Londres, 17 de fevereiro (segunda-feira): o Victoria and Albert Museum e a primeira visita ao Wigmore Hall

Londres, 17 de fevereiro (segunda-feira): o Victoria and Albert Museum e a primeira visita ao Wigmore Hall

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O Victoria and Albert Museum — quase sempre abreviado para V&A — talvez seja o maior museu de artes decorativas e design do mundo, com uma coleção permanente de mais de 5 milhões de objetos. Fica ao lado do Museu de História Natural. Os dois ficam um de cada lado nas esquinas da Exhibition Road com Cromwell Road, pertinho do Hyde Park e do Royal Albert Hall. Quem conhece sabe, estávamos num dos corações culturais da cidade e pertinho do nosso hotel e imenso quarto.

Guardamos as melhores lembranças desta visita, mas antes é bom lembrar que quase todos os museus de Londres — principalmente os maiores e mais famosos — têm entrada gratuita. O V&A não é diferente. Ele foi fundado em 1852. Suas coleções mostram 5.000 anos de arte decorativa, desde os tempos antigos até ao presente. Ficamos lá o dia inteiro e poderíamos ter permanecido muito mais. Não é um local cansativo e quase inacessível como o Louvre. As coisas estão dispostas para serem vistas, sem empilhamento nem quadros até o teto.

Com um mapa na mão, fomos avançando pelas artes decorativas que os ingleses compraram ou mais provavelmente surrupiaram de todo o planeta. Não estávamos ainda com aquele espírito nipônico de viver para tirar fotos, então, quando vejo nossas fotos, penso, putz, por que não registrei e tal qual momento? Mas curtimos muito o V&A. passamos toda viagem de bom humor, mas este foi um dia realmente excelente.

Na primeira foto e na de baixo, tento pegar o reflexo da Elena ao observar as joias chinesas (chinesas?) que pretendíamos roubar.

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Passeando pelos largos corredores do V&A, encontramos uma dupla de esculturas de Alfred Stevens (1817-1876). Seus significados foram jogados na nossa frente com surpreendente clareza. A Elena é quem exclamou “veja que beleza, veja que metáfora!”. A primeira chama-se Valour and Cowardice

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… e a segunda Truth and Falsehood. E em verdade vos digo que, mormente a segunda, tem tanto a ver com o que vivi (vivemos?) em 2013 que fiquei embasbacado olhando todos os detalhes e depois pesquisando a respeito do significado de cada detalhe. A coisa parecia uma encomenda para mim. Os museus de arte são assim: a gente vê milhares de coisas, mas só quatro ou cinco grudam na memória e lá ficam dando voltas. Creio que são funções muitíssimos nobres, dos museus e da memória.

A ação da verdade pode ser vista de modo claro e quase deselegante. Com um rosto sereno, ela puxa a língua da mentira para fora. Um pesadelo e um sonho, certamente.

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Depois disso, fomos para o café regulamentar da Elena. É que, ali pelas 11h da manhã, minha namorada tem de ser religada e a forma é a utilização do líquido escuro que agitava loucamente as mulheres na época de Bach. E o café do V&A fica no jardim central do enorme edifício. O local é aprazibilíssimo, como podem ver. Sentar lá e não fazer nada é perfeito.

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Depois, a gente se perdeu e demos de cara com a época atual. Gostei muito deste armário dos anos 60.

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E da biblioteca abaixo.

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Lá de cima, temos uma vista do jardim interno.

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Voltando à arte, paramos para descansar bem ao lado de um belíssimo e clássico Dante Gabriel Rossetti que conhecia apenas dos livros..

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Numa parte do museu, há exposições de roupas usadas no teatro. Sim, claro, é um museu de artes decorativas, lembram? E eles oferecem vários tipos de roupas para a gente experimentar. Bem, sabemos que, nem que seja por um dia lá na infância, todas as mulheres sonharam em serem princesas…

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… e todos os meninos pensaram em terem todo o poder para satisfazer todos os seus desejos, os mais sublimes e os mais perversos.

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Enquanto eu posava de reizinho, uma menina pegou um lápis e riscou TOTALMENTE meu mapa do museu, tornando ilegíveis as marcações das salas visitadas e das por visitar. Era uma inglesinha ruivinha e diabólica, que estava por ali com um pai assustadoramente tatuado.

A Elena ficou encantada com um sujeito que depois, revelou-se ser…

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… Georg Friedrich Handel. É uma bonita obra de Louis Francois Roubiliac, esculpida em 1738. E é puro século XVIII, credo. Muito típico, parece saída da páginas de Henry Fielding.

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E é claro que a gente tira fotos evitáveis de pombinhos bobos.

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À noite, fomos ao lendário Wigmore Hall para assistir ao recital do pianista Piotr Anderszewski que conhecia de várias gravações. A acústica do local é es-pan-to-sa, Sr. Marcos Abreu. É local relativamente pequeno e em forma de caixa de sapato, como manda o melhor figurino para os ouvidos. E se a boa acústica é um refrigério para a alma, também não perdoa ninguém, claro. No primeiro acorde de Anderszewski já deu para entender porque aquele local é de devoção á música. Na fila para compra do programa, havia um senhor que reconheci como o romancista Ian McEwan (chupa, Charlles Campos). Olhei bem e foi ele quem pegou o programa depois de mim e se dirigiu para o banheiro masculino, mancando como se estivesse com dores musculares.

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O programa tinha a Abertura Francesa de Bach; as seis Bagatelas, Op. 126, de Beethoven; a Novelette Op. 21 Nº 8 de Schumann; e a Sonata Op. 110 de Beethoven. Numa palavra, o polonês que hoje vive em Lisboa é um monstro.

Segundo Eric Hobsbawm, que conhecia música como poucos, talvez o Wigmore seja hoje a melhor sala para a Música de Câmara no mundo. Ao menos é o que o ele afirmava isso a todos por anos e anos.

Ao final, o cara deu três bis. Eu conhecia somente a Sarabanda da Partita Nº 5 de Bach. A Elena não conhecia nenhuma das três peças mas me humilhou acertando as outras duas com base no estilo e na harmonia das mesmas: era um Schumann (Cenas da Floresta) e uma bagatela de Bartók. Mas acho natural perder SEMPRE para alguém que tem um ouvido como o dela.

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Londres, 16 de fevereiro (domingo): o English Breakfast e Camden Town

Londres, 16 de fevereiro (domingo): o English Breakfast e Camden Town

O título anuncia dois programas obrigatórios em Londres: o primeiro é uma tortura; o segundo, pura diversão.

Ir a um pub pela manhã para comer o English Breakfast… Faz parte. É cultura e deve ser turismo. Afinal, ele é o Pai de Todas as Porcarias. Está na raiz dos McDonalds e Subways. Sua consequência é o crescimento para os lados do povo americano e o declínio inevitável do império através das veias entupidas de seu povo. Comendo a porcaria abaixo, …

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As mãos de Elena não logram esconder o temor.

… a gente fica com a sensação de ter tomado banho num mar de gordura, só que nos afogamos no mar, acabando por beber litros dele. A gordura fica sensível nos dentes, gruda neles e nossa sorte é não termos disponível uma endoscopia para olharmos nosso estômago. Ah, aquele feijãozinho ali ao lado é misturado àquilo que conhecemos como catchup. E veja acima: meio escondido entre o pão e os salsichões cheíssimos de gordura — está o bacon.

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Pior, de forma solidária, pedi o mesmo.

