Luigi a contragosto

Luigi a contragosto
Austeridade forçada.
Luigi: austeridade forçada.

Nosso presidente Giovanni Luigi Calvário voltou a comprovar que é bom de negócio. Se lhe diminuíram o orçamento, se o objetivo era enxugar, ele enxugou. Tanto que livrou-se de Forlán, Scocco, Bolatti, Airton, Damião, Gilberto e Kléber. De novidades, contratou apenas uns jovens, o zagueiro Ernando e o volante Aránguiz, da seleção chilena. O problema é que, sabemos, Luigi só é bom nos negócios. Tanto que, mesmo de cara e mãos amarradas, a ordem de diminuir a folha de pagamento foi cumprida com rara competência. Vendeu todo mundo que estava a mais. Ou quase todo mundo.

A esperança colorada é que a contenção de gastos acabe por fazer com que o departamento de futebol volte a realizar um de seus trabalhos mais nobres: o de descobrir novos talentos dentro do clube. Um dos esportes mais imbecis que os dirigentes recentes e a torcida colorada passaram a praticar era o de sonhar com contratações para todas as posições, sem pensar nos meninos. No momento em que os chamaram, a resposta veio em tom maior: com maior ou menor dificuldade, eles garantiram 5 das 6 vitórias em 6 jogos no Campeonatinho Gaúcho. (Vejam que o Grêmio tem 11 pontos e nós 18). É sempre bom lembrar que em algum lugar do passado, revesávamos Carpegiani, Falcão, Batista, Caçapava e Jair em nosso meio-de-campo.

Sim, tinha muita gente de fora no time dos anos 70, mas, naquela época, as chamadas “pratas da casa” eram melhor tratadas. Sob Minelli, por exemplo, as contratações vinham mais para suprir carências do que para acalentar os sonhos malucos de alguns torcedores. Nem vou discorrer sobre a recente contratação do craque da Copa de 2010 e seus 800 mil por mês, tá? Quem tem a minha idade sabe que Minelli pediu Lula em 74 e Marinho Perez em 76 porque eram as peças que faltavam para montar seu time. Eram caros, caríssimos, mas não consigo lembrar de grandes investimentos sem retorno naquela boa época.

Claro que sou um torcedor e, mesmo que eu reclame da impaciência e dos desejos dos colorados, sou um deles. Claro que minhas teses são ditadas pelo desejo de voltar a ter um grande time. Dentro deste contexto é que acredito que o projeto improvisado e “realizado a contragosto” pelo presidente Luigi possa dar certo. Mas, por favor, creio que Minelli pediria um centroavante JÁ. Lembram que, em 76, ele pediu Dario no meio do ano e o homem foi fundamental? Pois só um milagre tornará Rafael Moura e Wellington Paulista jogadores adequados para o Inter que queremos.

Dois jogos: o Corinthians finalmente roubado e o Inter com seus impasses

Rotina: Riquelme acertou mais um daqueles chutes malucos que os gremistas conhecem.
Rotina: Riquelme acertou mais um daqueles chutes malucos que os gremistas conhecem.

No dia em que Marina Silva cometeu mais um suicídio político — será ressuscitada novamente, esperem e verão — , o Inter fez um confronto equilibrado com o Santa Cruz e o Corinthians foi finalmente roubado. OK, não foi roubado; na verdade, o juiz errou de forma cabal e contrária aos interesses do todo-poderoso time paulista, algo inédito em terras brasileiras, com juízes brasileiros. E nem Tite reclamou. Beneficiário contumaz da péssima e clientelista arbitragem nacional, o Corinthians tem mais é que ficar quieto e acender velas para a nossa Comissão de Arbitragem. Aliás, nem precisaria disso, tem um timaço e merecia eliminar o Boca, só que o Boca com Bianchi tem outro aplomb, outra autoconfiança. E Amarilla em jornada inusual. Os dois Carlos resolveram o jogo e…

