Uma lista preciosa: a dos livros para rir

Uma lista preciosa: a dos livros para rir

Nestes anos de 2020 e 2021, apareceram muitas pessoas na Livraria Bamboletras pedindo livros para rir. Sim, a coisa foi complicada e vários leitores foram bem explícitos ao me pedirem livros para segurar quem está sucumbindo.

Aqui na livraria, muitas vezes a gente é também divã. Por exemplo, no dia em que Bolsonaro foi eleito, tivemos clientes que choraram em nosso balcão. Como consolar alguém que está triste porque elegemos um idiota, sabendo que o eleito é uma besta pior do que o tio do churrasco após 3 cervejas?

Mas volto ao tema inicial. Preparei uma lista de livros cômicos. Mas não basta ser cômico, tem que ser MUITO BOM. Nada tenho contra as palhaçadas, mas acho que rir de nervoso também é rir.

Fiz uma lista de improviso:

— Oblómov, de Ivan Gontcharóv
— Enclausurado, de Ian McEwan
— As Intermitências da Morte, de José Saramago
— O Mestre e Margarida, de Mikhail Bulgákov
— Complexo de Portnoy, de Philip Roth
— Os livros de Claudia Tajes
— Uma Confraria de Tolos, de John Kennedy Toole
— A Guerra das Salamandras, de Karel Čapek
— Matadouro Nº 5, de Kurt Vonnegut
— Lucky Jim, de Kingsley Amis
— A Gargalhada de Sócrates, de Nelson Moraes
— Ingresia, de Franciel Cruz
— Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift

Perguntei, no meu perfil do Facebook, que livros deveria acrescentar à lista e a resposta foi uma chuva de excelentes sugestões. Confiram abaixo:

— Incidente em Antares, Érico Veríssimo;
— O Nariz, Gogol;
— Casos do Romualdo, Simões Lopes Neto;
— Escola de Mulheres, Molière;
— O Burguês Fidalgo, Molière;
— A Megera Domada, Shakespeare;
— A Comédia sos Erros, Shakespeare;
— As Alegres Comadres de Windsor, Shakespeare;
— Lisístrata, Aristófanes;
— As Rãs, Aristófanes;
— As Nuvens, Aristófanes;
— Dez Quase Amores, Cláudia Tajes;
— A Casa dos Budas Ditosos, João Ubaldo Ribeiro;
— Um, nenhum, cem mil, de Pirandello
— Contos do Tchekov. “Um sobrenome cavalar” alegra o dia do mais amargo dos turrões.
— A ironia do Machado não seria um tipo de humor? Se sim, Memórias Póstumas!
— Histórias da Vida Privada, do Verissimo
— LFV é minha leitura para tempos difíceis
— As cosmicômicas – Italo Calvino
— Auto da compadecida ☺️
— Anotações de um jovem médico.
— A morte de um estranho
— Instruções para os criados
— Bartleby
— Contos da Cantuária. Chaucer. Penguin Companhia.
— O Complexo de Portnoy, do Roth; Meus Prêmios, do Bernhard; Minha Mocidade, do Churchill; Memórias do Subsolo
— O Homem Nu do Fernando Sabino
— Tia Julia e o Escrevinhador, do Vargas Llosa
— O autor mais engraçado que existe é o P. G. Wodehouse. Qualquer livro seu é prazer garantido e muita risada. Só não sei como andam seus livros em catálogo no Brasil.
— A mulher que escreveu a Bíblia, Moacyr Scliar
— A peregrina de araque
— Faltou o Paul Beatty, especialmente em “O Vendido” e todos os livros do Pynchon
— A Consciência de Zeno e Tristram Shandy.
— O Compromisso e O Ofício, ambos de Serguei Dovlátov, são muitíssimo engraçados. E o recém lançado no Brasil, Tchevengur, do Andrei Platônov, tem a mesma hilaridade ácida e absurda do Dom Quixote.
— A esposa de Gogol do italiano Landolfi.
— “As nuvens” , Aristófanes.
— “Esperando Godot ” do Becket e “Muito Barulho por Nada” do Shakespeare.
— “Uma Proposta Modesta e Outros Ensaios” do Jonathan Swift.
— E o Henfil ? Nenhum livro com os Fradins, o bode Orellana e a Grauna?
— Qualquer coisa do Verissimo, mas acho que A velhinha de Taubaté seria meio agridoce demais…
— O remorso de Baltazar Serapião – Walter Hugo Mãe
— Comédias da vida privada. A autobiografia do Billy Wilder. Qualquer treco do Reinaldo Moraes. — A trilogia de Bridget Jones.
— As rãs – Mo Yan
— Eu amava os contos da coleção “Para gostar de ler” – eram excelentes, muita leveza.
— O Analista de Bagé
— Suas histórias da Bamboletras renderiam um ótimo livro, meu caro.
— As melhores tiradas de PQP Bach” tb…
— O Senhor da Foice, de Terry Pratchett
— Tomar um café com papo com Milton Ribeiro é o melhor!
— Todos do Olavo de Carvalho.
— Veríssimo (LF) e Antonio Prata.
— Recomendo também o pai, Mário Prata.
— Woody Allen
— “Cuca Fundida” e “Sem Plumas” são ótimos, bem lembrado!!!
— Barão de Itararé
— Dom Quixote.
— Biografia do Deltan Dallagnol. Parei nas primeiras 20 páginas, porque não conseguia parar de rir.
— É interessante como Dostoievksi é engraçadíssimo. O jogador, por exemplo, tem partes maravilhosas para o riso. Assim como Os demônios e O idiota. Mas as páginas a que me referi de Memórias entraria em qualquer antologia das mais hilárias da literatura
— Já leu “O Eterno Marido”? Muito engraçado.
— Olha o livro que me fez gargalhar esse ano foi A vida pela frente do Roman Gary, mesmo não estando na minha forma olímpica
— “O Homem ao Quadrado”, de Leon Eliachar. Piadas ótimas e outras não tanto, mas o conceito dos capítulos do livro é genial (capítulos pra ler no banheiro q tem papel hig… Ver mais
— O apocalipse dos trabalhadores, do Valter Hugo Mãe, tem cenas engraçadíssimas, apesar de toda a tragédia.
— Também qualquer Woody Allen
— Quase Memória do Cony
— Ainda não está em livro, mas está no Facebook, “As Corônicas”, do Fernando Corona
— Ouvi dizer que A Gargalhada de Sócrates arranca algumas risadas. 🙂
— Os livros de crônicas do Aldir Blanc.
— Millôr Fernandes
— A dica que me ocorre primeiro já está na lista, As intermitências do morte. Talvez Incidente em Antares caiba aí. Nu de botas, do Antonio Prata, mesmo sem ser ficção, é uma ótima pedida pra quem cresceu nos anos 80. Eu me divirto com Emma, da Jane Austen
— Millor Fernandes e o Luiz Fernando Veríssimo!
— Reacionarismo católico inglês: qualquer um do Evelyn Waugh e O Homem que era Terça Feira, do CK Chesteron.
— Os contos do Mark Twain, são autêntica literatura de emergência para tempos sombrios.
— Asno de Ouro; D.Quixote; Gargantua e Pantagruel; Gil Blas; O Sofá
— As aventuras de Huckleberry Finn
— Lembro de ter rido bastante com o Digam a satã que o recado foi entendido. Do Daniel Pellizzari. — — Encontro muito humor tb nos livros da Veronica Stigger. ❤❤ A Veronica Stigger tem uma preciosidades de humor cruel
— Milton, se você não leu ainda o Estacao Atocha, do Ben Lerner, leia. É hilário e excelente.
— Asco, de Castellanos Moya, e O Inspetor Geral, de Gogol.
— O Tirza é um romance que te choca ao mesmo tempo que te faz rir bastante. Recomendo.
— Jô Soares, romances e autobiografias; Beckett, Stanislaw e Ricardo Araújo Pereira
— Livros dos chargistas… Santiago Neltair Abreu,
— A Gargalhada de Sócrates, do Nelson Moraes;
— Qualquer um do Alasdair Gray;
— Tristram Shandy.
— Sempre uns 80 por cento dos autores que você cita eu só nunca ouvi falar, como acho que na verdade nem existem. 😃
— Lembra de “Porcos com Asas”? Eu rio até hoje só de lembrar uma parte. E “Patty Diphusa” também é de matar de rir.
— Ri muito com Resposta certa, do David Nichols. Não sei se está à altura da bamboletras, mas foi o terceiro livro que mais me fez rir nos últimos tempos. O segundo foi A gargalhada de Sócrates. O primeiro foi o programa do evento do Brasil paralelo.
