Abel, já te disse e não vou mais repetir: estás muito gordo.
E olha, meu amigo, no futebol, eu acho que só fiz uma coisa nos últimos quatro anos: esperei que a Era Luigi terminasse. E isso ocorrerá finalmente em dezembro. Este retorno ao Brasileiro tem a tua cara, Abel, mas também a de nosso presidente. Confessa, a folga da Copa do Mundo foi uma espécie de licença-prêmio, né? Vocês só fizeram treinamentos leves e bate-papos. Viram bem a Copa e não ensaiaram nenhuma jogadinha nova, acertei? Confirma, vai.
Nos jogos-treino do Inter, contra Metropolitano, Joinville e Novo Hamburgo, perdemos duas e empatamos uma. Foram jogos feios, com expulsões e tudo. Aquilo já cheirava mal, mas estávamos mais atentos à queda do Brasil na Copa. Ontem, em nosso primeiro e importante jogo oficial, conseguiste errar na escalação após dois meses “observando o time”. Escolhido por ti pelo espetacular rendimento nos treinos, João Afonso errou passes, esteve perdido, tomou cartão, deixou espaços e teve que ser substituído ainda no primeiro tempo por Cláudio Winck. Só que aí já estava 2 x 0 para Corinthians. Foram dois gols em dois minutos, lembrei do Felipão.
Não ouvi tua entrevista de final de jogo — não quis ouvir, entende? –, mas espero que tu não tenhas demonstrado laivos de orgulho por ter arrumado o time com a mudança e sim tenhas sugerido alguma tristeza pela má escolha. De resto, teu time esteve lento, deprimido, previsível, frouxo e sem centroavante. E o pior é que fiz check-in para ver Inter x Flamengo no Beira-Rio… Abel, o Flamengo é o lanterna do Campeonato, vê bem o que tu vais fazer!
Poucos notaram a dança pataxó que os alemães fizeram em campo.
É que a casa da Alemanha nesta Copa do Mundo foi Santa Cruz Cabrália e lá, no sul da Bahia, os alemães conheceram um pouco dos índios.
“Reunimos os grupos indígenas em um círculo. Acendemos os cachimbos e tocamos os maracás. Aí, em nossa língua, fazemos os nossos pedidos e orações. E os pedidos dessa vez foram para que os alemães vençam”, revelou o cacique. Durante a coletiva, o próprio cacique fez esse pedido a Thomas Müller e a Philipp Lahm. “Primeiro falei que eles exageraram demais contra o Brasil e que 2 x 0 tava bom. Depois, pedi que eles não deixassem a Argentina ganhar”.
Klose celebrou seus 36 anos de vida dançando com os índios, no primeiro contato alemão com a tribo local. De lá para cá, o contato ficou cada vez mais próximo, até a despedida, na última sexta-feira.
Olha, eu assisti aos jogos e não me vinha nenhuma empatia pelo time. Nenhuma. E isso antes dos fiascos. Eu, que acompanho futebol, não reconheço a biografia recente de vários de nossos jogadores — aliás, alguém sabe por qual clube David Luiz atuou no Brasil? (*) — e, quando jogavam os “brasileiros”, o resultado era péssimo. Mas há mais problemas. O futebol sempre foi corrupto, só que nunca tivemos como presidente da CBF alguém tão identificado com a repressão como José Maria Marin. Trata-se de um arqui-anacronismo ungido ao posto do líder que deveria nos levar à Copa de 2014. É preciso estômago. Mais incomodações? Sim. Existe a lembrança de Ricardo Teixeira e a necessidade empresarial que a Rede Globo tem de nos incutir entusiasmo à fórceps.
Independentemente de algumas boas seleções formadas, a CBF (antes, CBD) sempre foi uma entidade nebulosa, comandada por aproveitadores que se alçaram a um duvidoso profissionalismo a partir do impulso dado por seus clubes. E isso não tem jeito, pois no mundo inteiro é assim, as exceções de praxe à parte. (A Alemanha parece ser uma dessas exceções).
O que é irritante é que — mafiosos ou não — os dirigentes da CBF deveriam ser minimamente competentes para formar um time de qualidade, propiciando a todos eles garantias de embolsos fabulosos ou simples fama. Mas a velha classe dominante brasileira é useira e vezeira em matar, uma após uma, as galinhas de ovos de ouro postas pelo povo brasileiro em seu quintal.
