No ano passado, a ex-atriz e atual deputada pelo PSD Myrian Rios, declarou que jamais contrataria homossexuais ou pedófilos para trabalharem com ela… Agora, ela criou uma lei retórica e patética, sem nenhuma chance de ser aplicável seriamente. A coisa não pode ser mais vaga: a lei promoverá o resgate da cidadania, o fortalecimento das relações humanas e a valorização da família, da escola e da comunidade “como um todo”. Será posta em prática através de parcerias com as prefeituras e a sociedade civil.
O que eu gostaria de saber é onde devemos guardar essas revistas agora, após a promulgação da lei. Vão nos prender?
Depois de sua fase hardcore, a santa criatura já fez várias tentativas de santificação. Primeiro, esteve casada com o Papai Noel Roberto Carlos por onze anos.
Não deu certo. Então ela passou a frequentar a Renovação Carismática da Igreja Católica. Myrian foi uma eficiente crédula. Conseguiu aprovar uma emenda orçamentária que destinava R$ 5 milhões à Jornada Mundial da Juventude, um evento católico.
Mas não deu certo. Hoje é evangélica e vai aos cultos da Igreja Internacional da Graça de Deus, em Copacabana, zona sul do Rio. “Tenho fome de entender a Bíblia.”
Acho que também não está dando certo. Não deve estar conseguindo entender a Bíblia, apesar do texto fácil.
Então, hoje enche o nosso saco. E eu, que pensava que a cidadania e os valores éticos não surgiam por meio de leis? E eu, que pensava que o estado devia ser laico?
Um cara subiu numa árvore aqui na rua, depois subiu em outra, e desligou a Net de todos. Segundo os caras que vieram repor os cabos, a metragem roubada dá para vender por uns R$ 20,00. E vocês ficaram sem o PHES de hoje. Peço perdão por ter deixado meus sete leitores na mão. Agora me digam uma coisa: por que esses cabos não são ENTERRADOS? Por que tem de ficar a disposição dos ladrões, atrapalhando a paisagem e sendo ameaçados por árvores que eventualmente caem sobre eles e carros que derrubam seus postes? Hein?
Em Os Desajustados (The Misfits, 1961), último filme com Marilyn Monroe, há uma cena em que Gay (Clark Gable), olha para Marilyn e diz que ela é uma mulher triste. Ela responde que ele é único a perceber isto, já que todos acham-na feliz. Gable então replica dizendo que ela é uma mulher triste que deixa os outros felizes. O dramaturgo Arthur Miller certamente estava pensando em sua esposa Marilyn Monroe quando escreveu o roteiro do filme. Ali, ele não somente prestava homenagem a ela, dando-lhe uma personagem que não era somente caras e bocas, mas fazendo-lhe uma curta e poética definição. É um grande momento do cinema. Restitui a integridade de uma mulher que devia servir apenas ao divertimento do mundo.
Porém, a morte de Marilyn Monroe, ocorrida há 50 anos, no dia 5 de agosto de 1962, foi um exemplo de indignidade. É certo que a atriz tomava muitos remédios e era bastante problemática — mas é muito provável, quase certo, que haja coadjuvantes no ato final e que estes coadjuvantes fossem representantes de protagonistas da vida pública norte-americana. A notícia de sua morte chocou o mundo, tendo prevalecido a versão da overdose por barbitúricos. Mas ninguém sabe ao certo o que aconteceu naquela noite. Ouviram-se helicópteros. Uma ambulância foi vista esperando fora da casa antes que a empregada desse o alarme. As gravações de seus telefonemas sumiram, assim como o relatório da autópsia. Os amigos de Marilyn que tentaram investigar o caso receberam ameaças de morte. A documentação do FBI foi suprimida. Todos os caminhos para o esclarecimento de sua morte foram fechados, sinal de que ela se envolvera com algo que, naquela época, era maior do que ela.
Um poster despertou a curiosidade de JFK
Sabe-se do escândalo que ocorre cada vez que um presidente ou político norte-americano faz algo incorreto, tal como um adultério e, com efeito, o caso de Marilyn era apenas e simplesmente com John Kennedy. A obsessão de Kennedy por MM começou forma bastante cômica. Antes de ser presidente, Kennedy fora operado da coluna e permanecera imobilizado numa cama de hospital. Para que ele ficasse mais feliz, seu irmão Bobby pendurou, de cabeça para baixo, na frente de sua cama, um poster onde Marilyn aparecia de pernas abertas, vestindo um short curto e uma blusa decotada. Foi que bastou para Kennedy buscasse conhecê-la.