— Eu ia sugerir “Cágada”, do Gladstone O. Mársico, mas deve estar esgotado… infelizmente.
— Ia indicar A Gargalhada de Sócrates, mas seu radar não o deixou escapar…
— Os do L.F. Verissimo em primeiro lugar.
— O conto “Comportamento nos velórios”, do Cortázar. Está no livro Histórias de cronópios e de famas e na antologia Autoestrada do sul, da L&PM.
— Bah, os da Cláudia Tajes são hilários, dá para rir muito!
— Acrescente ‘Bilac vê estrelas’, de Ruy Castro. Classicamente falando, O Asno de Ouro de Apuleio e Satiricon.
— Candido Urbano Urubu.
— O livro de crônicas do Nelson Rodrigues, A Cabra Vadia, é para rir demais.
— A Auto da Compadecida de Ariano Suassuna
— Novela de Eduardo Mendoza Garriga
— Caviar é uma ova do Gregório Duvivier
— Luis Fernando Verissimo
— Mais um, maravilhosamente engraçado: Uma casa para o sr Biswas.
— “Quem matou Roland Barthes?”
— Os velhos marinheiros, de Jorge Amado
— Cuca Fundida, do Woody Allen
— Qualquer um do Gabo
— A Importância de Ser Prudente, Oscar Wilde.
— Nao digo rir, mas sorri muito lendo o barão das arvores, do ítalo calvino.
— “Macaco preso pra interrogatório” e “O riso dos torturados”…
— “A uruguaia” e “As desventuras de Arthur Less” – engraçados e boa literatura
— Fábulas fabulosas, do Millor. Cabaret Demenzial, da Veronica Stigger. Esse último é humor cruel, mas ri muito com algumas das histórias, como a do casal que vai se mudando pra lugares cada vez mais minusculos por falta de grana.
— Lembrei dum conto dos cervantes, acho que se chamava os faladores. Era dos de gargalhar. E as comédias de Shakespeare ou Moliére. 🤣
— “A morte e a morte de Quincas Berro D´água”
— Podes colocar um sub-título: Livraria Bamboletras, uma Farmácia Literária. Que tal?
— “manual prático de bons modos em livrarias”. pequenino e engraçadíssimo.
— Cândido de Voltaire; O Inspetor Geral de Gógol; O Santo e a Porca, Auto da Compadecida, de Suassuna.
Diego Michel GÓGOL!!!!!
— eu citaria o Pornopopeia de Reinaldo Moraes.
— “Os amores difíceis”, livro de contos do Ítalo Calvino apresenta alguns contos muito hilários
— Autobiografia da Rita Lee. Os subterrâneos do Vaticano de André Gide.
— FEBEAPÁ -Festival de besteiras que assolam o país. Sérgio Porto -Stanislaw Ponte Preta.
— O Livro dos Seres Imaginários, de Jorge Luis Borges.
— Comédias da Vida Privada, do Veríssimo.
— Efraim (ou Ephraim) Kishon, vários titulos…lembro agora de Como Aborrecer um Guarda e outras…, Trad. Luis Fernando Verissimo. Muito bom.
— Ephrain Kishon húngaro israelense’ tb dramaturgo. Millôr Fernandes traduziu uma peça dele, “Pô, Romeu!”, muito engraçada.
— O Mundo é Pequeno, do David Lodge. É o mais engraçado dos romances dele, mas Invertendo os Papéis (mesmos personagens, alguns anos antes), e Terapia também são divertidos.
— E tem os João Ubaldos, além de tudo, engraçados.
— Bah, os do Verissimo sempre são hilários. Incluiria na lista o 10:04 do Ben Lerner e o Ninguém precisa acreditar em mim, do Juan Pablo Villalobos.
— Os livros do mochileiro das galaxias
— “Anedotário da Rua da Praia”. Um clássico! Indico também “O Imortal”, do Maurício Lyrio.
— Procurem Tom Cardoso ele manda muito bem cronista jornalista se é pra rir, ele manda pelo correio ! De chorar!
— Eu ri muito lendo “o grande mentecapto”, do fernando sabino
— Dementia 21 de shintaro kago, adoro o nu de botas do Antônio Prata.
— Tristram Shandy!
— KD o LVF?? São tão bons! E o Gregório Duvivier também! (Put some farofa) e também o “Nu de botas” do Antônio Prata. Livros muito engraçados e bons
— Alain de Botton. Esqueci o título, mas tem um ensaio sobre o amor que é hilário
— A Aldeia de Stiepantikov e seus habitantes, um adoravel livro pequeno e cômico do velho Fiodor Dostoiévski
— Se quiserem livro pra rir, cujos personagens são cachorros, recomendo Sítio Caipora, de uma certa Núbia Bento Rodrigues, né, bispo Franciel
— Cem anos de Solidão, de Gabriel García Márquez. A parte do tapete voador é impagável!
— Pantaleao e as Visitadoras
— O furo, Evelyn Vaughn. Antigo. Será que tem?
— Eu ia indicar o Dom Quixote, mas já foi citado. É o meu livro favorito e tem trechos MUITO engraçados. Em uma de minhas internações hospitalares mais recentes, levei o Dom Quixote para (re)ler, mas tive que interromper a leitura porque ria muito…
— Luís Fernando Veríssimo na veia!
— O Auto da Compadecida!! Me diverti muito lendo
— A biografia da Rita Lee tinha cenas hilárias q eu não conseguia parar de rir
— “Porque almocei meu pai” de roy lewis, um clássico…..kkkk
— Matadouro 5 é de rir? Eita eu li errado então 🤦🏻‍♀️ Vou ter que reler 😅
— Melhor ler tudo sobre os irmãos Marx agora, nunca se sabe né?
— Woody Allen. Eu tinha que parar de traduzir pra rir.
— Mario Prata, hilário
— Claudia Tajes é de passar mal de rir
— Todos do Douglas Adams, mas principalmente O Guia do Mochileiro das Galáxias!
— Luís Fernando Verissimo TODOS
— Eu colocaria também Cama de gato do Vonnegut
— Confraria de tolos eu devo te agradecer, eu chorei de rir com esse livro
— Ri bem com o último do Kundera, A festa da insignificância
— Malícia negra, de Evelyn Waugh. Impagável…
— Livros do L F Verissimo, tens?
— “A gargalhada de Sócrates” – Nelson Moraes
— Todos de P.G. Wodehouse, principalmente, “Obrigado, Jeeves”.… Ver mais
— Rua dos Artistas e Arredores do Aldir Blanc
— Dois do KV Jr.: “Destinos Piores que a Morte” e “Um Homem sem Pátria”. Adequados, realistas, modernos.
— Ter meu humilde Ingresia nesta lista é motivo pra choro, digo, pra riso. Bom, não sei mais…Só sei que minhas 18 pontes de safenas quase estouraram agora.
— Pra rir … Luís Fernando
— O Proscrito, Ruy Tapioca
— Cântico pra Leibowitz
— Exército de um homem só

