Berkeley em Bellagio, de João Gilberto Noll

BerkeleyOs livros de Noll quase sempre tratam do mesmo personagem: o próprio Noll. As características biográficas, físicas, étnicas e profissionais do tal personagem coincidem inteiramente com as do autor. No começo do livro, é impossível não sermos tomados de simpatia pelo personagem quando o mesmo declara sua extrema pobreza – vive apenas de literatura e de pequenos trabalhos correlatos – e com todos os fatos que o levam a aceitar dar um curso sobre “Cultura Brasileira” em Berkeley. Os fatos são descritos sumariamente. Estava envergonhado de “filar” inumeráveis almoços na casa dos outros, de pedir dinheiro emprestado, etc. Ao mesmo tempo, parece sentir alguma culpa por estar prestes a mamar na teta de uma universidade americana.

Então, ele aceita o convite para o curso e chega à California com menos de 100 dólares no bolso e sem saber falar inglês. Suas aventuras, primeiramente em Berkeley (para dar aulas) e depois em Bellagio (onde fica em uma “oficina criativa” em frente ao Lago de Como), poderiam ser bastante interessantes do ponto de vista humano, porém nosso autor está mais a fim é de descrever as aventuras sexuais. Tudo bem, o sexo faz parte da vida, mas não é, digamos, mais que 88% dela. Apesar de conviver com ensaístas, músicos, pintores e ficcionistas, nada de intelectual acontece. Já de sexual…. é do caralho. As lavanderias de Bellagio devem ter se surpreendido com os sucrilhos deixados nas cortinas de seus salões, pois o autor declara ter limpado seu pênis nelas.

Intermezzo: o personagem principal é homossexual, talvez o Noll também o seja, sei lá. Nada tenho contra a opção dele, mas sou totalmente contra as descrições pós-sexo que o autor nos impinge. Ora, depois de cada relação, a narrativa é atacada daquela indireção poética ao estilo de Clarice Lispector. A narração pós-ragazzo em Belaggio é longuíssima para o tamanho do livro e… é chata, chata, chata, como Clarice NÃO o faria.

O final do livro, quando o narrador retorna à casa em Porto Alegre é muito emocionante. O fato inesperado de estarem lá um ex-namorado pai-solteiro com sua filha é surpreendente e é também uma brisa depois do prolongado claustro. Tá bom, não é nada original aparecer uma criança ou uma jovem para dar uma refrescada e mudar o contexto da história, mas com o Noll a coisa funcionou. A vida também é assim, não?

Não sei porque voltei a ler o Noll. Não tinha gostado de outros livros lidos anos atrás. Acontece que o vi em uma entrevista na TV e gostei dele. Mas valeu a pena retomar o contato com sua literatura. Uma curiosidade: toda a vez que abria o livro vinha aquela baita saudade de ler Thomas Bernhardt, pois, quando via seu parágrafo único, lembrava-me de como aquilo poderia ser bom, se tivesse mais solidez, racionalidade e raiva. E um pouco mais de arte narrativa, é claro.

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Um Tesouro

Ele tinha me mandado os quatro primeiros em dezembro de 2007. Eu só ouvi agora e achei-os sensacionais.

O que eu não sabia é que, em janeiro deste ano, o Serbão deixou disponiveis em seu blog todos os CDs dos Beatles, todos os 14 mais os 3 de singles e esparsos, isto é, todos os 17 CDs. Você está pensando: grande coisa, como se todo mundo não tivesse os CDs dos Beatles… Aí é que você se engana. A novidade é que ele os refez utilizando somente covers, comprovando que absolutamente todas as músicas do quarteto receberam um ou mais covers. E todas as faixas, uma por uma, ordenadas em arquivos para formar cada um, um dos discos dos Beatles, estão disponíveis aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, e aqui.

Sergio Bomfim SerbaoAo lado, Sérgio Bomfim, o Serbão ou Serbon. Imagino o trabalhão que deu fazer isso. Depois sou eu o louco, arrã… Louco é ele.

Voltando aos CDs, há uma surpresa por faixa. Há versões esplêndidas, versões desafinadas (como as de Renato e seus Blue Caps), versões originais, versões nada originais, versões originalíssimas, versões kitsch, versões engraçadas, etc. É pura diversão para quem gosta e conhece os Beatles. Aproveite que os links ainda não expiraram!

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Assine, o país agradece

Gilmar Mendes Fora

Não leva um minuto. Entre aqui, preencha os três campos, envie e confirme. É o que se pode fazer em tempos onde qualquer manifestação, por mais justa e importante que seja, reúne só uns gatos pingados.

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Retirado do RS Urgente e adicionado ao post em 15/07/2008, às 8h27:

No dia 8 de maio de 2002, Dalmo Dallari, advogado e professor de Direito na Universidade de São Paulo (USP, publicou um artigo na Folha de São Paulo criticando duramente a indicação, pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, de Gilmar Mendes para o Supremo Tribunal Federal (STF). Alguns trechos do artigo, intitulado “Degradação do Judiciário”:

“(…) O presidente da República, com afoiteza e imprudência muito estranhas, encaminhou ao Senado uma indicação para membro do Supremo Tribunal Federal, que pode ser considerada verdadeira declaração de guerra do Poder Executivo federal ao Poder Judiciário, ao Ministério Público, à Ordem dos Advogados do Brasil e a toda a comunidade jurídica. Se essa indicação vier a ser aprovada pelo Senado, não há exagero em afirmar que estarão correndo sério risco a proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade constitucional”.

“Segundo vem sendo divulgado por vários órgãos da imprensa, estaria sendo montada uma grande operação para anular o STF, tornando-o completamente submisso ao atual chefe do Executivo, mesmo depois do término de seu mandato. Um sinal dessa investida seria a indicação, agora concretizada, do atual advogado-geral da União, Gilmar Mendes, alto funcionário subordinado ao presidente da República, para a próxima vaga na Suprema Corte. Além da estranha afoiteza do presidente -pois a indicação foi noticiada antes que se formalizasse a abertura da vaga-, o nome indicado está longe de preencher os requisitos necessários para que alguém seja membro da mais alta corte do país”.

