Chope e livros e riscos descontrolados

Após a entrevista que fiz com Ernani Ssó sobre sua tradução do Quixote, realizada sob os chopes do aprazibilíssimo Tuim, pegamos a mania de nos encontrarmos no mesmo local para falar de literatura e qualquer coisa. Não precisamos mais de pretextos, porém desta vez ele me pediu que, amanhã, eu levasse comigo meu exemplar de O mestre e Margarida, para lhe emprestar. Não há problema, costumo emprestar livros. Ou melhor, há um problema sim. É que, cada vez mais, faço anotações a caneta nos livros e não gosto que os outros as leiam, por serem feitas ao ritmo de meus imbecis pensamentos pessoais durante a leitura.

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Jorge Amado: os 100 anos do mais popular ficcionista brasileiro

Publicado em 11 de agosto de 2012 no Sul21

“Trabalho sempre, quando escrevo e quando não escrevo. Creio que o trabalho do escritor se processa mais fundo e denso enquanto ele está aparentemente ocioso. Quando amadurece o que escreverá depois. Acordo todos os dias entre 5 e 6 da manhã. E trabalho”. | Foto: Fundação Jorge Amado

Faz tempo que Jorge Amado (1912-2001) foi praticamente abandonado pela academia, que parece considerá-lo um escritor inferior, popularesco, regional ou meramente folclórico. Nos últimos anos, porém, houve algum movimento no sentido de recuperar a obra do escritor baiano. A Flip homenageou-o em 2006 e, em 2012 —  ano dedicado à Drummond — , ocorreram eventos oficiais e paralelos onde se discutiu a obra do baiano. Por outro lado, nesta sexta-feira, dia 10 de agosto, quando Jorge Amado completou 100 anos de nascimento, a academia foi acompanhada pelos principais jornais brasileiros, que publicaram poucos e tímidos artigos, ao menos no papel.

O deputado constituinte Jorga Amado | Foto: Fundação Jorge Amado

Jorge Amado foi o mais popular dos escritores brasileiros, sendo também o mais conhecido e lido no exterior em sua época. Hoje, este posto é ocupado por Paulo Coelho, mas ainda seria de Jorge Amado se nos limitássemos à literatura de ficção. Em sua época, Amado dividiu o posto de “escritor mais lido do Brasil” com Erico Verissimo (1905-1975). Eram outros tempos, tempos em que o escritor era ouvido sobre os mais diversos assuntos e ocupava uma posição de consciência ética do país. Houve um processo silencioso em todos estes anos: a importância do escritor dentro da sociedade foi levada para uma posição secundária, ele foi deslocado pouco a pouco para a periferia. Amado e Erico participaram ou opinaram sobre todos os assuntos fundamentais da vida nacional. Ambos testemunharam e participaram dos principais fatos de suas épocas. Se Erico falou e escreveu muito contra a ditadura militar (1964-1985), Amado foi deputado constituinte em 1945 pelo PCB e, em função de suas atividades extraliterárias, viveu exilado na Argentina e no Uruguai (1941 a 1942), em Paris (1948 a 1950) e em Praga (1951 a 1952). É difícil imaginar algum ficcionista ou autor de auto-ajuda brasileiro indo para o exílio, na hipótese demencial da implantação de uma ditadura militar hoje no país.

Com a atriz Sônia Braga, que personificou Gabriela e Dona Flor | Foto: Fundação Jorge Amado

Após o período como deputado, Jorge Amado viveu exclusivamente dos direitos autorais de seus livros. Aliás, mesmo durante o período como deputado, ele doava 80% de seu salário para o Partidão.

Sua obra transcendeu os limites do regionalismo modernista a que foi ligada num primeiro momento. Como escritor, pode-se dizer que houve dois Amados: a separação entre ambos seria Gabriela Cravo e Canela (1958). O primeiro Amado dedicava-se mais aos romances de costumes e à  crítica social e o segundo dava mais atenção ao humor popular, ao sincretismo religioso e à sensualidade. Tal fronteira não é rígida, mas não deixa de ser verdadeira. Em comum entre as fases está um narrador envolvente e extremamente hábil ao construir personagens e tramas. E também o fato de as duas fases apresentarem grandes romances.

A fase pré-1958, por exemplo, tem romances como o excelente Capitães da Areia (1937). Dentro de uma divertida trama baseada na vida de menores abandonados de Salvador, o romance expõe as diferenças de classe, a concentração de renda e os efeitos da marginalidade nos jovens. E pasmem, o romance, hoje lido sem maiores sustos, teve mil exemplares queimados em praça pública pelo governo da Bahia sob a acusação de ser uma obra “comunista” e “nociva à sociedade”. O livro também teve cópias apreendidas em outros estados. Outro imenso romance da primeira fase foi Terras do sem-fim (1943) que conta uma história sobre fazendeiros-coronéis, jagunços e sobre lutas pela posse de terras para desmatar e plantar cacau.

