Dramaturgia de senzala

Hoje é o Dia da Consciência Negra e é feriado em grande parte do país. Pois curiosamente, justo nessa semana, a novela Viver a Vida mostrou uma cena que despertou a ira dos movimentos afro. Além da ira, reclamam do sumiço da cena em que a personagem Tereza (Lilia Cabral) humilha e dá um tapa no rosto de Helena (a belíssima Taís Araújo). Sim, concordo; não é muito fácil de encontrar, a Globo deve ter ido à caça, dando cabo da mesma. Mas pus meus cães gugleanos à procura e eles a capturaram facilmente. Está ao final deste post. Dá até para baixar, mas meu micro não vai abrigar porcarias de novelas.

Concordo que a dramaturgia é de senzala e a qualidade do texto torna obra-prima A Escrava Isaura. Quero quer que o movimento negro se indignou mais com a dramaturgia senhor-escravo do que com o texto. Este é muito mais ofensivo àqueles que defendem o aborto, meu caso e das feministas. A CUT também opinou, mas, como tem acontecido, consigo discordar de todos.

As novelas são verdades ficcionais, então não sei se cabem protestos à Globo. Acredito que os irados estejam sendo tolos ao desconsiderarem o fato de que, certamente, Tereza se tornará uma terrível vilã comedora de afrodescendentes — coisa típica dessas “obras” — e que será rejeitada até por sua filha caucasiana. Os protestantes acham que as pessoas que veem essas novelas imaginam que estão ouvindo a razão? Ingenuidade. O que estes “representantes da sociedade” desejam dizer à emissora é que ela não pode criar personagens racistas nem utilizar católicos que sejam contra o aborto? Claro que pode! Talvez até deva, pois eles estão aí mesmo. O que a “sociedade do politicamente correto” deseja é o silêncio, a censura? Menos, né?

O supermercado como local de encontros

O leitor alienígena, aquele que não é de Porto Alegre, é maioria absoluta em meu blog. Então, terei de começar por algumas explicações. O Supermercado Zaffari é o melhor da cidade. Disparado, não obstante suas lojas serem um horror arquitetônico dignos do cão enlouquecido de Gaudí, o interior é livre das sandices externas, limpo, até bonito, bem organizado, ar condicionado, a oferta de produtos é ótima e o número de caixas fazem a alegria de quem está com pressa. Ou seja, é um local agradável. Acho que quase todos nós preferimos o Zaffari, apesar do aspecto externo. Abaixo, um dos lados do Zaffari Bourbon Country. Destaque para as três árvores torturadas frente a arquibancadas de vasinhos a observar seu fim. Parece uma foto de filme americano onde uma plateia assiste uma execução.

Já eu, Milton Ribeiro, também tenho lay-out pra lá de estranho. 1,71 m, 75 Kg, 52 anos. Até o ano passado corria 10 Km achando graça do calor de 35º. E não pesava menos por isso. O que me torna ridículo é o fato de toda a gordura de meu corpo dirigir-se inexoravelmente à barriga. Todos me acham magro, exceto minha mulher, filha, irmã e outros poucos que insistem em sentar sobre minha baixa autoestima. Tenho certeza de que os Caetés, se vissem minha barriga, não pensariam que estivesse grávido de três meses e talvez deixassem de lado o Bispo Sardinha, pois a manta de gordura que a recobre faz dela uma verdadeira picanha adornada por bordas de catupiri — os pneus. O que eu quero dizer com este comercial é que sou um sujeito comum, com barriguinha próspera, cabelos ma non tanto grisalhos, em forma pero no mucho, que vai ao supermercado comprar umas coisinhas e que repentinamente…

… nota que é objeto de observação das mulheres.

Faz duas semanas, era um domingo, 17h30, horário que os maridos veem futebol e as mulheres vão em busca de víveres. Víveres… Claro! Eu tinha ouvido um amigo falar que o Zaffari era um local sofisticado de caça e qual não foi minha surpresa ao entrar na alça de mira das gazelas de meia idade. Como dizemos eu e meu amigo Branco, somos naturezas fiéis e ficamos cheios de pudor nestas circunstâncias, mas ali parecia maravilhoso, era o retorno à juventude. Então, com meu olhar antropológico, comecei a caminhar pelos corredores e, logo, o óbvio: um homem mais ou menos da minha idade, com um produto na mão, aproxima-se de uma moça que estava há anos parada na frente de uma interessantíssima gôndola. Faz-lhe uma pergunta. Começam a conversar. Sorrisos em ambas as direções. O amor.