Illustration: A comedy mask reads a book.

100 Livros Essenciais da Literatura Mundial

100 Livros Essenciais da Literatura Mundial

Há algumas semanas, li a lista da extinta revista Bravo sobre os 100 livros essenciais da literatura mundial. A edição vendeu muito, disse o dono da banca de revistas meu vizinho. No final da revista, há uma página de Referências Bibliográficas de razoável tamanho, mas o editor esclarece que a maior influência veio dos trabalhos de Harold Bloom.

Vamos à lista? Depois farei alguns comentários a ela.

A lista é a seguinte (talvez haja erros de digitação, talvez não):

1. Ilíada, Homero
2. Odisseia, Homero
3. Hamlet, William Shakespeare
4. Dom Quixote, Miguel de Cervantes
5. A Divina Comédia, Dante Alighieri
6. Em Busca do Tempo Perdido, Marcel Proust
7. Ulysses, James Joyce
8. Guerra e Paz, Leon Tolstói
9. Crime e Castigo, Dostoiévski
10. Ensaios, Michel de Montaigne
11. Édipo Rei, Sófocles
12. Otelo, William Shakespeare
13. Madame Bovary, Gustave Flaubert
14. Fausto, Goethe
15. O Processo, Franz Kafka
16. Doutor Fausto, Thomas Mann
17. As Flores do Mal, Charles Baldelaire
18. Som e a Fúria, William Faulkner
19. A Terra Desolada, T.S. Eliot
20. Teogonia, Hesíodo
21. As Metamorfoses, Ovídio
22. O Vermelho e o Negro, Stendhal
23. O Grande Gatsby, F. Scott Fitzgerald
24. Uma Estação No Inferno,Arthur Rimbaud
25. Os Miseráveis, Victor Hugo
26. O Estrangeiro, Albert Camus
27. Medéia, Eurípedes
28. A Eneida, Virgilio
29. Noite de Reis, William Shakespeare
30. Adeus às Armas, Ernest Hemingway
31. Coração das Trevas, Joseph Conrad
32. Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley
33. Mrs. Dalloway, Virgínia Woolf
34. Moby Dick, Herman Melville
35. Histórias Extraordinárias, Edgar Allan Poe
36. A Comédia Humana, Balzac
37. Grandes Esperanças, Charles Dickens
38. O Homem sem Qualidades, Robert Musil
39. As Viagens de Gulliver, Jonathan Swift
40. Finnegans Wake, James Joyce
41. Os Lusíadas, Luís de Camões
42. Os Três Mosqueteiros, Alexandre Dumas
43. Retrato de uma Senhora, Henry James
44. Decameron, Boccaccio
45. Esperando Godot, Samuel Beckett
46. 1984, George Orwell
47. Galileu Galilei, Bertold Brecht
48. Os Cantos de Maldoror, Lautréamont
49. A Tarde de um Fauno, Mallarmé
50. Lolita, Vladimir Nabokov
51. Tartufo, Molière
52. As Três Irmãs, Anton Tchekov
53. O Livro das Mil e uma Noites
54. Don Juan, Tirso de Molina
55. Mensagem, Fernando Pessoa
56. Paraíso Perdido, John Milton
57. Robinson Crusoé, Daniel Defoe
58. Os Moedeiros Falsos, André Gide
59. Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis
60. Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde
61. Seis Personagens em Busca de um Autor, Luigi Pirandello
62. Alice no País das Maravilhas, Lewis Caroll
63. A Náusea, Jean-Paul Sartre
64. A Consciência de Zeno, Italo Svevo
65. A Longa Jornada Adentro, Eugene O’Neill
66. A Condição Humana, André Malraux
67. Os Cantos, Ezra Pound
68. Canções da Inocência/ Canções do Exílio, William Blake
69. Um Bonde Chamado Desejo, Teneessee Williams
70. Ficções, Jorge Luis Borges
71. O Rinoceronte, Eugène Ionesco
72. A Morte de Virgilio, Herman Broch
73. As Folhas da Relva, Walt Whitman
74. Deserto dos Tártaros, Dino Buzzati
75. Cem Anos de Solidão, Gabriel García Márquez
76. Viagem ao Fim da Noite, Louis-Ferdinand Céline
77. A Ilustre Casa de Ramires, Eça de Queirós
78. Jogo da Amarelinha, Julio Cortazar
79. As Vinhas da Ira, John Steinbeck
80. Memórias de Adriano, Marguerite Yourcenar
81. O Apanhador no Campo de Centeio, J.D. Salinger
82. Huckleberry Finn, Mark Twain
83. Contos de Hans Christian Andersen
84. O Leopardo, Tomaso di Lampedusa
85. Vida e Opiniões do Cavaleiro Tristram Shandy, Laurence Sterne
86. Passagem para a Índia, E.M. Forster
87. Orgulho e Preconceito, Jane Austen
88. Trópico de Câncer, Henry Miller
89. Pais e Filhos, Ivan Turgueniev
90. O Náufrago, Thomas Bernhard
91. A Epopéia de Gilgamesh
92. O Mahabharata
93. As Cidades Invisíveis, Italo Calvino
94. On the Road, Jack Kerouac
95. O Lobo da Estepe, Hermann Hesse
96. Complexo de Portnoy, Philip Roth
97. Reparação, Ian McEwan
98. Desonra, J.M. Coetzee
99. As Irmãs Makioka, Junichiro Tanizaki
100 Pedro Páramo, Juan Rulfo

