Tertulha Virtual (Tema: Água) – A Fonte da Donzela (Final)

Participando da Tertulha Virtual, criada pelo grande Eduardo Lunardelli do blog Varal de Idéias, deixo aqui para vocês o extraordinário momento em que a fonte de água (ou da vida) nasce sob a cabeça da filha cruelmente assassinada. Bergman é sempre perfeito e vale a pena ver não apenas esta seqüência final mas todo o filme. Porém o motivo de minha postagem começa aos 4min02.

A Fonte da Donzela é um filme de 1960. Trata-se da maravilhosa encenação e filmagem de uma lenda medieval sueca, cuja história copio abaixo. O vídeo está dublado em italiano… Acho que dá para entender.

Grande abraço, Eduardo.

Na Suécia do século XIV, Töre e sua mulher Märeta formam um casal que tem uma propriedade rural. Cristãos fervorosos, incumbem sua filha única, Karin, uma bela adolescente virgem, de quinze anos, de levar velas à igreja do vilarejo próximo e acendê-las em louvor à Virgem Maria.

Com licença da mãe, ela veste seu mais valioso vestido e parte, a cavalo, através de uma floresta, para realizar a missão a ela confiada. Acompanhando-a, segue ao seu lado, Ingeri, uma criada tida como filha adotiva do casal Töre, que se acha grávida.

No caminho, ao passarem por um culto de magia, Ingeri diz à Karin que vai voltar, por achar que anoitecerá antes que elas consigam chegar à igreja. Decidida a atender ao pedido dos pais, Karin segue em frente sozinha. Enquanto isso, movida por um enorme ciúme que sente da jovem, Ingeri participa de um ritual do culto a Odin, com a intenção de que algo de mal ocorra à Karin. Em seguida, passa a acompanhá-la, mantendo uma certa distância da jovem.

Ao encontrar dois pastores de cabras e um garoto, Karin os convida para dividir uma refeição que sua mãe havia preparado para ela. Em seguida, é agredida sexualmente pelos dois homens, os quais, após estuprá-la, a matam com um porrete. Ingeri, impotente, assiste a tudo.

Quando a noite cai, ironicamente os criminosos vão pedir comida e abrigo aos pais de Karin. São recebidos cordialmente e, depois de acomodá-los, Töre lhes promete trabalho. Märeta mostra-se nervosa, pois a filha ainda não retornou da igreja, mas o marido tenta tranqüilizá-la dizendo-lhe que em outras ocasiões Karin dormiu no lugarejo.

O temor da mãe se concretiza quando um dos pastores, sem imaginar onde se encontram, tenta vender, à Märeta, um vestido que alega ter sido de uma irmã dele. Ela reconhece o vestido de sua filha e, controlando-se, promete-lhe pensar no assunto. Ao falar com Töre, os dois têm certeza do triste destino da filha, pois a peça acha-se suja de sangue.

Ao encontrar-se com Ingeri, Töre toma conhecimento dos detalhes do brutal ataque sofrido pela filha, que a levou à morte. A jovem pede-lhe perdão por se sentir culpada pelo ocorrido à Karin. Movido por um forte sentimento de vingança, Töre mata os criminosos.

Na manhã seguinte, guiados por Ingeri, todos seguem até o local onde se encontra o corpo de Karin. Enquanto Märeta abraça-se ao corpo da filha, Töre, em sua crise de desespero, interroga Deus sobre os motivos que o levaram a permitir tamanha tragédia. A seguir, entretanto, ele implora seu perdão por seus pecados e promete construir, com suas próprias mãos, uma igreja no local, em penitência por sua vingança sanguinária.

Ao retirarem o corpo de Karin, surge milagrosamente uma fonte de água exatamente no local onde o mesmo se encontrava.

Crítica

Uma lenda medieval sueca inspirou a fábula “A Filha de Töre em Vangé”. “A Fonte da Donzela”, por sua vez, foi baseada nessa fábula. Realizado pelo grande mestre do cinema sueco, Ingmar Bergman, sua trama gira em torno de uma jovem adolescente e virgem que, ao ser estuprada e morta, faz surgir milagrosamente uma fonte de água no local do crime.