O PCB reúne-se: Amado com Pablo Neruda e Luís Carlos Prestes | Foto: Fundação Jorge Amado

Nestes livros, há a revelação de uma sociedade injusta, baseada na lei do mais rico ou armado, nas mentiras sociais e na hipocrisia geral. Pensando que foram escritos num período nada democrático, às portas do Estado Novo, Jorge Amado demonstra coragem ao criar personagens tão verossímeis, violentos e dispostos ao diálogo quanto quaisquer ditadores.

Em 1951, Amado escreveu O Mundo da Paz. É um livro de viagens que depois foi  renegado pelo autor. É compreensível; afinal, há trechos como aquele onde ele afirma que Stálin é “mestre, guia e pai, o maior cientista do mundo de hoje, o maior estadista, o maior general, aquilo que de melhor a humanidade produziu”. Em entrevista para Geneton Moraes Neto, nos anos 90, durante o colapso do comunismo nos países do leste europeu, Amado confessou: “Eu me desorientei – e muito – quando descobri que Stálin não era o pai dos povos, ao contrário do que sempre pensei. Aquele foi um processo doloroso, difícil, cruel e demorado. A maioria das causas dos acontecimentos atuais talvez já fossem claras para mim. Mas os acontecimentos são de uma rapidez imensa”.

Com o filósofo Jean-Paul Sartre e um cacau | Foto: Fundação Jorge Amado

Os livros da primeira fase, assim como os da segunda, são romances de estruturas semelhantes e para serem lidos com disposição pantagruélica: engole-se com o maior dos interesses a história contada e esquece-se dos expedientes de linguagem. Funcionam muito bem desta forma. Em Jorge Amado, a forma contribui para contar a história da forma mais eficiente possível e, de resto, esconde-se.

A fase pós-1958 marca seus maiores sucessos: o citado Gabriela, cravo e canela, Dona Flor e seus dois maridos (1966), Teresa Batista cansada de guerra (1972), Tieta do Agreste (1977) e Tocaia Grande (1984). A popularidade do escritor pode ser medida pelo simples fato de todos os livros citados neste parágrafo terem se tornado novelas de TV, seja na Rede Globo ou na extinta TV Manchete. Há também os filmes. Basta dizer que Dona Flor e seus dois maridos foi por 34 anos o recordista de público no cinema brasileiro: foram 10 milhões de espectadores, até ser ultrapassado por Tropa de Elite 2 em 2010.

Um livro especialmente interessante são suas memórias em Navegação de cabotagem (1992). No texto são desfiados diversos casos e fatos, narrados com delicioso humor e fora de ordem cronológica. Fica a comprovação de que Jorge Amado testemunhou grandes acontecimentos do século XX e que, em sua trajetória pessoal, desempenhou um papel central na cultura brasileira. Por outro lado, é o mais despretensioso dos livros de memórias, abrangendo desorganizadamente o longo período entre meados da década de 20, do qual Jorge Amado recorda o ciclo do cacau e o movimento da Academia dos Rebeldes (grupo literário do qual fez parte na juventude), e o começo dos anos 90.

Na leitura dos livros de Jorge Amado, sempre é bom manter a disciplina da leitura. As primeiras páginas são dedicadas a uma balzaquiana apresentação de personagens e da trama. Após este obstáculo, a leitura envolve e emociona. Quando perguntado sobre como gostaria de ser lembrado, Jorge Amado respondia:  “Como um baiano romântico e sensual. Eu me pareço com meus personagens — às vezes, também com as mulheres”. Amado costumava fazer pouco de sua importância. Em 1991, disse: “Quando eu morrer, vou passar uns vinte anos esquecido”.

O velhos comunistas Amado e Saramago | Foto: Fundação Jorge Amado

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“Vou passar uns vinte anos esquecido” | Foto: Fundação Jorge Amado

Bibliografia completa:

— O País do Carnaval, romance (1930)
— Cacau, romance (1933)
— Suor, romance (1934)
— Jubiabá, romance (1935)
— Mar morto, romance (1936)
— Capitães da areia, romance (1937)
— A estrada do mar, poesia (1938)
— ABC de Castro Alves, biografia (1941)
— O cavaleiro da esperança, biografia (1942)
— Terras do Sem-Fim, romance (1943)
— São Jorge dos Ilhéus, romance (1944)
— Bahia de Todos os Santos, guia (1945)
— Seara vermelha, romance (1946)
— O amor do soldado, teatro (1947)
— O mundo da paz, viagens (1951)
— Os subterrâneos da liberdade, romance (1954)
— Gabriela, cravo e canela, romance (1958)
— A morte e a morte de Quincas Berro d’Água, romance (1961)
— Os velhos marinheiros ou o capitão de longo curso, romance (1961)
— Os pastores da noite, romance (1964)
— O Compadre de Ogum, romance (1964)
— Dona Flor e Seus Dois Maridos, romance (1966)
— Tenda dos milagres, romance (1969)
— Teresa Batista cansada de guerra, romance (1972)
— O gato Malhado e a andorinha Sinhá, historieta infanto-juvenil (1976)
— Tieta do Agreste, romance (1977)
— Farda, fardão, camisola de dormir, romance (1979)
— Do recente milagre dos pássaros, contos (1979)
— O menino grapiúna, memórias (1982)
— A bola e o goleiro, literatura infantil (1984)
— Tocaia grande, romance (1984)
— O sumiço da santa, romance (1988)
— Navegação de cabotagem, memórias (1992)
— A descoberta da América pelos turcos, romance (1994)
— O milagre dos pássaros , fábula (1997)
— Hora da Guerra, crônicas (2008)

Nove Noites, de Bernardo Carvalho

Este livro é certamente um dos melhores romances brasileiros deste século. Romance? Pois é. Eu concordo com Bernardo Carvalho ao qualificá-lo assim, até porque falar em biografia romanceada seria reduzir a obra. Fiquemos com romance então.

Nove Noites (2002) narra os acontecimentos que redundaram no suicídio — anunciado desde a primeira página — do antropólogo norte-americano Buell Quain, em agosto de 1939, entre os índios krahô. Carvalho desconhecia a existência de Quain até maio de 2001, quando leu uma referência ao cientista num artigo. O que segue é uma busca em todas as direções pela história e motivações do suicida. A busca leva Carvalho ao interior de Tocantins e a Nova Iorque. Todas as suposições, erros e hipóteses, algumas desvairadas, criadas pelo autor, resultam num…. romance, é claro.

O livro possui luz própria, mas para caracterizá-lo talvez fosse adequado dizer que é uma mistura de Joseph Conrad com Bruce Chatwin. E não pensem que Nove Noites seja inferior aos modelos que trago, ele é, sim, obra de primeira linha, para se ler com entusiasmo. É fascinante a forma como Bernardo de Carvalho se coloca no livro: sem nenhum heroísmo, com muitos medos e de uma forma até irritante. Acho que esta esquisita obra sem gênero definido, estranha reportagem que cabe perfeitamente sob o guarda-chuva do romance, vencedora do Prêmio de Literatura da Biblioteca Nacional e do Portugal Telecom, veio para ficar. Excelente e grudento livro, para ser bebido rapidamente em sôfregos goles.

Drops

Enquanto Serra fala pejorativamente no kit-gay do Haddad — na verdade falando sobre o kit anti-homofobia, criado durante a gestão de Haddad no Ministério da Educação com a finalidade de combater a discriminação sexual nas escolas públicas –, enquanto Malafaia é personagem principal da campanha, fico pensando se estas distorções religiosas baseadas na desinformação resolvem alguma coisa. Será que Serra vai subir nas pesquisas? Espero que não. São Paulo não deve ter quase problemas, né?

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Gostaria que houvesse um IDH que pudesse medir as câmaras de vereadores recém eleitas. Podiam falar com com o Amartya Sen… A de Porto Alegre não recomenda muito. Tenho pena da Melchionna, do Ruas, da Cavedon, do Sgarbossa.

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Poucos sabem aqui, mas eu gosto de tênis tanto quanto de futebol. Ontem, saiu o novo ranking. Roger Federer está com 12.165 pontos contra 11.970 de Novak Djokovic nas últimas 52 semanas. São apenas 165 pontos de diferença, mas há um detalhe que beneficia o sérvio. Em 2012, Nole somou 11.410 pontos, contra 9.255 do suíço. São 2.155 de vantagem, com apenas três torneios restando no calendário: Basileia (500), Paris (1.000) e ATP Finals (1.500). Isto é, Federer tem muitos pontos a defender e provavelmente deixará de ser o número 1 nas próximas semanas. Mas isto é daquelas probabilidades das quais a gente duvida. Federer sempre tira um coelho da cartola, mesmo que Nole esteja voando.

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O Inter? Mas por que deveria falar dele? Gente, o ano acabou. Agora são as eleições. Fim.

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Na segunda quinzena de novembro, vou tirar férias com uma missão: a de arrumar os livros em casa. Não consigo encontrar nada. 15 dias para fazer tudo. A partir de hoje, tenho 30 dias para planejar a colocação das estantes e coisa e tal. Estou com férias em atraso, completando dois anos. (Mas, após uma procura insana, acabei encontrando o livro que queria emprestar para a Natália Otto, se ela ainda estiver interessada. De que vale uma biblioteca se não encontramos nada nela?)

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Brasil enfrenta o Japão neste momento. Escuta, alguém dá bola pra seleção do Mano?

