Brilho Eterno de um Corpo Sem Lembranças, de Vladimir Nabokov

Se em Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (Eternal Sunshine of the Spotless Mind), 2004, Jim Carrey interpreta um marido desesperado pelo fato de sua ex-esposa (Kate Winslet) tê-lo deletado da memória através de um programa maluco, em O Original de Laura Philip consegue que seu cérebro apague partes do próprio corpo enquanto vê sua Flora traí-lo sistematicamente.

Se de um lado temos o roteirista americano Charlie Kaufman e o diretor francês Michel Gondry — pessoas que talvez ainda estejam longe de uma imortalidade –, de outro há o célebre escritor russo Vladimir Nabokov, autor de obras-primas como Lolita, Fogo Pálido e, principalmente, A Verdadeira Vida de Sebastian Knight. Se o filme Brilho Eterno é maravilhoso, O Original de Laura não vale a pena. Não, não farei uma resenha do livro de Nabokov. Eu adoro Nabokov e ele não merece que eu, uma obscura pessoa de um obscuro blog, o desmereça. Nabokov mandou que, em caso de morte, O Original de Laura fosse para o fogo, pálido ou não, mas a esposa Vera não teve coragem de fazer a fogueira e o filho Dmitri igualmente o manteve até que, em 2008, 31 anos após a morte do pai, ressuscitou a ideia de publicação.

Como sói acontecer, são os vivos que julgam os mortos, já que estes têm manifestações mais discretas. Então, dou razão a Max Brod quando ele salva da destruição, para toda a humanidade, obras como O Processo e O Castelo, de seu melhor amigo Franz Kafka. Brod era um bom leitor e logo viu o que tinha nas mãos. Fez bem. Obrigado, Brod. 2666, de Roberto Bolaño, foi publicado num formato diferente e o tempo provou o acerto dos herdeiros e do editor Herralde. Solo de Clarineta, de Erico Verissimo, estava em grande parte pronto. Vale a leitura. A 10ª Sinfonia de Mahler possuía apenas o Adagio inicial, mas que adágio!!! Bach morreu durante a composição da Arte da Fuga, mas o que deixou pronto é embasbacante. Enquanto isso, O Original de Laura é um livro que apenas permite vislumbrar como Nabokov criava seus romances.

O que me deixa contrariado é o fato de que livros grandiosos de Nabokov não receberam tamanho espalhafato e luxo. Trata-se apenas de um mau presente. Nunca vi um Sebastian Knight ser lançado no Brasil em capa dura, papel de alta qualidade, fac-símiles originais com a caligrafia de Nabokov, etc. Tudo por um livro de terceira categoria — pois o que foi publicado é o conjunto das 138 fichas onde o autor escrevera quatro capítulos e anotara ideias e trechos. Seu processo de criação fazia com que escrevesse o romance em fichas separadas, o que permitia a troca de lugar entre os capítulos sem precisar redigitar tudo novamente. O que fazia era uma espécie de Crtl-X / Ctrl-V com as tais fichas, apenas reorganizando-as.

Mas então Vera morreu e Dmitri, com a saúde debilitada aos 75 anos e falto de dinheiros, resolveu publicar a coisa. A crítica está massacrando o livro. Vê nele os sinais de declínio que os últimos romances de Nabokov já demonstravam. Sim, os vivos julgam e resolvem as coisas pelos mortos, mas é bom ter um pouco de bom senso.

Para completar a desgraça, Dmitri quer publicar as fichas em série, num periódico literário, como se fosse uma novela da Globo. A respeitada revista “New Yorker” recusou-se a montar a minissérie. Depois de várias tentativas, Dmitri ofereceu-as à “Playboy” americana — que os publicará a partir de dezembro. O destino de O Original de Laura deveria ter sido o fogo mas, pasmem, será a Playboy. O público americano já viu melhores Lauras, certamente.

Laura: sacanagem post mortem com Nabô.

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El Teorema de Thales & Concierto Grosso alla Rustica & Payada de la vaca, dos Les Luthiers

Uma das muitas criações GENIAIS do Les Luthiers é o Teorema de Tales de Mileto, Op. 48, de Johann Sebastian Mastropiero. A ilustração visual realizada por dois fãs apenas valoriza a música dos cômicos argentinos.

A introdução, lida por Marcos Mundstock no disco original, é a seguinte:

Johann Sebastian Mastropiero dedicó su divertimento matemático, op. 48, el “Teorema de Thales”, a la condesa Shortshot, con quien viviera un apasionado romance varias veces, en una carta en la que le dice: “Condesa, nuestro amor se rige por el Teorema de Thales: cuando estamos horizontales y paralelos, las transversales de la pasión nos atraviesan y nuestros segmentos correspondientes resultan maravillosamente proporcionales”. El cuarteto vocal “Les frères luthiers” interpreta: “Teorema de Thales” op. 48, de Johann Sebastian Mastropiero. Son sus movimientos: Introducción, Enunciazione in tempo di menuetto, Hipotesis agitatta, Tesis, Desmostrazione, ma non troppo, Finale presto con tutti.

O irresistível Concierto Grosso alla Rustica, Op. 58, de Johann Sebastian Mastropiero, é a junção da “sofisticação musical barroca” e de um conjunto de música andina. Não há um mote ou piada claros. É apenas perfeito. ¡Bueno!

A engraçadíssima Payada de la Vaca é, como se pode imaginar, uma payada — trova “gaúcha” em formato de pergunta e resposta.

Para quem não conhece, o Les Luthiers existe há mais de 40 anos e interpreta apenas suas próprias composições. O compositor Johann Senastian Mastropiero é, obviamente, um personagem criado pelo grupo. Sua biografia é crescente.

As letras do Teorema e da Payada:

El Teorema De Thales

Si tres o más paralelas, si tres o más parale-le-le-las
Si tres o más paralelas, si tres o más parale-le-le-las
Son cortadas por dos transversales
Son cortadas por dos transversales
Si tres o más parale-le-le-las
Son cortadas, son cortadas
Dos segmentos de una de estas, dos segmentos cualesquiera
Dos segmentos de una de estas son proporcionales
a los dos segmentos correspondientes de la otra.

a paralela a b,
b paralela a c,
a paralela a b, paralela a c, paralela a d
OP es a PQ
MN es a NT
OP es a PQ como MN es a NT
a paralela a b,
b paralela a c
OP es a PQ como MN es a NT

La bisectriz yo trazaré y a cuatro planos intersectaré
Una igualdad yo encontraré: OP más PQ es igual a ST
Usaré la hipotenusa
Ay no te compliques, nadie la usa
Trazaré, pues, un cateto
Yo no me meto, yo no me meto.

Triángulo, tetrágono, pentágono, hexágono,
heptágono, octógono, son todos polígonos
Seno, coseno, tangente y secante,
y la cosecante, y la cotangente
Thales, Thales de Mileto
Thales, Thales de Mileto
Que es lo que queríamos demostrar.

Quesque loque loque queri queri amos
demos demos demostrar.

