Um local da cidade: Bonobo, café com conceito

Um local da cidade: Bonobo, café com conceito

Acordei hoje e, por algum motivo, lembrei desta reportagem que fiz para o Sul21 em agosto de 2011. Apesar de não ser nada hostil e de eventualmente comer comida vegana, não faço parte da tribo. Porém, na época, mal sabia o que era aquilo, poucos sabiam o que era. Gostei muito do tratamento que recebi no Bonobo e vai ver que foi isto que me fez lembrar deste texto bem simples.

Um lugar incomum, o Café Bonobo | Ramiro Furquim/Sul21

Café Bonobo fica a dez minutos de caminhada do Parque da Redenção, exatamente na esquina da Castro Alves com a Felipe Camarão, em Porto Alegre. É uma bela casa de dois andares. No térreo fica o Café e no andar de cima moram os proprietários, o casal Valesca Sierakowski Kuhn e Marcelo Guidoux Kalil.

Se considerarmos a comida oferecida, a postura e o conceito que o apoia, o local não é nada tradicional. Para começar é um café vegano — os veganos se abstêm de utilizar quaisquer produtos que provenham de aninais ou da exploração destes. Então, além de não ingerir carnes, peixes, aves, ovos, leite, mel e seus subprodutos, como gelatina, soro, gordura, etc., os veganos não vestem tecidos de origem animal, como couro, seda, lã e peles, nem produtos testados em animais.

“O veganismo é um vegetarianismo puro e eminentemente ético”, explica Marcelo, sócio do Bonobo. “Com o tempo, a gente foi incorporando outros conceitos ao veganismo, coisas libertárias, algumas ideias anarquistas anti-hierarquia, que fomentam a horizontalidade.”

A estante do bookcrossing | Ramiro Furquim/Sul21

Tais opções estão presentes por todo o restaurante – chamamos de restaurante, pois frequentemente são servidos almoços aos sábados. Ao lado da mesa onde sentamos, por exemplo, há uma pequena estante de livros. Ao ser perguntado sobre o motivo da existência da pequena biblioteca, Marcelo esclareceu que era para fazer bookcrossing, que é a prática de deixar um livro num local público para que outros o encontrem, leiam e voltem a “libertá-lo”, seja devolvendo-o ao local onde foi encontrado, seja deixando-o por aí para que outros leiam. “Queremos divulgar as ideias que achamos boas. Recentemente, demos destaque à questão da mobilidade, do uso de bicicleta, que nós apoiamos. Então, quem chega de bicicleta aqui tem um espaço legal para estacioná-la”.

Os pratos oferecidos pelo Bonobo são produzidos a partir de alimentos comprados em feiras ecológicas, direto do produtor. “Acho que a única coisa que passa por processos industriais é o vinho. O resto fazemos tudo: o pão, os burgers, os molhos, os bolos, os sorvetes. A cerveja é um amigo nosso que faz. Até os produtos de limpeza são naturais.”

O menu do Café Bonobo | Ramiro Furquim/Sul21

Os burgers é uma das especialidade da casa. Tudo é vegetariano. O pão é branco ou integral, o “bife” pode ser ou de lentilha com curry e grão-de-bico ou de cenoura, amendoim e arroz integral. Os molhos são de catchup caseiro de tomate, pasta de grão-de-bico ou guacamole. Para quem quiser se aquecer no inverno, há o tradicional chocolate quente com leite de amêndoas. Os preços não são nada altos e ainda há promoções: por exemplo, há o bolo sem preço, pelo qual cada um paga o quanto pode ou quanto acha que vale. E hoje (10/08/2011) o almoço é sem preço, ou seja, você come e paga o que achar justo.

Val e Marcelo vivem modestamente do Bonobo. Não pretendem mais e seu café tem o slogan “compre menos, trabalhe menos e viva mais”.

O que é bonobo? Bonobo é uma espécie de primata que age de forma contrária a do chimpanzé. Este costuma resolver seus problemas – inclusive os do amor – pela força, enquanto os bonobos decidem suas questões através do amor. Por exemplo, se estão disputando comida, um faz carinho no outro e acabam compartilhando. É uma visão que seria mais harmoniosa do que a dos chimpanzés, que fazem guerras entre eles, com mortes, muitas vezes. “Aqui no café somos eu e a Val. Fazemos, dividimos e compartilhamos tudo, até a limpeza”.

“Vez ou outra nos damos o luxo de não abrir” | Ramiro Furquim/Sul21

O Bonobo abre geralmente de quartas a sábados, das 18 às 22h. Mas nem sempre este horário é cumprido. Às vezes abre para o almoços, às vezes em outros horários, às vezes não abre. Os clientes se informam pelo telefone, twitter, facebook ou pelo blog do café. “Geralmente funcionamos de quarta a sábado, mas uma vez e outra nos damos o luxo de não abrir… Quando fazemos isso, sempre avisamos. Por exemplo, hoje, depois de um monte de dias de chuva, abriu um sol e era o aniversário da Val, então escolhemos não ficar presos aqui dentro na cozinha.”

Além da estante do bookcrossing, há uma biblioteca que vende e empresta livros. Há outros produtos também: “Temos até absorventes femininos ecológicos para vender. São aqueles antigos que nossas avós usavam. São de usar e lavar para reaproveitar. A própria água com que é lavado pode ser usada para regar as plantas, é ótimo.”

O Bonobo mantém a política de compartilhamento também na cozinha. Nada é segredo. Então, se um cliente quiser saber como as pratos são preparados, é convidado a visitar a cozinha para auxiliar a fazer as coisas e aprender. “Estamos mais interessados em divulgar o veganismo do que em guardar segredos de cozinha.”

“Quem chega de bicicleta aqui tem um espaço legal para estacioná-la” | Ramiro Furquim/Sul21

Segundo o casal, são raros os casos de comensais que pedem uma picanha sangrenta. “A maioria do público sabe como é, já temos um público bem fiel. Às vezes, quando está cheio, as pessoas olham e vão embora. Nós nem aconselhamos as pessoas a esperarem, pois quando o pessoal senta aqui demora muito para sair.”

Val e Marcelo tentam plantar alguma coisa no próprio espaço do Bonobo. “A gente planta mas aqui têm muitos prédios ao redor, pouca luz e é muito úmido. Agora um amigo trouxe uma mudinha de juçara, que é como o açaí da mata atlântica. Ele acha que vai pegar. Temos pimenta, maracujá, guaco, amoreira… bastante coisa. Os móveis aqui do café nós achamos na rua ou em briques, arrumamos tudo. Viste como são bonitos?”.

Além da estante de bookcroosing, há uma pequena livraria que faz vendas ou empréstimos de livros |Ramiro Furquim/Sul21

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Uma história moderna de terror (ou de como as Redes Sociais tomaram conta de nossas vidas)

Uma história moderna de terror (ou de como as Redes Sociais tomaram conta de nossas vidas)

O incrível é que me foi mandado por um cara que só tem Whatsapp e que se identifica com o personagem masculino. Devo certamente evitá-lo.

Enviado pelo amigo Paulo Oliveira.

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Uma tentativa de entender porque o Facebook é cansativo e ler livros não é

Uma tentativa de entender porque o Facebook é cansativo e ler livros não é

Um dia desses, passei os olhos numa matéria que dizia que a leitura de livros era uma espécie poderosa de remédio para as tristezas e decepções da vida. Desta forma, os leitores de livros — acho que o texto utilizava o lugar comum “vorazes leitores” — tinham uma espécie bote salva-vidas que permitia que ficassem boiando durante as inundações que a vida nos impõe.

Sim, é uma ironia. Cena de Persona, de Ingmar Bergman.
Sim, é uma ironia. Cena de Persona, de Ingmar Bergman.

Impossível concordar mais. Quando a coisa está muito louca e incontrolável lá fora — e como está, não? –, quando a algaravia sem fim do Facebook começa a abalar nossa saúde mental, parece que um bom texto ou uma boa história vem cumprir não somente o papel de nos entreter, mas o de repor nossos pensamentos na linha da normalidade (ou do habitual, pois não tenho ilusões sobre minha normalidade).

Ler ficção não é somente entrar em outra realidade, mas estar em conexão íntima conosco de uma forma muito especial e tranquila. Pode até ser um livro que nos incomode com “murros no crânio” (para citar Kafka), mas o mergulho que fazemos, a penetração que realizamos no modo de pensar de alguém que nos é estranho, tem sempre o condão de nos mostrar o caminho de retorno a nós mesmos.

Quando fico muito tempo sem ler, tenho a impressão de que uma psicose pró-ativa vai tomar conta de mim e vou ficar tão idiota quanto um político de carreira ou outro carreirista qualquer. Mesmo que o nível médio daquilo que se publica seja muito baixo, vale a pena ler livros. A maioria das coisas que as pessoas escrevem no Facebook comentam sobre o dia de hoje de forma simples e descartável. Quando este hoje se torna ontem, aquilo que registramos não tem mais valor. É um palimpsesto (*) de altíssima velocidade. Isso perturba, cansa, gasta.

