Alguns vídeos raros de Shostakovich e um nem tanto de Bernstein

Shosta finalizando com uma rapidez que hoje não se usa mais seu Concerto Nº 1 para Piano e Orquestra, também conhecido como Concerto para Piano, Trompete e Cordas.

Ou aqui.

Tocando ao piano sua Sinfinia Nº 7, Leningrado, em filme russo aos pedaços.

Ou aqui.

Um filme de Shosta fumando e caminhando na rua. Ao fundo, a décima sinfonia, acho eu.

Ou aqui.

Shostakovich acompanhando o ensaio de um de seus quartetos de cordas em 1975, ano de sua morte.

Ou aqui.

E, abaixo, Leonard Bernstein mata a pau no último movimento da quinta sinfonia. Copio aqui em razão de — porra! — este vídeo ter sido visto quase 500.000 vezes no YouTube.

Ou aqui.

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50 anos sem Villa

Hoje, completamos 50 anos sem Villa-Lobos. A Orquestra da desgovernadora programou um concerto especial. Inteiramente dedicado a Mendelssohn.

Tenho que avisar o Sovaco! Já a Rádio da UFRGS comporta-se como o esperado.

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John Cage: 4'33 em duas versões (para grande orquestra e piano solo)

Eu sei que vocês vão amar esta música. Eu prefiro a versão orquestral, mas o registro em piano é mais delicado, talvez. Bom domingo!

Ou aqui.

Ou aqui.

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O Ao Mirante… E, ah, as mulheres… A música…

Hoje acordei pensando no Nelson Moraes — nada a ver com os dois outros itens do post. Pensava no Love and death. Vocês sete leram o conto prematuro? É mais uma obra de arte de nosso blogueiro maior.

Love and death

Era um continho bem, mas bem raquítico, nascido prematuro, sem condições ainda de ser divulgado nem lido. Daí o autor tê-lo colocado na incubadora: todos os dias ele vinha visitar o conto tão mirradinho, de arcabouço frágil, situações incipientes, diálogos padecendo de disritmia e falta de fôlego — tanto que respirava por meio de aparelhos, aqueles tubos e aqueles êmbolos tão grandes e barulhentos para um continho como ele. O autor enfiava a mão na incubadora pela abertura circular e, com a luva de borracha, tocava nos dedinhos do conto, que de tão miudinhos mal conseguiam se fechar na ponta do polegar dele. O autor sussurrava, quase cantando, quase mais pensando do que falando, “Um dia você vai ser incluído na antologia do século e nós vamos rir disso tudo”. E o autor gostava de achar que os dedinhos do continho davam uma apertadinha em seu polegar. Mas lá pelo segundo ou terceiro dia, enquanto pajeava o continho, o autor percebeu as enfermeiras rindo e cochichando, atrás do vidro da sala da incubadora. Então ele, que além de arrebatado era um autor suscetível a certo tipo de crítica, foi ver que tititi era aquele – e uma das enfermeiras não demorou a soltar que corria por aí que aquele continho, sabe, podia não ser dele. Mas — ela emendou — era só boato maldoso, imagina. De gente invejosa. Falou e foi embora. O autor sentiu o chão rodar e faltar ao mesmo tempo, a garganta entalar, e depois de uns cardíacos minutos voltou até a incubadora. Enquanto o sangue lhe voltava devagar ao rosto ele observava o continho mirradinho, de olhinho fechado, dormindo. E esperou, esperou, esperou até ficar tarde, até não ter ninguém por perto – aí foi à máquina de oxigênio da incubadora e nem hesitou para desligar. O barulho parou mas não de repente. O autor apagou a luz da sala, pegou o casaco e só então lembrou que tinha guardado no bolso um pacote. Um pacote contendo uma roupagenzinha para o continho, para ser colocada assim que pudessem ir para casa. Uma roupagenzinha pequenininha, engraçadinha, do tamanhinho exato do conto e que revestiria a criaturinha de um estilo e de um acabamento que fariam as visitas dizer “é a sua cara”. O autor olhou para trás, guardando no labirinto do ouvido o seco e esticado silêncio da máquina de oxigênio, foi até a lata de lixo, jogou o pacote e saiu do hospital. Lá fora a brisa carregada de motes para histórias de amor e morte circulava sem muita pressa, com alguma melodia e um tanto assim úmida.

Obs.: se este não estiver entre Os Macacos do Museu Britânico… Não, nada, só vou ficar surpreso.

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Desejamos as mulheres fisicamente pelo que são: as corcundas pela corcunda, as burguesas pelo perfume, as putas pelo mau gosto (alguns acham bom), as gordas pelas dobrinhas, as magras pelos ossos e saboneteira, as sardentas pelo braile, as bonitas porque são bonitas, as caolhas pelo olho sempre a boiar (ou pelo que agita) e as comuns porque a gente olha, olha, olha e encontra a beleza. Sonhamos invadir suas existências sem maiores delongas e, eventualmente, aspiramos a uma retirada com a mesma velocidade. Em algumas, viciamos; às vezes incorremos no grave erro de casar com elas. Um cantinho confortável, macio e quente em suas companhias é tudo o que desejamos.

Desejamos as mulheres abstratamente pelo que são: as moralistas pela virtude, as militantes pela militância, as alegres pela risada, as tensas pelo nervosismo, as choronas pelas lágrimas, as neuróticas pela loucura, as zangadas para provocá-las (sou bom nisso), as espevitadas por derrubarem tudo, as delicadas pelas promessas, as imprevisíveis pelas surpresas e as inteligentes por evitarem discutir a relação quando estamos cansados. Sonhamos com surpresas e telefonemas em horários estapafúrdios. Algumas pedem-nos explicações sobre conceitos fundamentais, como o futebol. Uma mesa de canto, um Bailey`s pós-prandial e suas vozes é tudo o que desejamos.

Tal como Truffaut, alguns de nós amam as mulheres.