Payada de la vaca

Dígame usted compañero

Dígame usted compañero y conteste con prudencia
Cual es la mansa paciencia que puebla nuestras
praderas
Y en melancólica espera con amnegada paciencia
Nos da alimento y abrigo
Fingiendo indiferencia

VERSO 2

No me asusta el acertijo
No me asusta el acertijo y ya mi mente barrunta

Por donde viene la punta de la un la tan difícil
historia

La destreza y la memoria son buenas si van en yuntas
No se ofende si le digo me repite la pregunta

VERSO 1
Nómbreme uste el animal
Que no es toro ni cebú
Que pa ayudar la salud y pa que a usted la aproveche
Le da la carne y la leche en generosa actitud
Tiene cola y cuatro patas
Y cuando muje hace muuuuuu

VERSO 2
No me asusta el acertijo
No me asusta el acertijo porque a mi no me asusta el acertijo
LA VACA!

(Discusión)

VERSO 2
Ya le rimo la respuesta
Ya le rimo la respuesta que de la duda nos saca
El animal que usted dice tiene por nombre la vaca

VERSO 1
Me extraña mucho compadre
Me extraña mucho compadre que sea tan ignorante
Una payada brillante octo sílabos precisa
En el final finaliza y empieza por adelante
Debe tener 8 versos y ser de rima elegante

VERSO 2
No me asusta el acertijo
Le contesto en 8 versos asi su enojo se aplaca
El error que usted me achaca no es error ni es para tanto
En octosílabos canto con rima que se destaca
Con elegancia lo digo sin hacer tanta laraca
La vaca

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Porque hoje é sábado, atrizes do passado

As estrelas do passado tinham algo que…

… talvez falte a algumas atrizes de hoje.

Eram os filmes? Era a fotografia em preto e branco?

Era o modo de se movimentar? O de seduzir?

Era a pouca informação que tínhamos delas ou, dizendo de outro modo, a presença da privacidade?

Era a sensualidade elegantemente toldada pelo pudor?

Ou seria apenas e simplesmente aquilo que aponta Jack Nicholson aos 70 anos?

Sinto falta de classe. Ele pode ter razão, mas sua frase é de rigorosa deselegância.

É natural que um homem de 70 anos passe a admirar a educação, a forma de vestir,…

… a categoria, a postura, o assunto. Afinal, os anos passam injustamente para todos…

Nicholson tem mais razão ao chamar de cruel a sociedade onde um ator de mais de 60 anos…

… não pode mais fazer papéis com apelo sexual.

Acho importante informar a vocês que não sou Jack Nicholson e, mesmo eu, sim, euzinho, …

… após perder as esperanças numa sociedade sem classes …

… me conformo em viver numa sociedade destituída de classe.

Frase que engloba o que Nicholson disse, mas também outra esfera.

Maior ou menor. Mas, para variar, tergiverso.

SÃO TODAS LINDAS, NÃO?

À exceção de Greta Garbo (abaixo), me apaixonaria facilmente por qualquer uma delas.

Quem disse que os homens preferem as loiras? Penso que haja equilíbrio, não?

Não houve planejamento. Mas por que diabos a Vitti ficou tão bonita loira?

(Minha preferida? Ingrid Bergman, claro).

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Atendendo a um pedido, alguns improvisos irresponsáveis: definições pessoais de literatura

Literatura é tudo que pode ser lido como literatura. É aquilo que desperta a imaginação do leitor e lhe provoca emoções de índole estética, sentimental, matemática ou lógica. Ou a mera transmissão adequada de conhecimento já é? Há construções textuais absolutamente geniais fora do âmbito dos romances e da poesia. Freud, Marx, Darwin e Euclides da Cunha são tão literatura quanto Kafka, Faulkner, Guimarães Rosa e Carver, apesar de não serem tão ficcionais…

Um belo teorema, em sua elegância, precisão, concisão e amplitude, é literatura para o matemático que pode avaliá-lo esteticamente.

Literatura é a arte que usa a linguagem verbal — verbal?, e o matemático? — como suporte. E, para ser literatura, o livro ou a coisa tem que ser escrita com a intenção de provocar um efeito estético. Paulo Coelho provoca efeito estético ou é pura mistificação? Temo que sim, em algumas pessoas. E mistificação pode ser parte da literatura, sem dúvida. E os livros de vampiros? Eles não estão preocupados com nenhum refinamento de forma ou conteúdo. São literatura? E a Bíblia? Tem estilo, retórica, é ficção e reflete uma cultura. Deve ser literatura, claro.

Literatura é a arte que usa a palavra como matéria-prima. Melhor aqui pois consigo incluir a literatura oral (a primeira que tivemos). Também as artes plásticas, a música e até a dança podem participar da literatura no seu aspecto de transmissão. A literatura engloba tudo, de crônicas do dia-a-dia até a poesia mais diáfana, passando por obras de não-ficção cuja construção textual vai além da simples função informativa. A boa literatura é aquela que transmite adequadamente o que procura transmitir. O raso ou o profundo dependem do leitor.

A literatura é um meio de comunicação, podendo ser poética, ficcional (plurissignificativa, subjetiva, etc.), técnica, especializada…

A literatura, assim como o futebol e a música, é uma das representações do real. Talvez a maior delas. Não, a literatura fica atrás — bem atrás — da música.

E o que não é literatura? O que é mal escrito? E como sabemos que está mal escrito? Ora, quando o texto ou o poema ou “a coisa” não transmitem adequadamente o que procuram transmitir. A transmissão pode ser rarefeita, mas isto não significa que será menos densa. Ops, melhor parar!

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Bóris Casoy – terrorista de extrema direita em 1968

O Cloaca News volta a ESTARRECER O MUNDO. Sempre atrás dos coliformes fecais de nossa imprensa de esgoto, o Cloaca foi buscar uma reportagem da revista O Cruzeiro de 9 de novembro de 1968. A reportagem completa pode ser lida aqui. Deixo algumas imagens a seguir. Publicada dias antes do AI-5, tem como tema o CCC – Comando de Caça aos Comunistas.

Casoy entra na última página, a qual tem este título:

A gente examina e tem a surpresa:

Oh, mas temos de virar a página:

A data da publicação:

E, na primeira página da reportagem, o focinho de Casoy:

Mais uma vez parabéns ao Cloaca. Como ele mesmo me disse um dia pelo telefone, “esgoto é o nosso negócio”!

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Muito bem acompanhado (o Guto)

Já tinha até um post pronto, porém Nikelen Witter, mulher do Farinatti, um de nossos habituais comentaristas, veio ao blog e fez um daqueles comentários que merecem destaque. O assunto é o discurso de Pepe Mujica que publiquei neste post. Penso que seu texto descreva, de forma clara, emocionada e inconformista, este nosso cinismo infértil de cada dia e que assume normalmente a máscara da sofisticação. Como educadora, ela deve lidar com isso diariamente. Mas não pretendo me alongar na apresentação. A seguir o comentário:

Nikelen
on Jan 6th, 2010 at 12:50 pm

Oi Milton

Nunca comento aqui, mas o Guto (Farinatti para ti) sempre divide comigo os posts do teu blog (casamos em comunhão de sementes para pensar, ele me traz algumas, eu levo outras). Não preciso repetir o que teus comentadores disseram sobre o belíssimo discurso do presidente uruguaio. De mais a mais, acho que ele fala por si só. Talvez mais que isso.

