Brahms: Trio para Trompa, Violino e Piano, Op. 40

Esta é uma peça mais desconhecida do repertório de Brahms. Gosto muito dela. A sonoridade da trompa, que a princípio parece incompatível para fazer música de câmara com violino e piano, forma um contexto inusual e muito bonito sob o talento do autor de Hamburgo que passou a infância numa cervejaria (mas esta história da cervejaria conto outra hora). Curiosa e tristemente, o trio, escrito em 1865, é dedicado à mãe do compositor, morta no mesmo ano. A presença da trompa era para dar um timbre sombrio e melacólico, mas eu jamais chamaria o Scherzo e o Allegro final de melancólicos… O trio dos vídeos abaixo é formado por três feras absolutas: Itzhak Perlman, violino; Daniel Barenboim, piano e Dale Clevenger, trompa. Vejam porque vale a pena! A obra tem 4 movimentos, um em cada vídeo:

I. Andante
II. Scherzo (Allegro)
III. Adagio mesto
IV. Allegro con brio

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Stravinsky – Trecho de Petrouchka

A pianista é Yuja Wang. Ela nasceu em fevereiro de 1987 em Pequim. Começou a estudar piano clássico aos seis anos. Aos sete, Wang entrou no Conservatório Central de Música de Pequim e ali estudou por três anos. Wang mudou-se para o Canadá com 14 anos para aprender inglês e estudar na Royal Monte University Conservatory em Calgary. Ela vive atualmente em Nova York.

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Sugestões?

É voltado para Porto Alegre e muitos que vêm aqui são de fora, mas o que acharam? É um roteiro cultural de fim-de-semana.

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Coral da Cantata BWV 147, "Jesus, a alegria dos homens", de Bach (versão para BOLINHA)

É uma propaganda japonesa de um celular “de madeira”, mas é também um imenso xilofone.

http://youtu.be/r83-GBFepj0

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OSPA em noite medonha, mas só lá fora

O clima medonho de ontem — chuvoso e frio — liquidou com a possibilidade de a Reitoria da UFRGS receber um bom público para o concerto de ontem à noite. Uma pena, pois estava excelente.

O programa iniciava com O Moldávia, do checo Smetana, trecho mais conhecido do poema sinfônico Minha Pátria (Má Vlast). Depois, nós sofremos duras consequências de duas obras bem chatas, a Dança do Comediantes da ópera A noiva vendida, também de Smetana, e das 4 Danças eslavas, de Dvorák, até chegarmos à esplêndida Sinfonia Nº 2 de Brahms.

Ao contrário do tempo que fazia lá fora, a segunda de Brahms é tranquila e mesmo seu Adágio não é nada triste, mais parecendo uma Sinfonia Pastoral. Brahms, que sempre sofreu comparações absurdas com Beethoven — na verdade são tão parecidos quando Scarlett Johansson e Monica Bellucci, duas perfeições inteiramente distintas — , teve sua segunda sinfonia posta em comparação à sexta de Ludwig van, a Pastoral, por seus contemporâneos. Mas isso são considerações históricas e absurdas. O que nos interessa é que a interpretação da OSPA sob a regência de Cláudio Cruz esteve com sobras à altura da composição.

Antes da estreia, Brahms brincava com seus amigos dizendo-lhes que nunca tinha composto algo tão triste e ameaçava: “É tão triste que acho que não vou conseguir ouvir até ao fim”. Na verdade, toda a sinfonia está repleta de felicidade brahmsiana, que é algo contido, sereno e, tá bom, pastoral.

Grande noite. Perdeu quem ficou com medo da chuva.

Johannes Brahms

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Sinfonia Nº 1 de Brahms

Estava procurando alguma coisa com o Simon Rattle na Filarmônica de Berlim e logo o encontrei regendo a 1ª Sinfonia de Brahms, minha sinfonia preferida. É só um trecho — mas que trecho! — e ao final o YouTube me ofereceu para ver o segundo vídeo, coisa de pai maluco e aparente sucesso na galeria de vídeos… O que me impressiona é o som, o timbre da Filarmônica de Berlim, tão grandioso e distinto do comum das orquestras. É único, assim como o da Orquestra do Concertgebouw de Amsterdam. Confiram.

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Ontem, com João Donato no Teatro São Pedro

Porto Alegre é estranha, às vezes nos oferece muitas coisas, até demasiadas; outras vezes nos deixa na mão. Ontem à noite, ao mesmo tempo, João Donato estava se apreesentando no Teatro São Pedro e a OSPA levava Bach e Mozart à Igreja das Dores. Acho que fiz uma boa escolha, mas balancei seriamente quando a violinista Elena Romanov colocou em seu Facebook belas fotos (incrivelmente feitas num celular) dos músicos ensaiando. Além disso, coisa rara nos templos porto-alegrenses, elogiou a acústica da Igreja.

Porém, fui ver o Donato. Tudo muito simples como deve ser na sala de sua casa ou como seria na nossa. Um palco de resto vazio com um piano no centro. Uma luz, vinda de cima, iluminava o instrumento e a cadeira a sua frente. Só. Então, o músico de 76 anos e excelente forma entrou no palco meio desajeitado sob seu habitual boné — bem daquele jeito que têm os tímidos quando são as estrelas — , fez uma saudação rápida, explicou a primeira música e realizou as primeiras mágicas. Iniciou com extrema simplicidade tocando valsas compostas em sua infância (uma delas para a namorada Lili, de oito anos, composta quando o autor tinha sete) e depois partiu para seu enorme repertório, digamos, adulto.

Donato tem uma trajetória curiosa. Chegou aos EUA antes do pessoal da bossa nova e rapidamente se enturmou com o pessoal do jazz — latino e americano. Foi amigo do grande Horace Silver, de Stan Kenton e parecia que ia estabelecer-se como um grande pianista de jazz. Até os anos 70, Donato compunha apenas temas instrumentais e costumava sair por aí com trios, quartetos e quintetos. Acompanhavam cantores ou formavam uma banda de jazz latino. Se não me engano, foi sei irmão quem o convenceu a procurar parceiros para colocar palavras em suas melodias. Logo, sua imaginação melódica o transformou em parceiro de João Gilberto (sim, ele escreveu letras para Donato), Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, etc.