Outro fato digno de nota são as roupas. Sabem aquela informalidade medida, aqueles cabelos inequivocamente femininos, cheios de voltas incompreensíveis, com um palitão enfiado? Ou curtos, mas preparados por longos minutos no espelho? Não sei se vi palitões, mas o espírito era aquele. E estava quente, havia shorts e sandálias de verão, nem tão altas mas longe das havaianasriders. Sim, muita gente vestida para matar às 17h30. Os homens estavam limpinhos, de camisetas e tênis novos. Menos eu, menos eu, que tinha dado banho nas cachorras e estava com muito mais feromônios que o habitual. Há gente que gosta, tanto que aquela moça de short branco e blusa amarela parecia estar com vontade de utilizar meu call center a respeito dos pães árabes.

Meu amigo — sim, aquele primo lá de Passo Fundo — me relatou que os melhores locais são os vinhos, as especiarias, os dietéticos e os iogurtes. São todos locais tranquilos onde as dúvidas surgem naturalmente. (Quando cheguei em casa, contei para a Bárbara e ela me deixou pasmo. Pai, uma vez a mãe estava pegando Patricias e um cara veio todo meloso perguntando se era tão boa quanto a Norteña e dizendo que era muito triste beber cerveja sozinho. Tratava-se certamente de um sério observador da espécie humana!) O mesmo amigo me disse que os infantis também são locais interessantes para quem quiser relações mais tranquilas com mulheres ocupadas por filhos. Ele declarou, sacana: Ali, é o local para quem quer uma rapidinha. Perguntei se muitas delas são carentes, querendo se vingar do marido horrível que não a auxilia devidamente com o filho. Ele replicou é uma possibilidade. E completou: é importante que se saiba bastante ou nada sobre os produtos. Mulheres gostam de extremos, ou cuidarão de nós ou serão cuidadas.

Chegando em casa, recebi a visita de um casal de amigos. Contei-lhes tudo. Atrasada ou profilática, a mulher ficou meio puta, pois o marido costumava passar longas temporadas vespertinas no Zaffari e dizia que adorava examinar todas as novidades para esperá-la com um jantarzinho pronto. Tá bom. O homem ouvira falar que o estacionamento era local de namoros e encontros. E eu, ingênuo, que só dou uns amassos na minha mulher na fila dos frios!

Sugestão para o Natal

É sexta-feira, relaxemos… Aquele seu amigo ou amiga legal merece receber este mimo, vai dizer? Bem, eu gostaria. Trata-se do Grande Livro Vermelho do Monty Python. Você provavelmente já ouviu falar de filmes como Monty Python e o Cálice Sagrado, A Vida de Brian e O Sentido da Vida, não? O grupo Monty Python era formado pelos comediantes Eric Idle, Graham Chapman, John Cleese, Michael Palin e Terry Jones, mais o cartunista e diretor Terry Gillian. O humor dos Pythons beirava ou invadia a insanidade. E era inteligente. Os três filmes citados são clássicos que divertem até hoje os amigos de meus filhos que não apenas os veem e reveem como têm toques de celulares com o “Cruxifiction, good…” e com a ultra super hiper antológica cena da ponte em Cálice Sagrado “What`s you favorite color?”. Não sei muita coisa sobre o livro, já gostei. E é óbvio que, em vez de escrever, fiquei vendo filminhos.

O Monty Python começou na televisão com a série Monty Python’s Flying Circus. Começaram em 1969 e produziram 45 programas em quatro temporadas. Depois, filmes (foram só 4?), shows e livros. O termo pythonesque foi dicionarizado para caracterizar algo realmente absurdo. Houve um quase retorno dos Pythons na excelente comédia Um peixe chamado Wanda, mas aquilo foi seu canto de cisne.

Agora, deixo-vos com a trupe dos Pythons. Comecemos pelo clássico jogo de futebol entre filósofos alemães e gregos. Foi produzido para a TV:

Ainda no tempo do Flying Circus, mais uma para a TV. A piada mais engraçada do mundo:

Passamos pela Ponte da Morte do espetacular Monty Python e o Cálice Sagrado:

E chegamos ao único filme do qual saí meio mal de tanto rir, muito embora de não ter morrido: A Vida de Brian.

O Ao Mirante, Nelson entra pelo MSN e sugere o Ministry of silly walks, que é de chorar de rir.

Há tantas cenas inesquecíveis que agora vou voltar para o YouTube. Tchau.

Nós Que Nos Amamos Tanto

X. e eu (ela começa):
— Hummm, resolveste pôr um perfume? Que perfume é este?
— É um que tá aí faz tempo.
— “Faz tempo” significa “antes da minha gestão”?
— Sim.
— Cheiro horrível.

