Stravinsky e Pergolesi na OSPA

Tudo certo na Suite Pulcinella. Boa música de Stravinsky sobre temas de Pergolesi, orquestra animada, a pequena plateia feliz, divertindo-se.  Já no Pergolesi não. O efetivo enorme tornava o cravo e, às vezes, o sonolento soprano (sim, é substantivo masculino) inaudíveis. E sono pega, é incrível, apesar do bom desempenho de Angela Diel. Pessoal, quase toda música barroca é de câmara, Pergolesi incluído. A sonoridade pesada impedia que espreitássamos o Stabat Mater. Mais delicadeza, gente, por favor.

Delicadeza e sabor houve no excelente Bóris (esquina da Osvaldo Aranha com Santo Antônio). Idem, na conversa com o chef Pepe Laytano.

Programa de ontem:

I. Stravinsky/G. B. Pergolesi – Suite Pulcinella
II. G. B. Pergolesi – Stabat Mater

Elisa Machado (soprano)
Angela Diel (mezzo-soprano)
Orquestra Sinfônica de Porto Alegre
Guilherme Bernstein, regente

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Petição «Cidadãos pela Laicidade»

Senhor Presidente da República Portuguesa,

Nós, cidadãs e cidadãos da República Portuguesa, motivados pelos valores da liberdade, da igualdade, da justiça e da laicidade, manifestamos, através da presente carta, o nosso veemente protesto contra as condições – oficialmente anunciadas – de que se revestirá a viagem a Portugal de Joseph Ratzinger, Papa da Igreja Católica.

Embora reconhecendo que o Estado português mantém relações diplomáticas com o Vaticano e que a religião católica é a mais expressiva entre a população nacional, não podemos deixar de sublinhar que ao receber Joseph Ratzinger com honras de chefe de Estado ao mesmo tempo que como dirigente religioso, o Presidente da República Portuguesa fomenta a confusão entre a legítima existência de uma comunidade religiosa organizada, e o discutível reconhecimento oficial a essa confissão religiosa de prerrogativas estatais, confusão que é por princípio contrária à laicidade.

Importa ter presente que o Vaticano é um regime teocrático arcaico que visa a defesa, propaganda e extensão dos privilégios temporais de uma religião, e que não reúne, de resto, os requisitos habituais de população própria e território para ser reconhecido como um Estado, e que a Santa Sé, governo da Igreja Católica e do «Estado» do Vaticano, não ratificou a Declaração Universal dos Direitos do Homem – não podendo portanto ser um membro de pleno direito da ONU – e não aceita nem a jurisdição do Tribunal Penal Internacional nem do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, antes utilizando o seu estatuto de Observador Permanente na ONU para alinhar, frequentemente, ao lado de ditaduras e regimes fundamentalistas.

Desejamos deixar claro que, se em Portugal há católicos dos quais uma fracção, mais ou menos importante, se regozijará com a visita de Joseph Ratzinger, há também católicos e não católicos para quem o carácter oficial da visita papal, o seu financiamento público e a tolerância de ponto concedida pelo Governo, são agressões perpetradas contra os princípios de laicidade do poder político que a própria Constituição da República Portuguesa institui.

Esta infracção da laicidade a que estão constitucionalmente vinculadas as autoridades republicanas torna-se ainda mais gritante e deletéria quando consideramos que se celebra este ano o Centenário da Implantação da República, de cujo legado faz parte o princípio de clara separação entre Estado e Igreja, contra o qual atentará qualquer confusão entre homenagens a um chefe de Estado e participação oficial dos titulares de órgãos de soberania em cerimoniais religiosos.

Declaramos também o nosso repúdio pelas posições veiculadas pelo Papa em matéria de liberdade de consciência, igualdade entre homens e mulheres, autodeterminação sexual de adultos, e outras matérias políticas.

Porque nos contamos entre esses cidadãos que entendem que a laicidade da política é condição fundamental das liberdades e direitos democráticos em cuja defesa e extensão estão apostados, aqui deixamos o nosso protesto e declaramos a Vossa Excelência o nosso propósito de o mantermos e alargarmos através de todos os meios de expressão e acção ao nosso alcance enquanto cidadãos activos da República Portuguesa.



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Chá das Cinco com o Vampiro, de Miguel Sanches Neto

Para empreender um romance há que ter boa dose de motivação e um ingrediente que pode ser muito motivador é o da vingança pessoal. Na história da literatura há vários exemplos de romances e contos que se iniciaram como reações a reais ou supostas agressões e que superaram o mero objetivo de ofender. É o que ocorre com Chá das Cinco com o Vampiro: se parte de uma rixa, se a descreve, deixa-nos envolvidos num delicioso e amargo retrato das vaidades literárias e da cidade de Curitiba, descrita como um verdadeiro inferno.

Comecemos pelo cerne. O livro narra desde os primórdios a relação entre um pretendente a escritor e seu modelo, mais velho e consagrado. É um Bildungsroman (romance de formação) que parte da adolescência de Beto Nunes na pequena Peabiru até seu período curitibano. Organizado em capítulos não cronológicos, com os títulos indicando o ano em que se sucedem os fatos, é conduzido com segurança, ultrapassando em muito o simples propósito de vingança.

Os trechos dedicados à sexualidade e à adolescência de Beto Nunes em Peabiru – quase todos no início do livro – são os mais desinteressantes da narrativa. Beto Nunes, o narrador, faz uma análise psicológica bastante simplória daquilo que o circunda. O livro ganha grandiosidade quando da saída de Beto para Curitiba, quando começa a vida na grande cidade provinciana. A partir deste ponto, a narrativa engrena até o final: a procura pelo Grande Mentor, a “amizade” com ele, os estudos abandonados, os novos amores, o meio literário, tudo misturado em contraponto e primorosamente escrito.

Há belas descrições de escritores anônimos – fracassados, orgulhosos e sem obra – , assim como da vida difícil como colunista e das horas de pura paixão pela literatura. Tudo isso é contado de forma sincera e com indiscutível virtuosismo. Há enorme humanidade nos capítulos sobre a relação quase inexistente com os pais em Peabiru, em contraposição à devoção mútua entre Beto e uma tia, também ausente.

Um personagem importante do livro é a opressiva cidade de Curitiba, que nos é mostrada exatamente como este articulista a sentiu em várias visitas. É uma cidade que não adota ninguém, comandada por uma elite culturalmente pobre que busca nos sobrenomes – como os personagens de Balzac – as provas de uma boa ascendência. Ao mesmo tempo, não suporta quem se sobressai ou é diferente. Conservadora até a medula, a Curitiba de Sanches é Curitiba.

O nome do “Grande Escritor Que Ensinará Todos os Segredos” é Geraldo Trentini e seu apelido, vampiro. Vingança, vingança. Afinal, Dalton Trevisan tem seu apelido diretamente do título de um de seus livros: O Vampiro de Curitiba. Sanches não se preocupou muito em escondê-lo: Trevisan e Trentini iniciam por “Tr” e têm sete letras — o número de consoantes e vogais também coincidem. E Dalton e Geraldo têm sílabas tônicas com “al”…, ou seja, o autor não fez a menor questão de ocultar sua inspiração, modelo e… ressentimento. Tanto que o verdadeiro vampiro sentiu o golpe, contra-homenageando Miguel Sanches Neto com o grosseiro poema “Hiena Papuda”. Melhor sorte teve o recém falecido crítico Wilson Martins, que aparece como o ético e generoso Valter Marcondes; e menos sorte tiveram quase todos os outros, mas principalmente o jornalista Fábio Campana, um patético Orlando Capote, e o Valério Chaves (Valêncio Xavier) que tomou uma atrás da outra, como punhalada de louco.