As palavras de Mujica voam além das nossas programadas inteligências e falam ao nosso coração. Aquele que, jovem, aventureiro, sonhador, foi embalsamado junto com nossos trastes de saída da casa paterna e ficou naquela caixa, nunca aberta, esquecida num canto do armário das coisas as quais um dia pretendemos voltar, e nunca voltamos. Afinal, nós precisamos trabalhar, não é? E precisamos fazer as “nossas coisas” (tão “importantes”, elas, não?). Precisamos ler o último livro daquele autor que amamos, ver o novo filme de nosso cineasta favorito, precisamos amar os nossos amores e criar os nossos filhos. Nos intervalos, lembramos que sabemos pensar e criticamos. Sabemos colocar o dedo na ferida e dizer o que está errado. Somos capazes de apontar todos os problemas. Ora, no Brasil, todo mundo ou é técnico de futebol ou economista e “é a droga do governo que não faz nada diante desta situação!”.

Quem é da área educacional, como eu, deve ter ouvido à exaustão: precisamos formar o aluno crítico! Então, pegamos as criancinhas e lhes ensinamos como o mundo é ruim, como não se pode acreditar no que lhes é dito, como elas devem olhar tudo a sua volta (sem ter esperança) e criticar! Sim, nós temos o aluno/jovem crítico (nós já o somos tanto), e também: cético, cínico… que, depois de tudo, são outras palavras para dizer: descrente, sem curiosidade, sem sonhos, sem utopias, sem paixão.

Quando eu era menina, meu pai falava que um mundo melhor era possível, um mundo diferente, um mundo em que todos sabiam ler e escrever (e liam e escreviam!), onde o conhecimento (não no sentido de dados, mas de pensamento) era o mais importante, onde a inteligência cultivada tinha um valor acima do dinheiro no banco, onde todos comiam três refeições por dia e ninguém passava frio. Lembro que, na mesma época, minha irmã morria de medo de o mundo acabar com uma bomba atômica (ou no ano 2000), eu não… eu sonhava. Sonhava em construir esse mundo melhor, em viver nele, sonhava em criar coisas capazes de ajudar esse mundo a existir. Eu ficava curiosa em descobrir como as coisas funcionavam, pois entendendo, eu achava que seria mais fácil achar um lugar, no meu mundo, onde eu poderia trabalhar para construir o próximo. O mundo do futuro, dos meus sonhos, dos sonhos do meu pai. E, o mais engraçado, nunca achei que meu pai estivesse mentindo para mim ou algo assim, e, jamais duvidei, um único dia, de que o meu sonho seria a realidade do meu futuro.

Então, hoje, cá estou, cheia de diplomas e cercadas de jovens criados para serem críticos, mas não para criar. Criados para serem céticos e não para acreditar que seus sonhos são possíveis. Jovens que olham o mundo e a humanidade com um cinismo e uma antipatia que me assustam. Jovens para quem o dinheiro e o consumo são aquilo a que se resume a vida. Jovens que pensam em salvar o planeta, mas não acreditam na humanidade. Jovens que nem sabem o que palavras como inconformismo significam. Confundem-na o tempo todo com indignação. E, céus, quem não sabe? Indignação virou arroz com feijão, ou pior, virou apenas algo que dá e passa. Ninguém se perde por indignação. Quase ninguém mais sabe que para a indignação nos fazer levantar do sofá, é preciso que não nos conformemos em aceitar viver com ela.

O fato é que, na área educacional quase nunca ouço falar de curiosidade, de criatividade, de utopias. Estas não são palavras que apareçam nos manuais educacionais. E aí, de repente, é tão interessante perceber que o nosso “aluno crítico”, tão cuidadosamente formado, não sabe fazer perguntas. Ele critica, mas não possui a dúvida instigadora. Critica sem observar, sem comparar, sem contraste, sem relativismo. Critica como uma obrigação, sem ver, apenas porque essa é a “competência” e a “habilidade” que se costuma a exigir dele, e mais nada. Não há impulso para a ciência ou para a arte, não de forma massificada. Pelo contrário, quando alguém assim surge é um acaso, uma sorte, é o extra-ordinário. Inteligência não é pensar mais, nem melhor. Não é criar, nem se inconformar, muito menos acalentar sonhos de coisas que provavelmente não vão acontecer. Nas escolas públicas, aluno inteligente é o que consegue ficar na escola por mais tempo e sobreviver. Nas particulares, inteligente é o que consegue aprender mais rapidamente todas as funções do último equipamento de bolso criado pela Nokia ou pela Sony.

Às vezes, vejo a nós, professores, como o Dr. Frankenstein. Queremos dar vida à criatura, mas… Deus nos livre caso ela ande por suas próprias pernas, olhe por seus olhos, ou pense por sua própria cabeça.

E aí esse… esse maravilhoso veterano de um tempo em que o sonho era a maior matéria da realidade, vem com suas palavras cheias de paixão e sonho, e faz, de novo, o mundo de que meu pai falava, existir em algum lugar. Pode ser no Uruguai, num futuro mais distante que a minha existência, numa terra ainda não descoberta ou apenas nesse discurso. Mas só saber que em alguém, em algum lugar, esse desejo de criação, esse exercício de esperança ainda existe, já me faz menina de novo. E, me faz voltar a desejar – com uma força esquecida – um mundo assim para o meu filho viver. Como o meu pai, um dia, desejou para mim.

Valeu pela semente, Milton.
Um abraço.

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Plutão, o Planeta Rebaixado

Foi um momento triste. Em 2006, membros da UAI –a mineira União Astronômica Internacional — resolveram rebaixar Plutão à 2ª Divisão dos planetas. O problema que apresentava não era o de não ter massa, mas o de não ser o corpo celeste dominante de sua órbita. O Departamento Jurídico do Grêmio promete recorrer. Agora, só haverá três divisões: a dos planetas (8, de Mercúrio a Netuno), a dos planetas anões (objetos esféricos que não sejam dominantes em suas órbitas e nem satélites) e a dos corpos pequenos (quaisquer outros objeto que orbitem o Sol: coisas como eu, penso). Acho que a Lua, tal como eu e meu cão, também é um corpo pequeno, mesmo sendo maior que o planeta anão Plutão.

O rebaixamento é lamentado no mundo todo. Os astrólogos estão em suspenso, aguardando o resultado da tentativa do Grêmio; eles não sabem o que fazer com um planeta anão em suas previsões; grupos homossexuais acusam astrônomos de preconceito rasteiro; crianças preocupadas com o Sistema Solar estão deprimidas e têm de ser consoladas por seus pais e professores (cadê o Plutão, papai?); astrólogos mais histéricos estão ras-gan-do suas roupitchas; a Disney reclama que seu velho cão não pode sofrer abalos. O procurador-geral do STJD, Paulo Schmitt, fala em direito adquirido desde 1930.

Apenas os representantes do asteróide Ceres e do planetóide UB313 (“Xena”) ficaram felizes e comemoraram suas promoções à condição de planetas anões. Mike Brown, do Instituto de Tecnologia da Califórnia e descobridor do Xena (ou Sheena), está feliz por ter a companhia de Plutão, mesmo tendo perdido a honra de ter descoberto um planeta. “Teremos centenas de planetas anões”, disse.

Plutão ficou especialmente ofendido por não ser mais considerado um planeta clássico. Declarou que o simples fato de cruzar frequentemente com Netuno não lhe deveria tirar esta condição, adquirida em 1930. Como já dissemos, Paulo Schmitt recorrerá. Seus representantes ficaram putos por terem recebido o nome técnico de plutóide.

