Igreja à venda!

Igreja à venda!

Não tá fácil pra ninguém, nem pra deus. Imaginem que tem uma igreja à venda aqui na Cidade Baixa, Porto Alegre. Poderia nascer um bar, um café, uma LIVRARIA ou uma simples moradia, né? Eu poderia criar a Igreja Colorada de São Milton. Promoveríamos a “Cura Gremista”.

Fotos horríveis de Milton Ribeiro (celular), claro.

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Esquerda direita esquerda direita

Esquerda direita esquerda direita

Esquerda direita esquerda direita (Links rechts links rechts):

Se alguém de esquerda pensa
que alguém de esquerda,
só por ser de esquerda,
é melhor que alguém de direita –
ele é preconceituoso a ponto
de ser como alguém de direita
Se alguém de direita pensa
que alguém de direita
só por ser de direita
é melhor que alguém de esquerda
ele é preconceituoso a ponto
de ser radical de direita

Como me oponho
aos de direita
e aos radicais de direita,
também me oponho
aos de esquerda
que pensam
ser melhores
que os de direita
e por me opor a eles
às vezes penso
que tenho razões de pensar
que sou melhor do que eles

Erich Fried (1921-1988) – Tradução de Victor Gans

Eric Fried

E a resposta inteligente e zombeteira de Marcos Nunes nos comentários:

No Centro

Ele está parado ali
naquele lugar
que escolheu

Aqui, ele diz
é o centro do mundo
onde estou só

Outros passeiam
indo à esquerda
à direita

O centro, no entanto
é só dele, o centro
sou eu, ele diz

O mundo só gira
para se manter
no mesmo lugar

Parado no centro
estou em movimento
filosoficamente correto

Tudo que ele diz
diz para si mesmo
no centro ele é tudo

Outros, como ele
ficam parados
há centro em todo lugar

Não falam uns
com os outros
onde estão não é preciso

Somente os que andam
à esquerda ou à direita
se debatem sobre direções

Quem está no centro
passeia em si mesmo
ele diz, e quase sorri

Parado ali
naquele lugar
alguém o colheu

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Bom dia, Odair (com os lances de Inter 2 x 1 Atlético-PR)

Bom dia, Odair (com os lances de Inter 2 x 1 Atlético-PR)
Um dia o Inter ainda me mata | Foto: Ricardo Duarte

Em primeiro lugar, Odair, por que não escalar Charles no lugar de Dourado em vez do fraquíssimo Gabriel Dias, que ainda cansa como se fosse um Paulo Miranda?

Para piorar, nos últimos jogos, o Inter tem entrado em campo burocrático como Bartleby e, tal como ele, bem, vá ler livros, meu filho.

Na etapa inicial, o Inter trocou exatos 252 passes. Acertou mais de 95% deles. E não criou nenhuma chance de gol. Foram todos passes bobos, laterais, sem riscos, fáceis. Deveria ter acertado 100% e estaríamos até agora jogando para os lados.

Então é bobagem assistir o primeiro tempo de nossos jogos. O Inter marca, tem posse de bola, mas não ataca. É um saco. Só ataca quando desesperado.

Naquele período, na primeira etapa, a torcida estava tão ligada no jogo que houve gente — até jornalistas — que viram OVNIs no céu. O curioso é que a pasmaceira em campo acontece num momento em que seria importante vencer para garantir o acesso direto à Libertadores 2019.

No segundo tempo, comprovando que Gabriel Dias veio a campo para fazer coisa nenhuma, o Atlético-PR marcou. Camacho veio lá do meio do campo até nossa intermediária sem receber combate. Enquanto isso, Dias observava, só cercando. Então, já que tinha espaço, Camacho chutou. A bola bateu em Moledo, desviou e GOL deles. Era 18 min do segundo tempo. Logo depois, aconteceu a mesma coisa novamente, só que passou raspando. Bonito, né, seu Odair? Então, tu tiraste Dias para enfiar mais um atacante. Fizeste bem.

E começamos uma boa reação. Estranhamente, também tiraste Damião para colocar Wellington Silva. Só que o time seguia cruzando bolas para Damião. E chegamos à virada jogando mal e porcamente. Moledo empatou aos 36 min e depois, nos descontos, o juizão deu uma mão. Dale bateu bem um pênalti mais do que duvidoso. Isto é, se o primeiro gol foi legal, o segundo…

O Palmeiras lidera com 66 pts. Estamos em segundo lugar com 61. O primeiro time fora da vaga direta pela Libertadores é o Grêmio, com 55.  Acho que o segundo dado é o que nos interessa. Dificilmente chegaremos no Palmeiras, mas há que impedir cheguemos a um 5º lugar.

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O Paul McCartney que esteve no Beira-Rio em outubro do ano passado

O Paul McCartney que esteve no Beira-Rio em outubro do ano passado

Duas semanas após a vinda do The Who, Porto Alegre recebeu outra lenda do rock britânico. Paul McCartney carrega em si a aura de ser o mais importante dos dois sobreviventes do grupo mais que mais influenciou a música popular no século XX, os Beatles. Ao final desta matéria, colocamos a lista de canções que foram tocadas no show. É uma impressionante lista de 39 joias — 2 horas e meia! — e, quando a lemos, lembramos de uma montanha de outras que ficaram de fora. É que McCartney compôs tanto, principalmente entre os anos 60 e 80, que poderia montar vários shows de 39 canções. Foi algo efetivamente  grandioso, pois, assim como não economiza no tamanho dos shows, McCartney faz sempre questão de ser acompanhado por um super time de músicos.

O espetáculo, chamado One on One Tour, começou em abril de 2016 – em maio do ano passado, por exemplo, ele passou sobre as cabeças dos brasileiros para fazer dois shows na Argentina. Desta forma, McCartney e chegaram em plena forma para tocar em Porto Alegre. Afinal, de 5 de julho e 2 de outubro, a trupe fez várias apresentações nos EUA onde interpretou o que se espera deles: clássicos dos Beatles, canções da carreira solo de Paul e também as melhores do Wings. Além do óbvio, tivemos In Spite of All Danger, escrita em 1958, quando ele, John Lennon e George Harrison integravam o grupo The Quarrymen.

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Sir James Paul McCartney nasceu em Liverpool no dia 18 de junho de 1942. Portanto, é um senhor de 76 anos. Cantor, compositor, multi-instrumentista (principalmente baixista), produtor musical, produtor cinematográfico e ativista dos direitos dos animais, formou com John Lennon uma das mais importantes e bem sucedidas parcerias musicais de todos os tempos. Porém, na verdade, eles escreviam as canções individualmente e depois as mostravam um para o outro, o qual propunha ou não alterações. Após o processo, sempre assinavam juntos. É simples reconhecer a autoria original: nos Beatles, Paul era o cantor principal de suas músicas e John das dele. Este esquema nunca foi alterado. Então, por exemplo, como Lennon é a principal voz de Strawberry Fields Forever, a canção é dele, já Eleanor Rigby é de McCartney e assim por diante. Mas há uma exceção: A Day in the Life é uma parceria real.

Após a dissolução dos Beatles em 1970, Paul lançou-se numa carreira solo de sucesso. Fez dois discos solo, depois formou uma banda com sua primeira mulher, Linda McCartney, os Wings, e voltou à carreira solo. Também trabalhou com música clássica, eletrônica e trilhas sonoras.

