Os dias mais felizes de minha vida futebolística

O critério é puramente emocional. Mas há cada golaço aí embaixo…

1. 05/12/1976 – Inter 2 x 1 Atlético-MG – Brasileiro de 1976 (Semifinal) – Um jogo dificílimo, muito bem jogado por duas equipes no auge de suas possibilidades. No final da partida, aos 45 minutos, um gol mágico de Falcão, ocorrido bem na minha frente… A jogada foi iniciada por Figueroa e Dario, sendo finalizada por Escurinho e Falcão. A final contra o Corinthians foi muito mais fácil.

Ou veja aqui.

2. 16/08/2006 – Inter 2 x 2 São Paulo – Libertadores de 2006 (Segunda partida da final) – Estava tão tenso que não vibrei com nenhum dos gols. No primeiro, achei que o juiz poderia dar falta em Rogério Ceni (não houve falta); no segundo, vi que o árbitro dirigiu-se a Tinga para coibir sua comemoração exagerada e pensei que ele, novamente, estaria anulando o gol. Aqui, o gol de Tinga.

Ou veja aqui.

3. 13/12/1979 – Palmeiras 2 x 3 Inter – Brasileiro de 1979 (Semifinal, novamente) – Mais uma final antecipada. Falcão marcou duas vezes. Um dos gols, só vendo. Foi a melhor partida de sua carreira. A final contra o Vasco foi mera formalidade.

Ou veja aqui.

4. 17/12/2006 – Inter 1 x 0 Barcelona – Mundial de 2006 – O destino foi irônico e nos premiou com um gol de Gabiru… Vale a pena rever a cara do Ronaldinho depois do gol. Nunca o vi tão bonito e pasmo.

Ou veja aqui.

5. 07/12/1975 – Fluminense 0 x 2 Inter – Brasileiro de 1975 (Semifinal, adivinhão!) – O Maracanã curvou-se ante nosso supertime de 1975. O zagueiro Silveira deve arrepender-se até hoje de ter cruzado seu destino com o de Carpeggiani. O seu pé direito está procurando até hoje aquela bola. Este jogo nos levou à final contra o Cruzeiro e ao primeiro título brasileiro.

Ou veja aqui.

6. 14/12/1975 – Inter 1 x 0 Cruzeiro – Final do Brasileiro de 1975 – Uma semana depois, a final. O gol não foi bonito e a falta que o originou nem existiu, mas foi o gol de Figueroa e as defesas de Manga que determinaram o maior upgrade para o futebol gaúcho, antes provinciano e sem títulos.

Ou veja aqui.

7. 20/05/2010 – Estudiantes 2 x 1 Inter – Quartas-de-final da Libertadores da América de 2010 – Pura sorte. O Inter não fazia por merecer a classificação, mas estava escrito que nosso amuleto Giuliano nos daria a chance de chegar à semifinal, à final e ao título, muito mais fáceis do que este jogo terrível na Argentina.

Ou veja aqui.

Do autoritarismo

Não, o assunto não é futebol. É sobre algo que sempre me fascinou: o comportamento das massas, mesmo no microcosmo de um pequeno grupo em pé numa arquibancada.

O Chivas ganhava o jogo por 1 x 0 e estávamos todos nervosos ou apavorados com a possibilidade, naquele momento bem real, de perdermos a Libertadores para um time inferior. Foi quando meu vizinho acendeu um cigarro de maconha. Nada anormal num estádio de futebol  — o cheiro de maconha é uma das fragrâncias mais comuns nestes locais. Só que de repente um grupo de pessoas começou a berrar desorganizada e histericamente:

— Apaga, apaga, apaga essa merda!

Olhei para trás e vi um grupo de senhores cujos rostos pareciam ter saído de uma foto de milicos das muitas ditaduras que nosso continente viu durante os anos 60 e 70. Tinham as caras cortadas à foice, rostos irritados e seriíssimos como se estivessem apanhando de mexicanos. E se mostravam cada vez mais agressivos:

— Fracassado, viciado, maconheiro, filho da puta, vagabundo, traficante! Apaga esta bosta! Apaga agora, porra!

O fumante a meu lado, de olhos vermelhos certamente em função da derrota parcial de seu time, estava apavorado, sem saber se iam chamar a Brigada Militar ou se ia apanhar ali mesmo. Só que naquele exato momento Rafael Sóbis fez o gol de empate.

Como se tivéssemos ensaiado por horas, todos, mas todos os que estavam em volta e que não tinham sido torturadores no passado, ato contínuo se abraçaram ao maconheiro e passaram a gritar, pulando no mesmo ritmo:

— A-cen-de! A-cen-de! A-cen-de!