O caso entre eles teve início após o divórcio de Marilyn com o jogador de beisebol Joe di Maggio — segundo casamento da atriz — e seguiu enquanto ela esteve casada com Arthur Miller. Seus encontros ocorriam na suíte que ele mantinha no Carlyle Hotel, em Nova Iorque, ou na casa de praia de um amigo, em Santa Monica, na Califórnia. Como costuma acontecer, os governos são cestos de ofídios. O FBI grampeou a tal casa de praia e John Edgar Hoover, chefe da organização, usou as gravações para manter-se no cargo quando Kennedy tentou demiti-lo. Para complicar, Hoover teria insinuado que havia outro grampo na casa: o da Máfia, com quem JFK mantivera estreito relacionamento durante as eleições, apesar de seu discurso de “acabar com a Máfia”.
JFK desejava um rompimento elegante, MM tinha ilusões
Os conselheiros mais próximos advertiam-no de que era perigoso ter MM como amante por dois motivos: os chefes mafiosos poderiam usar o caso contra ele — seria um enorme escândalo se a mídia soubesse que ele mantinha um caso fora do casamento e logo com quem — e a suspeita de que Marilyn poderia se descontrolar a qualquer momento e fazer uma cena pública. E, ao que tudo indicava, em 1962 Kennedy desejava livrar-se dela de uma forma elegante, de modo a não se prejudicar.
Comprovando como poderia ser perigosa, Marilyn resolveu dar um grande presente a Kennedy. Durante uma festa na sede do Partido Democrata, ela cantou com voz inequivocamente lasciva (filme abaixo) o célebre Happy Birthday, Mr. President. Ela estava com um vestido que parecia ser pura pele e pérolas e, para qualquer bom entendedor, ficou claro o gênero de ligação que tinha com o presidente. John Kennedy quase cometeu um ato falho ao dizer: “Já posso me retirar da política após ter ouvido este Happy Birthday cantado para mim de modo tão doce e encantador.”
Isso ocorreu três meses antes da morte de Marilyn. Apesar de ninguém saber ao certo o que houve naquele 5 de agosto, seus amigos — como quase todo mundo — suspeitaram de uma assassinato. Os suspeitos de terem cometido ou mandado cometer o crime são Robert Kennedy (com quem ela também teve um caso), John F. Kennedy, o mafioso Sam Giancana, e também o FBI, a CIA e até seu psiquiatra, Ralph Greenson.
Robert Kennedy, Marilyn Monroe e John Kennedy logo após os famosos parabéns
Se muitos mistérios rondam a morte de Marilyn Monroe, sua vida foi tão vasculhada que se sabe de quase tudo: as idiossincrasias, a data de cada sessão de fotos, de cada cena filmada ou não filmada e por quê, de seus casos amorosos, de sua enorme insegurança — achava-se péssima atriz — , suas faltas, ausências prolongadas, internamentos, crises por causa dos remédios, por causa do alcoolismo, crises existenciais… Mas o resumo que pode ser formado a partir de tantas informações é a de que a mulher mais desejada de seu tempo passou toda a sua curta vida tentando encontrar um amor verdadeiro e tornar-se uma verdadeira atriz. De fora, pode parecer simples, mas a angústia nunca é simples. Marilyn era uma belíssima mulher e uma aceitável atriz. Foi dona de uma capacidade fotogênica miraculosa, imbatível carisma, beleza, sensualidade e simpatia. Realizou grande atuação em seu último filme, o citado Os Desajustados, onde fez muito bem um papel bastante complicado. Em sua defesa, pode-se dizer que seus outros filmes eram comédias românticas que não lhe exigiam grande coisa. Quando lhe foi exigido mais, como em Quanto mais quente melhor (Some like it hot, 1959), também respondeu à altura.
Uma das célebres cenas de O Pecado Mora ao Lado (1955)
Seu verdadeiro nome era Norma Jean Mortenson, mas logo foi mudado para Norma Jean Baker. Ela nasceu no dia 1º de junho de 1926 no County Hospital, em Los Angeles, e era a terceira filha de Gladys Pearl Baker. A confusão do nome deve-se ao fato de não se saber quem foi o verdadeiro pai biológico da atriz. O nome do pai, na certidão de nascimento, foi o Edward Martin Mortensen, mas este sempre negou a paternidade, pois quando ele se separou da mãe de Marilyn, em 1924, Gladys ainda não estava grávida. Mortensen viveu até os 85 anos de idade e, após sua morte, foram encontrados documentos que mostravam que ele pediu divórcio de Gladys em março de 1927, não em 1924, e Norma Jean nasceu em 1926. Ou seja, o caso não é claro, ainda mais que a Gladys teria um caso com Charles Stanley Gifford, um vendedor com quem ela trabalhou até ser levada a uma instituição psiquiátrica por problemas psicológicos. Gladys teria confidenciado a amigos que o pai de Norma seria Gifford.