Em 1979, o Livro Guinness dos Recordes firmou-o como o compositor musical de maior sucesso da história da música mundial de todos os tempos. McCartney teve 29 composições de sua autoria no primeiro lugar das paradas de sucesso dos EUA, vinte das quais junto com os Beatles e o restante em sua carreira solo ou com o Wings.

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Os Beatles tinham três compositores. A coincidência de John Lennon, Paul McCartney e George Harrison terem nascido quase ao mesmo tempo em Liverpool e se tornado amigos na adolescência é notável e, penso, irrepetível. É como se – guardadas as proporções para maior ou menor – Chico Buarque, Caetano Veloso e Milton Nascimento tivessem nascido na mesma cidade, se tornado amigos e trabalhassem juntos desde a juventude, produzindo e competindo dentro de um grupo. E, se acrescentarmos a isto a presença do produtor, arranjador e pianista George Martin desde as primeiras gravações, chegaremos à conclusão de que os caras tiveram muita sorte mesmo. Todo o  resultado está minuciosamente documentado – em som e imagens – podendo ser revivido nesta sexta-feira por este senhor de 76 anos.

Do trio de compositores dos Beatles, Paul era o mais acessível e melodioso; John, o contestador; e George Harrison, o mais “instrumentista” dos três. Em cada disco dos Beatles havia de cinco a seis canções de McCartney, o mesmo número para Lennon e uma ou duas de Harrison.

Ver o documentário Beatles Anthology, datado de meados dos anos 90, é ter contato com uma enorme e incontrolável explosão de juventude, alegria e criatividade. Afeta qualquer um. O imenso livro The Beatles (da Revista Rolling Stone) tem uma apaixonada introdução de Leonard Bernstein (1918-1990). Bernstein é uma figura única, pois além de ter sido um respeitadíssimo regente de orquestra, foi pianista e um consistente compositor de música erudita. Como se não bastasse, escreveu musicais para a Broadway, sendo de sua autoria talvez o melhor deles, West Side Story, que recebeu no Brasil a impecável tradução de Amor, Sublime Amor. O texto que ele escreve é o de um fã e demonstra algumas preferências curiosas. Diz que, em sua opinião, a melhor música do disco Revolver é She said, she said (Lennon). Elogia também Eleanor Rigby (McCartney), Norwergian wood (Lennon), Paperback writer (Lennon), She´s leaving home (McCartney), For no one (McCartney), In my life (Lennon) I Will Follow the Sun (McCartney), Helter skelter (McCartney), Strawberry fields forever (Lennon), The fool on the hill (McCartney), etc. São tantas que poderíamos voltar ao tema das 39 canções do qual já falamos.

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Aos 15 anos, em 1957, McCartney conheceu John Lennon ao assistir ao show de uma banda chamada Quarrymen em Woolton (subúrbio de Liverpool) da qual Lennon era guitarrista. Esta seria a banda que daria origem aos Beatles. A entrada de Paul para a turma se deu após Lennon vê-lo tocando a canção Twenty Flight Rock de Eddie Cochran. Um ano depois, McCartney convenceu Lennon a aceitar George Harrison na banda.

Os Quarrymen mudaram de nome várias vezes até se decidirem por The Beatles. Em 1960, a banda foi pela primeira vez tocar em Hamburgo. Tocavam diariamente por horas e horas em bares. Jim McCartney relutou bastante em deixar seu filho ainda adolescente viajar para a Hamburgo. Em 1961, os Beatles fizeram seus primeiros e célebres shows no Cavern Club.

Após Paul McCartney notar que outras bandas de Liverpool tocavam as mesmos covers que eles, ele e John se intensificaram a criação de canções próprias. 61 foi ainda o ano que eles conheceram Brian Epstein, o empresário que lhes conseguiu um contrato com a EMI Parlophone. Com a assinatura do contrato, Pete, o baterista, foi dispensado e em seu lugar entrou Ringo Starr. Estava formado o Fab Four.

Nos Beatles, McCartney era o que mais escrevia canções românticas. São de sua autoria Yesterday, And I Love Her, Michelle e Here There and Everywhere e muitas mais. A canção Yesterday é a mais regravada por outros artistas em todos os tempos. Embora Paul sempre fosse “acusado” de só escrever baladas, ele também escreveu várias canções com um estilo mais pesado como Back In The USSRHelter Skelter.

Depois que Brian Epstein morreu, em 1967, McCartney e Lennon disputaram asperamente a escolha de um novo empresário para a banda. A morte de Epstein foi o início do fim. Em 1969, McCartney tentou convencer os outros beatles de voltarem a fazer apresentações ao vivo — tinham deixados de fazê-las em 1965 — , intenção que foi negada pelo restante do grupo. Neste mesmo ano, por sua sugestão, os Beatles gravaram o documentário Let It Be pensando que isto os reaproximaria, o que não aconteceu. Em dia 10 de abril de 1970 Paul McCartney anunciou publicamente o fim dos Beatles em entrevista coletiva e lançou de seu primeiro álbum solo, McCartney, onde toca todos os instrumentos. Embora eles já não quisessem mais continuar juntos, a entrevista antecipada e de surpresa gerou mágoas a ponto de ser acusado de traidor por John, George e Ringo.

O lançamento de Let It Be quase um mês depois da declaração oficial do fim dos Beatles deixou Paul insatisfeito. A produção do álbum foi entregue a Phil Spector. Paul ficou irritado com o tratamento que Phil deu a suas canções, principalmente a The Long and Winding Road, vítima de um horrendo arranjo orquestral.

As feridas demoraram a cicatrizar. Lennon negava-se a falar sobre o disco McCartney.

Em 1971, Paul lançou o compacto Another Day, que alcançou enorme sucesso. Ainda no mesmo ano, lançou outro álbum, Ram, onde alfinetava John Lennon na canção Too Many People. John Lennon responderia no álbum Imagine com How Do You Sleep? “The only thing you could make was Yesterday”. O álbum Ram é geralmente considerado como um dos melhores de sua carreira solo, e a canção Uncle Albert/Admiral Halsey foi o maior sucesso comercial do álbum.

Após alguns encontros amistosos, na noite de 9 de dezembro de 1980, McCartney acordou com as notícias do assassinato de John Lennon.

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Depois do disco solo Ram, ainda em 1971, Paul voltaria para formar uma nova banda, os Wings. O primeiro trabalho veio em 1972, Wild Life, também excelente. Em Tomorrow no álbum Wild Life, Paul responde à ironia de Lennon em How do You Sleep? Após Red Rose Speedway, que trazia o mega sucesso My Love, Paul fez a trilha sonora de 007 — Viva e deixe morrer com Live and let die.

O álbum seguinte foi o álbum de maior sucesso da banda, Band on the Run (1974),eleito o disco do ano, apresentando Jet e a faixa-título. Depois houve ainda os excelentes Tug of WarPipes of Peace.  Estes e seus discos seguintes sempre trouxeram uma ou duas canções que se tornariam clássicos.

Em 1991, Paul lança seu primeiro álbum de música clássica, Liverpool Oratorio. Dividindo opiniões de críticos e público, o álbum foi bem recebido comercialmente, mas considerado irregular por parte dos críticos de música clássica. Mesmo assim, o álbum comprovava novamente sua alta qualidade como compositor.