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Ontem, um dia produtivo (e cansativo) de trabalho; a companhia de dois livros, um de Bolaño, outro de Stanišić; o Concerto Nº 3 para Piano e Orquestra de Béla Bartók nos ouvidos, este computador ligado. Terminado Bartók, para manter o padrão, fiz Bruno Cocset atacar a Suíte nº 6 para cello solo daquele cara. E agora, de manhã, Stravinski. Vida miserável.

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Verdade

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Telemann: Abertura Alster

Procurava algo sobre a Suite Alster. Acabei encontrando uma das gravações que tenho, acompanhada de lindas imagens do carnaval de Hamburgo. O autor do vídeo selecionou quatro movimentos da Abertura (ou Suíte): o animado 2º movimento, o lento 3º, a dança folclórica do 4º e o muitíssimo jocoso 5º, meu preferido.

A orquestra é a esplêndida Akademie für Alte Musik Berlin e espero que som de seu micro seja bom, porque isto aqui tem de ser ouvido em volume bem alto. Sugiro tela grande também!

Ou aqui.

Bom domingo a todos!

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Glenn Gould no Quinteto para Piano Op. 57 de Shostakovich

Como diz o colega P.Q.P. Bach, é a música perfeita, irresistível. O 1º, 3º e 5º movimentos são curtos e rápidos, o 2º e 4º são longos e lentos. O prelúdio inicial estabelece três estilos distintos que voltarão a ser explorados adiante: um dramático, outro neo-clássico e o terceiro lírico. Todos os temas que serão ouvidos nos movimentos seguintes apresentam-se no prelúdio em forma embrionária. Segue-se uma rigorosa fuga puxada pelo primeiro violino e demais cordas até chegar ao piano. Sua melodia belíssima e lírica que é seguida por um scherzo frenético. É um choque a chegada de um intermezzo que traz de volta a seriedade à música. Apesar do título, este intermezzo é o momento mais sombrio do quinteto. O Finale, cujo início parece uma improvisação pura do pianista, fará uma recapitulação condensada do prelúdio inicial. O Quinteto para piano recebeu vários prêmios que não vale a pena referir aqui, mas o mais importante para Shostakovich foi a admiração que Béla Bartók dedicou a ele.

Os vídeos a seguir tiveram que ser montados… Encontrei os dois primeiros movimentos e o último com Glenn Gould. Ficaram faltando o terceiro e o quarto. O terceiro (Scherzo) que encontrei é certamente um bis de um concerto de super-estrelas. O time é formado por nada menos do que Martha Argerich, Misha Maisky, Joshua Bell, Henning Kraggerud e Yuri Bashmet. E o quarto movimento foi encontrado no registro de um concerto realizado na Universidade de Vermont, se não me engano. É uma colcha de retalhos, mas é perfeitamente possível ouvir a grandiosidade do Quinteto para Piano de Shosta.

Ou aqui.

Symphonia Quartet; Glenn Gould, piano.

Ou aqui.

Symphonia Quartet; Glenn Gould, piano.

Ou aqui.

Joshua Bell (violin), Henning Kraggerud (violin), Yuri Bashmet (viola), Mischa Maisky (cello), Martha Argerich (piano).

Ou aqui.

David Lamse and Rebecca Dorcy, Violins; Paul Roby, Viola; Kvork Parsamian, Cello; Barbara Podgurski, Piano.

Ou aqui.

Symphonia Quartet; Glenn Gould, piano.

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Outra conversa

Como qualquer humano, Guinga rende mais quando em companhia estimulante (aqui, item 4). O show de ontem, no belo Teatro do CIEE, que não conhecia, não foi algo de emocionar, mas teve arrebatadora perfeição técnica — sim, isso existe e é outro gênero de emoção. Não fosse o pedal do pé esquerdo do baterista emitir um miado de quem está precisando de um Jimo Penetril ou outro desengripante, teria sido perfeito. O quarteto de Zé Nogueira e o próprio foram impecáveis, o que é sua melhor qualidade e seu maior defeito. É óbvio que qualquer qualidade torna-se defeito quando utilizada ao paroxismo — inclusive quando esta é a discrição e a elegância — , ainda mais se considerarmos que o low profile não combina com absolutamente todas as músicas de Guinga apresentadas. Houve uma ou duas para as quais faltou um pouquinho de sujeira. Nada grave ou que não possa ser corrigido facilmente.

Graças ao pré-sal, o show custou R$ 10,00 e faz parte da série Circular BR 2009. Amanhã, esta turma estará no Teatro Paiol, em Curitiba. (O baixista Jorge Helder é o máximo e, por favor, cuidem o pé esquerdo do baterista. Se fizer um rangido, desengripem-no!).

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Bienal do Mercosul 2009 – Artes Plásticas é (ou são) assunto perigoso…

Fiz o passeio pela Bienal 2009 e… bem, o que dizer? Poderia me defender explicando que sou daltônico, porém Van Gogh também era e digamos que ele entendia da coisa. Outra consideração é que o que vi nada tem a ver com cor. E que há muitos, mas muitos filmes circulares e sem graça passando em salas jeitosinhas. Já me irritei muito com alguns artistas, e desta vez tomei a postura profilática de ir preparado para não me preocupar e amar a bomba. Pois não posso falar demais; afinal, acompanho de longe, muito longe, a produção de artes plásticas, sou um sujeito que lê menos do que gostaria e que passa 6 horas por dia ouvindo música erudita — agora ouço as Sonatas para Violino Solo , Op. 27 de Eugene Ysaÿe, fato que faço questão de ressaltar porque é música erudita razoavelmente moderna e da mais alta qualidade, o que provaria que ao menos meus ouvidos são contemporâneos pra caralho.