A lista é ótima, mas há critérios bastante estranhos.

Se não me engano, só três semideuses têm mais de um livro na lista: Homero, Shakespeare e Joyce. OK, está justo.

No restante, é uma lista mais de autores do que de livros e muitas vezes são escolhidos os livros mais famosos do autor e dane-se a qualidade da obra. Se a revista faz um gol ao escolher Doutor Fausto como o melhor Thomas Mann, erra ao escolher Crime e Castigo dentro da obra de Dostoiévski – Os Irmãos Karamázovi e O Idiota são melhores; ao escolher Guerra e Paz de Tolstói – por que não Ana Karênina? -; na escolha de O Complexo de Portnoy, de Philip Roth; que tem cinco romances muito superiores, iniciando por O Avesso da Vida (Counterlife) e ainda ao eleger Retrato de Uma Senhora na obra luminosa de Henry James. Li por aí reclamações análogas sobre as escolhas de Brás Cubas e não de Dom Casmurro, de Cem Anos de Solidão ao invés de O Amor nos Tempos do Cólera e de As Cidades Invisíveis de Calvino, mas acho que é uma questão de gosto pessoal e não de mérito. Ah, e é absurda a presença do bom O Náufrago e não dos imensos e perfeitos Extinção, Árvores Abatidas e O Sobrinho de Wittgenstein na obra de Thomas Bernhard.

Saúdo a presença de grandes livros pouco citados como Tristram Shandy, obra-prima de Sterne muito querida deste que vos escreve, de Viagem ao Fim da Noite, de Céline, de A Consciência de Zeno, genial livro de Ítalo Svevo, de O Deserto dos Tártaros (Buzzati) e do incompreendido e brilhante Grandes Esperanças, de Charles Dickens, de longe seu melhor romance.

Porém é estranha a escolha de A Comédia Humana, de Balzac. Ora, a Comédia são 88 romances! Não vale! Estranho ainda mais a presença de autores menores como Kerouac e Malraux, além do romance que não é romance — ou do romance que só é romance em 100 de suas 1200 páginas: O Homem sem Qualidades, de Robert Musil.

Também acho que presença de McEwan e de Coetzee prescindem do julgamento do tempo, o que não é o caso de alguns ausentes, como Lazarillo de Tormes, de Chamisso com seu Peter Schlemihl, de George Eliot com Middlemarch, de Homo Faber de Max Frisch e de O Anão, de Pär Lagerkvist, só para citar os primeiros que me vêm à mente. E, se McEwan e Coetzee esttão presentes, por que não Roberto Bolaño?

E Oblómov??? Não poderia ficar de fora!

(O Bender escreve um comentário reclamando a ausência de Grande Sertão, Veredas, de Guimarães Rosa. É claro que ele tem razão! Esqueci. Coisas da idade.)

Com satisfação pessoal, digo que este não-especialista não leu apenas Os Miseráveis, o livro de Blake e os de Lautréamond, Mallarmé, Ovídio e Hesíodo. Isto é, seis dos cem. Tá bom.

P.S.- Milton mentiroso! Não li Finnegans também!

Este post foi publicado em 13 de dezembro de 2007, mas quase nada mudou.

Os 50 maiores livros (uma antologia pessoal): XXII – Oblómov, de Ivan Gontcharóv

Os 50 maiores livros (uma antologia pessoal): XXII – Oblómov, de Ivan Gontcharóv

Oblómov

Ivan Gontcharóv viveu uma longa vida para alguém do século XIX. Nasceu em 1812 e morreu em 1891, aos 79 anos. Passou longos anos como aposentado — desde 1867 –, dizem que sempre reclamando da vida. Publicou apenas quatro livros, sendo três romances. Ele considerava o último, O Precipício, o melhor. Peço desculpas, Ivan, mas é difícil acreditar que seja melhor que este célebre Oblómov. Valeu muito a pena enfrentar suas mais de setecentas páginas.