Dentre outros lançamentos, em 1999,  lançou o álbum Run Devil Run, com releituras de clássicos do rock com participações de músicos como David Gilmour (ex-Pink Floyd), Ian Paice (Deep Purple) e Mick Green. É um trabalho sensacional que foi gravado em apenas um dia.

Em maio de 2003, Paul McCartney fez um show no Coliseu de Roma, se tornando o primeiro artista a se apresentar no famoso anfiteatro italiano, e pela primeira vez se apresentou em Moscou, tocando para 100 mil espectadores na Praça Vermelha. Em 2009, segundo a empresa de eventos Concerts West, McCartney tornou-se o recordista mundial em “rapidez de venda de ingressos para um show musical”, ao ter esgotados em apenas sete segundos todos os bilhetes postos à venda para um show em Las Vegas, Estados Unidos. Ele também cantou na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos Londres 2012. Cobrou uma (1) libra esterlina de cachê.

Em janeiro de 2015, McCartney colaborou com Kanye West e Rihanna no single FourFiveSeconds. Eles lançaram um clipe para a música no mesmo mês e tocaram ao vivo no Grammy Awards de 2015 em fevereiro.

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Finalizando, listamos abaixo a setlist de canções que Paul McCartney cantou em Porto Alegre. O show do Beira-Rio não deve ser muito diferente.

1. A Hard Day’s Night (The Beatles)
2. Save Us (da carreira solo)
3. Can’t Buy Me Love (The Beatles)
4. Letting Go (Wings)
5. Drive My Car (The Beatles)
6. Let Me Roll It (Wings) (With ‘Foxy Lady’ Snippet)
7. I’ve Got a Feeling (The Beatles)
8. My Valentine (da carreira solo)
9. Nineteen Hundred and Eighty-Five (Wings)
10. Maybe I’m Amazed (da carreira solo)
11. I’ve Just Seen a Face (The Beatles)
12. In Spite of All the Danger (The Quarrymen)
13. You Won’t See Me (The Beatles)
14. Love Me Do (The Beatles)
15. And I Love Her (The Beatles)
16. Blackbird (The Beatles)
17. Here Today (da carreira solo)
18. Queenie Eye (da carreira solo)
19. New (da carreira solo)
20. Lady Madonna (The Beatles)
21. FourFiveSeconds (Rihanna and Kanye West and Paul McCartney cover)
22. Eleanor Rigby (The Beatles)
23. I Wanna Be Your Man (The Beatles)
24. Being for the Benefit of Mr. Kite! (The Beatles)
25. Something (The Beatles)
26. A Day in the Life (The Beatles) (With ‘Give Peace a Chance’ Snippet)
27. Ob-La-Di, Ob-La-Da (The Beatles)
28. Band on the Run (Wings)
29. Back in the U.S.S.R. (The Beatles)
30. Let It Be (The Beatles)
31. Live and Let Die (Wings)
32. Hey Jude (The Beatles)

bis:
33. Yesterday (The Beatles)
34. Day Tripper (The Beatles)
35. Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (Reprise) (The Beatles)
36. Helter Skelter (The Beatles)
37. Golden Slumbers (The Beatles)
38. Carry That Weight (The Beatles)
39. The End (The Beatles)

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The Who, a lenda

The Who, a lenda

Antes do show do Who em Porto Alegre, a emoção era bem identificada e localizada. Os mais desatentos não sabiam bem quem eram aqueles dois senhores sobreviventes de um grupo original de quatro, mas já os que gostam e acompanham o movimento musical sabiam que iam ver verdadeiras lendas. The Who é um grupo realmente único. Pode soar como heavy metal e já foi classificado como tal, mas muitas vezes apresenta um espírito de punk rock com letras sensacionais, porém, você não estará errado se considerá-lo o grupo que faz o rock mais complexo que existe, tirando do jogo os progressivos.

Roger Daltrey e Pete Townshend. The Who em ação | Foto: Site do grupo

Sim, não é fácil classificá-lo. Afinal, The Who tem em seu acervo duas esplêndidas óperas-rock que viraram filmes — Tommy e Quadrophenia — , mas também tem notáveis discos de canções avulsas e o verdadeiro torpedo que é Who`s Next.

The Who surgiu em 1964 na Inglaterra. Sua formação clássica tem Pete Townshend (guitarrista e compositor praticamente único do grupo), Roger Daltrey (vocais), John Entwistle (baixo) e Keith Moon (bateria). O grupo alcançou rapidamente fama internacional em razão da qualidade de sua música e também por fatores extra-musicais. Suas apresentações eram pura energia, era o grupo que se apresentava com o volume de som mais alto de todos e ficou famosa por quebrar seus instrumentos ao final dos shows — especialmente Townshend, cuja destruição de guitarras tornou-se um clichê, e Keith Moon, que costumava mandar sua bateria pelo ares, aos pedaços. Seus primeiros álbuns eram cheios de canções curtas e agressivas, usando principalmente os temas da rebelião juvenil e da confusão sentimental.

The Who em 1964: Townshend, Moon, Daltrey e Entwistle

Para ser mais exato, a origem do Who foi um grupo de jazz do qual participavam Pete Townshend e John Entwistle quando adolescentes, chamado The Confederates. Townshend tocava banjo e Entwistle trompete, embora também estudasse baixo, imaginem. Já o vocalista Roger Daltrey conheceu Entwistle na rua enquanto este caminhava com seu baixo pendurado no ombro. Este convidou-o para um teste no grupo de jazz. Daltrey foi aceito e os três logo saíram do Confederates. Moon foi último a aparecer. Veio através de um anúncio no jornal. Daltrey descreve o teste do genial Moon para entrar na banda: “Foi como se tivessem ligado um motor atrás da gente”.

Em setembro de 1964, na Railway Tavern em Harrow and Wealdstone, Inglaterra, Pete Townshend destruiu sua primeira guitarra. Tocando num palco baixo demais, se mexendo e dançando muito, Pete bateu com o braço da guitarra no teto, o que resultou no descolamento deste do corpo do instrumento. Furioso com as risadas da plateia, Townshend arrebentou a guitarra em pedaços, pegou outra e continuou o concerto. Por conta disso, o público no show seguinte aumentou consideravelmente, mas ele se recusou a destruir outro instrumento. Então foi Keith Moon quem arrebentou sua bateria… A destruição de instrumentos se tornaria um destaque dos shows ao vivo do Who pelos anos seguintes, e o incidente na Railway Tavern acabaria entrando para a lista de “50 Momentos que Mudaram a História do Rock ‘n’ Roll”.

Calma, nada disso ocorreu no Beira-Rio nesta terça-feira (26/09/2017). Mas você viu o windmill (moinho de vento) de Townshend. O windmill é aquele clássico giro de braço que Pete Townshend usa pra tocar guitarra. A lenda diz que seria uma resposta a Jimi Hendrix. “Como ele tacava fogo na guitarra”, brincou o Pete uma vez numa entrevista à Rolling Stone, “eu fazia o moinho de vento pra apagar o fogo”. Só que, tempos depois, no programa de David Letterman, o mesmo Townshend contou que copiou o gesto do Keith Richards, já que o The Who, bem no início da carreira, abrira alguns shows pros Stones. Ele viu Keith fazendo isso no palco e, no dia seguinte, mandou um windmill na abertura. No fim do espetáculo perguntou a Keith se ele tinha gostado da homenagem, mas Keith não lembrava ter ter feito o gesto e comentou: “Aquela hora em que você pegou no pau, no fim da apresentação… Foi pra mim?”.