Gladys Pearl Baker e Charles Gifford
Marilyn começou a carreira em alguns pequenos filmes — à exceção de uma boa participação em A Malvada (All about Eve, 1950), de Joseph Mankiewicz — , mas seu notável charme, beleza e frequente presença em eventos levaram-na logo a conquistar papéis em filmes dos grandes estúdios. Mas isso toda candidata à estrela faz e não chega ao grau de notoriedade de MM. É que junto à sensualidade e intensidade, Marilyn transpirava vulnerabilidade e inocência, tornando-a querida no mundo inteiro, mesmo quando as notícias sobre seu estilo de vida eram divulgadas. Seu rosto e jeito eram uma explosiva combinação de menina frágil e inocente, dominante e sedutora.
Outra célebre cena de O Pecado. Como não cometê-lo?
Foi a performance em Niagara (Torrentes de Paixão, 1953), de Henry Hathaway, que a tornou uma grande estrela. Marilyn fez o papel de uma jovem e bela esposa que planeja matar seu velho e ciumento marido. O sucesso de Niagara lhe rendeu, no mesmo ano, os papéis principais em Os Homens Preferem as Loiras (Gentlemen Prefer Blondes, 1953), de Howard Hawks, onde divide o protagonismo com Jane Russell, e Como Agarrar um Milionário (How to Marry a Millionaire, 1953), de Jean Negulesco. A revista Photoplay votou em Marilyn como melhor atriz iniciante de 1953 e, aos 27 anos de idade, ela era sem dúvida a loira mais amada de Hollywood.
Marilyn saudando as tropas americanas na Coreia. Adivinhem se não houve uma enorme confusão?
No dia 14 de janeiro de 1954, Marilyn casou com seu namorado, o jogador de beisebol Joe DiMaggio. Durante a lua de mel em Tóquio, Marilyn fez uma performance para os militares que serviam na Coreia. A sua presença causou quase um motim, e Joe se mostrou claramente incomodado com aqueles milhares de homens desejando sua mulher. E seguiu se incomodando após o assédio da Coreia. Ela era muito cobiçada, sua beleza chamava atenção e, na verdade, isso causou brigas e ciúmes com todos os homens com quem se relacionou.
Não era muito fácil manter uma relação amorosa com mulher tão desejada
Nove meses depois, separaram-se. Em 1955, logo após o imenso sucesso de O Pecado mora ao Lado (The Seven Year Itch, 1955), de Billy Wilder, Marilyn desejou livrar-se da imagem de furacão loiro. Queria seguir com seriedade a carreira de atriz e mostrar que era mais que uma mulher que atiçava o imaginário masculino. Ela mudou-se de Hollywood para Nova York a fim de estudar na escola de atores de Lee Strasberg. Em 1956, Marilyn abriu sua própria produtora, a Marilyn Monroe Productions. A empresa produziu os filmes Nunca Fui Santa (Bus Stop, 1956), de Joshua Logan e O Príncipe Encantado (The Prince and the Showgirl, 1957), dirigido e estrelado por Laurence Olivier. Não eram ainda filmes satisfatórios nem “sérios”, mas em 1959 Marilyn brilhou em Quanto Mais Quente Melhor (Some Like It Hot), de Billy Wilder — uma comédia altamente satisfatória sob qualquer ângulo, onde estava ao lado de Jack Lemmon e Tony Curtis — , tendo seu trabalho reconhecido ao vencer o Globo de Ouro de “Melhor Atriz de Comédia”.
A excelente atriz de Os Desajustados era muito insegura como atriz e jamais dispensava sua “treinadora”
No dia 29 de junho de 1956, Marilyn casou-se com seu novo namorado, o dramaturgo Arthur Miller. O próprio confessava que ela o deixava de “joelhos bambos”. Enquanto estavam casados, Miller escreveu o papel de Roslyn Taber de Os Desajustados, especialmente para Marilyn. Segundo Fernando Monteiro, este talvez seja o melhor roteiro já escrito para o cinema, com um argumento tão perto da vida que o espectador parece poder tocá-la com a mão. A história dos quatro perdedores dirigidos por John Huston e estrelados por Clark Gable e Montgomery Clift, acabou sendo o último filme completo de Marilyn e a despedida das telas de Gable.
Cinquenta anos depois de sua morte, o fascínio que Marilyn Monroe exerce sobre as pessoas não para de crescer. É curioso que uma atriz que tinha tão pouca auto-estima profissional — ela chegava ao ponto de possuir uma espécie de professora ou treinadora (Paula Strasberg) que a acompanhava e orientava em todas as cenas e que entrava em conflito com os diretores de seus filmes — seja hoje o maior ícone do cinema em todos os tempos. Mas o que matou Marilyn não foram seus filmes. Sua morte, foi, provavelmente, resultado de uma mágica que ela sempre soube possuir e que nós podemos comprovar até hoje, vendo-a cristalizada numa foto ou movimentando-se num filme. Só que Marilyn, em sua opinião, jamais conseguiu unir tal facilidade com sua noção ideal de amor.