Talvez fosse o prato ideal para os trabalhadores das minas durante a Revolução Industrial. Mas já se passaram séculos, era domingo e íamos a Camden Town. Vejam a cara de animação de minha querida Elena ao ter de enfrentar o delicado e sutil pratinho.

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Vai lá, Elena, coragem!

E, assim engordurados, fomos para Camden. Camden Town é um bairro-feira situado longe do centro, mas facilmente acessível pelo metrô. Na verdade, nos finais-de-semana, ali é um dos centros da cidade.

Em Camden, vende-se e acontece de tudo. Boa parte da região das lojas foi uma imensa estrebaria de onde a nobreza saía para seus passeios. Hoje, cada estábulo é uma lojinha e cada lojinha tem personalidade própria e vende desde roupas até coisas que você não imagina como usaria. Bairro onde residiu Charles Dickens quando jovem, tem o bar preferido de Amy Winehouse. Mas nem só de lojas vive Camden. Há locais para comer e há comida de todo lugar do mundo. Se você quiser churros ou feijão tropeiro, tem, eu vi e até conversei com os brasileiros responsáveis. As lojas podem ser perfeitamente convencionais, mas também estranhas…

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Que tal um vestido desses?

… além de divertidas.

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Elena pensa em como se vestir no próximo concerto da Ospa. Afinal, na orquestra, as mulheres usam aquele longo preto há muito abandonado na Europa.

Abaixo, o local onde as pessoas sentam para comer, só que o fazem sobre motocicletas, de frente para o riozinho que passa no meio do bairro.

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Você compra seu lanche numa barraca, sobe na moto e come olhando a paisagem.

E há gente, gente, gente por todos os lados. É fácil de se perder ou de perder alguém no meio da multidão. E é complicado reservar uma roupa e reencontrá-la no meio do labirinto da feira. A loja visitada há uma hora parece ter sumido sem deixar referências no meio da confusão. Foi um sufoco reencontrar o casaco que eu escolhera para minha filha Bárbara.

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Elena e um bobão que queria aparecer neste prestigiado blog. Vejam a cara alegre do moço.

Né, Elena?

Melhor programa de domingo.
Todo mundo na rua. Melhor programa de domingo.

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Londres, 15 de fevereiro (sábado): na Saint-Martin-in-the-fields

Londres, 15 de fevereiro (sábado): na Saint-Martin-in-the-fields

Nos dia 15, saímos às ruas. Fizemos o passeio até o cartão postal do Parlamento + Tâmisa + London Eye, fomos até Trafalgar Square e entramos na National Gallery. E só hoje notei que não tiramos fotos neste primeiro dia, prova de que Londres é uma cidade que mais se vive do que se vê. As primeiras fotos foram tiradas à noite, quando fomos assistir a um concerto na Saint-Martin-in-the-fields, do outro lado da Trafalgar.

Chegando lá, fomos direto ao elevador que nos levaria à cripta, onde há um belo café. Na porta deste, há o seguinte cartaz.

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Mesmo após horas de caminhadas pela cidade, pegamos as escadas, claro.

Se a Saint-Martin começa a valer a pena desde a porta do elevador, melhora na descida até a cripta. Ali, há séculos, temos religiosos enterrados no chão, mas, sobre eles, também temos um excelente e charmosíssimo restaurante-café. A homenagem aos túmulos é radical. A fragrância do café, dos chás e das iguarias certamente não fazem com que os féretros se ergam, mas certamente tornam mais leve e menos tediosa a eternidade.

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Elena manda bala na salada.
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Elena reflete sobre o motivo de haver tantos carecas numa mesma foto.

Vocês, meus sete inteligentes leitores, já notaram que o local também é uma igreja, mas que hoje é mais uma casa de concertos e restaurante. É uma tendência.

Bem, fôramos lá mais para conhecer a Saint-Martin do que para ver o concerto, de bom repertório, apesar de batidíssimo, conforme vocês podem conferir agora:

Baroque Extravaganza by Candlelight
Bach – Concerto for Two Violins in D minor
Vivaldi – Spring from Four Seasons
Bach – Air on the G String
Vivaldi – Concerto for Two Violins in A minor
Bach – Brandenburg Concerto No 4
Pachelbel – Canon and Gigue in D
Mozart – Divertimento No 3 in F
Vivaldi – Concerto for Four Violins in B minor

Festive Orchestra of London
Miki Takahashi Violin
Martin Feinstein Recorder (flauta)

Mas ocorreu um fato curioso: a excelente violinista Miki Takahashi, solista e primeiro violino da Festive Orchestra of London, em vez aquecer e ganhar corpo durante o concerto, sentiu o efeito da maratona ao final da função. Ela foi minguando. Depois do Brandenburguês Nº 4, passou a rodar em ponto morto, deixando espaço para os outros ótimos instrumentistas da orquestra.

De todos os muitos concertos que assistimos em nosso “turismo sinfônico” (expressão da Elena), este disputa o posto de mais fraco com o confuso Quarteto Elias, mas isso é papo para depois.

Um idiota no palco
Milton Ribeiro, um idiota no palco. Alguém sabe o que significa aquele ovo nos vitrais?
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A partitura sobre o cravo.
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E o mesmo, só que para o violoncelo.
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Fim de concerto na Saint-Martin-in-the-fields.

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14 de fevereiro (sexta-feira): o hotel em Londres

14 de fevereiro (sexta-feira): o hotel em Londres

Nas duas oportunidades anteriores em que fui à Londres, fiquei no EasyHotel de Earl`s Court. Desta vez, fomos pra lá novamente. Era uma escolha minha que tinha suas razões superiores: trata-se de um hotel barato e extremamente bem localizado, próximo da região dos principais museus, com boas opções de restaurantes e supermercados, além de uma estação de metrô duas quadras adiante. Claro que o fato de ser barato tem suas consequências: nada de serviço de quarto e dependências diminutas.

Só que as tais dependências nunca tinham sido tão mínimas quanto as do quatro 104 (com janela) que nos reservaram desta vez. Quando entramos no quarto, vimos que não conseguiríamos sequer abrir nossas malas, nenhuma delas, a não ser que o fizéssemos em cima da cama. A Elena experimentou um surto quase silencioso. Eu comecei a rir, o que é uma variação do mesmo sintoma psicológico.

Desci até a recepção para reclamar. Ouvi que o hotel estava cheio para o fim-de-semana e que o sistema reservara aquele quarto de forma automática, sem intervenção humana. Depois de muitas reclamações, conseguimos arrancar a promessa de uma mudança para o quarto 209, o que nos dava mais escadas para subir, mas mais espaço para respirar. Porém a mudança só ocorreria na terça-feira. Ou seja, metade de nossa temporada londrina se daria naquele quartinho. O jeito foi se adaptar.

Deixamos nossas malas no luggage store e subimos apenas com o necessário numa das malas de mão. Usamos o parapeito da janela como prateleira, a TV e o chuveiro como varal. A coisa ficou tão boa que, dois dias depois, a Elena tinha criado uma sistemática que já nos fazia achar tudo bastante confortável, mesmo que tivéssemos que combinar quem levantaria e caminharia pelo quarto. Os dois ao mesmo tempo era impossível. Ficamos com pena de abandonar nosso casulo.