O meio-de-campo Eriviti disse que Bianchi insistiu a semana inteira para que o número 8 do Corinthians fosse bem marcado. Mesmo assim, Paulinho voltou a ser impressionante. É o melhor jogador em atividade no Brasil. Usa como ninguém as facilidades oferecidas por nossos armadores que não sabem marcar. Paulinho os engole lá atrás e os patrola quando vai ao ataque. Sim, quando digo que Paulinho é o melhor em atividade do Brasil, não esqueço de Neymar, nem de…

D`Alessandro, que novamente salvou o Inter.  O amor que tenho aos clubes menores quase me tornou torcedor do Santa Cruz, mas quando começou o segundo tempo e nós estávamos com um jogador a menos, voltei a meu coloradismo delirante e quase incondicional. Vou dizer uma coisa para vocês: o Inter tem laterais, tem um time de sete zagueiros bastante bons  — o louco Moledo, mais Juan, Índio, Jackson, Alan, Romário e Ronaldo Alves, para que tantos? — bons volantes e um grupo absolutamente insuficiente de armadores e atacantes. Do meio pra frente, temos D`Alessandro, Damião e um ex-craque que vive de LAMPEJOS, Forlán. Fred não confirma seu início de carreira e deveria ser repassado a outro clube junto com o loiro uruguaio enquanto têm valor de mercado. Caio é alguém a ser testado, assim como Rafael Moura. Ou seja, apesar de toda a boa comissão técnica do Inter, nosso time só pode fazer gols à fórceps e em times fracos

A chamada D`Ale dependência significa apenas que ele ´é nosso único armador e que nossos atacantes não têm rendido. Sim, desse jeito não vamos longe. E tenho dito.

O desespero de Fernandão pode ser muito útil

Fernandão tenta ver alguma luz no fim do túnel

Ontem, estava almoçando no Sabor Natural, na Siqueira Campos, e me encontrei com meus velhos amigos Leônidas Abbio e Paulo Almeida. O Leônidas me lembrou de uma coisa que eu tinha dito a respeito do Inter e que tinha simplesmente esquecido. Logo após a contratação de Forlán, eu disse que o Inter estava se realmadrilizando. Referia-me ao Real Madrid que, antes de Mourinho, acumulava estrelas e não ganhava título nenhum. Não que seja ruim ter estrelas no time. É que estas, no Inter, sistematicamente são cooptadas a um grupo de semi-aposentados “grandes jogadores” que estão lá há anos e adotam seu estilo. Rapidamente, o jogador caro agrega-se ao grupo de Bolívar e Kléber, o dos jogadores “ricos com biografia”. Este grupo pensa que sua titularidade se dá por decreto e, quando ficam de fora, escolhem se querem ou não sofrer a humilhação do banco. Bolívar, por exemplo, não gosta de assistir o jogo do banco — ou joga ou fica em casa. Nei, Damião e Dagoberto, apesar de mais jovens, também participam do grupo dos velhos, talvez em função de seus altos salários. Índio idem, porém mata-se pelo time em campo e é adequado retirar dele a acusação da tal…

Fernandão chama a isso de “zona de conforto”. Tem razão. Mas não creio ser atribuição sua denunciar o problema. Aliás, ele parece ser o único angustiado. Luigi e seus companheiros de diretoria não estariam também numa zona de conforto? Pois é, o Inter é um clube estranho: tem uma folha de pagamentos que chega aos 9 milhões mensais e uma administração de futebol amadora. Também tem também um incrível respeito pelos jogadores campeões do passado. Eu já sou da opinião de Rubens Minelli, o qual repetia e repetia que futebol era momento e não tinha medo de deixar Batista, Caçapava ou Marinho Perez muitas vezes no banco. Não lembro de Manga, Figueroa, Falcão, Carpeggiani, Valdomiro ou Lula afrouxando o ritmo. Alfred Hitchcock também dizia que seus atores podiam ser substituídos por outros — disse uma vez a um deles que “atores são gado”. Ou seja, eles que obedecessem se quisessem seguir trabalhando com ele.