Chegando à Bienal, fiquei um tanto temeroso ao ver as pessoas que saíam dos armazens do cais do porto. Estavam apressadas e um tanto arregaladas, o que me fez pensar no que significaria aquele pasmo. Ou viram maravilhas ou tinham sofrido um esmagamento estético.

Então, iniciei minha racionalização. Tenho 52 anos, mas vou olhar para tudo com olhos inexperientes. Tinha que me desarmar a fim de não me tornar afirmativamente idiota (ver segunda réplica). Quando entrei, já tinha 16. É um fato indiscutível, apesar de surpreendente: eu já tive 16 anos.

(Sim, em 1973, havia muita novidade para ser julgada, talvez mais do que hoje. Pensem que o Pink Floyd estava lançando Dark Side e que eu era roqueiro, Picasso morrera em abril – estou em novembro de daquele ano -, Pinochet matara Allende há dois meses, a guerra do Vietname recém acabara, o grupo que mais vendia discos – LPs! – era o Led Zeppelin, a ditadura estava no ar, líamos Quarup de Antônio Callado (ainda acho que é excelente livro), Dali fazia declarações de amor a Franco, JL Borges estava alive and kicking (mais alive do que kicking), havia um jornalzinho chamado O Pasquim, etc. Não pense que cito isto para dizer que minha juventude foi melhor que a de hoje. É que os mortos ou finalizados têm uma aura meio fabulosa. Se Maurizio Pollini já tivesse morrido talvez já fosse o maior dos pianistas, como não morreu ainda, temos que aguentar as discussões).

Outra surpresa: viram?, eu lembro muito bem como era.

E outra: por um mecanismo que não conseguiria explicar, mas do qual tenho convicção epitelial, digo que a maioria de nós é mais preconceituosa nesta idade do que depois. Naquela época, eu andava de lá para cá com meus adesivos, tentando colar rótulos em coisas e pessoas. Depois, a gente desiste pois cada rótulo está associado a um contexto e o quem é revolucionário aqui é bombeiro ali e vice-versa.

Feliz ou infelizmente, a arte, mesmo a literatura, está virando coisa de especialista. Precisa de manual de instruções, como Stanley Kubrick defendeu uma vez. Ele achava que ficar pensando cinco anos sobre um filme para depois as pessoas darem-se conta de apenas 10% do que estava sendo mostrado era desmotivador. E ele nem conheceu Chico Fireman.

Hummm… Vamos direto às conclusões: achei fraquíssima a Bienal. Não entendi as charadas? Certamente não!

Edward Said escreveu que não existe mais a possibilidade de um discurso comum porque, em primeiro lugar, nossa formação é extremamente especializada e, depois, porque todo o aparato financeiro está voltado para a fragmentação do conhecimento. È vero. Então, a cultura parece que começa a dialogar apenas com seu meio de uma forma tão esquizofrênica que nenhum Led Zeppelin atual cheio de novidades poderá superar as vendas da Shakira bonitinha, chatinha e sem maiores novidades do que um bom traseiro. Este hipotético Led formará apenas um consideráravel círculo de iniciados assim como o Radiohead ou David Lynch possuem. E este será seu máximo. O mundo todo parece desejar fazer de Roberto Bolaño um cânone (inclusive eu) , mas acho que será um cânone de pouquíssimos leitores compreensivos.

Agora, reduza os parâmetros até a pequena literatura brasileira ou às pequenas artes plásticas que chegam à pequena e provinciana Porto Alegre.

É horrível de dizer mas o público comum ou o “povo” — ainda mais o nosso — está cada vez mais longe de entender algo um pouco mais complexo ou especializado. Os romances mais lidos têm a mesma estrutura dos de Balzac. A música mais ouvida é mais simples que a dos Beatles. A música erudita moderna é ainda um desafio para a maioria dos apaixonados por música erudita – e veja bem que neste caso já estamos na fatia mínima da fatia mínima. Então, para alguém ser tocado significativamente por uma obra de arte, há que ter conhecimento de uma rede cada vez mais intrincada de referências às quais poucos têm acesso.

Em resumo, creio que daqui há poucos anos, cada vez menos pessoas saberão que os méritos do primeiro movimento da Sonata Nº 2 de Ysaÿe estão no fato do autor ter realizado uma brilhante “desconstrução” de uma Sonata de Bach para o mesmo instrumento solo. Se o ouvinte não tiver isto em mente, babaus, pois apenas alguém com um referencial rico poderá entender e fruir. Quem não tiver, ou ficará quieto ou ficará feito um bobo criticando a estupidez daquilo que lhe é e sempre será irremediavelmente alheio.

É algo de nosso tempo, acho.

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Telemann – Chacone do Quarteto Parisiense N° 12 com Il Giardino Armonico

Fiquei felicíssimo ao encontrar esta Chacone no YouTube. Eu a conhecia em versões mais rápidas, porém o grupo de Giovanni Antonini talvez tenha encontrado uma das formas mais bonitas de interpretá-la. Outro motivo de contentamento íntimo é o fato de este movimento — simples, obscuro, escondido lá no meio dos quartetos de Telemann — ser uma antiga preferência deste blogueiro. Tinha a fantasia de que era uma pequena jóia da qual pouquíssimos tinham conhecimento. Ontem, a fantasia foi desfeita pelo Giardino Armonico, que a usou num de seus vídeos promocionais. Bobagem, né? Mas fico todo orgulhoso nesta época de pequenas tragédias pessoais.

Ou aqui.

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Bebê e Christina Kirchner

Enquanto o jornalista Sergio Leo segue fazendo a alegria deste blog, ao desovar aos poucos o tesouro da homenagem que Hamilton de Holanda fez ao velho bruxo em Brasília — Hamilton, cuja lembrança de uma apresentação num bar em Parati não me sai da memória –, o Senado argentino aprova definitivamente a reforma do audiovisual, destinada a lutar contra os monopólios das comunicações. A reforma, que certamente interessa muito a Sergio — cuja opinião a respeito desconheço — , é apoiada pelos sindicatos de jornalistas, mas é apresentada pela oposição e pelos grandes grupos de mídia como uma tentativa do Executivo de controlar a imprensa. Algo perigosamente meio chavista, sacumé.