“É importante assinalar que aquele alto funcionário do Executivo especializou-se em inventar soluções jurídicas no interesse do governo. Ele foi assessor muito próximo do ex-presidente Collor, que nunca se notabilizou pelo respeito ao direito. Já no governo Fernando Henrique, o mesmo dr. Gilmar Mendes, que pertence ao Ministério Público da União, aparece assessorando o ministro da Justiça Nelson Jobim, na tentativa de anular a demarcação de áreas indígenas. Alegando inconstitucionalidade, duas vezes negada pelo STF, “inventaram” uma tese jurídica, que serviu de base para um decreto do presidente Fernando Henrique revogando o decreto em que se baseavam as demarcações. Mais recentemente, o advogado-geral da União, derrotado no Judiciário em outro caso, recomendou aos órgãos da administração que não cumprissem decisões judiciais”.

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Porque hoje é sábado, Jessica Biel

Intuindo que a Flávia estava saudosa de nossa exposição de peitos…

… e de bundas (pô, Flá, esqueci de responder teu e-mail. Quando vens? Sim, marcamos um café!), …

… programamos para este sábado a menininha Jessica Biel, de maus filmes e boa… boa… boa… performance!

Dentre suas realizações está O Ilusionista, que não vi, …

… e o espantoso O Massacre da Serra Elétrica (acima), que costuma aparecer diariamente nos vários Telecines.

Então, ela pode não apenas ser encontrada dentro da pia, mas também no Telecine, o que é bem pior.

É uma jovem nascida em 1982 que, em 1999, posou de topless para a revista masculina Gear. Esta atitude incompreensível e impulsiva…

… causou controvérsia nos EUA porque ela só tinha 17 anos e imagem de boa moça. Por isso, teve a sorte de ver-se expulsa de uma série televisiva e foi obrigada…

… a fugir por mais de duas horas de uma Serra Elétrica, para nosso deleite espiritual.

Na verdade, não sei nada a respeito dela, nem quero saber.

Ela que faça melhores filmes para ter uma biografia mais interessante do que a de ter sido namorada de Justin Timberlake, cantor que faço absoluta questão de não conhecer.

E não adianta se morder de ódio.

Nem fazer carinhas ameaçadoras.

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O Conselheiro

Passei boa parte de minha vida em Salvador. Ou, sendo franco, uma má parte dela. Salvador não é para mim, sabe? Nada tenho contra negros, mas detesto trepar com negras. Tudo bem, atualmente quase todas são limpinhas e algumas podem até ler razoavelmente, o que não suporto são aqueles beições aproximando-se de meus lábios caucasianos. Dá-me arrepios.

Uma vez, logo ao chegar, saí à noite com um amigo a fim de arranjar mulher. Meu atraso naquela cidade era monumental, estava a ponto de comer qualquer uma, sabe? Coisa inteiramente contra meus princípios. Meu amigo chamava-se Rudá e apareceu com um carro enorme, luxuoso mesmo, dizendo que seu pai era produtor de Gilberto Gil e de Jorge Amado — talvez ele pensasse que Amado estivesse vivo e fosse cantor — e, enfim, entramos na geringonça. Claro, o que nos apareceu foram negras, mas eu estava tão a fim que toparia até a Aracy de Almeida. A moça era bonita para quem gosta de samba e fez de tudo comigo. Porém, apesar de meu pau estar em riste, meu sangue caucasiano negava-se a doar esperma para aquela mulher. Ela, inteligentemente, pensou que eu quisesse outra coisa e resolveu oferecer-me o traseiro, que foi aceito de bom grado. “Assim, ela fica de costas”, pensei. Não vou entrar em detalhes a respeito, mas o ato provocou-lhe um efeito de supositório e, meus amigos, o fecaloma desceu com espetacular pressão. O filho do dono do carro ficou absolutamente possesso com aquilo. Eu também, claro; afinal, o desarranjo ocorrera no meu colo. Só que eu não tinha nada a ver com o resto. Os bancos eram de couro, mas grande parte da cabine ficou suja por aquela explosão inesperada. Havia salpicos por todo lado, pois eu tentara escapar de qualquer jeito. O que fazer? A menina pediu desculpas, ficou mesmo penalizada com a involuntária lavagem intestinal que fizera sobre mim e quis ir embora. Meu amigo berrou que ela tinha que lavar tudo, mas eu fui contra, pois como ela poderia limpar o carro no estado em que se encontrava? Fomos até o MacDonald`s mais próximo, onde entramos no banheiro. Os clientes nos olharam admirados, pensando que talvez fosse barro, mas logo sentiam em suas narinas a inequívoca verdade. Empestamos todo o banheiro. Estava tão maluco que pensei ter visto vermes subindo em minhas calças. O segurança da casa queria nos tocar para fora, mas eu lhe respondi que só sairia dali abraçado com ele e o cara foi embora tapando o nariz.

Usamos todos os papéis higiênicos e mais o conteúdo dos vidrinhos de sabão líquido. Meu amigo pediu mais:

— Ô Segurança! Acabou o sabão e o papel!

Veio o gerente da loja. Estava irritadíssimo e nos corrigiu dizendo que o MacDonald`s não tinha seguranças e sim Agentes de Prevenção à Perturbações e Interferências. Bem, acho que a caganeira entrava na segunda parte. E na primeira também. Mas ele foi buscar o que pedimos, sob a condição de que saíssemos imediatamente após a limpeza. Era um pobre de cabelo bem cortado, vestido de dândi, como o Mac gosta. Ele entrou com o material, entregou-nos e acendeu um cigarro. Fiquei puto com aquilo, sou pela saúde, mas o cara me respondeu que agüentaria melhor nossa presença com um cheiro conhecido. OK.