Minha mãe, em dia de alguma lucidez, e eu:
— Mãe, desculpe, mas tu estás ficando surda. A gente tem que gritar prá tu entender.
— Olha, fui no otorrino e ele disse que estou muito bem.
— Me diz o nome deste otorrino.
— A tua irmã me disse mas eu não ouvi direito.

X. e eu:
— Lendo as notícias do Grêmio, querido?
— Sim, adoro a decadência. Isto aqui é melhor que Os Buddenbrook.

Casal ao qual não pedi autorização para identificar:
Ele: Um amigo me disse que existem quatro tipos de mulher. A primeira é do tipo que faz você se sentir um completo idiota… Eu não lembro das outras duas…
Ela: Mas dá 3!
Ele: Às vezes tu podias ser menos loira…
Ela: E às vezes sinto saudades do tempo em que tu não tomava antidepressivos…

Dias depois, a mesma dupla:
Ela: Tu sabe que meu cabelo é castanho claro…
Ele: Tu é loira, dizer que é castanho claro é um casuísmo que usas na hora das piadas. É loiro escuro, pronto. Tu me atraíste por ser loira.
Ela: Pelo que sinto, certamente não foi por minha capacidade, claro…
Ele: Há coisas que não são miscíveis, amor.

X. e eu, na cama:
— Quando eu ficar impotente, tomo Viagra.
— E para os neurônios?

X. e eu na cama, novamente:
— Vocês mulheres vivem 10 anos mais do que a gente.
— Hummm.
— Eu tenho 9 anos mais do que tu.
— Hummm, e daí?
— E daí que serás minha viúva por 19 anos.
— Para senão eu vou começar a chorar. É sério!

Bernardo, na secretária eletrônica do celular:
— Pai, tô te ligando para saber o resultado do jogo do Grêmio. Se bem que eles devem ter perdido. Já tô até feliz. (risadas) Só me diz de quanto. Um beijo.

X. e sua mãe:
— Mãe, por que tu me deste o nome de X.?
— Ora, porque eu gostava e tinha uma amiga cheia de vida e muito bonita chamada X.
— Sabe o que significa?
— Não.
— “Manca”.
— …
— Conheces a palavra claudicante?

Ela, ele e garçom num restaurante do interior da ex-Tchecoslováquia. Ela olha atentamente para o menu em tcheco. Por fim, aponta um prato:
— Cocó? – diz, enquanto mexe os cotovelos como asas.
— Muuuuuuuuuuuuu – responde o circunspecto garçom.

Bárbara e eu.
— Pai, quero fazer uma tatuagem.
— Sou contra.
— Mas é pequena, na parte interna do pulso. Só o contorno de um cavalo.
— Não fica vulgar?
— Vulgaridade é postura, pai. Tu estás aí há 52 anos e não te deste conta?

(Ela fez a tatuagem. Disse que quase morreu de dor. Ficou bonito.)

Todos são horríveis, mas este é um texto que elogia a direita (melhor avisar antes)

Por Luís Januário
— provando que alguns (muitos) portugueses vivem numa realidade paralela

De facto a esquerda é utópica. A esquerda é qualquer coisa em que é impossível acreditar. Assim como um amor que durasse para sempre. A direita é natural. A esquerda é sobrenatural. A direita é uma coisa conhecida: o curso de direito, uma bebedeira ao fim-de-semana, uma bofetada do marido, um quadro do Cargaleiro, uma homilia de domingo, o Expresso, a crónica do Marcelo, os lucros do Belmiro e a nossa inevitável pobreza, as festas da Hola, os filmes da Lusomundo, a literatura internacional e a comida do Eleven, a hipertensão e a obesidade. A esquerda é a nacionalização do petróleo, um curso de enfermagem veterinária, um bellini ao fim da tarde em Corso Como, o esplendor das línguas, a pele secreta que as mulheres do Ocidente revelaram no final do século, a música de Arvo Part e Marilin Crispell e Christina Plhuar, os romances de Bolaño, Sebal – a esquerda tem tendência a ter um êxito póstumo -, VilaMatas, Coetzee, o design de Laszlo Moholy-nagy, o testamento de vida , os legumes no wok, o vinhateiro que resiste no Mondovino.

Os itálicos são meus. O incrível é que os portugueses acharam isso aí brilhante e comprovável… Bem, acho Pärt um saco e ele queria dizer Sebald, eu acho. Agora com licença, tenho que tomar minha sopinha de agrião.