(Aqui, os outros livros desta série.)

Oblómov é a história de um indolente e apático latifundiário russo. Ele passa seus dias admirando o teto, embora seus muitos e graves problemas, principalmente os relativos a sua fazenda, que cada vez mais gera menos benefícios e onde é claramente roubado por seu administrador e servos. Mas a mera ideia de deixar sua poltrona ou cama causa-lhe desconforto. Então, ele deixa a inércia guiar sua vida.

Iliá Illich Oblómov é o personagem principal de um épico, trata-se de um Ulisses de roupão, desprovido de vontade. Não age, optando por ficar imóvel, na contracorrente dos eventos. Quando deita no sofá, sente-se protegido de todo estresse, da grosseria e da confusão que rege as ações humanas. Porém, sua atividade mental é grande. Não nasceu para ser um gladiador na arena, mas um pacífico espectador. No fundo era uma alma boa, pura — como tantas vezes sublinha Gontcharóv — e preguiçosa.

Na primeira parte do livro, vemos o personagem principal receber amigos em seu quarto. Os rápidos e vivos diálogos nos enganam: parece que estamos diante de um romance cômico, tal é a galeria de visitantes. A prosa de Gontcharóv é leve. Seu criado Zakhar — também preguiçoso, muito atrapalhado e burro — é uma criação hilária, digna da alta comédia. Essas esplêndidas 200 páginas iniciais são finalizadas com uma visita do amigo de infância Stolz e com o sonho de Oblómov. O sonho é uma longa e famosa passagem, escrita dez anos antes da publicação do romance, que ocorreu em 1859.

Zakhar e Oblómov
Zakhar e Oblómov: já já alguma coisa vai cair no chão…

Neste capítulo IX, o do sonho, o autor fala poética e debochadamente sobre como se formou a visão de mundo de Oblómov e seus ideais de vida. Podemos resumi-lo assim: Iliá Iliich adormeceu e sua infância distante vem até ele. Ele está de volta à propriedade dos pais, na aldeia de Oblomovka. A aldeia era mais ou menos isolada, a cidade mais próxima ficava a cerca de vinte quilômetros de distância e os Oblómov não faziam muita questão de facilitar o acesso à cidade, pois eram avessos a mudar sua vida e ainda mais ao progresso. Durante séculos viviam ali, presos a uma ordem patriarcal, cheios de histórias malucas e crendices, levando a sério cada “sinal”. A vida fluía com tranquilidade e tudo era deixado para depois. Os camponeses viviam despreocupados, não se esforçando por nada, não conheciam ou queriam outra vida.

O dono da propriedade, Oblómov pai, era igualmente preguiçoso e apático. Todos se espantavam pelo fato de um telhado cair, mas na véspera tinham se admirado por ele se aguentar suspenso por tanto tempo sem manutenção. O pai nunca pensava em conferir o cereal produzido e vendido, nem em cobrar explicações por alguma negligência na fazenda, mas, se demorassem a trazer seu lenço de nariz, fazia uma gritaria. Todos os interesses da família eram as refeições e um bom sono nas pausas. É arrebatadora a cena em que as mulheres fazem tricô e riem, enquanto os homens olham pela janela. Neste interminável far niente, o objetivo era não se incomodar. Os pais não atribuíam grande importância à educação e Oblómov era relutante em ir à escola. Seu amigo mais próximo, o citado Andrei Stoltz, filho do professor da aldeia, ajudava-o a fazer suas lições de casa.

Oblómov no elogiado filme homônimo de Nikita Mikhalkov
Oblómov no elogiado filme homônimo de Nikita Mikhalkov

O “Sonho de Oblomov ” parece uma descrição irônica do Paraíso na Terra, do País da Cocanha. O autor ridiculariza implacavelmente o modo de vida satisfeito e inativo da maioria dos proprietários desta época. O texto caracteriza o estilo de vida do adulto Iliá Ilitch Oblómov, apenas o local muda.

Como dissemos antes, o sonho foi escrito e publicado numa revista em 1849, dez anos antes de surgir Oblómov. Ele foi a gênese do romance. Só que Gontcharóv ficou muito chateado de os leitores tirarem conclusões de todo trabalho a partir apenas de sua extraordinária primeira parte. Gontcharóv chegou a alertar Tolstói: “Não leia a primeira parte de Oblomóv, leia o resto. Isso de 1849 não é bom”. Impossível concordar, Ivan. A primeira parte é espetacular, viva, engraçada, tendo como destaques não apenas o sonho como a relação do personagem principal com o mundo e com seu criado Zakhar, espécie de reflexo do patrão.

Pieter Bruegel, o Velho – O País da Cocanha
Pieter Bruegel, o Velho – O País da Cocanha (1567)

Nesta primeira parte, o livro pode ser considerado uma sátira à nobreza russa, cuja função econômica e social era cada vez mais discutida na Rússia, em meados do século XIX. O romance tornou-se imediatamente popular quando foi lançado e alguns de seus personagens e ações tiveram influência sobre a cultura e a linguagem russas. “Oblomovismo” tornou-se uma palavra usada para descrever alguém que exibe os traços de personalidade de preguiça ou inércia semelhantes aos do personagem principal do romance.