Todos os integrantes do The Who eram muito diferentes entre si. Sempre brigaram bastante e Pete afirma ainda hoje que jamais um grupo deve se separar enquanto está brigando. “É quando tem mais pegada”. Townshend era o compositor e inovador (embora Entwistle também contribuísse com canções). Pete também era uma central de novidades, enquanto Daltrey preferia ficar só com os rocks agressivos. Moon amava a surf music norte-americana e Entwistle a elegância do jazz. É estranho dizer isso hoje, mas, no começo, Daltrey era considerado o patinho feio do Who. Ele via que estava entre três virtuoses em seus instrumentos e sofria com a silenciosa desaprovação. Achava que seria chutado. Ontem, estava com Pete do Beira-Rio.

O primeiro sucesso retubante veio na estreia do LP My Generation. O álbum trazia canções que se tornariam hinos, como The kids are alright e a faixa-título com o famoso verso I hope I die before I get old (“Eu espero morrer antes de envelhecer”). Outros êxitos seguiram-se com os compactos simples Substitute, I’m a boyHappy Jack (1966), Pictures of Lily, I can see for miles (1967) e Magic bus (1968).

Apesar do grande sucesso alcançado com seus compactos simples, o Who, ou mais especificamente Townshend, queria mudar, achava o modelo esgotado. Ao mesmo tempo que o som da banda evoluía e suas músicas se tornavam mais provocativas e envolventes, Townshend passava a tratar os álbuns do Who como projetos unificados, ao invés de meras coleções de canções desconexas. O primeiro sinal desta ambição surgiu como LP A Quick One (1966), que trazia uma coleção de canções que, reunidas, contavam uma história. A Quick One, While He’s Away foi chamada de “mini-ópera”.

A seguir veio The Who Sell Out (1967), um álbum que pretendia simular a transmissão de uma estação de rádio pirata, incluindo jingles e propagandas.

Nessa época, os ensinamentos de Meher Baba — sim, a cultura dos anos 60 reverenciava os gurus orientais — passaram a exercer influência importante nas composições de Townshend, e essa conjunção de ideias acabaria desaguando em Tommy (1969), sua primeira ópera-rock completa e a primeira a alcançar sucesso comercial, imenso sucesso comercial. O indiano é creditado como “Messias” na contra-capa do álbum Tommy. No mesmo ano, o grupo esteve em Woodstock tocando basicamente Tommy. As canções Pinball Wizard, See me feel me, Go to the mirror e The Acid Queen, entre outras, tornaram-se clássicos.

Em fevereiro de 1970 o Who gravou Live at Leeds (1970), considerado por muitos o melhor álbum ao vivo de rock de todos os tempos, tocando basicamente Tommy… Na verdade, Live at Leeds foi lançado originalmente sem nenhuma canção de Tommy em um LP com apenas 6 músicas — sendo 3 covers, My Generation, Substitute e Magic Bus. Só na segunda edição em CD que todo o show pôde ser ouvido, com a execução da ópera Tommy no segundo disco.

Na época, todos os integrantes da banda — principalmente o autor, Townshend — estavam cheios de tocar Tommy e mais Tommy. O álbum tinha sido considerado o melhor da década de 60 junto com Sgt. Peppers e todos só queriam ouvir Tommy. Pete queria partir para outra e o Who preparou um grande disco sob a produção de Kit Lambert em Nova York.  Só que Lambert, então viciado em heroína, era de pouco auxílio e a banda retornou à Inglaterra para regravar o material com o produtor Glyn Johns. O resultado, Who’s Next (1971), acabaria por ser o trabalho mais aclamado do The Who entre os críticos e fãs.

É difícil destacar alguma coisa em Who’s Next, o álbum mais parece uma coletânea de melhores canções, apesar de não ser. Bastaria dizer que o disco começa com Baba O’Riley e Bargain e acaba com Behind Blue Eyes e Won’t Get Fooled Again, OK?

Após Who’s Next a banda voltaria ao estúdio em maio de 1972. Essas sessões dariam origem a mais uma ópera-rock de Townshend, Quadrophenia (1973), a história de dois dias na vida de um adolescente mod chamado Jimmy, sua luta contra todo gênero de inquietações, mas principalmente sua busca por um lugar na sociedade. Quadrophenia tem o mesmo nível de Who`s Next, é um notável trabalho, daqueles onde a cada audição são descobertos novos detalhes. O Who tocou Love, reign o’er me e Cut my hair nesta terça-feira.

Os álbuns seguintes do Who traziam canções mais pessoais de Townshend, dentro do estilo que ele eventualmente transferia para seus álbuns solo. The Who by Numbers, de 1975, traz diversas canções introspectivas e maravilhosas, como Blue, Red and Grey.

A qualidade do somatório de canções originais do Who são comparáveis ao acervo criado pelos Beatles e Rolling Stones. Se acrescentarmos o Led Zeppelin, com uma produção menor em número, temos aí o quarteto intocável do rock e talvez da música inglesa dos últimos 50 anos. Se o Who inventasse de tocar todas as clássicas do grupo, iam precisar de várias noites.

Em 1978 a banda lançou Who Are You, distanciando-se do estilo épico das óperas rock, enquanto se aproximava do som mais comum das rádios. O lançamento do álbum foi ofuscado pela morte de Keith Moon devido a uma overdose acidental de um remédio prescrito para o combate ao alcoolismo. Kenney Jones, ex-Small Faces, assumiu seu lugar. No ano seguinte, a tragédia voltou a rondar o grupo: no dia 3 de dezembro de 1979 um tumulto no lado de fora do Riverfront Coliseum, em Cincinnati, Ohio, provocou a morte de onze fãs que aguardavam o início de um show. A banda soube do incidente somente após a apresentação.

O último ano de Moon. The Who em 1978: Daltrey, Townshend, Moon e Entwistle

Depois veio o declínio, a separação e o retorno. Lançaram o médio Face Dances em 1981 e o melhor It’s Hard em 1982. Após estes trabalhos, passaram a se reunir apenas para grandes eventos e só lançaram mais um álbum de inéditas, Endless Wire, em 2006.

Porém, após participar do encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, o Who voltou com força total. Pete e Roger anunciaram que uma nova e esperada turnê de Quadrophenia aconteceria. The Who tocou pela Europa em novembro e dezembro e pela América do Norte em janeiro e fevereiro de 2013. A turnê seguiu pela Inglaterra e França.

Hoje, o baterista Zak Starkey — filho do beatle Ringo Starr — substitui Moon à altura, mas nada substitui a inalcançável classe e os solos do baixista John Entwistle, nem o bom Jon Button. E há mais um guitarrista no grupo: Simon, irmão de Pete Townshend.