— Cruzamos sim, mas só com Netuno, não somos promíscuos a ponto de sermos qualificados de plutóides frente à comunidade científica internacional — disse o chefe dos Plutões, Duda Kroeff, assessorado por Andres Sanchez, do Corinthians.

Completou reclamando que a influência de George Bush (estávamos em 2006) e do governo americano está criando um vendaval conservador em nosso planeta e que isto está sendo exportado para o Sistema Solar. Obama prometeu apoio durante sua campanha, mas até agora não descruzou os braços. Por ora, Plutão está morto.

— Ao menos Obma poderia nos auxiliar em nossa cruzada para deixarmos de ser um plutóides e sim um digno planeta anão.

Aguardamos expectantes os próximos lances.

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Queremos um Uruguai cheio de engenheiros, filósofos e artistas

Quase todos nós somos céticos profissionais. Mas o discurso feito na semana passada pelo presidente eleito do Uruguai, José “Pepe” Mujica, a um grupo de intelectuais foi deveras espantoso. Ele fez um pedido: contagiem todo o povo uruguaio com o olhar curioso sobre o mundo — que está no DNA do trabalho intelectual — e com o inconformismo. Mujica propôs também uma revolução na educação. “Escolas de tempo completo, faculdades no interior, ensino superior massificado. E, provavelmente, inglês desde o pré-escolar no ensino público. Porque o inglês não é idioma falado pelos ianques; é o idioma com o qual os chineses conversam com o mundo. Não podemos ficar de fora”.

Retirado da Carta Capital.

Discurso proferido em dezembro de 2009 pelo presidente eleito da República do Uruguai, José Alberto Mujica Cordano (El Pepe), dirigente histórico e fundador do Movimento de Libertação Tupamaros:

A vida tem sido extraordinariamente generosa comigo. Ela me deu inúmeras satisfações, mais além do que jamais me atrevera a sonhar.

Quase todas são imerecidas. Mas nenhuma é mais que a de hoje: encontrar-me aqui agora, no coração da democracia uruguaia, rodeado de centenas de cabeças pensantes.

Cabeças pensantes! À direita e à esquerda. Cabeças pensantes a torto e a direito, cabeças pensantes para atirar para cima.

Vocês se lembram do Tio Patinhas, o tio milionário do Pato Donald que nadava em uma piscina cheia de moedas? Ele tinha uma sensualidade física pelo dinheiro.

Gosto de me ver como alguém que gosta de tomar banho em piscinas cheias de inteligência alheia, de cultura alheia, de sabedoria alheia.

Quanto mais alheia, melhor. Quanto menos coincide com meus pequenos saberes, melhor.

O semanário Búsqueda tem uma frase charmosa que usa como insígnia:

“O que digo, não o digo como homem sabedor, mas sim buscando junto com vocês”.

Por uma vez estamos de acordo. Sim, estaremos de acordo.

O que digo, não o digo como chacareiro sabichão, nem como trovador ilustrado. Digo-o buscando com vocês.

O digo, buscando, porque só os ignorantes acreditam que a verdade é definitiva e maciça, quando ela é apenas provisória e gelatinosa. É preciso buscá-la porque ela anda correndo brincando de esconde-esconde. E pobre daquele que empreenda essa caça sozinho. É preciso fazê-la com vocês, com aqueles que fizeram do trabalho intelectual a razão de sua vida. Com os que estão aqui e com os muito mais que não estão.

De todas as disciplinas
Se olharem para trás, seguramente encontrarão algumas caras conhecidas porque se trata de gente que trabalha em espaços de trabalho afins. Mas vão encontrar muito mais rostos desconhecidos porque a regra desta convocação foi a heterogeneidade.

Aqui estão os que se dedicam a trabalhar com átomos e moléculas e os que se dedicam a estudar as regras da produção e da troca na sociedade. Há gente das ciências básicas e de sua quase antípoda, as ciências sociais: gente da biologia e do teatro, da música, da educação, do direito e do carnaval. Há gente da economia, da macroeconomia, da microeconomia, da economia comparada e até alguns da economia doméstica. Todas cabeças pensantes, mas que pensam distintas coisas e podem contribuir desde suas distintas disciplinas para melhorar este país.

E melhorar este país significa muitas coisas, mas entre as prioridades que queremos para esta jornada, melhorar o país significa impulsionar os processos complexos que multipliquem por mil o poderio intelectual que aqui está reunido. Melhorar o país significa que, dentro de vinte anos, o Estádio Centenário não seja suficiente para abrigar um ato como este, pois o Uruguai estará cheio, até as orelhas, de engenheiros, filósofos e artistas.

Não é queiramos um país que bata os recordes mundiais pelo puro prazer de fazê-lo. É porque está demonstrado que, uma vez que a inteligência adquira um certo grau de concentração em uma sociedade, ela se torna contagiosa.

Inteligência distribuída
Se, um dia, lotarmos estádios de gente formada será porque, na sociedade, haverá centenas de milhares de uruguaios que cultivaram sua capacidade de pensar. A inteligência que traz riqueza para um país é a inteligência distribuída. É a que não está só guardada nos laboratórios ou na universidade, mas sim anda pela rua. A inteligência que se usa para plantar, para tornear, para manejar uma máquina, para programar um computador, para cozinhar, para atender bem um turista é a mesma inteligência. Alguns subiram mais degraus do que outros, mas se trata da mesma escada.

E os degraus de baixo são os mesmos para a física nuclear e para o manejo de um campo. Para tudo é preciso o mesmo olhar curioso, faminto de conhecimento e muito inconformista. Acabamos sabendo porque antes ficamos incomodados por não saber. Aprendemos porque temos comichão e isso se adquire por contágio cultural desde quando abrimos os olhos ao mundo.

Sonho com um país onde os pais mostrem a pastagem a seus filhos pequenos e digam: “Sabem o que é isso? É uma planta processadora da energia do sol e dos minerais da terra”. Ou que lhes mostrem o céu estrelado e façam com que pensem nos corpos celestes, na velocidade da luz e na transmissão das ondas. E não se preocupem que esses pequenos uruguaios vão seguir jogando futebol. Só que, lá pelas tantas, enquanto vêem a bola picar, podem pensar ao mesmo tempo na elasticidade dos materiais que a fazem rebotar.

Capacidade de interrogar-se
Havia um ditado: “Não dê peixe a uma criança, ensina-a a pescar”.

Hoje deveríamos dizer: “Não dê um dado a uma criança, ensina-a a pensar”.

Do jeito que vamos, os depósitos de conhecimento não vão estar mais situados dentro de nossas cabeças, mas sim fora, disponíveis para buscá-los na internet. Aí vai estar toda a informação, todos os dados, tudo o que se sabe. Em outras palavras, aí vão estar todas respostas. Mas não vão estar todas as perguntas. O diferencial vai estar na capacidade de se interrogar, na capacidade de formular perguntas fecundas, que provoquem novos esforços de investigação e aprendizagem.

E isso está bem no fundo, marcado quase no nosso de nossa cabeça, tão fundo que quase não temos consciência.

Simplesmente aprendemos a olhar o mundo com um sinal de interrogação e essa se torna nossa maneira natural de olhar para o mundo. Adquirimos essa capacidade muito cedo e ela nos acompanha por toda a vida. E, sobretudo, queridos amigos, ela contagia.

