Leia, mas antes multiplique por -1

Abaixo, o editorial da Folha de São Paulo do último domingo. Esclarecimento: jornalismo independente e apartidário é o deles, claro. Enviado por e-mail pelo Diário Gauche. Os comentários abaixo também são do Cristóvão.

Mais: a Folha está acusando os golpes. Sente-se ameaçada por todos os lados. Manifesta temor pela ameaça representada pelos operadores de banda larga (chamada exageradamente de Leviatã). Provavelmente esteja se referindo à entrada do grupo Vivendi (comprou a GVT), o maior grupo midiático e de entretenimento da Europa. Teme também a entrada do grupo Prisa (El País, de Madri), que faz um jornalismo menos rançoso. As teles — OI, Vivo, etc. — também se preparam para operar na web, tv a cabo e informação. O impasse é o conteúdo, que poucos têm, pelo menos para fazer frente à crise do jornalismo impresso e a erosão de credibilidade no rádio e TV.

Outro temor: a vitória de Dilma em 2010, ou seja, mais uma caquerada de anos sem a proximidade aconchegante do poder.

É duro!

Direito à informação

Práticas desleais na internet colocam em risco as bases que permitem o exercício do jornalismo independente no país

DEMOCRACIAS tradicionais aprenderam a defender-se de duas fontes de poder que ameaçam o direito à informação.

Contra a tendência de todo governo de manipular fatos a seu favor, desenvolveram-se mecanismos de controle civil -caso dos veículos de comunicação com independência, financeira e editorial, em relação ao Estado. Contra o risco de que interesses empresariais cruzados ou monopólios bloqueiem o acesso a certas informações, criaram-se dispositivos para limitar o poder de grupos econômicos na mídia.
Essas salvaguardas tradicionais se veem desafiadas pelo avanço da internet e da convergência tecnológica nas comunicações – paradoxalmente, pois esse mesmo processo abre um campo novo ao jornalismo.

Apesar da revolução tecnológica e do advento de plataformas cooperativas, a produção de conteúdo informativo de interesse público continua, majoritariamente, a cargo de organizações empresariais especializadas. O acesso sistemático a informações exclusivas, relevantes, bem apuradas e editadas sempre implica a atuação de grandes equipes de profissionais dedicados apenas a isso. Essas equipes precisam ser remuneradas -ou o elo se rompe.

Quando um serviço de internet que visa ao lucro toma, sem pagar por isso, informações produzidas por empresas jornalísticas, as edita e as difunde a seu modo, não só fere as leis que resguardam os direitos autorais. Solapa os pilares financeiros que têm sustentado o jornalismo profissional independente.

Quando um país como o Brasil admite um oligopólio irrestrito na banda larga -a via para a qual converge a transmissão de múltiplos conteúdos, como os de TVs, revistas e jornais -, alimenta um Leviatã capaz de bloquear ou dificultar a passagem de dados e atores que não lhe sejam convenientes. A tendência a discriminar concorrentes se acentua no caso brasileiro, pois os mandarins da banda larga são, eles próprios, produtores de algum conteúdo jornalístico.

Quando autoridades se eximem de aplicar a portais de notícias o limite constitucional de 30% de participação de capital estrangeiro, abonam um grave desequilíbrio nas regras de competição. Veículos nacionais, que respeitam a lei, têm de concorrer com conglomerados estrangeiros que acessam fontes colossais e baratas de capital. Tal permissividade ameaça o espírito da norma, comum nas grandes democracias do planeta, de proteger a cultura nacional.

Contra esse triplo assédio, produtores de conteúdo jornalístico e de entretenimento no Brasil começam a protestar.

Exigem a aplicação, na internet, das leis que protegem o direito autoral. Pressionam as autoridades para que, como ocorre nos EUA, regulamentem a banda larga de modo a impedir as práticas discriminatórias e ampliar a competição. Requerem ao Ministério Público ação decisiva para que empresas produtoras de jornalismo e entretenimento na internet se ajustem à exigência, expressa no artigo 222 da Carta, de que 70% do controle do capital esteja com brasileiros.

A Folha se associa ao movimento não apenas no intuito de defender as balizas empresariais do jornalismo independente, apartidário e crítico que postula e pratica. Empunha a bandeira porque está em jogo o direito do cidadão de conhecer a verdade, de não ser ludibriado por governos ou grupos econômicos que ficaram poderosos demais.

Istambul, de Orhan Pamuk, e maisquememória, de Marcelo Backes

Lidos casualmente um após o outro, os livros de Pamuk (Istambul, Cia. das Letras, 399 págs.) e de Backes (maisquememória, Record, 399 págs.) podem parecer obras pertencentes a um gênero muito específico, o do memorialismo precoce e turístico, mas tal redução é injusta e, mesmo sendo tão diferentes, elas têm outras semelhanças além do número de páginas.

Conheci Pamuk numa Flip. Na verdade, fiquei (ficamos) abolhados com a metralhadora que é o homem. O tema de sua palestra era muito sedutor: “A influência de Borges sobre As Mil e uma Noites“. Sim, porque a admiração dos eruditos ocidentais, capitaneados argentino quando ainda não enxergava muito bem, causou tal furor nas pesquisas sobre o que havia de autêntico e o que tinha sido abusivamente alterado na obra, que, hoje, As Mil e uma Noites têm pouco a ver com a do começo do século XX. O tema era interessantíssimo, mas era o último da programação daquela dia na Flip e minha mulher desistiu no meio da fala daquele homem maluco que fazia tantas perguntas quanto respondia ao entrevistador. Mais: avisava que tinha pouco tempo e MUITO a contar. Falava com uma rapidez que deixava o tradutor audivelmente nervoso… OK, ela desistiu, mas eu fiquei ali ouvindo aquele homem estava em Parati mas que falava — palavras dele — desde a ponte de Istambul que liga a Europa à Ásia, voltando-se ora para um lado, ora para outro. Ao final daquele mesmo ano, aquele desconhecido turco maluco e inteligente receberia o Nobel.

Conheci Marcelo Backes num churrasco e não me arrependo até hoje. Ele devia ter uns 25 ou 26 anos, mas parecia ter lido 100 anos. Logo vi que era bom tê-lo por perto, pois Marcelo não apenas sabia muito como não se incomodava em ensinar. Desde lá, passaram-se mais de dez anos. Marcelo foi para a Alemanha finalizar mestrado e doutorado, publicou vários livros e traduziu mais de uma dezena, tendo percorrido desde Marx até Stanišić, passando por Kafka, Arthur Schnitzler e outros. De sua autoria, li A Arte do Combate, obra sobre a literatura alemã e seu caráter combativo em comparação com o habitual compadrio brasileiro; o sarcástico e aforístico Estilhaços (onde sou citado…) e agora este maisquememória. Hoje, Marcelo Backes mora no Rio. Falamos pouco, infelizmente.