A mais fotogênica das mulheres — sem exagero, são milhares de fotos perfeitas
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Escolhemos várias opções de capa para esta matéria. Não resistimos a colocá-las abaixo:
A idade deixou-o cada vez mais meigo. Acho que as faltas e os corpos estendidos no chão serão comuns nas imediações da área do Botafogo. Fica nosso abraço para o General. E, por favor, não volte nunca mais.
O filme acima é de André Bozzetti. E, abaixo, o lance com Dodô, do Bahia. O jogador ficou seis meses fora dos campos.
Via grupo Colorados de Fé.
P.S. — O grande Ramiro Furquim, fotógrafo do Sul21, tem uma foto exclusiva onde fica patente a elegância, o fair play e a categoria de nosso ex-zagueiro.
Comecei a reler Ai de ti, Copacabana só para entrar no espírito do autor e escrever um artigo sobre seus 100 anos de nascimento no último sábado. Ia ler cinco ou seis crônicas, mas não consegui parar e fui até o fim. É um de meus livros preferidos de Braga. Delicadíssimo, inspiradíssimo, Ai de ti, Copacabana foi lançado em 1962 e traz 60 crônicas, escritas entre abril de 1955 e fevereiro de 1960. Na época, Braga já tinha expandido seus domínios, criando uma forma de crônica que por um lado roçava a poesia e por outro namorava o conto. Na matéria para o Sul21, cujo link coloquei acima, copio duas crônicas absolutamente notáveis de Ai de ti. Assim como Machado é o grande modelo e referência na ficção brasileira, Rubem Braga ocupa a principal posição na crônica. É uma voz compassiva, lírica, inteligente, sensível e tarada — sim, nosso RB era um mulherengo de escol. E olha que não é pouca coisa, pois seus “concorrentes” são bem mais fortes que os de Machado: Nelson Rodrigues, Stanislaw Ponte Preta, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Millôr Fernandes, Luís Fernando Verissimo… Sim, eu simplesmente adoro Rubem Braga.
Pois meus sete leitores, sou uma pessoa discreta, mas o que posso fazer se as circunstâncias costumam me atrapalhar?
Dia desses, semanas atrás, estava saindo do Sul21 no horário do almoço, acompanhado por colegas. Caminhávamos pelo corredor de nosso prédio em direção à rua, conversando animadamente. Quando dobramos à direita para descer nossa querida Ladeira, a Carmen viu uma amiga e desgarrou do grupo. Fui olhar com quem ela falava e tum!, bati em algo que estava na minha frente. Senti a pancadinha mais ou menos na altura do púbis. Tudo se passou em menos de um segundo: bati em alguma coisa, não vi direito o que era e, no reflexo, tratei de segurá-la para não cair. Quando olhei melhor o que tinha ocorrido, eu estava com as duas mãos na cintura de um sujeito que estava agachado, amarrando o sapato. Deve ter sido uma cena idílica.
Nossa repórter Rachel Duarte, de família materna italiana, é muito pouco silenciosa e deu uma risada que foi ouvida desde a Biblioteca Pública até a Rua da Praia. A vítima ergueu-se rapidamente, não olhou para trás e desceu a rua a toda a velocidade, trotando em marcha atlética. Pude comprovar que, realmente, quem tem, tem medo. Após a surpresa, comecei a rir da reação do moço que estivera em tão comprometedora posição segundos antes.
Mas, porra, como é que o sujeito está em tão boa forma física que amarra o sapato apenas dobrando o tronco? Ah, essas academias! E quem é que mandou ele fazer aquilo no meio da calçada, mostrando-se para todos em vez de encostar-se a uma parede, até porque ficaria mais protegido, não? Na tarde daquele dia, a Rachel me mandou, pelo Facebook, dezenas de fotos de gente amarrando os sapatos, a maioria de costas para a parede.
Que é como se faz essas coisas.
Antes de ir ao tênis, fique de costas para uma parede, por favor. Afinal, EU pode estar próximo.
São 50 placas de aço de 10 metros de altura, cortadas a laser e inseridas na paisagem, inaugurada quando dos 50 anos da captura e prisão de Nelson Mandela, em 6 de agosto de 1962, no próprio local onde ocorreu o fato que lhe custaria 27 anos de cadeia. Num ponto específico de observação, a escultura surpreende ao assumir a imagem de Nelson Mandela. O escultor é Marco Cianfanelli, de Joanesburgo.