Desta forma, agregando ou não palavras a sua arte, Donato foi parceiro de Paulo Moura a Fernanda Takai, chegando até Marcelo D2 e Black Eyed Peas… Sim, o cara é um baita instrumentista, arranjador e compositor e há trabalho para ele em qualquer lugar do mundo. O show de ontem, Solo, por exemplo, surgiu de um projeto no Japão que fazia pianistas excursionarem pelo país em apresentações solo. Donato é o cara perfeito para isso. Mas não é o cara perfeito para dizer que é. Poderia até ser um bobo arrogante, pondo na frente da gente seu currículo; porém, com absoluta simplicidade, simpatia e atenção, só diz e apresenta o que são, naquele momento, ele e sua música. OK, fiquei apaixonado…

Apesar da relação de canções constantes do programa, João de forma alguma a obedece. Ele acaba uma, ergue a cabeça, lembra de outra, conta sua história e mostra como é. Às vezes, canta. Outra coisa que me fascinou foi seu comportamento “de músico”. Ele mesmo diz “ah, essa aqui era assim, mas agora ganhou nova introdução e mudei umas coisinhas; vocês sabem que as músicas evoluem, vão mudando, né?”. Então, seu show não têm nenhuma regra e aposto que o próximo será diferente, assim como as coisas que conta.

Gosto de shows com luz de serviço e alguma improvisação. Prefiro deixar de fora o que não é música. E essas coisas com roteiro certinho e decoradinho me irritam. Vou aos teatros para ver o músico e o ser humano que mora nele. Não tenho nada a reclamar de João Donato, não me decepcionei de modo algum.

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A fecundação

Não sei quem fez, o que sei é que achei lindo. Me deu uma enorme vontade de colocar uns vinis pra rodar hoje à noite.

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Beethoven – Quarteto de Cordas, Op. 132 – 3º movimento (e o inevitável 5º de minhas lembranças)

É sempre difícil escrever sobre uma música que amamos muito e que nos faz lembrar fatos pessoais. A primeira coisa que me vem à mente quando penso no Opus 132 foi aquele momento mágico em que eu, sentado na pior sala de meu passado, ouvi iniciar o Allegro Appassionato (último movimento do quarteto) e vislumbrei que, logo aos primeiros compassos, minha filha, aos cinco anos de idade, entrava girando na sala, improvisando uma valsa que dançava sozinha, de olhos fechados, por puro prazer de ouvir a música… Foi tão marcante que hoje soa-me hipócrita dizer que o movimento principal deste quarteto é o imenso Heiliger Dankgesang eines Genesenen an die Gottheit, in der lydischen Tonart, um agradecimento à divindade pela recuperação que Beethoven obteve após grave enfermidade. Mas é, claro que é. O terceiro movimento, com suas duas explosões de alívio é o centro e razão de ser desta grande e fundamental obra.

Quando os últimos quartetos foram apresentados pela primeira vez, não foram bem recebidos pelo público. Ao receber a notícia, Beethoven deu a célebre resposta:

– Gostarão mais tarde.

Como ele sabia que estava escrevendo para o futuro é algo que consigo mais ou menos entender observando a evolução de sua música. Outro fato que chama a atenção é que, estética e conceitualmente, estes quartetos parecem projetar-se na evolução da história da música para colocarem-se quase 100 anos sua época, talvez logo antes dos grandes quartetos de Schoenberg e Bartók. É um mundo à parte. ISTO é Beethoven, e não seus concertos ou sonatinhas iniciais. Ela refere-se aos últimos quartetos, às últimas sonatas para piano, às Diabeli e certamente à Nona Sinfonia. O restante seria grandioso, mas menos pessoal e significativo. Lembro que quando era adolescente, nós tínhamos que nos aproximar destes quartetos respeitosamente e o Dr. Herbert Caro dizia que talvez fosse necessária maior maturidade para que um jovem pudesse entendê-los. Discordo postumamente do grande Dr. Caro, meu amigo e tradutor de Doutor Fausto, da Montanha Mágica, de Auto-de-Fé e outras tantas obras-primas; acho que sempre ouvi o Op.132 e 130 (o último acompanhado de sua Grande Fuga) da mesma forma e o respeito que sempre tive por estes quartetos emanava deles e não de minha atitude. O fato é que o Op. 132 é uma música que passou a fazer parte de mim muito cedo. Eu, um adolescente na casa de meus pais, costumava ficar deitado, antes de dormir, tentando reproduzir nota a nota o terceiro movimento. Cronometrava para ver se chegava perto de seus 15 minutos… Às vezes, pensava conseguir reproduzi-lo por inteiro. Mas nunca ninguém pode comprovar, nem eu.

Dizer mais o quê?

E, aqui, o movimento que minha filha Bárbara dançou por puro prazer numa noite fantasmagórica:

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Sonâncias III, do genial Marlos Nobre

A Caminhante, que entende do assunto, achou a coreografia simples e bonitinha — não lembro exatamente das palavras que ela usou. Já eu achei que ela acompanha bem o que há de superior: a música do grande pernambucano Marlos Nobre. Fazia muito tempo que não ouvia, só a tenho em vinil e desenvolvi certa preguiça de pegar os bolachões. Tenho 1300 deles. Me dá certo cansaço, pegar, limpar, virar o disco após 20 minutos, pegar, limpar de novo, pôr no plástico e depois na capa para devolver à estante. Mas o assunto é o tio Marlos, né?

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Como ganhar o dia sem fazer nada

Recebi este e-mail hoje:

Oi, Milton,

Não, não é a Páscoa. É que ontem, aqui em Lisboa, fui assistir ao Tom Koopman com sua orquestra e coral, tocando e cantando a Paixão Segundo São João de Bach. Foi uma maravilha, e lembrei-me muito de ti, muito mesmo, e lamentei que não pudesses assistir isso. O Koopman é uma simpatia, rege energicamente, com mãos e boca, e praticamente canta junto. 1h50 em pé, feroz e motivador, regendo e tocando cravo. A orquestra toda é uma maravilha, também. Enfim. Consigo apreciar essas coisas graças a ti.

Abraço.
H.

Eu não sou tão burro e sei que há imenso exagero no textinho, mas isso não me impede de sair para almoçar nas nuvens.

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Trem das Onze – Tangos e Tragédias

Hique Gomez, o violinista Kraunus Sang, e Nico Nicolaiewsky, o Maestro Plestkaya, ambos cantores, dão um banho na obra-prima de Adoniran Barbosa. Esta apresentação foi no Teatro Positivo, em Curitiba, no ano de 2008.

http://www.youtube.com/watch?v=mDwRqaCmvOg&feature=player_embedded

Lembrança do Melo.

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"Não adianta ir da Classe D para a C apenas para comprar uma geladeira", diz diretora de Economia da Cultura

Obs.: Essa entrevista foi feita por mim para o Sul21, mas como o assunto é cultura — um dos assuntos mais frequentes neste eclético blog — , deixo-a também aqui para meu 7 fiéis leitores.