Em todos os tempos foram vocês, os que se dedicam à atividade intelectual, os encarregados de espalhar a semente. Ou para dize-lo em palavras que nos são muito caras: vocês têm sido os encarregados de acender a necessária inquietação.

Por favor, vão e contagiem. Não perdoem a ninguém.

Necessitamos de um tipo de cultura que se propague no ar, entre os lugares, que se cole nas cozinhas e até nos banheiros. Quando conseguirmos isso, teremos ganho a partida quase para sempre. Porque se quebra a ignorância essencial que enfraquece muita gente, uma geração após a outra.

O conhecimento é prazer
Precisamos, antes de mais nada, massificar a inteligência, para nos tornarmos produtores mais potentes. Isso é quase uma questão de sobrevivência. Mas nesta vida não se trata só de produzir: também é preciso desfrutar. Vocês sabem melhor do que ninguém que, no conhecimento e na cultura, não há só esforço, mas também prazer.

Dizem que as pessoas que correm pelas ruas chegam num ponto em que entram numa espécie de êxtase onde já não existe o cansaço e só fica o prazer. Creio que ocorre o mesmo com o conhecimento e a cultura. Chega um ponto onde estudar, investigar e aprender já não é um esforço, mas um puro deleite.

Que bom seria que esses manjares estivessem a disposição de muita gente! Que bom seria se, na cesta de qualidade de vida que o Uruguai pode oferecer a sua gente, houvesse uma boa quantidade de consumos intelectuais. Não porque seja elegante, mas sim porque é prazeroso. Porque se desfruta com a mesma intensidade com a qual se pode desfrutar de um prato de talharim.

Não há uma lista obrigatória das coisas que nos tornam felizes! Alguns podem pensar que o mundo ideal é um lugar repleto de shopping centers. Nesse mundo, as pessoas são felizes porque todos podem sair cheios de sacolas com roupas novas e caixas de eletrodomésticos. Não tenho nada contra essa visão, só digo que ela não é a única possível.

Digo que também podemos pensar em um país onde a gente escolhe arrumar as coisas ao invés de jogá-las fora, onde se prefere um carro pequeno a um grande, onde decidimos nos agasalhar melhor ao invés de aumentar a calefação.

Esbanjar não é o que fazem as sociedades mais maduras. Vejam a Holanda e as cidades repletas de bicicletas. Aí as pessoas se deram conta de que o consumismo não é a escolha da verdadeira aristocracia da humanidade. É a escolha dos farsantes e dos frívolos.

Os holandeses andam de bicicleta, eles as usam para ir trabalhar, mas também para ir a concertos ou aos parques. Chegaram a um nível em que sua felicidade cotidiana se alimenta de consumos materiais como intelectuais.

De modo que, amigos, vão e contagiem todos com o prazer pelo conhecimento. Paralelamente, minha modesta contribuição será fazer com que os uruguaios andem de pedalada em pedalada.

Inconformismo
Eu lhes pedi antes que contagiem os outros com o olhar curioso sobre o mundo, que está no DNA do trabalho intelectual. E agora aumento o pedido e lhes rogo que contagiem também com o inconformismo. Estou convencido que este país necessita uma nova epidemia de inconformismo, como a que os intelectuais geraram décadas atrás.

No Uruguai, nós que estamos no espaço político da esquerda somos filhos ou sobrinhos daquele semanário Marcha, do grande Carlos Quijano. Aquela geração de intelectuais impôs-se a si mesma a tarefa de ser a consciência crítica da nação. Andavam com alfinetes na mão, estourando balões e desinflando mitos.

Sobretudo o mito do Uruguai multicampeão. Campeão da cultura, da educação, do desenvolvimento social e da democracia. Acabamos não sendo campeões de nada. Menos ainda nestes anos, nas décadas de 50 e 60, onde o único recorde que obtivemos foi ser o país da América Latina que menos cresceu em 20 anos. Só o Haiti nos superou neste ranking.

Esses intelectuais ajudaram a demolir aquele Uruguai da siesta conformista.

Com todos seus defeitos, preferimos esta etapa, onde estamos mais humildes e situados na real estatura que temos no mundo. Mas precisamos recuperar aquele inconformismo e colocá-lo embaixo da pele do Uruguai inteiro.

Antes eu dizia a vocês que a inteligência que serve a um país é a inteligência distribuída. Agora, digo que o inconformismo que serve a um país é o inconformismo distribuído. Aquele que invade a vida de todos os dias e nos empurra a perguntar-nos se o que estamos fazendo não pode ser feito melhor. O inconformismo está na própria natureza do trabalho de vocês. Precisamos que ele se torne uma segunda natureza de todos nós.

Uma cultura do inconformismo é aquela que não nos deixa parar até que consigamos mais quilos por hectare de trigo ou mais litros por vaca leiteira. Tudo, absolutamente tudo, pode ser feito de um modo um pouco melhor do que foi feito ontem. Desde arrumar a cama de um hotel até produzir um circuito integrado.

Necessitamos de uma epidemia de inconformismo. E isso também é cultural, também se irradia desde o centro intelectual da sociedade para sua periferia. É o inconformismo que fez com que pequenas sociedades ganhassem respeito sobre o que fazem. Aí estão os suíços, meia dúzia de gatos pintados como nós, que se dão o luxo de andar por aí vendendo qualidade suíça ou precisão suíça. Eu diria que o que vendem de verdade é inteligência e inconformismo suíços, que estão esparramados por toda a sociedade.

A educação é o caminho
Amigos, a ponte entre este hoje e este amanhã que queremos tem um nome e se chama educação. É uma ponte longa e difícil de cruzar. Porque uma coisa é a retórica da educação e outra coisa é nos decidirmos a fazer os sacrifícios necessários para lançar um grande esforço educativo e sustentá-lo no tempo. Os investimentos em educação são de rendimento lento, não iluminam nenhum governo, mobilizam resistências e obrigam o adiamento de outras demandas.

Mas é preciso seguir esse caminho. Devemos isso a nossos filhos e netos. E é preciso fazê-lo agora, quando ainda está fresco o milagre tecnológico da internet e se abrem oportunidades nunca antes vistas de acesso ao conhecimento.

Eu me criei com o rádio, vi nascer a televisão, depois a televisão a cores, depois as transmissões por satélite. Mais tarde, passaram a aparecer quarenta canais em minha TV, incluindo aí os que transmitiam direto dos Estados Unidos, Espanha e Itália. Depois vieram os celulares e os computadores que, no início, serviam apenas para processar números. Em cada um destes momentos, fiquei com a boca aberta. Mas agora com a internet se esgotou a minha capacidade de surpresa. Sinto-me como aqueles humanos que viram uma roda pela primeira vez. Ou que viram o fogo pela primeira vez.

Sentimos que nos tocou a sorte de viver um marco na história. Estão sendo abertas as portas de todas as bibliotecas e de todos os museus. Todas as revistas científicas e todos os livros do mundo vão estar a nossa disposição. E, provavelmente, todos os filmes e todas as músicas do mundo. É perturbador.

Por isso precisamos que todos os uruguaios e, sobretudo, todos os pequenos uruguaios saibam nadar nessa corrente. Precisamos subir essa corrente e navegar nela como um peixe na água. Conseguiremos isso se a matriz intelectual da qual falávamos antes estiver sólida. Se soubermos raciocinar em ordem e fazermos as perguntas que valem a pena.