Provas do ENEM eram vendidas em pizzaria e outros símbolos

Acordei e estava discutindo tranquilamente com o Cristóvão Feil a respeito do fundamental tema da cobertura das ovelhas. Ele me dizia que eu me confundira e que:

No rebanho de ovinos, se lambuza a barriga do carneiro com pigmento colorido engraxado, gorduroso (como fixador). Se tiver mais de um, marcam-se com cores distintas. Quando alguma ovelha fica “ocilha” (conforme se diz em Viamão), o carneiro (se for do ramo) monta e emprenha (se for “especialista”). Aquela fêmea, já fecundada, fica com o lombo colorido, carimbado e engraxado das partes pudendas do macho. Então, ela é apartada do rebanho, com o objetivo de merecer mais cuidados, alimentação balanceada, observação diária, etc.

Por isso, hay que tener precauciones quando uno mas pícaro ha dito que todavia esta sucio de “graxa” de ovejas. Onde? Nas pudendas ou no lombo?

Era uma troca de e-mails muito pouco séria, pois eu estava admirado com o valor metafórico ou simbólico do fato dos amantes ficarem marcados com a mesma cor denunciadora de seu ato, mesmo sem relacionar os locais das pinturas ao sexo de cada animal, certamente denunciadores de outras preferências.

Enquanto isso, via na TV a mais bela das brasileiras ufanando-se da candidatura do Rio de Janeiro para as Olimpíadas. Um de meus menores problemas é o de amar o Rio de Janeiro. É a cidade quase perfeita, apenas lhe falta as gaúchas. Infelizmente, digo que a média de todas as cariocas que não leem meu blog estão em nível bastante inferior de beleza. Porto Alegre e o interior do estado sempre foi um duro teste para a fidelidade (imaginem que escrevi fodelidade, mas notem que o “o” fica ao lado do “i”, mesmo no seu teclado, maldoso leitor) de quaisquer maridos e a região de Passo Fundo — onde italianos, alemães e bugres moram juntos — é a região do país que apresenta proporcionalmente o maior número de divórcios. Mas tergiverso, penso em mulheres quando tenho que cortar o cabelo e acabo não enveredando pelo caminho planejado de argumentar que o Rio de Janeiro é o maior símbolo do Brasil, com sua beleza e perfeição, riqueza e pobreza, corrupção e desídia; que adoro passear numa cidade onde as pessoas, mesmo os velhos, saem às ruas à noite — enquanto aqui temos apartamentos-asilos –; que adoro as padarias de meus patrícios; que gosto das esquinas com lojas de sucos; que acho os cariocas gentis e filhas da puta. E que, apesar de estar acostumando com mulheres mais belas, gosto muito daquilo e, portanto, torço para o Rio ser a cidade sede das Olimpíadas de 2016, mesmo que nosso prezado Marcos Nunes veja perturbada sua vida de pedestre habitante da cidade. Não preciso falar com ele para saber: posso antecipar que ele é contra o evento e hoje, enquanto tomava café num bar, olhando e sonhando com Renata Vasconcellos (suspiro), dizia, orgulhoso de sua sacrofobia, a seu vizinho, :

— Fodam-se as Olimpíadas. Que vão para outro lugar.

Maior valor simbólico talvez seja o fato da prova do ENEM ter sido vendida numa pizzaria, que fazia a intermediação do negócio. Provavelmente vinha da gráfica do Senado ou da Assembleia gaúcha direto para a pizzaria paulista. Visualizo uma prova colada, dentro de um plástico, sob a caixa de uma telentrega. Pague R$ 500 mil ao motoboy. Sim, porque o Sr. Luciano Rodrigues, proprietário da Donna Pizzaria & Restaurante, estava cotando a prova em R$ 500 mil. Alega que trabalhava para dois sujeitos que teriam a posse das provas. Repórteres viram a dita cuja. A piada é que, entrevistado, declarou que, se voltar a se encontrar com os dois homens, vai avisá-los de que a reportagem da Folha quer falar com eles a fim de saber como foi feito o vazamento das questões. Rodrigues afirmou que não sabe como isso aconteceu, claro.

Para finalizar este post objetivo e focado, informo-lhes que, enquanto via Renata, escrevia para o Cristóvão e pensava no Rio, chegou um e-mail do Sergio Gonçalves com um conteúdo de 1928, uma maravilha — The Lion`s Cage, de Charlie Chaplin:

Gabarito

–- Quantas sinfonias Mozart escreveu?
— 40, pois a 37 foi depois descoberta como de Michael Haydn, irmão de Franz Josef. A numeração vai até 41, mas são 40. A Sinfonia Nº 37 não existe.