Vejo uma tremenda bagunça no meu Inter, também acho que lá a incompetência grassa, mas permaneço fiel. Tenho dificuldades em fazer o mesmo com a Seleção. Será em função da proximidade?
Bem, por mais que pense não sei explicar este fenômeno de rejeição à Seleção Brasileira que noto em mim e em muitos amigos. Será por que a geração atual não apenas joga muito menos como é por demais inodora, sem dramas, opiniões ou posturas distintas? Não fiquei feliz com os 7 x 1 da Alemanha, mas também não quis me esconder de vergonha. Acabo por não encontrar motivos para torcer pelo combinado montado pela entidade privada chamada CBF, vulgarmente conhecida como Seleção Brasileira.
(*) No Vitória da Bahia, dos 18 aos 20 anos de idade. Jogou apenas 26 vezes e foi vendido ao Benfica.
Tudo começou lá em 2010, mais exatamente no dia 23 de julho, quando Muricy Ramalho foi convidado para assumir como técnico da Seleção Brasileira. A CBF avisou todo mundo, anunciou Muricy antes de um acerto que não aconteceu. Muricy preferiu honrar seu contrato com o Fluminense. Em seu lugar, entrou Mano Menezes já com o estigma de ser a segunda opção.
Mano permaneceu dois anos. Parecia estar fora de seu habitat e só colecionou maus resultados. Alguns já falavam o óbvio: a Copa no Brasil coincidiria de modo perverso com uma das piores gerações de jogadores brasileiros. Neste ínterim, em fevereriro de 2012, Ricardo Teixeira renunciou dando lugar a José Maria Marin, um esbirro da ditadura que, em novembro de 2012, fez retornar Felipão. Luiz Felipe Scolari não ganha títulos de importância desde que retornou ao país de sua aventura europeia. A meu ver, comprovou no Palmeiras estar desatualizado em tudo, desde a parte tática até a relação com a imprensa.
E Felipão retornou com o coordenador técnico Carlos Alberto Parreira, que tinha sido condenado pela imprensa brasileira em 2006 por apenas isso: ele não dava treinamentos. Tal acusação não era vazia, pois os treinos eram televisionados. Lembram dos jogadores caminhando de um lado para outro, uns conversando, outros batendo bola?
Os resultados de Felipão foram melhores que os de Mano, ele ganhou a Copa das Confederações, mas o futebol da Seleção não empolgava ninguém. Havia uma vida nas propagandas — Felipão tornou-se o maior garoto-propaganda do país — e outra dentro de campo, bem menos brilhante. A administração cabia à anacrônica CBF, com suas várias seleções, técnicos, convocações a toda hora e outras posturas caça-niqueis. A coisa não sabia bem até para quem, como eu, deixara de lado os assuntos deprimentes da CBF.
E chegamos à 2014. A convocação dos jogadores me pareceu uma piada. É estranho que um país do primeiro mundo do futebol vá a uma Copa com Fred e Jô de centroavantes. Por exemplo, em 1970, Zagallo, après João Saldanha, escalava um time sem centroavante. Na época, o único centroavante era o reserva era Dario, um bom centroavante convocado “a pedido” do ditador Emílio Médici e que nunca foi utilizado por Zagallo. Dario, Fred, Jô, etc. eram / são jogadores que nunca foram unanimidades como craques no país. O time teria que ser redesenhado, mas Felipão, desde Jardel, parece não saber jogar sem centroavante.
Na Copa do Mundo, fomos até longe demais. O Chile poderia ter eliminado o Brasil, que conseguiu a vaga nos pênaltis pelo fato de um chileno ter errado seu chute. O nervosismo dos jogadores — patente em suas lágrimas — demonstrava alguma coisa que não era repercutida pelo ufanismo das propagandas e dos locutores de TV.
É claro que os 7 x 1 para a Alemanha foram inesperados. Um primeiro tempo que termina em 5 x 0 é anormal até no Campeonato Gaúcho e nas primeiras fases da Copa do Brasil. É um resultado que só se obtém se o adversário ficar parado, pasmo. Foi o nosso caso. Fomos um grupo mal treinado que não soube o que fazer contra a organizada Alemanha. Mas tudo continuará igual. A partir de abril de 2015, o atual presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Marco Polo Del Nero — homem que tem o mesmo estilo e ideias de Teixeira e Marin –, será o novo manda-chuva da CBF. E tudo seguirá assim até que uma grande geração de jogadores nasça, entre em campo e vença, não obstante a CBF.