Ao final da primeira parte, entra em cena Stolz. Ele, homem prático e de resultados, procura repetidamente mudar seu amigo Iliá. O próprio admite seus problemas e tenta superar sua apatia. Faz reavaliações, mas o processo é sempre complicado, cheio de objeções. Em suas poucas horas vagas, Stolz ajuda Oblómov a consertar seus graves problemas financeiros, enquanto Tarantiev — outro amigo de Oblomovka — busca roubá-lo.

Graças ao amigo Stoltz, Oblómov conhece Olga, uma jovem por quem se apaixona. Então, vive um despertar. Ela exige que ele resolva os assuntos de sua propriedade, que ele esteja atualizado com o que está acontecendo no mundo, só que isso é demais. Não, não vou contar a boa história do amor entre ambos, apenas alguns detalhes “externos”.

Stolz contou para Olga da inteligência e do potencial do amigo. Eles se conheceram e as apaixonaram. Olga, muito mais madura, começa a planejar sua vida com Oblómov. É ela quem conduz o casal. Mas Oblómov, cheio de indecisões, oferece resistência passiva quando se trata de dar passos significativos na direção do casamento. Olga decepciona-se ao perceber que não é motivo suficiente para arrancá-lo da letargia e que Oblómov se contenta com um amor platônico. Em cena altamente emocional e tensa, daquelas em que a gente come o livro para saber como o autor vai fazer para que Oblómov cumpra seu destino, Gontcharóv… Não, nada de spoilers.

Na imagem de Oblómov também há características autobiográficas. O autor admitia sua indolência pessoal. Amava a paz e o silêncio. Durante uma longa viagem de navio, passou a maior parte do tempo na cabine, deitado no sofá. Seu apelido era “Príncipe”.

Do filme de Mikhalkov
Do filme de Mikhalkov

O aparecimento do romance coincidiu com o tempo da crise mais aguda da servidão. A imagem de um senhor de terras apático e incompetente, que cresceu e foi criado em uma serena propriedade que vivia do trabalho pouco produtivo de servos, era muito relevante para seus contemporâneos. Dobrolyubov, em seu artigo “O que é o oblomovismo?”, agradeceu ao romance por dar uma visão clara do problema. A pessoa de Iliá Iliich Oblómov mostraria como o calmo ambiente da aristocracia russa e a falta de uma educação desfiguram a natureza do homem, engendrando um inútil.

O caminho de Oblómov é típico dos nobres russos do campo nas décadas de 1840 e 1870. Eles iam para a capital e tornavam-se funcionários públicos. Queixavam-se, faziam fofocas, escreviam petições, estabeleciam relações com os chefes. Oblómov cumpriu a mesma trajetória, mas demitiu-se. Não quis escalar na carreira, preferindo fazer planos em seu sofá, sem aspirações.

Gontcharov foi depreciado por várias gerações de escritores russos: Dostoiévski descreveu-o como “um funcionariozeco com olhos de peixe cozido a quem Deus (...) concedeu um talento brilhante” (Legenda copiada o Publico.pt)
Gontcharov foi depreciado por várias gerações de escritores russos: Dostoiévski descreveu-o como “um funcionariozeco com olhos de peixe cozido a quem Deus (…) concedeu um talento brilhante” (Legenda copiada do Publico.pt)

Gontcharóv escreveu sobre seu herói: “Eu tinha um ideal artístico inicial, era uma natureza gentil e honesta, que pensava em lutar o tempo todo, buscando a verdade, enganando-se e caindo em apatia e impotência; depois criei uma variação disso”. Oblómov faz e refaz planos, planeja apenas, agita-se sobre o sofá e adia mesmo a simples tarefa de escrever uma carta. É o rei da procrastinação. Sua alma é a de um poeta, pronto a fruir da beleza e se apaixonar. A percepção que tem da música o demonstra. Cada reunião com o amigo de infância Stolz tira-o da pasmaceira, mas não por muito tempo: a determinação de fazer algo dura sempre um curto período de tempo. No entanto, Stolz tem sua vida, não tem tempo suficiente para colocar Oblómov em outro caminho. Mas em qualquer sociedade há pessoas como Tarantiev, sempre prontas para roubar um trouxa desinteressado por seus negócios. São eles, Stolz e Tarantiev, que determinam os dois caminhos possíveis. Oblómov, contudo…

Publicado em 1859, o romance foi um evento público. Apareceu numa época de excitação social, alguns anos antes da reforma camponesa, e foi visto como um chamado para combater a estagnação da Rússia. Imediatamente após a publicação, o livro foi assunto de discussões em críticas de jornais e entre escritores. Muitos viram na imagem de Oblómov a compreensão filosófica do caráter nacional russo, bem como uma indicação da possibilidade de um caminho moral diferente, que se opusesse ao agitado “progresso” que consome a existência… O fato é que Gontcharóv fez uma descoberta artística. A publicação de Oblómov e seu enorme sucesso deram-lhe a fama de um dos mais destacados escritores russos de sua época.