Dalton deve ter ficado irritado ao aparecer como um vampiro que não sai à noite e que só come coisinhas em confeitarias… Mas deve ter ficado furioso ao aparecer como um escritor que não quer aparecer enquanto sugere que amigos escrevam isso e aquilo, aqui e ali. Aposto que é verdade.

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Dr. Milton + Heine sobre o Quixote + Heine

Escrito e não publicado em 17 de feveireiro de 2010. O resto é de hoje.

Datas são datas e é inevitável que as repitamos a cada 365 dias. Basta viver um ano e lá estou eu até o pescoço com um novo 17 de fevereiro, aniversário de meu pai, que hoje faria 83 anos. O Dr. Milton Cardoso Ribeiro morreu em 1993 e, desde 1994, o dia 17 é um mau dia. Ir ao cemitério? Não faz diferença ir ou não, já é ruim o bastante saber que não vou vê-lo e que não haverá festa hoje. O fato é que me faz mal ir ao cemitério. O que há atrás do mármore — ossos escuros dentro de uma pequena caixa de madeira, pois, pelas regras da instituição, o caixão é retirado após determinado prazo para haver espaço para as novas mortes da família — tem muito pouco a ver com minhas lembranças. Trata-se apenas de um mármore com seu nome e foto colados. Se lembro de meu pai com voz, tato e música, então para que manter contato com uma representação fria e insuficiente dele, uma redução com flores na frente? Não vou lá, mesmo que digam que herdei seu humor, ironia e amor a muitas coisas. Devo ter herdado também alguma coisa de sua iconoclastia…

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Uma tradução alemã do Quixote, editada em 1837, vinha acompanhada de um prefácio escrito por Heine. Encontrei parte do mesmo dentro de um pequeno ensaio de Otto Maria Carpeaux. Anotei uma interessante observação do poeta alemão:

A obra de Cervantes é o primeiro verdadeiro romance da literatura universal, o mais antigo romance que continua lido até hoje. É uma obra em prosa, e esse fato é da maior importância. Antes da data fatídica de 1605, todos os grandes poetas escreveram suas obras em versos; ora, o mais prestigioso gênero literário em versos, sempre fora considerada a epopéia. Cervantes, porém, é o primeiro grande escritor da literatura universal que preferiu a epopéia em prosa: o romance. Desses fatos tirou Heine a conclusão de que o verdadeiro tema do Dom Quixote é a derrota da poesia pela prosa. Dom Quixote é o último ou um último representante da poesia de tempos idos. Mas é derrotado pela implacável prosa da realidade. A poesia, com todas as suas imaginações fantásticas, é derrubada assim como Dom Quixote, O cavaleiro da Triste Figura, caiu do seu cavalo Roncinante, caricatura do cavalo alado Pégaso. O caso nos faz rir, mas não sem deixar, atrás de si, uma melancolia nostálgica. E essa harmonia do ridículo e do melancólico é o humor cervantino.

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E agora, para finalizar, a prova de que, além de super-humorista, super-poeta, super-dramaturgo e super-novelista Heinrich Heine era um amor de pessoa:

Eu tenho uma mentalidade pacífica. Meus desejos são: uma cabana modesta, telhado de palha, uma boa cama, boa comida, leite e manteiga; em frente à janela, flores; em frente à porta, algumas belas árvores. E, se o bom Deus quiser me fazer completamente feliz, me permitirá a alegria de ver seis ou sete de meus inimigos nelas pendurados. De coração comovido eu haverei, antes de suas mortes, de perdoar todas as iniquidades que em vida me infligiram – sim, temos de perdoar nossos inimigos, jamais antes, porém, de eles serem enforcados.

(Tradução de Marcelo Backes.)

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Meu caro amigo, as coisas estão melhorando

Por Daniel Cariello e Thiago Araújo, da revista Brazuca | Foto: Jorge Bispo

“Se tiver bola, eu dou a entrevista”. Essa foi a única exigência do nosso companheiro de pelada, Chico Buarque, numa caminhada entre o metrô e o campo. Uma bola. E eu acabara de informar que o dono da redonda não viria à pelada de quarta-feira. Éramos dez amantes do futebol, órfãos.



Sem saber se esse era um gol de letra dele para fugir da solicitação de seus parceiros jornalistas, ou uma última esperança, em forma de pressão, de não perder a religiosa partida, eu, que não creio, olhei para o céu e pedi a Deus: uma pelota!

Nada de enigma, oferenda ou golpe de Estado. Ele estava ali, o cálice sagrado da cultura brasileira, que sucumbiu ao ver não uma, mas duas bolas chegarem à quadra pelas mãos de Mauro Cardoso, mais conhecido como Ganso. A partir daí, nada mais alterou o meu ânimo e o da minha dupla de ataque-entrevista, Daniel Cariello. Apesar de termos jogado no time adversário do ilustre entrevistado, tomado duas goleadas consecutivas de 10 x 6 e 10 x 1, tínhamos a certeza de que ele não iria trair dois dos principais craques do Paristheama, e sua palavra seria honrada.

Mas o desafio maior não era convencer o camisa 10 do time bordeaux-mostarda parisiense a ceder duas horas de sua tarde ensolarada de sábado. O que você perguntaria ao artista ícone da resistência à ditadura, parceiro de Tom Jobim, Vinicius de Morais e Caetano Veloso, escritor dos best sellers “Estorvo”, “Benjamin”, “Budapeste” e “Leite Derramado”, autor de “A banda”, “Essa moça tá diferente”, “O que será”, “Construção” e da canção de amor mais triste jamais escrita, “Pedaço de mim”?

Admirado e amado por todas as idades, estudado por universitários, defendido por Chicólatras, oráculo no Facebook, onipresente nas manifestações artísticas brasileiras – sua modéstia diria “isso é um exagero”, mas sabemos que não é –, sua reação imediata ao ser comparado a Deus foi “em primeiro lugar, não acredito em Deus. Em segundo, não acredito em mim. Essa é a única coisa que pode nos ligar. Então, pra começo de conversa, vamos tirar Deus da mesa e seguir em frente”.

Enfim, ainda não creio que entrevistamos Deus, quase sem falar de Deus. Mas foi com ele mesmo que aprendi uma lição, talvez um mandamento: acreditar em coisas inacreditáveis. (Thiago Araújo)


Você assume que não acredita em Deus, mas existem trechos nas suas músicas como “dias iguais, avareza de Deus” ou “eu, que não creio, peço a Deus”. No Brasil, é complicado não acreditar em Deus?

Eu não tenho crença. Eu fui criado na Igreja Católica, fui educado em colégio de padre. Eu simplesmente perdi a fé. Mas não faço disso uma bandeira. Eu sou ateu como o meu tipo sanguíneo é esse.