Sobre o goleiro especialista em pênaltis da Holanda, Tim Krul. Anteontem à noite, meu amigo Ricardo Branco aventara (gostaram?) a hipótese de que aquilo fosse apenas uma inteligente medida de ordem psicológica e intimidatória. Do tipo, “temos uma arma secreta”. Para piorar, o tal especialista era um armário. Hoje, sabe-se que o Branco tinha razão. Tratava-se de uma medida brilhante de Louis van Gaal a fim de deixar os jogadores da Costa Rica de cabelos em pé. “Quem é esse cara que entra só para os pênaltis? Deve ser o próprio monstro que pega todos”. A estratégia está na regra e a Holanda ganhou.
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Já que, nestes dias antes das semifinais, a Argentina tem mais cara de campeã do que o Brasil, meu amigo Jorge Lima sugere um bombardeio preventivo a Buenos Aires. Acho que nossa Marinha — temos mesmo isso?, como eles passam o tempo? — poderia atacar do Prata, destruindo os restaurantes de Puerto Madero. Pura profilaxia.
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Palpites para as semifinais:
Brasil x Alemanha (Belo Horizonte, 8 de julho, às 17h)
–> Passa a ALEMANHA, infelizmente
Argentina x Holanda (São Paulo, 9 de julho, às 17h)
–> Passa a ARGENTINA.
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Pena que não consegui ver o final do jogo no qual Novak Djokovic venceu Wimbledon e ainda retornou ao primeiro lugar no ranking. Vi só os 4 primeiros sets… Também, né, foram mais de 3h30 e eu tinha que ir ao cinema. Já tinha comprado os ingressos e tudo…
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Esse pessoal que fala em Copa comprada ou é ingênuo ou está fora da disputa. Argentina, Alemanha, Brasil e Holanda pagaram suas vagas? Conta outra. E, se quem comprou foi o Brasil, por que não providenciou adversários mais fáceis? Como disse o Sergio Bomfim, imagina a grana pra subornar 31 seleções. Deve ser o dobro do PIB.
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No ano passado, eu e Igor Natusch criamos informalmente o PJS — Partido da Justiça Social. Quem poderia ser contra nós?
Anteontem, Elena Romanov manifestou desejo de criar o PUM — Partido Utópico Moderado. Agora debato-me entre as duas siglas.
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Olha, o nível dessas eleições é de chorar. Nossa Assembleia Legislativa, hoje já não muito brilhante….
Dos oito jogos das oitavas, acertei sete vencedores. Errei apenas o Brasil, como vocês podem conferir ao final deste post. Vamos dar nossos chutes para as quartas? Diferentemente das oitavas, onde simplesmente escolhi o melhor time, agora entra um pouco do torcedor em campo. Os confrontos são muito equilibrados. Creio que só a Holanda terá vida fácil contra a Costa Rica. O Brasil? Está ainda vivo e, após passar criminosamente pelo Chile, acho que irá até as semi-finais.
França x Alemanha, no Rio de Janeiro (RJ), sexta (4), às 13 horas.
—> Duríssimo, não tenho a menor ideia: passa a França.
Brasil x Colômbia, em Fortaleza (CE), sexta (4), às 17 horas.
—> Passa o Brasil: acho que, apesar do time superior, falta tradição à Colômbia.
Holanda x Costa Rica, em Salvador (BA), sábado (5), às 17 horas.
—> Passa a Holanda fácil.
Argentina x Bélgica, em Brasília (DF),sábado (5), às 13 horas.
—> Passa a Bélgica.
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Os palpites para as oitavas com o “gabarito”.
Brasil x Chile (Belo Horizonte, 28 de junho, às 13h)
—> Passa o Chile. ERRADO.
Colômbia x Uruguai (Rio de Janeiro, 28 de junho, às 17h)
—> Passa a Colômbia. CERTO.
Holanda x México (Fortaleza, 29 de junho, às 13h)
—> Equilibrado, mas passa a Holanda. CERTO.
Costa Rica x Grécia (Recife, 29 de junho, às 17h)
—> Costa Rica, fácil. NADA FÁCIL, MAS CERTO.
França x Nigéria (Brasília, 30 de junho, às 13h)
—> França, infelizmente. CERTO.
Alemanha x Argélia (Porto Alegre, 30 de junho, às 17h)
—> Passa a Alemanha. CERTO.