Éramos uns 20… Confesso não ter conferido a face dos milicos após a vingança.

Confissões de um homem sem caráter

Por Franciel Cruz
(espalhando coisas boas a meu respeito)
(ver última frase do quarto parágrafo)

Com seu inconfundível timbre que passeia entre o mar da Bahia e as montanhas dos Gerais, a mineira Jussara Silveira, talvez a melhor e mais baiana cantora da atualidade, fez a fundamental profissão de fé no Bolero Maria Sampaio. Ouçam: “Amigos são parentes que pude escolher”. Porém, um amigo sacana metido a erudito (esta raça de gente ruim) garante-me que os autores da referida canção, Almiro Oliveira e J. Veloso, se inspiraram na seguinte assertiva do francês Deschamps: les amis — ces parents que l’on se fait soi-même, que, numa tradução malamanhada, seria algo como “Amigos são familiares que cada um escolhe sozinho”.

Foda-se a erudição! Nada entendo de francofilia, direitos autorais e pouco me importa quem vai receber os royalties. O fato é que, há coisa de dois anos, eu escolhi uma nova família: o Impedimento. Foi amizade e admiração à primeira lida. A cada texto era como se a gente já se conhecesse desde sempre. E mais grave: contrariando toda e qualquer lógica, fui acolhido com uma generosidade assombrosa. E quando digo acolhimento não me restrinjo ao sentido figurativo, de dar guarida aos meus desajeitados rabiscos. Nécaras.

Um exemplo? Recebam.

No início de setembro do ano passado, comuniquei a estes meus novos parentes que iria descer a ribanceira rumo a Porto Alegre para orientar o Esporte Clube Vitória na peleja contra o Grêmio. Ato contínuo, Milton Ribeiro, a quem eu não conhecia nem de vista, de nariz ou de chapéu (chupa, Machado de Assis!) abriu as portas de sua casa, oferecendo-me uma excelente estadia, regada a bons papos e rangos de alta qualidade – não necessariamente nesta ordem. E tudo isso sem pedir nada em troca, antes que os hereges comecem a propagar maledicências. Afinal, até onde eu sei, Milton é gaúcho, mas não pratica.

Pois bem.

Tentando retribuir tamanha gentileza, como se existisse alguma forma de retribuição, fiz algo que contraria minha religião. Entreguei a um torcedor de outro time o bem mais precioso dos 18 continentes: uma camisa do Vitória. E ele vestiu o manto Rubro-Negro com orgulho – e fiquei puto. Por quê? Ora. Mesmo tendo sido eu o autor do presente, não conseguia conceber alguém que não torce para o meu Leão envergando a indumentária sagrada.

Aliás, este meu xiitismo leva-me sempre a indelicadezas.

Na antevéspera da final da Copa do Brasil entre Vitória x Santos, por exemplo, estava perdido na noite suja paulistana bebendo com Izabel Marcilio. Lá pra tantas, ela fala sobre suas duas paixões: O Corinthians e o Bahia. Sob o efeito de diversas canjebrinas e do incurável fanatismo, sentenciei. “Quem torce para mais de um time não tem caráter”. A menina Bel, que também possui uma generosa alma impedimentística, relevou.

Quero dizer, relevou, vírgula, pois mulher é bicho vingativo.

No início desta semana, ao ver que eu despejei no Terra Magazine minhas dores e orgulhos inúteis de glórias idem, ela partiu para o fulminante contra-ataque. “Chegando no Terra? Massa, Franciel. Quando tiver mais chegado, pergunte a Bob Fernandes (editor da disgrama) se ele é Baêa ou Santos, que isso de torcer pra dois times, que eu saiba, é coisa de mau caráter”.

Engoli em silêncio, pois não gosto de contrariar mulher.

Quarta, inclusive, a minha Patroa telefonou para esta gloriosa repartição convocando-me para ver um show de um cara com nome jogador francês: Tiganá Santana, exatamente às 20h. Eu quase disse não, mas pensei em meu espinhaço e recorri a Marisa Monte: “Claro, meu bem. O que é que a gente não faz por amor?”.

E fui. Porém, o ponteiro do relógio acelerava e o desinfeliz não parava de cantar. Eu nada ouvia porque minhas vastas emoções e pensamentos imperfeitos estavam voltadas para a partida entre Inter x Chivas. Exatamente às 21h23, o francezinho sai do palco. A plateia pede bis e eu peço uma guilhotinha. Vontade da zorra de enforcar todos aqueles hereges.