Hoje há uma volta de certos valores religiosos muito forte, acho que no mundo inteiro. O que é perigoso quando passa para posições integristas e dá lugar ao fanatismo. O Brasil talvez seja o pais mais católico do mundo, mas isso é um pouco de fachada. Conheço muitos católicos que vão à umbanda, fazem despacho. E fica essa coisa de Deus, que entra no vocabulário mais recente, que me incomoda um pouquinho. Essa coisa de “vai com Deus”, “fica com Deus”. Escuta, eu não posso ir com o diabo que me carregue? (Risos). Tem até um samba que fala algo como “é Deus pra lá, Deus pra cá – e canta – Deus já está de saco cheio” (risos).

Você já foi em umbanda, candomblé, algo do tipo?

Já, eu sou muito curioso. A mulher jogou umas pipocas na minha cabeça, sangue, disse que eu estava cheio de encosto. Eu fui porque me falaram “vai lá que vai ser bom”. Passei também por espíritas mais ortodoxos, do tipo que encarnava um médico que me receitou um remédio para o aparelho digestivo. Aí eu fui procurar o remédio e ele não existia mais. O remédio era do tempo do médico que ele encarnava (risos).

Já tive também um bruxo de confiança, que fez coisas incríveis. Aquela música do Caetano dizia isso muito bem, “quem é ateu, e viu milagres como eu, sabe que os deuses sem Deus não cessam de brotar.” Eu vi cirurgias com gilete suja, sem a menor assepsia, e a pessoa saía curada. Estava com o joelho ferrado e saía andando. Eu fui anestesista dessa cirurgia. A anestesia era a música. O próprio Tom Jobim tocava durante as cirurgias. Eu toquei para uma dançarina que estava com problema no joelho. Ela tinha uma estreia, mas o ortopedista disse “você rompeu o menisco”. Ela estreou na semana seguinte, e na primeira fila estavam o ortopedista e o bruxo (risos).

Uma vez, estava com um problema e fui ao médico. Ele me tocou e não viu nada. Aí eu disse “olha, meu bruxo, meu feiticeiro, quando ele apertava aqui, doía”. Ele começou a dizer “mas essa coisa de feitiçaria…” e atrás dele tinha um crucifixo com o Cristo. Daí eu perguntei “como você duvida da feitiçaria, mas acredita na ressurreição de Cristo?”. Eu acho isso uma incongruência. Gosto de acreditar um pouco nisso, um pouco naquilo, porque eu vejo coisas inacreditáveis. Eu não acredito em Deus, acredito que há coisas inacreditáveis.

De vez em quando você dá uma escapada do Brasil e vem a Paris. Isso te permite respirar?

Muito mais. Eu aqui não tenho preocupação nenhuma, tomo uma distância do Brasil que me faz bem. Fico menos envolvido com coisas pequenas que acabam tomando todo o meu tempo. Aqui, eu leio o Le Monde todos os dias, e fico sabendo de questões como o Cáucaso, os enclaves da antiga União Soviética, que no Brasil passam muito batidos. O Brasil, nesse sentido, é muito provinciano, eu acho que o noticiário é cada vez mais local.

Meu pai, que era um crítico literário e jornalista, foi morar em Berlim no começo dos anos trinta. Foi lá, onde teve uma visão de historiador, de fora do país, que ele começou a escrever Raízes do Brasil, que se tornou um clássico. A possibilidade de ter esse trânsito, de ir e voltar, eu acho boa. É como você mudar de óculos, um para ver de longe e outro para ver de perto.


Nesse seu vai e vem Brasil-França, o que você traria do Brasil para a França, e vice-versa?

Eu traria pra cá um pouquinho da bagunça, da desordem. Os nossos defeitos, que acabam sendo também nossas qualidades. O tratamento informal, que gera tanta sujeira, ao mesmo tempo é uma coisa bonita de se ver. Você tem uma camaradagem com um sujeito que você não conhece. Aqui existe uma distância, uma impessoalidade que me incomoda.

Para o Brasil, eu gostaria de levar também um pouco dessa impessoalidade. Da seriedade, principalmente para as pessoas que tratam da coisa pública. Não que não exista corrupção na França.

Outra coisa que eu levaria pra lá é o sentimento de solidariedade, que existe entre os brasileiros que moram fora. Isso eu conheci no tempo que eu morava fora, e vejo muito aqui através das pessoas com as quais convivo. Eles se juntam. Como se dizia, “o brasileiro só se junta na prisão”. Os brasileiros também se juntam no exílio, na diáspora.

Falando em exílio, tem uma história curiosa de Essa moça tá diferente, a sua música mais conhecida na França.

É. A coisa de trabalho (N.R.: na Itália, onde Chico estava em exílio político, em 1968) estava só piorando e o que me salvou foi uma gravadora, a Polygram, pois minha antiga se desinteressou. A Polygram me contratou e me deu um adiantamento. E consegui ficar na Itália um pouco melhor. Mas eu tinha que gravar o disco lá. Eu gravei tudo num gravador pequenininho. Um produtor pegou essas músicas e levou para o Brasil, onde o César Camargo Mariano escreveu os arranjos. Esses arranjos chegaram de volta na Itália e eu botei minha voz em cima, sem que falasse com o César Camargo. Falar por telefone era muito complicado e caro. Então foi feito assim o disco. É um disco complicado esse.


Você acabou de citar o
Le Monde. Para nós, que trabalhamos com comunicação, sempre existiu uma crítica pesada contra os veículos de massa no Brasil. Você acha que existe um plano cruel para imbecilizar o brasileiro?

Não, não acredito em nenhuma teoria conspiratória e nem sou paranoico. Agora, aí é a questão do ovo e da galinha. Você não sabe exatamente. Os meios de comunicação vão dizer que a culpa é da população, que quer ver esses programas. Bom, a TV Globo está instalada no Brasil desde os anos 60. O fato de a Globo ser tão poderosa, isso sim eu acho nocivo. Não se trata de monopólio, não estou querendo que fechem a Globo. E a Globo levanta essa possibilidade comparando o governo Lula ao governo Chavez. Esse exagero.


Você acha que a mídia ataca o Lula injustamente?

Nem sempre é injusto, não há uma caça às bruxas. Mas há uma má vontade com o governo Lula que não existia no governo anterior.

E o que você acha da entrevista recente do Caetano Veloso, onde ele falou mal do Lula e depois acabou sendo desautorizado pela própria mãe?

Nossas mães são muito mais lulistas que nós mesmos. Mas não sou do PT, nunca fui ligado ao PT. Ligado de certa forma, sim, pois conheço o Lula mesmo antes de existir o PT, na época do movimento metalúrgico, das primeiras greves. Naquela época, nós tínhamos uma participação política muito mais firme e necessária do que hoje. Eu confesso, vou votar na Dilma porque é a candidata do Lula e eu gosto do Lula. Mas, a Dilma ou o Serra, não haveria muita diferença.

O que você tem escutado?

Eu raramente paro para ouvir música. Já estou impregnado de tanta música que eu acho que não entra mais nada. Na verdade, quando estou doente eu ouço. Inclusive ouvi o disco do Terça Feira Trio, do Fernando do Cavaco, e gostei. Nunca tinha visto ou ouvido formação assim. Tem ao mesmo tempo muita delicadeza e senso de humor.

A música francesa te influenciou de alguma maneira?