Para acabar com os monopólios, o projeto impediu uma mesma empresa de possuir um canal aberto e um canal a cabo na mesma região. Os grupos afetados terão um ano para se desfazer de um ou de outro canal.

Esta reforma também foi criticada pela Sociedade interamericana de imprensa (SIP), que reune os maiores grupos de mídia latino-americanos, mas ela recebeu, em contrapartida, o apoio do enviado especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a proteção e a promoção da liberdade de opinião e de expressão, o guatemalteco Frank La Rue.

A oposição considerou também que o novo organismo de regulação dos meios de comunicação, compostos por sete membros (dois nomeados pelo poder executivo, três pelo Congresso e dois pelas organizações profissionais), não será autônomo o suficiente em relação ao governo. Eu gostei. A ideia seria a democratização da imprensa, com o desmantelamento do PIG de lá (leia-se Clarín). A oposição e as empresas jornalísticas rebatem dizendo que a nova norma vai dar mais poder ao governo.

Como este blogueiro está em ritmo e preguiça de feriado, tanto assim que grande parte do que “escrevi” acima foi copiado daqui com alterações, faço meu foco sobre o convite que Sergio Leo me fez ontem:

E ó, fim do mês passo por POA a caminho de Passo Fundo. Planejei um vinho com um tal Milton Ribeiro, espero não me frustrar… (-;

Vinho com Sergio Leo? ¿Como no? Com vocês, Bebê:

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Sergio Leo filma Hermeto, Hamilton de Holanda, etc. & Cláudio Costa — crasso psiquiatra — expõe terrível fratura

Se você não considera Hermeto o maior músico e compositor do país, eu espero ao menos que você goze de boa saúde em outras áreas. Este é um show em Brasília que registra Chorinho pra ele, gravado pelo jornalista Sergio Leo, sem acento nem assento mas com parcos recursos. Uma maravilha. Maiores detalhes neste post que contém esta pérola de Pernambuco do Pandeiro:

Você tem de bater com a ponta dos dedos, não dar tapa como esse pessoal faz.

E Sergio Leo completa: Grande lição de vida.

Enquanto isso, desde BH, Cláudio Costa nos apresenta um grave problema que ocorre também aqui em casa: eu sou colorado, ela é gremista. Mas como lá é Belo Horizonte… Observem a cara de Vander Lee ao terminar a canção… Letra completa abaixo. Tudo roubado, ¿como no?

Galo e Cruzeiro
Vander Lee
Composição: Vander Lee

Minha Preta não fala comigo
desde primeiro de janeiro
Ela me deu a mala eu fui dormir na sala,
fiquei sem dinheiro
Não tem mais feijoada, nem vaca atolada,
rabada ou tropeiro
Já fez greve de cama diz que não me ama,
quebrou meu pandeiro

Na hora do cruzamento, ela deu impedimento
ou falta no goleiro
Pra aumentar meu tormento, meu irmão,
eu sou Galo e ela é Cruzeiro
Com o gol anulado, saí do gramado,
voltei pro chuveiro
Isso tudo porque, meu irmão,
eu sou Galo e ela é Cruzeiro

Caí de centro-avante, pra médio-volante,
agora sou zagueiro
No último domingo ela foi jogar bingo
e eu fiquei de copeiro
Ela fala, eu me calo, ela canta de galo
lá no meu terreiro
Ela apita esse jogo, ela é quem bota fogo
no nosso palheiro

Ela finge que não, mas no seu coração
ainda sou artilheiro
Só faz isso porque, meu irmão,
eu sou Galo e ela é Cruzeiro
Ela finge que não, mas no seu coração
ainda sou artilheiro
Só faz isso porque, meu irmão,
eu sou Galo e ela é Cruzeiro

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Richard Wagner e o Nazismo

Uma mente madura deve ser capaz de admitir a coexistência de dois fatos contraditórios: que Wagner foi um grande artista e, segundo, que Wagner foi um ser humano abominável.

Edward Said

Você talvez pense que, se a música é algo impalpável e transitório — se, como disse Busoni, “é apenas ar sonoro” –, não haveria grande espaço para a ideologia ou o nacionalismo nela. Mesmo no terreno da ópera, com a necessidade de se contar uma história, fazer “poesia”, ser teatro e música ao mesmo tempo, seria complicado estabelecer teses. Pois é, você só pensará assim se ignorar compositores como Shostakovich, que consegue comunicar “intenções” e protestos sem palavras. No caso de Wagner, há Wagner e Wagner, o autor e o homem. Inteligentemente, ele deixou quaisquer referências diretas aos judeus fora de sua música. Aliás, é um curioso mecanismo de ocultamento (ou culpa) este que faz alguns autores escreverem pequenos ensaios como Das Judentum in der Musik (O Judaísmo na Música, de 1850), mas deixarem sua obra maior livre destas delicadas referências seculares… Também Céline, Hamsun e Pound não entremearam sua obra com referências anti-semitas ou nazistas, deixando essas coisas para os panfletos e jornais. O fato é que Wagner foi trazido pelo próprio Hitler ao centro da discussão, tornando-o o maior dos anti-semitas, postura que está longe de ser um privilégio exclusivo. Em Das Judentum in der Musik ele vai longe e como! Primeiro, ataca a influência dos judeus na música e cultura alemãs, descreve os judeus como ex-canibais de fato e agora canibais das finanças. Logo após afirma que são de natureza muito pouco profunda, acusa-os de corruptores da língua alemã e ataca Meyerbeer e Mendelssohn, compositores judeus que considerava inimigos… Em uma carta para Lizst, Wagner confessa que “Sinto um ódio, por muito tempo reprimido, contra os judeus e esta luta é tão necessária à minha natureza como meu sangue… Quero que deixem de ser nossos amos. Afinal, não são nossos príncipes, mas nossos banqueiros e filisteus…”.