É como uma corrida em duas vias: lá em cima no mundo o oceano de informação; aqui embaixo, nós, preparando-nos para a navegação transatlântica.

Escolas de tempo completo, faculdades no interior, ensino superior massificado. E, provavelmente, inglês desde o pré-escolar no ensino público. Porque o inglês não é idioma falado pelos ianques; é o idioma com o qual os chineses conversam com o mundo. Não podemos ficar de fora. Não podemos deixar nossas crianças de fora.

Essas são as ferramentas que nos habilitam a interagir com a explosão universal do conhecimento. Este mundo não simplifica a nossa vida: complica-a. Nos obriga a ir mais longe, a ir mais fundo na educação. Não há tarefa maior diante de nós.

O idealismo ao serviço do Estado
Queridos amigos, estamos em tempos eleitorais. Em benditos e malditos tempos eleitorais. Malditos, porque nos põe a brigar e a disputar corridas entre nós. Benditos, porque nos permitem a convivência civilizada. E mais uma vez benditos porque, com todas as suas imperfeições, nos fazem donos do nosso próprio destino. Aqui todos aprendemos que é preferível a pior democracia à melhor ditadura.

Nos tempos eleitorais, todos nos organizamos em grupos, frações e partidos, nos cercamos de técnicos e profissionais e desfilamos frente ao soberano. Há adrenalina e entusiasmo. Mas depois, alguém ganha e alguém perde. E isso não deveria ser um drama.

Com estes ou com aqueles, a democracia uruguaia seguirá seu caminho e irá encontrando as fórmulas rumo ao bem-estar. Seja qual for o lugar que nos toque, ali estaremos colocando a tarefa sobre os ombros. E estou seguro de que vocês também. A sociedade, o Estado e o Governo precisam de seus muitos talentos. E precisam mais ainda de sua atitude idealista. Nós que estamos aqui, entramos na política para servir, não para nos servir do Estado. A boa fé é a nossa única intransigência. Quase todo o resto é negociável. Muito obrigado por acompanharem-me.

Pepe Mujica

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Minhas Lígias

Eu nunca sonhei com você
Nunca fui ao cinema
Não gosto de samba
Não vou a Ipanema
Não gosto de chuva
Nem gosto de sol

LÍGIA, Tom Jobim

Minhas lígias têm pouco da musa de Tom Jobim. Nenhuma delas dá aula para minha filha — bem, uma delas É minha filha e a outra muitas vezes ensina alguma coisa à primeira — mas o que as tornam lígias são suas posturas na praia. Sim, passamos o fim-de-semana na casa de minha irmã, em Xangri-lá. Estava tudo ótimo: havia sol, calor, boas acomodações, bons amigos, cozinha extraordinária, vento aceitável e a casa de minha irmã e de seu marido é excelente. Eu e a primeira lígia tínhamos uma suíte! Só que minhas lígias… Bem, a mais morena delas ficou meia hora deitada no sol, ao lado da casa, e retornou de sua aventura com queimaduras apavorantes. Impossível tocá-la depois daquilo. A loira só aceitou viajar à praia sob a condição de acordar quando bem entendesse e de que não fosse forçada a ir àquele lugar terrível, o mar. Não obstante minhas peculiares lígias, estava muito bom.

Nós enquanto praia. A primeira acorda às seis da manhã e vai ler em algum lugar, normalmente sobre o gramado que circunda a casa; a segunda acorda às 12h30. Eu acordo às 9h30 e ouço a conversa da primeira com minha irmã. Elas me oferecem café. Fico sabendo que meu cunhado já saiu para correr e vou dar uma olhada na segunda lígia; ela dorme numa posição verdadeiramente estranha — as pernas estão na posição de quem corre, mas, curiosamente, está deitada de costas. O torso dorme serenamente voltado para o teto, as pernas fogem para algum lugar. É como se ele fosse uma figura egípcia da cintura para baixo. Os braços estão erguidos, os punhos acima da cabeça, como se comemorasse um gol. Os cabelos loiros cacheados do papai estão em todo lugar. Apesar da posição bastante original, faz uma bela figura. Devia fotografar, mas cadê a máquina?

Ninguém sai de casa. O cunhado volta e começa a trabalhar. É um médico de multitalentos. Explicando melhor, é um médico que poderia ter abraçado qualquer — ou todas — as profissões. Então, nas horas vagas, é pedreiro, carpinteiro, eletricista, pintor e jardineiro. Passará o dia inteiro trabalhando em sua casa absoluta e cada vez mais pronta. Parece feliz e não se importar muito com nosso sedentarismo. Gasto uma hora decidindo se corro ou leio. Corri um dia, li nos outros. Minha irmã não gosta de praia, mas gosta de sol e vai assar um pouco. Pontualmente às 12h30, a segunda lígia aparece em versão não egípcia, toma café e se atira sobre As Virgens Suicidas, de Jeffrey Eugenides. Não é o momento de entabular conversações com ela. Está mal-humorada, há que esperar meia hora para ficar pronta. O que vamos comer? A primeira lígia resolve isto com a minha irmã, isto se o cunhado não resolver pôr a churrasqueira em funcionamento. Surge uma batida de cachaça com abacaxi, feita pela primeira. Eu, o cunhado e sua mulher bebemos bastante. As lígias não gostam de nada, nem de beber.

O almoço é arrasador e a tarde é passada tranquilamente. Eu ligo o notebook e o deixo nuns mp3. Corrijo uns arquivos e depois durmo um pouco. As lígias leem ou veem TV ou jogam cartas. Vão a uma videolocadora e pedem o DVD de As Virgens Suicidas. A atendente só fica olhando, duvidando das duas. Será que é um erótico? Chega a hora em que gosto de ir à praia, 17h30. Me animo e faço convites. A adesão é mínima. Uma preenche palavras cruzadas, a outra revira os olhos só de pensar na possibilidade de areia e mar. Me pergunta se há cavalos por lá. Vou caminhar um pouco. O que vamos comer?

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Feliz 2010 / Novo Recesso

Então, em vez de pedir pelo paraíso ou gratuitamente pelo milagre da felicidade, que tal aproveitar a virada para pensar eticamente em como fazer as probabilidades moverem-se positivamente em nossa direção, na dos que amamos e, por que não exagerar, na da humanidade? Sim, é bom forçar alguns limites, desde que não sejamos obrigados a abrir mão daquilo que mais nos vale. É possível felicidade maior? Não creio.

Lembrem especialmente que, como disse C. J. Keyser, citado por nosso Magister Ludi, “A certeza absoluta é privilégio de mentes não educadas e de fanáticos” ou como minha irmã, mais sucinta, me ensinou: “Só a ignorância não gera dúvidas”.

Eu simpatizo com alguns rituais. Gosto especialmente da simbologia de renovação e recomeço que há na comemoração do Novo Ano. Por isso desejo que, apesar do calor, degustem com leveza esta época e consigam armazenar energia para manter um ritmo bom até o próximo momento de refletir um pouco — e que não precisa esperar 12 meses.

E que o resultado seja um 2010 endinheirado, saudável, amoroso, cheio de música e literatura para todos nós!

-=-=-=-=-=-

O blog entra novamente em recesso até o próximo dia 4 ou 5.