Foto: Site do The Who

A entrevista de Pete Townshend (72) após o concerto do Rock in Rio foi curiosa. Não é sempre que se ouve um sujeito que diz que se divertiu tocando coisas que escreveu há 50 anos. Mas fazer o quê?, é verdade. Ele parecia um menino solando e regendo sua tremenda banda. E Roger Daltrey, do alto de seus 1,68 m e 73 anos? O timbre áspero e forte permanece, mas às vezes ele falha. Querem saber? Grande coisa!

Para finalizar, ressaltamos que ouvir Won`t get fooled again (Não seremos feitos de trouxas novamente) no país de Michel Temer e Bolsonaro soa pra lá de estranho. Mais estranho ainda é ouvir Daltrey dizer na mesma canção: Meet the new boss, same as the old boss!” (Conheça o novo chefe, igual ao antigo chefe!).

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Bom dia, gremistas (com os melhores lances de Grêmio 1 x 2 River Plate)

Bom dia, gremistas (com os melhores lances de Grêmio 1 x 2 River Plate)

Guaraní-Par, Iquique, Zamora, Godoy Cruz, Botafogo, Barcelona de Guayaquil, Lanús, Monagas, Cerro Porteño, Defensor, Estudiantes, Atlético Tucumán…

Foi só pegar um time grande como o River para fazer os planetas se alinharem. Antes era muita sorte junta. Acabou.

Foi um River que passou em minha vida.

D`Alessandro em seus tempos de River | Foto: River Plate – Sitio Oficial

O Grêmio fez excelente partida em Buenos Aires, mas jamais deveria tê-la tentado repetir ipsis litteris em casa. Jogar fechadinho fora de casa é uma coisa, fazer o mesmo em casa é um equívoco — põe uma pulga atrás da orelha do adversário, que pensa: “Por que eles estão com medo?”. Renato errou e errou feio. Ele não cometeu um pênalti por azar como Bressan, ele entrou com a estratégia errada. Jogou com medo, recuado, como se o jogo fosse contra o Real Madrid de Abu Dhabi.

Apostavam, na arena lotada, num contra-ataque.

Mas teve enorme sorte ao fazer o primeiro gol na única chance que teve no primeiro tempo. Foi um escanteio mal cobrado por Alisson que acabou em gol do lateral direito Leonardo (Costa?), o time que jogava por um gol saía na frente e, ao final do primeiro tempo, vencia por 2 x 0 no placar agregado. Mas em campo só dava River. O Grêmio seguia com sua proverbial sorte.

No segundo tempo, o River pressionava sem resultados como fizera no Monumental de Nuñez, só que… Quem deixa a bola rondando sua área e desiste de jogar, quem faz cera a fu como fez Marcelo Grohe… Às vezes toma.

Lágrimas na chuva

E aconteceu. Aos 25 minutos eu tinha ido tomar banho porque era inútil ver aquela coisa e o Grêmio ia se classificar sem merecer… Paciência. Então, Paulo Miranda sentiu câimbras e entrou em seu lugar o sujeito mais azarado do mundo: Bressan. O River empatou num lance que lembrou os dois gols do Grêmio. Bola na área e gol. Nada de jogadas trabalhadas.

E veio a justiça, pois o River sempre demonstrara mais desejo de ganhar do que o tricolor. Mas foi uma tremenda injustiça com o cara mais azarado do mundo.

Scocco chutou, Bressan chegou à bala e saltou na sua frente. Impossível pular sem abrir os braços, é uma questão de equilíbrio. E a bola bateu na sua mão. A regra diz que, se o braço não está grudado no corpo e a bola bate nele ou na mão, deve ser marcada a falta. Então o pênalti aconteceu, só que a regra é muito injusta e acho que esta deveria voltar a examinar a questão da intenção.

A cobrança foi perfeita e o River venceu. Por ter dois gols marcados fora de casa, levou a vaga. Foi cruel, mas justo.

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Querem ver o filme ‘O Ovo da Serpente’ para compará-lo com o Brasil de hoje?

Querem ver o filme ‘O Ovo da Serpente’ para compará-lo com o Brasil de hoje?
A cena final | Foto: Divulgação

Quando muito jovem, Ingmar Bergman foi um admirador do nazismo. Décadas mais tarde, mais do que arrependido, realizou um dos melhores e mais terríveis filmes antinazistas já produzidos. Aqui está o filme completo legendado. Trata-se da mais impecável aula sobre como a frustração se transforma em ódio ou indiferença e depois em fascismo.

A obra trata do homem comum frente a crise econômica aguda que se abatera sobre a Alemanha a partir da hiperinflação de 1923, deixando-o sem qualquer perspectiva de futuro.

Num cenário de prostração e caos, era criado O Ovo da Serpente, ou seja, o caldo do totalitarismo e antissemitismo nazistas.

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Quais são os últimos jogos de Palmeiras, Flamengo e Inter no Brasileiro

Quais são os últimos jogos de Palmeiras, Flamengo e Inter no Brasileiro

O Brasileiro tem mais sete rodadas. Apesar do favoritismo dos dois primeiros, Palmeiras, Flamengo e Inter estão na disputa pelo título. Não é só o título que está em disputa, mas também as vagas diretas na fase de grupos da Libertadores do próximo ano.

32ª rodada
Inter x Atlético-PR, Palmeiras x Santos, São Paulo x Flamengo

33ª rodada
Ceará x Inter, Atlético-MG x Palmeiras, Botafogo x Flamengo

34ª rodada
Inter x América-MG, Palmeiras x Fluminense, Flamengo x Santos

35ª rodada
Botafogo x Inter, Paraná x Palmeiras, Sport x Flamengo

36ª rodada
Inter x Atlético-MG, Palmeiras x América-MG, Flamengo x Grêmio

37ª rodada
Inter x Fluminense, Vasco x Palmeiras, Cruzeiro x Flamengo

38ª rodada
Paraná x Inter, Palmeiras x Vitória, Flamengo x Atlético-PR

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Uma virada épica

Uma virada épica

Não pude escrever sobre futebol nos últimos dias. O motivo é simples: não vi os dois últimos jogos contra Santos e Vasco. Acho que verei a partida do próximo domingo contra o Atlético-PR. Devo, pois, fazer retornar a este blog sua programação normal.

Então, como faz tempo que não temos futebol por aqui e como Haddad não virou, deixo com vocês a mais fantástica virada de que tenho conhecimento, Arsenal 4 (7) x 4 (5) Reading.

O Arsenal, jogando fora de casa, saiu atrás no placar por 4 x 0.

Mas partiu para cima do Reading, descontou ainda no primeiro tempo — o primeiro tempo foi 4 x 1 — e empatou no segundo, 4 x 4.

Na prorrogação, o Arsenal fez 5 x 4, o Reading empatou mas o clube londrino fez mais dois e fechou o jogo em 7 x 5, eliminando o adversário da Copa da Liga Inglesa de 2012.

Assistam que coisa fantástica:

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Um catadão do que pensa um sujeito da esquerda independente

Um catadão do que pensa um sujeito da esquerda independente
Antes do discurso, uma rezadinha básica | Foto: Reprodução YouTube

Quando o governo Dilma caiu do modo como caiu, pensei e disse que demoraríamos de 15 a 20 anos para formar uma nova esquerda forte. DETESTAREI ter razão.