— Quantas variações há nas Variações Goldberg?
— 30.

— E quantas há nas Diabelli?
— 33.

— Havia muitos Johann na família Bach. Johann Sebastian era o … (primeiro, oitavo, quadragésimo?)
— O 15º.

— Quantos e quais foram os sinfonistas que bateram as botas após a nona e não iniciaram ou completaram a décima?
— Deixa eu ver… Beethoven, Schubert, Bruckner, Spohr, Dvorak, Mahler. Acho que são 6.

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— Qual foi o primeiro livro escrito por Dostoiévski após a prisão?
— Humilhados e Ofendidos, ao menos penso que tenha sido…

— Qual é o romance de Machado de Assis que Milton Ribeiro mais ama?
— Memorial de Aires.

— Qual é o autor gaúcho que é leitura obrigatória para o vestibular da Univ. Federal do Espírito Santo?
— Dyonélio Machado (Os Ratos).

— Qual é o nome da pesquisadora que participa de um ménage à trois em 2666?
— Liz Norton.

— Qual é o romance de James onde os personagens principais mudam-se pouco a pouco dos EUA para a Inglaterra, enquanto os que estavam na Inglaterra vão para os EUA?
— The Ambassadors.

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Atualização das 9h08: ainda não olhei com muita atenção, mas acho que meu amigo Rômulo Arbo levou as putas e a Celina (que desconheço) levou o Noturno, certo?

Promoção relâmpago!

Descobri que tenho dois livros duplicados de Bolaño: Noturno do Chile e Putas Assassinas.

Ganha Noturno do Chile aquele que responder corretamente ou acertar o maior número das questões abaixo. Em caso de empate, o primeiro a comentar leva.

— Quantas sinfonias Mozart escreveu?
— Quantas variações há nas Variações Goldberg?
— E quantas há nas Diabelli?
— Havia muitos Johann na família Bach. Johann Sebastian era o … (primeiro, oitavo, quadragésimo?)
— Quantos e quais foram os sinfonistas que bateram as botas após a nona e não iniciaram ou completaram a décima?

Ganha Putas Assassinas aquele que responder corretamente ou acertar o maior número das questões abaixo. Em caso de empate, o primeiro a comentar leva.

— Qual foi o primeiro livro escrito por Dostoiévski após a prisão?
— Qual é o romance de Machado de Assis que Milton Ribeiro mais ama?
— Qual é o autor gaúcho que é leitura obrigatória para o vestibular da Univ. Federal do Espírito Santo?
— Qual é o nome da pesquisadora que participa de um ménage à trois em 2666?
— Qual é o romance de James onde os personagens principais mudam-se pouco a pouco dos EUA para a Inglaterra, enquanto os que estavam na Inglaterra vão para os EUA?

Promoção válida até as 23h59 de hoje! Neste horário, publicarei o gabarito…

Meninos têm notas melhores longe de meninas

E eu sempre soube disso. Fiz o Ensino Fundamental — na verdade fiz Primário e Ginásio — em turmas masculinas. Quando fomos para o Ensino Médio — fiz o Científico –, tivemos a invasão das mulheres. Não obstante eu ter uma vaga — em verdade, absoluta — certeza de que os melhores alunos de minha aula eram eu, Luis Carlos Galli e Luiz Carlos Bohrer, a gente ganhou-perdeu muito quando apareceram as meninas. Pois elas eram nossa principal preocupação.

Agora chega uma pesquisa neozelandesa e descobre o óbvio:

Os meninos têm notas melhores quando estudam em colégios só para meninos comparados aos que frequentam escolas mistas, onde as garotas normalmente os superam, mostrou uma pesquisa recente feita na Nova Zelândia.

O estudo, da Universidade de Otago, comparou o desempenho escolar de mais de 900 meninos e meninas no Ensino Médio de escolas mistas e separadas na Nova Zelândia. Quando os estudantes estavam em escolas separadas pelo sexo, a tendência era de que que os meninos tivessem um desempenho melhor do que o das meninas.

Em escolas mistas, no entanto, havia uma clara tendência de que as garotas superassem os meninos, em um padrão consistente pelo menos até os 25 anos. “Essas descobertas são coerentes com o argumento de que escolas separadas por gênero reduzem ou eliminam a diferença entre meninos e meninas nos resultados escolares”, disse Sheree Gibb, da equipe de pesquisas.

O estudo foi publicado pela revista Australian Journal of Education.