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Roman Polanski

Gostaria que todos soubessem como é encorajador, quando se está trancado em uma cela, ouvir este murmúrio de vozes humanas e solidariedade no correio matinal.

OK, pedofilia é assunto inegociável, mas, não adianta, sinto a maior solidariedade pelo grande artista Roman Polanski, 76, há meses numa cela, hoje em prisão domiciliar, pelo fato de ter mantido relações sexuais com uma menina de 13 anos em 1977. Sim, em 1977! Há 32 anos, quase 33.

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A provável extinção da TVE e da FM Cultura

Olha, eu não vejo televisão. Para mim, a TV existe para as notícias e o futebol. Como as notícias vêm com o filtro das grandes corporações, fico mesmo é com o futebol. Então, não pensem que conheço a programação da TVE. Nunca conheci. Mas sei de alguns fatos: a TVE tinha uma programação que vinha de três fontes: a TV Cultura de São Paulo, TV Educativa do Rio de Janeiro e havia a programação local. O espaço era dividido por 3, de forma mais ou menos igual. Só que, em 2 de dezembro de 2007, a Educativa do Rio foi extinta para dar no lugar à TV Brasil, canal de televisão pública do governo federal, fundada no dia em que começaram as transmissões de sinal de TV Digital em território brasileiro. A programação da TV Brasil parece ser boa. Aí é que Ela entra na história. Identificando a TV Brasil como a TV do Lula, a Inepta resolveu cortar a programação vinda do Rio, ficando só com a sua e a da TV do Serra (TV Cultura de São Paulo). Nunca antes um governador achara que as TVs públicas do Brasil tinham uma programação tão partidarizada a ponto de impedir as emissões vermelhas de um ou as azuis de outro, mesmo em programas sobre arte ou gastronomia. O estranho é uma governadora que já conta com todas as emissoras comerciais — todas notoriamente pró-Ela e anti-PT — , especialmente a maior delas, parece desprezar tamanho favor, investindo seu tempo em impedir a chegada ao estado de perigosos programas lulistas à sua TV de baixa audiência… Ou quem sabe quer vender alguma coisa à principal patrocinadora?

Bem, então chegou o impasse. A TVE gaúcha e a FM Cultura estão num prédio do INSS. O contrato chegará ao seu final em março e a desgovernadora teria que manifestar sua intenção de compra até meados deste mês. O governo do RS tem mais de 1500 prédios ociosos, que poderiam ter sido oferecidos para permuta. Apesar de ter a preferência na compra, o governo gaúcho não quis adquirir o imóvel… A compra seria um ótimo negócio, o preço era uma bagatela. Porém a Néscia deixou a data expirar. Não comprou o prédio. Nem vai mais. De forma mui lépida e inteligente, a TV Brasil, a do Lula, esperou que o prazo da Trouxa passasse, foi lá no INSS e arrematou o imóvel. Imaginem só: um prédio prontinho, histórico (era o ex-estúdio da TV Piratini da rede de Chatô, encampado pelo INSS quando da falência), com estúdios, antena, estrutura, fiação, vista para o lago Guaíba, tudo lindo e pronto, como não interessaria? Só não interessa à Tola.

Nesse embate, quem se rala é a TVE e a FM Cultura. Agora, a Parva arranjou um lugar para as emissoras: um andar inteiro do Centro Administrativo, um garajão no térreo, hoje cheio de entulho. Detalhe: a TVE tem que se mudar para lá em março. A Tonta chamou a transferência de local de Revitalização. Na boa, eu fico imaginando o ânimo dos funcionários da empresa com a Revitalização que a Palerma pretende. O jornalismo da TV não informa absolutamente nada sobre seu futuro. É a chapa branca elevada a níveis paroxísticos: prefere não olhar para a injeção letal que se aproxima. O presidente do Conselho Deliberativo das Emissoras percebe manobras do Desgoverno para acabar com as emissoras. Ah, é mesmo? Como ele descobriu?

Falta nos fará a FM Cultura, 107,7. O melhor da música brasileira toca ali. Um dia, Mônica Salmaso falou comigo em Parati e disse, encantada:

— Lá vocês têm aquela rádio. A melhor do país.

Ali, pode-se ouvir o melhor mesmo. É a única FM onde se pode ouvir Hermeto, Guinga, Edu Lobo, os grupos instrumentais só ouvidos no exterior, toda a discografia da Biscoito Fino, etc. E há um glorioso programa diário de jazz, o “Sessão Jazz“, apresentado há 11 anos pelo apaixonadíssimo Paulo Moreira. São duas horas por dia na companhia de um baita conhecedor. É algo finíssimo, um luxo que a Ignara não deseja ter. É notável: Serra e FHC demitiram John Neschling lá, o Yedão trata de imitá-los envenenando a cultura daqui com uma desLeal secretária, com uma Sinfônica sem sede e agora… Caramba, que coincidência!

Links importantes:
Blog dos funcionários da TVE e da FM Cultura e
Abaixo-assinado conta a extinção da TVE / FM Cultura

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A dona do Clarín adotou seus dois filhos em maio e julho de 1976, só que…

… a fundadora do movimento Avós da Praça de Maio, Chicha Mariani, suspeita que Marcela Noble, filha de Ernestina Herrera de Noble, dona do grupo Clarín, seja sua neta Clara Anahí, cujos pais foram sequestrados por militares em sua casa, em novembro de 1976. A Câmara Federal de San Martín determinou a realização imediata de exames de DNA.

De acordo com o registro da adoção, de 13 de maio de 1976, a viúva de Roberto Noble compareceu perante a juíza Ofelia Hejt com uma bebê a qual chamou Marcela. Ela disse que a tinha encontrado onze dias antes em uma caixa abandonada na porta de sua casa. Ofereceu como testemunhas um vizinho e o zelador da casa ao lado. Em 2001, o suposto zelador Roberto Antonio García disse ao juiz Roberto Marquevich que nunca trabalhou como zelador em sua vida. Seu trabalho durante quarenta anos, foi como um motorista de Noble e da viúva. García acrescentou que Noble nunca morou na casa que onde foi encontrada a criança, fato confirmado por registros oficiais. Alías, nem o alegado vizinho, ja falecido, morou lá.

A adoção do outro filho, Felipe, também é suspeita. Seus registros de adoção dizem que sua mãe, Carmen Luisa Delta, colocou-o à disposição da mesma juíza Hejt em 7 de julho de 1976. No mesmo dia, sem maiores considerações e sem determinar as circunstâncias do nascimento, a juiza concedeu a adoção. Hoje, sabe-se que Carmen Luisa Delta nunca existiu.

Aqui, o imbroglio completo no Pagina 12. Na Argentina, as coisas são investigadas, as pessoas são punidas. É uma gente curiosa, né?

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Relendo Michael Kohlhaas, tendo pequenas surpresas

Por achá-lo parecido com Desonra, comecei a reler ontem a grande novela de Heinrich von Kleist (1777–1811), A Vingança de Michael Kohlhaas. A forma com que os dois caminham inexoravelmente para a desgraça, conscientes mas irredutíveis, é muito semelhante. A diferença principal é a raiva. Michael Kohlhaas tem ódio.

