação da bola. À exceção de Ronaldinho, o Barcelona joga quase sem drilbles, tocando a bola de primeira e com rapidez, em ação coletiva. Se nossa marcação no meio de campo estiver tão deficiente quanto esteve no primeiro jogo, nem precisamos entrar em campo: é derrota certa. E precisamos atacar (ou contra-atacar com perigo), pois não podemos só ficar lá atrás com o Barcelona tranqüilo, rondando nossa área.
Sugiro a todos uma olhada na última Trivela. Há um artigo de Ubiratan Leal que mostra como José Mourinho (Chelsea) e Fabio Capello (Real Madrid) anularam Ronaldinho e venceram seus últimos jogos contra o Barça. Os dois conseguiram atacar e anular Ronaldinho. Concordo que ambos têm times superiores ao do Inter, mas há, embutida no artigo, uma importante lição.
Providência 1 (Ronaldinho): um lateral dedicado à marcação com um volante na sobra. Ceará e Edinho? Ceará e WM?
Providência 2 (a ajuda à Ronaldinho): ambos colocaram atacantes pelo lado direito de ataque – o Chesea botou o Shevchenko e o Real, Robinho – para que os laterais esquerdos Silvinho e Gio (Giovanni von Bronckhorst) não pudessem auxiliá-lo com tranqüilidade.
Providência 3 (forçar o Barça a se defender): ter dois armadores ativos no meio de campo. Como o Barça atua com apenas um volante (Edmílson), isto obrigará Iniesta e Deco a ajudarem na marcação, deixando o ataque dos catalães desconectado do resto do time.
Essas providências – e mais umas poucas outras – fizeram o Barça desaparecer. Mas para que o volante adversário tenha diversão, Fernandão e Alex terão que jogar… e muito! Eu retiraria Alex ou Iarley do time para fazer Vargas entrar. É incrível a consistência que o colombiano dá a nosso meio de campo. Sua presença foi fortemente sentida pelo Al Ahly no final do jogo de quarta-feira. Sua experiência de anos no Boca Juniors ensinou-o a não se omitir, a valorizar o passe e a complicar luta pelo meio de campo, seja jogando bola, seja cometendo faltas. É um jogador precioso que não conta com a simpatia do muitas vezes tolo Abel Braga, um técnico que dá boa dinãmica ao time mas que tem o hábito de fazer escolhas baseadas nas suas preferências pessoais.
Outro fator de preocupação é a má forma física de Alexandre Pato. Logo após fazer embaixadas com o ombro (ver aqui), ele sentiu cãibras, o que já havia ocorrido no jogo contra o Palmeiras. Ou seja, seu prazo de validade atual é curto e ele só joga até os 15 minutos do segundo tempo.
Tenho certeza de que podemos fazer uma partida bem melhor do que a que se viu ontem e que podemos ganhar. Porém, é óbvio que o favoritismo é catalão.
Porque sou Goiás hoje
Sou Goiás porque sou colorado e colorados torcem sempre contra os interesses do Grêmio e vice-versa.
Sou Goiás porque sou um baita de um filha-da-puta que gosta de tirar sarro de gremistas.
Sou Goiás porque será cada vez mais comum times brasileiros vencerem a Libertadores — temos o melhor futebol de clubes do continente, o mesmo não digo sobre seleções — e é bom que o Grêmio fique afastado destes festins.
Sou Goiás porque o Goiás não irá muito longe na Libertadores 2011.
Sou Goiás porque defendo os fracos. (Puff!)
Sou Goiás porque me divirto com as grandes decepções e a torcida do Independiente sofrerá enorme uma frustração in loquo.
Sou Goiás porque adoro quando tudo está preparado para a vitória e sai tudo errado.
Sou Goiás porque Marcão joga lá.
Sou Goiás porque Fernandão é.
Sou Goiás porque me agrada o anticlímax da classificação domingo X a desclassificação de hoje.