Soberbamente fotografado em preto-e-branco por Sven Nykvist, parceiro de Bergman em inúmeros filmes, esta magnífica produção carrega consigo uma mensagem de fé e esperança do homem, mesmo depois de passar por uma enorme tragédia.

Como em diversos outros filmes de Bergman, temas como a violência, a vingança e a necessidade de redenção acham-se presentes. Aliás, raramente tive a oportunidade de, no cinema, ver tais temas serem tratados com a delicadeza impressa por este consagrado cineasta em “A Fonte da Donzela”. A religiosidade e a presença de Deus, dois outros temas recorrentes na obra de Bergman, acham-se igualmente presentes.

Retirado daqui.

Lula em Bagé

Depois de tirar foto com poncho e boina e ainda empolgado com aquele comovente discurso em que nos informou, pela primeira vez, que tem vergonha na cara, o presidente Lula foi tomar um cafezinho num bar da sete de setembro, a principal rua de Bagé.

Lá defrontou-se com um gauchão, já meio mamado, que puxou assunto:

— E aí, presidente, dizem que em Brasília a situação tá mais quente que frigideira sem cabo.
— O Corinthians ganhou do…
— Mas o povo, aqui em Bagé, anda mais sobressaltado que cozinheiro de hospício.
— Fique calmo. Com o companheiro Meirelles no Banco Central, não tem crise.
— Presidente, eu sei que cusco não se mete em briga de cachorro grande, mas é verdade que o senhor cortou mesmo o mensalão?
— A minha assessoria já emitiu nota oficial sobre esse assunto.
— O Roberto Jefferson disse que os deputados ficaram de boca aberta, como burro que comeu urtiga.
— Isso de mensalão não existe neste país.
— Bah, mas o Roberto Jefferson sabe das coisas! Ele é mais informado que gerente de funerária.
— Se alguém errou, tem que pagar.
— Presidente, me desculpe, eu sou mais grosso que papel de enrolar prego, mas o que o senhor fez não tem sentido. Os pobres deputados já estavam acostumados com a mesadinha. Ficaram mais atazanados que galinha agarrada pelo rabo.
— Eu estou tranqüilo! Neste país ninguém é mais ético do que eu! Está ouvindo?
— Calma, presidente! O senhor me parece mais nervoso do que potro com mosca no ouvido.
– Me respeite! Tenho um diploma do Senai que vale mais do que muito doutorado.
— Concordo. Meu irmão, que se formou na faculdade, é mais chato que chinelo de gordo. Mas, voltando à vaca fria, me diga: porque o Zé Dirceu anda mais ansioso que anão em comício?
— O companheiro Zé Dirceu está recolhido, preparando sua defesa.
— O José Dirceu vivia alegre, dando ordem pra todo mundo, mas agora anda mais nervoso que velha em canoa. Não fala mais com a imprensa. Está mais calado que guri que se borrou nas bombachas.
— Fique sabendo que, doa a quem doer, eu vou cortar na minha própria…
— E o Delúbio na CPI? Estava mais escorregadio que telefone de açougueiro. É um bicho matreiro. Se fez de leitão pra mamar deitado. Simpatizei com ele, mas aquele goiano é mais falso que idade de mulher.
— Enquanto não surgirem provas, o companheiro Delúbio Soares é inocente.
— E aquele tal de Sílvio Pereira? Falava mais rápido que enterro de bexiguento. Não entendi nada do que ele disse. Ou não disse.
— No momento oportuno, no fórum adequado, os companheiros apresentarão suas defesas.
— E o carequinha? O tal de Marcos Valério de Souza parecia mais assustado que barata atravessando galinheiro. Acho que ele estava com medo de sair de lá preso.
— O PT é o PT e o governo é o governo…
— Os jornais estão dizendo que, nos dias de pagamento, no Banco Rural, se juntavam por lá mais assessores do que corvos em carniça de vaca atolada.
— Isso é maldade dos tucanos. FH tem inveja do meu maravilhoso governo.
— Pode ser. Fernando Henrique é mais manhoso do que gato que quer pegar passarinho. Ele disse que, no que se refere a tocar o governo, o senhor é mais vagaroso do que tropeiro de lesma.
— Vamos mudar de assunto. FH me deixa irritado.
— Está bem. Dizem que o senhor ficou muito amigo do Severino. Que andam juntos pra todo lado, mais grudados que cocô em tamanco de leiteiro. É verdade?
— O companheiro Severino merece o maior respeito. É nordestino e pobre como eu.
— Estou sabendo, mas tome cuidado! O Severino é mais esperto que cavalo de contrabandista. Dizem que ele é mais ligado do que rádio de preso.
— Será que o companheiro gauchão poderia me deixar em paz?
— Mas, bah, é claro. Sei que o senhor anda sofrendo mais que joelho de freira em Semana Santa. Me desculpe, mas eu gosto de espichar assunto. Minhas conversas são mais compridas que trova de gago. Mas eu não resisti: o senhor é um homem mais conhecido do que parteira de campanha e aí, eu…
— Me dê licença. Agora, vou pegar o Aerolula. Estou em cima da hora.
— Sei como é. Todo político é apressado que nem cavalo de carteiro.
— Fui!