E, prova de que os livros dialogam entre si, começo a encontrar casualmente, aqui e ali, novo temas. Imaginem que Kafka fez apenas duas leituras públicas — evento comum na Alemanha até hoje. Uma delas foi dedicada a ler passagens de Michael Kohlhaas. Kafka disse que “não poderia sequer pensar” neste trabalho, sem ser levado às lágrimas e ao maior entusiasmo. E, ao que parece, o romance Ragtime, que não li, de E. L. Doctorow, utiliza elementos do enredo. Doctorow declarou que seu livro é uma deliberada homenagem à história de Kleist.

Será que é fácil de achar? Meu livro é da Editora Três (uma coleção de 1974) e os direitos de tradução são da Melhoramentos. Coisa muito antiga.

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Apartheit Israelense | Palestino – A Nova Muralha de Israel

A diferença entre o nazismo e o sionismo é… quase imperceptível.

Talvez o último seja uma atualização do primeiro, desta vez

acompanhada de apoio internacional, o que o torna mais durável e eficaz.

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Desonra, de J. M. Coetzee

Nunca tinha lido nada de J. M. Coetzee, autor sul-africano vencedor do Nobel de 2003. Desonra é de 1999. Ficou pronto, portanto, nove anos após o fim do apartheit e cinco depois das primeiras eleições livres da África do Sul. Tal cronologia é importante, pois Desonra é um relato seco e brutal onde o racismo, a “necessidade” do cumprimento do politicamente correto e a luta pela terra estão presentes.

David Lurie é um professor universitário que leciona poesia numa Universidade da Cidade do Cabo. Tem uma vida desinteressante (até para o próprio) e bem organizada, a qual inclui uma prostituta às quintas-feiras. Depois de um encontro casual num supermercado com esta mulher — outro encontro casual num supermercado ocorrerá nas páginas finais do romance com outro gênero de prostituta –, Lurie começará a ver seu mundo desmoronar. Primeiro, tem um caso com uma aluna. O julgamento da Universidade é absolutamente inacreditável, mas digamos que Lurie não a auxilia em nada. Como um Michael Kohlhaas moderno, o professor resolve entrar no mundo da desgraça de forma reta e vencedora… Depois da exoneração, Lurie vai passar um tempo com sua filha Lucy numa fazenda do interior. Lá, mais eventos ocorrem: pai e filha são atacados por uma gangue de três negros e Lucy é sexualmente agredida num estupro múltiplo que resulta em gravidez. Por um lado, a filha do professor parece aceitar a ocorrência. Seria uma espécie de revanche dos negros, ultrapassaria as meras dimensões individuais. Durante o ataque, Coetzee, que se limita a narrar os fatos concisamente, “larga” — o verbo melhor talvez seja mesmo este — uma frase-tese inteiramente estranha à linguagem utilizada pelo romance: Ele fala italiano, fala francês, mas italiano e francês de nada valem na África negra. Está desamparado, um alvo fácil… Obviamente, Coetzee não é trouxa. A frase não está ali por acaso. Com ela, ele pretende demonstrar ela a inadaptação da velha moral e da velha cultura aos novos tempos violentos.

A prosa seca de Coetzee não é das mais agradáveis, mas é eficiente para contar uma história onde o engenho está em significar muito: há a inutilidade cultural daquilo que Lurie faz e diz — o que dizer da ópera que nunca será ouvida e que parece ter sido composta para um cão que será sacrificado? –, há as desonras — a da aluna, a do professor acusado por assédio, a da filha, a do pai, a dos agressores, a dos que tomam a terra, a dos que aceitam como verdade o politicamente correto… enfim, a desonra completa da sociedade — e há o principal: a falta de vontade de comunicação. Quando terminei de ler o romance, a impressão que tive foi a de ter lido uma série de diálogos e pensamentos de personagens que não encontram ouvintes ou repercussões em outros. Não há nenhum empenho de compreensão, nem residual.

Talvez nós, brasileiros, estejamos acostumados a isto e não nos choquemos tanto com este tipo de histórias e mesmo em histórias de cunho menos social, a incompreensão já foi diversas vezes palmilhada: a incomunicabilidade de Antonioni, a de Pamuk, McEwan ou Rushdie, para dar exemplos próximo de mim, mas nunca a tinha visto toldada de tal desilusão e impotência. O livro é bom? Sim, é ótimo. Tem de ser lido? Sem dúvida! Mas lhe falta alguma coisa.

A sucessão de tragédias é tão rápida e espetacular, os acontecimentos se precipitam de forma tão contundente, o romance é tão curto, que a estrutura da história fica por demais aparente. A partir da metade do livro, ficamos aguardando o que mais de ruim Coetzee nos trará. Eu não peço uma redenção final, nem maior suavidade, apenas acho que a máquina de geração de desgraças de Coetzee funcionou com tamanha rapidez que deu ao romance um excesso de situações limite em curto espaço de tempo. Ora, isto não apenas lhe retira verossimilhança como lhe dá um aspecto esquemático. Como disse acima, sigo gostando e indicando Desonra, mas acho que Coetzee criou material e situações para algo ainda melhor.

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Levando duas paixões no peito

Homenagem que o Eduardo Lunardelli, do Varal de Ideias, me faz em seu blog de política + piadas + peladas, o Drops Azul Aniss.

Gostei!

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Recesso

O blog passará o final de semana em viagem e retomará sua programação habitual na próxima segunda-feira ou terça-feira.

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Abaixo o Natal!!!

O Natal devia ser como a Copa do Mundo, de quatro em quatro anos. O que há de bom nestes dias? Estar com a família? Sou alguém bastante sociável, gosto de minha familia e já os vejo frequentemente. Então, prefiro estar com eles sem as besteiras mesquinhas e os milagres da época. Mais do que o primado do consumo, detesto as promoções de bons sentimentos, a hipocrisia, a religião, a obrigação de felicidade. Pior, hoje serão servidas iguarias irresistíveis, vai se comer muito e não quero engordar. Por mim, dormia cedo. E amanhã todos voltarão porque haverá comida demais…

É uma festa legal quando temos crianças pequenas, mas agora, qual é o sentido? Há a necessidade de estarmos alegres após passar o dia arrumando a casa e lembrando de detalhes… Pois é, já viram, vai ser aqui em casa. Se a gente fica sério, as pessoas se preocupam. Então, o negócio é beber. Haja saco. Ainda bem que chove. Podia vir uma tempestade e faltar luz no meio da festa! Seria uma novidade!

Festa por festa prefiro a virada do ano. Ao menos é sem presentes e com menos religião. E, associada à data, há uma simbologia de renovação, de planos e mudanças quase sempre falsas, mas ao menos pensadas. Já o Natal… é pura merda. Na minha infância, era comemorado na manhã do dia 25. A gente acordava e havia presentes sob a árvore. Fim. Hoje é um happening, vão tomar no cu.

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Um homem deve saber a hora de trocar seu e-mail ou Recebendo mensagens da estrela spammer Onyx

Meu amigo Fernando Guimarães, coloradíssimo, recebeu este e-mail deste célebre deputado do DEM/RS:

Sua resposta, 3 minutos depois, foi uma perfeição:

—– Mensagem encaminhada —-
De: Guimaraes Fernando
Para: Onyx Lorenzoni
Enviadas: Segunda-feira, 21 de Dezembro de 2009 10:47:52
Assunto: Res: Feliz Natal Colorado

Não esqueça do meu Panetone !

Fernando Guimarães

Algo vindo do Onyx… Olha, nem embalado à vácuo, sem contato manual.

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