Enquanto escrevia este texto, descobri que existe uma biblioterapia. Ela consiste na prescrição de materiais de leitura com função terapêutica. A prática biblioterapêutica pode ser utilizada como um importante instrumento no restabelecimento psíquico de indivíduos com transtornos emocionais.

Começo a pensar em fazer listas terapêuticas…

(*) Papiro ou pergaminho cujo texto primitivo é raspado para dar lugar a outro.

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O que o Facebook vê quando nos apaixonamos

O que o Facebook vê quando nos apaixonamos

via Fernando Guimarães
tradução e adaptação libérrimas de Milton Ribeiro

Durante os 100 dias antes do início da relação, observamos um aumento lento, mas constante, no número de postagens compartilhadas entre o futuro casal. A outra notícia é que os cientistas do Facebook sabem mesmo demais a nosso respeito.

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Viram? O Facebook pode entender muito bem suas intenções e perspectivas românticas.

Em um post publicado pelo Facebook Data Science, um grupo de cientistas da empresa anunciou que há evidências estatísticas que sugerem claramente o surgimento de relacionamentos antes que eles ocorram.

“Como os casais tornam-se casais”, escreve o cientista de dados Facebook Carlos Diuk, “as duas pessoas entram em um período de aproximação, durante o qual o tempo de Facebook aumenta. Depois que o casal torna-se oficial (em relacionamento sério), seus posts diminuem drasticamente, presumivelmente porque os dois estão felizes e passam mais tempo juntos”.

No post, Diuk dá números claros:

Durante os 100 dias que antecedem o início da relação, observa-se um aumento lento, mas constante, no número de postagens compartilhadas entre o futuro casal. Eles se curtem, chamam a atenção um do outro. Quando a relação começa (“dia 0”), os posts começam a diminuir. Observamos um pico médio de 1,67 postos por dia 12 dias antes do início da relação e depois os números começam a cair. Entendemos que os casais decidem passar mais tempo juntos e as interações on-line dão lugar a interações no mundo físico.

Você pode ver esses dados no gráfico acima. O número de posts no perfil sobe e sobe, até cair quando as coisas se tornam oficiais.

A equipe do Facebook Data Science costuma divulgar informações amorosas dentro do enorme volume de dados da empresa possui sobre relações sociais. Eles também sabem o quanto os relacionamentos duram normalmente e como o amor se correlaciona com religião e idade. Já os dados comerciais eles não gostam tanto de divulgar…

Voltando a nosso tema, Diuk também revela que, ao mesmo que o número de postos diminui, estes se tornam mais felizes. “Observamos uma espetacular melhora no humor após o ‘dia 0’. Aqui está um gráfico descrevendo essa mudança:

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Para a análise de sentimentos como os descritos acima, a ciência está longe de ser perfeita. Os robôs não são muito bons em interpretação e sarcasmo. Mas muitas vezes é interessante saber.

A equipe tomou vários cuidados para não errar muito. A fim de eliminar os falsos relacionamentos do Facebook, ele só analisou os casais que entraram em “relacionamento sério” entre os meses de abril e outubro, evitando os períodos de festas.

Para que seguir postando se há coisas mais legais para fazer agora?
Para que seguir postando se há coisas mais legais para fazer agora?

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Como o Facebook pretende dominar o mundo

Como o Facebook pretende dominar o mundo

Pues no hay nadie perfecto..

No Brasil, 80% dos internautas têm perfil no Facebook. O enorme alcance da empresa de Mark Zuckerberg faz com que ela seja fundamental para os meios de comunicação. Estes colocam em nossas timelines suas notícias e textos. Ou colocavam, pois o Face está interferindo severamente nesta distribuição de links. E não adianta tentar evitar ou enganar o gigante. Ele vê claramente as nossas ações em seu aplicativo e nos manipula feito marionetes. Quem produz conteúdo e quer vê-lo lido tem que entender o que o monstro deseja.

Há algumas semanas, a presença dos meios de comunicação na rede social diminuiu muito. Caiu o alcance das notícias que os veículos publicam em suas páginas. Tal queda coincide, obviamente, com a mudança no algoritmo de distribuição.

Agora o Facebook não quer mais funcionar como um distribuidor de links — quem faria isso é o twitter. Distribuir links manda os usuários para fora do Face e agora ele quer manter os usuários o máximo de tempo possível dentro do aplicativo.

O funcionamento geral do Facebook é bastante simples. De um lado, existe a pilha de postagens criada por você (pessoa física ou veículo), de outro você tem uma pilha de amigos (ou curtidores, no caso de fan pages). Então, o Facebook mostra as postagens na chamada “Página inicial” dos amigos ou curtidores, mas não para todos. Ele mostra apenas para aquelas pessoas com as quais você mais se relaciona ou para seus parentes. É ele quem decide para quantos vai mostrar a postagem. É ele quem decide se a sua postagem ficará incógnita ou se fará sucesso. Claro, se o veículo pagar pela distribuição, o algoritmo lhe devolverá um sorriso e entregará o conteúdo para um maior número de seguidores.

Mas agora o Facebook não quer apenas isso, ele quer que o tráfego de seus usuários permaneça dentro da rede social. Ou seja, ele não quer mais os links. E coloca os meios de comunicação diante de um dilema inédito: para melhorar a distribuição de seu conteúdo, eles precisam publicá-lo na página do Facebook.

Não adianta tentar enganar o Face. Rindo, ele vê os jornais inventarem estratégias para melhorar a distribuição de notícias… Zuckerberg deve achar graça de tais estratégias, pois é ele quem decide, põe e dispõe.

Por outro lado, o Facebook sabe da importância dos veículos de comunicação. Diversos estudos, como o da consultora digital Parsely, indicam que o tempo dedicado a ler ou assistir notícias é maior que o de outros conteúdos. Além disso, os leitores de notícias, em busca de atualizações, consultam a rede mais frequentemente. São usuários importantes para as redes sociais.

Para tanto, o Facebook criou uma ferramenta para que as pessoas leiam as notícias e vejam os vídeos SEMPRE DENTRO DO FACEBOOK, sem sair dele. É o Instant Articles. Dentro dele, há um editor mais completo para que o veículo possa manter sua identidade. Publicando no IA, o Facebook remunerará o veículo conforme o número de leituras.

O que houve? Ora, o Facebook colaborou com os veículos de comunicação, seduziu-os habilmente e neste momento em que todos estavam felizes e instalados confortavelmente, quer cobrar pelo conforto. Era de se esperar.

Google

O Google já fazia o mesmo de outra forma. Cobrava dos produtores de conteúdo para que aparecessem nas primeiras páginas das pesquisa. Outro fato importante é que a ferramenta privilegia o produtores originais de textos. Os meros copiadores de notícias produzidas por outros veículos vão perdendo e perdendo posições nas pesquisas, caindo no ranking. O Ctrl-C Ctrl-V não é aprovado pela ferramenta. O “vou repicar esta notícia porque achei importante” pode ser um belo tiro no pé.

Com isso, quem se prejudica são os sites que produzem conteúdo E copiam notícias, penso eu…

Twitter

Até o twitter já tem um algoritmo que escolhe as notícias que mais possam interessar ao usuário da plataforma.

Conclusão óbvia

Claro, que este texto é apenas uma introdução a um assunto vastíssimo, mas a conclusão não cairá muito longe do “Não existe almoço grátis”. Ou seja, é impossível conseguir algo sem dar nada em troca. O termo “almoço grátis” faz referência a uma prática comum entre bares americanos do século XIX, que ofereciam refeições a custo zero. Mas apenas para os clientes que consumissem bebidas.

Ih, rapaz, mais de novas políticas do Facebook aqui.

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Manifesto do Croniquinhas

Por Idelber Avelar e Moysés Pinto Neto em 27 de março de 2016

Croniquinhos:

Segue aqui o texto no qual eu, Idelber, e o Moysés Pinto Neto trabalhamos nos últimos dias. Se méritos há, são principalmente dele. Nós decidimos, pelo menos por enquanto, não lançá-lo lá fora, porque estamos um pouco céticos quanto à eficácia e o timing de um “manifesto” agora. Pedimos, portanto, que o texto fique por aqui neste momento, e que sirva para uma conversa nossa. Depois, talvez, se for caso, coletamos assinaturas. Havia um título, que não nos agradou muito, então vai sem título mesmo.

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1. A escalada da crise política tem provocado violência e polarização cada vez mais intensa no Brasil. O que assistimos no segundo turno das eleições de 2014 parece se repetir em escala cada vez maior e mais agressiva, atingindo o país por diversos ângulos. Esse quadro é regressivo e perigoso.

2. Não nos identificamos com a maioria dos manifestantes que estão hoje nas ruas nem com suas pautas. Entendemos que nem todos os manifestantes do dia 13 de março são da direita anti-petista pura e simples, nem muito menos fascistas. Também entendemos que nem todos os manifestantes do dia 18 de março são governistas acríticos. No entanto, as pautas, discursos e afetos que dominam ambas as manifestações não nos representam.