Texto de Lourenço Cazarré, jornalista e escritor gaúcho.

Obs.: Agradeço ao Milton Saad por ter enviado este texto e aproveito para dizer que ele tem pé mais frio do que china fazendo ponto no inverno. Explico: ontem, ele, colorado como eu, foi assistir Inter 0 x 1 Santos com a minha carteira de sócio e viu que Robinho é mais liso que Delúbio em CPI.

A Maria Luiza e a anárquica Tina

Minha mãe completou 81 anos no dia 5 de julho. Seus 81 foram melhores que os 80 e os 79. Em seu último período no hospital, pensei (pensamos) muitas vezes que ela não voltaria mais para casa. Só que, após o isolamento em que ficou devido a uma infecção respiratória, os médicos puderam reavaliar a medicação que tomava e esta foi super-reduzida. E descobrimos que grande parte de sua prostração ocorria pelo excesso de remédios; ou seja, ela estava dopada.

Não culpo os médicos; afinal, em fevereiro de 2007, ela passou dois meses internada e, cada vez que os calmantes eram reduzidos, tornava-se agressiva e gritava a ponto dos outros pacientes ficarem irritados… Certamente os que a atenderam desta vez –- Dr. Sérgio Loss, Dr. Barbieux e um certo Adriano que nunca vi -–, usaram de bom senso ao aproveitar este longo período de hospitalização para repensar todo o coquetel. O resultado é que ela está sorridente, calma e vígil, apesar da absoluta confusão mental. Aqueles que a viram com a cabeça caída sobre o peito e com o olhar vago, vão se surpreender com a nova primavera da Dra. Maria Luiza, a querida bobinha feliz que muitas vezes não me reconhece, apesar de sempre repetir que fico melhor de cabelo curto.

Ele retornou para minha casa no dia de seu aniversário. Pois, logo após a volta da Dra. Maria Luiza, recebi a notícia do falecimento da Tina Oiticica Harris, do blog Universo Anárquico, habitual comentarista deste blog e com quem tinha trocas de e-mails bastante agitadas e… anárquicas. Faria 56 anos no dia 9 e sempre convidava a mim e à Claudia para irmos aos EUA visitá-la e a sua família. Prometia deixar seus gatos num hotel para que não me incomodassem… Uma vez, ela se referiu ao fato de que as trocas de letras em seus textos eram devidas a uma hidrocefalia, mas o assunto parou por aí porque tínhamos piadas a inventar um para o outro. Não sei qual foi a causa da morte, ocorrida dia 7, dois dias antes de seu aniversário. A notícia veio através de um post escrito por seu marido. Ele, o americano Nicolas, tentava manter o bom humor enquanto nos narrava a notícia num português arrevesado. O texto começa assim:

Um aniversário bem anárquico, por Nicolas Rouquette

Não consegui dormir a três horas da manha hoje, o dia de o aniversário de 56 anos de mi Tinazinha gostozinha; Infelizmente, a grande Madame no besteirol esta indisponível para resolver para a gente nesse anacronismo bem anárquico do aniversário dela.

