A Ospa e a inação como método

Não sei como é para vocês, caros amigos da OSPA, mas a mim, que sou um pouco inquieta, o que mais irrita em tudo o que debatemos neste grupo (fim da escola, nenhuma sensibilização de públicos, escassos concertos para a juventude, inexistentes palestras pré-concerto, etc.) é ver a enorme falta de flexibilidade e criatividade para se empreender qualquer ação que seja diversa aquela prevista no papel. Isto vai desde formalizar e ter este grupo reconhecido e integrado à orquestra até atuar pequenas idéias como publicar previamente no grupo a música dos concertos para preparar o público interessado para a audição e parabenizar os ospianos pelos aniversários. “Mas estas são bagatelas!”, vocês dirão.

Posso até desconhecer todos os mecanismos, necessidades técnicas e outros meandros do métier… Ok, sei bem que não sou perfeita e não sei tudo! Mas, pela vivência em associações e trabalhos de voluntariado sei que muitas coisas podem ser feitas com um pouco mais de boa vontade.

Me angustia o foco unidirecional e restritivo, voltado quase exclusivamente para a construção do teatro, que parece aniquilar a possibilidade de qualquer outra ação. Obviamente, ninguém quer a OSPA e seus integrantes trabalhando em condições adversas e em locais impróprios mas, tenho certeza, haverá espaço ocioso em outras estruturas do estado e do município (CCMQ, Gasômetro, etc) que poderiam ser usados para atividades. Eu, inclusive, acredito que a atual administração seja muito enxuta e não consiga dar conta de tudo mas então, porque não usar as ofertas voluntárias de ajuda? Centralização de poder e de fazer não está com nada!!!Imagino que palestras, concertos didáticos com grupos menores e até pequenos cursos poderiam ser ministrados deste modo. Pode até ser que eu esteja errada mas a sensação que tenho é que estamos desprezando as excelências da OSPA e perdendo grandes oportunidades. Sem formação de público e sensibilização quem vai frequentar o novo teatro???

A um Escritor que Amo

Quando o li pela primeira vez, foi por exigência do colégio. Tinha 14 anos e foi uma revelação. Nunca antes me deparara com nenhuma atividade que me interessasse de verdade. Não queria ser médico ou engenheiro – tinha eu 14 anos de idade… – mas poderia ser aquilo. Escreveria livros! A partir daquele, comecei a procurar outros do mesmo autor e notei como ele frequentemente citava músicas. Ora, meu pai era um homem de muitos discos, então era fácil conhecer as coisas de Beethoven, Mozart, Brahms e Bach de que ele falava. Depois, conheci Herbert Caro, que — amigo de Erico — fez-me uma relação verbal das músicas que ele ouvia repetidamente em casa, enquanto escrevia ou nos intervalos. Sabe-se hoje que Erico Verissimo deixou por escrito a recomendação de que, se quisessem lembrá-lo no futuro, não precisariam fazer grandes homenagens e discursos, bastaria reunir seus amigos e leitores “numa noite, qualquer noite” e tocar um “dos últimos quartetos de Beethoven, algumas sonatas de Mozart e qualquer coisa do velho Bach. E o resto – que diabo! – o resto é silêncio.”

Ontem à noite, fui a um concerto em homenagem aos 100 anos de nascimento de Erico Verissimo – ele nasceu em 17 de dezembro de 1905. Executou-se um quarteto de Mozart, outro de Beethoven e o esplêndido Op. 25 de Brahms. Foram apresentados por membros do Salzburg Chamber Soloists Ensemble. O fundador e regente desta orquestra é um portoalegrense chamado Lavard Skou-Larsen. Lavard é um violinista filho de mãe brasileira e pai dinamarquês e, mesmo morando desde os 4 anos em Viena, conhece a obra de Erico por influência de sua mãe. O concerto foi espetacular, com destaque para a violoncelista – e mulher de Lavard – Adriane Savytzky, para a pianista israelense Revital Hachamoff e para o entusiasmo, tesão e alegria de todos. Não houve discursos. Com fotos de Erico por todo o lado, ouvimos música. A empresa patrocinadora fez das suas apresentando um vídeo institucional, mas sabemos que sem patrocínio não tem concerto. Se todas as homenagens a Erico forem deste porte, teremos um grande final de ano em Porto Alegre.

Erico viajava muito ao exterior e costumava dizer aos que não conheciam Porto Alegre: “Moro numa cidade que tem Orquestra Sinfônica”. Para ele, isto demonstraria inequivocamente nosso tamanho, civilidade e humanismo. Tinha razão. Espero que a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre não esqueça dele.

P.S.- Esta pequena crônica foi escrita em abril de 2005. Sim, a Ospa homenageou Erico no concerto do dia 13 de setembro de 2005. O programa não foi um horror, mas também não incluiu nada que o escritor especialmente admirasse: começou com a Abertura da ópera “Fosca” de Carlos Gomes, depois veio o Concerto para Piano e Orquestra em lá menor de Schumann e finalizou com a Sinfonia nº 4 em ré menor, também de Schumann. Poderiam ter lido trechos de seus livros, apresentando as músicas depois, mas como são uns béocios, perderam a oportunidade. Uma pena.