Mas o abandonamos, ganhando o latifúndio do quarto 209. Já estávamos tão minimalistas que, no novo quarto, jantávamos os pratos pré-prontos comprados nos supermercados próximos. Na próxima viagem a Londres, já sabemos que o melhor é alugar um flat. O que gastaremos a mais com ele, economizaremos em comida, pois o valor das coisas compradas é muito pequeno se comparado ao preço dos restaurantes. O problema talvez seja o wi-fi, que no EasyHotel era ótimo.

Foi depois da crise do quarto que fomos a um pub e descobrimos estar no Valentine`s Day, como já expliquei no primeiro post desta série.

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Esta foto foi tirada encostado na parede. À direita, a porta do banheiro; à esquerda, a do quarto. Era nós ou as malas.
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A cama. Não há reclamações sobre ela. Era confortabilíssima.
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Vista de cima da cama, com joelho.
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A TV varal.
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Aspecto das meias e da samba-canção deste que vos escreve.

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13 e 14 de fevereiro: ainda de Porto Alegre a Londres

13 e 14 de fevereiro: ainda de Porto Alegre a Londres

Pois comecei a contar nossa viagem sem falar no embarque em Porto Alegre. A Elena manifestou estranheza pelo fato de estarmos saindo do país sem estresse, brigas, nada. As malas tinham sido fechadas desorganizadamente e às pressas, tudo em cima da hora. Desta forma, tivemos em nossas mãos tudo para um pequeno atrito, só que este não ocorreu. Esta tem sido nossa rotina. Minha companheira sentia-se vivendo uma doce e inédita irrealidade, onde as coisas caminhavam natural, amorosa e cordialmente. E reclamou, para minha diversão. Propus um espancamento súbito, mas ela apelou para a Maria da Penha e achei melhor deixá-la insatisfeita, sem problemas.

O voo pela TAP foi perfeito, em 11 horas estávamos em Lisboa, conforme as fotos do post anterior. Nossa maior preocupação foi em vão: acontece que minha companheira é alérgica à proteína do leite e a empresa portuguesa respeitou a dieta combinada quando da compra das passagens pela Casamundi. Tudo certo.

Duas horas depois, pontualmente, a TAP já nos levava para Londres, não para o aeroporto de Heatrow, mas para Gatwick. Fizemos lá a imigração. Eu, como cidadão europeu e, portanto, pessoa de qualidades especiais, fui para a fila rápida e descomplicada dos semideuses da União Européia; a Elena, sendo um bielorrussa naturalizada brasileira, foi para a fila dos sob desconfiança. Eu passei tranquilo, claro, já a Elena teve que responder as perguntas de um inglês sorridente e cortês.

— O que você veio fazer aqui?

— Vim conhecer a cidade e assistir concertos.

— O que você faz?

— Sou violinista de uma Orquestra Sinfônica no Brasil.

— Música clássica?

— Sim.

— Hummm… E onde está seu violino?

— Deixei no Brasil.

— Good, férias são férias. Está sozinha?

— Não, estou com meu boyfriend.

— E onde ele está?

— Na outra fila.

— Mas por que ele está na outra fila?

— É que ele é cidadão português.

O homem ficou pensativo e concluiu:

— Makes sense.

— Poderia tirar os óculos para eu ver melhor seu rosto?

— Sim.

— E vão para onde depois?

— Para Paris e Lisboa.

— Gostaria de ver a passagem.

— Aqui está.

— Perfect. Enjoy London!

E saímos para o mundo! Ou mais exatamente para o Gatwick Express, modo mais barato e fácil de ir daquele aeroporto até o centro de Londres, mais precisamente a Victoria Station. É a melhor opção: os trens saem a cada 15 min, o trem vai direto e a passagem custa 19 pounds por pessoa. Dali para o Earl`s Court é uma barbada de metrô.

No próximo capítulo, meus sete leitores saberão sobre nossa chegada ao hotel, a qual foi bastante espetacular e que deu à Elena o esperado alívio: finalmente, o estresse.

Ela poderia ter mostrado esta foto pro cara, né?
Ela poderia ter mostrado esta foto pro cara, né? | Foto: Vanessa Wigger

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13 e 14 de fevereiro: de Porto Alegre a Londres

13 e 14 de fevereiro: de Porto Alegre a Londres

Planejamos nossa viagem junto a Casamundi, que nos conseguiu um preço do tamanho de nosso bolso para a viagem e conexões. O voo foi pela TAP e, além do preço legal, pudemos ir de Porto Alegre a Lisboa direto, sem passar pelo inferno de Guarulhos e por um possível problema e translado de bagagens. A vantagem é que a gente chega muito mais descansado, o que não é pouca coisa.

De manhã, eu e Elena aterrissamos ao aeroporto de Lisboa que, não obstante o fato de ser uma cidade de 700 mil habitantes, tem um aeroporto dez vezes maior, mais equipado e mais funcional do que o de Porto Alegre, cidade de 1,5 milhão. Estávamos acessando nossos e-mails antes de pegar a conexão também da TAP para Londres, quando…

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… começou um show, um pequeno show que se revelou uma linda surpresa e afetuosa saudação para uma viagem perfeita.

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A cantora, acordeonista e compositora Celina da Piedade fez uma curta e bela apresentação matinal para quem ali estava.

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Algumas pessoas começaram a dançar — um deles um cadeirante temporário.

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Outros a fotografar, como eu e outros.

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O grupo era formado por Celina, um contrabaixista e uma tecladista. Eles interpretaram canções folclóricas do interior de Portugal. As pessoas não conseguiam ouvir sem sorrir. Nós também ficamos felizes com as boas-vindas.

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E chegamos a Londres pelo aeroporto de Gatwick. Pegamos o Gatwick Express até a região central da capital, deixamos nossa bagagem num hotel do quela falaremos nos próximos dias e fomos para um pub. Achamos estranho que em todas as mesas havia velas acesas, tornando o ambiente romântico. É que era o dia 14 de fevereiro, também conhecido como …

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Valentine’s Day.

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Kafka y Praga, de Harald Salfellner

A edição da Vitalis

Este livro foi publicado em português pela editora carioca Tinta Negra, mas eu desconhecia a existência da obra. Vi-a pela primeira vez em fevereiro deste ano, no bairro judeu de Praga. Eu estava na lojinha de uma sinagoga e Franz Kafka y Praga (Vitalis, 120 páginas) estava lá em checo, alemão, inglês e espanhol. Comprei imediatamente a tradução hermana. O livro é bom e inclassificável. É um livro de viagens, mas também tem muito de história e de literatura. Quando digo que tem muito, quero dizer que é muito mesmo. Ou seja, o livro desagradará o turista desinteressado em Kafka ou alguém que não quer saber da história de Praga. Os inversos, em qualquer sentido, também são verdadeiros. O livro sustenta-se firmemente nestas três pernas. Por isso é tão curioso e talvez por isso seja tão lido e vendido em lojinhas de turistas e em livrarias.

Os diários e cartas de Kafka comprovam uma importante relação com a cidade, um verdadeiro amor. Há relatos de caminhadas longuíssimas, roteiros, descrições de locais, de parques, de ruas, de casas, do Castelo de Praga — onde ele, por um período, escreveu à noite numa tranquila ruela do castelo, fechadíssimo em um pequeno quarto de uma casa alugada por sua irmã, pois precisava de silêncio para trabalhar –, além de  subidas pela velha escadaria do castelo, missão que fazia diariamente e que não é para qualquer sedentário. É um belo livro, com centenas de fotos, algumas infelizmente colorizadas.