Que aconteceu?

E então narra os acontecimentos, finalizando assim:

Já tem com muito saudade de o único amante da minha vida. Agora entende melhor que a vida da Tina estava anárquica em muito aspetos. Si você tem uma historia que você pode escrever, me gostaria muito ler disso. Por favor, em memória dela, da uma consideração para escrever qualquer memórias gostosa da Tina como um “guest” nesse blogo.

Ora, Nicolas, todas as memórias que tenho da Tina são tão alegres, pontuadas de “blasfêmias” -– palavra que ela sempre usava para caracterizar a forma como eu me referia a quase tudo –- e de tudo que fosse politicamente incorreto que não saberia por onde começar. A Madame do Besteirol me chamava de o seu Bad Boy e a melhor lembrança dela foram os inúmeros comentários que aquele Curriculum Vitae recebeu. Nos e-mails, ela me contou que os traduzia para ti, Nicolas, e que vocês riam dos absurdos. Guardo uma bela lembrança dela.

Um Tesouro

Ele tinha me mandado os quatro primeiros em dezembro de 2007. Eu só ouvi agora e achei-os sensacionais.

O que eu não sabia é que, em janeiro deste ano, o Serbão deixou disponiveis em seu blog todos os CDs dos Beatles, todos os 14 mais os 3 de singles e esparsos, isto é, todos os 17 CDs. Você está pensando: grande coisa, como se todo mundo não tivesse os CDs dos Beatles… Aí é que você se engana. A novidade é que ele os refez utilizando somente covers, comprovando que absolutamente todas as músicas do quarteto receberam um ou mais covers. E todas as faixas, uma por uma, ordenadas em arquivos para formar cada um, um dos discos dos Beatles, estão disponíveis aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, e aqui.

Sergio Bomfim SerbaoAo lado, Sérgio Bomfim, o Serbão ou Serbon. Imagino o trabalhão que deu fazer isso. Depois sou eu o louco, arrã… Louco é ele.

Voltando aos CDs, há uma surpresa por faixa. Há versões esplêndidas, versões desafinadas (como as de Renato e seus Blue Caps), versões originais, versões nada originais, versões originalíssimas, versões kitsch, versões engraçadas, etc. É pura diversão para quem gosta e conhece os Beatles. Aproveite que os links ainda não expiraram!

O estado de espírito do dono do blog

Claro, este blog é a mistura de tudo o que passa por minha cabeça e de algumas coisas que ela recebe, mas quando passo por um período tenso a tendência é a de ele se torne mais e mais confessional. Só que desta vez a coisa tem doído um pouco mais e até deitar pensar os problemas no blog tem sido mais complicado que consolador. Estou com lógicos e péssimos pressentimentos sobre o futuro de minha mãe. Doente há muito tempo e cada vez mais vivendo em seu mundo, piorou muito nos últimos dias, mesmo tendo saído da UTI para uma zona chamada “Intermediária”.

Tenho a impressão de não estar nem irritado, nem deprimido, nem tenso, mas isto é falso, pois sei que poderia explodir à menor contrariedade. Fico meio abobalhado, olhando sem interesse as milhares de fotos que tenho no micro. Não há surpresa na situação; afinal, era o esperado para quem tem uma doença prima-irmã do Alzheimer (*), só que a constatação de que as doenças degenerativas são exatamente aquilo que as pessoas mais realistas me descreveram e que chegam a pontos solidamente injustos e desnecessários… Olha, é foda. Para que tanto sofrimento? Porém, ao passar por esta foto aqui…

Sean Connery Zardoz

… é impossível não rir e desviar o pensamento, desejando saber o que Sean Connery diria dela hoje. Amanhã, mais hospital. Dr. Cláudio Costa ligou amiga e gentilmente de Belo Horizonte e eu lhe disse com a maior calma do mundo que, se realmente tivermos que somar à inconsciência da doença outras impossibilidades, melhor seria a eutanásia. Dia cansativo. Agradeço a meu psiquiatra preferido por ter me ligado. Foi um bom momento que só vi repetido agora, ao chegar em casa.