Explicou-nos que a segurança é satisfatória quando é capaz de retardar ao máximo uma possibilidade de agressão e é capaz de desencadear forças – no menor espaço de tempo possível – capazes de neutralizar a agressão verificada. Não sei bem onde entrávamos nós e o cigarro naquela bela falação, porém ele continuou dizendo que estava ali porque nada devia impedir o curso normal da empresa e devíamos sair dali com ar satisfeito, mesmo que tivéssemos entrado como entramos. Foi um interessante momento cultural com que Salvador me brindou.

Depois que saímos todos molhados do estabelecimento, Fred queria achar a mulher que causara aquilo a fim de que lhe limpasse o carro. Claro que ela havia sumido. Vi o estado do carro e declarei a Fred que aquilo não era trabalho para uma empregada doméstica, aquilo requeria uma limpeza profunda com higienização interna, lavagem e aplicação de bactericida em carpete. Ficou claro que a cidade de Salvador e as soteropolitanas não eram para mim.

Ademais, havia poucos leitores de Chesterton na cidade e, os que haviam, ficavam tresloucados ao primeiro rufar de um tambor. Não era possível levar nada à sério e sou um homem assim, sério, empenhado nas coisas e que tenta guardar alguma coerência perante a vida. Sou um neoliberal culto que não fica tantalizado por tambores, que não se alegra em ver gente pulando e que teve sua última grande alegria com a queda do muro de Berlim e a ascensão de Collor. Poderia dizer que sou um neoliberal da linha dura. Sou íntegro, pragmático, mas costumo dar minha rezadinha, e, se hoje dedico-me ao comércio, demonstro minha honestidade em cada ato, fazendo questão de pagar os impostos extorsivos que não resolvem os problemas de nosso país, servindo apenas a que ministros desta nova dita esquerda roubem e se locupletem em convescotes, muitas vezes regados a canções de nosso ministro-cantor.

É um absurdo fazer-nos pagar essas coisas, mas eu pago. Só soneguei quando não me restava mais nada a fazer. Coerência é algo importante, porém ela só poderia ser cobrada se as atitudes de nossos governantes formassem uma linha reta, uma estrada plana, não a cobra peçonhenta e tortuosa que vemos. Somos então obrigados a refletir sobre cada mudança e decidir, sempre segundo a ideologia que nos apóia. Olha, não é fácil, há que ter força mental e muitos caem pelo caminho, seduzidos pelo fácil.

Já lhes disse que o nome de meu amigo cujo pai era produtor de Gilberto Gil (e Jorge Amado) era Rudá. Seu pai deu-lhe este nome ridículo por causa do filho de Oswald de Andrade. Quando conheci seu pai, para tentar agradar, perguntei sua opinião sobre Memórias Sentimentais de João Miramar. Como resposta, obtive um “o que é isso, é um livro?”. Então, naquele momento, entendi que o produtor cultural gostava de uma fachadinha, de um polimento bonito, de uma citação e que só sabia da Semana de Arte Moderna e olhe lá. Esse pessoal é muito imbecil mesmo. Só que ele me arranjou emprego para auxiliá-lo. Não houve risco algum, não refutei as idéias que me movem. Minha função era arranjar belas mulheres para os artistas que se apresentassem na cidade. Era um trabalho fácil, ao qual dedicava-me com afinco. Tinha catálogos com características e fotos de muitas moças e, do outro lado, procurava descobrir o que cada artista gostava mais. Foi assim que descobri que os negros escolhiam sistematicamente as loiras; só que pele branca e o cabelo amarelado eram produtos raros naquela zona tropical.

Foi neste ínterim que conheci Isaura, mas creio que é chegada a hora de abrir novo capítulo.

(continua)

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Diga não

ContraA abominável monstruosidade parida pelo Senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) para regular a Internet foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Numa semana de péssimas notícias para a Internet, começou a mobilização para tentar barrar a aprovação em plenário desse projeto substitutivo, que cria a figura do provedor delator, criminaliza o compartilhamento de arquivos e, absurdo dos absurdos, transforma em criminoso todo aquele que obtiver “dado ou informação disponível em rede de computadores, dispositivo de comunicação ou sistema informatizado, sem autorização do legítimo titular”.

Em outras palavras, o Senador Eduardo Azeredo quer criminalizar basicamente tudo o que fazemos na internet: citar, copiar, colar, compartilhar. Não tenho nada a acrescentar ao que vários colegas blogueiros já disseram sobre o assunto. Limito-me, então, a convidar os leitores a que assinem a excelente petição escrita por Sergio Amadeu e André Lemos. O selinho acima foi retirado do blog do Sergio Amadeu (veja que fantástico: se aprovado o projeto de Azeredo, eu estaria cometendo um crime ao circular este selinho).

É uma vergonha para o estado de Minas Gerais ser representado no Senado por Eduardo Azeredo.

P.S.- Post copiado de Idelber Avelar.

P.P.S.- Já chegamos a quase 6000 assinaturas da petição. Assine.

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Porque hoje é sábado, Sophia Loren

Quando avisei-a sobre sua participação no Porque hoje é sábado, pedi uma depilação.

Não sou muito favorável àquele matagal sob os braços. Mas eram coisas do período em que era conhecida apenas na Itália.

E não adianta, Sophia, fazer cara de braba para mim só porque eu falei em matagal.

Isso, melhor assim. (Como é bonita, né?)

Ela nasceu Sofia Villani Scicolone — não é silicone, leitor maldoso, leia atentamente — , em Roma, no dia 20 de setembro de 1934.

Este milagre da genética peninsular fará, portanto, 74 anos e, ano passado, ainda tirava fotos para o calendário da Pirelli.