Ladrão de livros é absolvido! A evolução do Judiciário é fato indiscutível!

O excelente e atento advogado Bruno Zortea — falo muito sério ao elogiá-lo — escreve para este blogueiro a fim de de informá-lo sobre uma decisão inteligente e altamente cultural tomada por nosso brioso Poder Judiciário no dia de ontem. Porém, antes de proceder à transcrição da nota, gostaria de deixar claro que o ladrão de livros ora absolvido FERE DE MORTE a ética do ladrão politicamente correto de livros, cujo conteúdo apresentamos aqui com riqueza de detalhes. O ladrão em questão roubou livros com a intenção de revendê-los, fato que pode ser comovente se a situação econômica do ladrão for deveras lamentável, mas que não aceitamos em razão da intrusão do capitalismo em seu movimento seguinte. Ele que vá roubar carros ou joalherias, então! O roubo de livros deve ser uma atividade pura que apenas lesa as grandes livrarias. O ladrão de livros perpetra seus ilícitos por paixão e prazer literários, nunca para entrar num vulgar sistema de oferta e procura.

Abaixo a notícia publicada no site do STJ.

Antes ainda, um detalhe: esse negócio de aplicar o tal princípio da “insignificância” na absolvição é outra coisa que tem de ser alterada. Insignificante é a mãe de quem invocou este princípio para o caso!

Homem que furtou livros é absolvido pela aplicação do princípio da insignificância

A Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) concedeu habeas corpus a um homem que furtou e revendeu três livros avaliados em R$ 119, em São Paulo. Para o ministro relator do caso, Og Fernandes, a ação teve ofensividade mínima e cabe a aplicação do princípio da insignificância. O réu, que estava sob liberdade condicional por outras condenações de furto, confessou que pegou três obras de uma livraria localizada numa estação da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Os livros foram revendidos na praça da Sé por R$ 8 cada. Entre os títulos dos livros constava uma edição da série Harry Potter. Em primeira instância, o homem foi absolvido, mas o Ministério Público se mostrou inconformado e apelou. O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) reformou a decisão para que a ação penal pudesse continuar.

Insatisfeita, a defesa recorreu ao STJ. Pedia, por meio de habeas corpus, que a denúncia oferecida pelo MP fosse rejeitada ou o homem absolvido. Alegava atipicidade no caso e constrangimento ilegal, por não ter sido aplicado o princípio da insignificância.

Sem ofensividade

“Não há como deixar de reconhecer a mínima ofensividade do comportamento do paciente”, afirmou o ministro Og Fernandes, reconhecendo a atipicidade da conduta. Para ele, pela aplicação do princípio da insignificância justifica-se a concessão do habeas corpus.

Para enfatizar a decisão, o relator mencionou precedente de 2004 do Supremo Tribunal Federal (STF). Na decisão, foi reconhecida a aplicação do princípio da insignificância quando quem comete a ação não oferece ofensividade ou perigo social. Ou, ainda, quando o comportamento indica “o reduzidíssimo grau de reprovabilidade” e apresenta “inexpressividade da lesão jurídica provocada” (HC 84.412/STF).

De forma unânime, a Sexta Turma do STJ concedeu habeas corpus ao homem, restabelecendo assim a decisão de primeiro grau que o absolveu.

Anotações para o jogo Orgulho e Preconceito x Middlemarch

A estreia do Sport Club Literatura do StudioClio foi, acredito, um sucesso. Estavam lá uns 50 malucos, talvez mais, divertindo-se com pessoas que falavam sobre livros. Foi o cúmulo da civilização, com muito bom humor e as Corujas brilhando pelo auditório de caras sorridentes. O primeiro jogo foi duríssimo e acabou com 2666 (Roberto Bolaño) 1 x 0 Liberdade (Jonathan Franzen), sob a arbitagem de Antônio Xerxenesky e Carlos André Moreira. No jogo final, o placar que atrubuí a Orgulho e Preconceito x Middlemarch prevaleceu, apesar da tentativa de Joana Bosak de anular um gol de Jane Austen, escaramuça abortada pela plateia… Eu e Joana não nos conhecíamos, mas acho que nossa palestra conjunta acabou funcionando. Ela muito é bonita e não é mole — tem formação e mestrado em história e doutorado em literatura comparada pela UFRGS, onde já deu aulas nas duas áreas. Tinha tudo para acabar comigo, mas teve pena. Abaixo, minhas anotações para o evento.

Os árbitros de Middlemarch x Orgulho e Preconceito: eu e Joana Bosak

Boa noite.