Sou Goiás porque é o Brasil na Sul-Americana. [Grupo Arquibancada Colorada do Google]
Sou Goiás porque quero ver o Grêmio fodido. [Grupo Arquibancada Colorada do Google]
Sou Goiás porque lugar de gazela é assistindo a Libertadores sentadinho no sofá. [Grupo Arquibancada Colorada do Google]
Sou Goiás porque nosso caminho ao Bi da Recopa será facilitado contra o time brasileiro, fugindo do Independiente. [Grupo Arquibancada Colorada do Google]
Sou Goiás, porque prefiro que esse título venha para o Brasil, mais uma vez. [Grupo Arquibancada Colorada do Google]
Sou Goiás porque eliminaram o gazeledo no xiqueróvsky na estréia de Renato Guadalupe, um dia após nosso Bi da América, e na ocasião ouvi as bibas dizendo: — Campeonato de segunda linha, o Grêmio precisa é sair dessa situação (no zonão na época). [Grupo Arquibancada Colorada do Google]
Agora pergunto, será que eles não preferiam estar na situação do Goiás hoje? Rebaixado pra segunda divisão (nenhuma novidade pra eles) e disputando um título continental inédito que daria a vaga pra Libertas do ano que vem. [Grupo Arquibancada Colorada do Google]
Sou Goiás desde pequeno porque hoje quero ligar para um amigo gazélico e perguntar : — E aí, ´tomô´? [Grupo Arquibancada Colorada do Google]
A Semana Mais Importante da História
Publicado em 11 de dezembro de 2006 (Casualmente, a semana que vem será análoga a esta…)
Esta é a semana em que o Internacional de Porto Alegre poderá sagrar-se Campeão Mundial Interclubes. Atualmente, este título existe e é oficial, sendo reconhecido pela FIFA e disputado por seis times. Antes, o campeão mundial saía de um jogo entre o campeão da América do Sul (o vencedor da Libertadores da América) e o da Europa (o ganhador da Champions League); agora, foram acrescentados os campeões da América do Norte, da África, da Ásia e da Oceania. Apesar do fato da Fifa ter oficializado todos os títulos anteriores, é indiscutível a maior autenticidade do campeonato atual, que só deixa de fora a América Central, uma tão representativa quanto a fraca Oceania.
O centro do país não dá a menor importância a nossa cidade, mas, aqui em Porto Alegre, estamos no centro da maior expectativa latino-americana para o Mundial. Nossa população está sofrendo de monotematismo e qualquer reunião de pauta frouxa resvala para o Mundial. O estranho é que a expectativa é até maior do lado gremista. O nervosismo dos bananas é justificável para quem pensa que o futebol é uma contagem de títulos. Acho bom saber que ganhamos o Campeonato Brasileiro de 1979 e que este foi nosso terceiro título nacional. É natural dizer que somos tri-campeões brasileiros, todavia é inteligente pensar que estamos estáticos nesta situação há 27 anos… Ou seja, nosso título faz parte da História, assim como o do Grêmio. Os títulos duram um ano e depois têm de ser revalidados. Desta forma, quando um gremista diz ser campeão do mundo eu respondo que o Grêmio foi o autêntico campeão de 1983, tendo deixado de ser em 1984, quando o Independiente (Argentina) venceu o Liverpool. Porém, é claro, sei que a Copa Toyota de 1983 – ex-mundial de clubes, reconhecido tardiamente pela FIFA – é o único argumento de uma superioridade que hoje mora apenas na estatística.
Lembro do jogo de 1983. O Grêmio – reforçado por jogadores como Paulo César Caju e Mário Sérgio, que jogariam apenas aquela partida – iniciou melhor e fez 1 a 0. A partir dali o Hamburgo dominou inteiramente o jogo, pressionando o tricolor e perdendo gols. Eu estava assistindo a partida entre amigos gremistas e comecei a me desesperar e gritar contra a inexatidão dos atacantes alemães, que só foram empatar a partida numa bola alta em que a defesa do Grêmio, pela centésima vez, não conseguiu rebater e que sobrou limpinha para uma sumidade qualquer fazer o favor de marcar o gol. Depois, na prorrogação, o Grêmio seguiu levando um baile, mas o craque Renato Portaluppi fez um belo gol e o Hamburgo acabou derrotado. Quando digo para meu filho que o Hamburgo deu um chocolate no Grêmio e que a vitória foi casual, ele – apesar de colorado – me olha estranho. A imprensa gaúcha, com o tempo, tornou aquela partida uma grande atuação. Tenho certeza que os são-paulinos também esquecerão logo – isto se já não o fizeram! – que levaram o mesmo banho de bola do Liverpool no ano passado e que foram auxiliados por uma peculiar arbitragem.