Eu ouvi muito. Nos anos 50, quando comecei a ouvir muita música, as rádios tocavam de tudo. Muita música brasileira, americana, francesa, italiana, boleros latino americanos. Minha mãe tinha loucura por Edith Piaf e não sei dizer se Piaf me influenciou. Mas ouvi muito, como ouvi Aznavour.

O que me tocou muito foi Jacques Brel. Eu tinha uma tia que morou a vida inteira em Paris. Ela me mandou um disquinho azul, um compacto duplo com Ne me quitte pas, La valse à mille temps, quatro canções. E eu ouvia aquilo adoidado. Foi pouco antes da bossa nova, que me conquistou para a música e me fez tocar violão. As letras dele ficaram marcadas para mim.

Eu encontrei o Jacques Brel depois, no Brasil. Estava gravando Carolina e ele apareceu no estúdio, junto com meu editor. Eu fiquei meio besta, não acreditei que era ele. Aí eu fui falar pra ele essa história, que eu o conhecia desde aquele disco. Ele disse “é, faz muito tempo”. Isso deve ter sido 1955 ou 56, esse disquinho dele. Eu o encontrei em 67. Depois, muito mais tarde, eu assisti a L’homme de la mancha, e um dia ele estava no café em frente ao teatro. Eu o vi sentado, olhei pra ele, ele olhou pra mim, mas fiquei sem saber se ele tinha olhado estranhamente ou se me reconheceu. Fiquei sem graça, pois não o queria chatear. Ele estava ali sozinho, não queria aborrecer. Mas ele foi uma figuraça. Eu gostava muito das canções dele. Conhecia todas.

Falando de encontros geniais, você tem uma foto com o Bob Marley. Como foi essa história?

Foi futebol. Ele foi ao Brasil quando uma gravadora chamada Ariola se estabeleceu lá e contratou uma porção de artistas brasileiros, inclusive eu, e deram uma festa de fundação. O Bob Marley foi lá. Não me lembro se houve show, não me lembro de nada. Só lembro desse futebol. Eu já tinha um campinho e disseram “vamos fazer algo lá para a gravadora”. Bater uma bola, fazer um churrasco, o Bob Marley queria jogar. E jogamos, armamos um time de brasileiros e ele com os músicos. Corriam à beça.


Vocês fumaram um baseado juntos?

Não. Dessa vez eu não fumei.


E essa sua migração para escritor, isso é encarado como um momento da sua vida, já era um objetivo?

Isso não é atual. De vinte anos pra cá eu escrevi quatro romances e não deixei de fazer música. Tenho conseguido alternar os dois fazeres, sem que um interfira no outro.

Eu comecei a tentar escrever o meu primeiro livro porque vinha de um ano de seca. Eu não fazia música, tive a impressão que não iria mais fazer, então vamos tentar outra coisa. E foi bom, de alguma forma me alimentou. Eu terminei o livro e fiquei com vontade de voltar à musica. Fiquei com tesão, e o disco seguinte era todo uma declaração de amor à música. Começava com Paratodos, que é uma homenagem à minha genealogia musical. E tinha aquele samba (cantarola) “pensou, que eu não vinha mais, pensou”. Eu voltei pra música, era uma alegria. Agora que terminei de escrever um livro já faz um ano, minha vontade é de escrever música. Demora, é complicado. Porque você não sai de um e vai direto para outro. Você meio que esquece, tem um tempo de aprendizado e um tempo de desaprendizado, para a música não ficar contaminada pela literatura. Então eu reaprendo a tocar violão, praticamente. Eu fiquei um tempão sem tocar, mas isso é bom. Quando vem, vem fresco. É uma continuação do que estava fazendo antes. Isso é bom para as duas coisas. Para a literatura e para a música.

Tanto em Estorvo quanto em Leite derramado o leitor tem uma certa dificuldade em separar o real do imaginário. Você, como seus personagens, derrapa entre essas duas realidades?

Eu? O tempo todo, agora mesmo eu não sei se você esta aí ou se eu estou te imaginando (gargalhadas).

Completamente. Eu fico vivendo aquele personagem o tempo todo. Entrando no pensamento dele. Adquiro coisas dele. Você pode discordar, mas chega uma hora que tem que criar uma empatia ou uma simpatia. Você cria uma identificação. E alguma coisa no gene é roubado mesmo de mim, algumas situações, um certo desconforto, não saber bem se você é real, se você está vivendo ou sonhando aquilo. Por exemplo, agora que ganhamos de 10 a 1 (referência à pelada que jogamos três dias antes), eu saí da quadra e falei: “acho que eu sonhei. Não é possível que tenha acontecido” (risos).

Você é fanático por futebol?

Não sou fanático por nada. Mas eu tenho muito prazer em jogar futebol. Em assistir ao bom futebol, independentemente de ser o meu time. Quando é o meu time jogando bem, é melhor ainda, pois eu consigo torcer. Agora mesmo, no Brasil, tinha os jogos do Santos.

Mas eu vou menos aos estádios. Eu não me incomodo de andar na rua, mas quando você vai a alguns lugares, tem que estar com o cabelo penteado, tem que estar preparado para dar entrevistas. Aqui, eu estou dando a minha última (risos). Aqui, é exclusiva. Fiz pra Brazuca e mais ninguém. Eu quero ver o pessoal jogar bola. Então eu vejo na televisão. E quando não estou escrevendo, aí eu vejo bastante.


É verdade que um dia o Pelé ligou na sua casa, lamentando os escândalos políticos no Brasil, e disse “é, Chico, como diz aquela música sua: ‘se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão’”?

É verdade (risos). Eu falei “legal, Pelé, mas essa música não é minha”. O Pelé é uma grande figura. Nós gravamos um programa juntos. Brincamos muito. Conheci o Pelé quando eu fazia televisão em São Paulo, na TV Record, e me mudei para o Rio. Os artistas eram hospedados no Hotel Danúbio, em São Paulo. O mesmo onde o Santos se concentrava. Então, eu conheci o Pelé no hotel. E sempre que a gente se encontra é igual, porque eu só quero falar de futebol e ele só quer saber de música. Ele adora fazer música, adora cantar, adora compor. Por ele, o Pelé seria compositor.

E você, trocaria o seu passado de compositor por um de jogador?

Trocaria, mas por um bom jogador, que pudesse participar da Copa do Mundo. Um pacote completo. Um jogador mais ou menos, aí não.

Você ainda pretende pendurar as chuteiras aos 78 anos, como afirmou?

Não. Já prorroguei. Tava muito cedo. Agora, eu deixei em aberto. Podendo, vou até os 95 (risos).

O Niemeyer está com 102 anos e continua trabalhando. Aliás, não só trabalhando como ainda continua com uma grande fama de tarado (risos).

Ele me falou isso. Eu fui à festa dele de 90 anos e ele me disse: “o importante é trabalhar e ó (fez sinal com a mão, referente a transar)”. Aí eu falei “é mesmo?” e ele respondeu “é mesmo”.

Falando nisso, o Vinícius foi casado nove vezes. Você acha a paixão essencial para a criação?