3. Há muito tempo apontamos a cumplicidade do Governo e do PT com as oligarquias brasileiras e as consequências negativas do projeto neodesenvolvimentista para o Brasil. Denunciamos a aliança com setores do agronegócio que ameaçam a destruição da Amazônia, utilizam de modo descontrolado transgênicos e agrotóxicos e promovem uma ofensiva genocida contra os índios. Alertamos para os riscos do pacto com as velhas oligarquias políticas. Fomos chamados de ingênuos em 2013 quando ousamos questionar a defesa cínica da governabilidade contra as multidões que saíram às ruas. Criticamos a Copa do Mundo e o modelo movido pelo fetiche por índices quantitativos de crescimento baseado na construção civil financiada por bancos públicos, alimentando oligopólios que dizimam a convivência no espaço urbano com um projeto de cidade voltado para os ricos. Criticamos o estado policial que cresce a cada dia com o apoio do PT, como visto com a recente aprovação da Lei Antiterrorismo e a intensificação do genocídio da juventude negra. Lembremos que, em debate presidencial, a atual mandatária apresentou como um modelo a operação militar no Complexo da Maré.

4. Não somos omissos nem neutros, mas não aceitamos que se associe o futuro do atual governo ao futuro da esquerda, se é que se continuará chamando de esquerda o que está no por vir. Não somos apenas vermelhos, somos de muitas cores.

5. Não se trata apenas de um “eu avisei”. Trata-se de não aceitar a narrativa de que o programa do PT se confunde com a transformação social que precisamos realizar no Brasil e que é a síntese de todas as lutas atuais. Reconhecemos os avanços sociais promovidos na década de 2000 por políticas sociais acertadas que merecem aprofundamento. Reconhecemos a contribuição do PT para tornar o país mais justo e múltiplo. Não policiamos nem censuramos as pessoas que, no ímpeto de defesa da democracia, cerram fileiras com o governo, mas rejeitamos a adesão incondicional, o culto ao líder e o vale-tudo. Rejeitamos a ameaça apocalíptica que, há tempos, é a válvula de segurança do governo para conquistar a adesão daqueles que discordam do seu programa.

6. Entendemos que a falência patente do sistema político brasileiro é apenas uma das incidências de uma crise mundial do modelo moderno da democracia representativa, e que hoje a política real se faz fora e longe das esferas oficiais (os Três Poderes). A tarefa que se põe diante de nos é a de nos organizarmos em redes horizontais que coordenem os diversos movimentos e experimentos em curso no país e no mundo, que exprimem uma busca de alternativas ao modo de viver que o capitalismo consumista e produtivista nos empurra goela abaixo. Trata-se de pensar como coordenar sem subordinar, sem esperar a formação de um comitê central, um líder messiânico ou uma vanguarda iluminada que guiará verticalmente as massas. O apodrecimento do sistema político é um sintoma de um apodrecimento da ordem do mundo correspondente ao atual modelo civilizatório e modernizador. É preciso reinventar a política no plano das práticas da vida cotidiana, na coordenação de experimentos locais que o mundo oferece hoje.

7. Não consideramos essa pauta descontextualizada do Brasil atual. Na verdade, um terço dos votos na última eleição rejeitaram a polaridade que se estabeleceu. Há uma nova geração que luta desde 2013 sintonizada com as lutas no resto do mundo, como os movimentos pelo transporte público, as ocupações de escolas ou o protesto contra a gentrificação do espaços urbanos. Essa geração está se construindo a partir de novas experiências de organização, mas já representa uma força viva e presente na política brasileira.

8. Nossa solidariedade sempre estará presente quanto se tratar de enfrentar o fascismo e a violência, mas não seremos capturados pela polarização que se instaurou no Brasil a partir da recusa governista ao diálogo com as manifestações de 2013.. Não aceitamos e lutaremos contra toda modalidade de perseguição macartista ou ação violenta, mas rejeitamos a ideia de que nosso futuro depende da permanência do PT no poder em 2018 e do seu culto à liderança de Lula.

9. Precisamos de um novo projeto de Brasil onde caibam muitos Brasis, em que a questão ambiental passe a ser central ao lado da justiça social e do respeito aos direitos humanos, um Brasil que reaja aos desafios que o século XXI apresenta. Nem o governismo nem a oposição parecem dispostos a enfrentar essas questões, sufocando a esfera pública na sua disputa compulsiva e doentia pela manutenção do poder.

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Quem roubou nosso tempo de leitura?

Quem roubou nosso tempo de leitura?
Cena de Inglourious Basterds, de Quentin Tarantino, 2009
Cena de Inglourious Basterds, de Quentin Tarantino, 2009

O tempo para leitura parece cada vez mais comprimido e isto não é uma perda apenas para a literatura.

Um súbito interesse renovado por Tolstói, causado pelo filme sobre seus últimos dias, A Última Estação, fez-me lembrar que há um ano atrás eu tinha prometido a mim mesmo reler Guerra e Paz. Fazia algum tempo que eu não enfrentava um romance de grandes proporções ou, para ser mais exato, qualquer coisa publicada antes do século XX. A releitura de Guerra e Paz iria me tranquilizar: minha resistência física e disponibilidade estavam intactas. Fui até a estante e descobri a página em que deixei o marcador —  ele estava na página 55 e eu sequer podia utilizar a desculpa de ter crianças pequenas.

O fato em si não teria me assustado — afinal, é Guerra e Paz — se não fosse a existência de outros marcadores abandonados em outros livros. Eu não estava terminando nenhum deles? Como é que eu, que adorava ficção o suficiente para estudá-la, ensiná-la e escrever a repeito, me tornara tão distraído?

Cena de Persona, de Ingmar Bergman, 1966
Cena de Persona, de Ingmar Bergman, 1966

O mundo dos meus tempos de estudante era fundamentalmente diferente do atual. Foi apenas no final da minha graduação que um amigo me mostrou uma maravilha chamada internet (Ele: “Há sites sobre qualquer assunto, tudo pode ser encontrado!”. Eu: “O que é um site?”). Nos anos 90, havia somente quatro canais de televisão. Cada família tinha um telefone, cujo uso era consecutivo. Poucos tinham jogos eletrônicos. Então, era muito mais fácil retirar-se completamente do mundo para a grande arquitetura do romance. Agora, o leitor está sob o ataque de centenas de canais de televisão, cinema 3D, há um negócio de jogos de computador tão florescente que faz com que Hollywood os imite em seus filmes, há os iPhones, o Wifi, o YouTube, há notícias 24h, uma cultura tola da celebridade — verdadeiras ou falsas (vide BBB) — , acesso instantâneo a toda e qualquer música já registrada, temos o esporte onipresente, há caixas de DVDs com tudo o que gostamos. Os momentos de lazer que já eram preciosos foram engolidos pela lista anterior e também e-mails, torpedos, WhatsApp e Facebook. Quase todos as pessoas com quem eu falo dizem amar os livros, mas que simplesmente não encontram mais tempo para lê-los. Bem, eles CERTAMENTE têm tempo, só que não conseguem gastá-lo de forma diferente.

Isto tem consequências desastrosas para nossa inteligência coletiva. Estamos sitiados pela indústria de entretenimento, a qual nos estimula apenas em determinadas direções. O sedução é sonora, visual e tátil. A concentração na palavra impressa, na profundidade de um argumento ou de uma narrativa ficcional, exige uma postura que os dependentes dos meios visuais não têm condições de atender. Seus cérebros não se fixam na leitura ou, se leem, fazem-no rapidamente para voltar logo ao plin-plin. Ora, isso é um roubo de um espaço de pensamento que deveria ser recuperado.

Alphaville, de Godard, 1965
Alphaville, de Godard, 1965

Obviamente, os meios de comunicação como a Internet nos oferecem enormes benefícios (você não estaria lendo isto de outra forma), mas nos empurram facilmente para coisas bem superficiais que roubam nosso tempo. Você viu Avatar? Você viu o que eles podem fazer agora? Podem me chamar de melodramático, mas estou começando a me sentir como protagonista de alguma distopia (ou antiutopia) do gênero de 1984 ou Fahrenheit 451, tendo meus pensamentos apagados e, pior, gostando disso.

A Cultura mudou rapidamente nesta década. A leitura está sob ameaça como nunca antes. “Escrever e ler é uma forma de liberdade pessoal”, disse Don DeLillo em uma carta a Jonathan Franzen, que o questionara muito tempo antes da chegada da Internet. “A literatura nos liberta dos pensamentos comuns, de possuir a mesma identidade das pessoas que vemos em torno de nós. Nós, escritores, fundamentalmente, não escrevemos para sermos heróis de alguma subcultura, mas principalmente para nos salvar, para sobrevivermos como indivíduos.” Exatamente a mesma afirmação, penso eu, descreve a condição dos leitores sérios.

Deem-me o meu Tolstói. Agora é guerra.

Traduzido mui veloz e livremente por mim. O original de Alan Bissett está aqui.