A missão impossível que me pedem é a de realizar uma partida de futebol entre dois dos maiores romances da grande literatura inglesa – Middlemarch e Orgulho e Preconceito. Comparar dois livros que amo é, guardadas as proporções, fazer uma Escolha de Sofia, decidindo qual de meus filhos – tenho dois aos quais amo incondicionalmente – deve ser encaminhado para a câmara de gás. Então, para afastar os critérios meramente afetivos, criei regras próprias. Em primeiro lugar, elegi cinco itens que seriam caros à literatura que ambas as autoras praticam. Em segundo lugar, procurei deixar longe de mim a afirmativa do mestre E. M. Forster, outro britânico, no seu ensaio Aspectos do Romance: “O teste final de um romance será a nossa afeição por ele, como é o teste de nossos amigos e de qualquer outra coisa que não possamos definir”. Também desconsiderei o fato de que, para meu gosto, alguns quesitos têm importância superior a outros. Os quesitos:

0. (Zero, porque aqui as autoras não marcam gols). Notícia biográfica das equipes.
1. Linguagem, foco narrativo
2. Construção de conflitos e estrutura do romance
3. Construção de personagens
4. Relevância sociológica
5. Análise psicológica (relevância ontológica)

O número de quesitos que marcam gols é ímpar por um motivo muito simples: queria evitar o empate.

Começo então por uma notícia biográfica de ambas:

Jane Austen nasceu em 1775 e morreu em 1817. Viveu, portanto, 41 anos. Orgulho e Preconceito foi publicado em pela primeira vez em 1813, quando autora tinha 38 anos. É seu romance mais conhecido e popular. Austen escreveu apenas outros cinco, todos excelentes: Razão e Sensibilidade (1811), Mansfield Park (1814), Emma (1815) e os póstumos A Abadia de Northanger (1818) e Persuasão (1818). Austen nunca casou, sempre morou com os pais. Escrevia seus romances em seu quarto e tinha pudor de quando alguém abria a porta — escondendo imediatamente os cadernos. A vida de Jane Austen é um deserto de grandes acontecimentos. O fato mais próximo a um caso amoroso, foi um breve amor juvenil finalizado por problemas financeiros do pretendente.

Em comparação com a vida de Jane, a existência de George Eliot foi espetacular. Ela nasceu dois anos após a morte de Austen e viveu 20 anos mais, chegando aos 61. Middlemarch foi publicado quando ela tinha 53. George, que na verdade chamava-se Mary Ann Evans, apaixonou-se e fugiu com um homem casado, George Henry Lewes, com o qual viveu por quase vinte e cinco anos, até a morte do amante. Sete meses antes de falecer, George Eliot casou-se com seu primeiro biógrafo, John Walter Cross, vinte anos mais moço. Sua vida parece a de uma mulher moderna. Se Austen escreveu seis romances, Eliot produziu apenas um a mais.

Equivoca-se quem pensar que elas tinham pouco em comum. O jogo, apesar de reunir dois estilos muito pessoais e únicos, é duríssimo.

Então comecemos a peleja pela linguagem e foco narrativo:

Quem leu Orgulho e Preconceito ou outros de seus livros, sabe que Austen é leve e enganadora, a gente pensa que está numa tranquila mesa de chá quando, com a maior graça, ela nos apresenta abismos que, pensando bem, já estavam ali, mas dos quais não pressentíamos a profundidade. Austen não faz comédia, mas nos obriga a gargalhadas; expõe dramas, mas não é trágica; é grave, porém leve; é clássica, apesar de ousada. O romance não deixa transparecer claramente seu esquema por trás de diálogos absolutamente fluentes e de uma narradora de tom zombeteiro. Num espaço rural limitado, as pessoas fazem visitas, vão à bailes, tomam chá, iludem umas às outras, armam situações e divagam sobre suas vidas e planos. O refinado humor da escritora abrange tudo. É o próprio time do Barcelona. Troca passes em diálogos ininterruptos, seduz a todos, inclusive aos adversários, para depois vencê-los.

Milton Ribeiro, dizem

Enquanto isso George Eliot aposta numa vitória baseada em rigoroso esquema defensivo. Ela tece com obsessiva minúcia os panos de fundo de cada cena e, nesta particularidade, é menos moderna que Austen. Podemos dizer que tem alma de socióloga, o que poderá render-lhe gols mais à frente. É importante dizer que Orgulho e Preconceito tem aproximadamente 300 páginas, enquanto que Middlemarch tem quase 1000. As torcidas presentes hoje ao StudioClio dirão que isso não tem a menor importância, mas este árbitro discorda: tem tudo a ver pelo simples fato de que George Eliot enrola e joga no erro do adversário. Quando menos se espera, a tragédia econômica de Fred Vincy, por exemplo, fica-nos clara com tal riqueza de detalhes financeiros e psicológicos que adquirimos a certeza de que não lhe resta saída, se não houvesse uma boa moça para o salvar.
Porém, como estamos aqui para julgar e não para ficar na arquibancada comendo picolés ou bebendo cerveja sem álcool – pois o Estatuto do Torcedor criminosamente não permite o consumo de álcool nos estádios – decidimos que a linguagem de Jane Austen acaba de fazer um belo gol na impecável defesa de George Eliot, que não contava com uma falha individual. Pois na página 162, a autora, sim, ela mesmo, começa inesperadamente a falar na primeira pessoa do singular, deitando teses e atrapalhando a narrativa. Em contraposição, temos em Austen trechos de virtuosismo quase inalcançável como a cena em que Lydia fala besteiras sem parar, fazendo a atenção do leitor ir embora, para depois descobrimos confortavelmente que fomos acompanhados na fuga por Elizabeth, que também não faz a menor ideia do que Lydia falara. Virginia Woolf: escreveu: “Ali estava uma mulher, por volta de 1800, escrevendo sem ódio, sem amargura, sem medo, sem protestos, sem pregação. Orgulho e Preconceito 1 x 0 Middemarch.