(*) Algum tipo de demência resultante de uma queda ocorrida há quase dois anos. Não há sentido em fazer uma biópsia a fim de descobrir o nome correto da doença, pois o pequeno leque de possibilidades que não mudaria o tratamento.

30 horas

As últimas 30 horas do fim de semana foram algo como um carrossel de emoções (como dizia a Bia).

1. Visita a minha mãe na UTI: ela sofre do Mal de Alzheimer ou de algo perto disso; foi fazer uns exames e, fraca, acabou na UTI. Sedada, deitada e intubada (*), era uma visão deprimente.

2. Inter 2 x 1 Botafogo: meu filho queria porque queria ir ao jogo. Não sei se queria mesmo ou se sua intenção era a de me afastar do trabalho e do hospital. Ganhamos o jogo. Surpreendentemente, a estréia do Tite foi boa.

3. Esplêndido convite: liga a Astrid, mulher do meu amigo Augusto, perguntando se temos programa para o sábado à noite. Não tínhamos. Então, ela perguntou quantos nós éramos, pediu que arrumássemos a mesa com pratos fundos, colher, garfo e faca, além de copos para água e vinho. Precisaríamos produzir uma sobremesa para esperá-los? Que vinho escolheríamos? Não, nada disso, ela e o Augusto trariam absolutamente tudo, da comida à sobremesa, passando pelo vinho. Noite inesquecível, companhia e música perfeitas. Só o meu cansaço destoava.

4. UTI: nova visita a minha mãe no domingo pela manhã. A mesma coisa. Inconsciente como quase sempre está.

5. Longe dela: talvez pelo contexto, quis ver o filme em que Julie Christie faz uma personagem que sofre de Alzheimer. Um filme muito bom que, se não nos dá a extensão do trabalho e do horror, dá o tamanho psicológico da perda.

6. Control: em seguida, mais um filme. Putz, e era mais deprimente ainda. Trata da curta vida de Ian Curtis, vocalista da banda Joy Division. A atuação dos atores é digna dos mais rasgados elogios. Notável.

7. Dunga: fico sabendo da derrota brasileira e penso na crônica que escreverei para o Impedimento. Explicarei meus motivos para comemorar este tipo de resultado.

(*) ENTUBAR – Entubar ou Intubar?
Entós (grego)= posição interior. Documenta-se em vocábulos introduzidos na linguagem científica a partir do século XIX.
Intus (latim)= para dentro.
Como tubo(cânula endotraqueal) vem do latim tubus, a palavra correta é intubar.

Retirado do Dicionário das Agressões Médicas à Língua Portuguesa.

Hoje, cinco anos de blog

Acompanhar blogs é uma coisa estranha. Quando caminho distraído pela rua, quando divago esperando o sono chegar ou quando dirijo meu carro, carrego comigo fatias das histórias e dos textos de muitos blogueiros. Alguns são confessionais e a gente vai pouco a pouco montando as histórias de seus donos. Outros se pretendem não confessionais, mas só nos dão um pouco mais de trabalho. Não sei quantas amizades fiz através do blog; garanto que foram muitas mais do que faria desconectado e, se foram 7 ou 700, é o que menos interessa. O que importa é que conheci muitas pessoas afins e quem tem afinidade conosco é sempre alguém maravilhoso, não? Peraí, esta frase foi um indisfarçado autoelogio, então deixem-me reformular dizendo que é sempre maravilhoso encontrar alguém que guarde afinidade conosco, alguém que tenha a potencialidade de conversar de chinelos conosco, sentado em nossa cozinha com tudo por lavar. Mas ainda não está bom; talvez fosse melhor dizer que o maravilhoso do blog é conhecer pessoas que abordam a vida de forma semelhante à nossa e sentir que podemos admirá-las. Há em todas estas tentativas de frase um forte componente narcisista, mas estamos livres disto em nossa grande reunião? E… onde estaríamos 100% livres de nosso narcisismo se até na forma com que passamos a faca na manteiga há paixão, estilo e, portanto, narcisismo?