Em Kafka y Praga, o escritor pode ser visto de uma perspectiva diferente. Céus, quantas vezes aquela família se mudou, quantos endereços, pareciam gostar de carregar coisas! Outras coisas que, acho, não se notam em seus livros, são a profunda ligação do escritor com a cultura judaica, tão importante em Praga, e suas amizades com muita gente. Eu sempre tive a impressão de um escritor insular, kafkianamente ensimesmado, quase apartado do mundo, lendo A Metamorfose entre risadas para poucos conhecidos, mas Kafka dava palestras, ia quase diariamente a cafés e namorava bastante. Vender livros era o que não conseguia… E procurava com grande afinco um lugar tranquilo para escrever e reclamava, ao menos em seus diários, que os vizinhos, todos e via de regra, eram sempre insuportáveis. Só havia barulho no mundo. Salfellner também conta a luta dos checos — às vezes nas ruas — para afirmarem sua cultura e língua em uma cidade de pesada presença alemã. Lembrem que o escritor ainda escrevia em alemão e até hoje, na cidade, as pessoas que desejam falar conosco tentam em primeiro em checo e depois a pergunta é Sprechen sie Deutsch? Parece que a segunda língua é o inglês só para os mais jovens e para os que se envolvem com o turismo.

Enfim, se você quer um livro de curiosidades sobre Kafka e sobre a história de Praga na virada do século, este é bem bom. Mas, se você estiver indo a Praga, não deixe de adquirir o livro do Lonely Planet sobre a cidade. Este sim é indispensável.

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Presente que acabo de receber: Praga na época de Kafka

Graça alcançada em razão deste post. A foto é a do exato tema do post: a Ponte Carlos da época de Kafka.

Clique uma vez para ampliar e duas para ampliaaaaaaarrrrr

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Kafka e a Ponte Carlos

O astrólogo da Corte calculou o dia exato. O Imperador Carlos IV deveria colocar a primeira pedra ao pôr-do-sol no nono dia do sétimo mês de 1357, exatamente às 17h31. A obra só terminou no século XVI, duzentos anos depois. Provavelmente, a construção sofreu interrupções, pois não é muito grande. Mas o astrólogo tinha razão, desta vez ela não caiu, justificando todo o cuidado.

Kafka tinha com Praga um caso semelhante a Machado de Assis com seu bairro de Cosme Velho, na zona sul do Rio de Janeiro: o checo nunca abandonou a cidade e circulava em um perímetro pequeno dela, que já não é muito grande. No Museu Kafka, descobri uma coisa que não sabia — minha filha Bárbara chamou minha atenção para o fato: Kafka era um contumaz namorador, teve inúmeros casos. As tchecas são muito bonitas e também são assim as namoradas do escritor. A menos bela era a preferida da família, Felice; a mais bela era a preferida do escritor, Julie ou Julia, não lembro bem. Seu pai Hermann fez tudo para separar o casal, pois a moça não era judia. Conseguiu. Mas tergiverso.

(Tergiversando um pouco mais: a música de Praga é o jazz. Há grupos de jazz tanto sobre a Ponte quanto nos bares e teatros. Acho incrível).

Estou lendo um livro sobre a Praga de Franz Kafka que comprei naquela cidade — calma, o livro é em espanhol — e descubro que o autor passava mais de uma vez por dia pela Karlův most, ou a Ponte Carlos. Mais: descubro que, antes de completar 20 anos, rabiscou para si mesmo o poema abaixo, sem título, mas em honra a um dos lugares mais belos que conheço.

Homens, que cruzam pontes escuras
passando junto a Santos
ornamentados por débeis luzes.

Nuvens, que correm pelo céu cinzento
passando junto a igrejas
com mil torres que condenam.

E alguém, apoiado no parapeito de alvenaria,
que olha na água da noite,
suas mãos sobre velhas pedras.

(tentativa de tradução por Milton Ribeiro)

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Dia 15: Hyde Park, Buckingham Palace, St. James`s Park, passeios e a Primark…

Hoje, tivemos nosso primeiro dia de sol em dez dias de Londres; então, optamos pelos passeios ao ar livre e depois por uma visitinha a um dos templos de consumo daqui, a famosa Primark e seus amazing prices. Comprei calças jeans por 5 libras, mais ou menos 15 reais. Sim, a roupa aqui é muito barata, mesmo fora da Primark.

Não sei bem por quê, mas tiramos poucas fotos. O Hyde Park é imenso, muito bonito, mas com poucas árvores. Os ingleses valorizam muito seus gramados e costumam tomar sol neles. Então, as árvores não são muito úteis, como diria o Fortunati. O Palácio de Buckingham é grandioso e feio, não merece fotos. O St. James`s Park é lindo com suas aves e esquilos. Vindo de Buckingham, passando por St. James`s e entrando a direita, a gente passa por Downing Street 10 e pelo Parlamento. O último é bonito demais para uma bomba, mas os outros talvez mereçam…

E é isso. Amanhã vamos à feira de Portobello Road e voltamos no domingo, não sem antes passar um meio-dia em Roma. Talvez só volte a escrever na segunda-feira à noite, tá bom?

Esse é o Albert Memorial do Hyde Park, bem na frente do Royal Albert Hall.
No início (ou no final) da Oxford Street há uma bela, enorme e curiosa cabeça de cavalo.
Ô, Fortunati, ciclovia é isso.
Essa ai é o monumento que fica na frente do Palácio de Buckingham. Não sei o nome e confesso minha falta de curiosidade.
Muitos corvos e esquilos no St. James`s Park. Aliás, o Charles Dickens tinha um pet em casa: um grande corvo.
Um cisne negro, cujos movimentos sinuosos de seu pescoço só podem ser espreitados na foto acima.
Ô Fortunati, aqui há painéis nas paradas de ônibus indicando quanto tempo falta para cada linha chegar. Um bom serviço, não? Ah, e quando a gente compra um passe anda em quantos ônibus quiser durante determinado tempo. Quantos quiser, viu?
Uma outra estátua na Piccadilly. Como a foto da Bárbara mostra, todo mundo tira foto ali.

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Dia 14: London Tower, Museu Charles Dickens e Memorial to Heroic Self Sacrifice

Hoje foi um dia tão perfeito que já sei que vou sentir saudades desta viagem com minha filha, muitas saudades. Começamos o dia com o nosso tradicional English breakfast reduzido, sem algumas daquelas coisas de que não gostamos. Depois, fomos para a London Tower.

A Torre de Londres é o forte em torno qual a cidade nasceu. Está na margem norte do Tamisa, no centro da cidade. Sua construção foi iniciada em 1078 por Guilherme, o Conquistador. Ela era inicialmente uma fortificação nos limites da cidade romana rodeando a Torre Branca, primeiro edifício dos 7 hectares que completam a Torre de Londres. O estado de conservação de todos os conjuntos que fazem parte da Torre de Londres é miraculoso. Destaques? As armaduras de Henrique VIII, desde quando era magro até a obesidade; as joias da coroa; os corvos que moram lá literalmente há séculos; a Torre Branca e as caminhadas pela zona medieval. Uma aula de história com pitadas de discreto marketing.