Mas vamos antes às coincidências:

1. São ambos livros em grande parte de memórias, embora Backes chame, com razão, maisquememória de “romance”.
2. São ambos livros que falam muito eruditamente sobre história e artes em geral.
3. São ambos livros apaixonados, onde as cidades e a geografia participam na condição de personagens. Istambul parece levar a vida de Pamuk como a música de Bach leva adiante o texto de suas árias e Backes corre de cidade em cidade como se fosse um Lazarillo de Tormes moderno, mas a intenção não é só a de fazer graça e sim a de entabular diálogos — visuais, verbais e físicos — com a cultura local.
4. Istambul caracteriza-se pela melancolia (hüzun) e sabemos que Pamuk, de forma inacreditável e certamente sofrida, acabou separando-se da cidade que tanto ama e conhece, por fazer denúncias sobre o extermínio de armênios, enquanto maisquememória nos dá um itinerário muito sutil de como são emitidos e/ou ignorados os sinais que levam um casal à separação. Nos dois casos, ambos — e o “ambos” aqui é reforço de expressão — sabiam das conseqüências. Mas foram tragicamente em sua direção, como se outra coisa não fosse possível.
5. A pintura de Pamuk — pois o escritor é um ex-futuro pintor — é o fio condutor de grande parte do livro. Ela carrega todas as motivações, inclusive as sexuais, do autor. E Backes faz das obras de Oskar Kokoschka e de seu amor por Alma Mahler — desfeito por esta — um abrasador comentário paralelo, nem um pouco isento de sexo, sobre ocaso do casamento de seu personagem, matéria em pequena parte real e em grande parte ficcional.

Istambul é um livro para ser lido e admirado. Ganhar o livro de minha filha Bárbara como presente duplo de Dias dos Pais e aniversário, foi muito bom: ela não apenas escolheu o livro sozinha como comprou-o como sua própria mesada. Acertou em cheio. Fiquei folheando o livro (notem o ato falho: eu tinha escrito “filhando o livro”!) como forma de domar a comoção e a coisa só piorava, pois as fotos de Ara Güler que acompanham a obra e que pontuam minuciosamente a narrativa são lindíssimas, dignas de que você entre na livraria só para dar uma olhada, como numa pinacoteca. Mas faça isso no Brasil, pois o trabalho da Cia. das Letras é infinitamente melhor do que os da edição espanhola, argentina e mexicana.

À parte o turismo, maisquememória trata de uma separação que vai sendo lentamente anunciada durante a leitura. Aliás, há dois fatos que vão se aprofundando durante a leitura. (1) A dissociação entre o personagem principal e seu “cavalo” acentua-se até que o cavalo acaba por revoltar-se contra o primeiro eu de Marcelo Backes (ou de seu personagem Marcelo Backes) com seu enorme ego e (2) os melancólicos intermezzi — que chegam ao leitor em belo ostinato — não servem apenas para mostrar como Kokoschka é interessante, mas vão adquirindo significado antes do anúncio da separação. São extratos do profundo e inaceitado abandono que obcecou Kokoschka por anos. Então, o “eu narrador”, enquanto fala do mundo lá fora, caminha – repito – tragicamente na direção daquilo que é o que efetiva e talvez inconscientemente deseja e do qual só desconhece o amargor, ou seja, o cerne. É estranho que alguns leitores revoltaram-se contra o memorialista, ignorando a palavra “Romance” que há na capa. Tudo o que é contado em primeira pessoa são verdades… ficcionais…

Istambul, a ex-capital do ex-Império Bizantino, ex-capital do ex-Império Turco-Otomano tornou-se, no século XX, uma cidade que oscilava entre o riqueza e a pobreza, entre a ocidentalização chique e o orientalismo démodé. Filho de uma família rica, cujos pais estavam sempre às turras pelas constantes traições dele – fato notável, pois a mãe de Pamuk era belíssima, uma das mulheres mais belas da alta sociedade de Istambul, como podemos comprovar nas fotos do livro, prova de a vida é mesmo estranha … -, Pamuk constrói uma tranqüila e bela narrativa sobre o mundo infantil dentro da cidade que tenta ocidentalizar-se até mesmo através de incêndios. As descrições do Bósforo, acompanhadas pelas imagens de Güler, tornam a obra a mais bela homenagem que conheço a uma cidade. Falei com vários amigos que conhecem Istambul e eles não reconhecem a tal melancolia de seus habitantes, tão explorada por Pamuk, prova de que não somente a vida é estranha, mas o turismo também, pois o texto de Istambul combina tão bem com as fotos apresentadas que Pamuk nos convence de forma inequívoca.

maisquememória é um livro que cresce muito em sentido durante sua leitura. Se de início ficamos de nariz torcido para o narrador arrogante que nos enche – e como! – de informações muito interessantes e úteis acerca de suas viagens, se o autor adentra de forma oblíqua os mais variados assuntos e come as mais variadas mulheres das mais variadas etnias e línguas, ele nos causa estranheza pela intervenção de um cavalo de bom senso (o cavalo é um outro eu de Marcelo, bem mais razoável) e pelo coral grego representado pela narrativa, jogada aqui e ali, da separação de Oskar Kokoschka e Alma Mahler. Ao longo do livro, curiosamente, o contraditório que está na cabeça do leitor passa ao livro, que combate as assertivas do primeiro Marcelo através das vozes do segundo Marcelo e da que descreve o amor de Kokoschka. Ao final, as três vozes discutem abertamente, sendo caracterizadas por fontes (refiro-me ao tipo de letra) diferentes. Ou seja, o contraditório, a objeção presente do leitor migra para dentro do livro. Sem dúvida, é original.

O que mais gostei nos livros. Istambul: a esplêndida descrição do primeiro amor e as caminhadas do casal pela cidade, que são arrepiantes; os apontamentos sobre o pitoresco casual da cidade; a história dos escritores que escreveram antes sobre ela, turcos ou ocidentais; sua relação com a mãe e irmão e a prosa de Pamuk com sua perfeita noção de estilo. Ele efetivamente consegue mudar de capítulo para capítulo. Há os líricos, os descritivos, os jocosos; enfim, trata-se de um escritor que aprecia “mostrar” sua habilidade. Ah, e as fotos de Güler, as fotos, as fotos!

maisquememória é estupidamente informativo e tem todo o gênero de comentários divertidos sobre cultura em geral, mas estas opiniões e descrições vão se intrometendo nas “memórias” de forma curiosa, principalmente quando Kokoschka manda fazer uma boneca — fato real — de sua (já não sua) Alma Mahler. Tal procedimento acaba por criar o clima perfeito para a grandiosidade humana que o romance adquire em suas seções finais.

FHC teria recebido milhões de dólares da CIA

Resenha do jornal Correio do Brasil sobre um livro recém lançado Brasil abre algumas caixas pretas das ligações entre o alto tucanato e a CIA.

LIVRO ACUSA FHC DE RECEBER MILHÕES DE DÓLARES DA CIA

Mal chegou às livrarias e Quem pagou a conta? A CIA na guerra fria da cultura — Frances Stonor Saunders (*), Record, tradução de Vera Ribeiro — já se transformou na gazua que os adversários dos tucanos e neoliberais de todos os matizes mais desejavam. Em mensagens distribuídas neste domingo pela internet, já é possível perceber o ambiente de enfrentamento que precede as eleições deste ano. A obra da pesquisadora inglesa, ao mesmo tempo em que pergunta, responde: Quem “pagava a conta” era a CIA, a mesma fonte que financiou os US$ 145 mil iniciais para a tentativa de dominação cultural e ideológica do Brasil, assim como os milhões de dólares que os procederam, todos entregues pela Fundação Ford a Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do país no período de 1994 a 2002. O comentário sobre o livro consta na coluna do jornalista Sebastião Nery, na edição deste sábado do diário carioca Tribuna da Imprensa: “Não dá para resumir em uma coluna de jornal um livro que é um terremoto. São 550 páginas documentadas, minuciosa e magistralmente escritas”. “Consistente e fascinante” (The Washington Post). “Um livro que é uma martelada, e que estabelece em definitivo a verdade sobre as atividades da CIA” (Spectator). “Uma história crucial sobre as energias comprometedoras e sobre a manipulação de toda uma era muito recente” (The Times).