Sem dúvida. Quando a gente começa – isso é um caso pessoal, não dá pra generalizar – faz música um pouco para arranjar mulher. E hoje em dia você inventa amor para fazer música. Se não tiver uma paixão, você inventa uma, para a partir daí ficar eufórico, ou sofrer. Aí o Vinícius disse muito bem, né? “É melhor ser alegre que ser triste… mas pra fazer um samba com beleza, é preciso um bocado de tristeza, é preciso um bocado de tristeza, senão não se faz um samba não”.

Quando eu falo que você inventa amores, você também sofre por eles. “E a moça da farmácia? Ela foi embora! Elle est partie en vacances, monsieur!”. E você não vai vê-la nunca mais. Dá uma solidão. Eu estou fazendo uma caricatura, mas essas coisas acontecem. Você se encanta com uma pessoa que você viu na televisão, daí você cria uma história e você sofre. E fica feliz e escreve músicas.

Pra finalizar. Se você fosse escrever uma carta para o seu caro amigo hoje, o que você diria?

Volta, que as coisas estão melhorando!

MAIS

A entrevista foi publicada originalmente na revista Brazuca, uma publicação bilíngue sobre cultura brasileira que circula em Paris e Bruxelas. A partir de 3 de maio, a degravação completa estará disponível no site de Brazuca. Também lá, é possível baixar em pdf, desde já, a edição completa de março-abril (inclusive com as fotos de Chico…)

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Os argentinos e as contradições de José Serra: depois, quando eu digo que eles são mais espertos…

Mejor joia que farsa

Por Martín Granovsky , publicado no Pagina 12

Los brasileños deberían escribir un libro y mandarlo para aquí: un manual para entender a José Serra. El candidato de oposición para las elecciones presidenciales de octubre dijo primero que el Mercosur es “una farsa”. Después pidió “flexibilizar el Mercosur”. ¿Cómo se flexibiliza una farsa? Misterio. Lo que queda claro, desde la Argentina, es que José Serra asocia el Mercosur con una valoración negativa. Para él, en cambio, sería positivo que Brasil firmase muchos tratados de libre comercio. Según Serra, Brasil no puede hacerlo, justamente, por culpa de las barreras que le impondría el Mercosur. Es decir que su horizonte de política exterior ideal luce muy sencillo: menos Mercosur y muchos TLC.

El actual gobernador del estado de San Pablo acaba de tirar dos mitos al tacho. El primero es que nadie en Brasil discute la política exterior, que vendría demostrando una continuidad sin fisuras desde que Pedro I se proclamó emperador de una monarquía constitucional en 1822. El segundo es que la política exterior nunca forma parte de la política interna, y menos de una campaña electoral.

Según datos del Intal, el Instituto para la Integración de América latina, cuando en 2009 el comercio internacional se desplomó también bajaron las exportaciones brasileñas a la Argentina, Uruguay y Paraguay, los socios del Mercosur. Las exportaciones bajaron 27,2 por ciento y las importaciones bajaron 12,2 por ciento. Pero la mirada histórica con detalle es más interesante:

– En 2008, cuando la crisis internacional ya había comenzado, las exportaciones se habían incrementado en un 25,3 por ciento respecto del 2007 y las importaciones en un 28,5 por ciento.

– En medio de la peor crisis desde los años ’30, el valor del intercambio con el Mercosur fue de 28.935 millones de dólares en 2009. Casi igual a la cifra registrada en 2007, antes de la crisis: 28.978 millones de dólares.

O sea que la debacle mundial no fue una debacle regional. Serra podría decir que las cifras demuestran su posición: más comercio y menos arancel externo común. Pero, ¿así funciona el mundo? ¿O también el volumen de intercambio y las proporciones que representa el otro socio en el comercio exterior de cada país tienen un fuerte condimento de política internacional?

Ni Brasil ni la Argentina sufrieron el 2009 como Grecia. No sufren tampoco el 2010 de los griegos, caso paradigmático actual de un país obligado a seguir el camino de contracción fiscal y económica sufrida ya por los brasileños con Fernando Henrique Cardoso (FHC) y por los argentinos con Carlos Menem. Pero Grecia está lejos. Más cerca, México sufrió más la crisis porque el 80 por ciento de su intercambio depende de la relación comercial con los Estados Unidos, porque los migrantes a los Estados Unidos disminuyeron sus remesas a casa por falta de trabajo y porque las migraciones bajaron por la combinación de restricciones y políticas como la xenofobia de Arizona.

Brasil y la Argentina fueron menos golpeados por la debacle. En parte cada uno amortiguó el golpe por una política macroeconómica neodesarrollista que compensó la caída apostando a la reactivación y no al ajuste. Y en parte el hecho concreto es que no necesitaron de ningún TLC para seguir con su estrategia de comercio diversificado, entre ellos mismos, con otros socios de la región o con China.

El Mercosur no es el paraíso, en buena medida porque fue vaciado de política por la dupla FHC-Menem con ayuda de Domingo Cavallo, el ministro que adoraba las áreas de libre comercio y detestaba al Mercosur tanto como Serra.

El punto clave es que hoy el Mercosur representa uno de los distintos resultados concretos del armado político regional. Otro resultado es la Unasur, en construcción desde el 9 de diciembre de 2004, que agrupa a toda Sudamérica. Otro más es el Consejo de Defensa Sudamericano. Y la clave de la estabilidad sudamericana es la sólida relación entre la Argentina y Brasil, el vecino de la Argentina que representa la “B” del grupo BRIC junto a India, Rusia y China. No es poco: la región no presenta ningún conflicto limítrofe importante y revela una sintonía mayoritaria y un nivel de paz y previsibilidad que hoy son una rareza mundial. El compromiso alcanzado por los presidentes Cristina Kirchner y José “Pepe” Mujica de respetar el Tratado del Río Uruguay no borra ningún error de cada país en el pasado, pero marca un modo inteligente de recomponer el daño en las relaciones.

Cuando la palabra “farsa” aparece en medio de esta construcción imperfecta pero persistente conviene encender las luces de alerta. ¿Serra –como Eduardo Duhalde aquí con su crítica a los juicios por crímenes de lesa humanidad– eligió la espectacularidad para diferenciarse de Lula y de la candidata del PT Dilma Rousseff? Es probable, pero en su caso conviene tener en cuenta que siempre receló de la relación privilegiada con la Argentina. Si además ignora las construcciones institucionales colectivas, tal vez esté indicando que en su opinión los objetivos regionales deben disolverse en múltiples TLC particulares.

Pero la apuesta a favor del modelo de los TLC no serviría para amortiguar una crisis feroz. Tampoco es útil la receta para solucionar por medio de la negociación, como ya sucedió, tensiones políticas como las vividas en los últimos años en los casos de Bolivia, de Colombia, de Venezuela y de Ecuador, o para dar un horizonte de inclusión a Cuba con el primer encuentro de presidentes de América latina y el Caribe.

No son gestos retóricos. Cuanto más intensa sea la convivencia regional será más fácil para cada país negociar en un mundo turbulento. Sudamérica probó que puede mantener diferencias con los Estados Unidos, como cuando rechazó el área de Libre Comercio de las Américas, un tema que hoy parece archivado para todos, vaya a saber si también para Serra, y a la vez evitar la hostilidad infantil con Washington. Brasil y la Argentina, por tomar de ejemplo a los dos socios mayores del Mercosur, tuvieron una postura común frente a la deuda: se desengancharon del Fondo Monetario Internacional, aumentaron sus reservas, abandonaron el modelo adictivo de absorción de capitales y desconectaron la mecha común que unía a dos bombas, la deuda interna y la deuda externa. Los dos países plantean ahora reformas democratizadoras en el FMI y los otros organismos multilaterales. Y consiguieron que cada diferencia en el comercio quede limitada a un pequeño porcentaje de su intercambio bilateral (es menor al 10 por ciento del total) y pueda ser negociada sin escaladas políticas.