Vendo meu desespero, ela pergunta: “O que é que tá acontecendo?” Eu digo: “Nada. É que hoje tem a decisão da Libertadores e estou preocupado com meus amigos gaúchos”. E ela, de bate-pronto: “Não sabia que angústia era contagiante”.

Nem eu. Chego em casa esbaforido e vejo que a porra do time colorado foi contaminado pelo meu nervosismo. Ninguém acerta zorra de nada. Ninguém, vírgula, um viado mexicano manda uma bola no ângulo. 1 x 0. Penso logo nos pênaltis. Afinal, já haviam me ensinado que “No futebol da arquibancada, prova de caráter é ser pessimista”.

Começa o 2º tempo e Rafael Sobis continua enojando meu baba. E quando ele perde uma bola boba na lateral, não resisto e grito para todo o norte e nordeste de Amaralina: “CELSO ROTH, FILHO DA PUTA, bote Alecsandro, carajo, este conhece de futebol, pois já jogou no Vitória. Não quero nem saber se o matador está machucado”. Nem termino o xingamento e Sobis manda a criança para o barbante.

Então, chego à úncia conclusão possíevel naquele momento: sabe tudo este Roth, não foi à toa que começou a carreira treinando o Brioso Rubro-Negro.  O quê? Vai trocar Sobis por Damião? Este Roth não toma jeito. Continua o mesmo sacana que um dia botou Petkovic no banco para colocar Alex Mineiro.  No entanto, Leandro Damião, honrando o sobrenome de nordestino, sai numa correria desabalada como se fora um fugitivo da seca e só para na terra prometida: 2 x 1.

Ninguém dorme mais no pacato nordeste de Amaralina. Nem meu filho, que há poucos dias me propiciara ETERNAS EMOÇÕES, suporta minha algazarra quase solitária e larga a seguinte: Meu pai, você é um alienado.  Nem ligo. Afinal, desprovido de qualquer resquício de caráter, estava comemorando meu primeiro título Internacional.

Essa homilia é dedicada a Teixeirinha.

Originalmente escrito para o Impedimento.

O monumental FIASCO de meu querido sobrinho

Em 16 de agosto de 2006, o Inter disputava sua segunda final de Libertadores. Deu tudo certo, mas o fiasco de Filipe G. foi monumental. Estava 2 x 2 e, se o São Paulo fizesse o terceiro, iríamos para os pênaltis. Os paulistas pressionavam. Nem era muita pressão, como pude ver depois, mas ali, na hora, antecipávamos a hora e a vez em que tomaríamos o gol.

Então, aos 40 do segundo tempo, Filipe G. não suportou mais a pressão e declarou:

— Vou assistir o final no banheiro!

Assistir? Ato contínuo, ele se dirigiu ao referido recinto. Eu perguntava repetidamente a meu filho quantos minutos ainda tínhamos de jogo e lancei-lhe um olhar assassino quando ele, sempre consultando seu cronômetro, respondeu pela quarta vez que estávamos aos 42 do segundo tempo. Mas o importante nessa história é o Filipe. Ele entrou no banheiro com seu rádio a toda altura. Lá, encontrou uma seita.

— Desliga AGORA essa m… Aqui ninguém ouve rádio!

Ele observou o local. Havia umas 30 pessoas escondidas no banheiro, caminhando de um lado para outro, em silêncio, tentando adivinhar o que lhes dizia o som do estádio.

Tudo sobre ontem à noite

Publicado pela manhã no Sul21.

Check-up realizado, ainda algo ressentidos com os testes a que os submeteram Renan e Tinga, os colorados puderam sair às ruas comemorando a sobrevivência na Libertadores e a continuidade do sonho. Foi um tremendo jogo de futebol: além de bem jogado, teve ingredientes dramáticos que não se viam desde O Exorcista e O Iluminado. Afinal, apesar do roteiro batido, baseado na decisão contra o Estudiantes, ontem tudo foi cuidadosamente preparado para iludir o espectador.

O frango de Renan num cruzamento meio besta do extraordinário Hernanes (que jogador!) foi tão surpreendente e apavorante quanto Jack Nicholson escrevendo repetidamente a frase All work and no play makes Jack a dull boy por laudas e laudas naquele hotel. Que coisa, você demite o zelador anterior para evitar surpresas e o novo começa a agir estranhamente… Há algum alucinógeno no gol colorado? Logo após a maracujina do intervalo, o Inter fez o mais esquisito dos gols. D`Alesssandro deu o chute de sempre e o desligado Alecsandro fez o gol de costas, mais ou menos como Linda Blair fazia ao descer as escadas em O Exorcista. Depois, livre do demo, declarou que todos os seus movimentos foram friamente calculados. Aqui, ó!