DINHEIRO DA CIA PARA FHC

“Numa noite de inverno do ano de 1969, nos escritórios da Fundação Ford, no Rio, Fernando Henrique teve uma conversa com Peter Bell, o representante da Fundação Ford no Brasil. Peter Bell se entusiasma e lhe oferece uma ajuda financeira de 145 mil dólares. Nasce o Cebrap”. Esta história, assim aparentemente inocente, era a ponta de um iceberg. Está contada na página 154 do livro “Fernando Henrique Cardoso, o Brasil do possível”, da jornalista francesa Brigitte Hersant Leoni (Editora Nova Fronteira, Rio, 1997, tradução de Dora Rocha). O “inverno do ano de 1969” era fevereiro de 69.

FUNDAÇÃO FORD

Há menos de 60 dias, em 13 de dezembro, a ditadura havia lançado o AI-5 e jogado o País no ponto alto do terrorismo de estado pós-golpe de 64, desde o início financiado, comandado e sustentado pelos Estados Unidos. Centenas de novas cassações e suspensões de direitos políticos estavam sendo assinadas. As prisões, lotadas. Até Juscelino e Lacerda tinham sido presos. E Fernando Henrique recebia da poderosa e notória Fundação Ford, uma primeira parcela de 145 mil dólares para fundar o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). O total do financiamento nunca foi revelado. Na Universidade de São Paulo, sabia-se e se dizia que o compromisso final dos americanos era de 800 mil a um milhão de dólares.

A SERVIÇO DA CIA

Os americanos não estavam jogando dinheiro pela janela. Fernando Henrique já tinha serviços prestados. Eles sabiam em quem estavam aplicando sua grana. Com o economista chileno Faletto, Fernando Henrique havia acabado de lançar o livro “Dependência e desenvolvimento na América Latina”, em que os dois defendiam a tese de que países em desenvolvimento ou mais atrasados poderiam desenvolver-se mantendo-se dependentes de outros países mais ricos. Como os Estados Unidos. Montado na cobertura e no dinheiro dos gringos, Fernando Henrique logo se tornou uma “personalidade internacional” e passou a dar aulas e fazer conferências em universidades norte-americanas e européias. Era “um homem da Fundação Ford”. E o que era a Fundação Ford? Um dos braços da CIA, o serviço secreto dos EUA.

MILHÕES DE DÓLARES

1 – “A Fundação Farfield era uma fundação da CIA… As fundações autênticas, como a Ford, a Rockfeller, a Carnegie, eram consideradas o tipo melhor e mais plausível de disfarce para os financiamentos… permitiu que a CIA financiasse um leque aparentemente ilimitado de programas secretos de ação que afetavam grupos de jovens, sindicatos de trabalhadores, universidades, editoras e outras instituições privadas” (pág. 153).

2 – “O uso de fundações filantrópicas era uma maneira conveniente de transferir grandes somas para projetos da CIA, sem alertar para sua origem. Em meados da década de 50, a intromissão no campo das fundações foi maciça…” (pág. 152). “A CIA e a Fundação Ford, entre outras agências, haviam montado e financiado um aparelho de intelectuais escolhidos por sua postura correta na guerra fria” (pág. 443).

3 – “A liberdade cultural não foi barata. A CIA bombeou dezenas de milhões de dólares… Ela funcionava, na verdade, como o ministério da Cultura dos Estados Unidos… com a organização sistemática de uma rede de grupos ou amigos, que trabalhavam de mãos dadas com a CIA, para proporcionar o financiamento de seus programas secretos” (pág. 147).

4 – “Não conseguíamos gastar tudo. Lembro-me de ter encontrado o tesoureiro. Santo Deus, disse eu, como podemos gastar isso? Não havia limites, ninguém tinha que prestar contas. Era impressionante” (pág. 123).

5 – “Surgiu uma profusão de sucursais, não apenas na Europa (havia escritorios na Alemanha Ocidental, na Grã-Bretanha, na Suécia, na Dinamarca e na Islândia), mas também noutras regiões: no Japão, na Índia, na Argentina, no Chile, na Austrália, no Líbano, no México, no Peru, no Uruguai, na Colômbia, no Paquistão e no Brasil” (pág. 119).

6 – “A ajuda financeira teria de ser complementada por um programa concentrado de guerra cultural, numa das mais ambiciosas operações secretas da guerra fria: conquistar a intelectualidade ocidental para a proposta norte-americana” (pág. 45).

(*) O nome correto da autora é Frances Stonor Saunders e não como está na capa do livro.

Fim do processo de Leticia Wierzchowski

O processo movido por Letícia Wierzchowski contra mim, em face de um post veiculado neste blog, foi encerrado através de um acordo, o qual prevê a retirada do post que continha termos supostamente considerados ofensivos à autora e seus comentários. Além disso, tal acordo ressaltou o direito constitucional, a mim assegurado, a futuros artigos críticos à obra da referida escritora.

Diferentes formas de sobrevivência

.: 1 :.

O veterano Rubens Barrichello teve um grande 2009. Após quase não arranjar equipe, Rubens acabou o mundial de pilotos em terceiro lugar e em alta. Para completar, saiu da habitual passividade e reagiu ao fato de ser uma piada em todo lugar. Nesta semana, ganhou um processo contra o Google, obrigando a que o gigante retire, principalmente do Orkut, mais de trezentos falsos perfis onde Barrichello era tratado como tartaruga, chofer, etc., além de 90 comunidades ofensivas. O motivo da ação foram as reclamações dos filhos do piloto. O valor da indenização é uma piada para os padrões da Fórmula 1, US$ 500 mil, e a grana vai para instituições de caridade. Barrichello, claro, é multimilionário e só alguns brasileiros o acham incompetente.

.: 2 :.

Enquanto isso, o ex-tenista Andre Agassi escolheu outra forma de sobrevivência: o suícidio póstumo como atleta. Em sua autobiografia Open, o vencedor de oito Grand Slam confessa ter tomado regularmente a droga cristal — também conhecida como MD cristal, crystal meth ou ice. Uma vez ao ser flagrado num antidoping, mentiu, em carta por escrito, que seu auxiliar havia colocado a droga num refrigerante e a ATP acreditou ou não quis levar o caso adiante. O auxiliar que “batizara” o refri foi mandado embora e Agassi seguiu a carreira nas quadras e no cristal. Uma maravilha.