Será um longo reaprendizado. Nós, da esquerda, precisaremos reaprender a dialogar com a população. Há anos, o PT é um arrogante dono da razão, sabe tudo de tudo e não escuta ninguém, fato que pode ser comprovado a cada intervenção da presidente do partido, Gleisi Hoffmann. Tudo o que não precisamos é de fanáticos seguindo um líder messiânico, surdo ao que acontece no país. Para piorar, os caciques do partido não conseguem empolgar ninguém com suas falas antiquadas e os mais jovens ainda têm receio de discordar da turma autoritária.

Pelo visto, o partido tem uma estrutura viciada e espero pela formação de uma nova esquerda longe do PT. Por isso falo em décadas. Uma esquerda que fale outra linguagem, ouvindo críticas, admitindo os colossais erros cometidos e buscando meios de dar seu recado sem ofender. E que saiba fazer política e campanhas. Talvez seja necessária uma frente, mas não acredito muito nisso.

O abandono das bases, o caciquismo, a não formação de novas lideranças… O fenômeno Lula — uma realidade — sozinho não justifica essas múltiplas cagadas, como o anúncio tardio da candidatura Haddad.

Dentro da situação atual, o quadro mais importante para o futuro poderia ser Boulos, membro do PSOL infelizmente muito ligado a Lula.

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No RS, não temos mais esquerdas influentes. Tanto que nas últimas eleições para prefeito (Porto Alegre) e governador, a disputa ficou entre o PSDB e o MDB. Em ambas, fiquei sem opção.

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A vida do novo governo também não será fácil.

Foram produzidas muitas expectativas na população. A política de segurança será resolvida armando as pessoas? Ora, isto apenas aumentará o número de mortes e a violência. E a economia? Como reagirá a população quando ver seus direitos minguando? Como reagirá aos afagos que serão feitos a empresários e agronegócio? E quais receberão afagos? Certamente os mais atrasados, como as Havans da vida com suas Estátuas da Liberdade.

O apoio ao Salvador da Pátria Jair Bolsonaro foi muito parecido com o que receberam Jânio Quadros e Fernando Collor de Mello. O milico não precisa repeti-los, mas sabemos como acabaram Collor e Jânio ao não serem capazes de produzir respostas satisfatórias em prazo curto.

Bolsonaro evitou os debates com quem foge do diabo. Sim, ele está longe de ser pessoalmente brilhante, não sabe enfrentar o contraditório, prefere agredir e bravatear sozinho. É uma pessoa muito simples. Na presidência, ele se manterá falando sozinho?

E como faria isso se não tem maioria absoluta no Congresso para realizar mudanças constitucionais profundas? Ele diz que não fará toma lá dá cá, mas é claro que fará, que terá de voltar à política tradicional. A reforma da previdência, por exemplo, é profundamente impopular e os parlamentares vão cobrar caro. Como será isso? Temer dá uma ajudinha no final de seu mandato?

A imagem internacional de Bolsonaro é uma piada. Aparentemente, a diversão deles está garantida, o nosso sofrimento também.

Estou desanimado, mas tentando ficar ligado aos sinais. Haverá brechas, denúncias e todo o gênero de discussões aos estilo dos anos 70, que vivi intensamente. Hoje acordei com uma triste sensação de déjà vu. Um governo militar ainda mais tosco do que o de Figueiredo e todo eivado de religiosidade. Para mim, um ateu, parece o apocalipse.

Pessoalmente, minha estratégia será a de procurar e reforçar as amizades. Minha mulher já disse que devemos mergulhar em arte e literatura. É uma boa. De resto, é ficar atento aos sinais e ter bons amigos aqui, no Uruguai e em Portugal.

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Neste domingo não há neutralidade

Neste domingo não há neutralidade

O grande maestro Tobias Volkmann escreve melhor do que eu poderia fazê-lo. E é claríssimo:

NESTE DOMINGO NÃO HÁ NEUTRALIDADE

Ela nos será cobrada, e a conta será alta demais para brasileiro de qualquer classe, origem, cor, religião e orientação sexual possa pagar.

O Brasil se vê frente a um momento histórico sem precedentes, no qual nossa jovem democracia estará posta à prova. Talvez seja a última oportunidade de escolhermos livremente nossos rumos políticos através do voto antes que entremos (novamente) em um período de negação às liberdades individuais de quem pensa diferente, parece diferente, ora ou reza diferente, fala diferente, ama diferente.

Opiniões contrárias e diferenças não serão toleradas – já está avisado.

Os paralelos entre a ascensão do nazi-fascismo em 1933 e nosso momento atual são inúmeros e óbvios. Só não vê quem não (o) quer (admitir). Minha origem familiar germânica, a constante memória da culpa e da vergonha refrescada em casa, na escola em Bremen, nos museus, nos livros, nas ruas, na imprensa e nas artes foram suficientes para me vacinar. Só não esperava passar por isto em meu país – onde nasci, cresci e para o qual voltei mais de uma vez por desejar ser um artista brasileiro.

Neste domingo não há mais discussões ideológico partidárias em jogo. A opção é simples: votamos pela manutenção da democracia e sequência de um processo civilizatório em uma base de convivência, ou votamos pela implantação de um estado policial, totalitário, violento e muito mais excludente do que o vivido hoje. A segunda opção não admitirá reclamações posteriores. E lamento informar: não terá sido estelionato eleitoral.

Eu opto pela democracia, onde poderemos ainda exigir de um presidente professor que invista de fato na educação e na cultura, as únicas formas de proteger um povo da barbárie.

Neste domingo não há neutralidade.

É Haddad 13.

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E um detalhe do que Bolsonaro disse domingo.

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Hoje, Figueroa completa 72 anos

Hoje, Figueroa completa 72 anos

Quem não viu, não consegue imaginar o que jogava Elias Figueroa. Não consegue MESMO. Hoje, ele completa 72 anos. Nasceu em Valparaíso e é considerado o maior jogador chileno de todos os tempos.

Também foi eleito o melhor zagueiro da Copa de 1974. Detalhe: Beckenbauer estava presente e foi campeão daquela Copa.

Figueroa chegou ao Inter em novembro de 1971, vindo do Peñarol. Vestindo a camisa colorada, ele fez 26 gols em 336 jogos, sendo ao lado de Índio o zagueiro que mais fez gols pelo clube.

Foi hexacampeão gaúcho (71/72/73/74/75/76) e bicampeão brasileiro (1975/76). Disputou 17 clássicos Gre-Nal, tendo perdido apenas UM. Nunca foi expulso ao longo de sua carreira.

Figueroa, quando ainda atuava no Peñarol foi considerado duas vezes melhor jogador da América. No Inter, repetiu mais duas vezes o feito. Foi um dos maiores zagueiros de futebol da história. Era um monstro.

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Tentando conversar com eleitores de Bolsonaro

Tentando conversar com eleitores de Bolsonaro

Experiência própria. Não grite nem ofenda. Pergunte se conhece o plano de governo. Fale no aprofundamento das reformas do governo atual. Repita o que ele falou sobre perdas de direitos. Fale sobre a política de meio ambiente. Fale sobre o que ele disse sobre negros. Se for o caso, pergunte se a mulher trabalha — provavelmente sim — e responda com lógica. Pergunte se a pessoa acredita mesmo que o outro promovia um kit gay. E que finalidade teria? Valeria a pena falar sobre condecorar policiais por matarem in loco? Considere. Não elogie o PT, mas pode dizer com seriedade que o outro foi um bom ministro da Educação. Não cite os títulos acadêmicos do outro. Não interessarão, garanto. Não fale sobre segurança, mas cite a fracassada presença do Exército no Rio. Falar em fascismo? Esqueça. Mas pergunte se ele vai MESMO acabar com a corrupção. Cite exemplos de corrupção durante o regime militar brasileiro. Dica: o caso Panair. Não adianta falar em ditadura. Só não ofenda. Às vezes dá certo. Experiência própria.