Embora não haja referências anti-semitas em suas óperas, é bastante claro o significado da existência de Beckmesser em Os Mestres Cantores de Nurenberg e de Mime no Anel. São associações muito claras e ao final ambos são derrotados. Uma mesma canção interpretada por Beckmesser nos Mestres Cantores causa riso e rejeição, enquanto que a interpretação de Stolzing dá vida à música… E o discurso de Hans Sachs ao final da mesma ópera traz uma apologia da santa arte alemã, alertando para os perigos que vêm de fora. Mime estranhamente se declara hipócrita, pois esconde “pensamentos íntimos”, mas o pior é a parentesco de sua conduta — Mime, seu nome, mímesis em grego, significa imitação) — com a descrição dos judeus em O Judaísmo na Música, acrescida pelo fato de Wagner obrigar o personagem a registros altíssimos e a cantar em intervalos semelhantes aos de um pássaro – um corvo, uma gralha –, reservando-lhe ao final uma morte brutal sob a espada de Siegfried.

Grande admirador de Wagner, Gustav Mahler escreveu:

No doubt with Mime, Wagner intended to ridicule the Jews with all their characteristic traits — petty intelligence and greed — the jargon is texually and musically so cleverly suggested; but for God’s sake it must not be exaggerated and overdone as Julius Spielmann does it… I know of only one Mime and that is myself… you wouldn’t believe what there is in that part, nor what I could make of it.

Ora, tais coisas, quando em contato com quem necessita de justificativas para seus ódios… só pode criar uma idolatria. Não por acaso, caíram na mão de um certo Adolf Hitler. Ele ia com freqüência assistir às óperas de Wagner e orgulhava-se de ter lido tudo o que dele havia. Era amigo dos netos do compositor — fez-se fotografar inúmeras vezes com eles — e visitava Bayreuth mesmo durante os anos de guerra. Em 1923, foi conhecer a viúva de Wagner, Cosima. Ou seja, fazia absoluta questão de ligar-se ao compositor. Claro que o nazismo não é uma conseqüência direta disto, mas é indiscutível que Wagner influenciou a sociedade alemã com suas sagas nórdicas — tão ao gosto do nazismo –, sua pompa e anti-semitismo. Imaginem que Hitler era tão influenciado que tornou-se vegetariano… por causa e tal como o compositor!

Agora, há grandes méritos em Wagner. Foi compositor, regente, libretista, ensaísta, político (principalmente no sentido de que era suscetível a alterar suas posições subitamente, era um casuísta), polemista, amigo e referência de toda a intelectualidade alemã da época, entendido em acústica, publicitário dos bons, e era quase tudo o que você imaginar. Sem dúvidas, era um gênio. Construiu em Bayreuth um teatro revolucionário que até hoje é o melhor para suas óperas serem apresentadas, devido ao grande palco e ao fato da posição da orquestra ficar sob o mesmo, no chamado Abismo Místico (mystischer Abgrund), o qual produz um som absolutamente espetacular, escondendo inteiramente a orquestra dos espectadores — pois Wagner queria atenção absoluta ao palco — e permitindo que a orquestra abuse dos fortíssimo porque, por misteriosa ciência acústica, a posição da orquestra garante que tudo será ouvido clara e perfeitamente pelos espectadores da ópera (os fortíssimos serão suportáveis e não irão impedir que se ouçam ao mesmo tempo os instrumentos capazes de menos decibéis), apesar dos músicos sofrerem com o calor do aposento. A acústica do teatro está mais para o milagre do que para qualquer outra coisa.

Sua imaginação melódica e suas texturas harmônicas são de um refinamento ao qual é impossível associar imagens como, por exemplo, as dos assassinatos em massa. Há um enorme descompasso quando Goebbels utiliza sua música na propaganda nazista. Na verdade, é uma música revolucionária destinada a entendidos. Mas Goebbels se interessa pelo autor de O Judaísmo na Música, a música de um nacionalista que odiava os judeus, porém apenas algumas aberturas e a tal Cavalgada das Valquírias serviam aos propósitos propagandistas do regime e não suas vastas e complexas óperas que, em seu contexto, fizeram a efetiva ligação entre a música dó século XIX e a moderna. Sua música sempre aparece descontextualizada sob o nazismo e eu imagino o que não sofriam os nazistas que faziam a peregrinação anual à Bayreuth para assistir por horas e horas óperas destinadas a uma elite intelectual… Só que eles tinham que gostar, não? Na opinião do chefe, era a expressão de uma superioridade.

Eu leio Céline — um dos maiores romancistas que conheço — e abomino seu lado B; também leio Pound e gosto de Dali, um admirador de Franco. Por que não ouviria Wagner? É ilógico, mas confesso que o evito. Sinto como se houvesse muito de demasiado na personalidade de Wagner e isto invade a esfera artística de tal modo que é dificílimo ouvi-lo (não há erro na expressão “muito de demasiado”). Ele queria tudo: a obra de arte total, a criação de uma nova música, o teatro ideal para ela, procurava a maior controvérsia, escrevia panfletos, fazia tudo para aparecer e era tudo para si. É demais para mim saber de tudo isso, mesmo não ignorando seus indiscutíveis e tão audíveis méritos. Para vocês terem uma idéia, a cena em estética nazista do filme Apocalipse Now – a dos helipcópteros bombardeando os surfistas tendo a Cavalgada como fundo – provoca-me náusea… E nem sou judeu! É irracional, mas é assim. Defendo-me com o auxílio de Thomas Mann que denunciou o substrato racista das obras de Wagner sob aquelas confusas sagas nórdicas, das quais também não gosto nem um pouco, mas sei que é isso é apenas colocar uma grife numa rejeição para a qual não encontro explicação. Por que posso preterir o grande Richard Wagner e não o não menos enorme Louis-Ferdinand Céline? Sei lá.