Bem, perdi o foco. Queria dizer que blogar não me dá grande trabalho, pois escrevo meus textos mentalmente a qualquer momento e depois é só transcrevê-los no teclado. Não, nenhum sofrimento, nenhuma dor pré-parto, nada. Estou adestrado. Chego no computador com a estrutura, o plot e algumas expressões prontas. Minha mulher acha que passo horas preparando o que publico, mas é um equívoco. O que ela não desconfia é que metade da minha mente está atenta à vida cotidiana, metade está escrevendo para o blog ou para mim mesmo e metade está tocando música. É um tumulto como a cabeça de qualquer um.

Mas voltemos ao assunto do título. Hoje, completo 5 anos de blog. Mesmo com pouco tempo disponível, não pretendo parar. Começou despretensiosamente e, quando soube da visitação, virou quase trabalho. Se comparada a de alguns colegas, nunca tive grande popularidade, mas tenho números suficientes para me deixar ligado. Aqui, em meu mural, falo em público sem ficar nervoso, viro tarado aos sábados, resenho livros, crio minha pobre ficção, provoco, me coleciono, faço e aconteço. Não sou tímido, mas aqui sou ainda menos. Perfeito! Mas gosto tanto de escrever quanto de acompanhar as fatias de vida e arte que nos são expostas pelos outros blogueiros e fazer minhas montagens. É um enorme quebra-cabeças espalhado pelo chão.

Confesso ser um privilegiado

Monica Salmaso 11. Ela é uma cantora musicista, se vocês entendem o que quero dizer: é que o termo cantora está tão perniciosamente ampliado por artistas performáticos, midiáticos e macaquéticos que talvez seja necessário explicar que ela é uma artista que singelamente entra no palco e canta. Só? Não, ela é a melhor. E é apaixonada (muito) pelo que faz e é simpática (muito) e é inteligente (muito) e é uma solidária antidiva (muito) que divide seus méritos com os músicos. Mônica Salmaso se apresentará hoje em Porto Alegre, fazendo soprar, pelo velho Teatro São Pedro, o melhor ar sonoro deste sábado. Eu, Carol e Bernardo – graças à Helen, que comprou os ingressos há quase vinte dias e ainda não recebeu ressarcimento… – estaremos lá. Um privilégio, sem dúvida. Na saída, um bar ou análogo com todos exibindo moralmente alguns centímetros a mais.

2. Ontem, participei como entrevistado de uma aula do Curso de Letras da PUC. Fui muito bem tratado pela turma do professor Charles Kiefer. Assuntos: literatura, blogs, internet e alguns temas inesperados — como o levantado por aquela bela moça sobre a vaidade de todo escritor-blogueiro, de todo escritor, de todo blogueiro… Falei por quase duas horas a 60 atentos alunos, mas minha vaidade despertada teria suportado outras três. Sou um privilegiado, n’est-ce pas? Resta-me agradecer à Simone Vey pelo convite.

Hospedando Tolstói

Foram duas discussões bastante duras e Idelber Avelar abandonou minha casa ontem à noite. O primeiro desacerto foi documentado por meu filho fotógrafo. Vejam o flagrante abaixo:

Milton X Idelber

Peço desculpas a meus leitores por submeter-lhes a um “Onde está Wally?”, mas é o que temos. Mais ou menos no centro da foto, estou à direita de um cidadão de óculos e camiseta branca. Eu olho para um Idelber empertigado e indignado – ele é a única pessoa no estádio que não está voltada para o campo de jogo. A meu lado, no lado direito da foto, há um sujeito loiro, vestindo vermelho. Seu nome é Paul. Minutos antes de nossa acerba discussão, Paul tinha dirigido a palavra a mim:

– Eu te conheço, sou teu leitor. Tu és o Milton Ribeiro e foste da Verbeat para o OPS.

Isso não acontece todo o dia e confesso ter ficado envaidecido. Mui gentimente, agradeci e apresentei Paul a Idelber Avelar. Foi a apresentação que um cara modesto como eu (200 visitas diárias) faz de um überblogger (5.000 visitas diárias). Eu disse

– Paul, muito obrigado, fico até comovido. – E completei:

– Este é o Idelber Avelar, do Biscoito Fino e a Massa.