Ah, o campo de batalha normalmente é o cara a cara ou o Whatsapp.

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Atrás do balcão da Livraria Bamboletras (V) — neste caso, nem tanto

Hoje fui entregar três caixas cheias de livros na casa de uma pessoa. Compra grande, bem escolhida, tudo coisa fina, excelente e variada literatura, um show. Mas quando cheguei na casa da cliente não tinha (ou não parecia ter) ninguém. Bati na porta como um louco, nas janelas laterais também, até que veio um cachorro de rua me ajudar. Não adianta, sou um cachorreiro nato. E ele latia e me mordia os calcanhares, puxava as minhas calças e latia; enfim, fizemos um escândalo. Tanto que acordou quem estava dentro de casa. Enquanto esperava que me abrissem a porta, o cachorro abraçou minha perna direita e começou a fazer justamente aquilo que o Bolsonaro quer fazer com a esquerda. O motorista do Uber que me acompanhava disse: “Acho que ele quer sexo casual com o senhor”. Com dificuldade, convenci o bicho que era muito cedo para nós. A porta se abriu. Quando entrei com as caixas dos livros, meu novo amigo entrou junto na maior cara de pau. A dona da casa perguntou: “Quem é esse?”.

 

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Aqueles que queimam livros, de George Steiner

Aqueles que queimam livros, de George Steiner

Este curto e brilhante ensaio de George Steiner, recém lançado pela Âyiné, divide-se em três partes: Aqueles que queimam livros, O povo do livro e Os dissidentes do livro.

Steiner é um mestre absoluto. Erudito e metódico, ele é autor de um impressionante número de clássicos para os estudiosos de humanidades — entre os quais Nenhuma Paixão Desperdiçada, Lições dos Mestres e este livro que ora comento.

Steiner não é um otimista, mas dá alguns remédios: os livros seriam um meio seguro para nos tornamos melhores. Pode parecer algo já muitas vezes dito, mas o que vale é a argumentação certeira de Steiner. Li o livro fazendo inúmeras anotações, não dá para abrir meu exemplar sem que se vejam frases ou parágrafos sublinhados. Tudo parece fundamental, necessário, perfeito.

A primeira parte trata do encontro, da relação entre leitor e livro. Esta é imprevisível, vulnerável à mudanças de espírito ou de idade, muito semelhante às afinidades mediadas por Eros.

O encontro com o livro, assim como aquele encontro com o homem ou a mulher destinada a mudar nossas vidas, pode ser completamente casual. O texto que vai nos converter a uma fé, que vai nos fazer aderir a uma ideologia, que dá a nossa existência um fim ou um critério, pode estar a nos esperar na estante de livros de ocasião, de usados, com desconto. Talvez empoeirado e esquecido, ao lado do livro que procurávamos. (…) Um texto é sempre capaz de ressuscitar. Walter Benjamin ensinava, Borges construiu sua mitologia: um livro jamais é impaciente. Ele pode esperar séculos para despertar um eco vivificante.

A segunda parte trata dos judeus e de seu amor pelos livros. Trata do fato de um religioso judeu ter de ler e estudar a Torá, de ser um povo que tem um lápis na mão ao ler um livro. Também fala na resistência da igreja católica à invenção da imprensa. A invenção de Gutenberg serviu muito mais aos protestantes, pois os católicos desejavam seguir com a informação oral, pelos padres.

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A terceira parte fala sobre a tirania do celular, o livro digitalizado e sobre as condições políticas e culturais que favorecem ou não o livro. Fala-se da postura dos escritores e filósofos nazistas — habitantes de um país altamente culto e produtivo mesmo durante Hitler –, de Wagner, da variedade demencial de lançamentos de livros — 121 mil novos títulos são lançados no Reino Unido a cada ano — e de sua efemeridade, pois se não vendem vão para o balcão de ofertas em 20 dias. Fala-se também na relação entre censura — a grande propulsora de metáforas, segundo Borges — e criatividade.

Sem dúvida, um livro de um mestre, um clássico moderno.

George Steiner (1929) | Wikimedia Commons

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Jesus poderia de ter salvado 7 vidas se tivesse doado órgãos

Jesus poderia de ter salvado 7 vidas se tivesse doado órgãos

Do Paulopes

Na Austrália, o anúncio “O que Jesus faria” criou polêmica, mas conseguiu o que se propõe: chamar a atenção para a importância da doação de órgãos.

O anúncio afirma que Jesus teria salvado ao menos sete vidas se tivesse manifestado pela doação de seus órgãos antes de ser crucificado.

Numa sequência de imagens de 2min30, soldados romanos perguntam a Jesus pregado na cruz se ele pretende declarar a doação de seus órgãos antes que seja tarde demais.

Entidades cristãs acusam a Australian Daor Register, uma associação que colabora com o governo, de ter produzido uma blasfêmia e pedem censura ao anúncio.

Australian Christian Lobby, por exemplo, diz que se trata de uma “zombaria”.

A entidade se declara “pró-vida”.

Uma pesquisa apurou que 80% dos australianos afirmam que doariam seus órgãos, mas apenas 34% registraram que são doadores.

Com informação da Australian Daor Register e de outras fontes.

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O sonho da razão produz monstros

O sonho da razão produz monstros

O sonho da razão produz monstros é uma obra clássica de Goya. É uma das imagens mais famosas e estudadas do Iluminismo na Espanha.

Este quadro é Nº 43 da série chamada Caprichos, que têm 80 gravuras. Nela, o artista retratou-se sentado, dormindo sobre suas anotações. O seu corpo está contorcido e transmite a ideia de desconforto, da transição entre o estado alerta e um sono que não pode ser evitado. Atrás do artista estão morcegos e corujas, criaturas noturnas que espreitam o sono do pintor. Essas criaturas são interpretadas como os fantasmas, medos e obsessões de Goya, conhecido por pinturas enigmáticas e de sentimentos fortes.

O que sempre me surpreendeu foi aquele lince. Aos pés do pintor, o animal o observa com postura imponente e patas cruzadas como os braços de Goya. O animal parece velar o sono do artista, ao mesmo tempo em que se mostra alheio às criaturas que o assombram. O sonho não é do lince. Ou ele também vê os monstros? Pois está arregalado, não?

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Amor

Hoje eu fui a um velório de devastador impacto emocional. Era o velório de minha ex-babá, que faleceu aos 93 anos. Passei muitos anos sem vê-la, décadas, até que seu filho Jacó, em abril de 2015, me reconheceu na feira de sábado da Vasco, veio falar comigo e promoveu um reencontro imediato, pois ela estava ali. Pequenina, frágil, sorridente, ela me reconheceu e falou muito bem de mim e de minha mãe. Nos abraçamos, nos beijamos, a Elena tirou fotos. Se aquele foi um dia muito feliz, repetir hoje seria impossível.