Argentina x Suíça (São Paulo, 1º de julho, às 13h)
—> Passa a Argentina. CERTO.
Bélgica x EUA (Salvador, 1º de julho, às 17h)
—> Complicado… Passa a Bélgica. CERTO.
Acredito que, se o Brasil não jogasse em casa, já teria dito adeus ao Mundial. Torci para o Chile, mas acho difícil que faça o mesmo para a Colômbia. Claro, não faz nenhuma diferença. Meu motivo é simples: não vi a Colômbia jogar, não me liguei a ela. Acho que um time como o do Brasil, que tem como destaques seus excelentes zagueiros, é um time perigoso, mas não o suficiente para chegar a uma final. Se passarmos pelo colombianos, morreremos nas quartas-de-final, contra Alemanha ou França, nosso habitual algoz.
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Conferindo minhas previsões…
Brasil x Chile (Belo Horizonte, 28 de junho, às 13h)
—> Passa o Chile. ERRADO.
Colômbia x Uruguai (Rio de Janeiro, 28 de junho, às 17h)
—> Passa a Colômbia. CERTO.
Holanda x México (Fortaleza, 29 de junho, às 13h)
—> Equilibrado, mas passa a Holanda. CERTO.
Costa Rica x Grécia (Recife, 29 de junho, às 17h)
—> Costa Rica, fácil. NADA FÁCIL, MAS CERTO.
França x Nigéria (Brasília, 30 de junho, às 13h)
—> França, infelizmente. CERTO.
Alemanha x Argélia (Porto Alegre, 30 de junho, às 17h)
—> Passa a Alemanha.
Argentina x Suíça (São Paulo, 1º de julho, às 13h)
—> Passa a Argentina
Bélgica x EUA (Salvador, 1º de julho, às 17h)
—> Complicado… Passa a Bélgica.
Assim como qualquer jogador que cometa um ato ilícito não visto pelo árbitro, acho que Suárez mereceu a punição administrativa de nove jogos. Mas, olha, nenhum jogador é um anjinho dentro de campo, basta observar o comportamento deles antes de cada escanteio. Dedo no olho e em outros lugares, por exemplo, é coisa rotineira. O ato mais desumano de Suárez foram as ofensas racistas proferidas contra Evra. Apesar de ele ter sido punido, bem punido, isso sim é difícil de engolir. É minha opinião.
Bom, vamos à diversão, primeiro uma propaganda sensacional que está passando no Chile:
— “Brasil capota aos pés da Cordilheira”
— ‘Saudades de junho de 2013″
— “Brasil perde e jogadores voltam para suas casas — no exterior”
— “Cone Sul avança na Copa com gols gaúchos” (obrigado, Francisco Marshall)
Sim, eu sou brasileiro e me preocupo com o Brasil mais do que a maioria de nós, acho. Não que tenha passado noites em claro após as vaias pouco gentis dirigidas à Dilma, não que tenha me indignado muito durante a AP 470 — o mensalão –, mas fico feliz com o fato de sermos a sétima maior economia do mundo, com nossa recém adquirida e pouco testada estabilidade, com o reconhecimento do mundo, etc. e infeliz com nosso Complexo de Vira-Latas, com o Fator Previdenciário e com a baixíssima qualidade de nossa educação. Ou seja, sou um brasileiro normal, daqueles que se ufanam de forma contida. Por exemplo, vou ao exterior e gosto de dizer que sou brasileiro; fico no Brasil e não me sinto inferior por ter nascido nessa terra.
O patriotismo é o último refúgio do canalha.
Original: Patriotism is the last refuge of a scoundrel.
Samuel Johnson. Fonte: The Life of Samuel Johnson, de James Boswell (1791)
Mas tem uma coisa: não me peçam para torcer para a Seleção Brasileira. Isso eu não faço. O Ricardo Teixeira, o Marín e a CBF não me representam e há anos sinto-me liberado para torcer para qualquer outro time. (Notem: escrevi “time”, não país). Vejam bem, não sou ingênuo a ponto de achar que uma derrota vai mexer na eleição, na estrutura do futebol do país ou na política de uma forma geral, nada disso. Apenas, repito, sinto-me liberado.
O mundo jamais será tranquilo enquanto não se extinguir o patriotismo da raça humana.
Original: You’ll never have a quiet world till you knock the patriotism out of the human race.