Sophia talvez seja a precursora das italianudas voluptuosas; …

… enlouquecia as platéias dos anos 60 com um erotismo que …

… hoje seria considerado familiar.

Se bem que não troco o strip acima por nenhum desses ginecológicos atuais.

Casou-se com um homem baixinho, 22 anos mais velho e com muito dinheiro.

Suas referências a ele sempre foram marcadamente amorosas — até hoje são — e o casamento durou 50 anos…

… tendo sido interrompido apenas com a morte de Carlo Ponti no ano passado, aos 95 anos.

Apesar de todos os seus atributos, …

… Sophia apreciava conferir a concorrência, mesmo que esta parecesse desleal.

E é assim que retomamos o Pq Hj é Sábado após uma ausência. Avete capito perchè sabato è una giornata particolare, mesmo que a foto acima seja de outro filme?

Houve muitos outros filmes, claro, mas… putz, voltou o matagal, Sophia?

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Os Emigrantes, de W. G. Sebald

Os Emigrantes Wg SebaldSe, como escreveu Michel Laub, Austerlitz é o grande lançamento de 2008, W. G. Sebald já havia comparecido no Brasil com outro extraordinário livro: Os Emigrantes. Trata-se do relato de quatro expatriados numa obra que mistura gêneros habilmente. Cheios de fotografias de família, seus capítulos podem começar como um romance de ficção, tornar-se ensaio para depois virar relato de viagem e ainda autobiografia, tudo no tom de uma conversa outonal ao pé do ouvido. Este híbrido é absolutamente envolvente.

Vou falar sobre um episódio suscitado por Os Emigrantes. Estava lendo o livro na cama enquanto a Claudia via TV sem som a meu lado, certamente pensando em outra coisa, como sempre faz. Então, resolvi ler em voz alta um trecho para ela e, quando dei por mim, estava lendo há duas horas. A Claudia tinha passado a costurar e não queria que eu parasse. Minhas qualidades de locutor são apenas aceitáveis, minha voz não é nada boa, portanto acredito que esta cena ao estilo do século XIX foi gerada principalmente pelo crescente interesse dos dois nesse cara que morreu, jovem e estupidamente, num acidente de carro em dezembro de 2001. Sebald sofreu um enfarto enquanto dirigia. Não sei de detalhes, mas dizem que morreu do acidente, não do enfarto… OK.

As pessoas quase não lêem mais livros uns para os outros, este ato de amor e consideração ficou extraviado em alguma esquina do século XX, fora de nossas salas e quartos atuais; porém alguns textos nos permitem recuperar esta delicadeza. Qualquer hora destas vou pegar de novo um bom livro, com uma boa “conversa narrativa”, e entregarei a minha amiga todas as meias furadas, calças de bolsos rotos e camisas com botões caídos que tiver…

Bom, afastei-me do Sebald, mas acho que ficou claro: é um baita livro.

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Serviço – Flip on line!

Acompanhe as palestras da FLIP pela Internet. Aqui, ó. Ontem, havia cortes, mas agora está funcionando à perfeição.

E a programação, aqui.

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A volta, o Gre-nal e os Filmes de Junho

Só noto o quanto gosto deste espaço quando fico sem ele. Problemas técnicos me deixaram longe do blog desde a última sexta-feira. Oh, sim, ficamos sem o Porque Hoje é Sábado e espero não ser processado por esta falta, apesar das ameaças recebidas. É pior ainda quando a mulher cuja presença nos parece tão natural viaja. O momento de adormecer, então… É desalentador. Ainda bem que as duas faltas não ocorreram ao mesmo tempo, pois quando da viagem da segunda, o primeiro já havia retornado. É um precário vaivém de contrapartidas.

O Grenal foi absolutamente frustrante para nós, colorados. Jogávamos muito melhor, ganhávamos o jogo e já tínhamos chutado duas bolas na trave quando nosso goleiro resolveu cometer uma agressão a um jogador do Grêmio. A partida era leal, não havia rixas ou violência, mas Renan achou que seria adequado, após segurar um cruzamento, chutar Rodrigo Mendes. Pênalti contra nós e expulsão. No final, ainda quase desempatamos. Grandes atuações de Sorondo e Nilmar. De bom, nossa surpreendente atuação. De ruim, a perda de dois pontos para um adversário batido.

Os filmes de junho:

31 – O Labirinto do Fauno – El Laberinto del Fauno – 2006 – Espanha / EUA / México – Guillermo del Toro – 3
30 – Jornada da Alma – Prendimi L`Anima – 2003 – França / Itália – Roberto Faenza – 4
29 – Bella – Bella – 2006 – México / EUA – Alejandro Gomez Monteverde – 3
28 – Control – Control – 2007 – Inglaterra – Anton Corbijn – 4
27 – Longe dela – Away from her – 2006 – Canadá – Sarah Polley – 3
26 – A Outra – The Other Boleyn Girl – 2008 – Grã-Bretanha – Justin Chadwick – 2
25 – Sex and the City – Sex and the City – 2008 – EUA – Michael Patrick King – 3
24 – Bloom – Bloom – 2003 – Irlanda – Sean Walsh – 3
23 – Confiança – Trust – 1990 – EUA / Inglaterra – Hal Hartley – 4
22 – A Vida é um Milagre – Zivot je cudo – 2004 – Bósnia / França – Emir Kusturica – 5

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Futebol e identidade social, de Arlei Sander Damo

Futebol e identidade social, de Arlei Sander Damo

futebol_e_identidade_social_arlei_sander_damoEm primeiro lugar, preciso falar um pouco sobre como consegui este livro. Ele me foi enviado por Idelber Avelar, professor da Universidade de Tulane, em New Orleans. Em vão, tentei comprá-lo, apesar de ser um livro novo, de 2002. Em minhas tentativas, escrevi para a Editora da UFRGS, tendo recebido como resposta o mais completo silêncio. Procurei novo contato, pois queria dá-lo de presente aos criadores do Impedimento, mas nada, não parece haver ninguém por lá. Por que então existe um Fale Conosco bem aqui? Então, meu sobrinho conseguiu o e-mail do próprio autor. Foi atendido mui educadamente, obtendo a confirmação de Damo de que a obra era muito procurada, mas que só a editora podia resolver o caso. Bem, ao menos isto não é culpa da corrupção do futebol, nem de Ricardo Teixeira…

O livro de Arlei Sander Damo tem o subtítulo de “Uma leitura antropológica das rivalidades entre torcedores e clubes” e originou-se da dissertação de mestrado do autor, escrita entre 1996 e 1998, aproximadamente.