Dois minutos após o empate, outro chute bisonho – desta vez do São Paulo – encontrou Ricardo Oliveira na frente do gol acompanhado de Nei, que lhe dava condições caminhando em direção ao campo do São Paulo em ritmo e espírito de morto-vivo. Nova vantagem paulista. Ao estoque de mágicas foi acrescentado o déjà vu da expulsão de Tinga. No final do jogo, Rogério Ceni protagonizou a última grande cena: agarrou-se apaixonadamente a Renan como se não houvesse amanhã, impedindo um escanteio que poderia ser a tábua de salvação de seu time.

Os destaques do Inter ficaram por conta de Bolívar – que decididamente evoluiu de sua condição de ex-lateral manhoso – , Sandro, Tinga e Giuliano, o qual entrou em campo como se não tivesse ocorrido nada de anormal. Do lado são-paulino, Hernanes demonstrou que deixará imensas saudades no Morumbi. Considerando-se que o Inter demonstrou mais apetite fora de casa, a classificação foi justa, apesar de estranha.

O Inter enfrenta o Chivas Guadalajara na final. O primeiro jogo da decisão será na próxima quarta-feira, no México. A CBF adiou sine die a partida do próximo domingo contra o Santos.

São Paulo 2 x 1 Internacional

São Paulo: Rogério Ceni; Jean, Alex Silva, Miranda e Junior Cesar; Rodrigo Souto (Marcelinho Paraíba); Hernanes e Cléber Santana (Marlos); Ricardo Oliveira, Fernandão e Dagoberto (Fernandinho). Treinador: Ricardo Gomes

Internacional: Renan; Nei, Bolívar, Índio e Kléber; Sandro e Guiñazu; D’Alessandro (Giuliano), Tinga e Taison (Wilson Mathias); Alecsandro. Treinador: Celso Roth

Cartões amarelos
São Paulo: Fernandão
Internacional: Tinga, Kléber

Cartão vermelho
Internacional: Tinga

Gols: São Paulo: Alex Silva, aos 30 min do 1º tempo, Ricardo Oliveira, aos 8min do 2º tempo. Internacional: Alecsandro, aos 6min do 2º tempo

O fim das glórias passadas

Por Alejandro Borche Casalas, um amigo uruguaio (e-mail)

Hoje vivenciei um fato extraordinario. Num dia gélido, uma massa humana invade a Rambla, onde sopram ventos uivantes, e toda a avenida Agraciada para receber a seleção uruguaia. Trata-se, porém, de um enterro. As novas gerações tem dito basta. Chega de Obdulio Varela, Ghiggia, Schiaffino, por favor não encham mais o saco, agora nós temos Forlan, Suarez, Peres e ao maestro Tabarez. Não importa que a seleção não seja campeã o importante é que voces vajam a merda com essas histórias. Mesmo que algum velho se emocionasse, embora questionando ?eles não ganharam nada?, a festa foi dos jovens. Eu por razões sentimentais e por não ter coragem de esperar na Rambla me postei na frente de minha escola primaria na rua Paraguay. As fotos em anexo as tomei no momento em que passava o cortejo pela frente da escola. Agrego uma foto da avenida Agraciada e uma do maestro Tabarez em outros tempos. Foi bonita a festa pois estavam terminando com um mais que velho passado.

Declaro o futebol expulso deste blog

Enquanto ouço o hino do Chile, acompanhado do choro das vuvuzelas, cumpro o dever de avisar a meus sete leitores sobre a expulsão do futebol neste espaço. Todas as crônicas e pitacos sobre o esporte bretão sairão agora no Sul 21. Inicialmente, estarei incluído no time de colunistas do Direto da Redação, depois haverá um link separado para o futebol.

Lá, minhas crônicas serão diárias, acompanhando a movimentação — principalmente a regional — da coisa mais importante dentre as desimportantes. Portanto, não se trata de uma morte nem do fato de eu estar traumatizado por alguma atuação dos times que desejo ver vencedores, é apenas uma mudança. O que aparecia às vezes por aqui, passará a aparecer lá de forma sistemática.

Cumpra-se.

Quem vai ganhar a Copa

Tivemos até hoje 18 Copas do Mundo. O Brasil ganhou cinco, a Itália, quatro, a Alemanha, três, o Uruguai e a Argentina levaram duas e a França e a Inglaterra ganharam uma vez. Apenas sete países e eu sacanamente retiro da lista de principais vencedores a França e a Inglaterra, por terem vencido apenas Copas realizadas em seus países, e o Uruguai por não ser mais um player que deva ser levado muito a sério.