Foto de Ramiro Furquim / Sul21

Denise Viana Pereira é a Diretora de Economia da Cultura da Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul. Trabalha, pois, com o Secretário Luiz Antônio de Assis Brasil numa das secretarias mais pobres e de maior visibilidade do governo, vendo apenas 0,07% do orçamento estadual e sendo visitada por boa parte dos artistas e produtores do Rio Grande do Sul. Denise é formada em Comunicação Social pela Ufrgs, é especialista em Teoria de Jornalismo e em Economia da Cultura. De 1999 a 2001, integrou a equipe do Instituto Estadual de Música da Secretaria de Estado da Cultura do RS. Nos anos de 2003 e 2004, foi Chefe de Gabinete da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre e integrou a Representação Regional Sul do Ministério da Cultura entre 2006 e dezembro de 2010.

Em sua entrevista ao Sul21, Denise Viana Pereira fala sobre a nova lei que substitui a antiga LIC e sobre os planos nada modestos da Cultura do estado.

Sul21: Nos últimos dias, foram aprovados R$ 3,6 milhões em autorizações para captação de patrocínios via LIC. Associada a esta notícia, há a nova legislação de apoio e fomento à cultura, aprovada em dezembro de 2011.

Denise Viana Pereira: Sim, a LIC – Lei de Incentivo à Cultura – foi sancionada em 1996 e começou a funcionar em 1997, indo até agosto de 2010. Após esta data, ela foi suspensa até 7 de dezembro quando foi regulamentada a nova lei de fomento e apoio à Cultura, que se chama Pró-Cultura.

Sul21: A LIC não existe mais?

DVP: Não existe mais. Ela só permanece para os projetos que ainda estão em tramitação. Os novos processos não ingressam mais via LIC, mas sob o Pró-Cultura. O Pró-Cultura tem no seu bojo dois mecanismos: um mecanismo é o Fundo de Apoio à Cultura, grande conquista que nós aprovamos em 2001 na Assembleia Legislativa e que nunca tinha sido regulamentada, e um mecanismo de compensação fiscal semelhante à antiga LIC. O Pró-Cultura, então, engloba o fomento direto – pelo Fundo – e a compensação fiscal.

Sul21: Como funciona?

DVP: Na lei antiga, a empresa poderia se compensar de 75% do total do projeto descontando o valor de seu ICMS. Na nova lei, o desconto é de 100%. Porém, regra geral, para todo o projeto, o patrocinador fica obrigado a um depósito de 10% no Fundo de Apoio à Cultura, à exceção de projetos para Patrimônio Cultural e Construção de equipamentos culturais, para os quais o depósito é de 5%. Então, há a compensação, a isenção, mas há o incentivo propriamente dito, o qual é depositado no Fundo.

Sul21: Há um teto de isenção fiscal determinado pelo estado?

DVP: Sim, e este é muito baixo. O teto de isenção fiscal é de 28 milhões. Então, 10% são 2,8 milhões. É pouco para o Fundo. No ano passado, foi enviado um projeto de lei que prevê um aumento deste valor para R$ 35 milhões. A lei permite que este teto possa chegar ao máximo de 0,5% da receita líquida do estado. Trata-se de um valor variável, que hoje deve bater nos R$ 70 milhões.

Sul21: Resumidamente, poderia descrever o processo de aprovação do Pró-Cultura com a compensação fiscal?

DVP: O processo é (1) o proponente cadastra-se no site, (2) validação por parte da SEDAC, o que hoje demora 7 dias; (3) então, o proponente tem 15 dias para trazer documentos; (4) de posse dos documentos, fazemos a análise técnica detalhada onde normalmente questionamos coisas que não ficaram claras e então (5) o projeto é enviado para o Conselho Estadual de Cultura, que tem 60 dias para analisar. Após a aprovação, esta é publicada no Diário Oficial do Estado e o autor do projeto recebe uma carta que autoriza a captação, ou seja, o patrocínio por parte das empresas. O prazo mínimo total para a aprovação de um projeto é de 90 dias, por lei. Na prática, sabemos que este tempo não ocorre antes de 4 meses. O que desejamos é chegar cada vez mais próximos dos 90 dias. Estamos em contato com o Conselho para que eles analisem a possibilidade de diminuição de seus prazos. Tudo é muito moroso e há uma comparação inevitável: a Lei Federal é muito mais ágil. Não faz sentido. Temos que nos apropriar do sistema federal.

Sul21: Como é que o novo governo encontrou a SEDAC?

DVP: O secretário Assis Brasil sempre diz que não adianta a gente ficar olhando para o passado. O que a gente quer é que nossa marca seja o diálogo. Queremos manter as portas abertas e até retiramos algumas divisórias que haviam em nossa estrutura física… Queremos receber todos, ouvir todos os que nos procuram. Todos são atendidos. Acabamos inteiramente com certo tom policialesco da SEDAC. Nós éramos vistos pelos produtores culturais, de antemão, como oponentes, quando na verdade ambos são proponentes. Claramente, havia grande distância entre os produtores e o sistema de fomento e financiamento da cultura no estado. Nós queremos o oposto.

Sul21: Quais são objetivos factíveis dos quatro anos da gestão?

DVP: O primeiro objetivo é o de fazer a Casa de Cultura Mario Quintana funcionar a pleno. Resolvendo desde a obra de fixação da fachada até recheá-la de programação. O segundo é o de construir o Teatro da OSPA. Os outros estão associados ao plano de recuperação do orçamento da cultura do estado, que nos tirará deste “quase nada” de recursos que temos hoje. Hoje, temos 0,07% do orçamento do estado. Nossa intenção é a de chegar, ao final dos quatro anos do governo Tarso, a 1,5%. Queremos 0,5% no segundo ano de gestão, 0,75% no terceiro, 1% no quarto e 1,5% para a próxima gestão.

Sul21: Há outros?

DVP: Temos também projetos ligados à utilização do Fundo de Apoio à Cultura. Pretendemos criar editais a fim de selecionar projetos de Casas de Cultura, teatros, cinemas ou bibliotecas para o interior do estado. Queremos equipamentos culturais para o interior. Nós selecionaremos os projetos; desta forma, não seriam equipamentos de propriedade do estado. Nós apoiaremos projetos que permitam aos municípios se equiparem. Imaginamos valores de até R$ 500 mil. Muitas vezes há prédios que poderiam se transformar num teatro ou numa biblioteca. Nossa intenção é participar da reutilização destes espaços para fins culturais.

Sul21: Não há quase mais cinemas no interior.