E, no rastro da pesquisa, aparece uma professora da minha filha Bárbara (14 anos) e sentencia: é que os meninos ficam intimidados com a presença feminina. Acho que não, hein? Minha cara e feminista mestra, estás redondamente enganada. É que passamos a pensar apenas em comê-las, em desesperadamente preservar a espécie, o que fará com que todo nosso pensamento passe antes pelos escrotos. É que todas as gracinhas, cada piadinha, conversinha e tudo o que a gente fará será apenas para agradá-las, para fazê-las rir, para quem sabe elas se comportem assim depois da aula:

Te orienta, professora! Tantas vezes, a vida fica mais verdadeira sem estes interpretaços… Ah, se as gurias admirassem minhas notas!

Vocês lembram da Boneca Assadinha?

Outra pergunta: vocês sabem quando a gente está acordando e volta a dormir? Pois bem, ontem, nesta circunstância, eu sonhei que uma mulher veio me dizer que eu era o pai de sua filha. Segundo ela — uma completa desconhecida, bem feínha — a criança tinha sido filha de um Carnaval (eu nunca pulei Carnaval, para mim ele é apenas um feriado dos bons) e da sarjeta, pois tínhamos transado num beco de Salvador. Cada vez eu achava a história mais engraçada e então fui conhecer minha nova filha. Tinha uns três anos, era loira, de olhos azuis e conseguia ser mais feia do que a mãe. Eu fui maldoso e disse que meus outros filhos, os verdadeiros, eram lindos. Ela desconheceu minha declaração, mas… A menina estava brincando com a Boneca Assadinha!

Então, eu tive que me envolver. Como ia ficar quieto se a guria embebia água quente num paninho e fazia a boneca chorar desesperadamente enquanto passava a coisa em seu púbis ultrarealista e depois a fazia rir quando passava um pano com água gelada? Começou a me dar um desespero e eu, com aquela facilidade dos sonhos, disse à mãe:

— Tudo bem, é minha filha se tu sumires. Vou dar uma educação a ela.

Aí, novamente com a facilidade dos sonhos, peguei a menina, levei para a casa e vi que ela estava toda machucada. Nada de ordem sexual, mas estava toda roxa, tinha tomado porrada mesmo. Fiquei com tanta raiva que fui ao Conselho Tutelar logo após o banho. Mostrei a menina aos conselheiros que foram buscar a mãe de camburão. Acharam-na logo, claro, era um sonho. Só que a mulher veio como louca. Parecia tomada pelo demônio, era uma Linda Blair loira: começou a bater nos conselheiros e já estava me enfiando uma faca no peito. Acordei.

Pesquisa: a Boneca Assadinha custava R$ 50,00 e era fabricada pela Cotiplás, de Laranjal Paulista (SP). Com assaduras pelo corpo, ela chorava quando recebia água quente sobre as mesmas e ria quando recebia água fria.

Até aí tudo bem. O problema é que os sensores que faziam a boneca reagir estavam localizados na região genital. A promotora da Infância e da Juventude de Panambi (RS), Caroline Mottecy de Oliveira, conseguiu proibir a venda da Assadinha em sua cidade e levou sua decisão ao resto do país.

Atraídas pelas reações da boneca, as crianças concentrariam seus atos de estímulo naquela região. Isto atrapalharia o desenvolvimento psicossexual dos pequenos. Nunca vi a boneca. na época, a psicóloga Roberta Haushahn declarou:

— A criança pode pensar que, se para uma boneca é interessante tocar na região genital, para ela ou o coleguinha também pode ser.

Mas que frases disse a psicóloga, hein? Nem vou analisar. Já a mãe de uma menina de 10 anos, achava que quanto mais as crianças conhecessem seu próprio corpo, melhor. A Cotiplás iria recorrer da decisão, mas talvez um advogado esperto tenha dito aconselhado melhor a empresa.

A mim, o nome Assadinha apenas remete a antigas e gostosas práticas comunistas. Ah, as vitelas… Afinal, sempre fui um comunista autêntico, swiftiano.

Michael Jackson é um vírus / Semelhanças

Sim, e meu antivírus já ficou todo eriçado com a possibilidade de ele penetrar em meu notebook, mesmo ele sendo um Dell púbere de mais de três anos.

Michael Jackson era um gênero de ruína moderna que nunca conseguiu me interessar. Mesmo com toda a sedução que a palavra “decadência” possui para todos os leitores, Jackson parecia estar em outro mundo, só compreendido por Liz Taylor e seus fãs. Além do embranquecimento, do nariz de múmia, das bolhas (pois ele dormiu em bolhas de vidro numa época, não?), de balançar bebês em sacadas, de comprar e perder os direitos sobre a obra dos Beatles, das acusações de pedofilia, do casamento com a filha de Elvis Presley, do seu sítio Peter Pan-like, do casamento com sua enfermeira e de um monte de loucuras, pijamas, roupas, fantasias e excentricidades, o que havia nele? Ah, também tinha sua belíssima dança e, lá atrás, bem lá atrás, talvez alguma música.