Con esta política Brasil y la Argentina crecieron y disminuyeron la indigencia y la miseria. Lo mismo hizo Uruguay con Tabaré Vázquez primero y ahora con Mujica, y eso intenta Paraguay con Fernando Lugo. El resultado no está tan mal, si se lo compara con épocas anteriores de recesión o, como en la primera etapa Cavallo-Menem, de crecimiento sin mayor justicia social ni aumento del empleo.

¿Qué farsa querrá montar Serra en Brasil? Con FHC y Menem, dos tipos divertidos cada uno a su modo, ambos países terminaron llorando. Y en la vida, para decirlo en brasileño, siempre es mejor la joia.

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Se você estiver em Santa Maria ou arredores, não perca!

Lançamento no dia 6, quinta-feira, 17h30, dentro da Feira do Livro de Santa Maria. Vá lá nem que seja apenas para dizer ao Farinatti que “confins” é a PQP!

P.S.: Katarina Peixoto, em seu Facebook:

Gritaria gremista é uma das mais fortes evidências de que a evolução das espécies não segue qualquer causalidade final. Vários estágios evolutivos podem conviver e a idéia mesma de salto evolutivo é suficientemente problemática para esvaziar quaisquer fantasias finalistas. Eu amo os chimpanzés e gorilas. Não é deles, exatamente, que tento me servir para comparar. Que coisa.

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Abaixo, minha incontrolável alegria ao vencer o Gauchão 2009

(Trecho de crônica publicada no ano passado, em 19 de abril de 2009).

O caricatural placar da decisão do Campeonato Gaúcho revela o quanto os campeonatos regionais são heterogêneos, anacrônicos e antiquados. Na decisão de 2008, Inter 8 x 1 Juventude; em 2009, Inter 8 x 1 Caxias. Parece piada. Quando o Inter resolve VENCER um time do interior do Rio Grande do Sul no Beira-Rio, o primeiro tempo pode acabar em 7 x 0, fato que não acontecia há 68 anos.

Se estou feliz? Claro que estou, ganhar o Campeonato Gaúcho é melhor do que perdê-lo, mas falando sério, preferia não jogá-lo. Queria um Brasileiro de ponta a ponta do ano, uma Copa do Brasil com todos os clubes — os que vão à Libertadores não têm datas para jogá-la, sem os regionais teriam… –, folgas para os clubes nas datas Fifa, etc. Um Gauchão, ganho ou perdido, é a mesma coisa — nada.

(…)

Parabéns, Grêmio…

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Canção "Der Hirt auf dem Felsen", de Franz Schubert

Belíssimo lied de Schubert. Para minha supresa, foi um pouco difícil de encontrar no YouTube e tive de apelar para o concerto de graduação de um certo Paul Miller (clarinetista). Há falta de sincronia entre imagem e som na segunda parte, mas não é nada grave. Enjoy!

Paul Miller, clarinet
Rebekah Kenote, soprano
Lisa Spector, piano

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A Crise do Guion e o próximo Godard

SOS GUION – UM CINEMA VIVE DE SEUS ESPECTADORES

.

Amanhã completa uma semana que noticiamos a difícil situação dos Cinemas Guion.

Recebemos muitas mensagens de apoio, que nos motivam a seguir em frente e reverter a situação.

Agora, a permanência dos CINEMAS GUION depende de todos!

Nos CINEMAS GUION todo dia é dia de cinema!

Carlos Schmidt

Não adianta, eu sigo gostando muito de Godard, mesmo do mais recente. O trailer de seu último filme, Socialisme, de 2010, vem sendo amplamente divulgado pela rede. Vi todos, mas achei mais bonita a versão curta. Nos outros, fica claro que Godard segue explorando o som — o filme efetivamente parece uma música contínua, como se o diretor fosse um compositor cujas obras fossem constituídas de colagens de trechos musicais, de ruídos e falas — e as imagens são cada vez mais belas e em perspectivas surpreendentes. Fiquem então com o trailer de que mais gostei:

E com um maiorzinho, também sensacional, que mostra o porte e o caráter de Socialisme:

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Porque hoje é sábado, Christina Hendricks

É um absurdo: num país cujo Supremo Tribunal Federal preserva a lei que protege os torturadores — prova de nossa lhaneza e meiguice — , as mulheres siliconadas são alvo de inveja e repulsa de suas pares. E se for loira, tanto maior será a discriminação. Absurdo!

O STF, sempre tão útil ao país, bem que poderia criar uma lei que abrisse as portas da previdência …

… a todas as mulheres que quisessem obter isonomia em relação às mais favorecidas.

A mesma lei proibiria que houvesse uma diminuição geral e este raciocínio iria …

… ao encontro do ideal dos torturadores, que não desejavam o comunismo (por tornar a todos pobres, pfff).

Nada de insuficiência, então. Todas lindas e turbinadas.

A poeta Ana Lyra escreveu:

Morreu louca, cega e cética,
mas viveu em voluptuosa estética.

Era uma velha “porreta”,
tudo já era murcho na pobre asceta,
menos a empinada, impávida, teta!!!

Para evitar tais fatos e que os vermes se perturbassem na hora de limpar nossos esqueletos …

… o STF permitiria a retirada do silicone quando a mulher assim o desejasse, …

… de forma a impedir que velhinhas se constrangessem com uma florescente teta em idade avançada.

Mas e se o velhinho usar Viagra? Seria bombeamento artificial X turbinas potentíssimas.

Linda a Christina Hendricks, não? Deixo-me seduzir pela pele extremamente branca, os cabelos vermelhos …

… e os olhos azuis. Sim, ela é toda colorida.

E turbinada.

E faz 35 anos segunda-feira. Ah, Christina…

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O Restaurante Pagoda fechou

Sim, estou ficando velho. Hoje, ao caminhar pela Protásio Alves, dei da cara com um pequeno cartaz avisando que o Pagoda fechava suas portas agradecendo a todos os clientes que o frequentaram em seus 50 anos de vida.

O Pagoda foi uma alegria infantil para mim. Havia apenas dois restaurantes chineses na cidade, o Pagoda na Protásio e o Lokun na Venâncio Aires. Meus pais gostavam, eu amava e não lembro da opinião de minha irmã. Fui uma criança tarada por arroz. Comia arroz com feijão como se o mundo fosse acabar e o arroz chop suey do Pagoda era deglutido ao vivo e em fantasia. Lembro de salivar só pensando nele.