Imagens retiradas — à exceção da última — do maravilhoso blog O Silêncio dos Livros

de-o-silencio-dos-livros-peter-turnley-monsieur-bernard-laine-1999

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Um local de Porto Alegre: a Ladeira Livros de Mauro Messina

Um local de Porto Alegre: a Ladeira Livros de Mauro Messina
Foto: Guilherme Santos/Sul21

Quem mora em Porto Alegre e ama os livros, provavelmente conhece Mauro Messina. Sócio do sebo Ladeira Livros (Rua Gen. Câmara — mais conhecida como Rua da Ladeira –, nº 385, no chamado Centro Histórico), Mauro fez dois cursos na Ufrgs e outro na Fapa, indo quase até o final de cada um deles. Porém, para extrema decepção de sua mãe, não se formou nem em Ciências Sociais, nem em Geografia e muito menos em Administração de Empresas, apesar de ter mais ou menos se sustentado nos corredores da Universidade Federal e da Fapa. Em compensação, conhece livros – objeto e conteúdo – como poucos, dando palpites certeiros sobre aquilo que os clientes devem (ou não) ler, além de irritar todos os colorados que vão à livraria com um gremismo daqueles bem barulhentos e nojentos – opinião deste que vos escreve.

Para quem olha da rua, a Ladeira Livros parece pequena. A sala da frente não é grande, mas há 40 mil livros lá para trás. Enquanto a chuva batia forte na General Câmara, fazendo os clientes entrarem fechando rapidamente seus guarda-chuvas, Mauro falou ao Sul21 como sempre faz — sorrindo muito e interrompendo seus discursos com risadas altissonantes.

Foto retirada do perfil do Facebook de Mauro Messina

A história da livraria começa lá nos anos 80. Mauro fazia bicos com Adeli Sell numa banquinha que ficava embaixo do viaduto da Borges, um sebo. O espaço era mínimo para os dois militantes da tendência petista ‘O trabalho’. Lá, o estudante secundarista Mauro vendia broches e adesivos do PT. Então, começou a botar uns livrinhos ao lado. Em 1988, conheceu Fernando Schüller, coordenador de literatura na Prefeitura. E começou a vender livros nos sábados pela manhã, durante os Encontros de Sábado na secretaria municipal de cultura. Quando entrou na Universidade, mudou para a Convergência Socialista. Cursava administração na Fapa. Em 1991, foi trabalhar como funcionário do livreiro e escritor Arnaldo Campos, o lendário dono da Porto do Livro, no Campus Centro da Ufrgs.

No mesmo ano, passou no vestibular da Ufrgs para Ciências Sociais. Ficou dois anos com Arnaldo, apesar de que o dono da livraria estava sem dinheiro e com problemas para pagar a pensão da ex-esposa. Era a época pré-plano real, a inflação corroía tudo e a ex-mulher do livreiro frequentemente ligava pedindo o pagamento da pensão. Arnaldo se deprimia e dizia dez vezes por dia para Mauro: ‘’Desiste do ramo. Eu sei que tu gosta, mas não faz como eu, faz algum concurso, pega uma estabilidade.’’ E Mauro respondia que não tinha como. Aí passava um tempo, o livreiro atrasava novamente a pensão e a mulher voltava a ligar. Ficavam meia hora no telefone. Aí ele se estressava e chamava o funcionário para o Bar do Antônio. ‘’Larga, Mauro! E não casa. Mas, se tu for burro e casar, não te separa”’. Contudo, quando Mauro inaugurou a Ladeira Livros em 2006, Arnaldo visitou o ex-pupilo. Estava todo feliz.

Mas não nos adiantemos. Em 1993, Mauro ficou desempregado. Sabia que algumas livrarias tinham armários de livros nos corredores da Ufrgs e ele pensou que poderia fazer o mesmo. Convidou um amigo e começaram a vender livros nos corredores do Campus do Centro. O nome da livraria era Sagarana. Ele já tinha contato com algumas editoras e alugou uma sala na Dr. Flores para o estoque. Também vendia livros na Fapa, dentro do mesmo esquema. Os livros eram novos, recebidos em consignação. O corredor ficava cheio de gente nos intervalos. Ali, Mauro discutia política, futebol e vendia seus livros.

Trabalhava também no curso Unificado. Amigo do professor Sergius Gonzaga, chegava ao cursinho na hora do intervalo. Sergius colaborava, avisando-lhe do livro que recomendaria em sala de aula. Na saída… Mesmo assim, o maior ponto de venda era dentro da Ufrgs. Um dia, tentaram acabar com a banca de livros de Mauro. Era ilegal. Um abaixo-assinado dos alunos garantiu a continuidade. Mas depois não houve jeito e ele teve que sair.

“Eu saí lá em 2001 e não sabia o que fazer, simplesmente não esperava que acontecesse. Aí eu fui ali no Flores, que vendia discos na Borges, embaixo do viaduto. Cheguei nele e disse que tinha uns livros pra vender no espaço dele. Trouxe meu armário. Ele vendia discos e eu livros. Naquela época eu estava negociando um espaço no Campus do Vale lá na Ufrgs. Fui para lá, mas nos dois lugares vendia pouco. Foi um período bem complicado”.

A Ladeira Livros começou em 2006. “Os proprietários da Nova Roma estavam fechando a livraria na Gen. Câmara (a popularmente chamada Rua da Ladeira) e me disseram que se eu quisesse poderia trabalhar lá. Levei meu pequeno acervo de 600 livros e me mudei. Peguei livros novos em consignação e comprava bibliotecas de forma parcelada, etc. Fui levando a vida”.

Foto: Guilherme Santos/Sul21

A Estante Virtual já existia há um ano e Mauro quis aderir, só que não tinha computador. Fazia o cadastro de seus livros numa lan house. Lá, também descobria o que fora vendido. E concluiu que não poderia ficar fora das redes, apesar de achar um saco cadastrar tudo. “Estava complicado pagar o aluguel do novo espaço. Então, três estudantes amigos meus deram a ideia de dividir o aluguel e transformar parte do local em cafeteria. Mas tinha um problema, eles não tinham experiência nisso e, na verdade, detestavam café. Achavam também chato servir os clientes. “Então tive uns golpes de sorte comprando boas bibliotecas, comecei a crescer e tive que mudar de número aqui na rua. Eram muitos livros”.

Como se compra livros? “Tu tens que conversar com a pessoa pra saber o que o livro significa pra ela. Se eu pagar uma miséria, eles não voltam mais, vendem para outro. Afinal, quem se interessa por literatura conhece a Estante Virtual, onde todos ficam sabendo o valor de cada obra. Então, se a pessoa tem apego aos livros e eu quero comprá-los, vou ter que pagar. Existe toda uma negociação para a compra, mesmo quando cara vem aqui vender uns poucos. Tenho que olhar livro a livro para ter uma boa base de quanto vale. Não adianta olhar de longe. Nem todas as bibliotecas são como a do Tatata Pimentel, que acabei comprando. O bom é que o amor pelo livros facilita o papo”.

Mauro tem mil histórias acerca da compra de livros e bibliotecas. Há o pessoal que vem até a Ladeira para vender poucos exemplares, tem os caras que enganam os familiares e vendem a biblioteca de um morto recente pedindo um “por fora”. Ele também conta histórias de uma Kombi que quebrava sempre que vinha com milhares de livros, mas a preferida parece ser esta: “Uma vez, fui ver uma coleção de livros e quando cheguei, a dona tinha uma capelinha, cheia de velas. Era religiosa, uma carola de qualquer coisa e eu sou materialista diálético (risadas). Na saída, após fecharmos negócio, ela fixou os olhos em mim e disse misteriosamente que meus pais precisavam vender alguma coisa, mas que tinha uma pedra no meio do caminho. E me aconselhou: ‘Diz pra tua mãe pegar uma pedra e atirar ela longe’. Ela também me disse que eu era uma pessoa muito boa. E completou me avisando que estaria desencarnando dali a uns dias. Gelei, né? Então liguei pra minha mãe. Ela disse que sim, queria vender um sitiozinho no interior. E mandei ela atirar longe a porra da pedra. Ela não queria, mas eu insisti. Ela acabou atirando a tal da pedra e logo depois vendeu o sítio. Eu voltei à casa da mulher para agradecer e não encontrei mais nada. Talvez ela tivesse desencarnado”.

Hoje, Mauro cadastra todos os livros na Estante Virtual. Mas ainda vende mais na livraria. Quem o conhece sabe que ele adora uma conversa, recebendo bem até os que se não gostam de ver a figura de Lênin ao lado do caixa. “São 60% das vendas aqui na livraria, na base da conversa, e 40% na internet. O Correio gosta de sumir com os livros, é um problema, mas a Estante garante uma estabilidade, é venda certa”.