Concordo com Rubens Minelli: futebol é o momento atual, o que aconteceu antes é História. Acho que quem gosta mesmo de futebol prefere analisar os jogadores e a tática. O resto é estatística. Desta forma, a única relação que vejo entre os jogos desta semana e o Grêmio é a história e a geografia portoalegrense. É o suficiente para quem gosta de se comparar, é claro. Talvez eu seja um dos poucos gaúchos que se desligam do futebol quando o Grêmio vai bem. É uma negação explicada por Freud, porém, nos últimos anos, ando sempre ligado…
Haja o que houver, jogaremos duas partidas no Japão. A primeira será quarta-feira, em Tóquio, às 8h20 da manhã, contra o Al Ahly, que venceu o Auckland City por 2 a 0 ontem. O Al Ahly é um time que não deverá assustar: joga com três zagueiros, ataca sempre pelo meio e tem alguns bons jogadores, como o angolano Flávio e o egípcio Aboutrika, que disputariam posições em times brasileiros; no mais é um time previsível que insiste de forma quase comovente em fazer corta-luzes espetaculares. A segunda partida dependerá desta: se ganharmos, vamos para a final, domingo, às 8h20, em Yokohama; se perdermos, vamos para uma melancólica partida de despedida, no mesmo estádio, três horas antes. Não acho escandaloso perder o Mundial, mas ficaria muito decepcionado se não chegássemos a disputar a final. Sei que uma de nossas principais características é a desmedida vocação para tragédias em jogos decisivos e que, ultimamente, elas estão afastadas de nós. Mas ser colorado é ser cuidadoso. Não faz parte da nossa índole a arrogância gremista do “já-ganhou-pois-somos-os–maiores”. Todo colorado teme o fiasco. Já ouvi vários dizendo que só fazem questão de ganhar do Al Ahly e que o resto estará nas mãos de Deus. Acho muito perigoso deixar tudo em Tais mãos – até porque Ele parece gostar bastante de Ronaldinho – e dou risadas porque o medo comum do fiasco faz minha alegria de observador. (No jogo de despedida, antes da viagem para o Japão, no Beira-rio, com uma torcida alegre e festiva, jogamos contra um desinteressado Goiás e tomamos 4 x 1… Isto é a nossa cara perfeita!)
Mas desta vez será tudo diferente e entraremos em campo no próximo domingo, às 8h20 da manhã, certamente…
Nosso time é muito bom, conta com esteios importantes como Fabiano Eller, Índio, os dois volantes Edinho e Wellington Monteiro e, principalmente, Fernandão, o jogador que deu a maior contribuição para mudar o Inter nos últimos anos. Chegou em 2004, e hoje aos 28 anos, no auge da carreira, já jogou 136 partidas pelo clube, marcando 58 gols e dando passes para o dobro. Como se não bastasse, fez um gol na final de Libertadores, deu o passe para o outro e é nossa maior esperança. Alex é um ponto importante de equilíbrio, mas grande parte de nossa atenção irá para a atuação do “prodígio” Alexandre Pato, de apenas 17 anos e 59 minutos de titularidade. É convicção no Beira-rio que Pato será um super-craque. Eu concordo e espero ele seja muito jovem para saber que deveria ficar nervoso no Mundial. Há os pontos fracos, como o imprevisível goleiro Clemer – capaz de dias de fechar o gol e dias de inacreditáveis frangos – e o discreto lateral Hidalgo, um peruano que bate bem na bola, mas que é mau apoiador e mau marcador.
Bem, aguardemos a manhã de quarta-feira. Penso que o Inter só perderá se fizer a tradicional patacoada. Se jogar direitinho, chega à final.
P.S.- Às vezes, encontramos boas notícias no obituário. Pinochet morreu e Michelle Bachelet já avisou que não vai ao enterro! Uhu!
Para aprender e cantar
Amanhã, colorado, vote Chapa 2 para o Conselho
Amanhã, das 9 às 17h, no Gigantinho, haverá a maior eleição de direta de um clube brasileiro em todos os tempos. São mais de 47 mil sócios elegendo o novo presidente do clube e fazendo a renovação de 50% do Conselho Deliberativo.
Se você for ler a lista de candidatos da Chapa 2 ao Conselho do Inter, encontrará meu nome. Na posição em que estou — em 95º, lá na rabada — é impossível que me torne Conselheiro (Ayres?) amanhã. Mas obviamente desejaria que você desse seu voto à Chapa 2. Devo ser o mais veterano e um dos menos participantes da Chapa, mas conheço bem a maioria dos candidatos e, olha, afirmo-lhes com convicção que não há segunda opção para quem deseja um clube mais democrático. O primeiro e mais importante motivo que me leva a pedir seu voto na Chapa 2 para o Conselho é que todas as reuniões e jantares de que participei — formais e informais — demonstraram aquela clareza de intenções que só pode aparecer num grupo que nasceu na Internet, que se acostumou a discutir (e a brigar) abertamente na rede e cujos principais locais de encontro são dois: os bares antes dos jogos e o Beira-Rio, com a bunda enquadrada no cimento ou em pé. O debate é público demais para o conchavo. São todos santos? Não, longe disso, apenas estamos metidos nesse troço democrático e aberto da Internet, sujeitos à críticas e ao debate, dando a cara ao tapa.