Então, meu caro Said, eu não devo ter uma mente madura.

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A aula do professor Kretzschmar, por András Schiff

Verbalmente menos brilhante do que o professor do imortal oitavo capítulo de Doutor Fausto de Thomas Mann, o pianista András Schiff tenta explicar as variações do segundo movimento da Sonata Op. 111. Sim, Schiff, a terceira variação é quase um jazz. Boogie-woogie não, de cheito nenhum. A masterclass está incompleta, claro, mas ele demonstra em seis minutos as variações. É muito bonito.

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Todas as filas a fila

1. Dizem que o OPS trocará de servidor neste fim de semana. Estaremos certamente parados por algumas horas antes que paremos por completo.

2. Ontem foi o dia de instalar programas. Troquei meu velho notebook por um desktop bem mais parrudo. Queria trocar de notebook, mas digamos que era mais “fácil” comprar uma configuração com mais disco e memória se voltasse ao velho desktop. Sem problemas. Por conta da confusão, perdi de acompanhar a formação de mais um belo grupo de comentários, mas era necessário: os 40 GB e o XP ainda original — nunca reinstalado — do meu velho Dell Latitude mereciam aposentadoria. Ele se pagou, foram quatro anos de trabalho intenso. Hoje ele vai se assustar por não ter sido ligado. Talvez ele sirva para viagens. É incrível como consigo não estragar minhas coisas, mas a fila tem de andar.

3. Ontem também foi o dia de conversar com as assistentes sociais que acompanham o cumprimento de minha pena. Elas me pediram um tempo antes de fazerem a provável (certa) transferência. Fiquei tão indignado com aqueles acontecimentos que fiz questão de agregar a meu processo um texto que não era outro senão o post linkado acima. Elas ficaram tão pasmas com o acontecimento quanto eu, ou ao menos fingiram muito bem. Fui claro, disse que considereva-me ofendido. Querem contatar a instituição, o juiz, o escambau. Só espero que não lembrem de direcionar as consequências para meu combalido ânus. Chega, né? Querem saber?, temo muito passar de vítima a vilão.

4. À noite, fui ao show do Guinga, do baixista Max Robert e da cantora Marcê Porena no Teatro São Pedro. A desproporção entre o que toca e compõe Guinga em relação a Max Robert é acachapante. Não sei o motivo de se apresentarem juntos. Já está mais do que na hora de Guinga, 59 anos, assumir-se como chefe e fazer-se acompanhar de um pequeno grupo e de uma cantora ou cantor eficiente. Esse negócio de ficar longos minutos — tempo emocional — suportando composições e interpretações de segunda categoria à espera de alguns minutinhos — tempo emocional — do grande violonista e dentista Guinga, é como ir ver um show de Chico Buarque e ele convidar Joana para cantar por uns 45 minutinhos.

5. Há gente louca para tudo. Tanto que uma pequena e simpaticíssima editora me convidou para publicar O Monólogo Amoroso com eles. Teria que finalizar, né?

6. Vou tentar produzir algo futebolístico para o Impedimento hoje. Há algum tempo comecei uma série chamada “A ascensão e a ascensão dos negociantes”. Burramente, parei no segundo ou terceiro capítulo. Pior, deixei de fazer anotações. A tese será baseada no Inter, mas serve para todos. O Internacional é hoje um balcão de negócios, porém a estrutura comercial não consegue criar resultados, apenas lucro, egos e esperanças de contratos no exterior para os jogadores. Tudo o que chega ao Inter, excetuando-se Guiñazu e Clemer, tem o imediato horizonte da venda. Os caras são tão bons nisso que até Magrão conseguiu ser negociado, mesmo que tivesse se arrastado por meses em campo. Bastou duas boas partidas e tchau. O técnico Tite há que ser compreendido. Ele esta lá não para fazer futebol, mas para fazer a fila de vendas andar. Então, só joga quem estiver na hora de ser vendido. Se fosse investidor, acho que gostaria deste “técnico”. Quem sabe o Inter passa a informar a torcida sobre os balancetes? A gente torceria por eles, mas sempre haveria um chato para contestar as comissões…

7. Ah, e acho que está na hora de tratar disso. Afinal, nove entre dez conselheiros independentes sabem que o Beira-Rio tem de ser derrubado para a Copa. Não há conserto. É sucata. E, olha, a questão é muito séria. Há um grupo de pessoas que estão esperando o time melhorar para denunciar a verdade. Só que o time não lhes dá a mínima chance. Em tempo: acho ridícula toda esta movimentação para vermos dois ou três jogos da Copa na cidade. Já pensaram se nos couber Gana x EUA, Equador x Japão, Arábia Saudita x Bélgica?

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Goodbye Pork Pie Hat, de Charlie Mingus, com letra de e interpretado por Joni Mitchell (e mais)

Dica do Vinicius (sem acento).

Ou aqui. Um show bobinho de 1980 com Jaco Pastorius, Pat Metheny, Michael Brecker… Uf! Logo abaixo, repetida, a lindíssima letra escrita por Joni. E, lá embaixo, como extra, coloco o célebre solo de Pastorius que seguia Pork Pie no show.

Goodbye Pork Pie Hat

When Charlie speaks of Lester
You know someone great has gone
The sweetest swinging music man
Had a Porkie Pig hat on
A bright star
In a dark age
When the bandstands had a thousand ways
Of refusing a black man admission
Black musician
In those days they put him in an
Underdog position
Cellars and chittlins’

When Lester took him a wife
Arm and arm went black and white
And some saw red
And drove them from their hotel bed
Love is never easy
It’s short of the hope we have for happiness
Bright and sweet
Love is never easy street!
Now we are black and white
Embracing out in the lunatic New York night
It’s very unlikely we’ll be driven out of town
Or be hung in a tree
That’s unlikely!