DVP: Bem, neste sentido nós trabalhamos com a ideia dos cineclubes. Nosso plano de governo inclui a criação de 100 Cines mais Cultura ao longo dos quatro anos de gestão e envolve a criação de 500 Pontos de Cultura lato sensu. Nos Pontos de Cultura, o governo aporta recursos para iniciativas que já existem, dando apoio aos chamados Pontos de Cinema (cineclubes), aos Pontos de Brincar (brinquedotecas), aos Pontos de Leitura (pequenas bibliotecas) e aos Pontos de Memória (museus comunitários ou ações de memória). Estas são ações que o MinC desenvolve. Este ano, deveremos receber R$ 10 milhões para começarmos.

Sul21: E a OSPA? Sem sede, ensaiando no cais do porto, convivendo com falta de músicos, concursos… E o novo Teatro que não sai do papel?

DVP: Hoje temos boas perspectivas. O secretário Assis Brasil é um ex-membro da orquestra e está bastante compromissado com a OSPA. Foi elaborada uma emenda parlamentar de R$ 20 milhões para a construção – o custo do teatro é de R$ 32 milhões. Em um de seus primeiros pronunciamentos, a presidente Dilma Rousseff falou em necessidades de contenção e suspendeu todas as emendas. Algumas destas foram extintas, mas a da OSPA não. O governador Tarso já enviou correspondência para a Ministra da Cultura e para a Comissão de Educação e Cultura do Congresso. Há toda uma mobilização estadual pela manutenção da emenda parlamentar de R$ 20 milhões. Isto garantiria 2/3 da obra. De outra parte, o MinC, em reunião aqui conosco, com a presença do secretário Assis Brasil, comprometeu-se em colocar mais R$ 7,5 milhões ou R$ 10 milhões – dependendo da emenda deste ano – , à razão de 2,5 milhões por ano. Se a emenda de R$ 20 milhões entrar este ano, eles não repassariam a primeira parcela de R$ 2,5 milhões, ficando o primeiro pagamento para 2012. Em resumo, repito, temos boas perspectivas.

Sul21: Houve uma discussão sobre possíveis mudanças no projeto do Teatro a fim de que ele pudesse receber óperas. Propôs-se a criação de um fosso para a orquestra…

DVP: Falando de uma forma rasa, o secretário compreende as críticas – o IAB igualmente não está de acordo com a parte externa do projeto e há esta discussão sobre óperas – , mas sua ideia é a de que o Teatro da OSPA é uma sala sinfônica e não outra coisa. E mesmo que haja discussões — penso que sempre haverá — não podemos atrasar mais 20 anos uma construção que nos faz falta há décadas. Então, temos um projeto pronto, pago, e achamos que ele não deve mais ser alterado. Estamos em outra fase e, se retrocedermos a uma anterior, quando teremos o Teatro?

Sul21: Fomento é política cultural? E a distribuição, divulgação e venda?

DVP: De modo algum fomento é política cultural. O mecanismo de financiamento e fomento não pode ser nossa única atividade; isto é apenas um instrumento. É muito insuficiente e concentra a pouca verba disponível nas capitais e nos artistas conhecidos. Para isso é que agora temos o Fundo de Apoio à Cultura, temos que fortalecê-lo para poder diversificar o tipo de projeto a ser apoiado. Por outro lado, temos que nos preocupar não apenas com os projetos, mas com a criação de hábitos de consumo de toda produção cultural. Temos que apoiar a distribuição, o consumo e a formação de plateias. É um problema igual ou maior do que o de produção, que é o que a LIC fazia exclusivamente. As leis de incentivo fomentam a produção, mas não fomentam a distribuição, elas concorrem muito pouco para a absorção daquilo que criam. Veja o caso do blog da Maria Bethânia: Jorge Furtado foi brilhante ao dizer que se tivessem pedido três vezes o mesmo valor para um filme que ninguém fosse assistir, não iam reclamar de nada, mas como é um blog e há um preconceito com o meio virtual – criado pela grande mídia – ninguém diz que Bethânia estará divulgando uma porção de poetas que ficariam de outro modo inacessíveis. Sou totalmente favorável ao blog dela. Grande parte desta discussão é sufocada pelo desconhecimento que as pessoas têm do contexto da produção e das necessidades culturais.

Sul21: Teu cargo é o de Diretora de Economia da Cultura. O que significa exatamente?

DVP: Como tu disseste, não adianta a gente apenas fomentar a produção. O olhar da economia sobre a cultura nos dá uma noção de que existe uma cadeia produtiva inteira, que vai até o público.

Sul21: Normalmente os artistas não pensam na parte comercial…

DVP: Sim, há que pensar na divulgação, nas vendas, na infraestrutura. Mas o pensamento não pode também ser apenas mercantilista, pois há dois valores envolvidos: o valor econômico do produto cultural e o valor simbólico, que vai transformar a pessoa que assistirá uma orquestra pela primeira vez, que vai fazê-la pensar em coisas sobre as quais jamais tinha antes refletido. É preciso pensar na sustentabilidade da produção.

Sul21: Sim, o espectador sai melhor, mais rico de um filme, peça ou espetáculo, mas como medir a importância desta experiência, deste conhecimento?

DVP: Nós estamos num momento maravilhoso, porque o governador é sensível à cultura. Ele é completamente consciente deste valor simbólico e da importância de termos cidadãos capazes de serem reflexivos e críticos, em contraposição a cidadãos que vêm da classe D para a C apenas para comprar uma geladeira ou uma batedeira e continuar se matando na esquina ou atropelando ciclistas. Se a gente quer mexer na sociedade, temos que necessariamente passar por sua culturalização. E temos a nossa favor a tecnologia, que dá acesso a bens culturais com maior facilidade do que no passado. Antigamente, a montagem de um cineclube era coisa para heróis, hoje tu colocas um DVD debaixo do braço e sai mostrando os filmes. Hoje já temos óperas sendo apresentadas ao vivo em cinemas. O mundo é outro, temos que utilizá-lo.

Sul21: É difícil convencer alguém disso ou a arte ainda funciona do modo como Louis Armstrong definia o jazz: “If you gotta ask, you`ll never know”?

DVP: Sim, é difícil. Mas nós não devemos nos conformar com este corolário do “eu sei a importância que tem e se tu não sabes, nunca vais saber”. Desta forma, tu não convences o outro, tu não dás acesso à cultura. Imagina um professor dizendo ao aluno: “Tu nunca vais entender, meu filho!”. O ser humano muda, avança. Essa é a nossa missão fundamental.

Sul21: Pois é, estamos chegando à educação, não?

DVP: E chegamos… Por exemplo, o trabalhador da área da cultura ganha três vezes mais do que a média da indústria. Há um dado estarrecedor: na Bahia, 54% dos empregados ou são analfabetos ou tem primeiro grau incompleto. No setor cultural, este índice de analfabetismo cai para 34%. Não há estatística análoga para o RS, mas tenho certeza de que no RS o índice de 34% deve ser de gente que tem o terceiro grau incompleto e no entanto… O Acre, a Bahia e Pernambuco estão muito à frente do RS na área cultural. Há muito tempo eles trabalham com conceitos modernos e estão inseridos naquilo que o MinC criou em 2007: o Programa de Desenvolvimento da Economia da Cultura, que trabalha com todos esses conceitos de cadeia produtiva que expus.