Bernard Shaw. Fonte: “Heartbreak house: Great Catherine, and playlets of the war”, Volume 7 (1919)
Torci contra o Brasil em 1974, preferia a Holanda. Torci a favor em 1978, pois não queria ver a Argentina campeã. Novamente torci a favor em 1982, tudo pela beleza do futebol. Torci contra em 1986, era Argentina e Maradona, como no? Não lembro o que fiz em 1990, mas, em 1994, só torci para o Brasil na final. Não vou citar todas as Copas, mas na de 2002, vejam só, fui brasileiro.
Eu também já fui brasileiro Moreno como vocês. Ponteei viola, guiei forde e aprendi na mesa dos bares que o nacionalismo é uma virtude Mas há uma hora em que os bares se fecham e todas as virtudes se negam. (…)
Carlos Drummond de Andrade. Também já fui brasileiro. Fonte: Alguma Poesia (1930)
Agora eu ligo a TV e vejo Ronaldo Nazário ao lado de Galvão Bueno. Ouço o narrador torcer loucamente e ver coisas sobrenaturais que justificam qualquer erro de arbitragem. Como posso me agregar àquilo? Por outro lado, vejo um time de um pequeno país, com um jogador brilhante que joga no meu Internacional de Porto Alegre (Aránguiz), com um esquema de jogo que varia de jogo para jogo e que nunca deixa o centroavante isolado (3-5-2, 3-4-3 e 4-3-3), bem, aí eu me apaixono, entende?
Patriotismo é a convicção de que o país da gente é superior a todos os demais, simplesmente porque ali nascemos.
Original: Patriotism is your conviction that this country is superior to all other countries because you were born in it.
Bernard Shaw. Fonte: “The Public: A journal of democracy”, Volume 13 (1910)
Sim, sábado, vou torcer para o Chile, e daí? Depois, talvez torça para a Holanda ou outro. Comigo não funciona esse troço rodrigueano da “Pátria de Chuteiras”. E eu desafio meus sete leitores a dizerem que trocariam um campeonato de seus times pelo hexacampeonato do Brasil. Eu não trocaria nem o Gauchão deste ano com suas duas vitórias sobre o Grêmio.
A única coisa que me dá orgulho nacionalista nesta Copa é que somos excelentes anfitriões e vai dar tudo certo em termos de organização. Sim, sei que construção, no Brasil, é sinônimo de corrupção, mas sou assim mesmo, confusamente volúvel.
Sou Internacional e Benfica. De resto, no futebol, sou coisa nenhuma. (Aliás, sou é a líder estudantil e deputada chilena Camila Vallejo).
E nada tenho contra quem torcerá a favor. Por que teria?
É sabido que desconhecidos, ao tentarem uma conversação, costumam introduzir, como que tateando o novo terreno, um assunto neutro, algo como a previsão do tempo. É sabido também que, logo após a tréplica, a conversa derivará para qualquer outro tema mais interessante. Só em Porto Alegre é diferente. Não há aqui assunto mais fundamental do que a previsão do tempo. Somos uma cidade de meteorólogos amadores. Sempre foi assim. Mesmo antes do efeito estufa, nosso clima já era imprevisível e existia uma real preocupação com ele. Portanto, se você vier para cá, saiba que o tempo é um grande assunto.
Também somos uma cidade pouco beneficiada pela natureza. Então, ufanamo-nos de possuir o mais belo pôr-do-sol do mundo, de sermos a cidade de melhor qualidade de vida do país, o povo que mais consome livros por habitante e de termos as mais belas mulheres. O último é o único fato comprovável, os outros dois devem ser mentirosos. Da mistura dos casais açorianos que a fundaram, dos portugueses que organizaram o mercado do porto, dos alemães que fundaram o odioso Grêmio, dos simpáticos sapateiros italianos que criaram o amado Internacional, dos negros que o jogaram melhor e das etnias que vieram depois, nasceu este ser único: a mulher porto-alegrense.
Só quem nos visita sabe como são as mulheres daqui. Nossa cidade e a de Passo Fundo, no interior do estado, são as recordistas de casamentos desfeitos no Brasil, fato estatístico que deixa as esposas perturbadas, agressivas ou vingativas, as solteiras confiantes, as “liberais” satisfeitas e os homens um pouco mais bocós. As estatísticas também apontam outro fato sublime: aqui, elas estão em maioria.