Tonight these crowds
Are happy and loud
Children are up dancing in the streets
In the sticky middle of the night
Summer serenade
Of taxi horns and fun arcades
Where right or wrong
Under neon
Every feeling goes on!
For you and me
The sidewalk is a history book
And a circus
Dangerous clowns
Balancing dreadful and wonderful perceptions
They have been handed
Day by day
Generations on down

We came up from the subway
On the music midnight makes
To Charlie’s bass and Lester’s saxophone
In taxi horns and brakes
Now Charlie’s down in Mexico
With the healers
So the sidewalk leads us with music
To two little dancers
Dancing outside a black bar
There’s a sign up on the awning
It says “Pork Pie Hat Bar”
And there’s black babies dancing…
Tonight!

Ou aqui.

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Charles Mingus – Goodbye Pork Pie Hat

Sugestão de meu filho Bernardo, novamente. Aquele Marsalis de três domingos atrás também foi sugestão dele.

Ao vivo no Festival de Jazz de Montreux de 1975: Charles Mingus [baixo] Don Pullen [piano] George Adams [sax] Gerry Mulligan [sax barítono] Benny Bailey [trompete] Danny Richmond [bateria]. Falta o nome de um dos músicos, penso.

Atualização de segunda-feira, 7h42: Não falta mais: é Jack Walrath [trompete]. Obrigado, Vinicius (sem acento).

Ou aqui.

Logo após a morte de Mingus, Joni Mitchell lançou o espetacular disco Mingus, onde punha letras e interpretava “canções” de Charlie Mingus. Aqui está a bela letra que recebeu Goodbye Pork Pie Hat, escrita pelo baixista em homenagem a Lester Young.

Goodbye Pork Pie Hat

When Charlie speaks of Lester
You know someone great has gone
The sweetest swinging music man
Had a Porkie Pig hat on
A bright star
In a dark age
When the bandstands had a thousand ways
Of refusing a black man admission
Black musician
In those days they put him in an
Underdog position
Cellars and chittlins’

When Lester took him a wife
Arm and arm went black and white
And some saw red
And drove them from their hotel bed
Love is never easy
It’s short of the hope we have for happiness
Bright and sweet
Love is never easy street!
Now we are black and white
Embracing out in the lunatic New York night
It’s very unlikely we’ll be driven out of town
Or be hung in a tree
That’s unlikely!

Tonight these crowds
Are happy and loud
Children are up dancing in the streets
In the sticky middle of the night
Summer serenade
Of taxi horns and fun arcades
Where right or wrong
Under neon
Every feeling goes on!
For you and me
The sidewalk is a history book
And a circus
Dangerous clowns
Balancing dreadful and wonderful perceptions
They have been handed
Day by day
Generations on down

We came up from the subway
On the music midnight makes
To Charlie’s bass and Lester’s saxophone
In taxi horns and brakes
Now Charlie’s down in Mexico
With the healers
So the sidewalk leads us with music
To two little dancers
Dancing outside a black bar
There’s a sign up on the awning
It says “Pork Pie Hat Bar”
And there’s black babies dancing…
Tonight!

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Gustav Mahler – Sinfonia Nº 2 "Ressurreição" – 3º Movimento: Scherzo

Antes de assumir a Filarmônica de Berlim, Simon Rattle permaneceu 18 anos regendo a lendária CBSO (City of Birmingham Symphony Orchestra). Abaixo, um argumento de Rattle para assumir Berlim: em dois filmes, o Scherzo da Ressurreição, uma das mais belas músicas há inventadas pelo homem.

(ou aqui) e

ou aqui.

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Danzón N°2 de Arturo Márquez com Gustavo Dudamel e a Orquestra Jovem da Venezuela

Dedicado a Astrid Muller

Hoje, apresento o esplêndido e célebre Danzón Nº 2 do mexicano Márquez (1950) na interpretação do dinheiro público bem empregado da Venezuela do demônio Chávez. Não deixem de ver e ouvir. Vale a pena. A careta de bom humor que Dudamel faz para a orquestra ali pelos 7min25 é a própria “metais em brasa, violinos ardentes”.

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Anotações sobre Johannes Brahms (Quarteto Op. 26) e Astor Piazzolla (Libertango)

Johannes Brahms (1833-1897): pequena biografia e Quarteto para Piano, Op. 26

Este Trio Nº 1, Op. 8, é uma comprovação de que Brahms nasceu pronto. É obra de um jovem compositor maduro. Como se não bastasse o trocadilho infame que o nome Brahms sugere a nós, brasileiros, ele era filho de um contrabaixista de Hamburgo que tocava em cervejarias… E, a partir dos dez anos de idade, o pequeno Johannes passou a trabalhar como pianista com seu pai, nas tabernas. Não sabemos se estas atividades foram nocivas à saúde do menino, sabemos apenas que ele, mais tarde, fez bom uso de seu conhecimento sobre o repertório popular alemão. Brahms teve apenas dois professores, ambos durante a infância e adolescência. Ainda muito jovem, ficou pronto para compor após estudar Bach, Mozart e Beethoven.

Começou a compor cedo e, antes de completar 20 anos, seu Scherzo opus 4 já tinha entusiasmado e revelado afinidades com Schumann, a quem Brahms ainda desconhecia. Foi visitar Schumann e então os fatos são mais conhecidos: primeiro, Schumann escreve em seu diário “Visita de Brahms, um gênio!”, depois publica artigo altamente elogioso ao compositor, fazendo com que o jovem Brahms tivesse a melhor publicidade que um artista pudesse desejar. Schumann o considerava um filho espiritual e a esposa de Schumann, Clara, chamava-o de seu “deus loiro”. Muitas hipóteses são possíveis sobre a relação entre Clara e Brahms, mas só uma coisa é certa: eles destruíram a maior parte das cartas que dizia respeito a ela. Porém, a versão de que houve um forte componente amoroso na relação entre os dois dá margem a muitas conjeturas e ficções.