O Museu Charles Dickens fará a alegria de Nikelen Witter quando ela vier para cá. O Museu é a casa de Dickens, com seus objetos, camas, cozinha, sala, etc. O escritor não é apenas o autor de histórias piegas, é um autor fundamental por ter introduzido as classes menos favorecidas em suas histórias, assim como denúncias sobre o trabalho infantil, a prisão por dívidas e o dia-a-dia da vida daquelas pessoas que muitas vezes não sabiam se comeriam nas próximas horas. Nunca subestimem Dickens, um homem cujas leituras públicas levaram muitos de seus contemporâneos a educarem melhor seus filhos. Os méritos pessoais e a influência de Charles Dickens ultrapassam seus romances, mesmo que tenha escrito no mínimo duas obras-primas: Pickwick Papers e Grandes Esperanças.

E, após Dickens, como não se sentir sentimental? Então, fomos aos mais original memorial que conheço, o Memorial to Heroic Self Sacrifice. Talvez você saiba do que estou falando se você viu o filme Closer. A explicação para a existência do memorial está abaixo:

Sim, são placas pintadas em azulejos que lembram pessoas que morreram tentando salvar outras. Uma ideia belíssima.

E a placa de Alice Ayres, morta aos 25 anos e que é “codinome” utilizado pela personagem de Natalie Portman é esta:

Então vamos às fotos de hoje?

Foto de dentro da Torre de Londres com detalhes da London Bridge. Não sei porque selecionei a merda desta foto…
Escolares ingleses fazendo uma pausa para se alimentar na London Tower.
Armadura para um já obeso Henrique VIII.
O homem fazia questão de mostrar-se avantajado não apenas na barriga.
Agora sim, uma foto mais decente da London Bridge.
Morto para salvar uma lunática…
O Memorial. Mais simples impossível.
Vista de dentro do Memorial.
E a vista lá da porta, quando de nossa despedida.
O prato onde Dickens se alimentava em sua sala de jantar.
A baleadíssima escrivaninha onde escrevia seus livros.
Sim, quando jovem ele fazia a barba. Depois, abandonou esta atividade inútil.
Uma das citações pelas paredes. Viste, Nikelen?
Baba, Nikelen.
A porta da casa de Dickens que hoje abriga o Museu.
Baba, Nikelen (2).
Numa curva da Strand.
Ao final da tarde, passeando ao longo do Tâmisa.
E a chegada ao Parlamento. Fim do dia.

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Dia 13: The Wallace Collection e a National Gallery

Maravilha uma cidade onde todos os museus são de graça, né? Quando fomos conhecer a Wallace Collection esperávamos a cobrança de um ingresso; afinal, não estávamos num dos grandes museus da cidade, mas ali também era tudo free, como diria o Raul Seixas.

A Wallace Collection é um pequeno museu fundado a partir da coleção particular de Sir Richard Wallace, que foi legada ao estado por sua viúva em 1897. O museu foi aberto ao público em 1900 em Manchester Square. Na coleção, estão pinturas que vêm desde o século XVI. Há vários Rembrandt e obras de outros mestres holandeses, franceses, espanhóis e ingleses, como Frans Hals com seu O Cavaleiro Risonho, vários Watteau, Van Dyck, Velázquez e o auto-retrato do citado Rembrandt. Faz parte da exposição mobiliário e objetos de arte, tais como relógios e esculturas. O ambiente é tão bom dentro da Hertford House que eu aceitaria trabalhar lá como guarda.

Quando saímos de lá, estávamos apaixonados pela Coleção de Sir Richard e fomos até a London Library, sugestão de um de meus sete leitores. Deu tudo errado, as visitas eram são só às segundas-feiras às 18h e eu deveria ter aceitado o oferecimento de meu leitor como cicerone, porque minha visita solo foi um fracasso. Por que será que ele sugeriu uma segunda-feira? OK, idiotice minha não me informar melhor.

Então fomos para a National Gallery. Sim, concordo,aquilo lá é um patrimônio da humanidade, é algo quase imbatível em termos de arte do século XIX para trás. Na Europa, talvez só perca para o Louvre e o Prado em termos de quantidade e para o Musée d’Orsay em qualidade. Mas a rápida passagem da Wallace Collection para a National foi fatal para a segunda. Foi como se tivéssemos saído da Bamboletras para a Feira do Livro, isto é, de uma seleção de primeira linha para uma oferta indiscriminada e que ficou exagerada. Quando entramos lá, queríamos o filé e fomos passando meio reto pela pesada coleção de arte religiosa da National. Mas fazer o quê? Vínhamos de um local onde o feijão já fora escolhido e não estávamos mais a fim de trabalhar.

Claro que o que estou dizendo é uma brutal injustiça para com o acervo do National, com seus Van Gogh, Manet, Monet, Velásquez, Botticelli, Metsu, Seurat, Signac e até Da Vinci… Mas o momento psicológico não era para o excesso e a procura com a separação do joio. Sim, ficamos 3 dedicadas horas na National Gallery, mas nosso coração estava em Manchester Square.

Na Gallery é proibido tirar fotos, na Wallace, não. As fotos são péssimas, o principal é a memória da visita:

Esse aí é um Watteau.
Já este é um Metsu. Uma leitura inapropriada de uma carta…
Já este lindo é um Pourbus. O nome do quadro é “Uma alegoria do verdadeiro amor”.
Este incrível é de Zampieri.
Ah, Velazquez…
Canaletto existe fora das capas dos discos de Vivaldi!
Existe mesmo, há vários lá.
Sai pra lá, coisa do demônio! Do para mim desconhecido Papety.
Cena do Inferno de Dante, de Ary Scheffer.
Em vez de aceitar a proposta de um dos meus sete leitores… Cagada, né?
Um dos mais belos chafarizes da Trafalgar Square bem na frente da National Gallery.
E a moça que o desenhava sob 1° C. Se ela caísse na água eu buscava, viu? Pura solidariedade.

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Dia 12: Greenwich, Abbey Road e Museu de Tecnologia

Depois do superdia de ontem, fomos às atrações de segundo nível. Rápidas passagens por Greenwich, pela esquina famosa de Abbey Road — capa do disco homônimo dos Beatles — e pelo Museu de Tecnologia.

Ir a Greenwich costuma ser um belo passeio quando há tempo bom. Só que previsão do tempo não nos favorece em nada e resolvemos dar uma passada pela cidade pelo que ela tem de peculiar: seu observatório e os pubs. Ganhamos de graça uma perseguição aos esquilos do belíssimo parque que circunda o observatório. Ao final, o saldo foi positivo.

A ida à Abbey Road é uma das bobagens obrigatórias de Londres. A gente vai lá ver se aquela capa existe mesmo e ainda. Como sempre, estava cheia de gente. Lembrem que ontem o primeiro LP do grupo, Please, please me completou 50 anos.

Sei lá , tinha uma lembrança melhor do Museu de Tecnologia. Acho que ele mudou para pior, loja e exposições. Foi uma decepção, mas deem um desconto por meu cansaço.

Na ida para Greenwich, a passagem pela London Bridge.
Bárbara com um pé no oeste e outro no leste.
Um esquilo que estava por lá.
Recebia comida de todos.
Onde estamos em relação à Greenwich. Na foto, a Bárbara está com um pé de cada lado do meridiano.
As paisagens lá de cima são muito bonitas.
A Bárbara sai em perseguição aos esquilos.
Mas, não consegue nada sem comida na mão, pois eles vão atrás de quem tem algo a oferecer.
O pub preferido na cidade. Fui lá duas vezes…
Foto para a Rachel Duarte (1).
Foto para a Rachel Duarte (2).
Foto para a Rachel Duarte (3).
A esquina famosa do Abbey Road Studios.
Uns caras tentando imitar a capa do disco. Isso ocorre a cada 5 minutos…
A faixa de segurança raramente vazia.
E uma das poucas coisas que achei legais no Museu de Tecnologia.