Sul21:Para terminar, para que serve a SEDAC e a que veio?

DVP: A pergunta deve ser respondida fugindo das respostas que passam perto de expressões como “alimento da alma”, etc. A cultura deve ter as três dimensões que o MinC defende: o valor simbólico, o valor econômico e o valor de cidadania, de promotor de direitos. Esse é o nosso norte.

Sul21: Desejamos boa sorte.

DVP: Muito obrigado.

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Carta de um músico da OSESP sobre a OSB

“Prezados colegas,

Optei por me afastar das discussões sobre os acontecimentos na OSB, por motivos que todos conhecem. Mas lendo algumas mensagens e depois de uma conversa no último sábado com a Léa, preferi me manifestar sobre algumas imprecisões nas informações que os colegas têm sobre nossa reestruturação. Eu sou oboísta da Osesp há trinta anos, fui o presidente da Aposesp à época  da reestruturação e fiz minha dissertação de Mestrado sobre a Osesp,colocando o foco nesse período, tenho informações mais precisas.  Uma colega  menciona no Fórum da Aposesp quatro pontos pouco claros, que são:

1) O nosso maestro foi um dos escolhidos de uma lista tríplice feita pela orquestra.
2) Ele teve o respaldo da comissão da orquestra e de vários músicos para a reestruturação.
3) Nós tivemos 6 meses para nos prepararmos para o teste e a banca era de alto nível sendo que o maestro não fazia parte dessa avaliação.
4) Quem não quis fazer o teste ou não passou, não foi demitido e sim, continuou na Fundação Padre Anchieta tocando na Sinfonia Cultura.

É preciso lembrar aos colegas que o sistema de escolha por lista tríplice foi uma sugestão minha, copiando o modelo existente nas universidades estaduais paulistas e no Ministério Público. É necessário dizer, também, que o nome do Neschling já era sondado antes mesmo do falecimento do Eleazar de Carvalho, sendo que o Secretário de Cultura de então, Marcos Mendonça, já havia se encontrado com ele no Rio. Fizemos depois intenso “lobby” a favor do nome do Neschling, especialmente porque ele estava em alta aqui depois da gravação do “Il Guarany” com o Plácido Domingo.

Após a nomeação do Neschling, houve reuniões para tomarmos conhecimento da proposta do maestro e ver o que seria possível para que o processo fosse mais brando. O que pudemos influenciar, na verdade, foi a proposta de nomes para comporem a banca, pois a reavaliação se tornou inegociável. Tentamos fazer com que não houvesse audições, mas Neschling, mesmo podendo fazer um raio X e saber que músicos estavam ou não aptos para integrarem a nova estrutura de trabalho, ele quis que todos tivessem a mesma chance em audição, pois senão ele poderia ser acusado de ter feito uma escolha pessoal. Os músicos souberam que haveria audições pelo menos seis meses antes, mas teriam que trabalhar até lá. A sorte é que foram cancelados concertos, sendo o último em 23 de abril, e a partir daí tivemos mais tempo para a nossa preparação. O cancelamento dos concertos se deu porque muitos músicos estavam fazendo reuniões e movimentos para cancelar as audições e boicotar a reestruturação. Houve até maestros que se posicionaram contra, acusando o processo de desumano. Houve colegas da Osesp que tentaram destituir a mim e ao Marcelo Lopes da diretoria da Aposesp, com assembléias com muita emoção, desmaios simulados etc.

Fala-se  da composição das bancas nas provas da Osesp e da OSB. As provas da OSB contaram com nomes tão importantes como os que compuseram as bancas da Osesp, mas infelizmente alguns dos convidados cancelaram a vinda, depois dos protestos. Na época da nossa reestruturação isso também aconteceu, sendo que pelo menos um clarinetista italiano, o Carbonari, deixou de vir.  Abaixo farei alista dos convidados e os presentes às audições da OSB.

Há  também  uma informação equivocada sobre a participação do Neschling nas bancas. Ele não participou fisicamente, pois já havia fechado contratos para reger no exterior, mas trouxe pessoas de sua confiança, como o maestro Roman Brogli ,a Brigitte Bolliger, sua esposa à época e o Emilian Dascal, amigo violista de Saint Gallen. O Roberto era somente um dos membros da banca, não participando somente de minha audição. A banca entrava em contato ao fim de cada etapa das audições e fazia um relato completo ao Neschling sobre cada músico, e então ele decidia quem estava ou não aprovado.

A nossa sorte é que tivemos um grupo na Aposesp que apoiava uma mudança de rumo artístico na orquestra, algo raro na maioria das orquestras. Infelizmente a OSB é uma instituição privada, não tendo um lugar para onde transferir os que não fizessem audição, como fizeram a Osesp e a Filarmônica de MG.

Deve-se levar em consideração que um músico que tem ao menos 45 dias sem qualquer atividade na OSB, pudesse tocar o repertório exigido, nada mais do que um concerto tradicional e excertos, especialmente de obras executadas no ano anterior. Que músico não teria condições de se preparar nesse período? Talvez o colega que negligenciou sua profissão por longo tempo. Outros talvez não tenham concordado porque passariam a ter ensaios à tarde; outros porque teriam que sair de outras orquestras, pois o novo regimento exigiria exclusividade, com exceção das atividades pedagógicas. Outros simplesmente não concordam como pelo modo como foi comunicado o processo, ou como ele próprio desenvolvido. Outros porque já são aposentados e estão em idade avançada e sem ânimo para audicionar mais uma vez na vida.

Uma vantagem do processo da OSB em relação ao da Osesp foi a relação contratual. Lá os músicos já seriam contratados com CLT. Eu tive que desistir de um contrato com a Fundação Padre Anchieta, de 16 anos, CLT, com FGTS e 13°, adicional por tempo de serviço, entre outras vantagens, para embarcar num contrato frágil, sem todas vantagens acima mencionadas, que durou quase nove anos.