Depois, passei a ir lá com minhas namoradas. Lembro de uma vez em que era domingo e quase fui expulso por não sair da mesa. Havia fila lá fora e eu fazendo graça para a moça que, decididamente, valia a pena. Fiquei umas duas horas quando, pela primeira e única vez, me entregaram a conta sem eu ter pedido. Achei uma merda, mas tudo acabou em excelente digestão. Meus filhos também amaram o Goda. O Bernardo tinha certeza que o nome do restaurante era apenas Goda. Foi na porta do Pagoda que ele levou o maior tabefe de sua vida. Tinha uns dois anos e saiu correndo porta afora, atravessou a rua e eu só o alcancei no corredor de ônibus. Lembro de minha ex e dos pedestres gritando para ele parar. Lembro do silêncio que ficou quando o agarrei pelo braço e, descontrolado, meti-lhe um tapa que lhe deixou a marca dos meus dedos na bochecha. Nunca mais fez aquilo, claro, nem eu.

Lembro da Bárbara ficar horas no banheiro do restaurante a ponto de eu ir lá bater ou pedir para uma garçonete ver o que estava acontecendo. Ela sempre foi muito autônoma e nunca quis ir no banheiro masculino com o papai, de modo algum. Ah, as garçonetes… Ficavam lá por anos, sempre as mesmas. A gente podia acompanhá-las desde jovens, bem magrinhas, para depois ganharem corpo, muitas vezes um barrigão, um sumiço passageiro e o retorno, sempre saudado pelos clientes.

Outra vez, estava febril, enormemente gripado e achei que só a sopa do Pagoda poderia resolver minha necessidade de líquidos. Sentei sozinho naquela mesa para dois, logo na curva da entrada e fiz o pedido. Na hora de pagar, a D. Maria não aceitou — vira que a sopa era um remédio para mim e o Pagoda não era farmácia… Grande D. Maria. Sempre sorridente, deve ter adaptado seu nome para o Brasil. Quando a Claudia apareceu — minha mulher decididamente atrai pessoas — , ela veio muitas vezes até nossa mesa. Na primeira vez em que saiu detrás de seu eterno balcão, trouxe-nos uma sacola imensa de lichias, uma fruta absolutamente maravilhosa, que tentamos plantar sem sucesso. Nossa frustração agrônoma servia de pretexto para a D. Maria vir conversar. Era uma senhora doce e educada, sua fala branda adorava ironias.

Pois bem, o Pagoda fechou e a Claudia disse tudo ainda há pouco no MSN:

— Espero que a Dona Maria envelheça bem.

Eu também. Só gostaria de saber onde haverá um camarão ao molho de saquê que faça sombra ao do Pagoda.

P.S.- Se algum leitor tiver contato com a D. Maria, avise-a deste textinho, por favor. É o meu agradecimento.

Update (pelo twitter): @miltonribeiro RT @Liskan: @vinicius_m A dona faleceu ano passado e ele era mantido pelos funcionários. Em março ele já tinha fechado 🙁

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Pré-leitura de Dom Quixote

2005 foi o ano em que se comemoraram os 400 anos da primeira edição do Dom Quixote. Na época, programei uma homenagem particular ao livro — relê-lo — , mas não o fiz. Faço agora.

Antes de reenfrentar o Quixote, quero fazer um comentário comparativo entre a impressão que tive ao lê-lo pela primeira e única vez, aos 16 anos, e certas interpretações atuais. Durante um Fórum Social Mundial falou-se muito no Quixote como uma utopia, mas não creio que isto tenha muito contato com a história contada por Cervantes. Utopia (palavra do latim moderno, com origem no grego oú, “não”, e no grego tópos, ‘lugar’), utopia, repito, segundo Thomas Morus, é um local e uma situação ideais; isto é, refere-se a um país e a um governo imaginário que proporciona excelentes condições de vida a um povo feliz. Ironicamente, utopia significa não-lugar ou lugar nenhum… Não sei o que esta definição tem a ver com a história do Engenhoso Fidalgo, um personagem que aplicava sua fantasia para transcender sua circunstância imediata e que é destituído de projetos para si e seu país ou, melhor dizendo, refaz seu projeto cada vez que pensa ou vê algo que o interesse.

Sua fantasia forma gloriosa e minuciosa antítese com o ultrarrealismo de Sancho Pança. É na oposição de Quixote ao senso comum de Sancho que está grande parte da riqueza do livro. A capacidade do Quixote de adaptar-se e de manter seu idealismo acima da vulgaridade, leva-nos a acreditar que haja outro bom senso, único e pessoal, a lutar contra o marasmo e o comum. Mas não pensem em Sancho como um personagem desagradável, politicamente correto (…)  ou como “o representante da vulgaridade”, nada disso. Ele é engraçado e inteligente, estando sempre disposto a piadas e a citar oportunos adágios populares (Populares ou era Cervantes quem os criava?).

Cervantes é o fundador do romance moderno; no Quixote há personagens representando idéias e as situações falam, representando ideias, sem a necessidade de maiores explicações do autor. Escrito como só um grande romancista e poeta poderia fazê-lo – pois, como vocês sabem, Cervantes era também poeta e dramaturgo –, Dom Quixote foi o único livro que me fez chorar durante sua leitura. Eu adoraria que ele repetisse o feito 34 anos depois. (Fiquei feliz quando li, nos Diários de Virginia Woolf, que ela sempre derramava algumas lágrimas, furtivas ou não, quando abria seu Quixote. Isto me une a ela de alguma forma, já que somos tão antípodas em termos de talento.)

P.S. – Vocês sabiam que Shakespeare e Cervantes morreram exatamente no mesmo dia, no dia 23 de abril de 1616?

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Banfield 3 x 1 Inter

OK, a arbitragem foi absurda, mas nossa defesa é uma gracinha na bola alta. É só botar na nossa área que é gol. O Grêmio fez dois através de dois baixinhos. Ontem, o Banfield fez mais dois. Na verdade, o Banfield não é um bom time — como conseguiu vencer o argentino??? — e até dá para virar em Porto Alegre, só que a nossa defesa é uma tragédia e dificilmente deixa de presentear o adversário com um ou dois gols…

Provavelmente, estamos fora.

Abaixo, Fossati organizando a defesa do Inter (obra anônima…).

Twit de Francisco Luz: Mas um time que não consegue ter vantagem em NENHUMA bola aérea defensiva merece tomar no cu. Voltamos. Dá-lhe Inter que eu sempre amei.

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Silogismo para Banfield x Inter

Ontem, durante nosso jantar agora semanal com os amigos Branco e a Jussara, larguei um de meus típicos desafios:

— Se o Inter ganhar a Libertadores, saio nu na rua e dou o rabo para o primeiro candidato.

A frase foi recebida com certo pasmo, mas ninguém construiu o óbvio silogismo:

Tu queres vencer a Libertadores,
E dizes que vais dar o rabo se acontecer,
Logo, tu queres dar o rabo.

Dei-me conta na hora. Fiquei quietinho. O Branco, tão atento a essas minúcias, comeu mosca nessa.

Como me disse o Luís Felipe dos Santos pelo telefone, as pessoas estão levando o Banfield como se fosse uma barbada. Os caras foram campeões argentinos ano passado, têm um estádio bem pequeno, argentinamente opressivo e o Fossati já anunciou um retrancão. Ai, como eu sofro.

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Ciro Gomes passa vexame literário

Ciro, meu caro.

Sei que é complicado ter uma mulher que todos gostariam de comer e ainda sentir-se traído por seu partido, mas tenho um duro conselho a lhe dar: retire do ar imediatamente esta porra de seu blog.