Mas é pior. Depois dessa, a ATP afrouxou o controle sobre o doping. Hoje, os tenistas apenas escrevem onde estiveram e o que tomaram. Uma piada. Rafael Nadal e Marat Safin tiveram reações bastante fortes. Nadal foi sério:

— Não entendo porque disse isso agora, já que está aposentado. É uma forma de prejudicar o esporte sem nenhum sentido. Se nesses momentos a ATP escondeu o assunto (do doping) de Agassi e puniu outros, parece uma falta de respeito com todos os esportistas. Quero acreditar e espero que nada disto esteja acontecendo agora. Acho que temos um esporte limpo e sou o primeiro a desejar isso, mesmo sem estar de acordo com a forma (em que são realizados os exames antidoping). Os trapaceiros devem ser punidos, e se Agassi trapaceou em sua época, deveria ter sido punido — disse.

Agassi disse estar triste e arrependido. Coitado.

O tenista russo Marat Safin, mantendo a habitual irreverência e ironia que me fazem admirá-lo, propôs a solução para o “problema de consciência” de Agassi.

— Ele sente culpa? Então que ele devolva os seus títulos, dinheiro e seus Grand Slams — , afirmou Safin em entrevista ao jornal francês L’Equipe. — Se ele agora é limpo e franco, poderia fazê-lo. Vocês sabe, a ATP tem uma conta bancária e ele pode fazer a restituição, basta querer — completou.

Como Safin é do meu time e não alivia, seguiu mandando bala:

— Eu não vou escrever minha biografia, não preciso de nenhum dinheiro. A questão é: por que ele fez e por que confessou após aposentar-se? — , perguntou. — O que ele quer é vender mais livros, é completamente estúpido — , criticou o russo. Safin encerrou sua carreira esta semana em Paris fazendo uma grande partida contra Juan Martin del Potro. Foi eliminado ao perder por 2 x 1.

Além do russo e do espanhol, poucos se manifestaram. Guga foi cauteloso e político.

— Eu confesso que não sei até que ponto essa notícia pode se tornar algo real — , disse. — O Agassi que conheço é um sujeito competitivo e sincero nas palavras dele. Na realidade, se comprovado, ele deve ter tentado demonstrar no seu livro momentos de sua trajetória em que enfrentou dificuldades.

Mas é ainda pior. Os médicos revelam que, em algumas circunstâncias, o cristal provoca pânico e…

Bem, Agassi afirma em seu livro que perdeu de maneira proposital para Michael Chang na semifinal do Aberto da Austrália em 1996, pois queria fugir de Boris Becker na decisão. Apesar de transparecer sempre sério e objetivo. Agassi agora diz que tinha medo de Jim Courier, Thomas Muster, Yevgeny Kafelnikov, Boris Becker (que chama de “maldito alemão”) e de Pete Sampras. Estranho. Sobre Chang, Agassi tem algumas pérolas bastante interessantes:

— Eu o odiava. Ele dava graças à Deus e atribuía suas vitórias a Deus, isso me irritava muito. Por que Deus se importaria com uma partida de tênis? E por que ele se colocaria contra mim e a favor do Chang? Isso é ridículo. Quando ele venceu Roland Garros em 1989, fiquei com vontade de vomitar. Me perguntei: “Por que logo o Chang? Por quê, entre tantos outros, logo ele foi vencer um Slam antes de mim?”

.: 3 :.

E a Feira do Livro de Porto Alegre? Por que agoniza? Ora, por sua exclusiva culpa. Há anos que este blogueiro de sete leitores diz que a Feira tornou-se uma grande livraria, que não há variedade, que a quantidade de livros iguais — se a gente pede alguma coisa diferente, os livreiros têm de encomendar (?!) — torna a Feira um espetáculo nauseante. Este ano, não comprei nenhum livro lá, até porque sei que dificilmente os livros que procuro estarão lá. Alguém encontrou na Feira o livro o recentíssimo Música Mundana de John Neschling? Alguém viu por lá a trilogia do Gaúcho a Pé de Cyro Martins naquela bela edição comemorativa ao centenário de Cyro Martins lançada no ANO PASSADO? Melhor o site da Cultura ou a Estante Virtual, né? E, de quebra, não se precisa caminhar no meio de corredores cheio de livros de vampiros e autoajuda. De bom, a Feira tem os bares. Lá é onde estão atualmente os leitores.

.: 4 :.

Cada um busca a aposentadoria que pensa merecer. Barrichello aspira a uma dignidade tardia. Agassi faz o exato contrário. Barrichello quer entrar na história de uma forma diferente do que foi sua vida; Agassi quer o desprezo, mas antes venderá livros. A Feira está em fase minguante, mas não sou nada apocalíptico a respeito. Talvez até melhore.

Eu só sei que nada sei

Uma amiga pede para que eu faça uma convocação divulgando uma manifestação que ocorrerá hoje à tardinha na Feira do Livro. Minha opinião não mudou em nada, continuo achando que a UNIBAN errou ao expulsar a moça — e ainda teve de readmiti-la — mas errou antes ao não adverti-la de que há locais e locais. E erra ao existir da forma como existe.

Fico tentado e vou dizer que a Flash Mob tem direção equivocada. Deveria apontar contra Ministério da Educação. Concordo com o que escreveu Cristóvão Feil neste post:

O episódio da UNIBAN mostra o quanto é crítica a situação das novíssimas Universidades particulares no Brasil. São falsas instituições de ensino superior, exclusivamente voltadas para faturar, em troca da concessão de um diploma ao cabo de alguns semestres de aulas formais, magras de conhecimento e gordas de boçalidade e estupidez.

Gordas em mais de um sentido, como vemos ao lado… Mas esqueçam a última observação, por favor!

Minha posição à respeito é um pouco mais complexa do que desejariam os contendores. Tenho pena desta menina que precisa vender-se a fim de pagar uma universidade de merda — fui claro? — ; tenho nojo da direção da UNIBAN que a expulsou; tenho pena e nojo dos colegas fascistas de Geisy; tenho nojo das novas universidades caça-níqueis; tenho pena, nojo, ódio e gostaria de ver preso quem autoriza o funcionamento de coisas como a UNIBAN. Sou a favor de que haja muitas universidades, desde que sejam efetivamente universidades.

E nem consigo mais fazer piada a respeito, como faz o Melo, ao lado. Então vá lá, divulguemos, vai ser divertido:

Nessa sexta-feira 13, às 19h, saia de saia pra Feira do Livro de Porto Alegre, em defesa das conquistas dos Direitos e Garantias Individuais de toda e qualquer pessoa humana!

Participe do Flash Mob ESTOU PUTA!!!

Pelo respeito a TODAS as mulheres, não apenas as comportadas! Puta merece tanto respeito quanto executiva, estudante, dona-de-casa e freira!!!!!!!!!!!!!!

Passe adiante… torpedos, blogadas, twitter, orkut, facebook, telefonemas…

SAIA COMO QUISER!!!!

Deixo besos na esperança que vos alcancem.

O Ao Mirante… E, ah, as mulheres… A música…

Hoje acordei pensando no Nelson Moraes — nada a ver com os dois outros itens do post. Pensava no Love and death. Vocês sete leram o conto prematuro? É mais uma obra de arte de nosso blogueiro maior.