A Ladeira Livros também usa o Facebook. Mauro conta: “Eu escolho um livro para anunciar no Facebook. Às vezes pego um muito bom, outras vezes pego um da hora ou outro totalmente aleatório. Boto lá a capa e o valor. E escrevo ‘Na prateleira’. Quem pedir primeiro para reservar, leva. A regra é clara. No dia que os Estados Unidos legalizaram o casamento gay, eu anunciei o livro sobre a torcida organizada do Grêmio Coligay… Coloco uns dez livros por dia, nem todos saem, depende muito do que eu posto e do momento. Para mim, o Facebook é diversão. Também conto histórias lá. Com ele, conheci muita gente que nunca entrou na livraria e que compra ou só conversa. O preço? Eu dou o preço que mais ou menos é cobrado na Estante Virtual. Tu podes terminar a entrevista dizendo que eu sou apenas mais um leitor que lê menos do que gostaria. Sou um leitor mediano. Não sou formado em nenhum curso, apesar de ter feito ciências sociais e geografia. Ando lendo mais romances atualmente, principalmente os policiais. A livraria abre às 9h, mas eu trabalho das 10h30 as 19h. Tenho dois filhos, a Márcia e 40 mil livros cadastrados, além de seis mil que ainda tenho que botar no sistema. É isso.”

(*) Com Pedro Nunes

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Facebook, 10 anos e mais de 1 bilhão de usuários

Facebook, 10 anos e mais de 1 bilhão de usuários
Atrás apenas do Google e da Amazon, por ora | Foto: Facebook/ Diulgação
Atrás apenas do Google e da Amazon, por ora | Foto: Facebook/ Diulgação

Publicado em 8 de fevereiro de 2014 no Sul21.

O Facebook, um vício irremediável, lançado em 4 de fevereiro de 2004, tem o mesmo número de usuários que a internet toda tinha em 2007. Em âmbito mundial, o Facebook já ultrapassou o número de 1 bilhão de usuários.

Traçando um paralelo simplório — pois desconsidera os perfis de empresas e de outras organizações — , diríamos que 14% da humanidade tem conta no Facebook. Proporcionalmente, o Brasil foi o país que mais deu usuários a Mark Zuckerberg nos últimos anos. O país saltou de 35 milhões de usuários em 2011 para 76 milhões. Mais da metade acessa pelo celular. Todos os dias, 61,4% dos usuários que residem na América Latina conectam-se à rede social. Isso representa uma audiência de 47 milhões de brasileiros, 28 milhões de mexicanos e 14 milhões de argentinos, porcentagem é significativamente mais alta que a média dos outros países.

Atualmente, o Brasil está na terceira colocação em número de usuários, perdendo apenas para os Estados Unidos e a Índia (41,3). Se o Facebook fosse um país, seria o segundo mais populoso do mundo, empatado com a Índia e apenas atrás da China, tendo ultrapassado de longe os Estados Unidos da América com seus 310 milhões de habitantes. Recentemente, o valor da empresa foi avaliado em mais de 100 bilhões de dólares, ficando atrás apenas do Google e da Amazon dentre as empresas da Internet. Mark Zuckerberg, principal proprietário da rede social, tem uma fortuna avaliada em 16,8 bilhões de dólares.

Nesta semana, a empresa lançou um novo e bonitinho produto. Como aos dez anos de idade já dá para ser nostálgico, o Recorde Momentos cria um filme com trilha dramática cheio de fotos animadas do indivíduo desde que este entrou na rede social, também mostra as postagens mais curtidas, os melhores amigos, etc. Foi a forma encontrada pela empresa para que os usuários participassem da festa dos dez anos. Ainda que pareça meio emocionado demais.

Recorde momentos:

Parte do pacote de aniversário

Parte do pacote de aniversário
Para saber das últimas, Facebook! | Fonte: FreePik

As razões do sucesso

Se o Google serve como plataforma de pesquisa, se o Twitter é rápido em suas frases e links e se o YouTube aos vídeos, principalmente os de entretenimento, o Facebook dá um importante retorno emocional a seus seguidores.

Estes veem seus pequenos textos e opiniões aprovadas, veem fotos de amigos sumidos, batem papo um com o outro ou em grupo, formam grupos por interesse, pesquisam sobre os amigos dos amigos (“quem será essa pessoa?”) acompanham se aquela(e) amiga(o) está tendo um “relacionamento sério” com outrem (analisamos quem é e examinamos as fotos, se tivermos permissão), reagem quando um destes status se altera (às vezes com alegria, outras vezes com inveja ou ódio), ficam preocupados com a falta de uma resposta (“será que ele(a) não se conecta ou não deseja responder?”), compartilham imagens e textos entre os amigos (“gostei tanto daquilo que meu amigo escreveu que repassei a todos os meus seguidores”) e bloqueiam seus desafetos (“para que ela(e) não saiba nada de minha vida!”).

Surgem com grande frequência notícias que relacionam o site com fatos que parecem saídos de revistas de fofocas do gênero a-mulher-que-descobriu-que-o-marido-já-era-casado ou pai-descobre-filhos-desaparecidos-há-anos, mas o site — concebido justamente para utilização pessoal — também passou a ser utilizado com finalidades políticas e pelos jornais que buscam interatividade com seus leitores e divulgam suas notícias.

A tela de abertura do Facebook original

Mas antes um pouco de história. O Facebook foi um sucesso instantâneo. Mark Zuckerberg, juntamente com Dustin Moskovitz, Eduardo Saverin e Chris Hughes, fundou o “The Facebook” enquanto frequentava a Universidade de Harvard. Era 4 de fevereiro de 2004 e, até o final do mês, mais da metade dos estudantes da Universidade foi registrada no serviço. Então Zuckerberg partiu para a promoção do site e o Facebook ficou disponível também para a Universidade de Stanford, Columbia e Yale. Esta expansão continuou em abril de 2004 com as universidades de Cornell, Brown, Dartmouth, Pensilvânia e Princeton. Logo foi aberto para fora do ambiente universitário e… Bem, o número de usuários chegou ao primeiro milhão em dezembro de 2004, apenas 10 meses após a fundação.

O serviço é gratuito e a receita é gerada por publicidade, incluindo banners, destaques patrocinados na coluna de notícias e grupos patrocinados. Os usuários criam perfis que contêm fotos e listas de interesses pessoais, trocando mensagens privadas e públicas entre si. As pessoas e empresas que estiverem interessadas em serem vistas na timeline de usuários escolhidos por profissão, interesses, região etc., podem pagar uma módica quantia que Mr. Zuckerberg divulga a eles. A visualização dos perfis detalhados dos membros é restrita a amigos confirmados e para membros de uma mesma rede, conforme as opções de privacidade. Há também opções de jogos. Trata-se de uma receita aparentemente perfeita e que faz com que cada usuário tenha uma média de 200 amigos e permaneça cerca de 750 minutos por mês no site.

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Pessoal, eis o cartaz de meu novo filme, “Não fechem minhas abas!”.

Pessoal, eis o cartaz de meu novo filme, “Não fechem minhas abas!”.

A obra é do amigaço Carlos Latuff, como não seria? Obrigado.

Milton Ribeiro era um homem pacato, até que...
Milton Ribeiro era um homem pacato, até que…

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Latuff invade minha mesa de trabalho

Latuff invade minha mesa de trabalho

Eu gosto de manter as 12 abas de meu Google Chrome organizadinhas… Elas sempre estão na ordem que segue: as 4 primeiras são as do Sul21 (post que está sendo trabalhado, capa, geração da capa, Sul21), depois vêm as dos blogs Milton Ribeiro e PQP Bach, PqpShare, Gmail, Feedly, Facebook, Gmail do PQP Bach e Google Calendar. Posso trabalhar com mais, mas estas 12 primeiras são fixas.

Só que frequentemente aparecia um xarope que, depois de meu horário de saída, esculhambava esta ordem de comprovada eficácia, apagando parte das abas ou todas. Então, coloquei um post-it no meu monitor ameaçando os invasores. Ele dizia: EU MATO QUEM APAGAR (EXCLUIR) AS ABAS DO GOOGLE CHROME!

Ontem, na minha ausência, meu pequeno post-it ganhou um desenho do Latuff. Ficou sensacional.

Abas de Milton Ribeiro

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Entradas da semana no Facebook: nem tão idiotas quanto poderiam ser

Entradas da semana no Facebook: nem tão idiotas quanto poderiam ser

5 de abril:

Gostava do Wilker.

6 de abril:

O Centro Peruano é um dos lugares mais finos da cidade. Mas, do ponto de vista material, não há nada de especial lá. Não é um lugar que rescenda ao chique gerado pelo dinheiro, de modo algum. Quando digo fino, falo sobre o tratamento que o Dr. Carlos Nevado e sua família dispensa aos clientes, assim como sobre a qualidade do que se come lá. Uma coisa não tem nada a ver com a outra, só que tal impressão fica mais consistente quando se entra num tal “Armazém”, em plena Padre Chagas, e nos chega às narinas um invencível e anti-higiênico fedor.

Ah, nesta semana batemos nosso recorde. Fomos 3 vezes comer cebiche…

 

Dica da semana:

“Antes de sair de casa, revise se está com as chaves. Esquecê-las dentro das calças que você recém tirou não é inteligente e causa problemas.