Os acontecimentos da vida privada das pessoas comuns normalmente carecem de confirmação, suas intimidades não costumam ir para os jornais, mesmo assim, já o das celebridades… Vou dar-lhes um pequeno exemplo dos problemas que Porto Alegre pode provocar. Certa vez, veio para o Inter um grande jogador: o zagueiro chileno Elias Figueroa. Ele chegou e já no aeroporto declamou Neruda. Imaginem um jogador bonito, alto, forte, moreno, com a cabeleira rebelde dos anos 70 e entonação estudada, dedicando um poema de amor à esposa Marcela, a seu lado, dentro o aeroporto, cercado por repórteres. Era um grande jogador e um publicitário, sem dúvida. No dia seguinte, os jornais estampavam as fotos do chileno e todos puderam ver de quem se tratavam, um e outro: Figueroa era um adônis, já Marcela era uma moça simpática. Porém, morando aqui, seria preciso muito mais para que o zagueiro mantivesse inexpugnável sua fidelidade. Rapidamente, ele tornou-se um símbolo tanto do Inter bicampeão brasileiro, como das mulheres que gritavam seu nome. Inabalável na defesa de seu clube, a resistência de Figueroa às porto-alegrenses foi pouco a pouco tornando-se mais sorridente. Primeiro, o chileno respondia com aceninhos às fãs, depois passou a dar autógrafos perguntando carinhosamente o nome das mulheres e alongando os diálogos muito além da tréplica. Neste período feliz, declamava poesias de amor nas rádios, mas agora sem dedicatórias à Marcela. Sabíamos, claro, que logo ocorreria o inevitável: ele acabou por focar sua atenção numa misteriosa mulher que o esperava dentro de um automóvel após os treinos.
Aquilo foi demais para Marcela. Pegou os dois filhos do casal e, encastelada no Chile, avisou ao presidente do Inter que seu marido voltaria para a casa no final do ano. Ela exigia seu retorno por motivos “de família”. O fato era motivo de piadas entre os torcedores do Grêmio e de temor entre nós, os do Inter. Neste ínterim, o futebol do chileno vicejava luxuriante. Ele agregara românticos dribles a seu futebol de resultados e era mais e mais amado pela torcida que comemorava, apesar de receosa da possível vingança de Marcela. E ela veio. Foram reuniões e mais reuniões para tentar demover Dom Elias, mas ele, como bom católico, rescindiu seu contrato com o clube no final de 1976. Perdeu muito dinheiro. O homem que enfrentava os mais perigosos atacantes voltou para a casa feito um cachorrinho. Como é uma das glórias do clube, visita até hoje Porto Alegre, sempre vigiado pela onipresente, modesta e simpática Marcela. Em 1977, quase fomos para segunda divisão. Tudo por culpa da mulher do carro.
Na tarde de sexta-feira (13), a Fonte Nova, em Salvador, recebeu um dos jogos mais esperados da primeira fase da Copa do Mundo: Espanha x Holanda. A partida terminou uma inacreditável goleada de 5 a 1 para Robben e cia, e com muitos torcedores lamentando por não ter presenciado essa grande partida.
Porém, ninguém lamentou tanto quanto o casal Orin e Melissa van Lingen. Os dois tinham ingressos para o duelo, mas uma confusão na agência de turismo fez com que eles fossem parar em El Salvador em vez de desembarcar na capital baiana.
— Partimos do pressuposto de que haveria alguma escala, mas quando chegamos no aeroporto, não teve outros voos, afirmou Melissa em entrevista Sunday Territorian.
O casal economizava dinheiro para a viagem desde o casamento em julho do ano passado e sonhava com esse momento desde a Eurocopa de 2008.
De acordo com Melissa, o momento mais difícil foi ver a cara do marido, que estava com “ o coração partido” por ter perdido o jogo.
Os dois ainda aguardam ajuda da agência de viagem, que promete reembolsar o prejuízo e conseguir colocá-los em um voo para o Brasil em breve.
Jogamos melhor e não ganhamos. Espero que este não se torne nosso mantra, Abel. Ainda mais porque os empates, o resultado mais comum de quem deixa de ganhar, dá apenas 1 ponto, 33% dos buscados 3. Ou seja, qualquer empate é uma quase-derrota. Por exemplo, o Inter perdeu apenas uma vez, enquanto que o Fluminense perdeu três. Quem, está na frente? O Flu, pelo critério de desempate, que tem como item nº 1 o número de vitórias.