Sobram quatro: Brasil, Itália, Alemanha e Argentina. São os eternos favoritos, the usual suspects. Porém, se fizer um alongamento de vontade e incluir as – em tese – outras boas seleções presentes, incluirei na minha lista de favoritos as inéditas Espanha e Holanda e farei retornar a Inglaterra. Mas como ninguém aceitaria uma aposta em sete seleções, farei algo muito perigoso: por achar que a derrota fica bem a um país tão literário, voltarei a retirar dentre minhas favoritas o ioiô Inglaterra, acompanhada da Alemanha – pois quem considera Ballack um grande desfalque não pode ter um bom time – , da dura de matar Itália e da estoica Espanha.

Certamente trata-se mais de um desejo do que uma avaliação técnica o que me faz colocar minhas fichas em Brasil, Argentina e Holanda, apesar do medo pânico que sinto do feio futebol italiano e dos obstinados alemães.

Comecemos pela Holanda. Quando disse que seu favoritismo era um desejo meu, não estava brincando. Não confio na capacidade defensiva dos holandeses. É um time sonhador, qualidade que costuma ser fatal… para o próprio sonhador. O técnico Bert Van Marwijk vai colocar em campo um time semelhante àquele que conseguiu 100% de aproveitamento nas eliminatórias: esquematizado em rigoroso 4-3-3 com o talentoso Snejder fazendo o enganche. Ou seja, fará o que Mourinho e Felipão consideram suicídio: manterá somente 6 ou 7 homens atrás da linha da bola. O time-base da Holanda é Stekelenburg; Heitinga, Ooijer, Mathijsen e Van Bronckhorst; De Jong, Van Bommel e Sneijder; Kuyt, Van Persie e Robben, mas temo que, na última hora, o treinador holandês enlouqueça e arranje um lugar para o merengue Rafael van der Vaart, eleito o mais atraente jogador da Copa de 2010 pelas mulheres alemãs. Resta saber o que Lúcio e Juan pensam disso.

A Argentina é a Argentina, expressão idiota que não diz nada e diz tudo a nós, brasileiros. Nesta Copa, nossos vizinhos vêm com um time espetacular, tanto que esnoba ao não convocar Zanetti e Cambiasso, ambos da Inter de Milão. Com seu jeito marrento, Maradona anunciou o time da estreia e, olha, não é mole.

– Romero; Otamendi, Demichelis, Samuel e Heinze. Um pouco à frente o Mascherano e o meu Xavi é o Verón, que faz o jogo fluir. Pelos lados Jonas Gutiérrez e Di María. O Messi vai jogar mais solto e o Higuaín só para botar as bolas para dentro – disse o gordinho.

Imaginem, se Maradona falou a verdade, Diego Milito estará no banco ao lado de Tevez, Aguero e Palermo. Sim, eles vêm muito bem para a Copa, apesar dos substitutos da citada dupla da Internazionale serem Garcé e Bolatti. Jogam num 4-4-1-1.

E então nós temos o time treinado por Dunga. Não faço coro com quem criticou a convocação. Vi nela apenas um erro grave: a não convocação de Paulo Henrique Ganso, um craque numa posição rara e valiosa, mas tudo bem, há uma linha política interna que torna cúmplices os jogadores e o treinador — e esta deve ser respeitada. E Ganso seria reserva. O time do Brasil tem um dos melhores goleiros do mundo, Júlio César; uma zaga forte formada por Maicon, Lúcio, Juan e Michel Bastos; uma linha de 3 volantes com Elano (“El Ano” ou “O Ânus”, em espanhol), Gilberto Silva e Felipe Mello; dois jogadores soltos mais à frente, Kaká e Robinho; e Luís Fabiano fincado como centroavante.

Para os sonhos dos brasileiros, é um time defensivo e realista demais, porém os resultados são tão bons que seguram firmemente e há quase quatro anos o antipático Dunga como treinador. Sua capacidade expressiva beira o zero, mas os jogadores o compreendem. O que ele demonstra em campo está no livro de cabeceira de José Mourinho, Luís Felipe Scolari, Fabio Capello, etc.: primeiro a gente segura o adversário, depois especula na frente. Com jogadores de qualidade, funciona.

Antes de finalizar, quero dizer que uma de minha maiores curiosidades é ver o Chile de Marcelo “El Loco” Bielsa. Em sua última Copa do Mundo, em 2002, ele já aplicava seu espetacular e frenético 3-3-1-3. Os resultados, tão bons fora das Copas, foi a eliminação de nossos vizinhos na primeira fase. Agora, com “material” chileno, ele volta com seu esquema predileto. É bonito de ver.