Pior ainda se o esquecimento ocorrer num domingo à noite e se estiver na companhia de alguém que confia em você”.

Fica a dica.

7 de abril:

Espero que o Luigi não seja pusilânime e confirme o Gre-Nal de domingo para o novo Beira-Rio. Se tem medo de quebra-quebra, retire as cadeiras e aumente o número de seguranças, ora. Ou ele ignora que quebramos lá também?

 

Um dos fenômenos mais interessantes é de que a ignorância não gera dúvidas, mas certezas. Outra coisa interessante é a criatividade do ódio. Há pessoas que, ao odiarem, criam personagens muito diversos do odiado. O odiado é um mutante, ou uma valise na qual cabe toda sorte de más qualidades. Mas seguimos.

 

Um beijo procê, George Orwell:

“Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade.”

8 de abril:

Há pessoas que repetem e repetem os mesmos padrões, errando sempre. Mas nem lhes passa pela cabeça de que os errados são eles.

 

Quando

Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.
Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.
Será o mesmo brilho a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.

Sophia de Mello Breyner Andresen

 

E então eu cheguei em casa às 19h carregando um cansaço maior que eu e Elena me sugeriu dormir por uma hora. E eu sonhei que estava em Londres na casa de Virginia Woolf e que traduzia para o português o Between tha Acts. Eu viajara para que ela me explicasse algumas passagens. Depois dos esclarecimentos, ela me fez um chá e sentamos à mesa. E então eu, com a maior intimidade, perguntei sobre suas crises de depressão. E Virginia olhou para mim, deu um meio sorriso, começou a falar e eu acordei.

Coisa sem graça.

10 de abril:

A gente dorme com uma loira e acorda com outra de cabelos castanho-claros.

Ficou bonito, Elena.

 

Já imaginaram o que deve doer um beijo no coração? Além do mais, é pouco asséptico.

11 de abril:

Acerta o TJD da Federação Gaúcha de Futebol ao rebaixar o Esportivo para a Segunda Divisão em razão das ofensas racistas sofridas pelo árbitro Márcio Chagas em Bento Gonçalves. Racismo não é caso para relativizar e tergiversar, é caso para se extirpar. Por isso, lamento que a votação pela punição tenha tido o resultado apertado de 5 x 3, o que comprova que nossa sociedade não tem lá muita segurança se deve punir tais casos de hedionda boçalidade.

O árbitro Márcio Chagas
O árbitro Márcio Chagas

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A Ospa precisa de mais do que um teatro

A sala de ensaios com o protetor de acrílico | Foto: Bernardo Ribeiro/Sul21

Publicado originalmente em 20 de maio de 2012 no Sul21

Eu venho de uma cidade que tem uma Orquestra Sinfônica.
Erico Verissimo

“O Governo tem os olhos voltados para a orquestra, a Secretaria da Cultura também tem os olhos voltados para a orquestra, mas a Fundação (FOSPA – Fundação Orquestra Sinfônica de Porto Alegre), entidade que detém a gestão da orquestra, só tem olhos para o governo. Desta forma, sem gestão, a orquestra fica abandonada”. Tal imagem foi criada pelo presidente da AFFOSPA (Associação dos Funcionários da Fundação Orquestra Sinfônica de Porto Alegre), Wilthon Matos — que mostrou vários e-mails com relatos de músicos da OSPA — , a partir de uma afirmação do pianista André Carrara, músico da orquestra e membro da diretoria da entidade. O trompista Israel Oliveira, também da diretoria, diz que a Fundação tem receio de reivindicar qualquer coisa e acaba por não representar os músicos frente ao governo e, pior, não consegue gerir a orquestra.

Vamos explicar as siglas e as funções de cada órgão. O governo e sua Secretaria da Cultura são conhecidos, a FOSPA é a Fundação que deve se responsabilizar pela gestão da orquestra, seja administrativa ou artisticamente, e a AFFOSPA é a associação dos músicos da orquestra. “Temos um problema gravíssimo de gestão, a Fundação ignora, não ouve os músicos”, completa o mineiro Carrara.

Na tarde da última quarta-feira, o Sul21 visitou a direção da Associação de Funcionários em sua sede, uma pequena sala no edifício da Gal. Malcon em Porto Alegre. A Associação relatou que a relação com a Fundação está cada vez mais “franca”, o que talvez seja uma figura de linguagem educada para a palavra correta: “tensa”. A Associação considera, por exemplo, que o governo do estado está dialogando e ouvindo as partes na discussão salarial e do quadro de funcionários da orquestra, porém, se é consenso que a é proposta atual de reajuste é boa, é porque a Fundação assim avaliou, sem ouvir a orquestra.

André Carrara e Wilthon Matos (à direita)

André Carrara diz que “nenhum governo, ou, pelo menos, este, faria uma alteração no conteúdo de um projeto de aumento sem dialogar ou comunicar ao autor do projeto. A Fundação teve conhecimento dos valores oferecidos e os aceitou sem pestanejar e sem nos consultar. Nosso problema, como disse, é de gestão, não é um problema com o governo estadual. O governo está sentado à mesa de negociações discutindo o quadro, onde nós tentaremos reorganizar a instituição e colocar o funcionários certos nos lugares certos através de concursos específicos. O governo tem investido no teatro e sido sensível às nossas necessidades.

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Toda a vez que sentamos com o Secretário da Cultura, fomos ouvidos. Então, quando os colegas dizem que nós temos que fazer uma manifestação, o local correto não é fazer isso na frente da Casa Civil, mas frente da sede da Fundação. O atual governo é o mais favorável, o mais solícito, próximo e efetivo de todos, tanto que o teatro vai sair. Nós temos um problema interno”. Por exemplo, este foi o único governo que nos entregou uma proposta por escrito (ao lado).

Nenhum dos três representantes da Associação dos Funcionários é gaúcho. Eles ficam animados quando falam nos motivos que os fizeram virem para Porto Alegre. Curiosamente, o motivo parece ter sido o naipe de cordas da Ospa. “Quando eu cheguei aqui em 2004, fui logo assistir a um Concerto da Ospa onde ela tocava a Sinfonia Clássica de Prokofiev. Fiquei encantado, principalmente com as cordas da orquestra. A afinação, a qualidade sonora do naipe de violinos era incrível e olha que eu vim de orquestras muito boas”, conta Wilthon. “E, mesmo com o tratamento recebido, o nível artístico dos concertos ainda é muito bom. Não sabemos até quando será”.

As condições de trabalho – a fase do Palácio Piratini

A Ospa perdeu muito nos últimos anos. Os dois últimos concursos para músicos da orquestra foram no governo Rigotto, sendo que “a coisa degringolou de vez no governo de Yeda Crusius”, conforme Carrara. “Durante aqueles quatro anos, perdemos o Teatro da OSPA na Av. Independência, a Escola e vários funcionários na área administrativa”.

Logo que o ex-Teatro Leopoldina foi perdido, a Ospa passou a ensaiar no Palácio Piratini. Ali, grande parte do sentido, do espírito de grupo da orquestra, foi perdido. “Ficamos sem local para conversar, praticar e até largar nossos pertences. Vinha um caminhão com o nosso material – , instrumentos, cadeiras, estantes – eles deixavam tudo lá, nós usávamos a Sala de Imprensa”, contígua ao Salão Negrinho do Pastoreio e depois tudo era carregado de novo no caminhão. Ficamos sem salas e armários. Imagina, um ensaio de orquestra é uma bagunça. Os naipes muitas vezes tocam separadamente, repetindo os temas, a gente atrapalhava o funcionamento do Palácio, é claro, mas estávamos fora de nosso ambiente. Tínhamos horários e não adiantava chegar mais cedo porque mais cedo o Palácio estava fechado…”.

O trompista Israel Oliveira

Israel Oliveira completa: “Eu toco trompa, ele toca tuba (Wilthon). Como podemos ensaiar em casa? Hoje, com a tecnologia, a gente consegue se ouvir usando fones sem fazer muito barulho, há aparelhos que permitem isso, mas a gente perde a noção de força, de tocar forte ou piano (fraco) e perde a noção do diálogo que temos que estabelecer com outros músicos. Isto é, é uma necessidade imperiosa termos um espaço nosso. Nós não podemos ensaiar sozinhos em casa. Temos músicos excelentes, mas houve um prejuízo total em termos de performance”.

A fase em que a OSPA ensaiava no Palácio Piratini possui acentuados traços de comédia. Os instrumentos e cadeiras da orquestra ficavam armazenados dentro de um caminhão, pois não tinha como deixar o material no Palácio. Era um caminhão de mudanças e os instrumentos eram carregados de um local para outro transportados por pessoal não especializado. Naquela época também vários músicos se demitiram por terem sido convidados por outras orquestras sem substituição.