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Dia 11: British Museum e pessoas queridas

Pois hoje foi mais um dia de chuva, mas não como a de ontem. A de hoje era daquele tipo que faz poucos ingleses pegarem no guarda-chuva; era a chuvinha normal, diária. Dedicamo-nos a três coisas: uma visita atenta ao British Museum, um encontro com o casal de amigos Sabrina e Alex, além de um passeio pelo centro.

O British é o British. É sensacional e coloquei um monte de fotos abaixo. Mas acho que o melhor do dia foi com a Sabrina Bottin e o Alex Moraes da Silva. Conversa agradabilíssima no centro da cidade enquanto nos entupíamos de sorvete sob zero grau. Reclamam que trabalham muito, mas parecem muito felizes. Grande encontro.

Bom, como estou com sono, vou direto para as fotos. Por pura preguiça minha, muitas vão sem legenda, tá?

Chuva mais fraca que a ontem. Tinha alguma neve da noite.
A entrada do British Museum hoje de manhã, ali pelas 10h30.
Adoro ver as crianças fazendo seus trabalhos de aula nos museus da cidade.
Esse sujeito morreu faz bem mais de mil anos. O sol do deserto desidratou-o rapidamente. Ele está completo, tem até cabelos.
Outro ângulo.
Cenas fortes.
Como essa cadeira usada por um chefão em Moçambique.
Ah, a música, não temos ido muito a shows e concertos.
Afrodite.
Um ataque só de filósofos com Sócrates na ponta direita.

O teto central do British.
Olhando para baixo do terceiro andar.

Duas enormes salas só de relógios para o Marcos Abreu.
Aqui em Londres, só se fala em pressões ligadas à proteção dos padres pedófilos. Chamam-no de o Rottweiler de Deus. A capa diz: “Papa quits”. O jornal é o Evening Standard, segundo o Felipe Prestes, muito melhor que os jornais do Brasil e que é distribuído à tarde gratuitamente no metrô, bem na hora qua a gente está louco por notícias.

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Dia 10: chuva, frio de zero grau e ainda mais chuva em Londres

De modo nenhum reclamo do frio. Isso é para os fracos, como diz o Igor Natusch. Mas ir a Camden Town, que é uma feira ao ar livre, sob a maior chuvarada, é complicado. A sedução estava toda lá. Todos os sotaques, todas as gentes, todos os estilos, toda a gastronomia, todos os produtos, tudo estava lá. Mas havia a maldita chuva. Nossos casacos são impermeáveis, porém, a partir do meio da coxa, a água já pega, o sapato fica ensopado e a gente passa a achar a vida muito difícil e doída. Mesmo assim, demonstramos nossa bravura gaúcha ficando lá das 10 às 14h, almoçamos em pé num cantinho, vimos um monte de coisas e fugimos. Em minha pequena experiência na cidade, o tempo está nublado na maioria dos dias e cai uma garoa. Hoje não, hoje era chuva forte sem parar.

Nossa ideia era a de ir a um lugar quente, seco — como os Museus daqui costumam ser — e talvez mais vazio. Então, nos dirigimos para a Royal Academy of Arts, onde há uma exposição de Manet — a única exposição que admitiria pagar. Explico: os Museus de Londres são todos de graça. Só que o londrino não fica em casa, é um povo culto cujas exposições de arte são anunciadas no metrô e que vai de verdade a elas. A fila era enorme, tivemos que ficar meia hora da fila de entrada, mas, lá dentro, qualquer muxoxo teve que ser silenciado. O que nós vimos foi quase uma integral do mestre francês. Foi espetacular. Sempre fui um admirador do realismo de Manet e minha admiração só aumenta com os anos. A Bárbara também gostou muito. Achei legal também a educação inglesa na frente dos quadros. Havia muita gente para ver cada quadro e todos cuidavam para não cortar a visão dos estavam parados olhando e só se avançava quando a pessoa da frente se retirava. Ah, demora muito? Sim, porém é a melhor maneira de agir. Com respeito.

Se elogiei bastante os ingleses, tenho também coisas a reclamar. Pelo segundo domingo consecutivo, eles interrompem linhas e fazem a gente dar voltas e mais voltas para pegar os trens, algumas na rua. Não esqueçam que estava zero grau e chovia à cântaros — para usar uma expressão invulgar… Se fosse em Porto Alegre, todos reclamariam que, justo no dia livre da população, tudo para…

A previsão indica que a chuva só cessa terça-feira. Então, programamos para amanhã o British Museum e um encontro com amigos que moram aqui.

Foi um dia tão difícil que só tirei três fotinhos.

Um local de Camden Town: as pessoas comem sentados em Vespas. À frente delas há uma mesa. Vejam as umbrellas. Os ingleses só as usam quando precisa MESMO. Hoje precisava muito.
Sob chuva torrencial, a estátua da Praça de Piccadilly Circus: Piccadilly Circus é a famosa praça de Londres, onde se cruzam a Regent Street, a Shaftesbury Avenue, a Piccadilly (a rua que liga Piccadilly Circus a Hyde Park) e a Haymarket. É uma das zonas mais movimentadas da capital. Bonita praça.
E, agora à noite, um — na verdade dois — Fish and Chips libertadores, acompanhados de Guiness.

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Dia 9: a Bárbara come um english breakfast e quase gosta

Voltamos a Londres. A Bárbara estava meio indignada, pois passara 3 dias na cidade e não tinha visto o Tâmisa. Resolvi acabar de cara com o impasse, mas não sem antes fazer-lhe comer o famoso english breakfast, cogumelos, com seus salsichões gordurosos, feijão adocicado, enorme bacon todo torcido, tomates assassinados como Joana d`Arc, ovos e seu bom chá ou café. A surpresa é que ela gostou do feijão — “parece meio ketchup” –, já o salsichão e os cogumelos foram absolutamente detestados, mas deu para comer, tanto que a refeição seguinte foi só às 18h. O breakfast foi às 10h30.

Em seguida, fomos para Westminster, London Eye e seu contexto, o Tâmisa. Um frio de rachar, acompanhado da tradicional chuva fina, uma delícia. Procuramos a Tate Modern e seus Picassos, Mas Ernst e Turners, mas o querido guia de Londres da Artes e Ofícios nos mandou para a Tate British. Que bom, né? Joguei fora o livrinho, pegamos o metrô e chegamos à Tate Modern, onde ficamos por 4 horas. Depois, Covent Garden e hotel. Estávamos muito molhados e com frio. Amanhã, voltaremos a Camden Town.

Cor local: vir a Londres e não sofrer o English Breakfast é fugir da vida londrina
O Parlamento.
Vocês sabiam que o Big Ben é o sino e não o relógio?
Ah, o Tâmisa, finalmente!
A escultura de Rodin do outro lado do Parlamento.
Tudo visto de outro ângulo — sob chuva e mais chuva, quando voltávamos do equívoco provocado pela página 238 do livro “Londres — Bagagem de Mão” da Artes e Ofícios.
Uma gravura de Magda Cordell no Tate Modern.
Magda Cordell, gosto muito. Depois não tirei mais fotos das obras. É permitido, desde que sem flash.
Vista da sacada da Tate Modern.