Love and death

Era um continho bem, mas bem raquítico, nascido prematuro, sem condições ainda de ser divulgado nem lido. Daí o autor tê-lo colocado na incubadora: todos os dias ele vinha visitar o conto tão mirradinho, de arcabouço frágil, situações incipientes, diálogos padecendo de disritmia e falta de fôlego — tanto que respirava por meio de aparelhos, aqueles tubos e aqueles êmbolos tão grandes e barulhentos para um continho como ele. O autor enfiava a mão na incubadora pela abertura circular e, com a luva de borracha, tocava nos dedinhos do conto, que de tão miudinhos mal conseguiam se fechar na ponta do polegar dele. O autor sussurrava, quase cantando, quase mais pensando do que falando, “Um dia você vai ser incluído na antologia do século e nós vamos rir disso tudo”. E o autor gostava de achar que os dedinhos do continho davam uma apertadinha em seu polegar. Mas lá pelo segundo ou terceiro dia, enquanto pajeava o continho, o autor percebeu as enfermeiras rindo e cochichando, atrás do vidro da sala da incubadora. Então ele, que além de arrebatado era um autor suscetível a certo tipo de crítica, foi ver que tititi era aquele – e uma das enfermeiras não demorou a soltar que corria por aí que aquele continho, sabe, podia não ser dele. Mas — ela emendou — era só boato maldoso, imagina. De gente invejosa. Falou e foi embora. O autor sentiu o chão rodar e faltar ao mesmo tempo, a garganta entalar, e depois de uns cardíacos minutos voltou até a incubadora. Enquanto o sangue lhe voltava devagar ao rosto ele observava o continho mirradinho, de olhinho fechado, dormindo. E esperou, esperou, esperou até ficar tarde, até não ter ninguém por perto – aí foi à máquina de oxigênio da incubadora e nem hesitou para desligar. O barulho parou mas não de repente. O autor apagou a luz da sala, pegou o casaco e só então lembrou que tinha guardado no bolso um pacote. Um pacote contendo uma roupagenzinha para o continho, para ser colocada assim que pudessem ir para casa. Uma roupagenzinha pequenininha, engraçadinha, do tamanhinho exato do conto e que revestiria a criaturinha de um estilo e de um acabamento que fariam as visitas dizer “é a sua cara”. O autor olhou para trás, guardando no labirinto do ouvido o seco e esticado silêncio da máquina de oxigênio, foi até a lata de lixo, jogou o pacote e saiu do hospital. Lá fora a brisa carregada de motes para histórias de amor e morte circulava sem muita pressa, com alguma melodia e um tanto assim úmida.

Obs.: se este não estiver entre Os Macacos do Museu Britânico… Não, nada, só vou ficar surpreso.

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Desejamos as mulheres fisicamente pelo que são: as corcundas pela corcunda, as burguesas pelo perfume, as putas pelo mau gosto (alguns acham bom), as gordas pelas dobrinhas, as magras pelos ossos e saboneteira, as sardentas pelo braile, as bonitas porque são bonitas, as caolhas pelo olho sempre a boiar (ou pelo que agita) e as comuns porque a gente olha, olha, olha e encontra a beleza. Sonhamos invadir suas existências sem maiores delongas e, eventualmente, aspiramos a uma retirada com a mesma velocidade. Em algumas, viciamos; às vezes incorremos no grave erro de casar com elas. Um cantinho confortável, macio e quente em suas companhias é tudo o que desejamos.

Desejamos as mulheres abstratamente pelo que são: as moralistas pela virtude, as militantes pela militância, as alegres pela risada, as tensas pelo nervosismo, as choronas pelas lágrimas, as neuróticas pela loucura, as zangadas para provocá-las (sou bom nisso), as espevitadas por derrubarem tudo, as delicadas pelas promessas, as imprevisíveis pelas surpresas e as inteligentes por evitarem discutir a relação quando estamos cansados. Sonhamos com surpresas e telefonemas em horários estapafúrdios. Algumas pedem-nos explicações sobre conceitos fundamentais, como o futebol. Uma mesa de canto, um Bailey`s pós-prandial e suas vozes é tudo o que desejamos.

Tal como Truffaut, alguns de nós amam as mulheres.

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Ontem, um dia produtivo (e cansativo) de trabalho; a companhia de dois livros, um de Bolaño, outro de Stanišić; o Concerto Nº 3 para Piano e Orquestra de Béla Bartók nos ouvidos, este computador ligado. Terminado Bartók, para manter o padrão, fiz Bruno Cocset atacar a Suíte nº 6 para cello solo daquele cara. E agora, de manhã, Stravinski. Vida miserável.

O supermercado como local de encontros

O leitor alienígena, aquele que não é de Porto Alegre, é maioria absoluta em meu blog. Então, terei de começar por algumas explicações. O Supermercado Zaffari é o melhor da cidade. Disparado, não obstante suas lojas serem um horror arquitetônico dignos do cão enlouquecido de Gaudí, o interior é livre das sandices externas, limpo, até bonito, bem organizado, ar condicionado, a oferta de produtos é ótima e o número de caixas fazem a alegria de quem está com pressa. Ou seja, é um local agradável. Acho que quase todos nós preferimos o Zaffari, apesar do aspecto externo. Abaixo, um dos lados do Zaffari Bourbon Country. Destaque para as três árvores torturadas frente a arquibancadas de vasinhos a observar seu fim. Parece uma foto de filme americano onde uma plateia assiste uma execução.

Já eu, Milton Ribeiro, também tenho lay-out pra lá de estranho. 1,71 m, 75 Kg, 52 anos. Até o ano passado corria 10 Km achando graça do calor de 35º. E não pesava menos por isso. O que me torna ridículo é o fato de toda a gordura de meu corpo dirigir-se inexoravelmente à barriga. Todos me acham magro, exceto minha mulher, filha, irmã e outros poucos que insistem em sentar sobre minha baixa autoestima. Tenho certeza de que os Caetés, se vissem minha barriga, não pensariam que estivesse grávido de três meses e talvez deixassem de lado o Bispo Sardinha, pois a manta de gordura que a recobre faz dela uma verdadeira picanha adornada por bordas de catupiri — os pneus. O que eu quero dizer com este comercial é que sou um sujeito comum, com barriguinha próspera, cabelos ma non tanto grisalhos, em forma pero no mucho, que vai ao supermercado comprar umas coisinhas e que repentinamente…

… nota que é objeto de observação das mulheres.

Faz duas semanas, era um domingo, 17h30, horário que os maridos veem futebol e as mulheres vão em busca de víveres. Víveres… Claro! Eu tinha ouvido um amigo falar que o Zaffari era um local sofisticado de caça e qual não foi minha surpresa ao entrar na alça de mira das gazelas de meia idade. Como dizemos eu e meu amigo Branco, somos naturezas fiéis e ficamos cheios de pudor nestas circunstâncias, mas ali parecia maravilhoso, era o retorno à juventude. Então, com meu olhar antropológico, comecei a caminhar pelos corredores e, logo, o óbvio: um homem mais ou menos da minha idade, com um produto na mão, aproxima-se de uma moça que estava há anos parada na frente de uma interessantíssima gôndola. Faz-lhe uma pergunta. Começam a conversar. Sorrisos em ambas as direções. O amor.