A buceta da minha amada
tem pêlos barrocos,
lúdicos, profanos.
É faminta
como o polígono-das-secas
e cheia de ritmos
como o recôncavo-baiano.
A buceta da minha amada
é cabeluda
como um tapete persa.
É um buraco-negro
bem no meio do púbis
do Universo.
A buceta da minha amada
é cabeluda,
misteriosa, sonâmbula.
É bela como uma letra grega:
é o alfa-e-ômega dos meus segredos,
é um delta ardente sob os meus dedos
e na minha língua
é lambda.
A buceta da minha amada
é um tesouro
é o Tosão de Ouro
é um tesão.
É cabeluda, e cabe, linda,
em minha mão.
A buceta da minha amada
me aperta dentro, de um tal jeito
que quase me morde;
e só não é mais cabeluda
do que as coisas que ela geme
quando a gente fode.
Era o ano de 1988 e estávamos, eu e minha primeira mulher, procurando apartamento. Avisamos a um corretor amigo que queríamos algo muito bom e barato, bem localizado e em excelente estado. E começamos o périplo de ir de apartamento em apartamento indicado. Eu e Suélen (ou Pâmela, nunca lembro seu nome) mais ou menos concordávamos nas avaliações. Então, o corretor resolveu nos mostrar um apartamento especialmente bem localizado. Era na esquina da Venâncio Aires com a Osvaldo Aranha, bem na frente do Pronto Socorro, próximo à Redenção, aos bares do Bonfim e, fundamentalmente, quase ao lado do trabalho de minha ex, no Hospital de Clínicas. Como se não bastasse, o imóvel ficava exatamente sobre um pequeno supermercado. Uma verdadeira maravilha!
Como o mundo nem sempre é perfeito, a fachada do edifício acompanhava a ampla curva da esquina. Tinha janelas grandes em curva e depois ia afinando lá para trás a fim de ajustar-se aos outros prédios. Para que meus sete leitores entendam, digo que cada um dos andares tinha o formato de uma fatia de pizza. Para vocês ficarem certos de que eu nunca minto, abaixo temos uma foto do edifício de costas. A imagem do Google Maps faz referência ao Supermercado Nacional no térreo, observe bem.
Pois então nós chegamos ao edifício e subimos a fim de conhecer o apartamento. A dona ainda morava nele. Fomos recebidos por uma senhora ansiosa que cantava as qualidades de sua habitação à perfeição. E, com efeito, parecia tudo muito bem cuidado e sem problema nenhum de infiltração. A cozinha, impecável e seca, os banheiros idem. Pintura antiga, mas, como disse, seca. Caminhamos para os fundos e ela nos alertou que talvez sua filha estivesse em casa. Aguardamos educadamente que ela abrisse a porta do terceiro quarto da casa, o dos fundos. Disse alguma coisa lá para dentro e nos chamou para conhecer o recinto. Entramos.
Vi uma moça entre os dezoito e vinte anos, sentada em sua cama, com as costas encostadas no espaldar. Mas antes de registrar sua posição no quarto, recebi duas informações realmente claras. Claríssimos eram seus olhos, azuis; menos claros eram os cabelos, apesar de castanhos claros. Raquel era uma mulher bonita, não era nenhuma modelo mas era bonita e esta foi a primeira informação. A segunda foi que ela nos odiava de forma incondicional, ela queria me (nos) ver mortos. Sua cara de ódio era das coisas mais lindas e inequívocas que tinha visto até aquele dia. Fui olhar a paisagem da janela dos fundos, fazendo planos para ficar numa posição favorável a mim: eu estaria nas sombras, protegido pela luz atrás de mim e ela iluminada pela mesma. Ela estava vermelha, roxa de ódio. Fiquei alguns longos segundos ali, fingindo que avaliava o tamanho do quarto.
O ódio era tão imenso, pleno e jovem que eu jamais pensaria na Raquel rosa amorosa da Bíblia, esposa favorita de Jacó. Mas surgia algo estranho. Raquel agora me fazia cara de nojo. A cara era tão obviamente de nojo que comecei a rir, atitude que não foi retribuída. Raquel estava muito irritada e sua mãe não dirigia seu olhar para ela.
Voltamos ao restante do apartamento e em tudo que via, via Raquel e seu olhar. Concluí facilmente que ela não queria sair dali. Imagine, alguém jovem, morando perto de tudo… Decidi perguntar pelo motivo da venda. A mãe de Raquel usou uma franqueza que demonstrava o fato de não ser uma vendedora: disse-me que seu marido tinha sumido e ela estava sem dinheiro.
— A sua filha gosta daqui?
— Adora, a Raquel não quer sair por nada nesse mundo.