O fechamento da Escola de Música da Ospa

Depois, foi a vez da Escola de Música da OSPA fechar. Com a saída de funcionários administrativos e com a extinção das funções gratificadas, a Escola teve de ser fechada. A escola atendia alunos carentes. Desta forma um benefício social à população foi abolido. Vários músicos da OSPA e inúmeros outros que hoje se dedicam à música popular, quando meninos, foram formados na Escola da Ospa ou análogas. Os músicos que incorporaram esta FG a seus salários permanecem recebendo mesmo sem escola. Hoje, a Escola da Ospa não funciona, mesmo tendo prédio e uma estrutura mínima. O governo atual ainda não deu uma posição a respeito da escola. O fato é que a Fundação fez o pedido através de ofícios e, como sabemos, a papelada que não faz barulho nem incomoda.

Foto: Bernardo Ribeiro/Sul21

A mudança para o cais do porto

Então, no início de 2010, a governadora Yeda Crusius anunciou que precisava fazer uma reforma no Palácio e que a Ospa não poderia permanecer lá. Então, foi dada a “solução” do cais do porto e a orquestra foi se alojar no armazém A3. A vida no porto não está sendo nada divertida, mas os primeiros dias foram ainda menos. As paredes eram de gesso acartonado e as placas de absorção acústica, poucas. O pessoal da Fundação tentava convencer os músicos de que a nova sede era o melhor dos mundos. Como não era, a orquestra voltou a ser um problema para a Fundação.

Durante os ensaios, o som produzido pelos metais é tão alto e reverbera de tal forma que o pessoal das cordas passou a usar protetores auriculares. Também são utilizadas placas de acrílico com a finalidade de separar os metais dos outros instrumentos. Wilthon Matos explica: “É que numa sala inadequada e baixa, o som não sobe, provocando um verdadeiro estrondo. Então, o pessoal das cordas se protege como pode. As placas de acrílico causam prejuízos artísticos, pois o pessoal dos metais não consegue ouvir como seu som se projeta. O cara que está tocando o trompete passa a semana inteira com aquele acrílico na frente. Na hora do concerto, o som se projeta de forma diferente, de que valeu o ensaio?”. “O instrumentista perde a referência para que o que é forte ou piano”, completa o trompista Israel. “A música é um diálogo”, diz Carrara. “Como é que um colega vai ouvir o outro se usa protetor auricular?”.

Foto: Bernardo Ribeiro/Sul21

Wilthon cita mais um item do rosário de problemas da orquestra. “Até nossas cadeiras estão quebrando. No concerto de domingo passado (no Colégio Militar de Porto Alegre), uma oboísta caiu. No concerto anterior foi a cadeira do spalla e do corne inglês. A Fundação, que deveria estar atenta a isto, só agora está tratando de nossas cadeiras”. Porém, apesar do local precaríssimo, em 2010, a governadora compareceu na inauguração da sala do A3… Segundo Matos, “todos os órgãos sofreram com os cortes do governo Yeda e encontraram soluções criativas, nós não. A Fundação não correu atrás de soluções”.

Revitalização do cais do porto

Não obstante, a lista de tragédias não para. Agora, com a revitalização do cais do porto, a OSPA será obrigada a se mudar novamente em agosto. Para onde? Ninguém sabe ainda onde será o novo puxadinho. Segundo a AFFOSPA, a indefinição foi novamente criadas pela inoperância e falta de previsão da Fundação que deveria gerir a orquestra. Ou seja, apesar da AFFOSPA dizer que o governo está na mesa discutindo, criando o quadro e agindo para garantir a Ospa por muito mais do que uma legislatura, há mais problemas logo à frente.

A Associação de Amigos foi extinta

Se a Fundação tem um diálogo insuficiente com os músicos, o mesmo acontece com o público da Ospa. Há algumas semanas um pequeno grupo de ouvintes e admiradores da orquestra, formado, em sua maioria, por descontentes com os repertórios dos concertos dos últimos anos, com o escasso e equivocado material dos programas e com os locais inusitados e nada confortáveis das recitais – há concertos de duas horas em bancos duros de igrejas de péssima acústica – começou a conversar através das redes sociais. Nestes contatos surgiu o tema da ausência de uma Associação de Amigos da Ospa. Ora, a imensa maioria das orquestras do mundo todo são apoiadas por Associações de Amigos, entidades sem fins lucrativos que visam dar apoio às orquestras. Seus associados pagam mensalmente um valor irrisório em troca de ingressos mais baratos, participação nas decisões no repertório e, muitas vezes, até adquirem instrumentos ou contratam músicos para se apresentarem em concertos.

A recriação da Associação de Amigos da Ospa já tem logotipo no Facebook

No Facebook, foi criado um grupo virtual chamado Associação dos Amigos da OSPA que, em menos de uma semana, contava com mais de 2000 seguidores. O grupo, criado em 23 de abril – não tem um mês de existência – , segue crescendo e ora conta com mais de 2500 seguidores. A primeira ação do grupo foi a de buscar informações sobre a antiga Associação de Amigos mas, após interpelar o diretor artístico, o e-mail da Assessoria de Comunicação que consta no site da OSPA, a página do Facebook da orquestra e vários músicos e ouvintes que participaram da antiga associação, nada obteve de informações.

Uma das criadoras do grupo, diz que ainda não se sabe se a antiga Associação de Amigos era formal ou informal. Há alguns relatos de antigos carnês de contribuição, mas nenhum material foi encontrado e nem se conhece os motivos pelo quais foi fechada. Dentro do grupo, há o consenso de que a OSPA merece uma Associação do gênero, mas a Fundação não reage ou responde.

Ou seja, não há relação entre o público da Ospa e a Fundação que gere a orquestra. As ações da Associação de Amigos vêm ao encontro da opinião dos músicos.

Futuro Teatro da Ospa, no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho l Foto: Ospa / Divulgação

O futuro

“O que nós cobramos é que a Fundação esteja no compasso do governo. O governo quer a Ospa, quer apoiar a Ospa. O secretário Assis Brasil afirmou que colocaria o cargo à disposição se não resolvesse a questão salarial, de quadro e de teatro da Ospa. E o papel da Fundação seria o de viabilizar as coisas mais facilmente. A Fundação não consegue nem resolver os problemas imediatos da orquestra. Falta arregaçar as mangas e trabalhar.

A Fundação tem como presidente o médico Ivo Nesralla e seu diretor artístico é o maestro Tiago Flores. O maestro Flores não respondeu a nossas tentativas de contato, apesar de ter, à princípio, por e-mail, manifestado o desejo de conversar com o Sul21. Atualmente, Tiago Flores tem um péssimo relacionamento com a orquestra. Em contatos com vários músicos, podemos afirmar que não obtivemos manifestações de apoio à atuação de Flores, principalmente porque ele não considera a opinião da orquestra ao contratar maestros e ao definir repertório, desconsiderando a opinião da Comissão Artística. Aliás, no primeiro ano de funcionamento da Comissão Artística, houve uma súbita melhora na qualidade da programação o que infelizmente não subsistiu no segundo ano e alguns colegas deixaram a comissão. Carrara foi, inclusive, eleito como membro da Comissão, mas a abandonou pela disponibilidade restrita como vice-presidente da AFFOSPA e também por discordar de alguns pontos administrativos.

“O problema não é o Assis Brasil, é seu funcionário”. | oto: Ramiro Furquim/Sul21

“O problema não é o Assis Brasil, é seu funcionário. E nós, na última reunião, avisamos: ou o Tiago passa para o lado da orquestra ou a orquestra passará por cima dele. Afinal, é a nossa sobrevivência”, diz o presidente Wilthon.

Hoje, a orquestra tem três reivindicações principais: a construção do teatro, o quadro funcional da orquestra – principalmente na área administrativa porque, se não há nem cadeiras ou estantes adequadas, existe um problema administrativo com pessoas pouco qualificadas no exercício de determinadas funções –, e a questão salarial. “Desde 1995, nós estamos defasados em 76,5 % só em relação do IGP-M. Todas as orquestras públicas do resto do país enfrentam problemas, mas nossa defasagem salarial em relação a elas é de aproximadamente 70%. A orquestra não pede nenhum aumento, apenas a reposição do que foi perdido nestes 17 anos.

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Francisco Marshall sobre "A Flauta Mágica" de Peter Brook (copiado de seu Facebook):

Eu queria ter um blog como o do Milton Ribeiro para postar minha crítica da versão de Peter Brook para A Flauta Mágica de Mozart e Schikaneder. Como não tenho, vou cortar em fatias e publicar aqui mesmo. Thanks, Zulken, thanks, readers.

E eu, Milton, li e conversei sobre isso na sexta-feira [23] e depois esqueci…

— Eu nem deveria criticar, pois ganhei o ingresso do dileto amigo e genial dramaturgo e empreendedor Luciano Alabarse. Liguei no último minuto e ele me cedeu o último ingresso. “Tem sempre um VIP desgarrado!”, disse ele a um desgarrado muito grato, algo chato e pouco vip.

Milton Ribeiro interrompe no Facebook  — Olha, se quiseres postar no blog do Milton Ribeiro, posso falar com ele.

— Não, lá é lugar de sínteses e ironias sacrossantas, não me atrevo. Deixa eu escrever!

Milton Ribeiro desiste temporariamente — OK, OK, adiante!