Outro fato digno de nota são as roupas. Sabem aquela informalidade medida, aqueles cabelos inequivocamente femininos, cheios de voltas incompreensíveis, com um palitão enfiado? Ou curtos, mas preparados por longos minutos no espelho? Não sei se vi palitões, mas o espírito era aquele. E estava quente, havia shorts e sandálias de verão, nem tão altas mas longe das havaianasriders. Sim, muita gente vestida para matar às 17h30. Os homens estavam limpinhos, de camisetas e tênis novos. Menos eu, menos eu, que tinha dado banho nas cachorras e estava com muito mais feromônios que o habitual. Há gente que gosta, tanto que aquela moça de short branco e blusa amarela parecia estar com vontade de utilizar meu call center a respeito dos pães árabes.

Meu amigo — sim, aquele primo lá de Passo Fundo — me relatou que os melhores locais são os vinhos, as especiarias, os dietéticos e os iogurtes. São todos locais tranquilos onde as dúvidas surgem naturalmente. (Quando cheguei em casa, contei para a Bárbara e ela me deixou pasmo. Pai, uma vez a mãe estava pegando Patricias e um cara veio todo meloso perguntando se era tão boa quanto a Norteña e dizendo que era muito triste beber cerveja sozinho. Tratava-se certamente de um sério observador da espécie humana!) O mesmo amigo me disse que os infantis também são locais interessantes para quem quiser relações mais tranquilas com mulheres ocupadas por filhos. Ele declarou, sacana: Ali, é o local para quem quer uma rapidinha. Perguntei se muitas delas são carentes, querendo se vingar do marido horrível que não a auxilia devidamente com o filho. Ele replicou é uma possibilidade. E completou: é importante que se saiba bastante ou nada sobre os produtos. Mulheres gostam de extremos, ou cuidarão de nós ou serão cuidadas.

Chegando em casa, recebi a visita de um casal de amigos. Contei-lhes tudo. Atrasada ou profilática, a mulher ficou meio puta, pois o marido costumava passar longas temporadas vespertinas no Zaffari e dizia que adorava examinar todas as novidades para esperá-la com um jantarzinho pronto. Tá bom. O homem ouvira falar que o estacionamento era local de namoros e encontros. E eu, ingênuo, que só dou uns amassos na minha mulher na fila dos frios!

O caso Geisy Arruda ou O Taliban da Uniban

Eu passei boa parte da manhã de hoje lendo a respeito do caso de Geisy Vila Nova Arruda, a moça que foi enxotada, quase linchada e agora expulsa da Uniban de São Bernardo do Campo. Geisy, de 20 anos, apareceu na universidade para assistir aulas do curso de Turismo vestida com um micro vestido rosa-choque, fato que provocou a ira da estudantada, que desejava vê-la fora dali. A moça teve de se retirar sob proteção, aos gritos de “puta, puta”. Nem tudo deve ser tão simples. Os estudantes a acusam de mostrar a bunda no corredor, de provocar, de atuar como prostituta fora das salas de aula, etc. E daí?

Bem, aqui, peço licença para utilizar minha experiência… Sabe-se que há moças atraentes de baixa classe média como Geisy — e também de quaisquer classes sociais — que reforçam seus orçamentos com atividades em casas noturnas. Algumas pagam não apenas seus provocantes vestidos com tais rendimentos, mas também as caras universidades particulares. Creio que isto não seja um fenômeno exclusivamente brasileiro, creio ainda menos que os estudantes da Uniban devam ter o direito de expulsar e linchar uma colega por causa de suas roupas e creio os estudantes da Uniban não desaprovem inteiramente as casas que oferecem sexo, assim como a Playboy, a dança da garrafa, as piadas bagaceiras ou as emissoras de televisão. Porém, se ela realmente os provocava mostrando-lhes o traseiro, a universidade deveria ter agido, pois acho que mostrar o traseiro é demasiado para nossa cultura que apenas permite que o traseiro seja visto “casualmente” ou em seus contornos.

Claro, nada é simples. Geisy parece ser uma dessas mulheres que querem desesperadamente aparecer; trata-se de uma candidata natural a um BBB, lutando contra sua origem pobre com as armas que têm (as quais nem são tão letais, pelo que vi). Ou seja, a sociedade chocou-se contra a expressão paroxística daquilo que promove: a escalada social de pessoas de pouco preparadas através da beleza, a sexualização de tudo, a hiperexposição, coisas que são suportadas diariamente. A história natural de Geisy seria ou arranjar um emergente rico que gostasse de seu jeitinho ou as casas noturnas ou o BBB ou a Playboy ou a depressão por não ser bonita o suficiente para nenhuma das opções anteriores. Talvez desconfiada da última opção, estudava. Ora, tudo está no direito dela!

O que é inaceitável é a atitude da diretoria da Uniban ao expulsar a moça da universidade pelos conflitos que criou. Ora, meus caros, quem criou o conflito foi a própria diretoria ao omitir-se quando do aparecimento da estudante e das reações que sua presença provocava. Não acredito que Geisy mostrasse o traseiro se não houvesse filas para vê-la… Todos nós sabemos que o anonimato da multidão faz com que cada um de seus membros masculinos fiquem não apenas eretos, mas que sufoquem seus respectivos superegos. Ela não era uma santa e devia ir vestida daquele modo com a finalidade de produzir o efeito que efetivamente alcançava. Neste momento, quando a confusão começou, é que a diretoria da Uniban deveria ter intervindo. A universidade tornou-se uma extensão da casa noturna, o que é um evidente equívoco de Geisy, dos alunos e da universidade. Ora, os estudantes se sentiram atraídos por aquelas formas do mesmo modo que os neonazistas sentem-se atraídos pelo homossexuais. E como Geisy provavelmente ultrapassou o socialmente aceitável, como suas colegas presumivelmente se sentiram agredidas, a consequência natural foi a passagem para a violência. Culpa de quem? Ora, culpa de quem não controla minimamente seus corredores e que, agora, pensa resolver o problema com a simples expulsão.

Não, meus caros diretores! Isto não é solução. No momento em que vocês criaram a situação, vocês, uma universidade (qualquer universidade deveria estar na ponta-de-lança da tolerância e da democracia), teriam que abraçar, tratar civilizadamente e conversar com Geisy, acalmar a turba e torcer nas internas, mas bem nas internas, que ela seja logo recrutada pela Record e desapareça — fato que, garanto-lhes!, vai ocorrer. Porém a Uniban é tola, mas tão tola, que conseguiu obter foi a ira da sociedade, das feministas e das maiores vítimas da violência e intolerância sexual, os gays. Esses moços, pobres moços, não são nada espertos.

Royalties para ele.

Telemann: Abertura Alster

Procurava algo sobre a Suite Alster. Acabei encontrando uma das gravações que tenho, acompanhada de lindas imagens do carnaval de Hamburgo. O autor do vídeo selecionou quatro movimentos da Abertura (ou Suíte): o animado 2º movimento, o lento 3º, a dança folclórica do 4º e o muitíssimo jocoso 5º, meu preferido.

A orquestra é a esplêndida Akademie für Alte Musik Berlin e espero que som de seu micro seja bom, porque isto aqui tem de ser ouvido em volume bem alto. Sugiro tela grande também!

Ou aqui.

Bom domingo a todos!

Porque hoje é sábado, Natalie Imbruglia

Eu, Milton, sou um ET.

Passei anos consciente de que deveria evitar um cantor chamado Sandy Junior.

Há pouco tempo soube que era Sandy & Junior, trágico fato que talvez dobrasse as chances de um encontro.