O Quarteto para Piano é uma formação que envolve um piano e três outros instrumentos. Durante o período clássico, usualmente os outros instrumentos eram um trio de cordas – violino, viola e violoncelo. Para esta formação, Mozart, Schumann, Brahms, Mendelssohn, Schubert, Dvorak, Berwald e Fauré, entre outros, escreveram obras. Mais modernamente, Mahler e Messiaen utilizaram a mesma formação, sendo que o Quarteto para o Fim dos Tempos de Messiaen envolve piano, violino, cello e um clarinete em lugar da viola.

Brahms compôs três quartetos para piano. Curiosamente, o último foi o primeiro a ser escrito, nos anos de 1855-1856, quando o compositor tinha 22-23 anos e estava hospedado na casa dos Schumann. Só que ele foi revisado e estreado apenas trinta anos depois, em 1875. O segundo a ser escrito e primeiro a ser estreado é o que recebeu o Nº1, Op. 25 (escrito em 1861 – Brahms com 28 anos) e o terceiro é o Nº 2, Op. 26 (1862 – Brahms com 29 anos).

Foi um compositor originalíssimo. Suas obras representam uma tentativa única de fusão entre a expressividade romântica e as preocupações formais clássicas. O resultado é uma música de grande densidade e intensidade. Foi, em sua época, adotado pelos conservadores. Ele colaborou bastante com esta adoção ao assinar um manifesto contra a chamada escola neo-alemã de Liszt e Wagner. Porém… teve tal imerecido estigma quebrado pelo famoso ensaio de Schoenberg: “Brahms, o Progressista”.

Em seus últimos anos de vida, Brahms afirmava que suas maiores obras de câmara teriam sido as da juventude e citava nominalmente o Sexteto, Op. 18, e os Quartetos para Piano, Op. 25 e 26, como as suas preferidas.

Astor Piazzolla (1921-1992): pequena biografia e Libertango

Certamente, a maioria de nós não tem a mesma imagem do tango que os argentinos têm. Eu, por exemplo, comecei a ouvi Piazzolla nos anos 70 e fico surpreso de ainda ler, sempre associada a seu nome, a palavra revolução. Por exemplo, a página oficial de Astor Piazzolla na Internet, na parte de sua biografia, começa com letras garrafais: Astor Piazzolla: Cronología de una Revolución, ou seja, a briga com os tangueiros tradicionais ainda é importante e quando leio que os deuses de Piazzolla eram Stravinski, Bartók e o jazzista Stan Kenton e, mais, que ele estudou com Nadia Boulanger em Paris nos anos 50, começo a entender alguma coisa…

Piazzola nasceu em Mar Del Plata e sua família mudou-se para Nova Iorque quando tinha 3 anos. Foi lá, aos 8 anos de idade, que ganhou de seu pai o primeiro bandoneón e que, em 1933, começou a ter aulas de piano com o húngaro Bela Wilda, discípulo de Rachmaninov e do qual Piazzolla diria mais tarde “Com ele, aprendi a amar Bach”. Pouco depois – imaginem! – conheceu Carlos Gardel que se fez amigo da familia e com quem, ainda menino, tomou parte em uma cena do filme El Dia em que me quieras como um pequeno vendedor de jornais. Desnecessário dizer que esta cena possui um poderoso valor emblemático na história do tango.

Após voltar a Buenos Aires e de ter participado de vários grupos de tango – compondo e tocando -, Piazzolla, em 1953, estreou Buenos Aires, três movimentos sinfônicos. Quando a obra foi interpretada na Faculdade de Direito de Buenos Aires por Orquestra Sinfônica acompanhada de dois bandoneons, estourou o escândalo. O setor “culto” da platéia ficou indignado pela incorporação dos bandoneons à orquestra e os tradicionalistas o acusaram de não fazer mais tango e sim música erudita…

Se os eruditos foram rapidamente dobrados pela qualidade de sua música, o mesmo não se pode dizer dos tradicionalistas. Começou então uma revolução solitária contra os tangueiros ortodoxos que faziam-lhe críticas sistemáticas e impiedosas. Era quase um problema de estado. Os meios de comunicação e até alguns palcos negavam-se a receber Piazzolla. Ele não colaborava muito para a paz, mantendo sua postura e respondendo com ironias. Voltou então ao exterior onde foi recebido como autor de tangos e começa uma nova experiência, o tango-canção, com Amelita Baltar, sua mulher na época.

Na Argentina, a controvérsia sobre se sua música seria tango ou não seguiu seu curso, mas agora seu sucesso no exterior começa a gerar inveja entre a comunidade tangueira. Ele acena com a possibilidade de paz ao chamar sua música de “música contemporânea da cidade de Buenos Aires” mas continua provocando com sua vestimenta informal, com sua pose para tocar o bandoneón (tocava de pé, quando a tradição mandava segurar o fole sentado) e com suas respostas muito pouco reverentes.

Em 1974, Piazzolla gravou em Milão, dois de seus maiores discos, em ambos acompanhado por músicos italianos: o primeiro foi Libertango e o segundo Summit, em parceria com o saxofonista americano Gerry Mulligan. Curiosamente, estes trabalhos nasceram a partir da pressão de seu agente europeu, que lhe pedia para continuar compondo normalmente suas peças instrumentais, só que deixando-as mais curtas. O resultado levou Piazzolla a um amplo reconhecimento, deixando as querelas argentinas em segundo plano.

Libertango é o disco mais vendido de Piazzolla, seguido do segundo disco milanês. Ele gostava de criar neologismos com tango, tanto que escreveu “estudos tanguísticos”, produziu “tanguédias” e os nomes das obras de Libertango chamam-se Meditango, Violentango, Tristango, Undertango, etc.

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