Mas o Inter tem medo do grupo de Bolívar, que já teve no passado co-líderes como Tinga, Clemer e… o próprio Fernandão. O tratamento com as vedetes é complicado, mas elas têm que ser dobradas. No Inter, há três grupos: o dos jovens, o dos estrangeiros e o dos velhos. A administração do futebol não consegue uni-los para dissolver a liderança dos velhos que moram no tal conforto. Fazendo corpo mole, eles já obtiveram demitir vários técnicos, mas nenhum veio se lamuriar em público, dizendo que nunca sabia se haveria esforço da parte do time e que rezava na beira do gramado para que houvesse interesse. “Eu nunca sei o que vai entrar em campo”. Piada, né? O fato é que nosso excelente grupo de jogadores, ao custo, repito, de 9 milhões por mês, é inútil, e faz uma campanha que, no segundo turno, o coloca na zona de rebaixamento. Nos últimos 9 jogos, ganhamos 6 pontos. (Eu abandonei o Beira-Rio e lhes digo, só volto em 2013). Se seguirmos assim, vamos nos livrar por pouco do rebaixamento. Não, não estou sendo louco, estou apenas olhando os números.

Então, apesar de achar que Fernandão não é técnico de futebol, seu mimimi pode fazer com que alguma coisa se mova internamente. Não, não se pode ser amiguinho de Bolívar e Cia. Ou eles jogam ou vão para onde o treinador os mandar. O próprio Fernandão, em seu patético pronunciamento, elogiou os jovens jogadores e disse que AGORA vai escalar quem se esforça em campo. Agora? Isto é uma confissão da vassalagem de um técnico que até dias atrás justificava tudo, desde as estranhas atitudes de Bolívar ao número incrível de cartões de D`Alessandro e Guiñazú. Não sei, creio que Fernandão devia comprar o confronto. Se hoje, na reapresentação dos jogadores, ele puser panos quentes, recuando de suas críticas, estamos fodidos. Está na hora de dobrar a geração vencedora ou virar a página.

Para os colorados, é o que resta torcer em 2012. Que a briga dê frutos e que venha um 2013 com novas diretoria, comissão técnica e, finalmente, nova dinâmica de grupo.

Sem revisão, tá? Deve ter erros.

Essa coisa chata de comparar Pelé, Maradona e agora Messi

Ontem, eu e meu filho estávamos chegando ao Beira-Rio quando ele começou a reclamar — com toda a razão — de Juca Kfouri. Dizia ele que o Juca escreveu uma matéria em que defendia superioridade de Pelé com base em números, gols e títulos. Ambos gostamos bastante do jornalista e concordamos com grande parte de suas ideias e posições, mas são casos incomparáveis. O contexto de Pelé era outro. O Santos jogava quilos de amistosos, parava guerras e muitos jogos de Pelé eram pura exibição. Nem marcavam o cara. Se fosse para comparar, teríamos que limpar todos esses gols. Limparíamos também a Copa de 1962, a Copa de Garrincha, quase não jogada por Pelé e todos os Campeonatos Paulistas, pois não há estes anacrônicos estaduais em outros países.

Mas o que me deixa mais encasquetado é que mestres como Xavi, Beckenbauer ou Cruyff, não podem entrar nesta comparação. Beckenbauer era volante e depois passou a zagueiro. Sua função não era a de marcar gols. Xavi costuma dar de presente gols e mais gols para outros (por exemplo, Messi) fazerem ao borbotões, e o mesmo ocorria com Cruyff. A defesa nacionalista de Pelé — e agora não falo mais apenas de Kfouri — é das coisas mais bobas que conheço. Pelé foi o meio jogador de seu tempo, o mesmo valendo para Maradona, Messi e muito outros. Mas agora, se me encherem o saco, digo que vi os três jogarem — o que é verdade — e que Maradona era o melhor disparado…

P.S.: Nos 5 x 0 do Inter sobre o The Strongest, o melhor jogador em campo foi Oscar, que deu três passes de bandeja que resultaram em gols. Damião fez três, mas e daí? Viram só?