Em primeiro lugar, preciso falar um pouco sobre como consegui este livro. Ele me foi enviado por Idelber Avelar, professor da Universidade de Tulane, em New Orleans. Em vão, tentei comprá-lo, apesar de ser um livro novo, de 2002. Em minhas tentativas, escrevi para a Editora da UFRGS, tendo recebido como resposta o mais completo silêncio. Procurei novo contato, pois queria dá-lo de presente aos criadores do Impedimento, mas nada, não parece haver ninguém por lá. Por que então existe um Fale Conosco bem aqui? Então, meu sobrinho conseguiu o e-mail do próprio autor. Foi atendido mui educadamente, obtendo a confirmação de Damo de que a obra era muito procurada, mas que só a editora podia resolver o caso. Bem, ao menos isto não é culpa da corrupção do futebol, nem de Ricardo Teixeira…
O livro de Arlei Sander Damo tem o subtítulo de “Uma leitura antropológica das rivalidades entre torcedores e clubes” e originou-se da dissertação de mestrado do autor, escrita entre 1996 e 1998, aproximadamente.
É obra interessantíssima para quem queira sair da mesmice das notícias diárias sobre futebol — aquelas mesmas que tanto deprimem nosso noturno cidadão de uma república enlutada — e adentrar de forma inteligente e bem conduzida na história da formação desta loucura que vemos. Damo nos explica o nascedouro da dupla Gre-nal e de sua rivalidade. “Se queres ser universal, canta tua aldeia”, dizia Tolstói de forma mais esperta que Wianey Carlet. Cantar sua aldeia é o que faz Damo, fazendo-nos descobrir claras analogias com outras cidades, estados e rivalidades clubísticas brasileiras. As explicações são do autor, as projeções são nossas; há leitura mais produtiva e agradável do que conjeturar junto com o autor? Não, né? A obra começa no início do século passado, descrevendo o início do associativismo esportivo em nossa Porto Alegre – empurrado pelos imigrantes alemães, “ficiados” em clubes – para chegar aos primórdios de uma paixão e de uma rivalidade que é boa para torcer, mas que também é boa para se pensar a respeito.
São absolutamente preciosas as argumentações sobre raça e classes sociais que faz o autor, sobre o crescimento do racismo no Grêmio à época do Dr. Py e a da salvação do clube através de seu maior presidente, Saturnino Vanzelotti, o qual resolveu enfrentar os “gremistas vigilantes”, que lhe escreviam mal-disfarçados apedidos em jornais, sempre zelosos de que a camisa tricolor não fosse maculada pelos negros. (Seus textos, sempre anônimos, parecem ter como autor um Joseph Goebbels com superego fraco.) Outros fatos significativos que são analisados são as infrutíferas tentativas do autor para descobrir a origem clara do poderio colorado dos anos 40: a célebre Liga das Canelas Pretas – o que vem comprovar a pouca documentação da história negra no Rio Grande do Sul –; a derrocada do amadorismo; um exame sobre a influência dos estádios na gangorra Gre-nal e um estudo sobre a formação das torcidas sob a ótica das raças e das classes sociais.
É apenas isto o que a Editora da UFRGS insiste em nos esconder. Ainda não devolvi o livro para o Idelber. Querem cópias…?
Observações finais:
1. Apenas o texto “Sobre o regional e o nacional no futebol brasileiro” é datado e mereceria uma recauchutagem geral.
2. Arlei Sander Damo daria um bom leitor do Impedimento.
3. Apesar de não confessar, Arlei Sander Damo é um gremista nojento.
Saudações coloradas e morte à progênie do racismo!
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