Foto: Elena Romanov

Ver a babá é revisitar a infância. Fui uma criança agitada, muito ativa, devia ser insuportável. Se até hoje não consigo ficar parado, imagino a peste que fui. E imaginei a incomodação, a lavação de fraldas, a correria atrás de mim. Porém da Márcia só lembro de delicadezas. Minha mãe confirmava: dizia que eu tivera a mais amorosa das babás, que tivera sorte. (Minha mãe era uma dentista que, assim como a Márcia, trabalhava muito e na época as crianças só iam para o Jardim da Infância aos 6 anos).

A surpresa veio na conversa com seu filho Jacó. Ouvi muitas vezes coisas sobre o amor que a Márcia me dedicava, mas eu também cresci insuportável: sou o tipo de pessoa que não acredita ou reduz os elogios que raramente recebe. Com lágrimas nos olhos, mas mantendo o bom humor, o Jacó disse que estava feliz com minha presença e que “ficaria com ciúmes” porque a Márcia me adorava. Um exagero, pensei, mas não me passou despercebido um fato: um dos netos sabia quem eu era, eu era o cara do encontro na feira.

E desmanchei de vez quando Jacó pediu a palavra após a fala do padre. Orador nato, de fala inteligente, voz emocionada mas bem colocada, o advogado Jacó percorreu rapidamente o longo arco da vida de sua mãe e passou a referir cada pessoa presente. A pequena sala de velório estava apinhada. Falou de amigos e amigas de sua mãe, parentes — alguns dos quais ela também criara — e vizinhos.

Quando chegou a minha vez, soube que minha mãe era apenas a melhor amiga da sua. Márcia viera de Maquiné e minha mãe logo a empregara, mas eram mais amigas do que qualquer coisa, disse ele. E lembrei de visitas que fazíamos à Márcia quando ela não era mais babá. Lembrei que olhava para o Jacó e que ele era “muito criança” para mim — tinha seis anos a menos do que eu (aliás, tem até hoje…). E o Jacó lembrou do PUDIM que a Márcia fazia sempre para nossa chegada. Meu deus, eu lembro do pudim! Era um milagre! Até hoje amo pudim e sempre que vejo um tenho a esperança de que a massa homogênea e clara da parte de baixo seja laaaaarga, delicada e leve como os da Márcia.

E ele voltou a brincar sobre os ciúmes que tinha de mim, agora publicamente.

É claro que jamais retribuí nada para a Márcia, ao menos verbalmente. Esteja ela agora onde estiver, digo envergonhado que também a amo, que sei da sorte que tive ao conhecê-la — éramos dois jovens, Jacó — e que, mesmo sem esperanças, seguirei atrás de um pudim tão maravilhoso quanto o dela.

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Bom dia, Odair (com os melhores lances de Inter 3 x 1 São Paulo)

Bom dia, Odair (com os melhores lances de Inter 3 x 1 São Paulo)
A comemoração do segundo gol do Inter e de Damião: tivemos sorte com a lesão de Potttker e a entrada de Damião | Foto: Ricardo Duarte

Em primeiro lugar, parabéns pela bela e merecida vitória. Corremos riscos, recuamos demais no final da partida, mas o saldo de nossa atuação foi altamente positivo.

Tomara que a lesão do Pottker seja grave, né, Odair? Tu escalas e escalas o cara, mesmo com a gente contra. Aí o cara sai machucado e o ataque funciona melhor… Quem tem razão, Papito?

E, na boa produção ofensiva, temos ainda que colocar o gol mal anulado de Nico López no primeiro tempo e aquela falta batida por D`Alessandro antes do 2 x 1. Aquela bola entrou, meus amados irmãos, prestem bem atenção.

Sim, cinco gols (três válidos) e finalmente uma atuação em alto nível. Sabemos que a tendência era de queda e conseguiste invertê-la.

Revendo os lances do jogo, chego à jogada do primeiro gol, que golaço! A ação de Nico López foi simplesmente perfeita, linda. Ele levantou a bola com enorme acerto para Damião. Três defensores tentaram cortar de cabeça e não conseguiram. O cruzamento-passe era mesmo para o D9.

Mas o destaque máximo foi a linda atuação de Dale. O cara é um monstro.

Após 29 rodadas, faltam 9 jogos para cada time. O Palmeiras tem 59 pontos e 27 gols de saldo. Nós temos 56 e 19 de saldo. Ou seja, só passando na frente deles, pois o saldo palmeirense é um absurdo de alto. O Flamengo cresceu muito e agora tem 55 pontos, com saldo de 22.

Nossas chances de sermos campeões são pequenas, mas acho que pegamos uma vaga direta para a Libertadores. Não podemos esquecer que, no início do campeonato, falávamos em apenas não cair para a Série B. Ou seja, nosso desempenho é excelente se comparado com o que esperávamos.

Lembram que nem chegamos à final do Gaúcho? Lembram que esperávamos tomar uma goleada no Gre-Nal do primeiro turno deste Brasileiro?

Pois é. E estamos tentando ser campeões. Temos que tentar, claro. É do DNA. Dá-lhe, Inter!

Nosso próximo jogo é contra o Santos, segunda-feira, dia 22, às 20h.

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A Sociedade dos Sonhadores Involuntários, de José Eduardo Agualusa

A Sociedade dos Sonhadores Involuntários, de José Eduardo Agualusa

Daniel, o narrador, sonha com pessoas que não conhece. Moira fotografa os próprios sonhos. Hélio construiu uma máquina de filmar os sonhos de seus pacientes. Hossi passeia por pelos sonhos alheios. Karinguiri sonha com utopias.

A Sociedade dos Sonhadores Involuntários fica um degrau abaixo de Teoria Geral do Esquecimento e de O Vendedor de Passados, o que é um elogio generalizado a estas três obras de Agualusa. Poético — claramente influenciado por García Márquez — e violento, é um gênero de literatura que cabe ao país sem perdão que talvez nos tornemos nos próximos quatro anos.  Hossi teve participação na Guerra Civil que sucedeu a independência de Angola, Karinguiri atua na luta pela democracia.

Eu fui um jovem que amava as grandes frases e citações. Sublinhava tudo. Tentava lembrar depois. Se tivesse lido este livro em minha juventude, eu o amaria pelas belas imagens e expressões perfeitas.

Como um avião atrasado, a trama passa muito tempo taxiando, isto é, demora a se colocar na pista para decolar. Só ganha velocidade quando o narrador nada na frente de hotel de Hossi e encontra uma máquina fotográfica boiando na água, com fotografias que incluem uma mulher nua. Daniel descobre que a máquina pertence a Moira Fernandes, a mulher que o visita em sonhos. E ele vai ao encontro dela na África do Sul para lhe devolver a máquina e tentar entender os próprios sonhos com gente que nunca conheceu.

Enquanto isso, sua filha é presa pelo regime de José Eduardo dos Santos e faz uma greve de fome — baseada num episódio real –, despertando um país que dorme acordado. Personagem fundamental do romance também é Lucrécia, ex-mulher e mãe da filha de Daniel, Karinguiri. Lucrécia é uma filha de um poderoso do regime. Ela culpa Daniel pela filha contestadora. Cada um de seus telefonemas rende…

Um dos melhores e mais originais livros de Agualusa.

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