– Desculpe, não conheço. Não leio todos os blogs.

– Claro que conhece, Paul! – disse e pisquei para ele. – Ele tem 200.000 visitas a cada domingo… O nome do blog baseia-se numa citação de Oswald de Andrade “a massa ainda comerá o biscoito fino que eu fabrico” e ele…

– Comerá o biscoito? Hahahahahaha, tô fora, Milton, desculpa.

Ora, confesso ter sorrido; sei lá, talvez rido; alguém diria que tenha gargalhado. O fato é que Idelber indignou-se de tal forma que quase chegamos às vias de fato minutos após nosso primeiro encontro! A discussão foi tão ridícula e ociosa, que provocou risos no casal à esquerda da foto, cuja moça olha para o fotógrafo. Fomos impedidos de sair a socos e pontapés em plena arquibancada pela moça de enormes brincos e disposição ainda maior cuja cabeça impede que meus leitores possam ver meu cotovelo direito. Ela é campeã de Kickboxing e seu pézinho tem miraculosa mira. Ela acentuou a sensiblidade de partes delicadas do meu corpo. Paul sentiu-se tão culpado com o fato que publicou ontem um comentário em meu blog:

Olá Milton! Aqui fala o Paul, falei contigo no Beira-rio sábado. Cara, eu não entendi quando tu me disse o nome dele (provavelmente porque eu havia derrubado o copo de cerveja e estava tentando ver se havia dado um banho em alguém…), mas é óbvio que muito já li o blog do Idelber.
Eu acompanhava o teu outro blog pelos feeds da Verbeat, agora já vou incluir o “Ops” no google reader.

Grande abraço, e saudações coloradas!

Notaram o problema do rapaz? Dois dias depois ele vem a meu blog negar que desconhecia o obscuro Idelber (é óbvio que nunca passou nem perto do Biscoito). Bem, voltando aos fatos ocorridos no Beira-Rio: depois de lograrem acabar com as intenções assassinas de nosso professor, Paul e a menina dos brincos foram vistos rolando abraçados na rampa do Beira-Rio. Desconheço se ela viu o Biscoito ou apenas sentiu-o, mas espero que o Sr. Paul volte a nossa caixa de comentários com a finalidade de esclarecer o detalhe.

Ontem, Idelber Avelar voltou a se descontrolar. Manifestou exagerado ódio contra mim ao ver que eu ainda utilizava o Internet Explorer.

– Porra, pára de usar AGORA esta merda produzida pelo Bill Gates.

– Mas, Idelber, tu usas o Windows da Microsoft controlando o teu querido Firefox. Temos algo em comum, râni! – ao chamá-lo de Râni, tentava apenas demonstrar carinho.

– Conhecidos meus meu não usam essa porcaria, Milton. Instala agora o Fire! É mais rápido do que esta bosta que utilizas – sim, ele está tentando falar um gauchês plus. – Já faz vários anos que utilizo o Firefox. Ele é simplesmente o melhor navegador que já encontrei para meu Biscoito. Já utilizei Internet Explorer, Netscape, Opera, Konqueror e Safari mas nenhum deles satisfez minhas necessidades. Uso o Firefox por causa de suas extensões. Existe extensão para tudo, até para o Biscoito.

E saiu para fumar. Era uma da madrugada. Minutos depois, ouvi uma porta bater forte, como se comunicasse uma decisão aos que ficavam e procurasse deixar para trás seu mau humor. Não havia vento, porém a batida foi tão violenta que trouxe certo odor de tabaco. Ele não deve estar longe; afinal, deixou seus filhos lá em casa. Acabo de instalar o Firefox e termino este post para ir atrás do professor Idelber. Tenho certeza de que o encontrarei batendo papo com o gerente de alguma estação de trem. Levarei meu notebook e lhe mostrarei o Firefox instalado. Vai dar certo.

-=-=-=-=-=-

O Papa acaba de acrescentar seis pecados aos conhecidos sete originais. É lamentável, pois ainda não estou inteiramente adaptado àqueles e o homem me aumenta o tema de casa.