Construção de Conflitos: Como já disse, Jane Austen, de modo hábil, cria conflitos que logo tornam-se abismos. O problema onde Elizabeth Bennet e Fitzwilliam Darcy equilibram-se até o final é muito rico. A forma como Austen coloca ambos em posição de vencer orgulho e preconceito através da rebeldia é digno de várias avalanches da torcida – calma, sou colorado. Também a posição do sarcástico Mr. Bennet como catalisador de conflitos é brilhante e Mrs. Bennet… Bem, Mrs. Bennet nem é catalisadora. Mrs. Bennet é dinamite pura. Podemos considerá-la uma chata, mas apelo à opinião de meu amigo historiador e escritor Luís Augusto Farinatti para defender sua posição no romance. Ela tem uma missão fundamental. Afinal, num regime sucessório onde as mulheres não herdam, é imprescindível ter um filho varão. É ele que vai herdar a propriedade, ajudar o pai a organizar os rendimentos, dotar uma ou mais irmãs para que possam casar e acolher as irremediavelmente rejeitadas. Ou seja, não ter um filho homem era uma catástrofe (imaginem que Mrs. Bennet, por única e exclusiva culpa sua, como se pensava na época, tinha cinco filhas). Então, “colocar” as filhas era uma obsessão. Mrs. Bennet é a maior das chatas, mas só queria resolver o problema que criara. Ou seja, é um tremendo problema que ela tenta resolver de sua maneira atrapalhada, quase vendendo as filhas.

Agora vejamos Middlemarch. George Eliot escrevia dois livros – um dedicado ao caso da grande personagem Dorothea Casaubon, que casa com um homem mais velho em busca de “conhecimento” e “erudição”, e outro ao caso de Rosamond Vincy, que casa com o Dr. Lydgate à espera de uma vida rica que acaba por levar a família à bancarrota – quando decidiu juntá-los em apenas um romance. A encruzilhada que une ambos os livros fica clara no Capítulo XI, página 110 na edição da Record, quando subitamente entra Lydgate e começa um segundo romance com outro set de personagens.

Os conflitos em Middlemarch são tantos que seria longo citá-los um por um , mas é absolutamente notável o fato de que Dorothea e Rosamund – as personagens principais do livro – passem 900 páginas sem trocar uma palavra, coisa que apenas fazem no final. Isso é tão espetacular, cria tamanha expectativa que, bem, o jogo fica empatado em 1 x 1.

Construção de personagens: Comecemos por Austen, já que acho difícil vencê-la neste quesito. Minha amiga e também historiadora e escritora Nikelen Witter uma vez escreveu, fazendo uma descrição de alguns personagens de Orgulho e Preconceito:

Elizabeth é uma das mais fantásticas heroínas que conheço. Ela não é uma mocinha romântica – esse papel é da sua irmã Jane – , sabe ser maliciosa, dura, debochada, tudo isso sem deixar de ter um bom coração. Envergonha-se de sua família, mas ama-os a ponto de defendê-los mesmo com seus imensos defeitos. O que poucos notam é quão revolucionário é este romance para a época e as pessoas para quem foi escrito. Ele é a reivindicação de uma possibilidade de escolha que nem as mulheres, nem os homens, tinham em sua época. Embora publicado no início do século XIX, o romance é de fins do século XVIII e está ancorado numa moral em que a família e as convenções ditam as escolhas e os destinos. Então Austen pega seus dois personagens principais – cheios de dúvidas, incapazes de um comportamento retilíneo – e os faz inteiramente rebeldes para o mundo em que vivem. Elizabeth é uma rebelde nata. Não quer se submeter a um homem apenas para ter um marido. Ela quer alguém que a respeite como o pai o faz (um Édipo bem resolvido, eu diria), e tem o apoio deste – que a considera acima de todas as filhas por ver nela uma mente irmã. E Darcy? Darcy é aparentemente convencional, preso aos costumes e a sua posição. E, então, de repente, Darcy também se rebela (contra si mesmo, como ele afirma) e passa a desejar o que não lhe seria permitido. O romance não é apenas uma aula sobre o convencionalismo inglês, mas também sobre a revolução nos costumes, marca desta virada de século. Os personagens são perfeitos para demonstrar como a família nuclear deixa de ser vista como uma entidade reprodutora de seres humanos com a finalidade de abastecer linhagens, passando a um núcleo formativo de indivíduos. Nisso, as ideias de harmonia e amor conjugal começam a aparecer. Daí o elemento revolucionário do romance e das personagens bem construídas de Austen.