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Dia 8: Despedida de Praga e retorno a Londres

O último dia em Praga foi melancólico como todas as despedidas de lugares onde fomos um pouco mais felizes. Indico a hospedagem no excelente Hotel Waldstein e também tudo o que fizemos, talvez à exceção do Museu de Artes Decorativas.

No último dia, atravessamos a Ponte Carlos vindos do lado do Castelo de Praga e fomos para a direita, onde ainda não tínhamos ido. Enfrentando o maior frio, logo demos de cara com o Edifício Dançante que, se não chega a ser lindo, é muito curioso. Caminhamos mais e mais e voltamos — como era o esperado — à Praça da Cidade Velha. Ali, a Babi comeu um crepe de Nutella e encontramos um restaurante chamado Brasileiro nas redondezas. Entramos só para olhar. Putz, um garçom empunhava um espeto com uma carne seca de mesa em mesa, a música era forró e o feijão não podia ser mais mineiro. Sincretismo total, mas tudo bem brasileiro, sem goulash. Os caras ficaram encantados por sermos do país, enquanto a gente tentava fugir de lá. A comida tinha cara de ser muito boa e bem feita, mas a gente sai do Brasil para ter outras experiências, não para mais do mesmo.

Depois, conhecemos mais dois museus. Um é o Klementinum, com sua velha universidade e observatório astronômico onde trabalharam Galileu, Tycho Brahe, Kepler e Copérnico. De lá de cima, temos a vista mais espetacular da cidade. Tinha razão a guia do Museu (no Klementinum todas as visitas são guiadas). Depois, fomos ao Museu de Arte Decorativa. Foi a única decepção de Praga. O museu é pequeno e só deixaria o amigo Marcos Abreu feliz: há uma excepcional coleção de relógios antigos.

Depois, neve e neve. Acho lindo, tão lindo que uma senhora de uma loja nos perguntou se não havia MESMO neve no Brasil. Nossa resposta fez-lhe dizer: “É, eu achava que não, mas é inacreditável mesmo assim”.

Ao cair da tarde, o fim da pequena temporada tcheca. Aeroporto e retorno a Londres, onde passaremos mais 9 dias. Chegamos não em Heathrow, mas no aeroporto de Gatwick, a 45 quilômetros ao sul de Londres — um enorme e funcional aeroporto, desses que a gente olha e fica pensando sobre o Brasil. De lá, pegamos um Gatwick Express (trem, 20 pounds para cada um) até a cidade,  na Victoria Station, mas na chegada, às 0h45, desta vez pegamos os metrôs fechados e morremos com um táxi.

A Torre da Ponte Carlos que ainda não tinha fotografado.
Um pouco mais perto.
Mais perto ainda e chega, né?
O Edifício Dançante. Legalzinho, né?
Há coisas nas esquinas de Praga que surpreendem a gente.
Tu olhas pra cima e vê um cara dependurado, por exemplo.
Ou então aparece uma pequena igreja linda no nosso caminho.
Esse crepe da Praça da Cidade Velha é bom demais. Nham.
A vista lá de cima no Observatório do Klementinum.
Olhando para outro lado.
Outro lado.
A dupla dinâmica lá em cima.
Sim, tudo tem vários lados, principalmente uma torre circular.
E ainda tem janelas…
Centenas de relógios de todos os tamanhos — micro, pequenos, grandes e imensos — no Museu de Artes Decorativas. Marcos Abreu, vai lá.
E aí começa a neve.
Mais forte.
A neve gruda nos cabelos da Bárbara.
Fica ainda mais forte.
E, quando vou fotografar novamente minha querida filha…

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7 de fevereiro: Praga III, ou o dia em que a Bárbara nos impediu de acabar em Brno

O dia de hoje foi dedicado aos judeus, começando pelo maior e mais importante deles: Franz Kafka. Iniciamos o dia fazendo aquilo que Gilberto Agostinho tinha nos desaconselhado: pegando um táxi, pois o local onde está o túmulo de Kafka resultaria numa caminhada de duas horas, achávamos nós, com razão.

Pedimos ao taxista que ele nos levasse ao novo cemitério judeu de Praga, fundado em 1890. Ele nos disse que a corrida nos custaria 200 coroas checas, algo em torno de R$ 20. Só que ele nos levou ao antigo cemitério, a umas dez quadras depois. Eu disse que não podia ser ali — a geografia de Praga é simples e no terceiro dia qualquer turista já pode apontar este tipo de erro. Mostramos-lhe o mapa e ele fez o sinal de OK, que nos levaria. Ao chegar lá, o preço já era de 450 coroas. Ensaiamos uma reclamação, mas o que fazer?

O que interessa é que o “novo” cemitério judaico é lindo e vale a visita. Já na entrada, há uma placa indicando “Dr. Franz Kafka”. Sim, porque ele era advogado, um doutor. A lápide é das mais simples do cemitério. Bem na frente, em um muro, uma pequena placa, homenagem do traidor Max Brod ao grande amigo de toda a vida. Explico o “traidor”: antes de morrer de tuberculose, aos 41 anos, Kafka pediu a Brod que destruísse todos os seus originais não publicados. A traição de Brod, ao publicar tudo o que encontrou, é que deu a exata noção da grandeza de seu melhor amigo. Se Kafka é o que é hoje, deve-se à sua genialidade e a Max Brod, grande Max Brod!

Na saída de lá, cometi um erro de observação do mapa dos bairros de Praga e, se não fosse a Bárbara, estaríamos em Brno neste momento. Para nos proteger de mim, ela escolheu um tram (bonde) que nos levou certinho de volta ao centro da cidade. Sim, táxis em Praga só para o aeroporto, diz a Primeira Lei de Gilberto Agostinho.

Já que estávamos na onde judaica, escolhemos ir atrás dos itinerários de Kafka na cidade. As referências do autor ao judaísmo não são bem aquelas que um fundamentalista citaria em suas perorações, porém Kafka viveu no gueto, no gueto judeu, onde ficam as principais sinagogas da cidade. Como morreu em 1924, não conheceu os nazistas, mas a geografia da cidade, com os judeus na curva interna do Moldávia, parece facilitar assustadoramente o uso da expressão gueto: o bairro parece ser facilmente encurralável.

Não é meu assunto, mas é notável que Kafka — assim como Machado de Assis em relação ao Rio de Janeiro — jamais tivesse saído de Praga. Pior: segundo testemunhos do próprio autor e de amigos, ele nunca teria se afastado demais de seu bairro. Mas, para quem gosta de paisagens, podemos dizer que seu itinerário era estupendo, incluindo a Praça da Cidade Velha, a Ponte Carlos e a hoje burguesíssima avenida Parizska.

Bem, vamos às sinagogas. Confesso que a religião não me toca muito e que não vi ali a beleza plástica das construções católicas de cidade. Vou um pouco mais à frente para dizer que as poucas mesquitas que conheci eram mais bonitas. Eu e a Bárbara simplesmente conversávamos sobre outros assuntos enquanto visitávamos as sinagogas. Nosso assunto principal era a neve, fato inédito em sua vida e que subitamente ocorrera logo defronte ao monumento de Kafka no bairro judeu.

Depois, voltamos à Praça da Cidade Velha para vermos os grupos de jazz — sim, na rua, sob zero grau –, o movimento do relógio astronômico e algumas exposições. Grande dia. Trago comigo um livro em espanhol sobre os itinerários e vida de Kafka na cidade. Vou ficar ainda mais insuportável.