Aquilo fez com que eu passasse a não querer mais o apartamento, mas via que Pâmela (ou Suélen, nunca lembro) estava cada vez mais satisfeita com o imóvel. O nojento do arquiteto tinha feito um trabalho notável com aquela fatia. Todas as peças se encaixavam com lógica. A pizza estava escondida por artes demoníacas. Tudo estava no lugar. Nada parecia torto, um verdadeiro milagre. A mulher contava que fazia suas compras no supermercado do térreo pelo telefone, fato que fez Pâmela quase gritar de alegria. As compras eram recebidas na porta do elevador de nosso andar! Para ela, tudo corria às mil maravilhas, só que Raquel tornara-se um dificuldade intransponível. Eu não queria viver pensando nela. Era impressionante, terrível a indignação da moça. Não parecia ser alta, não era grande, mas impôs uma barreira que eu não seria capaz de derrubar.
Procurei Raquel no rosto de sua mãe. Decididamente, os olhos eram do pai fujão. Os cabelos da velha eram pintados, mas o formato do rosto e a boca eram as mesmas de Raquel, só que tudo era nela era esmaecido pela necessidade de ser servil e simpática conosco. A venda e a necessidade dobrara a mãe, mas eu não podia fazer nada por ela. Raquel era invencível.
Na saída, minha mulher estava encantada, mas eu lhe cortei o entusiasmo rapidamente.
— De jeito nenhum vou viver num lugar que mais parece um monte de pizzas empilhadas com um supermercado na base. Esse apartamento é uma merda. Um corredor comprido cheio de portas.
— Mas…
— Nós dois temos poder de veto e eu veto este.
Duas fotos belíssimas de figurinhas muito conhecidas de meus sete leitores, pois muito amadas pelo dono do blog: Marilyn Monroe e James Joyce. MM é a mais fotogênica das mulheres e a cara de dúvida-com-o-dedo-na-boca de JJ é uma homenagem discretamente cruel e altamente simpática ao aniversário de sua morte. JJ faleceu em 13 de janeiro de 1941. Clique para ampliaras fotos.
A série é dividida entre Argentina, Chile, Uruguai e Brasil. Abaixo, temos disponível o Brasil. A série inteira da ESPN Brasil ainda não está no site da emissora por conta de questões burocráticas associadas aos direitos autorais das músicas. Vale muito a pena assistir, pois várias figuras conhecidas estão envolvidas. E o programa é ótimo. Produção e roteiro de Lúcio de Castro.
Em seu último disco, Abraçaço, Caetano Veloso surpreende com uma canção dedicada a Carlos Marighella. É bastante longa e explicativa. Era desconhecida a admiração que Caetano e Gil tinham pelo também baiano Marighella. Ele e Gilberto Gil apareceram na capa de uma revista — onde eu li esta informação não dizia que revista foi –, dizendo “nós estamos mortos, ele está mais vivo do que nós”. Na mesma época, enviou ao jornal “Pasquim” um texto sobre Marighella. Caetano diz que, na época, ninguém no Brasil entendeu que a tristeza que expressava no texto, assim como na manchete da revista, não era apenas a tristeza do exílio, mas uma referência à morte de Marighella.
Montagem: http://paginadoenock.com.br/
http://youtu.be/otiZAYPP200
Um Comunista
Caetano Veloso, no CD Abraçaço, 2012
Um mulato baiano,
Muito alto e mulato
Filho de um italiano
E de uma preta uça
Foi aprendendo a ler
Olhando mundo à volta
E prestando atenção
No que não estava a vista
Assim nasce um comunista
Um mulato baiano
que morreu em São Paulo
baleado por homens do poder militar
nas feições que ganhou em solo americano
A dita guerra fria
Roma, França e Bahia
Os comunistas guardavam sonhos
Os comunistas! Os comunistas!
O mulato baiano, mini e manual
do guerrilheiro urbano que foi preso por Vargas
depois por Magalhães
por fim, pelos milicos
sempre foi perseguido nas minúcias das pistas
Como são os comunistas?
Não que os seus inimigos
estivessem lutando
contra as nações terror
que o comunismo urdia
Mas por vãos interesses
de poder e dinheiro
quase sempre por menos
quase nunca por mais
Os comunistas guardavam sonhos
Os comunistas! Os comunistas!
O baiano morreu
eu estava no exílio
e mandei um recado:
“que eu que tinha morrido”
e que ele estava vivo,
Mas ninguém entendia
Vida sem utopia
não entendo que exista
Assim fala um comunista
Porém, a raça humana
segue trágica, sempre
Indecodificável
tédio, horror, maravilha
Ó, mulato baiano
samba o referencia
muito embora não creia
em violência e guerrilha
Tédio, horror e maravilha
Calçadões encardidos
multidões apodrecem
Há um abismo entre homens
E homens, o horror
Quem e como fará
Com que a terra se acenda?