É obra interessantíssima para quem queira sair da mesmice das notícias diárias sobre futebol — aquelas mesmas que tanto deprimem nosso noturno cidadão de uma república enlutada — e adentrar de forma inteligente e bem conduzida na história da formação desta loucura que vemos. Damo nos explica o nascedouro da dupla Gre-nal e de sua rivalidade. “Se queres ser universal, canta tua aldeia”, dizia Tolstói de forma mais esperta que Wianey Carlet. Cantar sua aldeia é o que faz Damo, fazendo-nos descobrir claras analogias com outras cidades, estados e rivalidades clubísticas brasileiras. As explicações são do autor, as projeções são nossas; há leitura mais produtiva e agradável do que conjeturar junto com o autor? Não, né? A obra começa no início do século passado, descrevendo o início do associativismo esportivo em nossa Porto Alegre – empurrado pelos imigrantes alemães, “ficiados” em clubes – para chegar aos primórdios de uma paixão e de uma rivalidade que é boa para torcer, mas que também é boa para se pensar a respeito.

São absolutamente preciosas as argumentações sobre raça e classes sociais que faz o autor, sobre o crescimento do racismo no Grêmio à época do Dr. Py e a da salvação do clube através de seu maior presidente, Saturnino Vanzelotti, o qual resolveu enfrentar os “gremistas vigilantes”, que lhe escreviam mal-disfarçados apedidos em jornais, sempre zelosos de que a camisa tricolor não fosse maculada pelos negros. (Seus textos, sempre anônimos, parecem ter como autor um Joseph Goebbels com superego fraco.) Outros fatos significativos que são analisados são as infrutíferas tentativas do autor para descobrir a origem clara do poderio colorado dos anos 40: a célebre Liga das Canelas Pretas – o que vem comprovar a pouca documentação da história negra no Rio Grande do Sul –; a derrocada do amadorismo; um exame sobre a influência dos estádios na gangorra Gre-nal e um estudo sobre a formação das torcidas sob a ótica das raças e das classes sociais.

É apenas isto o que a Editora da UFRGS insiste em nos esconder. Ainda não devolvi o livro para o Idelber. Querem cópias…?

Observações finais:
1. Apenas o texto “Sobre o regional e o nacional no futebol brasileiro” é datado e mereceria uma recauchutagem geral.
2. Arlei Sander Damo daria um bom leitor do Impedimento.
3. Apesar de não confessar, Arlei Sander Damo é um gremista nojento.

Saudações coloradas e morte à progênie do racismo!

:¬)))

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Hoje, cem anos de Salvador Allende

Réplica gigante dos óculos quebrados do ex-presidente Salvador Allende é exibida em frente ao palácio La Moneda, em Santiago. Parte do país presta homenagem ao centenário de Allende, assassinado em 1973. Era para ser um socialismo com sabor de empanadas e vinho tinto.

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Como diria minha mãe…

… o pessoal do Impedimento anda “impossível“.

Minuto1

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Sou do contra

Meus amigos virtuais e pessoais Douglas Ceconello e Daniel Cassol dizem que eu posso publicar no Impedimento quando quiser. É um blog incrível sobre futebol. Este texto Sou do contra resultou em 76 comentários e o anterior tinha chegado a 98. Ia publicá-lo também no OPS, mas ontem tivemos a estréia de João Luís Almeida Machado, também colunista de gastronomia, no futebol do OPS e não quis entrar no mesmo dia.

Crônica esportiva é problema no Brasil tanto quanto a política, esta muito mais grave. Há algo de muito errado com a falsa parcialidade, raramente quebrada por exceções como Juca Kfouri, que leva os cronistas e os textos a uma posição inteiramente artificial para quem aborda o futebol. Os artigos “equilibrados” e descompromissados que lemos são um saco. De certa forma, uso a experiência jornalística do pessoal do Impedimento para criar uma persona esportiva mais franca porém aberta a discussões. E que não esconda suas preferências, pois isto não tem nada a ver com desonestidade. Estou aprendendo. No texto que segue até exagero, entrando de sola, de forma furibunda e provocativa, mas o resultado foi uma discussão cheia de idéias. A melhor pergunta que apareceu por lá foi esta: por que o futebol brasileiro é tão menos próspero do que o mexicano e o turco, países economicamente semelhantes a nós e que são compradores? Cartolagem e corrupção? As “parcerias” entre dirigentes e empresários são mais lucrativas em nosso país?

Sou do contra

Eu não torço para a seleção brasileira e o motivo nem é o de ela não possuir técnico.

Minhas motivações são mais, digamos, indiretas. O que desejo é uma grande crise! Vejamos o que pensa este beócio escriba.

O Brasil é o país que menos se orgulha de si mesmo na América Latina. Nosso complexo de vira-latas é uma herança portuguesa. Eles são iguaiszinhos; odeiam-se tanto quanto nós. Aqui é tudo ao contrário: no mundo inteiro a direita é nacionalista, aqui não. Ou seja, os que governaram o país durante a maior parte de sua história sempre o viram com restrições. Por toda nossa história, desde D. Pedro I, fomos dirigidos por pessoas semelhantes às que escrevem na Veja, a fina flor que molda a opinião da direita brasileira.