Já em Middlemarch, a única personagem que realmente rivaliza com as de Orgulho e Preconceito é Mr. Casaubon, um intelectual que merece como poucos o epíteto de “pseudo”. Incapaz de dar atenção a nada que não seja a sua obra imortal teológica que ofereceria à eternidade, chamada simplesmente de “A chave de todos os mitos”, é o mais estéril dos seres humanos. Apesar disso, é admirado e respeitado por todos por seu conhecimento e rendimentos. Explico melhor: em Middlemarch, Edward Casaubon passa sua vida numa tentativa inútil de encontrar um quadro abrangente que sirva para explicar toda a mitologia. Ele mostraria que todas as mitologias do mundo são fragmentos de um antigo e corrupto corpus do conhecimento, para o qual só ele tem a chave. Dorothea deslumbra-se com seu brilhantismo e erudição para descobrir, no leito de morte do marido, que todo o plano era absurdo e que ela não pode fazer nada com os fragmentos do livro ao qual se propunha organizar.

Bem, já viram. Orgulho e Preconceito 2 x 1 Middlemarch.

Joana Bosak

Relevância sociológica: Aqui é o terreno de George Eliot. Middlemarch é um imbatível painel social. O romance nos oferece um completo, compreensível e sutil panorama de uma Inglaterra em transição. É o poder dos velhos proprietários de terra (Mr. Featherstone) passando para os capitães da indústria (Mr. Vincy). É o poderoso símbolo do trem que ameaça cortar as terras de Middlemarch ao meio. Os pobres seguem pobres, claro, e atormentam o coração de Dorothea. Os novos profissionais, personificados pelo médico Lydgate e pelo artista Ladislaw esculhambam a rotina. Além disso, há os negociantes espertalhões, os juizes inconsequentes, os médicos venais defensores de métodos antiquados por interesse, etc. Há muita astúcia, muitas palavras belas e vazias, cujo maior representante é o banqueiro Bulstrode. Porém, na literatura de Eliot, não há maniqueísmo em nenhuma análise. Todos têm méritos e defeitos, ninguém é bom ou mau por completo. Tudo isso é descrito com rigor e precisão, sem cansar o leitor com digressões “eruditas”, como fez, por exemplo, Tolstói no final de Guerra e Paz.

E estamos com o placar de 2 x 2.

Análise psicológica ou relevância ontológica

Virgínia Woolf dizia que Middlemarch fazia com que a maior parte dos outros romances ingleses de seu tempo parecessem destinar-se a um público juvenil. É um romance sério, absolutamente sério, e a psicologia dos personagens é esmiuçada até o último pensamento antes da frase ser pronunciada. Isto nos torna íntimos de todos eles, conhecendo seus raciocínios tortuosos e suas esquisitices. A seu modo, ainda lógico e organizado, Eliot inaugura o fluxo de consciência. Em razão disso é que o gol decisivo é de Jane Austen, pois ela faz o mesmo sem o apoio da miríade de detalhes necessários a George Eliot. Meu placar final é Orgulho e Preconceito 3 x 2 Middlemarch.

Livros melhores que filmes — A Reação! — e um conto de PQP Bach…

A Caminhante, certa vez escreveu um post falando sobre a sistemática superioridade dos livros sobre os filmes análogos. Penso que ela tenha razão em grande parte e deixei o assunto em suspenso, mas ontem, ao comentar o fato com meu filho Bernardo, ele teve uma reação inesperada. Primeiro uma risada. E depois o argumento:

— Pai, empresta para ela A Laranja Mecânica do Burgess, Jules e Jim do Roche, O Conformista (1) e A Estratégia da Aranha (2), feitos pelo Bertolucci, todos os livros em que o Kubrick se baseou e todos os que usou o Hitch! Nada a ver! Vá se …

Dear Walker, perdoa os 19 anos do menino.

(1) De Alberto Moravia
(2) De Jorge Luis Borges

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A Décima de Beethoven (*)

— E daí, gatinha, tenho uma coisa pra te mostrar.

— Xiii…, eu não curo reumatismo, viu?

— Nada disso, princesa, quero te mostrar aqueles motivos curtos e repetitivos.

— Repetitivos está OK, mas curtos…?

— Sim, e afirmativos.

— Em riste?