Meu amigo, este poema só foi escrito por Maiakóvski nos “.ppt” que Patrícia recebe. Este poema foi escrito por alguém com bem menos grife, o poeta brasileiro Eduardo Costa — não confundir com o ex-volante do Grêmio e do São Paulo.

É que o título atrapalha, Ciro. O nome do poema de Eduardo é Na Cama, com Patríc…, ops, desculpe, No Caminho, com Maiakóvski. É imenso e lá encontramos o trecho…

Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

É o seu texto, certo? Informo-lhe também que há um poema, Intertexto, de Brecht, que é quase igual, viu?

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei
Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

E há um texto de 1933, de autoria de Martin Niemöller, que vai no mesmo lenga-lenga:

Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei. No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei. No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar.

Então, retire-se ao menos com dignidade literária, providenciando a alteração da autoria e me recomende à Patrícia. Diga para ela deixar Waldick e me procurar.

Um abraço de quem não ia mesmo votar em ti, bobão.
Milton Ribeiro

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O Politicamente Correto

Se você tem de escrever um trabalho para a escola ou a faculdade sobre o politicamente correto, copie daqui, está pronto e é grátis (free and copyleft)!

Introdução

É possível definir algo que não tem significado? Talvez seja possível caracterizá-lo. A expressão “politicamente correto” é uma triste variação da palavra-valise de Lewis Carrol. Se lá uma palavra agregava duas ou mais, aqui ela se mostra sem conteúdo algum. Então, basta abrir a valise para lá guardar o marxismo, o catolicismo, a boa razão, o motivo inconfessável, o freudismo ou o fascismo. Normalmente, quem utiliza o politicamente correto vê o mundo segundo o seu próprio critério de bom senso – do certo e do errado – , e vê o mundo e a história de forma maniqueísta, sendo o politicamente correto o bem e o politicamente incorreto, o mal. O mundo deixa de ser visto como um longo processo protagonizado por seres e consciências as mais diversas, passando a ser examinado de forma estanque, como se criado ontem. Tal perspectiva foi , evidentemente, concebida pela decadência do espírito crítico coletivo e pela falta de cultura sólida ou refinada.

Como podemos nos livrar desta peste?

Em nosso tempo, a mídia ou quaisquer redes de comunicação adquiriram grande importância e é precisamente ela a responsável por essa epidemia. A profilaxia é simples: a primeira coisa que precisamos fazer é identificar seu vetor, onde ele circula. Ora, ele circula através do vocabulário que utilizamos. Tal fato já demonstra sua debilidade, pois, apesar de se referir a fatos reais, a culpa nos é normalmente inoculada através de um ataque a nosso vocabulário. O contra-ataque que devemos usar é a renúncia à toda terminologia politicamente correta. Por exemplo, devemos dizer “putas” em vez de “profissionais do sexo”, “surdo” em vez de “deficiente auditivo”, “cegueira para cor” em vez de “daltonismo”, “maconheiro” em vez de “usuário de drogas leves”. O mesmo vale para todas as categorias sexuais. E onde inventaram que chamar alguém de negro é agressivo se o próprio movimento autodenomina-se Movimento Negro? (Um amigo de meu filho diz que os gaúchos são grosseiros ao chamar o doce “brigadeiro” de “negrinho” – deveriam chamá-lo “afrodescendentezinho”, claro…).

Abrangência

O politicamente correto é tão mutinacional quanto o cinema americano. Aliás, nasceu nas universidades americanas daquele país e tomou o mundo. Como se faz identificar uma perigosa pessoa inoculada pelo vírus do “politicamente correta”? É difícil fazê-lo rapidamente, requer alguma convivência, pois geralmente são pessoas que se consideram tolerantes. Então, é preciso fazê-las praticar a tolerância. Exato, elas não conseguirão. Sairão dizendo coisas como “Você não entendeu coisa nenhuma”, etc. Sim, o mundo é um local horroroso.

O perigo

A verdade é que o politicamente correto está entre nós e se apresenta sempre com frases pseudo-bondosas e argumentos de fácil assimilação. Temos de rechaçar imeditamente esta falsa inocência e desconstruir a facilidade de assimilação. É necessário, do mesmo modo, prevenir-se contra o mimetismo vocabular. Sempre enfadonho, com necessidades de repetição a fim de ampliar a estupidez dos seres humanos, o vocabulário politicamente correto é o principal veículo de contágio. Porém, trata-se de uma fé débil e, como tal, não resiste a uma aplicação do espírito crítico. É fundamental desconfiar das opiniões generalizadas: o mais tolo espírito contraditório vale mais do que a aceitação daquilo que a mídia nos dá.  Lembre-se sempre da Primeira Lei de Milton: A Ignorância Não Gera Dúvidas, a qual agora adapto para A Convicção Cega Não Alcança Profundidade Alguma (OK, Cioran disse algo parecido).

A desinformação

Na verdade, o politicamente correto prepara o terreno de forma ideal para a desinformação e o crescimento de nossa estupidez.  Quando o politicamente correto vencer, o mundo estará preparado para receber qualquer propaganda através de termos repetidos ad nauseum, os quais consistem em conceitos simples e imbecis. Esta será a nova opinião pública globalizada. Será negar a história e a complexidade, será a  idiotia em seu estado mais puro. E esta opinão pública aceitará qualquer ação, compreendendo e absolvendo seus manipuladores. Opa, mas isso já não ocorre?

Inspiração: aqui.


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Ao Mirante (Nelson Moraes), no Twitter

Humor de mau gosto, humor machista, humor negro, humor politicamente incorreto — nada se compara em nojeira ao humor a favor.

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De "A Mecânica da Ficção", de James Wood

Esta educação é dialética. A literatura faz de nós melhores observadores da vida; e permite-nos exercitar o dom na própria vida; que por sua vez nos torna mais atentos ao detalhe na literatura; que por sua vez nos torna mais atentos ao detalhe na vida. E assim sucessivamente.

James Wood,  “A mecânica da ficção”
Quetzal, 2010 (Editora portuguesa)
Trad. Rogério Casanova

Retirado daqui.

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Papa Bento XVI em marca de preservativos?

Segundo o ministério britânico dos Negócios Estrangeiros, o Papa devia lançar sua própria marca de preservativos, abençoar o casamento homossexual e ordenar mulheres católicas. Estas são as sugestões que aparecem quando faltam poucos meses para a visita de Ratzinger ao Reino Unido — ele não impõe sua presença no país desde 1982.

Lançadas numa reunião para preparar “uma visita ideal” de Bento XVI ao país em setembro, as ideias constam num memorando, mas nunca deviam ter vindo a público. Fuga de informação: foram publicadas nas páginas do “Sunday Telegraph”. Resultado: o “Foreign Office” teve de apresentar desculpas ao Vaticano.

“Trata-se de um documento estúpido, que não representa em nenhum caso a posição do Ministério das Relações Externas, nem do governo britânico”, assegurou um porta-voz do ministério. O Ministro dos Negócios Estrangeiros David Miliband, afirmou estar “horrorizado” e o embaixador britânico no Vaticano, Francis Campbell, reuniu-se com vários funcionários da Santa Sé para transmitir os arrependimentos de Londres.

Pô, eu achei ótimas as sugestões!

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