E então a seleção brasileira entra em campo com seus jogadores… Todos eles saíram jovens de nosso país (de merda) para ganhar rios de dinheiro no eldorado. Todos eles ouviram falar que a Seleção é um sonho e objetivo de todos, mas pergunto:

– Se você fosse, por exemplo, o Gilberto Silva e estivesse no final de seu contrato com o Arsenal após toda uma carreira no exterior, você arriscaria sua perninha por quem não paga seu salário, por um país que é seu, mas de onde você fugiu na primeira oportunidade que teve e onde você jogou apenas alguns meses? O que um cara como Gilberto ganha correndo com um louco pelo Brasil-sil-sil. Ele já não é conhecido? Seus contratantes acompanham Paraguai x Brasil? Uma boa atuação neste jogo lhe garante um contrato melhor?

Não, né? E nem sobra o amor da disputa. Se o Gilberto olhar para o banco e ver aquela COMOÇÃO TÉCNICA formada por Dunga e Jorginho talvez uma voz interior lhe faça a pergunta “O que estou fazendo aqui?”.

Ele e Kaká – que foi liberado pelo Milan, mas mentiu que não tinha sido – não buscam mais glórias. Muitos dos jovens também não a buscam pois não são ufanistas e julgam estar no topo de suas carreiras. Creio que chegar à Seleção é um pedido que os empresários fazem a seus atletas para alcançarem grandes contratos no exterior. E só. Se o atleta obtiver sucesso no exterior, suas convocações tornam-se sinônimo de incomodação. Uma boa carreira na Seleção não é garantia de sucesso financeiro, mas sim um belo Campeonato Italiano, Espanhol ou Inglês. São eles que pagam.

A Seleção tornou-se apenas um passo dentro de um plano de carreira todo projetado para a Europa.

Agora, que crise desejo? Ora, uma bem grave que deixe o Brasil fora de uma Copa. Uma que crise que nos obrigue a repensar MESMO toda a estrutura do futebol brasileiro. Uma que faça com que tenhamos calendário europeu para que nossos times não mudem em meio às disputas. Uma que segure nossos jogadores até determinada idade, pois só aqui nascem em tal quantidade e os melhores sempre sairão. Uma que obrigue o comprador europeu a pagar um valor decente ao clube formador. Uma que permita contratos longos mesmo para jovens pré-púberes. Uma que torne a Seleção Brasileira uma importante vitrine para carreiras de jovens talentosos que, decididamente, acabarão no exterior. Uma que torne melhor nossos campeonatos.

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O estado de espírito do dono do blog

Claro, este blog é a mistura de tudo o que passa por minha cabeça e de algumas coisas que ela recebe, mas quando passo por um período tenso a tendência é a de ele se torne mais e mais confessional. Só que desta vez a coisa tem doído um pouco mais e até deitar pensar os problemas no blog tem sido mais complicado que consolador. Estou com lógicos e péssimos pressentimentos sobre o futuro de minha mãe. Doente há muito tempo e cada vez mais vivendo em seu mundo, piorou muito nos últimos dias, mesmo tendo saído da UTI para uma zona chamada “Intermediária”.

Tenho a impressão de não estar nem irritado, nem deprimido, nem tenso, mas isto é falso, pois sei que poderia explodir à menor contrariedade. Fico meio abobalhado, olhando sem interesse as milhares de fotos que tenho no micro. Não há surpresa na situação; afinal, era o esperado para quem tem uma doença prima-irmã do Alzheimer (*), só que a constatação de que as doenças degenerativas são exatamente aquilo que as pessoas mais realistas me descreveram e que chegam a pontos solidamente injustos e desnecessários… Olha, é foda. Para que tanto sofrimento? Porém, ao passar por esta foto aqui…

Sean Connery Zardoz

… é impossível não rir e desviar o pensamento, desejando saber o que Sean Connery diria dela hoje. Amanhã, mais hospital. Dr. Cláudio Costa ligou amiga e gentilmente de Belo Horizonte e eu lhe disse com a maior calma do mundo que, se realmente tivermos que somar à inconsciência da doença outras impossibilidades, melhor seria a eutanásia. Dia cansativo. Agradeço a meu psiquiatra preferido por ter me ligado. Foi um bom momento que só vi repetido agora, ao chegar em casa.

(*) Algum tipo de demência resultante de uma queda ocorrida há quase dois anos. Não há sentido em fazer uma biópsia a fim de descobrir o nome correto da doença, pois o pequeno leque de possibilidades que não mudaria o tratamento.

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Bloomsday

Agora, na volta da UTI (ver post abaixo) lembrei que hoje é o Bloomsday.

Desesperado para unir-me à comemoração, faço meio que uma transcrição — com muitíssimas alterações — do texto da Wikipedia.

O Bloomsday é um feriado comemorado em 16 de junho na Irlanda em homenagem ao livro Ulisses, de James Joyce. É o único feriado em todo o mundo que um país dedica a um livro de ficção, excetuando-se a Bíblia.

O Bloomsday é festejado pelos amantes da literatura em qualquer lugar ou língua. Trata-se de uma iniciativa dos leitores de Ulisses e admiradores da literatura de Joyce. Anualmente, eles relembram os acontecimentos vividos pelos personagens de Ulisses por dezenove ruas da cidade de Dublin.

James Joyce

Ulisses relata a “odisséia” do personagem Leopold Bloom durante 16 horas do dia 16 de junho de 1904. Há controvérsias sobre quando o Bloomsday começou a ser comemorado. Alguns especialistas indicam 1925, três anos após o lançamento do livro, a década de 1940, depois da morte de James Joyce, enquanto a hipótese mais aceita indica é que foi em 1954, na data do quinquagésimo aniversário do dia retratado em Ulisses.