1. Fazer modificação genética.
2. Poluir o meio ambiente.
3. Causar injustiça social.
4. Causar pobreza.
5. Tornar-se extremamente rico.
6. Usar drogas.

Os novos pecados dois a dois ou Gioco delle coppie (afinal, amo Béla Bártok):

2 e 6: Esses estão bem postos.
1 e 5: Poucos podem cometer o primeiro pecado e a Igreja Católica comete o quinto há séculos.
3 e 4: O terceiro e quarto serão fartamente utilizados pelos católicos do PT. Eles agradecem. Apenas eles.

Notícias da Família Avelar

Chegaram sábado, quase que direto, fomos ao jogo do Inter. Idelber e seu filho Alexandre impressionaram-se com a frieza de nossa torcida. Todos sentados, assistindo ao jogo. Só a Popular, abaixo de nós, comportava-se como a Massa, mas tomada de grande cansaço. Engraçado, o Inter é um time recentemente bem sucedido, que enche estádios, mas sua torcida é cada vez mais tranqüila. À noite, tivemos uma festa em parte convidada por mim, em parte por ele e em parte auto-convidada. Conhecemos a Gabriela Zago, tímida e risonha Twitter no meio de uns caras muito faladores; reconhecemos a ala colorada do Impedimento, Daniel Cassol e Douglas Ceconello; esteve lá meu querido ex-chefe Tiago Casagrande, em noite de grande inspiração.

Ontem, dia de brique, Barranco e calor insano, foi dia de Katarina Peixoto, de seu maridão, do César do Animot e de um monte de não-blogueiros não menos interessantes.

O Idelber conhece bastante Porto Alegre e os convites vão acontecendo de um jeito inesperado, ao menos para mim. Se me contassem que, após 48h, o homem só faria uma refeição lá em casa, não acreditaria.

Uma história certamente pouco divulgada e que deve figurar em meu blog – mais pessoal e íntimo que o dele – é o jeito com que o Idelber relaciona-se com seus filhos. São eles o Alexandre, um menino de 11 anos, e Laura, uma menina de 8. O Alexandre é um projeto de adolescente ensimesmado, mas felizmente isto tem de ser somado a uma perfeita calma e gentileza. Mesmo com o iPod nos ouvidos, está ligado, pricipalmente se houver comida por perto. Como o pai, sabe tudo de futebol. A Laura também não é especialmente loquaz, porém impressiona pela maturidade e por gostar de cozinhar, fato que a fez ser adotada imediatamente por minha mulher. Gosta de palavras e dá explicações muito acima do esperado para seus 8 aninhos. Os dois demonstram que o Idelber é pouco comparado ao que virá.

P.S.- Cadê as fotos, Bernardo?

A Primeira Impedfest

O povo do futebol só pode orgulhar-se da I Impedfest promovida no último sábado pelo pessoal do Impedimento. Em evento de mais de 12 horas de duração, os donos do bar Parangolé (Av. Lima e Silva, Porto Alegre) viram seus estoques de cerveja sumirem rapidamente à sombra das camisetas imortais.

Impedfest 022

Engraçado. Gremistas e colorados, quando reúnem-se em torno de uma mesa bem regada, tornam-se filosóficos como os gregos e mais confessionais do que blog adolescente. Foi emocionante ouvir o Leo Ponso declarando que sua maior dor não foi o título mundial do Inter, mas a saída do grande Tinga para o Inter. Fizemos as pazes quando lhe contei minha vida sob Ronaldinho e meu ano de 1995. Depois, para variar, filosofamos junto com o Douglas Ceconello sobre o que nos leva a ser apaixonados assim e divagamos sobre os motivos da mística de certas camisetas. Daniel Cassol gravou entrevistas e há uma em que descrevo o gol que Falcão fez no Atlético-MG, em 1976.

Foi um belo final de tarde.

Abaixo, Douglas (de óculos) observa a construção do varal sagrado. No alto, Leo Ponso.

Douglas Impedimento

Obs.: As expressões “varal sagrado” e mesmo a rodrigueana “à sombra das camisetas imortais” foram copiadas de post do Impedimento.