Já há gente nossa no Conselho. Aliás, fomos muito bem na última eleição e acho que repetiremos a dose nessa. Hoje, as reuniões do Conselho são pautadas pelo mistério, pelo “eu decido, eu resolvo” e por risadas quando pedimos explicações mais detalhadas. Sabemos que o Inter ganhou a Libertadores em 2006 e 2010, que foi Campeão do Mundo em 2006 e que pode voltar a sê-lo em 15 dias; não somos burros em querer uma revolução ou a alteração radical de toda a administração do futebol, mas fazemos questão da profissionalização e da abertura do clube ao menos para o Conselho — coisas negadas pelos atuais dirigentes. Sei que a política é algo tortuoso e que somos obrigados a acomodar ou esquecer fatos para que consigamos dar o próximo passo. Não somos um grupinho ingênuo, apesar do idealismo e juventude serem (quase) ubíquos. Mas não aceitamos que o Conselho seja TÃO da situação a ponto das reuniões serem absolutamente inócuas. O atual grupo de conselheiros está lá para assentir e aceitar tudo, com ou sem restrições contábeis. Bem, aqui está o Plano de Gestão da Chapa 2 e calo minha boca. Leiam lá.
E, para presidente, com a situação dividida entre as Chapas 1 e 3, eu fico com a Chapa mais futebolística, a 3 de Giovanni Luigi.
Então, colorado, sugiro que você vote 3 para presidente e 2 para o Conselho.
Goiás x Independiente, o jogo do ano, sem dúvida
Este homem está transtornado: Grêmio JÁ É favorito à Libertadores 2011
Qual sera o alucinógeno que a RBS põe no café de seus funcionários? Leiam o inacreditável texto de Diogo Olivier. Deixo aqui registrado para que confiramos em junho-julho do ano que vem.
~o~
Grêmio pinta como favorito na Libertadores 2011
O futebol é traiçoeiro, esta á uma lição que se aprende logo. Então, dali a pouco o Botafogo de tantos azares e tragédias nas últimas décadas apronta para cima do Grêmio no domingo.
Ou o Goiás se enche de brio e festeja o título da Sul-Americana na Argentina contra o Independiente, o que seria uma zebra vistosa e lustrosa. Como não acredito nem na primeira, e menos ainda na segunda alternativa, penso que dá para dizer o seguinte.
O Grêmio é muito candidato ao título da Libertadores do ano que vem.
Delírio? Não creio. Entre os brasileiros que representarão o país em 2011, o Grêmio é o que está jogando mais. Ganha fora de casa (os 3 a 0 sobre o Guarani foram de uma naturalidade espantosa), ganha no Olímpico, faz gols de todas as maneiras, praticamente não os toma, tem o goleador, o melhor goleiro, o técnico do campeonato e não deve perder ninguém para o próximo ano.
O time está pronto. Se contratar pontualmente (um lateral-esquerdo, um zagueiro e um volante) jogadores de qualidade superior, terá time titular e grupo de fazer inveja. Isso sob o comando de Renato Portaluppi, obviamente.
Renato é o mágico deste show que foi o Grêmio no segundo turno. E não é tiro curto. Renato já enfrentou as mais variadas situações e tirou todas de letra (desfalques, expulsão, desvantagem no marcador, armadilhas táticas).
Para completar, os dois superclubes da Argentina estão fora: Boca Juniors e River Plate. O Estudiantes mostra sinais de cansaço. Os times uruguaios tornaram-se medianos, distantes daquelas esquadras de até os anos 80. Restamos brasileiros, e entre os brasileiros quem vem jogando melhor é o Grêmio.
Se o Grêmio ficar mesmo com a quarta vaga e contratar dois ou três reforços, talvez nem isso, é favorito ao título da Libertadores.
Que virada de ano surpreendente no Olímpico, que se viu preparando o rebaixamento a certa altura.
Quase morri de rir (veja até o final)
Quem encontrou foi o Marconi Leal. A entrada do repórter é avassaladora.
Ou veja aqui.