Joyce escolheu o dia 16 de junho para ser imortalizado em sua obra porque foi nesse dia que manteve relações sexuais com sua futura companheira Nora Barnacle, à época uma jovem virgem de vinte anos, apesar de a imprensa irlandesa publicar que nesse dia eles apenas “caminharam juntos” pela primeira vez. Na verdade, Nora teve medo de completar o coito e o masturbou “com os olhos de uma santa”, como Joyce relatou em uma carta em que relembrou o acontecido.

James Joyce Piano

É sempre bom lembrar aos tementes a Joyce que Ulisses não é apenas aquele livro de erudição quase inalcançável que afasta algumas pessoas, o romance também é divertidíssimo e perfeitamente compreensível. As minúcias e a complexa teia de referências são importantes, mas podem permanecer semi-entendidas sem esfacelamento de sua essência. Prova de que o mais puro ludus nem sempre está associado à compreensão cabal.

Hoje é o dia de comemorar o duro, engraçado, divertido, pornográfico, sexual e erudito livro de Joyce. Lembremos de Leopold Bloom, de sua mulher Molly, de Stephen Dedalus e de Buck Mulligan. (Lembro agora do final absolutamente arrepiante de Ulisses.) Era isso.

P.S.- O Odisséia Literária, de Leandro Oliveira, faz, como sempre, a comemoração mais completa e adequada.

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30 horas

As últimas 30 horas do fim de semana foram algo como um carrossel de emoções (como dizia a Bia).

1. Visita a minha mãe na UTI: ela sofre do Mal de Alzheimer ou de algo perto disso; foi fazer uns exames e, fraca, acabou na UTI. Sedada, deitada e intubada (*), era uma visão deprimente.

2. Inter 2 x 1 Botafogo: meu filho queria porque queria ir ao jogo. Não sei se queria mesmo ou se sua intenção era a de me afastar do trabalho e do hospital. Ganhamos o jogo. Surpreendentemente, a estréia do Tite foi boa.

3. Esplêndido convite: liga a Astrid, mulher do meu amigo Augusto, perguntando se temos programa para o sábado à noite. Não tínhamos. Então, ela perguntou quantos nós éramos, pediu que arrumássemos a mesa com pratos fundos, colher, garfo e faca, além de copos para água e vinho. Precisaríamos produzir uma sobremesa para esperá-los? Que vinho escolheríamos? Não, nada disso, ela e o Augusto trariam absolutamente tudo, da comida à sobremesa, passando pelo vinho. Noite inesquecível, companhia e música perfeitas. Só o meu cansaço destoava.

4. UTI: nova visita a minha mãe no domingo pela manhã. A mesma coisa. Inconsciente como quase sempre está.

5. Longe dela: talvez pelo contexto, quis ver o filme em que Julie Christie faz uma personagem que sofre de Alzheimer. Um filme muito bom que, se não nos dá a extensão do trabalho e do horror, dá o tamanho psicológico da perda.

6. Control: em seguida, mais um filme. Putz, e era mais deprimente ainda. Trata da curta vida de Ian Curtis, vocalista da banda Joy Division. A atuação dos atores é digna dos mais rasgados elogios. Notável.

7. Dunga: fico sabendo da derrota brasileira e penso na crônica que escreverei para o Impedimento. Explicarei meus motivos para comemorar este tipo de resultado.

(*) ENTUBAR – Entubar ou Intubar?
Entós (grego)= posição interior. Documenta-se em vocábulos introduzidos na linguagem científica a partir do século XIX.
Intus (latim)= para dentro.
Como tubo(cânula endotraqueal) vem do latim tubus, a palavra correta é intubar.

Retirado do Dicionário das Agressões Médicas à Língua Portuguesa.

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Thanks, Mr. Roth

Philip Roth Douglashealeyap4601Michel Laub escreve e repete que Austerlitz, de W. G. Sebald (1944-2001) é o lançamento de ficção do ano, mas não sei não. No dia 20 de junho chega Fantasma sai de cena (Exit Ghost), romance de Philip Roth (1933) que marca a despedida de seu personagem e alter ego Nathan Zuckerman. Qualquer livro de Roth é um acontecimento pois trata-se de um dos romancistas mais importantes em atividade — talvez o mais importante –, só que este Fantasma adquire contornos especiais que vão além da despedida de um personagem que o acompanha desde 1979 ou nove romances.

É que a obra serve de epitáfio (expressão da Bravo) para a geração de escritores intelectuais cujos livros pautavam o debate cultural americano e que foram substituídos, como no mundo inteiro, por nenhuns. Esta geração possui ainda vivos Gore Vidal e John Updike e perdeu recentemente o imenso Saul Bellow e o nem tanto Norman Mailer. O romance vai direto ao ponto ao perguntar sobre quando houve a separação entre tais escritores e seu país. Roth apresenta um Zuckerman aos 71 anos, lutando contra uma incontinência urinária resultante da retirada da próstata e impotente, vivendo num mundo incompreensível, afastado de si e que dele prescinde. Amy Bellette, outra personagem de Roth que está em vários romances, diagnostica a cultura de fácil digestão e o culto à celebridade como culpados, mas parece que Roth não aceita apenas esta conclusão “simples” e avança sobre o jornalismo cultural e sobre a própria geração de grandes escritores, que não soube enfrentar a nova situação e que, de certa forma, tornou-se vítima dela ao manter-se deslocada e crítica.

Sabemos que os romances que analisam quaisquer decadências possuem indiscutível charme. Dei-me conta disso desde a leitura de Os Buddenbrook há mais de 30 anos. As grandes obras literárias raramente são otimistas ou felizes e até na vida pessoal há certo encanto quando vemos, por exemplo, os amigos de nossa ex esforçando-se para nos olhar bem e quem nos acompanha para depois irem embora como se não nos conhecessem. A decadência é um olhar de conhecimento, desconfiança e nostalgia ao passado e de rejeição ao presente que quase todo literato adora. E é tanto o retrato da decadência metafórica quanto da física (de Zuckerman) e cultural (dos EUA) que espero ler no novo romance de Philip Roth.