O notável e paradoxal era que o fato de que autor trabalhou como censor do czarismo… Era necessário ganhar dinheiro de alguma forma e o funcionário público Gontcharóv foi discreto. Jamais tomou decisões muito conservadoras, apesar de odiar o “niilismo”, uma “doutrina miserável e dependente do materialismo, socialismo e comunismo”. Imagina-se que, por ele, possam ter passado obras de Dostoiévski e Tolstói, entre outros. Ou seja, estranhamente, ele trabalhava defendendo os princípios do governo após criar uma poderosa arma de discussão social que o fez, décadas depois, um ídolo da URSS. Seguiu censor até o final de 1867, quando se aposentou por vontade própria. Terminou sua vida em profunda depressão, acusando outros autores de roubarem suas ideias.

Oblómov é um tremendo livro. Não vou contar a história a partir da segunda parte para não atrapalhar a leitura de vocês. O romance é sempre interessante em suas 700 páginas, tendo momentos de alta tensão na quarta parte.

A má notícia é que, hoje, o livro virou raridade no Brasil. Com o fim da Cosac Naify, nenhuma editora herdou o calhamaço maravilhosamente bem traduzido por Rubens Figueiredo. Neste minuto, a Estante Virtual tem um exemplar da edição da Cosac: ele custa R$ 500. O Mercado Livre tem duas, uma a R$ 349 e outra a R$ 475. A Amazon também indica um “novo” por 660,00. Assim fica difícil.

Gontcharóv é o da esquerda. Com a mão na cabeça, parece desejar dormir. Como Oblómov.
Gontcharóv é o da esquerda. Com a mão na cabeça, parece desejar dormir. Como Oblómov. De braços cruzados, o mais alto é Tolstói.

Obs. de 2020: a boa notícia é a Cia. das Letras acaba de relançar o livro. A nova capa está ao lado. Agora, ele custa R$ 84,90. Melhor, né?

Lendo Oblómov

Lendo Oblómov

OblómovEstou lendo cada vez mais lentamente Oblómov e não é por não estar gostando. É que não dá para interromper os capítulos no meio, há que ler cada um deles por inteiro, pois são peças muito perfeitas do mosaico que está sendo formado para serem lidas com interrupções. Dá mais prazer ler cada capítulo completo. O próximo capítulo tem 20 páginas, então preciso de 20 páginas de tempo sem correr riscos de ser atrapalhado.

Oblómov é a história de um latifundiário russo que se caracteriza pela indolência e apatia, para não dizer coisa pior. Deitado em seu sofá, olhando para o teto, ele deixa passar os dias. Embora vários problemas o atormentem — principalmente sua fazenda, que cada vez gera menos dividendos –, ele apenas planeja a melhor maneira de resolvê-los, sem agir. A mera ideia de deixar sua poltrona causa-lhe desconforto, então ele deixa a inércia guiar sua vida, que vai de mal a pior. A vida passa ao largo. Mas não pensem que é um livro monótono, muito pelo contrário, é bastante movimentado e os diálogos e os pensamentos de Oblómov são vivíssimos. Ele realmente tem o ócio como bandeira.

Ele tem um amigo de infância, Stolz, que é o que poderíamos chamar de homem de ação. No pequeno tempo livre de que dispõe, ele tenta retirar seu amigo da inação em que vive imerso. Instiga-o a resolver imediatamente seus problemas, a viajar e viver. Graças a Stolz, Oblomov conhece uma jovem por quem se apaixona. Então, vive um curto despertar. Aluga outra residência, visita e visita a amada. Porém, antes de casar, tem que resolver os assuntos de sua propriedade. Além disso, Olga quer que ele esteja atualizado com o que está acontecendo no mundo. Mas tudo isso parece ser uma demasia para ele.

Ele mora na cidade, mas planeja construir uma casa em sua propriedade para lá morar com Olga, mas seus rendimentos são decrescentes e o descontrole é absoluto. O que faço, o que faço, o que faço? Ele tem boas ideias a respeito, está consciente de tudo o que lhe ocorre, só que é o Rei da Procrastinação, o Príncipe da Indolência… Dispõe de criados que o servem e roubam. Zakhar, o principal deles, é um tremendo personagem, assim como todos os que circulam pelo romance.

O livro gerou uma expressão na Rússia: oblomovismo. Iliá Ilitch Oblómov representaria a velha Rússia czarista, com suas relações de trabalho e corrupção feudais. Os patrões são aristocratas inúteis, os servos são escravos. Já Andrei Stolz representaria o futuro e o progresso. Era uma estrutura social onde uns e outros estavam em decadência e se os grandes temas da humanidade são o amor, a morte e a existência ou não de Deus, creio que a decadência mereça o quarto lugar.

P.S. — Estou na página 490 de 736.

Cena do filme Oblómov, de Nikita Mikhalkov
Cena do filme Oblómov, de Nikita Mikhalkov