— Certamente! Vamos para aquele cantinho ali? Me parece mais adequado.

Os dois vão e sentam, a mulher prepara-se para os amassos quando o homem tira um fone de ouvidos do bolso e um celular. Arruma tudo e enfia no ouvido da gata.

— É a 10ª de Beethoven.

A mulher faz uma cara de decepção e responde.

— Um, eu não estou aqui para ouvir eruditos, quero testosterona, meu! E, dois, Beethoven jamais chegou à décima, assim como tu jamais chegarias à 2ª, quiçá à 1ª!

— Minha cara, nada disso. Acabam de remontar o primeiro movimento da décima.

— Quem?

— Um Wyn qualquer coisa.

— Vin? A propósito, podias ser um cavalheiro e pedir um vinho pra aquecer.

— Garçon!

— Então podemos retirar Beethoven da “Maldição da Décima”?

— O que é isso?

— Véio, tu não sabes que Bruckner, Mahler, Dvorargh, Beethoven e Spohr escreveram nove sinfonias e aí veio um raio e fulminou com todos? Isto é, com um de cada vez… Não sabia?

— Mas Mahler fez o Adagio da Décima.

— Sim, mas era um adagio, não tinha muita ação. Aquilo lá devia estar moribundo como o teu Ludwig van.

— Então a décima é perigosa? Pode matar?

— Sim, haja disposição para chegar lá…

— Eu tenho.

Ele bem que tentou, mas acabou por deixar a terceira inacabada. Ainda hoje se encontram. Ela, feliz, faz o papel de furacão maduro, ele, não menos, o de pau amigo.

(*) PQP Bach não deu título à sua narrativa. Desto modo, batizei-o eu.

Kindle, o fim do livro

OK, o título é pura provocação, não acredito nisso. As previsões são previsões, como diria Gertrude Stein. A Folha de São Paulo que o diga. Vejam uma página de tecnologia que o jornal publicou em 1996 e que foi garimpada pelo Tiago Dória:

Muitos já anunciaram o fim do rock, do romance, de um monte de coisas, mas tudo o que mexe com paixões são complicadas de matar. As únicas coisas que efetivamente acabaram foram a privacidade e o cinema de primeira linha. A nova moda é proclamar o fim do livro e a grande novidade é que tal morte é apoiada por boa parcela dos ecologistas, os quais falam nas vantagens de se produzir menos papel. Só que, como sabemos, os ecologistas não contam. Como em Copenhagen, quem decide é o mercado.

Não adianta. Eu gosto de livros. Eles existem há séculos, bem mais do que os disquetes que ainda insistem em aparecer em minhas gavetas e que têm quanto? 10 anos? Creio que o formato convencional acabará junto com o mundo, mas, neste ínterim, dividirá o espaço com os e-books.

O que é Kindle? É isso aqui:

É um aparelho criado pela Amazon que tem como função principal ler e-books (livros digitais) e outros tipos de mídia digital. O Kindle 3 lê também jornais, os mais famosos blogs dos EUA, toca mp3 e faz o diabo. É como os celulares de hoje. Pode armazenar uns 1500 livros em formato pdf ou Kindle, mas isso depende, claro, do tamanho da memória. Dizem que a luz ambiente não interfere na leitura, que podemos sublinhar e anotar nossos pitacos no texto, que tudo é maravilhoso — só faltaria o cheiro do livro — e que serão riscados da face da terra os jornais em papel, os livros, etc.

Como se publica um livro? Simples. Manda-se um arquivo para a Amazon e ele te devolvem no formato Kindle sob um módico pagamento. Como colocar à venda? Não sei, mas é óbvio que é só pagar mais à Amazon para fazer também isso.

Já há Kindles com conexão à internet — permanente ou não — , o que permite a compra de livros eletrônicos sem passagem por nenhum PC. Claro, os Kindles um dia terão as funções de um PC e talvez até possam ser guardados dentro dos saltos de nosso sapatos, apesar de que não vejo grande utilidade nisso. Os livros vendidos pelas editoras através da Amazon custam em média US$ 9,99 cada um e, se eu quiser disponibilizar meu blog lá, custaria US$ 1,99 mensais ao leitor, sendo 2/3 para eles e o resto para mim. Um jornal pode ser entregue diariamente no Kindle por US$ 2,99 mensais.

Será mais um gadget caro. Alguns o considerarão vital a ponto de verem ameaçadas suas contemporaneidades quando o vizinho comprar um Kindle que mostre séries de TV americanas ou que substitua o celular e o liquidificador. Já pensaram um que escolha a música conforme a leitura? Eu já estou esperando o Kindle câmara de vídeo com a finalidade de fazer estudos lombrosianos de comparação entre quem lê Kafka e quem vê House. Ou entre quem lê Paulo Coelho e Thomas Bernhard, sei lá.