O título deste post justifica-se por outros dois que escrevi sob a categoria de “O Fracasso da Literatura” e que foram recebidos com agrado por alguns e com maior ou menor hostilidade, por outros. As acusações de que estaria ficando velho por referir-me repetidamente à decadência das artes em geral são respondidas melhor por jovens ratos de biblioteca, pelos adolescentes que têm discotecas semelhantes a que eu tinha há mais de 30 anos e pelas meninas freqüentadoras das estandes de clássicos das vídeolocadoras — tão lindas, efusivas e desfrutáveis –, que me perguntam se há alguém melhor do que Bergman e Antonioni, porque já viram e sabem de cor as obras destes. Elas às vezes me chamam de “tio”… Viram? Adoro a decadência. Inclusive a minha.

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O ex-futuro hooligan ouve "Bola de meia, bola de gude"

Primeiro, uma conversa entre amigos; depois, a audição de Bola de Meia, Bola de Gude no rádio do carro e — pronto! –, voltei aos anos 60-70 e à infância passada na avenida João Pessoa, em Porto Alegre. Sempre acreditei ter vivido uma infância normal, porém, quando a comparo com a de outros, acho que a minha mais parece a história da formação de um delinquente. Eu morava numa grande avenida que cruza com outra, a Ipiranga. A Ipiranga tem um arroio no meio (o Arroio Dilúvio), hoje bastante poluído. Desde aquela época, havia inúmeras pontes que o cruzavam e “nossa ponte” era fundamental para nossas jovens vidas. Éramos um pequeno grupo de meninos de nomes duplos. Se bem me lembro, os mais criativos nas brincadeiras éramos o João Batista, o João Rogério e eu, que atendia por Milton Luiz.

“Nossa ponte” era e é a mais interessante de todas pois, curiosamente, tem palmeiras altíssimas sobre ela. Tínhamos o costume ir lá com a finalidade de jogar gatos vivos no leito do Dilúvio. Para nós, era uma coisa sublime ver os pobres bichos voarem lindamente e caírem no riacho. Os gatos se desesperavam, nos arranhavam, grudavam em nossas roupas e mordiam, mas não tinham a menor chance. Por bem ou por mal, nós queríamos vê-los voando, caindo e nadando apavorados de volta à margem. Sei tudo a respeito das possíveis defesas destes felinos. Aqueles que não eram de primeira viagem (ou primeiro vôo), transtornavam-se rapidamente depois de capturados e ficavam violentíssimos. Havia um branquinho que me dedicava ódio especial.

Mas isto é apenas uma descrição leve de minha delinquência. Minha principal habilidade era a construção de “bombas-relógio”. Tratava-se simplesmente de um rojão com um cigarro aceso enfiado no pavio. Era muito fácil de montar, mas sempre me chamavam para dar uma auditada na coisa. Eu era “O Especialista”. Dentro do meu colégio, fiz explodir vários vasos sanitários. Hoje, quando penso no perigo que aquilo representaria se alguém estivesse utilizando a privada no momento da explosão, começo a suar frio. Não sei como podia ser tão irresponsável, inconsequente, etc. Nunca descobriram o(s) autor(es) de tais barbaridades, porém acho que, se alguém se machucasse, eu me denunciaria e seria imediatamente expulso do colégio. Esquivo-me deste assunto quando estou com meus filhos, pois a infância deles é totalmente diferente, mas nem sempre é possível.

Então, em meio a uma conversa sobre crianças, a Bárbara e Bernardo começaram a suplicar para que eu lhes contasse algumas de minhas aventuras infantis. Como tenho alguma dificuldade para mentir, contei-lhes aquilo de que me esquivava. Ficaram pasmos, não é todo mundo que tem como pai um ex-hooligan.

(O que acho curioso é que dentro deste hooligan havia uma criança sensível, que amava sua irmã, chorava por qualquer coisa e deixava-se emocionar pelos filmes de bichinhos do Walt Disney…)

O que mudou durante o período que separa nossas infâncias? Creio que o principal foi a exacerbação do sentimento de insegurança da classe média, que nos empurrou para dentro de casa. Nossa geração vivia na rua, a deles não; nossos amigos eram encontrados por aí, já eles se visitam após convites, telefonemas e negociações; ficávamos afastados de pais e empregadas, enquanto que hoje estes superegos convivem com eles; nossa agressividade manifestava-se como descrevi acima, a deles é destilada em jogos de computador proibidos, onde recebem pontuação especial para matarem velhinhas indefesas. Será que a mudança foi realmente causada pela insegurança ou estou sendo superficial? Sei que este é um problema limitado àqueles que não são suficientemente ricos para se refugiarem num condomínio fechado, nem suficientemente pobres para não terem outras preocupações além da subsistência.

Ah! A canção “Bola de Meia, Bola de Gude” é um dos mais felizes casamentos entre tema, música e letra que conheço. Trata-se da mais alegre das melodias: é bonita, vivaz e ousada. A letra é a mais adequada: ingênua, fácil e descompromissada. E o tema é o do adulto que fala do menino dentro de si. Quando todos os elementos convergem na mesma direção, expressando a mesma ideia, não podemos pedir mais.

Bola de Meia, Bola de Gude

Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem prá me dar a mão
Há um passado
No meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão
E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito, caráter,
Bondade, alegria e amor
Pois não posso, não devo, não quero
Viver como toda essa gente insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal
Bola de meia Bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem prá me dar a mão

(Milton Nascimento/Fernando Brant)

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Funk do Detran

Sensacional funk divertindo-se com a corrupção do governo Yeda. As vozes foram captadas na própria CPI.

Por Leandro Demori, da e na Nova Corja. Lá, no post anterior, há toques alusivos para você baixar no celular. Confira! É de grátis!

Yedaespanto

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