Algumas fotos de hoje:

O túmulo de Kafka no “novo” cemitério judeu. Dentre os mais simples do local.
Em detalhe.
A tranquila beleza do cemitério onde se encontram os restos de K.
Túmulos e mais túmulos. Sim, é tudo meio bagunçado, mas bonito.
Outra vista em perspectiva, agora para o outro lado.
Algumas (muitas) lápides são bastante exóticas.
A estátua de Kafka na entrada do bairro judeu.
Ah, a neve chegando para a alegria dos brasileiros.
Mais neve!
O velho cemitério judeu, com túmulos de antes do século XIX — há lápides do século XVI — consegue ser muito mais bagunçado.
Vai lá e acha teu ancestral, ô meu!
E queriam nos cobrar para fotografar! Como somos brasileiros, não pagamos e tiramos fotos só de birra.
Jazz congelante — mas excelente — na Praça da Cidade Velha.
Euphoria e…
… as garrafas de absinto.

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6 de fevereiro: Praga II

O dia de hoje foi dividido em duas partes, uma muito longa, outra bem curta e a terceira média. A muito longa foi a do Castelo de Praga; a curta, a do Museu Kafka; a média, um Concerto no Rudolfinum.

O Castelo de Praga é, segundo o Guiness, o maior do mundo. É uma fortificação de 570 metros de extensão com largura média de 128 m. Para se ter uma ideia, ele tem mais área do que sete campos de futebol juntos. E haja perna para se chegar lá em cima! Mesmo caminhantes natos, tivemos que fazer dois pit stops nas intermináveis escadarias. Economia máxima, meus sete leitores. Carro, ônibus, o que significa isso? Mas valeu a pena.

A origem do Castelo é medieval, como se poderá notar pela masmorra e pela Basílica de São Jorge, mas ele também possui construções e reformas que foram finalizadas só em 1920. Digo tudo isto para explicar os vários estilos presentes. Logo na entrada, damos de cara com a Catedral de São Vito, construção embasbacante, verdadeiramente impressionante que é vista de toda a cidade.

O livro de Praga do Lonely Planet diz que, se quisermos ver tudo, só passando lá o dia inteiro. Acho que vimos tudo ou quase. Chegamos ao Castelo às 10h e saímos por volta das 16h. Se você cansar no primeiro dia, não há problema: curiosamente, a entrada vale por dois dias. Visitamos também o Palácio Lobkowitz, que tem ingresso à parte por ser privado. Ele pertence à família que, entre outras notáveis realizações de mecenato, disse para Beethoven: “Nós vamos te sustentar até o fim da vida, componha o que quiser”. (Ludwig van era muito jovem na época, nem tinha composto o ciclo de quartetos Op.18, e o habitual na época era encher o qualquer compositor de encomendas para cada ocasião).

Bem, o Castelo de Praga é absolutamente obrigatório. Pequeno e simpático é o Museu Kafka com seu ambiente escuro, muitos manuscritos, fotos e informação. Infelizmente, não se pode tirar fotos lá. Se você gosta de Kafka, vai porque vale a pena.

Também são proibidas fotos na Sala Dvorak do Rudolfinum. Li depois nas dicas do amigo Gilberto Agostinho que ali rolava muito boa música, talvez a melhor de Praga. Digo que li depois porque já tinha notado e comprado ingressos para o Concerto do Quarteto Zemlinsky. Começou com Beethoven — justo o citado Op. 18, Nº 1 –, depois seguiu com o excelente Quarteto Nº 3 de Martini e terminou com um Quarteto de Mendelssohn, o Op. 44, Nº 2.

Algumas fotos do dia:

A porta de entrada da Catedral de São Vito.
A foto não demonstra quão alta é Catedral.
Talvez, comprando com as pessoas, tenha-se uma ideia.
Internamente…
Um dos ângulos de Praga lá de cima.
Outro…
Novamente, a comparação com o tamanho das pessoas.
A saída — e de entrada — do Castelo de Praga.
Bem, há duas estátuas de homens mijando bem na frente do Museu Kafka.
Vejam como o púbis é móvel, permitindo ao cidadão balançar seu membro de um lado para outro.
Fiquei interessado.
Mais uma estátua da Ponte Carlos.
As pombas cagam nas cabeças dos santos.
Muita gente que passa na Ponte Carlos, passa a mão neste cachorrinho…
… e nesta mulher. Ignoro o motivo. Deve dar sorte.
E voltamos à Catedral de São Vito, que é vista de toda a cidade.
E finalizamos com a fachada do Rudolfinum, local do Concerto que assistimos hoje.

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5 de fevereiro: Praga I

Saímos do hotel ali pelas 10h30 e voltamos às 19h30. Acho que caminhamos, subimos escadas e vimos exposições por todas as nove horas, só parando para um lanche às 14 e o jantar às 19h. E Praga tem ladeiras. Chegamos há pouco meio mortos ao hotel. Antes do Castelo de Praga, uma visita fundamental na cidade juntamente com a Ponte Carlos e a Praça do Relógio Astronômico, resolvemos fazer um enorme passeio a pé, como já disse. Nenhum arrependimento.

Fomos da Ponte Carlos ao Rudolfinum, depois para a Praça da Cidade Velha com seu Relógio Astronômico, daí fomos ao Museu do Comunismo e para a Praça de São Venceslau, descesmos a rua e nos perdemos, o que parece ser bom negócio nesta cidade linda, caminhamos longamente pela beira do Moldávia sob um frio de rachar, observando cada ponte e acabanos no Museu Medieval de Instrumentos de Tortura… Vimos mais coisas que seria impossível de citar e algumas de nossas fotos estão abaixo.

Hoje, foram 100 fotos minhas e outro tanto da Babi. Sem muito tempo para escolher, selecionei as que me pareceram as melhores à primeira vista.

As fotos da Ponte Carlos, um dos lugares mais belos que já vi, são injustas. Deixo então apenas uma amostra de uma das dezenas de esculturas presentes junto de seus muros. Se Praga fosse somente a Ponte Carlos, já teria valido a pena, mas é muito mais.
Os pedintes de Praga são de grande pungência. Ajoelham-se, não mostram o rosto, ficam na posição da foto. Todos eles. Não são muitos, mas são sempre assim. São a imagem da humilhação.
O incrível Relógio Astronômico.
Foto tirada do alto da Torre do Relógio. Cidade feia, não?
Bárbara observa o porvir para o qual Lênin aponta.
Mas parece um pouco desconfiada.
Agora ninguém ganha de mim no quesito “fotos comunistas”. Tenho muitas!
Ironicamente, o Museu do Comunismo fica sobre um McDonalds e um Cassino, no primeiro andar.
Olha, aqui em Praga tocam Villa-Lobos… Será que seus herdeiros, tão cônscios na não divulgação da obra do mestre, sabem disso?
Sei lá, gostei desta esquina em frente do Teatro Rudolfinum.
Então a Babi se virou e fotografou um palhaço na escadaria do Teatro.
Este é um Museu de três andares repletos de instrumentos de tortura.
Tudo feito em nome de Deus, com fantástica imaginação. Tanto que já sei com o que vou sonhar hoje. IMPRESSIONANTE.
O aspecto de uma ruela próxima ao Museu Kafka.
Estátua ao lado de um certo Teatro de Praga. Ali, ocorreu a estreia de uma das maiores obra-primas que a humanidade possui:
Don Giovanni, de Wolfgang Amadeus Mozart, com libreto de Lorenzo da Ponte.
E, para finalizar, nossa volta ao hotel através da Ponte Carlos, claro.

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