Delas só consigo lembrar de Thriller e Black or White e mesmo assim só acho legal os videoclipes. Caetano Veloso costumava cantar Billy Jean, porém, francamente, nunca entendi direito a melodia, até porque nunca ouvi o original. Sou um ET que quase só ouve eruditos — agora mesmo estou ouvindo Fasch — e jazz. Além do mais, não compreendo um negro que fica branco, alegadamente em razão do vitiligo. Aliás, toda sua figura transformada por operações, mais a roupa, o rancho e a cobertura insistente da imprensa, sempre me mostraram que Michael era um jeca enlouquecido.

O fim de Michael Jackson e o de Farrah Fawcett, aos 50 e 62 anos, não me causam nenhuma comoção, mas fico encasquetado com uma coisa: são ídolos que explodiram quando eu já tinha idade para rejeitá-los. Ou seja, são pessoas para mim muito jovens e próximas de meus 51 anos.

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Ontem, estávamos vendo As Confissões de Henry Fool e meu filho apontou semelhanças entre:

O ator James Urbaniak (figura comum nos filmes de Hal Hartley) e Dmitri Shostakovich

De novo, como contraprova:

E, em linha menos artística, Mahmoud Ahmadinejad e eu:

Para que recontar os votos, porra?

Tertúlia Virtual

Neste dia 15, o tema da Tertúlia Virtual é uma brincadeira:

“Você irá passar 10 anos numa pequena ilha deserta no Pacífico, e só poderá levar cinco coisas. Quais seriam? “.

A postagem pode apenas nomear as cinco coisas (pessoas inclusive), ou cinco imagens das coisas, ou ambos! Pensem bem, serão 10 anos. A ilha é deserta. Não tem energia elétrica, não recebe sinal de telemóvel ( celular ), TV, ou internet! Pensem bem!

Eu não levaria nenhuma pessoa porque pode ser perigoso. Tomaria alguns cuidados prévios: decoraria alguns manuais de sobrevivência em locais inóspitos, assim como quais as plantas que poderiam ser utilizadas para comer, para medicar-se, etc. Teria que aprender a fazer fogo como os caras fazem nos filmes americanos. Então, meu Manual de Sobrevivência iria instalado no cérebro. E eu levaria:

1. Uma barraca.
2. Um saco de sementes para recomeçar minha vida no Neolítico. Nego-me a ser um mero coletor paleolítico.
3. Um caniço.
4. Um saco com algumas mudas de roupas (vale, não?).
5. Uma foto da Bárbara, do Bernardo e da Elena.

Porém, tentaria enganar o Chefe da Alfândega Eduardo Lunardelli escondendo em meio às roupas algum material para escrever e o romance Doutor Fausto, de Thomas Mann, com a finalidade de minorar minha sede de leitura e música.

Ah, e em meio às sementes haveria um canivete suíço, claro. Sei que o Eduardo faria vistas grossas, ele é legal…

É tudo verdade

Ontem, passei o dia acompanhando o cerco a Yeda Crusius. Não acredito em impeachment e nem o desejo. A entrada em cena de seu vice — que sempre fez-lhe oposição — como uma espécie de salvador e reserva moral do estado teria consequências desastrosas. Em pouco mais de um ano de governo, Paulo Feijó poderia tornar-se herói e novo candidato preferencial da mídia gaúcha. Melhor deixar assim. É bonito ver a louca espernear. É bonito ver Serra preocupado com uma governadora do PSDB comprovadamente ladra.

Mas encontrei esta coisa entre meus e-mails. Trata-se de uma mui truculenta troca de e-mails entre este blogueiro e um candidato a deputado estadual carioca. É tudo verdade, nada foi alterado. Claro que vocês sabem que eu não sou do TRE gaúcho e nem meu sobrenome é Rabelo. Ah, alterei meu e-mail trocando algumas letrinhas e o nome do candidato fazendo o mesmo. Tudo começou com um spam emitido por ele.