Alan Patrick devolveu criatividade a nosso meio-de-campo e acompanhou com grande produção a D`Alessandro. Por que saiu, estava machucado, Abel? Pergunto porque o Valdívia, que entrou em seu lugar, está se especializando em perder gols. Chato isso, o guri joga bem, é veloz, mas perde as jogadas que cria. Acho que ele tem que treinar mais esse negócio de chutar em gol. Isto cabe a ti fazer. Juan jogou um bolão, assim como Dale, Willians e até Fabrício. Mas perdemos gols demais. Desde o primeiro tempo tivemos que conviver com o inferno dos gols perdidos.
Agora há um período de folga seguido de outro treinamentos. Espero que o Luque se integre bem assim como nosso terceiro Wellington de 2014. O próximo jogo — contra o Corinthians no invicto Itaquerão — será só em 16 de julho.
Boas férias, querido. Abaixo os melhores lances de ontem.
Mais um jogo em que levamos três pontos para o Beira-Rio, mas mais um jogo onde jogamos pouco, tomando sufoquinho da Chapecoense… No início da noite, Abel, cheguei ao bar e vi parte do jogo do Grêmio. Meus deus!, o que era aquilo? Quando iniciou nosso jogo, já estava com os nervos gastos de pensar que estávamos atrás do Grêmio e do Goiás no Brasileiro.
E, para colocar uma cerejinha em meu nervosismo, Abel, os primeiros 15 minutos do nosso time foram tão ou mais afobados do que o descontrole do Sport contra o time do bairro de Uma e tá. Foste salvo por um cruzamento do Fabrício, que achou o Wellington Paulista na área para fazer um bonito gol de cabeça. Enquanto isso, o garoto Diogo levava o maior baile do tal do Neuton, pelo lado esquerdo de ataque dos de Chapecó. Não gosto muito de individualizar, mas acho que o Sasha também foi muito mal, que o Valdívia só cai de qualidade, que o Wellington também piora e que este Leandro fez uma bela estreia. Ah, e que o D`Alessandro precisa de férias. Também pudera, sem o Aránguiz, é tudo com ele. Também o Jorge Henrique entrou bem no jogo. Porém, Abel, o importante é tu usares este período de treinamento durante a Copa do Mundo para dar mais dinâmica pro time. Estamos jogando feio demais.
Será complicado passar o período da Copa no G-4, né, Abel? A única forma será ganhar do Fluminense. O pior é que o Grêmio vencerá o Palmeiras e talvez fiquemos atrás deles durante o mês de recesso. Bem, quem manda não ganhar do Criciúma nem do Coritiba? Tais façanhas nos deixam atrás de um time que leva 4 x 1 de nós e que sai de campo feliz. Abel, o Patrick volta contra o Flu? Acho que o meio fica mais equilibrado com ele, Dale e Valdívia. Seria importante contar com ele. E não avise o Cristóvão que o Diogo não sabe marcar. O cara é uma avenida! Por que o Winck não joga esta partida, hein? Ele também não marca, mas me parece mais consistente, sei lá. De qualquer forma, boa sorte pra ti nesta última rodada pré-Copa.
Tudo tranquilo? Sem dúvida, pois voltamos a nossa posição habitual no Brasileiro, o oitavo lugar. Parabéns. Puxa, Abel, disse na última quinta-feira que tu dirias após o jogo de ontem:
O Cruzeiro é um time perigoso, bem preparado e joga bem tanto em casa como fora. Jogaram no nosso erro. Além do mais, tem o grande Ricardo Goulart.
Hoje leio no jornal:
Acabou que não conseguimos jogar, nos marcaram e jogaram no nosso erro. O Cruzeiro achou o segundo gol. Agora, é o momento da grandeza, blá, blá, blá…
Tudo tão previsível, Abel. Nós sempre erramos! Não temos banco e, se as quatro estrelas do time eram Aránguiz, Alex, D`Alessandro e Alan Patrick, ontem estivemos sem 3 delas — só D`Alessandro jogou — e com Otávio… Céus. Além do mais, se o titular já não é uma Brastemp, o que dizer de Wellington Paulista como centroavante? Melhor não dizer nada. Outra coisa, nunca pensei que sentiria falta do Paulão… E o Dida que agora deu para espalmar para a frente?