E desate seus nós
discutindo-se Clara
Iemanjá, Maria, Iara
Iansã, Catijaçara
O mulato baiano já não obedecia
as ordens de interesse que vinham de Moscou
Era luta romântica
Ela luz e era treva
Feita de maravilha, de tédio e de horror
Os comunistas guardavam sonhos
Os comunistas! os comunistas!
O solista é o contratenor Terry Wey. O grupo é da J. S. Bach Foundation of St Gallen sob a direção de Rudolf Lutz. Eles estão gravando a integral das Cantatas de Bach. À medida que gravam — sempre ao vivo, como deve ser –, deixam cair os pedaços de pão no YouTube para que formem o caminho de casa. Afinal, Johann não é João?
O comovente abraço ao Olímpico | Foto: Diego Vara / ZH | CLIQUE PARA COMOVER-SE MAIS COM A IMAGEM
Os times de futebol têm personalidade própria. O Inter, quando em decadência, é choramingas e patético; como agora, deixa-se levar até bater numa margem. Já o Grêmio cai em meio a uma opereta, com jogadores transando no ônibus enquanto o presidente, caindo a para a segunda divisão, diz: mas vejam nosso site, que coisa maravilhosa! Quando o Grêmio ganha, é sempre sofrido — nem que não seja –; quando o Inter ganha, é natural e absolutamente merecido. Quando o Grêmio perde um jogo, há uma enorme probabilidade de que o juiz seja o culpado; quando o Inter perde, é porque o time é uma merda mesmo.
Mas há uma coisa na qual é difícil ganhar do Grêmio. O tricolor gaúcho costuma se apresentar como Piada Pronta e faz disso uma arte. Não tinha ainda acontecido em 2013, porém, no décimo dia… eles não se aguentaram e revelaram o mais novo chiste: o Grêmio está voltando para o Olímpico pela simples razão de que a Arena ainda não está pronta. O Grêmio é como aquele franguinho al primo canto que sabe de terá a cabeça decepada ao primeiro Quac!, porque o produtor está ali ao lado, atento, com o facão na mão. Mas o instinto o obriga a cantar ou, no caso do Grêmio, a fazer rir.
Sim, hoje o Grêmio solicitou ao comando da Brigada Militar (BM) a liberação do estádio Olímpico para a realização de três jogos em janeiro… O pedido está sendo analisado pela BM. Isso é sensacional! Já houve abraço de despedida ao Olímpico, já houve o último jogo — uma discreta tragédia –, as rádios e as TVs já passaram dias enchendo o saco passando todos os gols, falando com todos os que fizeram alguma coisa no estádio, já foram choradas lágrimas por parte dos nostálgicos, o torcedor símbolo Paulo Sant`Ana já deu a volta olímpica com a bandeira “Adeus, Olímpico” na mão… Tudo já foi feito e agora voltam. Parece o Sílvio Caldas (*).
O Grêmio estaria disposto a levar as partidas contra o Canoas e o Santa Cruz, nos dias 24 e 26 de janeiro para o velho estádio. A medida também poderia valer para o jogo contra a LDU, pela pré-Libertadores. Nesta quinta-feira, de forma assim meio escondida, foram reinstaladas as goleiras no estádio Olímpico. Eu amo nosso Tradicional Adversário, obrigado Grêmio!
(*) Caíram no folclore as despedidas do cantor carioca Sílvio Caldas, que durante pelo menos 20 anos anunciou que enfim faria o seu último show ou a sua última gravação. No entanto, permaneceu em atividade até o ano de 1995, adiando sua aposentadoria até os 87 anos de idade.
Meu filho Bernardo está viajando desde o dia 20 de dezembro, mais ou menos. Volta em 1º de fevereiro. Foi de avião para Rio Branco, no Acre. Era o único trecho que faria via aérea. Depois, só ônibus e sola de sapato. Ele e seus dois amigos foram em seguida de ônibus para o Peru, onde fizeram a trilha inca caminhando 90 Km em 5 dias. Pegaram neve no Natal, devem ter visto trenós incas dirigidos por índios com enormes sacos de coca, puxados por lhamas. E ontem ele me ligou do Titicaca.
Voz tranquila e macia, típica de quando está descansado, disse que passou três dias em Copacabana, uma praia do lago que está a quase 4000 m acima do nível do mar e onde o celular pegava mal. Neste ínterim foi para a Isla del Sol, uma ilha do Titicaca. O lado é enorme, comprido, tem 90 Km de comprimento e uns 25 de largura. Ele me diz que, no meio do lago, não se enxerga nenhuma margem. Pergunto sobre a respiração e ele disse que, mesmo na caminhada nos Andes, sentiu-se bem. Ia pegar um ônibus para La Paz, onde já deve ter chegado. Com o Facebook, fica fácil de monitorá-lo. Afinal, lá pela meia-noite, ele escreveu: “La Paz, fetos de lhama nas esquinas. Muito afudê”.