O Junior, por sinal, tem uma inequívoca cara de babaca, né?

Juro que até hoje não os ouvi cantar. E não desejo para ninguém uma desdita dessas.

O mesmo vale para Natalie Imbruglia. Vejam que rosto tem esta mulher! Ela é perfeita! Linda!

Eu a descobri vendo um filme do Mr. Bean com meus filhos. Apaixonei-me na hora.

Desejei que ela tivesse uma longa carreira de grandes atuações, …

… e que fosse obrigado a ver todos os seus filmes, sofrendo cada vez mais com sua beleza – pois a beleza dói.

Soube depois que era seu filme de estréia. E que ela era uma famosa cantora australiana.

Desde então, dedico parte de minha vida a evitar quaisquer contatos com sua música.

Já pensaram? Uma cantora australiana!

Sabe-se que há diminutas chances de um australiano fazer algo que preste…

— sim, preconceito baseado em feedbacks; e daí, Priscilla? – e não desejo estragar a profunda…

… impressão de nosso primeiro encontro. Ela não faz mais filmes, fato que talvez a torne mais perigosa.

Ela pede que eu a procure numa MTV ou YouTube da vida e acho que vou acabar por aceitar.

Mas não sei se devo capitular após tantos anos, fico atrapalhado, na dúvida…

EUREKA! Já sei a solução! Farei como faço com o futebol na Globo do Galvão, assistirei sem som!

Sugestão para o Natal

É sexta-feira, relaxemos… Aquele seu amigo ou amiga legal merece receber este mimo, vai dizer? Bem, eu gostaria. Trata-se do Grande Livro Vermelho do Monty Python. Você provavelmente já ouviu falar de filmes como Monty Python e o Cálice Sagrado, A Vida de Brian e O Sentido da Vida, não? O grupo Monty Python era formado pelos comediantes Eric Idle, Graham Chapman, John Cleese, Michael Palin e Terry Jones, mais o cartunista e diretor Terry Gillian. O humor dos Pythons beirava ou invadia a insanidade. E era inteligente. Os três filmes citados são clássicos que divertem até hoje os amigos de meus filhos que não apenas os veem e reveem como têm toques de celulares com o “Cruxifiction, good…” e com a ultra super hiper antológica cena da ponte em Cálice Sagrado “What`s you favorite color?”. Não sei muita coisa sobre o livro, já gostei. E é óbvio que, em vez de escrever, fiquei vendo filminhos.

O Monty Python começou na televisão com a série Monty Python’s Flying Circus. Começaram em 1969 e produziram 45 programas em quatro temporadas. Depois, filmes (foram só 4?), shows e livros. O termo pythonesque foi dicionarizado para caracterizar algo realmente absurdo. Houve um quase retorno dos Pythons na excelente comédia Um peixe chamado Wanda, mas aquilo foi seu canto de cisne.

Agora, deixo-vos com a trupe dos Pythons. Comecemos pelo clássico jogo de futebol entre filósofos alemães e gregos. Foi produzido para a TV:

Ainda no tempo do Flying Circus, mais uma para a TV. A piada mais engraçada do mundo:

Passamos pela Ponte da Morte do espetacular Monty Python e o Cálice Sagrado:

E chegamos ao único filme do qual saí meio mal de tanto rir, muito embora de não ter morrido: A Vida de Brian.

O Ao Mirante, Nelson entra pelo MSN e sugere o Ministry of silly walks, que é de chorar de rir.

Há tantas cenas inesquecíveis que agora vou voltar para o YouTube. Tchau.

O silêncio da intelectualidade gaúcha

Só a indiferença é livre. O que tem caráter distintivo nunca é livre; traz a marca do próprio selo; é condicionado e comprometido.

THOMAS MANN

Ironicamente, no dia de Finados, o RS Urgente publicou um post sobre o silêncio da intelectualidade gaúcha. O post era mais do que simples, apenas reproduzia um comentário do leitor Franklin Cunha:

O que mais nos impressiona nessa cortina de silêncio em torno das denúncias de crimes do atual governo, é a absoluta ausência de manifestações da intelectualidade gaúcha. Descrevem o pôr-do-sol, os ipês floridos, a feira do livro, as festas gauchescas, preocupam-se com os monumentos públicos, como se todas essas “monstruosidades” geradas no Piratini, não existissem. Não podemos acreditar que todos eles foram cooptados pelas benesses do poder.

Sim, simples, mas provocativo na medida certa e mais do que suficiente para gerar um bom debate. Quero começar definindo o que entendo por intelectualidade. São os moços dos cadernos de cultura, são as pequenas celebridades que gostam de tentar reflexões inteligentes sobre costumes, política internacional, escritores, arte em geral, sociologia, antropologia e o diabo. São aqueles que acorrem aos jornais para dar sua interpretação dos fatos, os que preveem, os oráculos que escrevem hoje para poderem dizer “eu avisei” amanhã. E são os bons escritores, ensaístas e articulistas que produzem essa coisa intangível que chamamos cultura ou conhecimento. Ou seja, minha concepção da palavra é pré-Gramsci e pré-antiga.

Há tais pessoas por aqui e em todo lugar.

Em primeiro lugar, esta intelectualidade parece traumatizada com um fato que começou em meados do século XX e que hoje mostra cada vez mais seus resultados: a pouca importância que os intelectuais passaram a ter. Em tempos nem tão remotos, escritores e artistas eram convidados pelo poder para participarem não apenas de regabofes mas para grudarem suas grifes neles. Apenas para seguir a senda de palavras iniciadas por “gr”, diria que Graham Greene, por exemplo, era habitué de vários primeiros-ministros ingleses e presidentes americanos quando o encontro era internacional. Greene foi uma das últimas celebridades do gênero “escritor famoso que trata de política internacional em seus livros”. Lembro que, certa vez, pediu para ser apresentado a Augusto Pinochet apenas para ter o prazer de negar-lhe um cumprimento. Foi o que fez. Só que hoje há um problema: a literatura fracassou e não cria mais celebridades, sejam planetárias, sejam no microcosmo brasileiro. A importância do escritor e do artista diminuiu.

Em segundo lugar, Swift era um gênio e sempre teve razão ao chamar de Laputa a terra dos intelectuais em Gulliver. Em geral, sempre estivemos — e já que as ofensas serão duras, passo a dar a cara ao tapa –- à venda. Greene não, porém muitos outros sim. Olhem para o Brasil. E olhem para o habitual. Adoro Drummond, mas o que ele fazia com Capanema durante o Estado Novo? Ah, compreendo, eram amigos de infância… Deixo a palavra ao poeta Fernando Monteiro, que não habita Laputa.

Nossos parnasianos, condoreiros, simbolistas,
modernistas, praxistas e taxidermistas
da poesia do pantanal depois da lama seca
descobrem de novo o Brasil de Cabral,
trabalham para Capanema e não faz mal,
tomam remédio para dor de cabeça
e vão dormir em Pasárgada,
onde são mais que amigos do rei
de espadas dos jogos de cartas
marcadas da carreira literária
do acadêmico Getúlio Vargas

Os poetas brasileiros não morrem em revoluções.
Quando elas acontecem, os bardos nacionais
preferem segurar os empregos.
Na Revolução de 30 não morreu um só Dante
de Cascadura para contar como é descer ao inferno.
Todos eles aspiram ao céu de palmas abertas
soltando as batatas quentes na corrida
dos mil metros para ocupar ministérios,
secretarias da cultura e bibliotecas nacionais
reservadas para os insistentes em Poesia Sempre
(palmas para eles com uma só mão no ar rarefeito
da imortalidade a cacete, chá e simpatia
de casca dos bóias-quentes).