Pensem, também, nas mudanças positivas ocorridas nos últimos anos na OSB, promovidas pelos conselheiros, diretores administrativo e artístico. Antes eles ficavam de tempo em tempo com salários atrasados, girando em torno de R$ 2.000. Hoje os salários estão em dia e vão de R$ 9.000 a R$ 11.000. Agora atrasos não mais acontecem e eles têm uma programação muito boa. O  Roberto tem perfil empreendedor. Outros bons maestros, como o Karabtchevsky, que já teve força política, oportunidade e verba, no Municipal de São Paulo (orquestra com grande potencial, mas também com enormes deficiências) e em Porto Alegre, não conseguiu transformar esses grupos em sequer boas orquestras, não construiu teatro novo e a programação era muito limitada, de pouca dificuldade técnica, boa, mas fraca em comparação à da Osesp. Há jovens maestros que também são bons instrumentistas, que assumiram orquestras recentemente e não tinham projetos de requalificação artística, somente criando série pops e diziam que iriam manter todos os músicos, independentemente do nível deles, contando somente com a boa vontade e paciência para transformar água em vinho. Enfim, bom-mocismo e jeito “naive”. Nessas horas  concluindo esse ponto, os maiores empreendedores maestros no Brasil são o Neschling, o Mechetti e o Roberto. Eles são perfeitos? Não. Mas têm esse perfil positivo.

Uma coisa  que não pode ser ignorada é a vontade de uma parte considerável da OSB de fazer as audições, sendo que muitos têm sido assediados moralmente e ameaçados de forma violenta por outros colegas contrários ao processo. Também é estranho apoiar certas manifestações por jovens mal influenciados.

Muitos problemas de comunicação aconteceram dos dois lados, houve gente oportunista e outros realmente idealistas. É difícil não apoiar as mudanças artísticas propostas pela direção da OSB, mas também o colega músico se sente no dever de se manifestar apoiando seus colegas que considera injustiçados. O que deve ser evitado, sim, é agir de forma exagerada  emocional e apoiar atitudes pouco “profissionais”, mesmo quando se trata de uma orquestra jovem.

Arcadio

Jurados que vieram;
Michael Faust – flautista da Orquestra de Colônia
Ioan Cristian Braica – contrabaixista da Orquestra de Frankfurt
John Roderick MacDonald – trompetista da Gewandhaus de Leipzig
Mark Timmermann, percussionista do Metropolitan
Fred Pot – cellista da Concertgebow de Amsterdã
Yacov Haendel, engenheiro de gravação, Alemanha
Bart Vanderbogaard, spalla da Orquestra de Roterdan

Jurados que não vieram:
Blair Bollinger – trombonista da Orquestra da Filadélfia
Isaac Duarte – oboísta da Tonhalle de Zurique
Rebecca Young, violista da Filarmônica de NY
Charles Neidich, clarinetista, prof. da Juilliard School

Os da Osesp em 1997:
Issac Duarte
Afonso Venturieri
John Roderick MacDonald
Antonio Meneses
Regis Pasquier
Briget Bolliger
Herbert Meyer
Yves Brustaux
Roman Brogli
David Kreibel”

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Marlos Nobre e a crise na OSB: Carta Aberta a Roberto Minczuk

Assim como a Nelson Freire e Cristina Ortiz, que cancelaram seus concertos com a OSB, esse eu também respeito. Marlos Nobre é um enorme compositor e dá sua visão pessoal sobre a crise na OSB. Abaixo, a íntegra de sua Carta Aberta:

Via Marcelo Delacroix

Roberto, estou angustiado ao escrever esta carta, ao ver um regente como você envolvido nesta situação constrangedora e triste.

Você, Roberto, não teve ninguém perto de você para lhe abrir os olhos ante a imensa tolice que foi toda esta situação criada na Orquestra Sinfônica Brasileira?

Eu lhe escrevo como um Maestro e compositor que conheceu um Roberto ainda nos seus 10 a 12 anos de idade, participando do Concurso de Jovens Instrumentistas que organizei em 1974 nos “Concertos para a Juventude” na Rede Globo e Radio MEC. Nele, você se destacou como jovem talento, promissor o bastante para que eu lhe desse de presente uma trompa novinha em folha (a sua, na época era impraticável). Lembro de, anos depois, no seu concerto de estréia como regente da OSB no Rio, ter sido procurado pelo seu velho e honrado pai, com lágrimas nos olhos, me dizendo que aquela trompa estava guardada em um invólucro de vidro, emoldurando a sala de estar da sua casa paterna. Foi extremamente comovente então, ver seu pai visivelmente feliz vendo sua estreia como regente titular da grande e prestigiosa Orquestra Sinfônica Brasileira. Entre outras obras você então dirigiu a Sinfonia “Eroica” de Beethoven. E a nossa OSB respondeu à altura aos seus gestos, dando na ocasião uma intepretação memorável da obra.

São estes mesmos músicos que agora sofrem com a implacável perseguição e ira absolutamente incompreensíveis de você, como diretor da OSB.

Pois bem, Roberto, assim como seu pai, um velho e honrado músico, eu aprendi que não é possível fazer música senão com o espírito leve, aberto, ligado apenas no dever maior de intérprete que é o de revelar a grande mensagem de amor, compreensão universal e respeito mútuo que emanam de toda grande obra musical. Não é possível aos músicos renderem o máximo de suas qualidades, frente à arrogância, à falta de respeito, à imposição, à desumanidade, à inépcia humana de quem está a lhes impor e não a lhes dar condições de criar a maravilhosa mensagem da Música.

Roberto, aquele menino a quem dei uma trompa hoje é motivo da maior decepção que jamais tive em minha vida. Uma decepão profunda e irreversível. Você, e somente você, é o responsável por uma situação inédita na música sinfônica do Brasil, ao submeter uma orquestra inteira a um vexame público demitindo com requintes de crueldade e desrespeito pelo passado deles, mais da metade de seus componentes através de pretextos os mais inaceitáveis possíveis. Nem o pretexto de maior qualidade musical seriam justificação para um tal elevado grau de agressividade humana, artística e pessoal de que são vitimas nossos músicos da OSB. Você não respeita idade, serviços prestados, idealismo nem humanidade. Todos estes valores essenciais nas relações humanas e artísticas vão para o ar em suas mãos, neste momento triste da história da música no Brasil.

A destruição dos ideais que sempre foram a grande força da Orquestra Sinfônica Brasileira, Roberto, você não conseguirá. Aliás, vejo com tristeza que você está conseguindo se destruir de uma maneira tão perfeita, tão definitiva, tão veemente como jamais o maior inimigo seu seria capaz, nem teria tal grau de imaginação destrutiva.

Sua autodestruição me choca pois me parece que você, Roberto, entrou em tal processo negativo sem volta nem retorno, pois sequer se dá conta que, não só no Brasil, mas em qualquer país do mundo onde você entrar no palco, para dirigir uma orquestra, terá como resposta o desprezo e a desaprovação do público e do mundo musical.

Como compositor não desejo que nenhuma obra minha seja jamais executada por este remedo de Orquestra Sinfônica (que me recuso a chamar de OSB pois esta foi destruída irresponsavelmente por você), dirigida por você.