— A montagem apresenta-se como “versão de Peter Brook”, ou livre adaptação. Na verdade, é uma versão pocket, com a orquestra reduzida ao piano e com o corte de várias partes.

— Misteriosamente, somem partes belíssimas, o que é compreensível em versão pocket, mas aparece uma inclusão arbitrária. Mesmo que bonita, a fantasia em ré menor está sobrando na economia musical. Sobram músicas na própria flauta, não precisa ir à prateleira.

— Aliás, não tem flauta em momento algum, só piano e mimos.

— Figurinos e cenografia seguem o facílimo e baratésimo esquema minimalista. Pés descalços e túnicas, nada de cenários, apenas umas hastes e um carrinho, que são movimentados de modo simples. Iluminotécnica enxuta, monocromática.

— O pianista é excelente, os cantores ótimos, as performances musicais convencem, animam, são muito bonitas e boas, tecnicamente.

— A acústica do Bourbon é uma catástrofe. Quem projetou aquilo desdenhou mediocremente a grande ciência acústica desenvolvida pelos gregos e fez cacaca. Nós fazemos com a democracia e a filosofia gregas, tá na média. Moral, os músicos cantam para as filas 1 a 3. Os outros pensam que ouvem, sonham, imaginam…

— Peter Brook, um cineasta importante, poderia considerar o que Ingmar Bergman fez ao abordar a Flauta Mágica. Não o fez, logo não cabe a comparação.

— A obra original, de Mozart e Schikaneder, transborda humor e imaginação. Foi composta para um teatro popular, onde todo o tipo de efeito cenográfico e dramatúrgico era aproveitado. A Flauta Mágica é sobeja em possibilidades dramatúrgicas, toda elas desdenhadas por Brook, que joga um manto minimalista arbitrário sobre esta obra prima. Este manto minimalista não é nem “contemporâneo” como linguagem, nem tem a ver com a obra. A que vem, então? Vem para economizar?

— Ao final, todos saem com a alma leve, felizes. Este é o milagre de Mozart. Uma música com tal grau de pureza, com tal poder de comunicação, que resiste a tudo, até mesmo a esta violação narcisista e pobre. Valeu, Mozart e Schikaneder, eternamente!

— O público pôs-se a aplaudir de pé imediatamente. O poder do ícone!

— Eu fui na quarta-feira, 21/09/2011.

Milton Ribeiro, o chato, retorna — Cara, eu vou juntar e roubar esse txt. Fui assitir a uma peça lastimável que foi APLAUDIDÍSSIMA. Estou em estado de choque a uma semana. O ícone era Marco Nanini.

— É, eu li tua crítica. Junta mesmo. Resistência ecológica.

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É proibido gostar de Saramago

Não, ninguém é obrigado a gostar de José Saramago. Nem do escritor, nem do político, nem do homem. Porém, ele ganhou o Nobel e isso tira muita gente de seu prumo. Nosso complexo de vira-latas nos faz pensar que, quando alguém de nossa sociedade se destaca, é porque ou roubou ou foi beneficiado por quem roubou. Muitas vezes alguém que deveria ser alvo de nossa admiração é simplesmente “rebaixado” como gay…  Enfim, o bom mesmo é ser igual a todo mundo, embora a maioria aja de forma diversa, pois paradoxalmente milhares querem se destacar num BBB ou coisa pior.  O nome disso: inveja. Lembro de quantos no passado chamavam Tom Jobim de embuste… Seria apenas um epígono do jazz. Dia desses, um post laudatório sobre Oscar Niemeyer foi capaz de jogar meio mundo contra ele e suas obras. Na boa, fiquei rindo, imaginando quando aquilo ocorreria em outro país que conheça. Nunca, é coisa nossa. Já ouvi também gente dizendo que Chico Buarque é um compositor e letrista apenas regular e que só ele usaria a ridícula palavra “cabrocha”. Dificuldades com os gênios deste país? Ora, certamente.

Com o tempo e o contato com vários amigos portugueses, descobri que isto é uma herança daquele país. Há países que homenageiam seus maiores autores. Nas livrarias de Montevidéu, só dá Benedetti. Nas de Buenos Aires, o autor argentino manda (e merece). Mesmo antes do Nobel, Saramago era combatido por ganhar muitos prêmios, por falar (ser entrevistado) demais, por ser convidado (e aceitar) demais. Ah, a inveja, os ciúmes que nos corroem!

Hoje, o bom intelectual deve duvidar da profundidade e da importância de O Evangelho segundo Jesus Cristo, deve achar mais ou menoso extraordinário O Ano da Morte de Ricardo Reis, tem que ignorar Caim e afirmar que As Intermitências da Morte é um livro de gênero transversal. Gosto muito de todos eles e acrescento ainda o “detestável” Ensaio sobre a Cegueira e o “mal realizado” A Jangada de Pedra, pois seria um livro onde a coisa mais extraordinária e insuperável ocorre nos primeiros minutos de jogo, deixando o autor sem ter o que fazer no restante das páginas… Mas também há os que não gosto mesmo: acho Todos os Nomes, o célebre Levantado do Chão e a tal Viagem do elefante bem fracos. Fazer o quê?

Ou será que o ódio de alguns ao autor têm raízes geopolíticas? O cara era ateu e comunista. Como Niemeyer e Chico. Pode até ser, mas aposto mais no Complexo de Vira-Latas.

Ontem, uma pessoa que não conheço e que não é minha “amiga” no Facebook, publicou em seu perfil esta imagem.

Trata-se de uma alusão ao admirável documentário José e Pilar. O primarismo da montagem não adere a nada que foi mostrado no delicado filme, mas a “autora” cometeu um outro ato bastante desagradável. Resolveu agredir as pessoas que já declararam gostar de Saramago. Ora, todos nós sabemos que a segurança do Facebook inexiste, que a gente entra onde quer e quando quer. Os motivos disso é a vontade dos produtores do aplicativo. Eles que querem ser sedutores e mostrar as grandes qualidades (reais) do Facebook e… Dane-se a segurança. Pois a imagem acima foi marcada em todos os seus cantos como se tivessem fotos de pessoas — quem conhece o programa sabe do que estou falando. Desta forma, a cada comentário feito à imbecil imagem, todos os marcados recebiam um e-mail com o conteúdo. O título do e-mail é assim: Juliana L. comentou uma foto sua. Então eu clico sobre um endereço e encontro a imagem acima. Dã.

É uma forma bem cretina de agressão, pois a autora deve ter me encontrado na internet elogiando seu desafeto póstumo e sabia que eu ia começar a receber e-mails. Por sorte, conheço alguma coisa do Face e me retirei da imagem. Ah, elogiei também o filme! Foi meu erro…

Olha, desconfio muito de quem escolhe Saramago como um importante alvo. Há tantos, mas tantos alvos que merecem chiste que começo a achar que quem o agride com tanta inisistência é católico, direitista e morre de inveja até de quem participa do BBB. Porque nada, na obra ou no homem Saramago justifica tal vulgaridade. Leiam ou releiam o autor, vejam o filme e comparem com a imagem acima. Nada a ver.

Como disse no início é permitido não gostar de Saramago, Paulo Coelho, Shakespeare ou Thomas Mann. Mas, para fazê-lo, é mais honesto usar argumentos.

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Facebook

Agradeço a todas as respostas de amigos e conhecidos que me aceitaram no Facebook. Li algumas coisas muito legais, fiquei feliz com as respostas. Só há um porém: não convidei ninguém.

Ontem, entrei no Facebook para responder uma mensagem de minha amiga Magaly Campelo de Magalhães. Fuçando um pouco, descobri que havia instruções sobre como gerar, no Outlook Express, um arquivo com todos os meus endereços de e-mail cadastrados. Li as instruções, fui para o Outlook e gerei o arquivo no diretório “Temporários”. E só.

Eu apenas queria ter uma lista de meus e-mails, mas, quando vi, tinha convidado meio mundo: havia queridos amigos, amigos em potencial, mas também pessoas jurídicas, hospitais, gente com as quais mantive contato uma vez há anos e nem lembro o motivo… Vi que a coisa fora grave quando recebi um e-mail dizendo que Milton Ribeiro havia feito um convite a mim.

Voltei lá no Facebook e olha, admito que possa ter esbarrado em alguma tecla, mas duvido muito. E o que é esse negócio de Dia do Amigo? Ontem nem era mais! Também não li nada que diga: “Se você criar o arquivo de endereços na janela do Outlook, o Facebook vai lá, captura e sai convidando indiscriminadamente”. O que será aquele e-mail todos@trsim… na mensagem que recebi? Será ele o culpado pela disseminação?

A Magaly respondeu amavelmente minha mensagem. Muito cuidado, vou lá agora escrever para ela.

E o que faço com os 500 convidados desconhecidos, com os que pensam que eu era louco, com os caras com os quais falei uma ou meia vez, com o sujeito que processei nas pequenas causas, com os SACs de empresas que incrivelmente aceitaram meu convite, com os amigos com os quais não mantenho contato desde o século passado? Putz, tô constrangido.

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