Bem, não vou cansar meus sete leitores, são os mesmos erros de todos os anos, a única coisa que muda são os nomes. Acho que perderíamos mesmo sem os desfalques. O Cruzeiro é muito melhor. Apenas gostaria de saber se a folha de pagamento do mineiros é maior que a nossa. Creio que não. Afinal, somos o time das velhas e caras estrelas cadentes, o time que não confirma a compra de Ricardo Goulart ao Santo André mas que tem um goleiro caro e deficiente de 40 anos. Por isso, estamos atrás de times ridículos como Goiás, Grêmio e Palmeiras no Brasileiro.
No jogo de ontem, será que Dida gritou “Deixa!” para Valdívia no primeiro gol? O que fez Wellington no segundo e como explicar a letargia no terceiro gol? E a montanha de erros de passe? Acho que os anos Luigi serão isso aí, mas até isso era previsível. Espero que haja trabalho durante a Copa. Senão, podem contar mais um ano, 36, sem Brasileiros
Não precisava ser nenhum gênio para anunciar o que anunciei segunda-feira para ti, Abel. Previ que o Inter perderia a liderança nesta rodada, lembras? E não por culpa da quarta-feira, mas da ridícula atuação de domingo. E não esqueça, estou considerando de barbada pra ti que o Coritiba — hoje na zona de rebaixamento — seja um bom time. É que ontem houve um número incrível de desfalques.
Já estamos em 4º lugar. Se hoje o Goiás vencer o Santos, passamos a 5º. Isso já nos põe perto de nosso lugar habitual, o 8º ou 9º lugar. É para lá que vamos, infelizmente. E tudo por culpa de detalhes mal cuidados, de erros de postura e tolices como o fato de entrarmos ontem em campo com Otávio — que esqueceu seu futebol numa esquina de 2013 — e não com o bom Valdívia. Nego-me a falar sobre arbitragem, reclamação típica de gremistas. Ainda mais que o Dida rebateu a bola para a frente. Mas agora é só ganhar do Cruzeiro no Centenário…
Já tens preparado o discurso? Sugiro “O Cruzeiro é um time perigoso, bem preparado e joga bem tanto em casa como fora. Jogaram no nosso erro. Além do mais, tem o grande Ricardo Goulart”. Mesmo com o retorno de Juan, Willians e D`Alessandro, não acredito num bom resultado contra o Cruzeiro. E lá vamos nós cada vez mais para fora do G-4. Espero que tu ao menos mantenha o Valdívia no time e comece a pensar em Ernando como titular definitivo da zaga.
Abel, meu querido, é em razão de coisas como a de ontem à noite que faz 35 anos que o Inter não vence um Brasileiro. Escreva aí: o campeão brasileiro de 2014 — e qualquer um, de qualquer ano — vai vencer quase todos os timinhos, dentro e fora de casa. Os pontos de ontem são difíceis de recuperar e meu prognóstico é o de que, na próxima rodada, já não estaremos na liderança, pois o pensamento de que um “empate é um bom resultado em Curitiba” já faz parte da forma de pensar no Beira-Rio.
Viste o Diego Simeone sendo jogado pra cima pelos jogadores do Atlético de Madrid após vencer o Campeonato Espanhol? Apesar do teu peso, queria te ver naquela situação. Pense bem, nós não temos punch. Te explico o que é punch: é a força, a potência no golpe para derrubar um adversário numa luta de boxe. Nós damos soquinhos. Quando temos a oportunidade de derrubar, quando o time adversário parece pronto para perder, nós relaxamos, tranquilizados pelo fato de não sermos atacados. Acho que para fazer gol é preciso gostar de fazer gol. Cadê os chutes de fora da área? Procura aí abaixo, nos melhores lances de ontem, Abel. Ter Alex e D`Alessandro no time e não chutar de fora? Não entendo. Aliás, outra coisa que não entendo é o motivo de três meias num jogo como o de ontem.
Eu gosto muito de tênis, professor. Grande parte do trabalho do tenista é deixar o adversário desconfortável na quadra. O bom tenista tenta obrigar o cara do outro lado a fazer tudo o que ele não gosta de fazer. E nós, no futebol, gastamos largos períodos de nossos jogos trocando passes lentamente, num acordo tácito de confortabilidade mínima para os dois lados. Parece que lideramos o campeonato com larga margem. Olha a tabela, Abel!
E agora, vamos jogar fora de casa contra o Coritiba sem Juan, Willians (por terceiros cartões), Aránguiz e Gilberto. Vamos pra cima deles ou fazemos teremos mais enrolação? Lembre-se que o Coritiba de Celso Roth não venceu nenhuma partida no campeonato. Tem 3 empates e 2 derrotas.