Não autorizo nenhuma obra minha tocada senão pela verdadeira ORQUESTRA SINFÔNICA BRASILEIRA que aprendemos a amar, a reverenciar e a proteger, de desmandos de eventuais passageiros da desesperança, da agressão moral e do desrespeito.

MARLOS NOBRE – 9 de abril de 2011

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Células tumorais expostas à 5ª Sinfonia de Beethoven perderam tamanho ou morreram

Via Paulo Ben-Hur

Mesmo quem não costuma escutar música clássica já ouviu, numerosas vezes, o primeiro movimento da “Quinta Sinfonia” de Ludwig van Beethoven. O “pam-pam-pam-pam” que abre uma das mais famosas composições da História,

Descobriu-se agora, seria capaz de matar células tumorais – em testes de laboratório. Uma pesquisa do Programa de Oncobiologia da UFRJ expôs uma cultura de células MCF-7, ligadas ao câncer de mama, à meia hora da obra. Uma em cada cinco delas morreu, numa experiência que abre um nova frente contra a doença, por meio de timbres e frequências.

A estratégia, que parece estranha à primeira vista, busca encontrar formas mais eficientes e menos tóxicas de combater o câncer: em vez de radioterapia, um dia seria possível pensar no uso de frequências sonoras. O estudo inovou ao usar a musicoterapia fora do tratamento de distúrbios emocionais.

— Esta terapia costuma ser adotada em doenças ligadas a problemas psicológicos, situações que envolvam um componente emocional. Mostramos que, além disso, a música produz um efeito direto sobre as células do nosso organismo – ressalta Márcia Capella, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, coordenadora do estudo.

Como as MCF-7 duplicam-se a cada 30 horas, Márcia esperou dois dias entre a sessão musical e o teste dos seus efeitos. Neste prazo, 20% da amostragem morreu. Entre as células sobreviventes, muitas perderam tamanho e granulosidade.

O resultado da pesquisa é enigmático até mesmo para Márcia. A composição “Atmosphères”, do húngaro György Ligeti, provocou efeitos semelhantes àqueles registrados com Beethoven. Mas a “Sonata para 2 pianos em ré maior”, de Wolfgang Amadeus Mozart, uma das mais populares em musicoterapia, não teve efeito.

Foi estranho, porque esta sonata provoca algo conhecido como o “efeito Mozart”, um aumento temporário do raciocínio espaço-temporal — pondera a pesquisadora. –– Mas ficamos felizes com o resultado. Acreditávamos que as sinfonias provocariam apenas alterações metabólicas, não a morte de células cancerígenas.

“Atmosphères”, diferentemente da “Quinta Sinfonia”, é uma composição contemporânea, caracterizada pela ausência de uma linha melódica. Por que, então, duas músicas tão diferentes provocaram o mesmo efeito?

Aliada a uma equipe que inclui um professor da Escola de Música Villa-Lobos, Márcia, agora, procura esta resposta dividindo as músicas em partes. Pode ser que o efeito tenha vindo não do conjunto da obra, mas especificamente de um ritmo, um timbre ou intensidade.

Em abril, exposição a samba e funk

Quando conseguir identificar o que matou as células, o passo seguinte será a construção de uma sequência sonora especial para o tratamento de tumores. O caminho até esta melodia passará por outros gêneros musicais. A partir do mês que vem, os pesquisadores testarão o efeito do samba e do funk sobre as células tumorais.

— Ainda não sabemos que música e qual compositor vamos usar. A quantidade de combinações sonoras que podemos estudar é imensa — diz a pesquisadora.

Outra via de pesquisa é investigar se as sinfonias provocaram outro tipo de efeito no organismo. Por enquanto, apenas células renais e tumorais foram expostas à música. Só no segundo grupo foi registrada alguma alteração.

A pesquisa também possibilitou uma conclusão alheia às culturas de células. Como ficou provado que o efeito das músicas extrapola o componente emocional, é possível que haja uma diferença entre ouví-la com som ambiente ou fone de ouvido.

— Os resultados parciais sugerem que, com o fone de ouvido, estamos nos beneficiando dos efeitos emocionais e desprezando as consequências diretas, como estas observadas com o experimento — revela Márcia.

Fonte: O Globo – Renato Grandelle

Beethoven: no peito, os efeitos não são tão bons

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Uma Noite do Palácio da Razão, de James R. Gaines

Comprei Uma Noite no Palácio da Razão, de James R. Gaines (Record, 334 páginas) por dois motivos: (1) minha desconfiança sobre a história — a meu ver estranha — contada e recontada a respeito da visita de Bach a Frederico, o Grande, e (2) minha curiosidade sobre o enigma Johann Sebastian Bach. Leio quase tudo o que se publica sobre o homem.

O livro de Gaines não apenas satisfaz o que buscava como é muito mais. É um grande livro de história e um documento humano da melhor qualidade. Uma Noite conta a vida de Frederico e de Bach antes e depois de seu único encontro de uma noite. Durante a reunião, Bach foi desafiado a improvisar sobre um tema escrito por Frederico — mas que provavelmente era de autoria de um dos muitos compositores da corte. O tema era dificílimo, uma evidente sacanagem, porém Bach improvisou uma fuga a três vozes sobre o mesmo. Diante da admiração incontida dos ouvintes, Frederico, um notório sádico, propôs uma fuga a seis vozes. Agastado, Bach respondeu-lhe que era impossível fazê-lo assim de improviso. Ficou furioso com a derrota, porém, duas semanas depois, enviou a Frederico uma partitura com a fuga a três vozes, outra a seis, acompanhadas de diversos cânones e de uma sonata-trio, totalizando treze movimentos cuja ordem correta, se há, é até hoje um desafio oara os musicólogos. Ou seja, enviou-lhe a chamada Oferenda Musical (Das Musikalische Opfer), uma das mais importantes composições de todos os tempos. Frederico não deu a menor importância, o jogo já tinha sido jogado. E não mandou nenhuma nota de agradecimento ao “Velho Bach”.

Se fosse apenas isso, Gaines poderia ter escrito uma narrativa curta. Mas, como escrevi, o autor faz um longo, documentado e por vezes cômico relato da vida de seus dois personagens.

A vida de Frederico é interessantíssima e dramática. Seu pai, no século XVIII, pensava igual ao deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) e procurou impedir o homossexualismo do filho aplicando-lhe intermináveis séries de surras. Elas eram tantas e tão frequentes que vários amigos de Frederico lhe propuseram a eliminação de seu pai — ação à qual Frederico não cedeu — , assim como seu pai pensou várias vezes em matar o filho. A maldade era o tom do relacionamento. Frederico aprendeu a tocar flauta e tinha apreciável habilidade ao instrumento? Tirem-lhe a flauta. Frederico gosta de vestir-se de um modo um tanto gay para tocar? Queime-se a roupa. Frederico arranjou um namoradinho? Primeiro prenda-se Frederico e depois enforca-se o namorado bem na frente da janela de sua cela. Era assim.