Não sei se vão ter tempo de ir ao Chile ou se descerão pela Argentina. Acho uma pena que o Bernardo não goste de escrever. Deve voltar com um monte de histórias que vai contar aos poucos. Espero que tenha tirado muitas fotos, porque isso ele faz muito bem. Ele estagia como fotógrafo no Sul21. Gostaria de ter visto a cara dele ao pedir 40 dias de férias. Ele sabe ser sedutor quando precisa, o filho da puta. Putz, espero que volte bem. Nem li os detalhes daquele brasileiro que sumiu no Peru. Não quero fantasiar coisas ruins. Prefiro pensar que ele está entre montanhas, lhamas, indiazinhas feias e coloridas e que caminha sem parar, olhando tudo.
Sim, esta é Copacabana, porta de entrada do Titicaca e centro de peregrinações desde os tempos pré-colombianos.A Isla del Sol no Estreito de YampupataÍndios Aymara na Isla del Sol. Todo lo que necesito / tengo a mis pulmones / respirando azul clarito / la altura que sofoca / Soy las muelas de mi boca, mascando coca.
Simplesmente me acostumei a vir trabalhar cedo. É difícil me impedir de pegar minhas coisas e sair de casa às 6h55, enquanto muita gente boa ainda está cheirando seu travesseiro cheio de pensamentos confusos e outros vão ao banheiro com as caras amassadas. Caminho até a parada e o ônibus chega muito rápido ao centro. Para que tanta correria? Às 7h30 já estou no jornal. Acordar cedo tem algum parentesco com pães quentes recém saídos do forno. Na esquina de casa, num dia nublado como hoje, olho a pequena fila iluminada dentro da Padaria Pasquali e passo reto. Nada de pão e muito menos de sentir seu cheiro. Aquilo engorda.
O motorista do ônibus das 7h10 é mesmo um sujeito estressado. Seu colega das 7h40 é muito mais lerdo e adequado. Com o primeiro, dificilmente consigo ler aquelas 15 páginas regulamentares de meu livro. Quando chego ao jornal, começo a ler os outros. Na contracapa de um, leio a palavra “bagaceiro” justo na semana dos cem anos de nascimento de Rubem Braga. Céus, por que não usar “vulgar”? Como editor, na boa, eu mudaria. Há que ser mais fino, mesmo quando se fala em Carlinhos Cachoeira. E por que não usar condenado em vez de corrupto? Uma grosseria já na capa. Abro a internet e vou direto ver como andam as coisas para Hugo Chávez. Tudo na mesma, só que agora os EUA lhe desejaram uma pronta recuperação. Dou uma olhada nos jornais portugueses e as notícias são as mesmas, mas mais objetivas, falam no adiamento da posse e, surpresa!, em tempo de recuperação. De qualquer maneira, parece que já temos o obituário. Tínhamos também o do Niemeyer, escrito por mim. Foi bastante lido, sabe?
Então, vou ao blog de outro Braga, o Monóbio, para ver se ele continua torcendo pela morte de Chávez. Não, seus últimos textos abandonaram Venezuela e Cuba, ele parou de fantasiar sobre a marcha do câncer — cancro, segundo os jornais portugueses — com seus amigos de Miami. Procuro em toda a primeira página do blog do editor pela sequência de caracteres C-h-á-v-e-z y no hay la palabra. A Revolução Bolivariana cansa. Bem atrás de mim, na redação vazia, sobe uma enorme bolha do garrafão de água. Sorrindo e antes que me demitam, vou fazer café para todos os que chegarem. Afinal, vim trabalhar.
Hoje, em seu blog — verdadeira obrigação para quem gosta de música –, Norman Lebrecht divulgou um dado impressionante: o levantamento de carga de trabalho anual de Daniel Barenboim, que completou 70 anos em novembro. Lebrecht usa a expressão “o homem parece estar queimando a vela nas duas extremidades”.
No ano passado, Barenboim deu 56 concertos como regente de orquestra, mais 49 óperas e 15 recitais de piano, um total de 120 apresentações. Ele é diretor musical da Ópera Estatal de Berlim e do La Scala. Ele também dirige a West-Eastern Divan Orchestra. Ele não pode querer competir com Gergiev, o onipresente de 59 anos.
Eu e Lebrecht ficamos preocupados… Barenboim tem que se cuidar mais. Esse troço de reger cansa e os músicos são extremamente chatos, estressantes.