(Trecho do poema Vi uma foto de Anna Akhmátova)

Não é um exagero. É a razão. Estamos sempre prontos a aderir, mesmo que seja a um Getúlio Vargas. Exemplos há aos montes. Lembram quem foi o autor de Zélia, uma paixão? Pois é, foi o incensado autor de Encontro Marcado, Fernando Sabino.

Mas voltemos ao Rio Grande. O que quero dizer é que a LIC (Lei de Incentivo à Cultura) tornaram os autores ainda mais dependentes e putos. Quem falará mal de Yeda Crusius se sabe que ela toma chás com bolachas acompanhada da Secretária da Cultura Mônica Leal? Tal fato serve de pretexto para quem já não tem lá muita disposição para tratar de temas espinhosos. Não posso protestar porque meu projeto está nas mãos deles… Aqui temos um raro e débil protesto onde a governadora é tratada com um respeito, digamos, patético.

Secretária Mônica Leal (acima, à direita)

Em terceiro lugar, há a pequena grande imprensa gaúcha. Não há nenhuma disposição nela para abraçar vozes dissonantes. Obviamente, tal fato não libera nossos gloriosos produtores de cultura de seus compromissos éticos, mas afirmo que a maioria deles conta com a divulgação de seus trabalhos por nosso órgão maior, nem que este muitas vezes acabe apontando para seus rabos. A justificativa aqui é a de que, Pô, fiz uma catilinária contra a situação, mas eles jogaram no lixo… O onipresente e sorridente Luís Augusto Fischer, que trabalhou Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre durante a gestão de Tarso Genro, parece estar desobrigado de qualquer comentário sobre o Estado e lembro apenas de ter lido uns muxoxos quando vimos o acervo de Erico Verissimo seguir para o Rio de Janeiro.

Nada justifica o silêncio. A única exceção que vejo é vergonhosa para a esquerda gaúcha. Trata-se do professor e escritor Juremir Machado da Silva. Juremir é uma das pessoas mais afastadas da esquerda que conheço, porém é o único ter coragem de ironizar o estado das coisas. O resto fica tipo assim, entende?

Quem tem a cara do Grêmio?

Vagner Mancini foi mandado embora porque “não tinha a cara do Grêmio”, o presidente Duda Kroef é contestado pelos gremistas por “não ter a cara do Grêmio” e Autuori, pela mesma alegação, já foi colocado no paredão.

Para esses caras, há o técnico ideal: …

… aqui está ele! É só botar o Dinho na boca do túnel.

Nada como simplificar as coisas.

Um certo livro infantil

Em minha curta experiência na Biblioteca do Instituto Santa Luzia, sempre perguntava quais eram os livros mais retirados e amados pelos alunos. O primeiro da lista era uma unanimidade entre as bibliotecárias: o belíssimo A Casa Sonolenta, de Audrey Wood (desenhos de Don Wood). Este livro foi lido e mostrado por mim e por minha ex para meus filhos incontáveis vezes. Trata-se de um dia chuvoso e chato em que todas as pessoas da casa só desejam dormir. Todos, desde a avó, vão se empilhando sobre uma cama periclitante até que uma pulga resolve morder o gato que está no alto da pilha. Este dá um salto e o resultado é mais do que acordar todo mundo. O bom é observar o susto de cada um, todos de pijamas, em trajes mais ou menos íntimos.

O que a criançada mais gosta são dos contos de repetição. Há uma situação — boa ou ruim — que se repete. Tal situação ou está ameaçada ou afirma-se inevitavelmente, sob as circunstâncias mais improváveis. Também contribui para o sucesso o fato de que tais histórias simples permitem certa “atuação” ao adulto que as relata. É divertido. As crianças amam as repetições e pedem para que a gente as conte trocentas vezes. Lembro de muitas outras que obviamemente acabei decorando. Uma das melhores é também do casal Wood: a deliciosa O Rei Bigodeira e sua Banheira. Ambas estavam entre os livros que mais recontava para meus filhos, mas havia um que acabei fazendo sumir lá de casa.

Um belo dia, provavelmente em 25 de setembro de 2001, vi que a Bárbara ganhara (de quem?, não lembro) um livro anormalmente bonito chamado O Homem que amava caixas, de Stephen Michael King. O livro foi dado a ela fora da festa, talvez por um colega de aula, pois lembro que ela chegara inesperadamente com a novidade e, ato contínuo, pediu para que eu lesse a história. Olha, não sei como cheguei ao fim. Não sou de chorar em filmes nem na vida. No final de As Pontes de Madison, por exemplo, olhei divertido o festival de homens e mulheres fungantes de olhos vermelhos, mas o livro que a Bárbara ganhara me fazia desmanchar a ponto de eu acabar por retirá-lo de circulação. Por quê? Ora, um certo pudor me dizia que era melhor não demonstrar uma comoção além da conta. Não faço a mínima ideia de onde o escondi, talvez tenha sumido na casa de minha mãe. Durante o feriado andei por aí atrás dele. Nada.

Fui à Internet e descobri que tem status de clássico. Muitos adultos escreveram a respeito, é a história preferida de vários, seu texto está reproduzido por todo lado e ele é mostrado e contado no YouTube. Acredito que esta história ocupe uma posição diversa do habitual. Pois ela fala demais ao adulto. Tenho certeza de que minha emoção vinha mais da minha relação com meu pai, já morto em 2001, e menos do relacionamento com meus filhos. Ou talvez fosse mais correto dizer que misture tudo.

Então hoje é o dia de submeter meus sete leitores a uma “contação de histórias” (isto se eles conseguiram chegar até este ponto do post). Uma certa Kika gravou um vídeo em que ela mostra o livro e lê O homem que amava caixas. Primeiro vai o vídeo e após o texto. Sim, mesmo que a tia Kika nos conte bem devagarinho e mexa o livro deixando o foco quase maluco, ainda fico comovido… Fazer o quê? Não, não choro mais, só faço ela contar de novo…

O homem que amava caixas

Era uma vez um homem
O homem tinha um filho
O filho amava o homem
e o homem amava caixas.

Caixas grandes
caixas redondas
caixas pequenas
caixas altas
todos os tipos de caixas!

O homem tinha dificuldade em dizer ao filho que o amava;
então, com suas caixas, ele começou a construir coisas para seu filho.
Ele era perito em fazer castelos
e seus aviões sempre voavam…
a não ser, claro, que chovesse.

As caixas apareciam de repente, quando os amigos chegavam, e, nessas caixas, eles brincavam…
e brincavam…
e brincavam.

A maioria das pessoas achava que o homem era muito estranho.
Os velhos apontavam para ele.
As velhas olhavam zangadas para ele.
Seus vizinhos riam dele pelas costas.

Mas nada disso preocupava o homem,
porque ele sabia que tinham encontrado uma maneira especial de compartilharem…
o amor de um pelo outro.