From: cesar penha
To: [email protected]
Sent: Wednesday, September 04, 2002 11:18 AM
Subject: cesar penha

Há mais de 30 anos, desempenho um trabalho em busca da Justiça Social. Como advogado, vendo a sociedade ruir com a total falta de amparo. Empenhei-me em auxiliar aos que clamavam por ajuda. Vereador do Município do Rio de Janeiro – 88/92, fui 2º vice-presidente da Câmara Municipal. Participei de forma atuante, na elaboração da Lei Orgânica do Município. Criei projetos para dependêntes quimicos; Banheiros em praças públicas e orla marítima; Regulamentei a atividade de professor de Educação Física no Município; Doaroes de sangue não pagam inscrição para concurso público municipal; Disponibilizei vale transporte para presidentes de associação de moradores e o mais importante trabalho de minha vida, a “justiça gratuita”. Quero dar continuidade a esse trabalho e conto com seu voto. Para Deputado Estadual Dr. Cesar Penha 12 678

—– Original Message —–
From: [email protected]
To: [email protected]
Sent: Wednesday, September 04, 2002 11:20 AM
Subject: Re: cesar penha

Notei que você tem dificuldades com a língua portuguesa. Quer auxílio? Presto consultoria!

—– Original Message —–
From: [email protected]
To: [email protected]
Sent: Wednesday, September 04, 2002 12:09 PM
Subject: Re: cesar penha

Va se fuder seu merda!!

—– Original Message —–
From: [email protected]
To: [email protected]
Sent: Wednesday, September 04, 2002 1:45 PM
Subject: Re: cesar penha

Amigo.

“Vá” tem acento; e revise seu texto, ele tem 6 erros!

O mesmo para você. Milton.

—– Original Message —–
From: [email protected]
To: [email protected]
Sent: Wednesday, September 04, 2002 1:53 PM
Subject: Fw: cesar penha

Desculpe, tem 7 erros. Encontrei mais um. Você é “doutor” por ter feito um doutorado ou é apenas mais um bacharelzinho do PDT?

Milton Rabelo – TRE Porto Alegre

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Sent: Wednesday, September 04, 2002 4:04 PM
Subject: Re: cesar penha

Desde quando vc eh do TRE ??
Pensa que me assuta ??
Mais uma vez,, Vá se fuder seu MERDA !!! Bacherelzinho é a pqp!!!

Meta seus acentos e aulas no rabo !!

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Sent: Thursday, September 05, 2002 2:22 PM
Subject: RE: cesar penha

Meu caro analfabeto.

Você fez duas perguntas. Vamos a elas.

1. Trabalho na área de sistemas do TRE gaúcho. Isto significa que, se desejar, comerei seu cuzinho carioca.

2. Em sua ponderada resposta, você cometeu três erros: “Assuta” e letra maiúscula após as vírgulas. A propósito, aquelas duas vírgulas consecutivas que você acaba de inventar, significam uma pausa um pouco mais longa?
Se for o caso, sugiro a utilização de um sinal já existente em nossa gramática: o ponto e vírgula (;). E o que é “bacherelzinho”?

Milton Rabelo, sempre a seu dispor para uma aulinha.

Excesso de temas

Quando comecei meu blog, pensei que o grande desafio seria o de arranjar assuntos para escrever 3 ou 4 vezes por semana. Consequentemente, protegi-me intitulando meu blog com temas bem gerais, dos quais gostasse muito, sem esquecer de um salvador “qualquer coisa” no final. Hoje sei que isto não é problema, pois sofro é de excesso de temas. Aqueles 3 ou 4 partos semanais ameaçam precipitar-se a cada momento que venho dar uma olhada nos e-mails, tenho é que impedir a superfetação (*).

Neste momento, debato-me entre 5 temas: um post dedicado ao livro inédito do Marcos Nunes que já está metade escrito, uma descoberta notável que fiz lendo o livro O Leitor, uma crítica ultraelogiosa ao filme O casamento de Rachel, uma divulgação das assinaturas do Guión Center de Porto Alegre (ideal para publicar no feriado?) e, afinal, a revisão do último capítulo publicado de meu Monólogo Amoroso, que um dia estará finalizado, não? Ah, e hoje escrevi mentalmente uma homenagem àquelas pessoas que me convenceram que ir a restaurantes é uma bobagem, tal a qualidade dos pratos que podem produzir em casa. Talvez devesse chamá-lo de “As Mulheres que me Alimentam”. Há os homens também, mas os deixaria de fora, por enquanto. Afinal, gostei do título.

Resolvi então fazer um protesto que terá de ser medido em escala Richter na rede mundial. Não vou escrever mais nada hoje! Foda-se!

(*) Palavra pouco utilizada, né? Superfetação significa, segundo o Aurélio, “Concepção que ocorre quando, no mesmo útero, já há um feto em desenvolvimento” ou “Coisa que se acrescenta inutilmente a outra; excrescência, redundância”.