Ignora-se como não se mataram, ainda mais que Frederico frequentemente aparecia machucado nas recepções palacianas. Nunca revidou um ataque paterno, nunca. Quando o pai morreu, Frederico não apenas sentiu-se aliviado como passou a colecionar casos no exército. De quebra, mostrou-se um talentoso administrador e um belicoso guerreiro, tendo conquistado outros principados para a Prússia a fim de merecer “o Grande”, com o qual costumamos ornamentar seu nome. Frederico, o Grande, era um iluminista amigo de Voltaire que defendia a tolerância religiosa e até certa democracia, que se preocupava com a fome e com a economia do país durante as muitas guerras. Era tão original e bom para o povo — a seu modo — que sempre foi dito que uma Revolução Francesa seria impossível na Prússia. Mas trocava de ministros a toda hora, fazia fofocas e enganava todo mundo, fazendo amigos e inimigos brigarem entre si, inclusive Voltaire. Era o Rei da cizânia. Além disso, bastante culto, só falava francês e, para terminar nosso breve retrato, digo o mais importante para o livro: não gostava da música do passado, como a representada por …

Bach era totalmente diferente. Pai de 20 filhos, era um chefe de família exemplar. Foi empregado a vida inteira e pelo mesmo tempo passou em lutas burocráticas com seus chefes por melhores condições e salários. Mesmo informadíssimo e curioso a respeito de toda a cena musical europeia, preferia ignorar os modismos — ou antes retirava-lhe o que achava que tinham de melhor — e aplicava-lhe a sua própria e pessoalíssima arte, advinda dos mestres que conhecera na juventude. Bach fazia uma música antiga para sua época, fato que atrasou por quase cem anos seu reconhecimento como maior compositor de todos os tempos e base para todos os que viriam depois de Beethoven.

Um era moderno, o outro era passadista. Um era jovem, o outro era velho (Bach). Um tinha conquistado a Saxônia e a Turíngia, o outro era turíngio e vivia na Saxônia. E, para piorar, Bach era pai de Carl Philipp, músico da corte de Frederico. Isto é, o brigão Johann Sebastian, se fosse ofendido, teria de ficar quieto para manter o emprego do filho. Foi o que fez quando notou que Frederico o encarava como um gênero de espetáculo circense.

Opfer significa oferta e oferenda, mas também sacrifício e vítima, cumpre lembrar.

O maravilhoso do livro de Gaines é que ele nos dá todo o contexto desta luta entre Bach e Frederico. E depois vai mais adiante, esclarecendo sobre o destino de ambos logo após a famosa noite. O compositor cego e o Rei alquebrado e deprimido. Para quem gosta de música ou história, uma obra imperdível. Recomendo fortemente.

P.S.- É óbvio que se trata da obra de um jornalista e crítico de arte. Nem imagino o que a Nikelen Witter e o Luís Augusto Farinatti, professores de história, achariam do livro do qual gostei tanto.

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O discurso censurado dos músicos da OSB Jovem

A música acima de tudo! Nós da OSBJovem acreditamos nesta afirmativa. Acreditamos que para haver música deve haver músicos, e que para haver músicos deve acima de tudo existir respeito.

Frente a toda esta situação indissociável – onde uma ação imoral encontra respaldo na lei – a dignidade de toda a classe musical deve prevalecer e, assim sendo, a OSBJovem se manifesta de forma pacífica se recusando a tocar, não apenas por estarmos sendo usados para substituir a OSB profissional, o que é fato, mas porque hoje estamos no papel de ser o futuro da música no país, e não queremos que a realidade musical e social continue sem respeito, sem moral e sem diálogo.

Embora em mais de uma ocasião tenha sido colocado que a FOSB e o maestro estão abertos a diálogo, não acreditamos que isso possa resolver a nossa situação como músicos jovens, uma vez que esse mesmo canal de diálogo foi aberto aos profissionais e a FOSB não transigiu, desencadeando este triste cenário em que o meio musical se encontra.

Queremos a partir de hoje, de agora e para sempre, exercer nossa profissão, fazer música em um ambiente saudável e tendo como principio o respeito ao próximo.

Hoje estamos aqui nesta situação e escolhemos agir, escolhemos nos manifestar em prol da música e da verdade, e é com todo o respeito à plateia de hoje e de sempre que não tocaremos hoje.

Temos esperança nas coisas certas, e é com essa esperança que agradecemos e contamos com o apoio de todos vocês.

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Viva a OSB! Minczuk é vaiado por 20 minutos e desiste de dar concerto: Veja o filme

Publicado no O DIA ONLINE.

Público vaia maestro da OSB no Theatro Municipal por 20 minutos

A crise na Orquestra Sinfônica Brasileira teve novo capítulo na tarde deste sábado. Começaria a série de cinco apresentações da OSB no Theatro Municipal, intitulada Topázio. Mas com as divergências entre músicos e maestro – que reprovou quase metade dos profissionais da sinfônica e demitiu quem se rebelou contra as avaliações de desempenho – quem subiu ao palco para o show foi a OSB Jovem.

Em seguida, quando entrou o maestro Roberto Minczuk, a plateia reagiu com vaias, durante 20 minutos. O maestro acabou se retirando de cena, seguido pelos músicos da orquestra. Um dos músicos tentou ler um manifesto contra a forma como a OSB vem sendo administrada por Minczuk, mas o som do teatro foi cortado.

Pelos alto falantes, a direção avisou que o espetáculo estava cancelado e pediu que a plateia se retirasse. Do lado de fora do Municipal, na Cinelândia, os músicos da OSB tocavam na calçada, em protesto.


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Franz Schubert: Trio Nº 2, Op. 100, 2º mvto, Andante con moto

Schubert foi o mestre do lied, mas não apenas disso. Deixou-nos 9 sinfonias, uma coleção extraordinária de sonatas, além de trios e quartetos da melhor qualidade. Engraçado, a França gosta de produzir trios. Extinto o Beaux Arts Trio, que dominou a cena por mais de 50 anos, apareceu uma série de excelentes trios franceses.  Em minha opinião, o melhor é o Trio Wanderer, o qual homenageia em seu nome uma das maiores Fantasias de Schubert. Sim, o Andante con Moto é a música utilizada por Stanley Kubrick em Barry Lyndon. Schubert ficaria feliz .


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